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espiral
                                              boletim da associação           FRATERNIT
                                                                                 TERNITAS
                                                                              FRATERNITAS MOVIMENTO

                                                          N.º 30 - Janeiro / Março de 2008




   E
          m plena Quaresma, preparando-nos todos
          para a maior Festa do Ano, a Páscoa da
          Ressurreição, gostava de partilhar convosco
                                                               conversão
este espírito de conversão a que, como cristão, me
sinto interpelado. Consciente de que é uma tarefa
de todos os dias, apercebo-me que é este o mo-
                                                           e ressurreição
mento mais propício para ela. Conversão que signi-        cer em toda a Sua riqueza e profundidade!
fica, antes de mais, voltar-me sempre mais para o            E nunca saberemos agradecer suficientemente ao
Senhor, para aquilo que Ele me marcou como pro-           Artur por vir de tão longe, para nos falar, para nos
jecto de existência, para aquilo que Ele espera de        ajudar a reflectir, para repartir connosco, duma for-
mim cada dia e em cada hora, e que tantas vezes           ma sempre muito viva e estimulante, tantos anos de
nem consigo discernir, porque me falta meditação e        profundo estudo da Escritura e, sobretudo, dos Evan-
escuta da Sua Palavra.                                    gelhos! Uma vez mais sairemos do nosso Encontro
    Provavelmente, quando chegar à vossa caixa de         anual mais ricos em conhecimentos e com a nossa
correio este número do nosso Boletim, a Páscoa            Fé reforçada e mais esclarecida.
como celebração já passou, mas o Tempo Pascal
continua, como tempo privilegiado de aprofunda-
mento interior e de enriquecimento espiritual. Por isso
mesmo, sei que me compreendereis, sabendo que
                                                             N      ão posso deixar de partilhar convosco, uma
                                                                    vez mais, aquilo que foi tema do último edi-
                                                          torial do Espiral. Estamos em ano de escolha de uma
escrevi esta partilha em plena Quaresma.                  Direcção para um novo mandato de três anos. Te-
    O nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 24 a         nho confiança que o nosso Movimento já estará “em
27 de Abril, será orientado pelo nosso tão caro Artur     movimento” para encontrar quem assuma esta tare-
Oliveira, que vai procurar baseá-lo no seu livro ain-     fa. Todos os sócios se sentem, certamente, responsá-
da por publicar, mas já pronto, sobre «Jesus de Na-       veis por esta escolha que lhes é solicitada e, no dia
zaré e as Mulheres». Que oportunidade excelente           da Assembleia-Geral, uma ou mais listas aparece-
para prolongarmos, em Tempo Pascal, o nosso co-           rão certamente, para poderem ser votadas. Seria óp-
nhecimento sobre Jesus, Quem nunca será matéria           timo que não fosse uma só, mas sim pelo menos
esgotada para nós, tão longe estamos de O conhe-          duas, porque para haver uma “eleição” é muito
                                                          melhor que haja uma “escolha”, e não que vá a vo-
                                                          tos uma única hipótese. Até porque no nosso Movi-
              SumáRIO                                     mento há, certamente, diferentes sensibilidades, vári-
  Conversão e ressurreição                       1        as maneiras de sentir o que somos e o que quere-
  Enviou-os dois a dois                          2        mos, e portanto é natural que as escolhas não sejam
                                                          uniformes. Só significa que somos um grupo rico de
  Nova organização para novas paróquias          3        ideias e projectos, e que não nos acomodamos a
  Um livro sobre homens corajosos                4        uma certa passividade de quem deixa para os ou-
                                                          tros a solução daquilo que queremos.
  Anotações sobre a espiritualidade do                        Pela nossa parte, ao longo destes três últimos anos,
  seguimento de Cristo                           5        procurámos estar atentos aos diferentes desejos dos
  Cristãos iraquianos                            7        membros, tentámos inovar naquilo que nos pareceu
                                                          ser o “bom sentido”, mas temos plena consciência
  Decálogo do sacerdote                          8        das nossas limitações e fraquezas. Demos o nosso
  Que queremos afinal                            8        melhor, mas parece-nos justo dar lugar a outros, por-
                                                                                             (continua na pág. 2)
2                                                                                                          espiral


 (Continuação pág. 1)
                                                           humildade e confiança que nos substituam nestas. E
ventura mais capazes de assumir essas responsabili-        sabemos que “fraternalmente” seremos compreendi-
dades.                                                     dos.
    Eu e mais alguns elementos da actual Direcção
                                                                                            Vasco Fernandes
não nos recandidatamos, é ponto assente, mas ha-
verá sempre alguém que pode transitar para uma
nova lista, entre outras coisas para garantir uma cer-
ta continuidade desejável e proveitosa.                                      A toda a
    Demos aquilo que pudemos e soubemos durante
estes três anos, e confiamos que haverá outros que                   FAMÍLIA FRATERNITAS
                                                                             FRATERNIT
                                                                                 TERNITAS
nos substituirão com vantagem. Por motivos diferen-
tes de cada um dos que agora cessamos a nossa
                                                                     desejamos
responsabilidade de Direcção, há também um moti-
vo comum que se prende com a disponibilidade de
tempo para cumprir estas tarefas.
                                                                     uma Páscoa
    Temos que estar agradecidos ao Senhor por po-
dermos servir em muitas “vinhas do Senhor”, porque
isso significa que Ele nos dá saúde e forças. Nenhum
                                                                     vivida e plena!
                                                                     E em Fátima nos encontraremos, em júbilo,
de nós cessa funções para ficar sem qualquer res-
                                                                        a partir de 24 de Abril ao anoitecer!
ponsabilidade na construção do Reino. Pelo contrá-
rio, porque temos muitas outras tarefas, pedimos com



Enviou-os DOIS a DOIS
    A    doutrina do venerando Papa Bento XVI, ex-
        pressa em encíclicas e outros documentos,
bem como em iniciativas oportunas e prudentes da
                                                           medicação adequada; seja a praga moderna do
                                                           rapto de crianças e tráfico de pessoas…
                                                               O conjunto destas realidades, positivas por um
reforma de alguns dicastérios da Cúria Romana, das         lado, negativas por outro, impele-me a evocar o la-
suas visitas apostólicas, principalmente à Turquia, e      tente mandamento do Mestre: «Ide e ensinai».
outros gestos pastorais; alguns documentos doutri-             Porquê, Santíssimo Papa, Cardeais, Arcebispos,
nais, iniciativas pastorais e sócio-caritativas e vários   Bispos, Monsenhores, não partem assim doze de
gestos proféticos dos Bispos portugueses como a            cada vez, acompanhados de peritos e teólogos, como
oportuna e urgente chamada de atenção da Confe-            anjos descidos do Céu, para pacificar as nações:
rência Episcopal aos poderes civis sobre a Concordata      «Deixamo-vos a paz. Damo-vos a paz de Cristo»?
e a protecção das IPSS da Igreja; a continuação de             Ah! Se um dia, do Vaticano, partisse uma revoada
ordenações sacerdotais em todas as dioceses, em-           destas “pombas brancas”, todo o mundo se admira-
bora em número não suficiente; os diversos movi-           ria, levantaria os olhos aos céus, acreditaria mais na
mentos de Fátima, cada vez mais “altar do mundo”:          Igreja católica e exclamaria com júbilo: «Deus visitou
tudo isto são Aleluias no mundo!                           o Seu povo».
    Por outro lado, lançando um olhar sobre as vári-           Tenho consciência de que esta sugestão é arroja-
as questões deste mundo real, cujo final feliz não se      da. Tenho a impressão de que não passa de um belo
vislumbra a prazo: sejam guerras a ferro, fogo e san-      sonho, de um poema. Mas a Sagrada Escritura está
gue, sejam guerras frias que as diplomacias não têm        cheia de sonhos, de poemas proféticos. E até o Con-
resolvido; seja a fome, as piores doenças endémicas,       cílio Vaticano II, que após “sonhado”, levou João
                            principalmente existentes      XXIII a não dormir 15 noites (o tempo que levou a
                               em África, e ainda ou-      promulgá-lo), e a viagem transatlântica de Paulo VI
                                      tras novas enfer-    para ir discursar na sede das Nações Unidas, não
                                      midades que          foram antes também sonhos subtis?
                                      pululam como             «Deus pensa, o Homem sonha (o que Deus pen-
                                       cogumelos,          sa), a obra nasce.» O homem não tem o direito de
                                       para as quais as    pôr em dúvida o que pensa e quer o Espírito Divino,
                                       autoridades e a     que tem o Seu tempo e o Seu modo, não os nossos
                                       medicina disse-     tempos ou modos. Como dizia o poeta, «o sonho
                                       ram não haver       comanda a vida».                   José Silva Pinto
espiral                                                                                                                       3



Nova organização para novas paróquias
D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, propõe novos dinamismos para a paróquia e para o pároco
perante as mudanças sociais.


