O documento resume um congresso internacional sobre padres em comunidades adultas, realizado em Madri. A Fraternitas esteve representada no evento, que ofereceu reflexões valiosas sobre a maturidade das comunidades e o papel dos padres nelas. O texto defende que as comunidades devem ser protagonistas de sua fé e encontrar respostas para os desafios atuais na luz do Evangelho.
1. Nº 56 - Outubro / Dezembro de 2015
b o l e t i m d a F R A T E R N I T A S M O V I M E N T O
A
conteceuem Madrid,de29 de Outubro
a 1 de Novembro, o Congresso
InternacionaldaFederaçãoEuropeiade
PresbíterosCatólicosCasados (FEPCC).
A Fraternitas esteve representada pela atual
direção,com exceção do Joaquim Soares.
Foi para nós uma lufada de ar fresco, quer pela
frescura atmosférica, quer sobretudo pela
profundidade e audácia do tema do congresso:
"Presbíterosemcomunidadesadultas".
Neste sentido, foi preciosa a ajuda dos dois
conferencistas convidados: Sílvia Regina de Lima
Silva, Teóloga, do Departamento Ecuménico de
Investigações, Costa Rica; e J. Antonio Estrada,
Teólogo, da Universidade de Granada. Quer a
primeira quer o segundo procuraram dar o seu
precioso contributo para uma reflexão e uma ação
mais maduras na prossecução do que tem sido o
pensamento da MOCEOP (Movimento para o
celibato opcional),desdeháquarenta anos.
É um caminho e um processo, pois não existe
um sem o outro. E se inicialmente o movimento
contestou a obrigatoriedade do celibato para os
presbíteros católicos, atualmente a reflexão e a
prática, em fidelidade evangélica, caminham cada
vez mais no sentido de as próprias comunidades
cristãs serem o lugar teológico onde precisamos
reinventar a nossa forma de pertença.
Para que a maturidade e a adultez sejam vida
vivida é preciso que as comunidades sejam
protagonistas da sua existência, buscando no
EvangelhodeJesusCristoarespostaparaaspessoas
de hoje. OEspírito de Jesus Cristo é o mesmo para
todos e, por isso mesmo, dá a cada um algo único
paraoenriquecimentodacomunidade.Ondeexiste
espaço e tempo para a partilha dessa riqueza em
celebrações frequentemente "pré-cozinhadas",
apressadas e anónimas?
Precisamos pensar e agir. Fazermos como o
caracol, que vive, lentamente, entre dois
movimentos: o centrífugo e o centrípeto; o da
interioridadeeodaexterioridade;odaMariaeoda
Marta, irmãs de Lázaro, de quem Jesus era muito
amigo.
Também queremos ir renovando a Fraternitas,
para que ela possa ir sendo uma ajuda na resposta
de amizade a Jesus. Pessoalmente, cada um e em
comunidade.
Luís Carlos Lourenço Salgueiro
A MATURIDADE E A ADULTEZ
O Pactodas Catacumbas 2-3
DoDiário,apropósitoda“CasaComum” 4
VentosNovos! 4
Ecosde... EncontrodeFormação
Testemunhos 5-6
EcosdoEncontro 6
FormaçãonaFraternitas-Movimento 7-10
VIICongressodaFederação EuropeiadePCC
PadresemComunidadesAdultas 12
2. 50 anos. O ''Pacto das Catacumbas''
para uma Igreja serva e pobre
No dia 16 de novembro de
1965, há 50 anos, poucos
dias antes do encerramento
do Vaticano II, cerca de 40
padres conciliares
celebraram uma Eucaristia
nas Catacumbas de
Domitila, em Roma, pedindo
fidelidade ao Espírito de Jesus. Depois dessa
celebração, assinaram o "Pacto das
Catacumbas".
O documento é um desafio aos "irmãos no
Episcopado" a levar adiante uma "vida de
pobreza", uma Igreja "serva e pobre", como
sugerira o Papa João XXIII.
Os signatários — entre eles muitos
brasileiros e latino-americanos, embora
muitos outros tenham aderido ao pacto
mais tarde — comprometiam-se a viver
em pobreza, a renunciar a todos os
símbolos ou privilégios do poder e a
pôr os pobres no centro do seu
ministério pastoral. O texto teve uma
forte influência sobre a Teologia da Libertação,
que surgiria nos anos seguintes. O Pacto das
Catacumbas foi assinado por 42 Bispos de 25
países, representando os cinco continentes.
Um dos signatários e propositores do pacto foi
Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e
Recife. Eis o texto:
Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II,
esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida
de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns
pelos outros, numa iniciativa em que cada um de
nós quereria evitar a singularidade e a presunção;
unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado;
contando sobretudo com a graça e a força de Nosso
Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos
sacerdotes de nossas respectivas dioceses;
colocando-nos, pelo pensamento e pela oração,
diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante
dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na
humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas
também com toda a determinação e toda a força de
que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-
nos ao que se segue:
1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário
da nossa população, no que concerne à
habitação, à alimentação, aos meios de
locomoção e a tudo que daí se segue. Cf. Mt
5,3; 6,33s; 8,20.
2) Para sempre renunciamos à aparência e à
realidade da riqueza, especialmente no traje
(fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias
de matéria preciosa (devem esses signos ser,
com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s;
Pacto das Catacumbas da Igreja serva e pobre
Act 3,6. Nem ouro nem prata.
3) Não possuiremos nem imóveis, nem móveis,
nem conta em banco, etc., em nosso próprio
nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo
no nome da diocese, ou das obras sociais ou
caritativas. Cf. Mt 6,19-21; Lc 12,33s.
4) Cada vez que for possível, confiaremos a
gestão financeira e material em nossa diocese
a uma comissão de leigos competentes e
cônscios do seu papel apostólico, em mira a
sermos menos administradores do que
pastores e apóstolos. Cf. Mt 10,8; At. 6,1-7.
5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por
escrito, com nomes e títulos que signifiquem a
grandeza e o poder (Eminência, Excelência,
Monsenhor...). Preferimos ser chamados com
o nome evangélico de Padre. Cf. Mt 20,25-28;
23,6-11; Jo 13,12-15.
6) No nosso comportamento, nas nossas relações
sociais, evitaremos aquilo que pode parecer
conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma
preferência qualquer aos ricos e aos
poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou
aceites, classes nos serviços religiosos). Cf.
Lc 13,12-14; 1Cor 9,14-19.
(continua na pág. 3)
3. 7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou
lisonjear a vaidade de quem quer que seja,
com vistas a recompensar ou a solicitar
dádivas, ou por qualquer outra razão.
Convidaremos os nossos fiéis a considerarem
as suas dádivas como uma participação nor-
mal no culto, no apostolado e na ação social.
Cf. Mt 6,2-4; Lc 15,9-13; 2Cor 12,4.
8) Daremos tudo o que for necessário do nosso
tempo, reflexão, coração, meios, etc., ao
serviço apostólico e pastoral das pessoas e
dos grupos laboriosos e economicamente
fracos e subdesenvolvidos, sem que isso
prejudique as outras pessoas e grupos da dio-
cese. Ampararemos os leigos, religiosos,
diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama
a evangelizarem os pobres e os operários
compartilhando a vida operária e o trabalho. Cf.
Lc 4,18s; Mc 6,4; Mt 11,4s; Act 18,3s; 20,33-35;
1Cor 4,12 e 9,1-27.
9) Cônscios das exigências da justiça e da
caridade, e das suas relações mútuas,
procuraremos transformar as obras de
"beneficência" em obras sociais baseadas na
caridade e na justiça, que levam em conta todos
e todas as exigências, como um humilde
serviço dos organismos públicos competentes.
Cf. Mt 25,31-46; Lc 13,12-14 e 33s.
10) Poremos tudo em obra para que os
responsáveis pelo nosso governo e pelos
nossos serviços públicos decidam e ponham
em prática as leis, as estruturas e as instituições
sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao
desenvolvimento harmónico e total do homem
todo em todos os homens, e, por aí, ao advento
de uma outra ordem social, nova, digna dos
filhos do homem e dos filhos de Deus. Cf. Act.
2,44s; 4,32-35; 5,4; 2Cor 8 e 9 inteiros; 1Tim 5,
16.
11) Achando a colegialidade dos bispos sua
realização a mais evangélica na assunção do
encargo comum das massas humanas em
estado de miséria física, cultural e moral – dois
terços da humanidade – comprometemo-nos:
- a participarmos, conforme nossos meios, dos
investimentos urgentes dos episcopados das
nações pobres;
- a requerermos juntos ao plano dos
organismos internacionais, mas
testemunhando o Evangelho, como o fez o
Papa Paulo VI na ONU, a adopção de
estruturas económicas e culturais que não
mais fabriquem nações proletárias num
mundo cada vez mais rico, mas sim permitam
às massas pobres saírem da sua miséria.
12) Comprometemo-nos a partilhar, na caridade
pastoral, nossa vida com nossos irmãos em
Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para
que nosso ministério constitua um verdadeiro
serviço; assim:
- esforçar-nos-emos para "revisar nossa vida"
com eles;
- suscitaremos colaboradores para serem mais
uns animadores segundo o espírito, do que
uns chefes segundo o mundo;
- procuraremos ser o mais humanamente
presentes, acolhedores...;
- mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual
for a sua religião. Cf. Mc 8,34s;Act 6,1-7; 1Tim
3,8-10.
13) Tornados às nossas dioceses respectivas,
daremos a conhecer aos nossos diocesanos
a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por
sua compreensão, seu concurso e suas preces.
AJUDE-NOS DEUS A SERMOS FIÉIS.
(continuação da pág. 2)
O Pacto das Catacumbas
A Direcção da
Fraternitas augura aos
membros do
Movimento e a todos os
leitores do a Paz, a Alegria e a
Simplicidade que dimanam do Natal de
Jesus, irrupção do inesperado nas
frestas da nossa segurança.
Bom ano de 2016.
4. Ainda mal acordado, a fantasia leva-me a divagar na contemplação do novo
"paraíso terreal",entrevisto entusiasticamentenaacabadaleiturameditada do Laudato
Si,doPapa Francisco.Talvez estePapa sejaummeteoroprovidencial,mas oextraordinário luzeiro
produzido hádecontinuarailuminar aTerra!…
Inesperadamente, descubro abertas 2 portas, a do quarto e, ao fundo do corredor, outra.
Vislumbro paisagembonitaemmanhã que desponta.
Fecha-se uma porta intermédia.Escuridão.Do quarto vizinho,indícios de vibrante realidade
orgástica…
Atrás, por cima da minha cabeça,noto luz vinda do exterioremconvite a deixaro descanso.
Doutroquartovizinho,ouço:
—Avó! Mamã, mamã!
Mãe solícita acorre e acabam os gritos. Do meu lado, vem um apelo amoroso:
— Põe a máscara!
—Jánãoépreciso.—respondo,enquanto,aolonge,talvezdaárvorenoquintaldaresidência
episcopal, um cuco canta a sugerir relacionar-me com a natureza e o Criador.
Acima, moço!Viva a "ecologiaintegral"!!!