   A     questão séria que se põe
         hoje à Igreja, às comuni-
dades e a cada um de nós, é o
                                         homens). O território deve ser en-
                                         tendido não só geograficamente,
                                         mas também antropologicamente:
                                                                                 colaboração meramente ocasional
                                                                                 para uma determinada iniciativa,
                                                                                 mas de um laço de colaboração
anúncio e a transmissão da fé fren-      as características humanas, sociais     duradoiro e programado.
te às mudanças culturais e às difi-      e culturais. Dada a mobilidade ca-          E não se pense que se trata de
culdades e aos desafios que levan-       racterística do nosso tempo, as pes-    uma pura “política de crise” resul-
tam: Como anunciar hoje? Qual            soas já não vivem, nem fazem a          tante da escassez do clero. É antes
deve ser o fundamento da evan-           sua vida, só no espaço e no am-         uma perspectiva que se abre para
gelização? Que caminhos percor-          biente da paróquia.                     o futuro. Isto resulta da unidade da
rer para que seja activa e fecun-            A paróquia é a Igreja presente      missão da Igreja (missão em co-
da? Não podemos contentar-nos            no quotidiano das pessoas e das         munhão) para que seja vivida na
com uma religiosidade vaga, ge-          famílias, que as acompanha em           busca de todas aquelas colabo-
nérica e superficial que não re-         todas as idades e etapas da vida.       rações que permitam realizar inici-
siste às transformações culturais, à     Todavia, não se pode mais               ativas que superam as possibilida-
mínima tempestade provocada              concebê-la isolada e fechada em         des de cada paróquia.
por um «Código da Vinci» e outras        si mesma. Já o P Congar, nos
                                                             .e                      Uma pastoral integrada põe
ficções do género.                       meados do século passado, escre-        em acção todas as energias de
    O Papa João Paulo II, na             veu, com o título significativo: «Mi-   que o povo de Deus dispõe, valo-
«Novo Millennio Ineunte», indica         nha paróquia, vasto mundo»!             rizando-as na sua especificidade
algumas linhas programáticas que             Uma pastoral de manutenção,         e, ao mesmo tempo, fazendo-as
poderemos sintetizar em três pala-       voltada unicamente para a conser-       confluir em projectos comuns, pen-
vras-chave: Contemplação – con-          vação da fé e assistência da co-        sados, definidos, programados e
templar o rosto (mistério) de Cristo     munidade, já não basta. É preciso       realizados em conjunto. Ela põe em
para ir ao coração da fé e cami-         uma pastoral evangelizadora e em        rede os múltiplos recursos de que
nhar na estrada da santidade. É o        todos os campos: ser capaz de criar     dispõe: humanos, espirituais, cul-
reconhecimento do primado de             e manter itinerários que aproximam      turais, pastorais.
Deus, da Sua graça e do Seu amor         as pessoas à fé, promovendo lu-             Mas isto requer o difícil traba-
na vida e pastoral da Igreja (Pala-      gares de encontro com quantos           lho em equipa, que pede uma es-
vra, Eucaristia, iniciação à fé);        andam à busca e com quem, mes-          piritualidade e uma ascese, a co-
Comunhão – descobrir o mistério          mo sendo baptizado, sente o de-         meçar pelo “pensar em equipa”:
de comunhão que habita e carac-          sejo de escolher de novo o Evan-        partilha dos diversos pontos de vis-
teriza a forma da existência cristã      gelho como orientação de fundo          ta com transparência; desejo de
e da Igreja, como projecção da           da sua própria vida…                    aprender com os outros; escuta in-
vida trinitária, e se torna espiritua-                                           teressada e sem preconceitos;
lidade pessoal e comunitária, que            PASTORAL INTEGRAD A
                                               ASTORAL INTEGRADA                 consciência de que se vê e discerne
configurará a Igreja como “casa e            Acabou o tempo da paróquia          a realidade com maior amplitude
escola de comunhão”, e por con-          auto-suficiente que respondia a         e profundidade; renúncia ao indi-
seguinte, praxis de comunhão; Mis-       todas as situações e problemas.         vidualismo e à indisciplina.
são – para ser testemunhas alegres           Em âmbitos da pastoral
e convictas e fermento evangélico        litúrgica, da formação na fé, da            PASTORAL INTEGRAL
                                                                                      ASTORAL
no mundo, atentos à vida quotidi-        pastoral dos jovens, da família,            Se acabou a época da paró-
ana das pessoas e à mudança cul-         caridade, cultura, saúde, etecetera,    quia auto-suficiente, acabou tam-
tural do nosso tempo.                    só se pode trabalhar juntos. São        bém o tempo do pároco auto-su-
                                         terrenos onde a paróquia tem ne-        ficiente (faz-tudo), que pensa o seu
    PARÓQUIA E TERRITÓRIO                cessidade e urgência de mover-se        ministério isolado. O pároco de-
    A paróquia tem duas referênci-       em colaboração com as paróqui-          verá promover carismas, vocações,
as fundamentais: a igreja dio-           as vizinhas, no contexto da             ministérios a partir da correspon-
cesana (da qual é uma célula) e o        vigararia, investindo corajosamen-      sabilidade. (ver texto completo em
território (no qual torna a Igreja       te numa pastoral de conjunto.           w w w. a g e n c i a . e c c l e s i a . p t /
presente no meio das casas dos               E não se trata apenas de uma        noticia.asp?noticiaid=55439http).
4                                                                                                                                              espiral




UM LIVRO sobre HOMENS CORAJOSOS
«Des Prêtres Épousent Leur                        correntes filosóficas como o                         dre casado, observa de forma lú-
Humanité», este é o título ori-                   existencialismo, a vontade de in-                    cida o facto de que nada se alte-
ginal de um livro de Philippe                     tervenção efectiva no meio (segun-                   rou entretanto, e como, nesta área,
Brand (Ph.B.), publicado pe-                      do o modelo dos “padres operá-                       não tem sido possível encetar, até
las Editions L’Harmattan (564
             L’Harmattan                          rios”), e outros. Eles, homens de                    hoje, qualquer tipo de diálogo
páginas - 28 Euros).                              convicção e de acção, preocupa-                      com a hierarquia.
A partir de uma recolha de                        dos em transmitir a mensagem do                          Estes testemunhos permitem a
24 testemunhos escritos, de                       Evangelho, vão-se dando conta de                     Ph.B. analisar os diferentes percur-
padres casados, Ph.B. analisa
                                                  que a Igreja se vai tornando um                      sos destes homens corajosos que
o percurso desses homens
                                                  simples “centro de administração                     continuam a acreditar no “tesouro
que escolheram casar-se,
                                                  de sacramentos”. Mas não põem                        do Evangelho” e na acção colec-
rompendo assim com a disci-
plina da Igreja católica.                         a sua fé em causa. É na instituição                  tiva. É comovente, sobretudo, a
A questão que põe em análise                      que situam o problema, devido so-                    descrição da dolorosa inserção no
é a seguinte: Por que motivo                      bretudo à sua estreita visão de um                   mundo laico e do trabalho...
homens normais, moldados                          “pensamento cristão único”.                              Este livro é um dos únicos e, que
por uma rigorosa formação,                            «Na medida em que o espírito                     eu tenha conhecimento, o primei-
se decidiram por essa opção,                      era alimentado e satisfeito, as ne-                  ro desde há mais de uma déca-
enquanto outros (com a mes-                       cessidades do corpo encontravam-                     da, a evocar colectivamente a ex-
ma formação) permanecem                           -se limitadas», conclui Philippe                     periência daqueles que fizeram
fiéis ao estado clerical?                         Brand. Para lá da sexualidade, en-                   uma escolha de vida determinan-
                                                  carada como um pecado, o en-                         te, há trinta ou quarenta anos atrás.
            Florian Bruckner                      contro com o feminino fez com que                        Procura interpretar este fenóme-
    in Golias magazine, n.º116,                   estes homens descobrissem o amor                     no colectivo através da história das
                  Set/Out 2007
    Tradução: Paulo Eufrásio
                                                  e encarassem a possibilidade de                                  correntes do pensamen-
                                                                                                                     to e das forças socio-
                                                                                                                       lógicas e espirituais
    P   hilippe Brand situa as vidas
        dos padres casados, de
quem recolheu testemunhos por
                                                                                                                         dos quatro últimos
                                                                                                                          séculos, após a Re-
escrito, no contexto de uma Igreja                                                                                         forma protestante
em declínio de influência, de con-                                                                                          e o Concílio de
vicções enfraquecidas e incapaz de                                                                                           Trento. Situa
assegurar o pleno desenvolvimen-                                                                                              igualmente es-
to individual dos seus ministros.                                                                                              tas experiênci-
Para isso elaborou uma grelha de                                                                                                as de vida no
respostas em que aborda as eta-                                                                                                 quadro dos
pas decisivas com que esses pa-                                                                                                 problemas
dres se depararam: a formação                                                                                                   com os quais
inicial e o despertar da vocação,                                                                                               são confron-
a ruptura com a Igreja, a nova pro-                                        descen-                                              tados os ho-
fissão, a vida de casal e familiar,                                      dência. O                                              mens e os
o lugar na sociedade e, finalmen-                                       casamento,                                               crentes de
te, as posteriores relações, quer com                                 assumido                                                   hoje.
o mundo laico, quer com a Igreja.                                    como um verda-                                                 O livro
    Os diferentes testemunhos per-                                 deiro acto de mi-                                             não propõe
mitiram ao autor descrever as pri-                litância, no sentido de opção por                                              soluções
meiras fissuras detectadas, isto                  uma união livre, acaba por signi-                    para a crise da Igreja católica nos
apesar da moldura moral e disci-                  ficar a ruptura com a Igreja. E esta                 nossos dias, como também não
plinar que receberam. São tidos                   não pode fechar os olhos – como                      pretende qualquer acerto de con-
em conta diversos factores de in-                 faz por vezes com certas uniões                      tas com a instituição. A obra pode,
fluência, tais como acontecimen-                  “oficiosas” - revelando-se incapaz                   contudo, contribuir para esclarecer
tos exteriores (serviço militar, guer-            de evoluir nesta matéria.                            os espíritos dos responsáveis ecle-
ra da Argélia, Maio de 68, ...),                      O autor, ele também um pa-                       siais.

        página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * pági
espiral                                                                                                                                             5



                           ANOTAÇÕES SOBRE A ESPIRITUALIDADE
                               DO SEGUIMENTO DE CRISTO
                       O teólogo Jon Sobrino disse,                         diadores, é a da proximidade. Je-                    uma profunda libertação na pró-
                       uma vez, que Cristo é Alguém                         sus é o Próximo. Ele, não só                         pria noção de Deus, distinguindo
                       que se descobre todos os dias.                       encarnou, mas aproxima-Se das                        Deus verdadeiro dos ídolos. Deus
                       Isto, porque Ele é                                   pessoas e da sua realidade, e é                      quer a vida das pessoas, que deve
                       eterna novidade;                                     assim que faz os Seus julgamen-                      ser em abundância, mas que co-
                       porque nós, os crentes,                              tos, denuncia, desmascara, per-                      meça com pão, casa, saúde e
                       O temos escondido;                                   doa, salva e exige. A proximida-                     educação. Os ídolos, ao contrá-
                       e, também,                                           de é, em síntese, a encarnação da                    rio, esvaziam as pessoas: exigem-
                       porque a humanidade está
                                                                            misericórdia. É pela proximidade                     -lhes, cada vez mais, tempo, emo-
                       sempre a fabricar
                                                                            que todos, e em especial os po-                      ções, dinheiro e, até, a felicidade.
                       os seus cristos/ídolos.
                                                                            bres, podemos chamar Irmão a

                            D    escobrir Cristo, significa re-
                                 descobrir o Jesus de Na-
                        zaré dos Evangelhos, entregue a
                                                                            Jesus. Por esta mesma proximida-
                                                                            de misericordiosa – em que vivem
                                                                            em conjunto alegrias e tristezas, an-
                                                                                                                                         SEGUIMENTO
                                                                                                                                     O SEGUIMENTO
                                                                                                                                     Seguir Cristo é aderir ao que
                                                                                                                                 Ele nos diz. Começa por não nos
                        nós em narrações de fé, apresen-                    seios e conquistas –, é que Jesus é                  conformarmos com este mundo,
                        tado através de mediadores:                         credível, é Verdade.                                 com as suas verdades, os seus ído-
                        Deus- Pai, o Espírito Santo, e toda                     Uma segunda característica de                    los, mas denunciá-lo, quando ade-
                        a História da Igreja.                               Cristo, a ser captada e clonada por                  re ao pecado. Nisto havemos de
                            A História da Igreja, e da hu-                  nós, é a de Libertador, Redentor,                    ser Boa Nova de libertação. Temos
                        manidade é lugar do redesco-                        Salvador, conforme Lc 4,18-19: «O                    de ser fiéis, mesmo quando as con-
                        brimento de Cristo, porque o Evan-                  Espírito do Senhor está sobre Mim,                   sequências possam ser todo o tipo
                        gelho tem reencontrado o seu pró-                   porque Ele Me consagrou com a                        de perseguições. Neste núcleo fun-
                        prio lugar, o lugar no qual deve                    unção, para anunciar a Boa Nova                      damental da espiritualidade, a
                        ser lido e a partir do qual se faz                  aos pobres, enviou-Me para pro-                      existência orienta-se não para a
                        Palavra de Vida. Esse lugar é o                     clamar a libertação aos presos e                     defesa da própria pessoa, nem de
                        mundo dos crentes, que são pro-                     aos cegos a recuperação da vista;                    uma filosofia, de uma ideologia
                        fetas, sacerdotes, reis, pobres, mis-               para libertar os oprimidos, e para                   política ou de um fundamentalis-
                        sionários, mártires, convertidos…                   proclamar um ano de graça do                         mo religioso, mas para Deus, que
                            A primeira característica de                    Senhor». É libertador enquanto li-                   quer ser «tudo em todos».
                        Cristo que pode ser captada pe-                     vra as pessoas das angústias, da                         A vida dos crentes, no mundo
                        los crentes, e dela estes serem me-                 resignação, dos individualismos,                     de hoje, é seguimento de Jesus no
                                                                            do desespero; porquanto nos co-                      desprendimento, no serviço, no
                                                                                   munica uma força interior que                 apontar caminhos, na sobriedade
                                                                                   nos faz mudar, pessoalmen-                    baseada na verdade. Nunca no
                                                                                   te e ao nosso redor, de pes-                  triunfalismo. Não é por se funda-
                                                                                   soas amedrontadas, fecha-                     mentar nos títulos: sou cristão, sou
                                                                                   das, para homens livres, para                 papa, bispo, padre, religioso,
                                                                                   esperar, para nos unirmos,                    catequista, que o crente se faz Boa
                                                                                   para lutar. Mas esta liberta-                 Notícia, mas por ser Amigo de Cris-
                                                                               ção só é possível com a fé. O                     to. Ele não é dono da Salvação.
                                                                            contacto de Jesus com os doentes                     O crente não tem soluções para
                                                                            deixava--os sãos, mas uma era a                      tudo; mas, objectivamente, sabe a
                                                                            razão: «A tua fé te salvou». A fé em                 direcção para a qual nos devemos
                                                                            Deus Pai correlaciona-se com a fé                    mover: o Reino de Deus. E, como
                                                                            na fraternidade universal. Daí que                   afirmou o profeta Miqueias, cami-
                                                                            a maior cura para a sociedade de                     nha «sem triunfalismos, por uma
                                                                            hoje é vencerem-se egoísmos, es-                     parte, e sem complexos de inferi-
                                                                            cravidões, ódios.                                    oridade, por outra, mas humilde-
                                                                                Isto leva-nos a uma terceira ca-                 mente, com Deus».
                                                                            racterística de Jesus: Ele opera                                            Fernando félix


ina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
6                                                                                                          espiral




    CRISTÃOS IRAQUIANOS
                                     Entre a esperança e a fuga
A convite do arcebispo
católico caldeu de Kirkuk,           tre os quais o Ministro das Finan-       defende a igualdade de homens
Louis Sako, uma pequena              ças, Sarkis Aghajan Mamendu, bas-        e mulheres. Rejeita em absoluto
delegação austríaca                  tante influente. Toda a região curda     qualquer extremismo. Considera-
deslocou-se ao Iraque com o          experimenta um desenvolvimento           -se empenhado na luta contra a
objectivo de verificar no            económico que se pode classificar        violência sobre as mulheres:
terreno a situação local dos         de claro a héctico. Isso torna-se evi-   «Encontramo-nos hoje numa guer-
cristãos na região do Iraque         dente no elevado número de no-           ra fria contra os extremistas islâ-
controlada pelos Curdos.             vas construções em toda a região         micos. Numa sociedade domina-
Entre os participantes               e pelo denso tráfego de camiões.         da por homens, eles tentam excluir
contava-se também o                      Apenas os inúmeros controlos         as mulheres curdas da participa-
Dr.         Mart presidente
Dr. Johann Mar t e, president e      armados nas estradas, principal-         ção na vida cultural.»
da Pró-Oriente.                      mente nas de longo curso, alertam           No que concerne aos direitos
Apresentamos excertos do             para a tensa situação de seguran-        das mulheres, já desde o início dos
seu relatório de viagem.             ça. Só na cidade de Kirkuk, que fica     anos 90 há melhor regulamenta-
                                     na fronteira da região curda, as         ção do que na maioria das outras
                           pp.
    in Kirche In, 09/2007, pp. 30
        Tradução: João Simão         barragens de estrada, inúmeras           regiões do Iraque.
                                     forças policiais e a proibição de

    O      objectivo da des-
          locação de uma peque-
na delegação austríaca ao Iraque
                                     saída a partir das 23 horas, assi-
                                     nalam o reforço da situação de
                                     segurança.
                                                                                  CRISTÃOS: A CONDIÇÃO
                                                                                  Antes de 2003, metade dos
                                                                              cristãos iraquianos vivia em
era expressar solidariedade aos          A região curda lucra claramen-       Bagdade. Eles dividem-se por ca-
cristãos refugiados, provenientes    te com esta situação. Já antes não       torze confissões diferentes. Muitos
sobretudo das grandes cidades do     foi afectada pelo embargo da             já se refugiaram no estrangeiro ou
sul (Bagdade e Bassorá), mas tam-    ONU (1991-2003), tendo podido            no norte do Iraque (no universo de
bém de Mossul, no norte, e estu-     desenvolver-se mais ou menos tran-       todos os refugiados, os cristãos são
dar a melhor forma de os ajudar.     quilamente durante esse tempo.           uma parte desproporcionadamen-
Eles pertencem àqueles grupos            O ministro curdo da cultura,         te grande) mas ainda há bairros,
populacionais que, na actual situ-   Falak-Addin Kakayee, quer                como Ankawa em Erbil, capital do
ação, são proporcionalmente          implementar uma «more open               Curdistão, ou pequenas cidades
mais perseguidos e ameaçados.        kurdish society». Promove intensiva-     como Karakosh ou d’Alkosh, que
    A viagem até Erbil decorreu      mente a língua e cultura curdas e        são quase exclusivamente cristãos.
sem problemas. O visto de entra-
da, na forma de um carimbo, foi
concedido gratuitamente.
                                     Comunidades católicas no Iraque
    O CURDISTÃO
    A região curda tem cerca de
cinco milhões de habitantes, den-
tre os quais aproximadamente
                                        A     presença cristã no Iraque é
                                             muito antiga e decorre da
                                     pregação do Apóstolo Tomé, que
                                                                                  As comunidades católicas no
                                                                              Iraque são de quatro ritos:
                                                                              Caldeus, Sírio-antioquenos,
200.000 são cristãos. Em todo o      depois da morte e da Ressurreição        Arménios e Latinos.
Iraque ainda há actualmente en-      de Jesus, partiu de Jerusalém e              Os Caldeus são a grande mai-
tre 400.000 e 500.000 cristãos, o    evangelizou, nos anos 42-49, to-         oria (setenta por cento) entre os
que representa apenas metade dos     das as populações do Oriente Mé-         cristãos locais. A sede do Patriar-
que lá viviam antes da invasão do    dio. Os protestantes chegaram ao         cado está em Bagdade. Num con-
exército dos Estados Unidos.         Iraque há poucos anos.                   texto de maioria islâmica, vive e
    À região curda são atribuídos       Na era pós-Saddam, a comu-            celebra a sua fé com grande vita-
17 por cento do orçamento naci-      nidade cristã manteve o seu espa-        lidade, dedicando-se sobretudo à
onal. O presidente do Governo é      ço social e político, lutando pela       catequese e à educação. Fervo-
Massoud Barzani. Três membros        edificação de um Estado leigo e          rosa na caridade, assiste numero-
do seu Governo são cristãos, en-     pluralista, respeitoso das minorias.     sas famílias pobres, cristãs e mu-
espiral                                                                                                            7