Luís Cunha
Viseu, 13.08.2015
Do , a propósito da "Casa Comum"
Atravessamostemposdifíceis.
Surpreende-nosa pouca transpa-
rência de pessoas, das quais es-
perávamos uma presença mais
ativa, dinamizadora, mais força,
mais atenção e respeito pelos va-
lores que marcaram a nossa in-
fância e adolescência. De quan-
do em vez, agora com mais fre-
quência, aparece o negativo da
vida.Enãohásituaçõesimunesa
esta degradação.Afraude, a cor-
rupçãoaparecememtodosossec-
tores em que o homem participa.
E as razões são diversas! Será
ambição de um só ou um progra-
ma engendrado porumgrupo?O
poder é polvo... O que é certo é
que depois se busca uma capa
protetora, com que se cobrem e
encobrem uns aos outros e mais
competem e se sublimam na ex-
ploração dos maisindefesos.
Que istoé reale verdadeirona
sociedade civil, no mundo dos
negócios,napolítica,nabanca,na
justiça,nogoverno…Nãoseacei-
ta, mas já estávamos mais ou
menos à espera! São homens e
mulheres dotados de capacidade
humana, liderança, competência
técnica, profissional, académica,
etc., que engendram os meios
mais sofisticados para enganar o
"Zé".
E na tua Igreja,Senhor?Tam-
bém na tua Igreja!... Somos pe-
cadoresesomosIgreja.Cardeais,
bispos... partilhamos a mesma
humanidade.Assumimosasnos-
sas limitações e as contradições
da nossa natureza, que "não per-
mitefazero bem quequeremos",
mas nos sujeita ao mal, ao peca-
do...
Uma boa nova! Eu creio no
Espírito.Eleestápresente.Gover-
na a Igreja, no silêncio dos tem-
pos. Deu-nos o papa Francisco.
Em boa hora encetou uma cami-
nhadaderenovação.Elesabia,nós
sabemos que não é fácil mover
inertes calcinados, cimentados
pelo musgo da história,àmistura
comtradiçõescómodaseinteres-
seiras.
Ventos Novos!
(conclui na pág. 6)
5. A
Angélica e eu gostá-
mos do encontro de
formação realizado
em Fátima, dirigido pelo padre
doutorAnselmoBorges.Admira-
mos o seu saber, o ser capaz de
escutar, a sua capacidade de dia-
logar e o grande respeito que de-
monstrara pela dignidade huma-
na de todos e de cada um.Viu-se
nele um homem empenhado em
enriquecer cada vez mais os seus
profundos conhecimentos e em
transmiti-los, com humildade e
paciência, a todos os seus ouvin-
tes, sem precisar de apoios em
guiões. Sempre aberto a todas as
questões que lhe apresentaram,
procurava dar respostas mais ou
menosconvincentes,massempre
admitindoopensardosoutros.
Verificamos tratar-se de uma
pessoamuitoevoluídaedeideias
bastanteavançadasemrelaçãoao
comum do clero.
Notou-se que está muito à
frente dos nossos padrões, no
campoteológico.Varreunumero-
sas teias de aranha nos assuntos
queabordou.
A única Eucaristia do encon-
tro deixou-nos um pouco perple-
xos...
Em suma, valeu a pena a nos-
sa ida a Fátima.
Boaventura e
Angélica Silveira
T E S T E M U N H O S
A
convitedonossogran-
de amigo Padre
Anselmo Borges, re-
solvemos deslocar-nos a Fátima
no fim de semana de 9 a 11 de
Outubro último para participar
num Encontro de Formação que
ia realizar-se na Casa Retiro Nª
SªdasDores,naproximidadeime-
diatadoSantuário.
Emboaverdadenãotínhamos
a noção exacta daquilo a que ía-
mos, mas o facto de irmos até
Fátimaecomtãoboacompanhia,
foi razão mais do que suficiente
para não olharmos para trás!
Durante a viagem do Porto
paraFátima,apercebemo-nosque
oEncontroemqueíamospartici-
par,envolviaessencialmentepes-
soas integradas no movimento
eclesial FRATERNITAS. Este
movimento congrega sacerdotes
dispensados,casadosounão,suas
esposas ou viúvas, tendo como
objectivo a procura de uma
vivência de solidariedade,
espiritualidade e amizade. Uma
questãosenoscolocouentão:não
seria estranho que um casal for-
mado por uma Pintora e um En-
genheiro sefosseintrometer nes-
se Encontro? Que situação iría-
mos criar?...Apesardasdúvidas,
láfomos!Embreve sehaveria de
ver!
Devemos dizer que a nossa
integração se fez perfeitamente!
Logonasextafeiraànoiteaojan-
tar e na sessão de apresentação
dos participantes, fomos muito
bemacolhidos por todose asim-
patia que nos dedicaram foi aci-
madetudoo quepodíamosespe-
rar!
No sábado, as sessões orien-
tadas pelo PadreAnselmo foram
muito motivadoras, sistematiza-
das e de conteúdo teórico exce-
lente;foigrandeaadesãodospar-
ticipantes, com diálogos muito
animados, com a partilha de dú-
vidas e inquietações, interroga-
ções e ideais, em suma, vivemos
momentos altos de grande enri-
quecimento espiritualehumano!
No domingo, último dia do
Encontro,iriaterlugaradespedi-
da, momento sempreenvolto em
alguma tristeza, mas tudo correu
bem! Devemos destacar a bela
celebraçãoeucarística,quefoium
momento único e muito especial
decomunhãoentretodososparti-
cipantes!