    A Delegação ficou muito sur-       móveis, carrinhas para poderem          zes amistosas, entre cristãos e mu-
preendida com os aldeamentos e         mandar os filhos à escola, porque       çulmanos em nada influem para
com as igrejas, recém construídos      o Governo sente-se incapaz de sa-       alterar a existência de uma divisão
para os cristãos refugiados. Os        tisfazer estas exigências.              fundamental da sociedade numa
recursos para esse efeito foram            Afectados por esta imediata si-     camada dominante (muçulmanos)
disponibilizados pelo Ministro das     tuação de emergência estão actu-        e os súbditos (todos os outros), de
finanças Sarkis Aghajan Mamendu.       almente cerca de 6000 cristãos          acordo com Corão 9, 33. A clas-
É evidente que, com estas novas        (talvez mais de 2000 famílias).         sificação de «dhimitude», o cha-
aldeias, se pretende colonizar o           Com raras excepções, os cris-       mado «pecado original da dife-
norte do país, até agora muito         tãos no sul do Iraque são amea-         rença» (…) e, em consequência dis-
pouco aproveitado.                     çados ou raptados, não por serem        so, as sempre recorrentes humilha-
    Ora os cristãos envolvidos nes-    cristãos, mas porque são vítimas        ções e discriminações de toda a
ta situação deparam-se com um          mais fáceis (não são protegidos         espécie, a total falta de autorida-
grande problema: eles habitam          por       ninguém)       e   mais       de política, mas também persegui-
casas novas (pequenos bangalós         compensadoras (os raptores espe-        ções sangrentas, não deixaram de
térreos) numa região isolada, mas      ram resgates maiores).                  ter consequências sobre a forma
fértil, no entanto sem empregos, na                                            de estar na vida dos cristãos.
maior parte dos casos sem água e           SOBREVIVÊNCIA                            A preocupação actual comum
sem electricidade.                         O maior problema para a so-         a todos os cristãos no Iraque é o
    Na grande maioria, estes cris-     brevivência da cultura cristã no Ira-   paradoxo da nova Constituição de
tãos provêm de cidades grandes,        que é a emigração. Aliás, ela           Outubro de 2005. Enquanto o
muitos são intelectuais e não têm      acontece muitas vezes mesmo sem         Art.º 1 daquele documento funda-
experiência em agricultura. Ora,       haver pressão externa, como no          mental garante os direitos huma-
um trabalho neste sector parece ser    caso de Akra, onde, talvez desde        nos e parece proteger os cidadãos
um pressuposto essencial para a        há mais de dois séculos, ainda          contra qualquer espécie de discri-
sua sobrevivência. Geralmente sen-     existia uma diocese, cujo bispo foi     minação, estabelece o Art.º 2 que
tem-se felizes por terem escapado      antecessor do arcebispo Sako. O         nenhuma lei pode contrariar a
ao terror e ao perigo de vida. Tam-    clero desempenha um papel mui-          sharia (lei islâmica). Caso a sharia
bém recebem do Governo regio-          to importante quando se trata de        islâmica se torne a lei suprema, há
nal 100 dólares por mês para a         contrariar o fluxo emigratório. Um      que contar com um novo êxodo
subsistência, o que é muito pouco      outro problema para as Igrejas          dos cristãos e, provavelmente, com
para viver e não pode constituir       cristãs é o paternalismo generali-      o fim da sua presença no Iraque,
uma solução duradoura. O que           zado (espírito de tribo) e a            onde eles, desde os tempos apos-
eles pediram à Delegação foi,          segmentação da sociedade em             tólicos, sempre deram uma contri-
concretamente: vacas, ovelhas,         grupos, uma situação que neutra-        buição decisiva para a cultura,
bem como tractores, estações de        liza a legislação.                      para a vida social e para o de-
tratamento de água, hospitais              Também as relações, muitas ve-      senvolvimento económico.


çulmanas, distribuindo alimentos,      mando assim a Igreja sírio-anti-        São Gregório, o Iluminador, que
vestuário e ajudas de vários géne-     oquena católica, que manteve toda       cristianizou a Arménia no século III.
ros, todos os meses. Na Liturgia       a herança patrística e litúrgica. As    Divide-se entre ortodoxos (ou
Caldeia, a língua oficial é o          línguas usadas na Liturgia são, tan-    apostólicos) e católicos. Na última
aramaico, língua litúrgica, teoló-     to o árabe, sobretudo nas gran-         década, a comunidade reduziu-se
gica e clássica do Cristianismo de     des cidades, como o aramaico,           muito devido à marginalização e
tradição semítica.                     nas aldeias ao redor de Mossul.         à pobreza.
    Os Sírio-antioquenos são uma       O Patriarcado dos sírios católicos          A Igreja latina é diminuta: 2500
comunidade de cerca de 75 mil          é em Beirute, no Líbano.                fiéis. É animada por Institutos mis-
fiéis, divididos em duas dioceses          As comunidades arménias pre-        sionários, que administram paró-
entre Bagdade e Mossul. Depois         sentes no Iraque provêm da imi-         quias. Estes aprendem a língua
da missão dos Jesuítas e dos           gração e das deportações força-         árabe e a tradição litúrgica e ritual
Franciscanos Capuchinhos, inicia-      das das populações arménias,            caldeia, inserindo-se plenamente
da em Aleppo (Síria) em 1626,          ocorridas em 1915, depois dos           na cultura local. O arcebispo Dom
uma parte da Igreja sírio-anti-        massacres ordenados pelo regime         Jean Benjamin Sleiman é seu líder.
oquena, chamada «Jacobita», de-        de Giovanni Turchi. A Igreja
cidiu unir-se à Igreja de Roma, for-   arménia inspira-se na figura de                          Fernando Félix
Decálogo do sacerdote
 de D. Klaus Hemmerle, bispo de Achen, Alemanha
    É mais importante:
                                                                    Espaço de Partilha
    1 - Como vivo o sacerdócio, do que aquilo que
faço enquanto sacerdote.                                            1. Ninguém é indiferente às necessidades
    2 - O que Cristo faz através de mim, do que               dos outros. Mas, quando os atingidos são os
aquilo que faço eu.                                           nossos, os que nos são mais próximos (familiares,
    3 - Que eu viva a comunhão no presbitério, do             companheiros de jornada ou de ideal), certamente
que lançar-me até à exaustão sozinho no ministé-              mobilizamo-nos mais.
rio.                                                                2. Sabemos que o Movimento tem procurado
    4 - O serviço da oração e da palavra, do que              acorrer a casos concretos e, por vezes,
o das mesas.                                                  dramáticos. A Fraternitas fá-lo por imperativo de
    5 - Seguir e ajudar a formar, espiritual e cultu-         consciência e para dar cumprimento aos seus
ralmente, os colaboradores, do que fazer eu mes-              Estatutos. Mas procura que aconteça
mo e sozinho o mais possível.                                 evangelicamente: «Não saiba a tua esquerda o
    6 - Estar presente em poucos, mas centrais sec-
                                                              que faz a tua direita».
tores de acção, com uma presença que irradie vida,
                                                                    3. Só é possível continuar a acorrer a casos
do que estar em tudo à pressa ou a meias.
                                                              de verdadeira necessidade se partilharmos
    7 - Agir em comunhão com os colaboradores,
do que sozinho, mesmo que me considere capaz;
                                                              também Por isso, não esperes que te batam
                                                              também.
ou seja, é mais importante a comunhão do que a                expressamente à porta. Decide-te, desde já:
acção.                                                        partilha com os outros através do Movimento.
    8 - A cruz do que os resultados, muitas vezes                   4. Vá já à caixa do multibanco mais próxima
aparentes, fruto de talentos e esforços simplesmen-           e faça uma transferência interbancária para a
te humanos, porque mais fecunda.                              conta nº 0033 000045218426660 05 O         05.
    9 - Ter a alma aberta sobre o “todo” (comuni-             montante é apenas da sua conta e da de Deus.
dade, diocese, Igreja universal, humanidade), do              Irá direitinho para quem precisa!
que fixada em interesses particulares, ainda que                    5. Também pode depositar na mesma conta
me pareçam importantes.                                       bancária o valor da quota anual de sócio: 30
    10- Que a fé seja testemunhada a todos, do                euros - casal; 20 euros - pessoa singular.
que satisfazer todos os pedidos habituais.                          Bem-haja!