Queremos dizer que valeu
muito apena termos idoe conhe-
cido o movimento FRATERNI-
TAS!Encontramos pessoassere-
nas e felizes que, ao contrário do
que se poderia imaginar, soube-
ram dar a volta e encontrar um
outro sentido para as suas vidas,
semprenorteadas pelos ideais do
Evangelho.Aindaque emalguns
(conclui na pág. 6)
6. Ecos do Encontro
A
qui vai um pequeno
testemunho sobre o
EncontrodeForma-
ção,de9a11deOutubrode2015,
em Fátima.
Motivou anossapresença,ca-
sal Lúcio e Bárbara, alentejanos,
o encontro com os irmãosque fi-
zeram uma experiência especial
com Deus pelo sacerdócio "mi-
nisterial". Este encontro fez-se
com irmãos e irmãs já conheci-
dose outrosnãoconhecidos eaté
com um casal de leigos que nos
enriqueceu com a sua presença.
Nós,casal, procuramos expe-
rimentar o amor, a misericórdia
de Deus nas nossas vidas, mas
essa experiência torna-se mais
válida, consolida-se e cresce
numacomunidade maisalargada
que acredita, dá razões da sua fé,
vive e testemunha,interroga-se e
casos seja patente uma certa
amargura e algum desconforto
pela forma como se sentiram
injustiçados pela Hierarquia da
Igreja Católica , no geral encon-
celebra a misericórdia de Deus.
É por isso que estamos integra-
dos nesta comunidade,a "Frater-
nitas". O nosso Bom Deus tem-
nos falado muitas vezes através
dela.
A nossa fé cristã é dinâmica,
não pode ficar parada no tempo,
utilizando umalinguagem já não
escutada, às vezes, ferindo a
racionalidade. É necessário dar
razões da nossa fé. Uma fé sem
razõesécaminhodeateísmo,não
esquecendo que uma das razões
da nossa fé é onosso testemunho
da misericórdia de Deus. Quem
evangeliza, todos os que fizeram
esta salvadora experiência de
Deus que me ama, que nos ama,
deve transmitir esta experiência
numa linguagem credível. A
evangelização passa pela lingua-
gemepelotestemunho.Urgeuma
conversão do próprio modo de
pensar Deus, de pensar Jesus, de
pensara Igreja,dedizerDeus,de
dizer Jesus, de dizer Igreja. Este
foiofiocondutordareflexãocon-
juntadosdias10e11deOutubro.
Gostámosda força da palavra
doPadreAnselmo,frutodemuita
reflexão no Mistério em que está
inserido,mas que o ultrapassa.
Algunspontosforam ouvidos
comumavoz mais impressiva: o
homem procura Deus mas não
podeprovarempiricamentea sua
existência. O ser humano nasce
"prematuro". Vimos ao mundo
inacabados. A nossa missão é
fazermo-nos sempre mais até ao
limite: a morte. Empiricamente
não sabemos se há vida para lá
da morte. Não há razões para di-
zer que não há.
Pela fé acreditamos que Deus
que éAmor não nos pode deixar
nasepultura,comonãodeixouna
morteaSua Revelação.Cada um
de nós morre mas Deus não nos
deixa cair no nada.
Respeitante à Igreja, a distin-
ção entre Igreja, Povode Deus, e
organização eclesiástica ésauda-
velmente importante. O Papa
Francisco disso nos dá testemu-
nho,dia-a-dia.
Houvepontosquemotivaram
algum atrito: o pecado original.
Dizer que cada um de nós "não
faz o bem que quer, mas o mal
que não quer", reconhecer que
nascemos marcados pela imper-
feição, eis o pecado original, in-
dependentemente, da maçã!...
Finalizamosestedepoimento,
agradecendo a Deus este Encon-
troquenosfortaleceumaisnoSeu
Amor.
Lúcio e Bárbara
tramos pessoas renascidas, com
vidas novas e muito motivadas!
Continuem!Vale bem apena!
Muitoobrigado!BemHajam!
António e
Alcina Machado e
Moura
Eu estou com o papa Francis-
co. Admiro o homem simples,
despidodasmaneirassociais,apa-
ratosas,comumaprofunda moti-
vação para as coisas essenciais.
Um humanista convicto. E por-
tantoumhomemdeféadulta.Que
espero do papa Francisco? Estou
consciente do icebergue que en-
frenta.PeçoaDeuscoragem,for-
ça, paciência, perseverança para
levar esta Igreja a bom porto.
Novembro / 2015
J. Soares
Ventos Novos!
(continuação da pág. 4)
Testemunhos
(continuação da pág. 5)
7. Cinquentaelementos,amaio-
ria membros da Fraternitas-Mo-
vimento (padres casados e suas
esposas),reuniram-seemFátima,
na Casa de Retiros de Nª Senho-
ra das Dores, nos dias 9, 10 e 11
de outubro,
para uma for-
mação sobre
o tema: "Igre-
ja - Jesus - e
Deus".
A direção
da Fraterni-
tas, no cha-
mamentodiri-
gidoaosasso-
ciados e ou-
tras pessoas
para esta for-
mação, ao
fazê-lo, assu-
miuumestado
de alma, pre-
núnciodoêxitodainiciativa,que
transcrevo: "A Fraternitas Mo-
vimento tem a alegria (o subli-
nhado é nosso) de a/o convidar
a participar nesta formação,
orientada pelo Padre Dr.
Anselmo Borges (Universidade
de Coimbra)".
Atentos à expressão dos par-
ticipantes neste "Encontro-Con-
fronto", era visível, desde o iní-
cio, aalegre expectativa,perante
os temas em debate, sentimento
reforçado pela memória que a
maioria,senãotodos,possuíamos
das capacidades do "formador"
sobre o objeto da formação.