 QUE QUEREMOS, AFINAL
   N      ão       somos      pessimistas        nem
         derrotistas, mas temos de aceitar que há pro-
blemas graves que afligem a humanidade.
                                                         sabemos que logo viria a fúria das ondas para tudo
                                                         arrasar, deixando apenas a desilusão da fantasia,
                                                         que eventualmente acalentáramos, de conservar po-
    A morte lenta de milhões de irmãos nossos            emas e sonhos no que é inseguro e efémero na vida.
subalimentados, as discriminações sociais e raciais,         Não, amigos! O nosso optimismo assenta numa
e o tormento das guerras, mal desaparecidas de um        fé que não vacila diante das tempestades da vida, e
país para se implantarem noutro, quase nos levam a       nunca no que é passageiro! Deus é um Deus de vida,
dar razão ao filósofo Hobbes, para quem a guerra         de paz e de abundância, mas para todos, e não de
seria o estado normal do homem sobre a terra.            morte e de guerras. Deus é libertação e não escravi-
    Não alinhamos nesse pressuposto, até porque a        dão. Deus é Pai, Deus é amigo, Deus é o compa-
fé que nos anima dá-nos outras perspectivas da vida,     nheiro de viagem sempre presente, ainda que muitas
que para nós não é uma tragédia, mas uma passa-          vezes nos pareça ausente. A vontade de Deus é que
gem, mais ou menos atribulada sim, mas a caminho         cada um de nós seja feliz. Mas deixa-nos a liberda-
de uma vida de paz e de amor junto de Deus.              de de escolher! E o mal é que nem sequer sabemos,
    Podem estas considerações parecer uma utopia         ou não nos interessa escolher!
moralista, sem impacto na vida real. Sabemos que             Todos temos a missão de ajudar a encontrar ca-
falar de moral faz enjoar muita gente! Não somos         minhos seguros para sair deste infernal desconchavo.
tão pessimistas quanto isso, mas também não quere-       Sabemos isso?... Se não sabemos, então que quere-
mos ser tão ingénuos que nos entretenhamos a es-         mos, afinal?!
                                                                                             Manuel Paiva
crever lindos poemas na areia das praias, porque


    espiral           Boletim da Associação
                      Fraternitas Movimento
                                                              Responsável: Fernando Félix
                                                              Praceta dos Malmequeres, 4 - 3.º Esq.
      N.º 30 - Janeiro/Março de 2008                          Massamá / 2745-816 Queluz
            www.fraternitas.pt                                e-mail: fernfelix@gmail.com

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Conversão e missão da Igreja

  • 1. espiral boletim da associação FRATERNIT TERNITAS FRATERNITAS MOVIMENTO N.º 30 - Janeiro / Março de 2008 E m plena Quaresma, preparando-nos todos para a maior Festa do Ano, a Páscoa da Ressurreição, gostava de partilhar convosco conversão este espírito de conversão a que, como cristão, me sinto interpelado. Consciente de que é uma tarefa de todos os dias, apercebo-me que é este o mo- e ressurreição mento mais propício para ela. Conversão que signi- cer em toda a Sua riqueza e profundidade! fica, antes de mais, voltar-me sempre mais para o E nunca saberemos agradecer suficientemente ao Senhor, para aquilo que Ele me marcou como pro- Artur por vir de tão longe, para nos falar, para nos jecto de existência, para aquilo que Ele espera de ajudar a reflectir, para repartir connosco, duma for- mim cada dia e em cada hora, e que tantas vezes ma sempre muito viva e estimulante, tantos anos de nem consigo discernir, porque me falta meditação e profundo estudo da Escritura e, sobretudo, dos Evan- escuta da Sua Palavra. gelhos! Uma vez mais sairemos do nosso Encontro Provavelmente, quando chegar à vossa caixa de anual mais ricos em conhecimentos e com a nossa correio este número do nosso Boletim, a Páscoa Fé reforçada e mais esclarecida. como celebração já passou, mas o Tempo Pascal continua, como tempo privilegiado de aprofunda- mento interior e de enriquecimento espiritual. Por isso mesmo, sei que me compreendereis, sabendo que N ão posso deixar de partilhar convosco, uma vez mais, aquilo que foi tema do último edi- torial do Espiral. Estamos em ano de escolha de uma escrevi esta partilha em plena Quaresma. Direcção para um novo mandato de três anos. Te- O nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 24 a nho confiança que o nosso Movimento já estará “em 27 de Abril, será orientado pelo nosso tão caro Artur movimento” para encontrar quem assuma esta tare- Oliveira, que vai procurar baseá-lo no seu livro ain- fa. Todos os sócios se sentem, certamente, responsá- da por publicar, mas já pronto, sobre «Jesus de Na- veis por esta escolha que lhes é solicitada e, no dia zaré e as Mulheres». Que oportunidade excelente da Assembleia-Geral, uma ou mais listas aparece- para prolongarmos, em Tempo Pascal, o nosso co- rão certamente, para poderem ser votadas. Seria óp- nhecimento sobre Jesus, Quem nunca será matéria timo que não fosse uma só, mas sim pelo menos esgotada para nós, tão longe estamos de O conhe- duas, porque para haver uma “eleição” é muito melhor que haja uma “escolha”, e não que vá a vo- tos uma única hipótese. Até porque no nosso Movi- SumáRIO mento há, certamente, diferentes sensibilidades, vári- Conversão e ressurreição 1 as maneiras de sentir o que somos e o que quere- Enviou-os dois a dois 2 mos, e portanto é natural que as escolhas não sejam uniformes. Só significa que somos um grupo rico de Nova organização para novas paróquias 3 ideias e projectos, e que não nos acomodamos a Um livro sobre homens corajosos 4 uma certa passividade de quem deixa para os ou- tros a solução daquilo que queremos. Anotações sobre a espiritualidade do Pela nossa parte, ao longo destes três últimos anos, seguimento de Cristo 5 procurámos estar atentos aos diferentes desejos dos Cristãos iraquianos 7 membros, tentámos inovar naquilo que nos pareceu ser o “bom sentido”, mas temos plena consciência Decálogo do sacerdote 8 das nossas limitações e fraquezas. Demos o nosso Que queremos afinal 8 melhor, mas parece-nos justo dar lugar a outros, por- (continua na pág. 2)
  • 2. 2 espiral (Continuação pág. 1) humildade e confiança que nos substituam nestas. E ventura mais capazes de assumir essas responsabili- sabemos que “fraternalmente” seremos compreendi- dades. dos. Eu e mais alguns elementos da actual Direcção Vasco Fernandes não nos recandidatamos, é ponto assente, mas ha- verá sempre alguém que pode transitar para uma nova lista, entre outras coisas para garantir uma cer- ta continuidade desejável e proveitosa. A toda a Demos aquilo que pudemos e soubemos durante estes três anos, e confiamos que haverá outros que FAMÍLIA FRATERNITAS FRATERNIT TERNITAS nos substituirão com vantagem. Por motivos diferen- tes de cada um dos que agora cessamos a nossa desejamos responsabilidade de Direcção, há também um moti- vo comum que se prende com a disponibilidade de tempo para cumprir estas tarefas. uma Páscoa Temos que estar agradecidos ao Senhor por po- dermos servir em muitas “vinhas do Senhor”, porque isso significa que Ele nos dá saúde e forças. Nenhum vivida e plena! E em Fátima nos encontraremos, em júbilo, de nós cessa funções para ficar sem qualquer res- a partir de 24 de Abril ao anoitecer! ponsabilidade na construção do Reino. Pelo contrá- rio, porque temos muitas outras tarefas, pedimos com Enviou-os DOIS a DOIS A doutrina do venerando Papa Bento XVI, ex- pressa em encíclicas e outros documentos, bem como em iniciativas oportunas e prudentes da medicação adequada; seja a praga moderna do rapto de crianças e tráfico de pessoas… O conjunto destas realidades, positivas por um reforma de alguns dicastérios da Cúria Romana, das lado, negativas por outro, impele-me a evocar o la- suas visitas apostólicas, principalmente à Turquia, e tente mandamento do Mestre: «Ide e ensinai». outros gestos pastorais; alguns documentos doutri- Porquê, Santíssimo Papa, Cardeais, Arcebispos, nais, iniciativas pastorais e sócio-caritativas e vários Bispos, Monsenhores, não partem assim doze de gestos proféticos dos Bispos portugueses como a cada vez, acompanhados de peritos e teólogos, como oportuna e urgente chamada de atenção da Confe- anjos descidos do Céu, para pacificar as nações: rência Episcopal aos poderes civis sobre a Concordata «Deixamo-vos a paz. Damo-vos a paz de Cristo»? e a protecção das IPSS da Igreja; a continuação de Ah! Se um dia, do Vaticano, partisse uma revoada ordenações sacerdotais em todas as dioceses, em- destas “pombas brancas”, todo o mundo se admira- bora em número não suficiente; os diversos movi- ria, levantaria os olhos aos céus, acreditaria mais na mentos de Fátima, cada vez mais “altar do mundo”: Igreja católica e exclamaria com júbilo: «Deus visitou tudo isto são Aleluias no mundo! o Seu povo». Por outro lado, lançando um olhar sobre as vári- Tenho consciência de que esta sugestão é arroja- as questões deste mundo real, cujo final feliz não se da. Tenho a impressão de que não passa de um belo vislumbra a prazo: sejam guerras a ferro, fogo e san- sonho, de um poema. Mas a Sagrada Escritura está gue, sejam guerras frias que as diplomacias não têm cheia de sonhos, de poemas proféticos. E até o Con- resolvido; seja a fome, as piores doenças endémicas, cílio Vaticano II, que após “sonhado”, levou João principalmente existentes XXIII a não dormir 15 noites (o tempo que levou a em África, e ainda ou- promulgá-lo), e a viagem transatlântica de Paulo VI tras novas enfer- para ir discursar na sede das Nações Unidas, não midades que foram antes também sonhos subtis? pululam como «Deus pensa, o Homem sonha (o que Deus pen- cogumelos, sa), a obra nasce.» O homem não tem o direito de para as quais as pôr em dúvida o que pensa e quer o Espírito Divino, autoridades e a que tem o Seu tempo e o Seu modo, não os nossos medicina disse- tempos ou modos. Como dizia o poeta, «o sonho ram não haver comanda a vida». José Silva Pinto
  • 3. espiral 3 Nova organização para novas paróquias D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, propõe novos dinamismos para a paróquia e para o pároco perante as mudanças sociais. A questão séria que se põe hoje à Igreja, às comuni- dades e a cada um de nós, é o homens). O território deve ser en- tendido não só geograficamente, mas também antropologicamente: colaboração meramente ocasional para uma determinada iniciativa, mas de um laço de colaboração anúncio e a transmissão da fé fren- as características humanas, sociais duradoiro e programado. te às mudanças culturais e às difi- e culturais. Dada a mobilidade ca- E não se pense que se trata de culdades e aos desafios que levan- racterística do nosso tempo, as pes- uma pura “política de crise” resul- tam: Como anunciar hoje? Qual soas já não vivem, nem fazem a tante da escassez do clero. É antes deve ser o fundamento da evan- sua vida, só no espaço e no am- uma perspectiva que se abre para gelização? Que caminhos percor- biente da paróquia. o futuro. Isto resulta da unidade da rer para que seja activa e fecun- A paróquia é a Igreja presente missão da Igreja (missão em co- da? Não podemos contentar-nos no quotidiano das pessoas e das munhão) para que seja vivida na com uma religiosidade vaga, ge- famílias, que as acompanha em busca de todas aquelas colabo- nérica e superficial que não re- todas as idades e etapas da vida. rações que permitam realizar inici- siste às transformações culturais, à Todavia, não se pode mais ativas que superam as possibilida- mínima tempestade provocada concebê-la isolada e fechada em des de cada paróquia. por um «Código da Vinci» e outras si mesma. Já o P Congar, nos .e Uma pastoral integrada põe ficções do género. meados do século passado, escre- em acção todas as energias de O Papa João Paulo II, na veu, com o título significativo: «Mi- que o povo de Deus dispõe, valo- «Novo Millennio Ineunte», indica nha paróquia, vasto mundo»! rizando-as na sua especificidade algumas linhas programáticas que Uma pastoral de manutenção, e, ao mesmo tempo, fazendo-as poderemos sintetizar em três pala- voltada unicamente para a conser- confluir em projectos comuns, pen- vras-chave: Contemplação – con- vação da fé e assistência da co- sados, definidos, programados e templar o rosto (mistério) de Cristo munidade, já não basta. É preciso realizados em conjunto. Ela põe em para ir ao coração da fé e cami- uma pastoral evangelizadora e em rede os múltiplos recursos de que nhar na estrada da santidade. É o todos os campos: ser capaz de criar dispõe: humanos, espirituais, cul- reconhecimento do primado de e manter itinerários que aproximam turais, pastorais. Deus, da Sua graça e do Seu amor as pessoas à fé, promovendo lu- Mas isto requer o difícil traba- na vida e pastoral da Igreja (Pala- gares de encontro com quantos lho em equipa, que pede uma es- vra, Eucaristia, iniciação à fé); andam à busca e com quem, mes- piritualidade e uma ascese, a co- Comunhão – descobrir o mistério mo sendo baptizado, sente o de- meçar pelo “pensar em equipa”: de comunhão que habita e carac- sejo de escolher de novo o Evan- partilha dos diversos pontos de vis- teriza a forma da existência cristã gelho como orientação de fundo ta com transparência; desejo de e da Igreja, como projecção da da sua própria vida… aprender com os outros; escuta in- vida trinitária, e se torna espiritua- teressada e sem preconceitos; lidade pessoal e comunitária, que PASTORAL INTEGRAD A ASTORAL INTEGRADA consciência de que se vê e discerne configurará a Igreja como “casa e Acabou o tempo da paróquia a realidade com maior amplitude escola de comunhão”, e por con- auto-suficiente que respondia a e profundidade; renúncia ao indi- seguinte, praxis de comunhão; Mis- todas as situações e problemas. vidualismo e à indisciplina. são – para ser testemunhas alegres Em âmbitos da pastoral e convictas e fermento evangélico litúrgica, da formação na fé, da PASTORAL INTEGRAL ASTORAL no mundo, atentos à vida quotidi- pastoral dos jovens, da família, Se acabou a época da paró- ana das pessoas e à mudança cul- caridade, cultura, saúde, etecetera, quia auto-suficiente, acabou tam- tural do nosso tempo. só se pode trabalhar juntos. São bém o tempo do pároco auto-su- terrenos onde a paróquia tem ne- ficiente (faz-tudo), que pensa o seu PARÓQUIA E TERRITÓRIO cessidade e urgência de mover-se ministério isolado. O pároco de- A paróquia tem duas referênci- em colaboração com as paróqui- verá promover carismas, vocações, as fundamentais: a igreja dio- as vizinhas, no contexto da ministérios a partir da correspon- cesana (da qual é uma célula) e o vigararia, investindo corajosamen- sabilidade. (ver texto completo em território (no qual torna a Igreja te numa pastoral de conjunto. w w w. a g e n c i a . e c c l e s i a . p t / presente no meio das casas dos E não se trata apenas de uma noticia.asp?noticiaid=55439http).