A expectativa de todos era
tanto mais intensa quanto os te-
mas em confronto: "Igreja – Je-
sus–eDeus",foramesãooscon-
teúdos de vida, que enformaram
e enformam o percurso existen-
cial de cada um dos presentes.
Vou procurar interpretar, de
forma livre, as palavras do P. Dr.
Anselmo Borges, o qual come-
çou por nos introduzir no misté-
rio de Deus, o Ser por excelên-
cia.Aquelequeéaluzfulgurante,
a fonte deenergia e de esplendor
da qual provém toda a vida e a
cor de todas as coisas, cuja bele-
za não pode ser contemplada
peloolhodehomeme"continuar
a viver" (Ex 33,18ss) como po-
derávir ohomem a contemplara
Deus?!
Se nenhum ser humano viu a
Deus, como o pode identificar?
SeohomemidentificasseaDeus,
Deus deixaria de ser Deus, por-
que deixava deser absoluto para
se tornar igual aqualquer ser cri-
ado, limitado à perceção huma-
na. Como pode o infinito caber,
ser entendido, apreendido, co-
nhecido pelo ser finito, por uma
"OSábadofoifeitoparaoHomem…"(Mc2,27)
FORMAÇÃO NA"FRATERNITAS MOVIMENTO"
inteligêncialimitada?Comodiria
Agostinhoeamaioriadosfilóso-
fos e teólogos místicos de todas
as religiões sobre oAbsoluto, o
Inominável:oqueimaginas,oque
pensaseoquedizesdeDeus,não
é Deus!
Quem é, como é, então,
AquelaEntidadeaquechamamos
Deus? Nunca ninguém O viu...
QuandoOquestionamos sobreo
sentido daexistência, do destino
do universo, do sofrimento dos
inocentes,domal,dainjustiça,da
morte,obtemosumsilênciototal.
Não temos qualquer resposta.
Contudo pressentimos, temos a
consciênciadasuaexistência.Por
isso continuamos a questionar, a
perguntar pelo sentido da vida e
procuramos fazermo-nos "para
lá"!Debatendo-noscomumabar-
reira intransponível: a morte, in-
satisfeitos… Satisfeitos na mor-
te?! E agora?
Prosseguiu o Pe. Anselmo,
(continua na pág. 8)
Fotode “família”:quase todososparticipantesno final do Encontro de Formação
8. agora, nós somos, por excelên-
cia, os seres que nos transcende-
mos! Somos por constituição ra-
cionaledecrençaosseresdaper-
gunta,dotranscendente.Assim a
cada resposta vem nova pergun-
ta para "lá".
Não aceitamos a morte como
castigodeDeus,pois queOpres-
supomos ser o Amor por exce-
lência; nem aceitamos o Seu si-
lêncio,umavezquepressentimos
pelaluzdanossaconsciêncianão
só a imensidão da Sua presença,
mas a grande eloquência da Sua
mensagem, que nos envolve e
percecionamosnoíntimodonos-
so ser e nos fala através de todas
ascoisasematocriadorcontínuo.
Desta consciência, dá fé osAtos
dosApóstolos:"Én'Ele,realmen-
te, que vivemos,nos movemos e
existimos"(At 17,20).
OPe.Anselmoconfronta-nos
com as palavras, que João colo-
ca na boca de Jesus: "Eu e o Pai
somos Um" (Jo 10, 30), com a
injunção de que cada qual pode
fazer suaaquela frase, acentuan-
do, assim,a autonomiatranscen-
dentedohomem:"SomosDeus".
Deusnãoéalgo,umente,além
doconjuntodetodososentesque
formamomundo,neméumapar-
te do todo, nem tão-pouco é a
soma de todas as partes. Não O
podemosimaginar,nementender,
não porque seja uma figura con-
traditóriaouumaesfingeimpene-
trável, mas sim porque é o Ser e
oTudo,apresençaeacomunhão
no coração decada ente, cuja es-
sêncianãoatingimos.
Aoconfrontar-noscom oaxi-
oma: "que só Deus pode falar de
Deus… Quem não fala é porque
não existe", logo centrava a nos-
sa reflexão na força da esperan-
ça, fundamentada na razão, pela
qualohomemsevaitranscenden-
do nas perguntas quecolocapara
"lá" , capacitando-se pela fé de
queo princípioefundamentoúl-
timodetodaarealidadeseja uma
"ConsciênciaPessoal","UmCri-
ador em contínuo", a que damos
o nomede "Deus".
Reforçava o seu pensamento
afirmandoque"afééumcomba-
te", a qual não está circunscrita a
dogmatismos de cariz imperial,
mas antes,seapoianalucidez in-
teligente da razão, que procura
semcessarpelaféesse"Deusque
oculta ao mundo o Seu rosto", a
que damos o nome de "Deus".
Poroutrolado,explicitoucom
profundidade os sinais, que fun-
damentam onosso"combate"na
fé,osquaisconfirmamereforçam
anossaconfiança,queiluminam
elibertam amenteparaumaade-
sãopessoalàexistênciad'Aquele
que nos transcende,mas tão pre-
sente no coração de todos os se-
res.
Deentreoutros sinais eviden-
ciouaconstantemanifestaçãoda
consciência antropológica de-
mandando, perguntando, para
"lá" dovisível,acerca dodestino
últimodohomem.Acadaresposta
obtidaavançacom nova pergun-
ta, assim se vai transcendendo
continuamente, não aceitando a
morte como barreira intrans-
ponível,nemcomofimúltimo,fir-
mandoasuaesperançaeconfian-
do para lá.
Noíntimodasuaconsciência,
à medida que cresce, o homem
pressente,descobreedeslumbra-
secom umaenergiavital,criado-
ra, que está com ele, mas que o
transcende, que o vai impulsio-
nando na sua evolução física,
anímica, mental e espiritual, que
não está configurado com qual-
quer imagem, que não sabe ex-
plicar, mas que identifica com
Deus.