  • 4. 4 espiral UM LIVRO sobre HOMENS CORAJOSOS «Des Prêtres Épousent Leur correntes filosóficas como o dre casado, observa de forma lú- Humanité», este é o título ori- existencialismo, a vontade de in- cida o facto de que nada se alte- ginal de um livro de Philippe tervenção efectiva no meio (segun- rou entretanto, e como, nesta área, Brand (Ph.B.), publicado pe- do o modelo dos “padres operá- não tem sido possível encetar, até las Editions L’Harmattan (564 L’Harmattan rios”), e outros. Eles, homens de hoje, qualquer tipo de diálogo páginas - 28 Euros). convicção e de acção, preocupa- com a hierarquia. A partir de uma recolha de dos em transmitir a mensagem do Estes testemunhos permitem a 24 testemunhos escritos, de Evangelho, vão-se dando conta de Ph.B. analisar os diferentes percur- padres casados, Ph.B. analisa que a Igreja se vai tornando um sos destes homens corajosos que o percurso desses homens simples “centro de administração continuam a acreditar no “tesouro que escolheram casar-se, de sacramentos”. Mas não põem do Evangelho” e na acção colec- rompendo assim com a disci- plina da Igreja católica. a sua fé em causa. É na instituição tiva. É comovente, sobretudo, a A questão que põe em análise que situam o problema, devido so- descrição da dolorosa inserção no é a seguinte: Por que motivo bretudo à sua estreita visão de um mundo laico e do trabalho... homens normais, moldados “pensamento cristão único”. Este livro é um dos únicos e, que por uma rigorosa formação, «Na medida em que o espírito eu tenha conhecimento, o primei- se decidiram por essa opção, era alimentado e satisfeito, as ne- ro desde há mais de uma déca- enquanto outros (com a mes- cessidades do corpo encontravam- da, a evocar colectivamente a ex- ma formação) permanecem -se limitadas», conclui Philippe periência daqueles que fizeram fiéis ao estado clerical? Brand. Para lá da sexualidade, en- uma escolha de vida determinan- carada como um pecado, o en- te, há trinta ou quarenta anos atrás. Florian Bruckner contro com o feminino fez com que Procura interpretar este fenóme- in Golias magazine, n.º116, estes homens descobrissem o amor no colectivo através da história das Set/Out 2007 Tradução: Paulo Eufrásio e encarassem a possibilidade de correntes do pensamen- to e das forças socio- lógicas e espirituais P hilippe Brand situa as vidas dos padres casados, de quem recolheu testemunhos por dos quatro últimos séculos, após a Re- escrito, no contexto de uma Igreja forma protestante em declínio de influência, de con- e o Concílio de vicções enfraquecidas e incapaz de Trento. Situa assegurar o pleno desenvolvimen- igualmente es- to individual dos seus ministros. tas experiênci- Para isso elaborou uma grelha de as de vida no respostas em que aborda as eta- quadro dos pas decisivas com que esses pa- problemas dres se depararam: a formação com os quais inicial e o despertar da vocação, são confron- a ruptura com a Igreja, a nova pro- descen- tados os ho- fissão, a vida de casal e familiar, dência. O mens e os o lugar na sociedade e, finalmen- casamento, crentes de te, as posteriores relações, quer com assumido hoje. o mundo laico, quer com a Igreja. como um verda- O livro Os diferentes testemunhos per- deiro acto de mi- não propõe mitiram ao autor descrever as pri- litância, no sentido de opção por soluções meiras fissuras detectadas, isto uma união livre, acaba por signi- para a crise da Igreja católica nos apesar da moldura moral e disci- ficar a ruptura com a Igreja. E esta nossos dias, como também não plinar que receberam. São tidos não pode fechar os olhos – como pretende qualquer acerto de con- em conta diversos factores de in- faz por vezes com certas uniões tas com a instituição. A obra pode, fluência, tais como acontecimen- “oficiosas” - revelando-se incapaz contudo, contribuir para esclarecer tos exteriores (serviço militar, guer- de evoluir nesta matéria. os espíritos dos responsáveis ecle- ra da Argélia, Maio de 68, ...), O autor, ele também um pa- siais. página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * pági
  • 5. espiral 5 ANOTAÇÕES SOBRE A ESPIRITUALIDADE DO SEGUIMENTO DE CRISTO O teólogo Jon Sobrino disse, diadores, é a da proximidade. Je- uma profunda libertação na pró- uma vez, que Cristo é Alguém sus é o Próximo. Ele, não só pria noção de Deus, distinguindo que se descobre todos os dias. encarnou, mas aproxima-Se das Deus verdadeiro dos ídolos. Deus Isto, porque Ele é pessoas e da sua realidade, e é quer a vida das pessoas, que deve eterna novidade; assim que faz os Seus julgamen- ser em abundância, mas que co- porque nós, os crentes, tos, denuncia, desmascara, per- meça com pão, casa, saúde e O temos escondido; doa, salva e exige. A proximida- educação. Os ídolos, ao contrá- e, também, de é, em síntese, a encarnação da rio, esvaziam as pessoas: exigem- porque a humanidade está misericórdia. É pela proximidade -lhes, cada vez mais, tempo, emo- sempre a fabricar que todos, e em especial os po- ções, dinheiro e, até, a felicidade. os seus cristos/ídolos. bres, podemos chamar Irmão a D escobrir Cristo, significa re- descobrir o Jesus de Na- zaré dos Evangelhos, entregue a Jesus. Por esta mesma proximida- de misericordiosa – em que vivem em conjunto alegrias e tristezas, an- SEGUIMENTO O SEGUIMENTO Seguir Cristo é aderir ao que Ele nos diz. Começa por não nos nós em narrações de fé, apresen- seios e conquistas –, é que Jesus é conformarmos com este mundo, tado através de mediadores: credível, é Verdade. com as suas verdades, os seus ído- Deus- Pai, o Espírito Santo, e toda Uma segunda característica de los, mas denunciá-lo, quando ade- a História da Igreja. Cristo, a ser captada e clonada por re ao pecado. Nisto havemos de A História da Igreja, e da hu- nós, é a de Libertador, Redentor, ser Boa Nova de libertação. Temos manidade é lugar do redesco- Salvador, conforme Lc 4,18-19: «O de ser fiéis, mesmo quando as con- brimento de Cristo, porque o Evan- Espírito do Senhor está sobre Mim, sequências possam ser todo o tipo gelho tem reencontrado o seu pró- porque Ele Me consagrou com a de perseguições. Neste núcleo fun- prio lugar, o lugar no qual deve unção, para anunciar a Boa Nova damental da espiritualidade, a ser lido e a partir do qual se faz aos pobres, enviou-Me para pro- existência orienta-se não para a Palavra de Vida. Esse lugar é o clamar a libertação aos presos e defesa da própria pessoa, nem de mundo dos crentes, que são pro- aos cegos a recuperação da vista; uma filosofia, de uma ideologia fetas, sacerdotes, reis, pobres, mis- para libertar os oprimidos, e para política ou de um fundamentalis- sionários, mártires, convertidos… proclamar um ano de graça do mo religioso, mas para Deus, que A primeira característica de Senhor». É libertador enquanto li- quer ser «tudo em todos». Cristo que pode ser captada pe- vra as pessoas das angústias, da A vida dos crentes, no mundo los crentes, e dela estes serem me- resignação, dos individualismos, de hoje, é seguimento de Jesus no do desespero; porquanto nos co- desprendimento, no serviço, no munica uma força interior que apontar caminhos, na sobriedade nos faz mudar, pessoalmen- baseada na verdade. Nunca no te e ao nosso redor, de pes- triunfalismo. Não é por se funda- soas amedrontadas, fecha- mentar nos títulos: sou cristão, sou das, para homens livres, para papa, bispo, padre, religioso, esperar, para nos unirmos, catequista, que o crente se faz Boa para lutar. Mas esta liberta- Notícia, mas por ser Amigo de Cris- ção só é possível com a fé. O to. Ele não é dono da Salvação. contacto de Jesus com os doentes O crente não tem soluções para deixava--os sãos, mas uma era a tudo; mas, objectivamente, sabe a razão: «A tua fé te salvou». A fé em direcção para a qual nos devemos Deus Pai correlaciona-se com a fé mover: o Reino de Deus. E, como na fraternidade universal. Daí que afirmou o profeta Miqueias, cami- a maior cura para a sociedade de nha «sem triunfalismos, por uma hoje é vencerem-se egoísmos, es- parte, e sem complexos de inferi- cravidões, ódios. oridade, por outra, mas humilde- Isto leva-nos a uma terceira ca- mente, com Deus». racterística de Jesus: Ele opera Fernando félix ina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
  • 6. 6 espiral CRISTÃOS IRAQUIANOS Entre a esperança e a fuga A convite do arcebispo católico caldeu de Kirkuk, tre os quais o Ministro das Finan- defende a igualdade de homens Louis Sako, uma pequena ças, Sarkis Aghajan Mamendu, bas- e mulheres. Rejeita em absoluto delegação austríaca tante influente. Toda a região curda qualquer extremismo. Considera- deslocou-se ao Iraque com o experimenta um desenvolvimento -se empenhado na luta contra a objectivo de verificar no económico que se pode classificar violência sobre as mulheres: terreno a situação local dos de claro a héctico. Isso torna-se evi- «Encontramo-nos hoje numa guer- cristãos na região do Iraque dente no elevado número de no- ra fria contra os extremistas islâ- controlada pelos Curdos. vas construções em toda a região micos. Numa sociedade domina- Entre os participantes e pelo denso tráfego de camiões. da por homens, eles tentam excluir contava-se também o Apenas os inúmeros controlos as mulheres curdas da participa- Dr. Mart presidente Dr. Johann Mar t e, president e armados nas estradas, principal- ção na vida cultural.» da Pró-Oriente. mente nas de longo curso, alertam No que concerne aos direitos Apresentamos excertos do para a tensa situação de seguran- das mulheres, já desde o início dos seu relatório de viagem. ça. Só na cidade de Kirkuk, que fica anos 90 há melhor regulamenta- na fronteira da região curda, as ção do que na maioria das outras pp. in Kirche In, 09/2007, pp. 30 Tradução: João Simão barragens de estrada, inúmeras regiões do Iraque. forças policiais e a proibição de O objectivo da des- locação de uma peque- na delegação austríaca ao Iraque saída a partir das 23 horas, assi- nalam o reforço da situação de segurança. CRISTÃOS: A CONDIÇÃO Antes de 2003, metade dos cristãos iraquianos vivia em era expressar solidariedade aos A região curda lucra claramen- Bagdade. Eles dividem-se por ca- cristãos refugiados, provenientes te com esta situação. Já antes não torze confissões diferentes. Muitos sobretudo das grandes cidades do foi afectada pelo embargo da já se refugiaram no estrangeiro ou sul (Bagdade e Bassorá), mas tam- ONU (1991-2003), tendo podido no norte do Iraque (no universo de bém de Mossul, no norte, e estu- desenvolver-se mais ou menos tran- todos os refugiados, os cristãos são dar a melhor forma de os