Confronta-nos oDr.Anselmo
Borges com a circunstância do
homem, "ao nascer, se revelar
um ser prematuro para realizar
tudo o que terá para fazer. Vi-
mos ao mundo por fazer e le-
vamos muito tempo até adqui-
rirmos a autonomia que verifi-
camos existir nos outros ani-
mais logonos primeiros momen-
tos de vida. No ponto de vista
da natureza, vimos prematuros,
temos quereceber, construir, por
aculturação aquilo que a
natura não nos deu." Concluin-
do: "fazendo o que fazemos a
nossa vida é fazermo-nos o que
somos. No final ou somos uma
obra de arte ou uma (…)".
ODr.AnselmoBorgeseviden-
ciouapossibilidadequetemosde
aceder ao mistério do Sagrado,
de Deus, que em tudo nos trans-
cende,mas queseidentificacom
a raiz do nosso ser e nele habita,
dotando-nos da capacidade de
sermos Ele, ecom Ele construir-
mos continuamenteoquesomos
em todas as etapas do existir
n'Ele. Este sentido esclarece a
nossa mente, dácertezas à nossa
consciência, ilumina anossa fé e
diz-nosquepodemosexperimen-
tarasalvação,experimentarDeus.
ÉumMistério,nãoconseguimos
vernemouviraquilocomque"ve-
moseouvimos"oInominável.
Reflete o orador, para que te-
nhamos a perceção, possível, do
mistériodasalvaçãoporumDeus,
que é pessoal, mas não à nossa
maneira,haveremosdeaceder-lhe
através da obtenção da consci-
ênciadaautênticaidentidade,as-
(continuação da pág. 7)
Formação na Fraternitas
9. sumidanaexperiênciamísticado
EU!
Assim, Deus manifesta-se no
aqui, no nossoexistir e no existir
de todos os seres, que só vemos
eouvimos comos meios quenão
podemos ver nem ouvir, por-
quantoelessãoobrilho,oesplen-
dor da imagem do Transcenden-
te em nós.Assumir esta confian-
ça em Deus será tomar a verda-
deiradecisãodanossavida,aqual
lhe dará pleno sentido na última
revelação.
Falandode JESUS,Anselmo
Borges assinala que Jesus fez a
experiência do amor de Deus na
sua vivência de deserto.Aquele
espaçofísicoepsicológico épro-
pícioàtranscendência,àidentifi-
cação das grandes questões, às
tomadas deconsciênciados cha-
mamentos e das decisões a assu-
mir.Ali faz a experiência de que
Deus éAmor.Tomaconsciência,
identifica-se e assume-se como
Filho de Deus. Parte para junto
dos seus,anunciando-lhes a Boa
Nova do amor de Deus, que a
todosvailibertarparaavida,por-
que os ama. Assim se decide a
proclamaroAmordeDeus.Aqui,
JesusanunciaqueDeuséPai,mas
para superar o temor reverencial
associado ao conceito de pai, Je-
sus vai ao coração da vida e atri-
bui aDeus a fontedo sentimento
mais libertador, mais amoroso,
maisafetuoso,maiscarinhosoque
se pode dar a alguém, e identifi-
ca-O como "ABBA", ou seja,
"PaiQuerido","Paizinho".Jamais
na tradição rabínicaseassumiu a
liberdade de tratar a Deus como
Pai. Tratava-se de uma ousadia,
que roçavaa blasfémia!…
JesusidentificouaDeuscomo
a suma bondade, ao qual todos
podem aceder sem medos, sem
receios e sem intermediários.
Oxalá que fosse assim nas estru-
turas do Povo de Deus!
Jesus vai tomando consciên-
cia profunda de que se estava a
aproximarum temponovo,aque
chamava Reino de Deus, e que
ele mesmo erao profeta enviado
por Deus para anunciar o apare-
cimentodessetemponovo:acura
dos doentes, a libertação dos
oprimidos, dos camponeses, dos
pescadores e de todos os aflitos.
Jesus sente que, por Ele, es-
tão a sercumpridas as velhas es-
peranças messiânicas, que para
isso foi enviado, tomando auto-
consciênciadeseroenviadopelo
Pai, o Messias.
AnunciaumReinoparaavida,
ondeDeus reinaparaos mais ne-
cessitados, para os pobres e para
os pecadores, afirmando que o
"Reino"jáestavaneles.Com pa-
lavrassimplesconvida,atravésde
parábolas, a serem como Deus:
sol e chuva para todos, pai amo-
roso dos filhos transviados, terra
boaondegermineasemente,fer-
mento que faça crescer todo o
pão, bom Samaritano para todos
os caídos à beira dos caminhos
da vida….
Para acentuar a importância
do homem na economia da sal-
vação global, Anselmo Borges
chama às seguintes palavas de
Jesus as mais revolucionárias da
história: "O sábadofoi feito para
o homem e não o homem para o
sábado" (Mc 2,27)
Para Jesus o mais importante
eram as pessoas e não a doutri-
na, o cultoe os preceitos morais,
sempremanipuladospeloshábeis
escribas esacerdotes doTemplo.
Como verdadeiro profeta, foi
uminovador,umprovocador,um
infrator, que se entregou de cor-
po e alma, a salvar toda a vida, a
curaras feridas da alma edo cor-
po das pessoas, fazendo-se pró-
ximodetodosparaoslibertardos
males queos escravizavam, com
risco da própria vida.Assim, re-
velouDeuscomomistériodepro-
ximidadeedeternura.Anunciava
oReino "paralá".
EJesusmorrecomoblasfemo
religiosoerevolucionáriopolítico.
Sentiucomotodososinjustiçados
o silêncio e o abandono de Deus
nomomentodasuamorte: "Meu
Deus, meu Deus porque me
abandonastes" (Mc 15,34)…
Porém, logo aceitou o "caminho
para lá, o da integração na Vida
Total: "Pai nas Tuas mãos entre-
go o meu espírito…" (Lc 23,45)
Os amigos deJesus, osApós-
tolos, após a morte de Jesus, re-
fletiram sobre toda a Sua vida,
fazem a experiênciade Deus por
tudo quanto viram e ouviram do
Mestre. Impulsionadas pelos
afetos, abertos à luz do Espírito,
felizesedecididospelafirmezada
sua fé no Deus do Seu Mestre,
decidem-sefirmementeaanunci-
ar que Jesus é o Cristo. Procla-
mamqueElevemdeDeus,cons-
ciência que irá presidir ao seu
anúncioda"BoaNova"eàsfutu-
ras efabulações que vieram a to-
mar consistência nas comunida-
des cristãs nascentes.
IGREJA - O Papa Francis-
co procura ser Cristão…
O orador falou sucintamente
da história do nascimento das
"Ecclesia", pequenas comunida-
des que se foram constituindo,
pelos diversos territórios, por
cristãos queeram evangelizados
pelos apóstolos.
OsApóstolos, crentes em Je-
sus, celebravam essa fé, e, em
(conclui na pág. 10)
10. coerênciacomoqueacreditavam,
anunciavam-napelapalavraepela
escrita.Cadaumanunciavaomis-
tério deJesusà suamaneira,fun-
damentados nas suas palavras:
"Quem me vê, vê o Pai… (Jo
14,8-9),masoPaiémaiordoque
eu" (Jo 14,28).
(Jesus na medida em que re-
vela Deus,mistério último, tam-
bémoesconde.Jesusnãoéomis-
térioúltimo.)
As pequenas comunidades
"ecclesia"reuniam-seemnomede
Jesus em quem acreditavam, ce-
lebravam essa fé na partilha do
pão, na oração, na partilha fra-
ternadosbens,liamas Escrituras
e ouviam as mensagens orais ou
escritas dosApóstolos.
Aspequenascomunidadesfo-
ram-seaglutinando,crescendo, e
organizaram-se como já conhe-
cemos, tomando o conjunto da-
quelesqueacreditavam em Jesus
Cristo, os cristãos, a designação
de Igreja.
Ao descrever o devir da His-
tória, o orador faz-nos refletir
como o cristianismo religião da
Igreja, se torna a religião do Im-
pério (romano), de perseguida
passa aperseguidora.Em termos
depensamento,deorientação te-
ológica e de consciências e de
manipulação de poder, naquele
contexto, éapresentado um deus
"irado". Havia que repará-lo,
acalmá-lo,daíosacrifício"infini-
to", a Eucaristia. E o orador con-
fronta a assembleia: "O que
acontece quando Deus está pre-
sente? Ser o que está a aconte-
cer em hebraico e ser em grego
situa-se na razão ontológica.
No acontecer de Deus e Deus é
amor, só pode acontecer o
amor." Percebemos,"deus irado"
éuma efabulação!
Confundimosmuitasvezesre-
ligião com o mistério sagrado.
Devemos ter em conta todas as
religiões. Há mais verdade em
todasasreligiõesdoquenumasó.
As religiões são construções
humanas,histórico-culturaispara
se relacionar com o sagrado.
Tudo começapor uma experiên-
ciadosagrado,domistério,aqual
estáparaalémdodizível.As reli-
giões sãosempre "segundos" re-
lativamenteàexperiênciapessoal
Em síntese,o nosso formador
passou a analisar a Igreja atual à
luz dos três impulsos de Kant: o
ter, o poder e o prazer, aplicados
àatualidade.
AfirmandoqueoPapa procu-
racumprirasuamissão,assumin-
do como primeiratarefaque tan-
to ele, como os cardeais e todos
os católicossejam cristãos. Con-
cluindoque temos um Papa cris-
tão,confirmadopelaspalavrasdo
Presidente Obama: "O Senhor é
a experiência viva dos ensina-
mentoscristãos".
Teve que fazer face à degra-
dação moral causada pela
pedofilia sobre a qual declarou
tolerânciazero.
Em segundo lugar declara o
saneamento moral e cristão dos
dinheiros afetos à Igreja, refor-
mulando a banca e os costumes
ostensivamente luxuosose mun-
danosdealgunshierarcaseodes-
tinocriminososdealguns dinhei-
ros.
Em terceiro lugar restaura a
democracia na vida do Povo de
Deus. Foiassimeaindaé:oPapa
não pode ser julgado.Aorgani-
zação eclesial-clerical tornou-se
imuneàcrítica.Aindanãoatingi-
mos a idade da razão. "A hierar-
quiamanda,osleigosobedecem"
(Pio IX). A eclesiologia é uma
hierarquilogiaquepodesermuito
perigosa.
Pretende a representação de
todos os continentes no governo
da Igreja, quer a descen-
tralização, a defesa dos direitos
humanos. O que é de todos tem
de ser participado por todos.
O problema do celibato e das
mulheres revela que a Igreja é a
únicainstituiçãomundialdeauto-
ridade absoluta. Os jovens e as
pessoasnãoentramnumainstitui-
ção onde não podem participar.
Esperamos que o Papa esta-
beleça o diálogo de fé com a ci-
ência.
Oproblemadoecumenismoé
um caminho para a paz. Sem o
diálogo inter-religioso, sem paz
entre as religiões não há paz en-
tre os povos.