ajudar. quilamente durante esse tempo. uma parte desproporcionadamen- Eles pertencem àqueles grupos O ministro curdo da cultura, te grande) mas ainda há bairros, populacionais que, na actual situ- Falak-Addin Kakayee, quer como Ankawa em Erbil, capital do ação, são proporcionalmente implementar uma «more open Curdistão, ou pequenas cidades mais perseguidos e ameaçados. kurdish society». Promove intensiva- como Karakosh ou d’Alkosh, que A viagem até Erbil decorreu mente a língua e cultura curdas e são quase exclusivamente cristãos. sem problemas. O visto de entra- da, na forma de um carimbo, foi concedido gratuitamente. Comunidades católicas no Iraque O CURDISTÃO A região curda tem cerca de cinco milhões de habitantes, den- tre os quais aproximadamente A presença cristã no Iraque é muito antiga e decorre da pregação do Apóstolo Tomé, que As comunidades católicas no Iraque são de quatro ritos: Caldeus, Sírio-antioquenos, 200.000 são cristãos. Em todo o depois da morte e da Ressurreição Arménios e Latinos. Iraque ainda há actualmente en- de Jesus, partiu de Jerusalém e Os Caldeus são a grande mai- tre 400.000 e 500.000 cristãos, o evangelizou, nos anos 42-49, to- oria (setenta por cento) entre os que representa apenas metade dos das as populações do Oriente Mé- cristãos locais. A sede do Patriar- que lá viviam antes da invasão do dio. Os protestantes chegaram ao cado está em Bagdade. Num con- exército dos Estados Unidos. Iraque há poucos anos. texto de maioria islâmica, vive e À região curda são atribuídos Na era pós-Saddam, a comu- celebra a sua fé com grande vita- 17 por cento do orçamento naci- nidade cristã manteve o seu espa- lidade, dedicando-se sobretudo à onal. O presidente do Governo é ço social e político, lutando pela catequese e à educação. Fervo- Massoud Barzani. Três membros edificação de um Estado leigo e rosa na caridade, assiste numero- do seu Governo são cristãos, en- pluralista, respeitoso das minorias. sas famílias pobres, cristãs e mu-
  • 7. espiral 7 A Delegação ficou muito sur- móveis, carrinhas para poderem zes amistosas, entre cristãos e mu- preendida com os aldeamentos e mandar os filhos à escola, porque çulmanos em nada influem para com as igrejas, recém construídos o Governo sente-se incapaz de sa- alterar a existência de uma divisão para os cristãos refugiados. Os tisfazer estas exigências. fundamental da sociedade numa recursos para esse efeito foram Afectados por esta imediata si- camada dominante (muçulmanos) disponibilizados pelo Ministro das tuação de emergência estão actu- e os súbditos (todos os outros), de finanças Sarkis Aghajan Mamendu. almente cerca de 6000 cristãos acordo com Corão 9, 33. A clas- É evidente que, com estas novas (talvez mais de 2000 famílias). sificação de «dhimitude», o cha- aldeias, se pretende colonizar o Com raras excepções, os cris- mado «pecado original da dife- norte do país, até agora muito tãos no sul do Iraque são amea- rença» (…) e, em consequência dis- pouco aproveitado. çados ou raptados, não por serem so, as sempre recorrentes humilha- Ora os cristãos envolvidos nes- cristãos, mas porque são vítimas ções e discriminações de toda a ta situação deparam-se com um mais fáceis (não são protegidos espécie, a total falta de autorida- grande problema: eles habitam por ninguém) e mais de política, mas também persegui- casas novas (pequenos bangalós compensadoras (os raptores espe- ções sangrentas, não deixaram de térreos) numa região isolada, mas ram resgates maiores). ter consequências sobre a forma fértil, no entanto sem empregos, na de estar na vida dos cristãos. maior parte dos casos sem água e SOBREVIVÊNCIA A preocupação actual comum sem electricidade. O maior problema para a so- a todos os cristãos no Iraque é o Na grande maioria, estes cris- brevivência da cultura cristã no Ira- paradoxo da nova Constituição de tãos provêm de cidades grandes, que é a emigração. Aliás, ela Outubro de 2005. Enquanto o muitos são intelectuais e não têm acontece muitas vezes mesmo sem Art.º 1 daquele documento funda- experiência em agricultura. Ora, haver pressão externa, como no mental garante os direitos huma- um trabalho neste sector parece ser caso de Akra, onde, talvez desde nos e parece proteger os cidadãos um pressuposto essencial para a há mais de dois séculos, ainda contra qualquer espécie de discri- sua sobrevivência. Geralmente sen- existia uma diocese, cujo bispo foi minação, estabelece o Art.º 2 que tem-se felizes por terem escapado antecessor do arcebispo Sako. O nenhuma lei pode contrariar a ao terror e ao perigo de vida. Tam- clero desempenha um papel mui- sharia (lei islâmica). Caso a sharia bém recebem do Governo regio- to importante quando se trata de islâmica se torne a lei suprema, há nal 100 dólares por mês para a contrariar o fluxo emigratório. Um que contar com um novo êxodo subsistência, o que é muito pouco outro problema para as Igrejas dos cristãos e, provavelmente, com para viver e não pode constituir cristãs é o paternalismo generali- o fim da sua presença no Iraque, uma solução duradoura. O que zado (espírito de tribo) e a onde eles, desde os tempos apos- eles pediram à Delegação foi, segmentação da sociedade em tólicos, sempre deram uma contri- concretamente: vacas, ovelhas, grupos, uma situação que neutra- buição decisiva para a cultura, bem como tractores, estações de liza a legislação. para a vida social e para o de- tratamento de água, hospitais Também as relações, muitas ve- senvolvimento económico. çulmanas, distribuindo alimentos, mando assim a Igreja sírio-anti- São Gregório, o Iluminador, que vestuário e ajudas de vários géne- oquena católica, que manteve toda cristianizou a Arménia no século III. ros, todos os meses. Na Liturgia a herança patrística e litúrgica. As Divide-se entre ortodoxos (ou Caldeia, a língua oficial é o línguas usadas na Liturgia são, tan- apostólicos) e católicos. Na última aramaico, língua litúrgica, teoló- to o árabe, sobretudo nas gran- década, a comunidade reduziu-se gica e clássica do Cristianismo de des cidades, como o aramaico, muito devido à marginalização e tradição semítica. nas aldeias ao redor de Mossul. à pobreza. Os Sírio-antioquenos são uma O Patriarcado dos sírios católicos A Igreja latina é diminuta: 2500 comunidade de cerca de 75 mil é em Beirute, no Líbano. fiéis. É animada por Institutos mis- fiéis, divididos em duas dioceses As comunidades arménias pre- sionários, que administram paró- entre Bagdade e Mossul. Depois sentes no Iraque provêm da imi- quias. Estes aprendem a língua da missão dos Jesuítas e dos gração e das deportações força- árabe e a tradição litúrgica e ritual Franciscanos Capuchinhos, inicia- das das populações arménias, caldeia, inserindo-se plenamente da em Aleppo (Síria) em 1626, ocorridas em 1915, depois dos na cultura local. O arcebispo Dom uma parte da Igreja sírio-anti- massacres ordenados pelo regime Jean Benjamin Sleiman é seu líder. oquena, chamada «Jacobita», de- de Giovanni Turchi. A Igreja cidiu unir-se à Igreja de Roma, for- arménia inspira-se na figura de Fernando Félix
  • 8. Decálogo do sacerdote de D. Klaus Hemmerle, bispo de Achen, Alemanha É mais importante: Espaço de Partilha 1 - Como vivo o sacerdócio, do que aquilo que faço enquanto sacerdote. 1. Ninguém é indiferente às necessidades 2 - O que Cristo faz através de mim, do que dos outros. Mas, quando os atingidos são os aquilo que faço eu. nossos, os que nos são mais próximos (familiares, 3 - Que eu viva a comunhão no presbitério, do companheiros de jornada ou de ideal), certamente que lançar-me até à exaustão sozinho no ministé- mobilizamo-nos mais. rio. 2. Sabemos que o Movimento tem procurado 4 - O serviço da oração e da palavra, do que acorrer a casos concretos e, por vezes, o das mesas. dramáticos. A Fraternitas fá-lo por imperativo de 5 - Seguir e ajudar a formar, espiritual e cultu- consciência e para dar cumprimento aos seus ralmente, os colaboradores, do que fazer eu mes- Estatutos. Mas procura que aconteça mo e sozinho o mais possível. evangelicamente: «Não saiba a tua esquerda o 6 - Estar presente em poucos, mas centrais sec- que faz a tua direita». tores de acção, com uma presença que irradie vida, 3. Só é possível continuar a acorrer a casos do que estar em tudo à pressa ou a meias. de verdadeira necessidade se partilharmos 7 - Agir em comunhão com os colaboradores, do que sozinho, mesmo que me considere capaz; também Por isso, não esperes que te batam também. ou seja, é mais importante a comunhão do que a expressamente à porta. Decide-te, desde já: acção. partilha com os outros através do Movimento. 8 - A cruz do que os resultados, muitas vezes 4. Vá já à caixa do multibanco mais próxima aparentes, fruto de talentos e esforços simplesmen- e faça uma transferência interbancária para a te humanos, porque mais fecunda. conta nº 0033 000045218426660 05 O 05. 9 - Ter a alma aberta sobre o “todo” (comuni- montante é apenas da sua conta e da de Deus. dade, diocese, Igreja universal, humanidade), do Irá direitinho para quem precisa! que fixada em interesses particulares, ainda que 5. Também pode depositar na mesma conta me pareçam importantes. bancária o valor da quota anual de sócio: 30 10- Que a fé seja testemunhada a todos, do euros - casal; 20 euros - pessoa singular. que satisfazer todos os pedidos habituais. Bem-haja! QUE QUEREMOS, AFINAL N ão somos pessimistas nem derrotistas, mas temos de aceitar que há pro- blemas graves que afligem a humanidade. sabemos que logo viria a fúria das ondas para tudo arrasar, deixando apenas a desilusão da fantasia, que eventualmente acalentáramos, de conservar po- A morte lenta de milhões de irmãos nossos emas e sonhos no que é inseguro e efémero na vida. subalimentados, as discriminações sociais e raciais, Não, amigos! O nosso optimismo assenta numa e o tormento das guerras, mal desaparecidas de um fé que não vacila diante das tempestades da vida, e país para se implantarem noutro, quase nos levam a nunca no que é passageiro! Deus é um Deus de vida, dar razão ao filósofo Hobbes, para quem a guerra de paz e de abundância, mas para todos, e não de seria o estado normal do homem sobre a terra. morte e de guerras. Deus é libertação e não escravi- Não alinhamos nesse pressuposto, até porque a dão. Deus é Pai, Deus é amigo, Deus é o compa- fé que nos anima dá-nos outras perspectivas da vida, nheiro de viagem sempre presente, ainda que muitas que para nós não é uma tragédia, mas uma passa- vezes nos pareça ausente. A vontade de Deus é que gem, mais ou menos atribulada sim, mas a caminho cada um de nós seja feliz. Mas deixa-nos a liberda- de uma vida de paz e de amor junto de Deus. de de escolher! E o mal é que nem sequer sabemos, Podem estas considerações parecer uma utopia ou não nos interessa escolher! moralista, sem impacto na vida real. Sabemos que Todos temos a missão de ajudar a encontrar ca- falar de moral faz enjoar muita gente! Não somos minhos seguros para sair deste infernal desconchavo. tão pessimistas quanto isso, mas também não quere- Sabemos isso?... Se não sabemos, então que quere- mos ser tão ingénuos que nos entretenhamos a es- mos, afinal?! Manuel Paiva crever lindos poemas na areia das praias, porque espiral Boletim da Associação Fraternitas Movimento Responsável: Fernando Félix Praceta dos Malmequeres, 4 - 3.º Esq. N.º 30 - Janeiro/Março de 2008 Massamá / 2745-816 Queluz www.fraternitas.pt e-mail: fernfelix@gmail.com