Refletindo, comoéquede Je-
sus e dePedro derivou um chefe
de estado?
Este Papa tornou-se uma voz
político-moral entre os povos,
afirmando, de entre outros prin-
cípios e acercado regime capita-
lista:"estaeconomiamata".
Todos tomámos consciência,
aoescutarmos oPe.Dr.Anselmo
Borges, de que o "mistério de
Deus"serevelanoíntimodonos-
so ser, no coração de todos os
seres, na Boa Nova de Jesus, no
espíritodoPovodeDeuscongre-
gado em Igreja.
Desculpemoprolixo.
Ernesto Jana
(conclusão da pág. 9)
Formação na Fraternitas
11. ja é urgente para cooperar face
aos desafios que os seres huma-
nostêmlevantado.
2. Para a renovação da Igreja e
das comunidades de crentes em
ordem a um modelo ativamente
comunitário de Assembleia do
PovodeDeus,precisamosdeuma
mudançaestrutural;nãosãosufi-
cientes mudanças meramente
pessoais. Há uma inércia de sé-
culos que atua como um peso
morto e dificulta qualquer reno-
vação progressiva.
3. Anossapresençanascomuni-
dades fez-nos experimentar e
compreender que o eixo desta
transformação não é o padre —
célibe ou não:não é esteo princi-
paldesfio —nem a hierarquia da
Igreja, mas sim ascaracterísticas
dacomunidade:apenasascomu-
nidadesadultas,maduras,podem
levar a cabo essa transformação
estruturalnecessária eurgente.A
estrutura atual tende a perpetuar
oimobilismoeamudançadefor-
mas sem ir ao profundo.
4. Estascomunidadesadultas—
já existentes, algumas vezes ig-
noradas ou perseguidas, mas por
incentivar — são comunidades
em que os seus membros vivem
a igualdade, a corresponsa-
bilidade,afraternidadeeairman-
dade, sem girar em torno de uma
figura—opadre,quefoiconcen-
trando,aolongodahistória,todas
as tarefas e responsabilidades na
sua pessoa.
5. Esse estado adulto permite-
-lhesadaptar-seàsexigênciascul-
turais e sociais do nosso mundo
em mudança, viver e formular a
fé e de outra maneira e organi-
zar-se desde dentro conforme as
suasnecessidades.Elassãolivres
e exercera liberdade. Não vivem
só com base na obediência, mas
a partir da criatividade.
6. E, finalmente, entre as suas
características está escolher e
atribuir tarefas,serviços eminis-
tériosapessoasconsideradasmais
preparadas e adequadas para
cada qual, sem distinção de sexo
ou estado. Esforçam-se por ser
comunidadesabertas,inclusivas,
combasenapluralidade enores-
peito.
Temosencontradoeparticipa-
do em comunidades deste tipo.
Não são uma quimera, mas uma
realidade, apesar dassuas defici-
ências. E estamos determinados
em continuar lutando para que,
cada dia, sejam mais numerosas
e autênticas.
Este compromissonãoé fácil.
Estamosconscientesda natureza
VIII CONGRESSO DA FEDERAÇÃO EUROPEIA DE PADRES
CATÓLICOS CASADOS (FEPCC)
(conclusão da pág. 12) problemática do nosso compro-
misso: às vezes abeirando a ile-
galidade;masnãoporcaprichoou
arbitrariamente;senão porfideli-
dade aos valores profundamente
evangélicos.
Eacreditamosqueosdesafios
atuaisexigem-nosabrircaminhos
nessas áreas pouco exploradas,
sercriativo,reconhecerepraticar
oprotagonismodascomunidades
e tornar assim realidade aquelas
intuiçõesdo ConcílioVaticano II
quetantailusãodespertaram,que
foram postas a um canto como
perigosas e que hoje, com a che-
gada do Papa Francisco, ganha-
ram atualidade e recuperaram a
sua carta de cidadania na nossa
Igreja.
Convidamos todos os crentes
em Jesus a serem corajosos e a
percorrer os caminhos da
criatividade e da liberdade, para
fazer o Evangelho da Misericór-
diaedaresponsabilidadeparacom
os seres humanos e para com a
nossa Mãe Terra cada dia mais
reais.
Guadarrama,
1denovembrode2015.
TESOURARIA
Pagamento de quotas
Qualquerassuntoreferente aquotasou queenvolva qualquer
pagamento deve serendereçado para o novoTesoureiro:
JoséAlvesRodrigues
Rua CampinhoVerde,15 = 4505-249FIÃESVFR
Telf: 220 815 616 / Tlmv: 966404 997
Conta para depósitosou transferências bancárias:
NIB003300004521842666005(MillenniumBCP)
12. Rua Dr. Sá Carneiro, 182 - 1º Dtº
3700-254 S. JOÃO DA MADEIRA
e-mail: espiral.fraternitas@gmail.com
boletim de
f r a t e r n i t a s m o v i m e n t o
Responsável: Alberto Osório deCastro
Nº 56 - Outubro/Dezembro de 2015
(conclui na pág. 11)
Um grupo de cerca de 100 pessoas, provenien-
tesde15paísesepertencentes ao movimento inter-
nacional de padres casados, reunimo-nos de 29 de
outubroa1denovembroemGuadarrama(Madrid)
para realizar um Congresso Internacional, sob o
lema"Padresemcomunidadesadultas".Édesubli-
nhara presença de 30 pessoas
da América Latina que, ape-
sar da distânciae do custo, vi-
eram participar. Este evento
culminaumprocessodelonga
data: sete congressos interna-
cionais,maissete latino-ame-
ricanosemuitosoutrosnacio-
nais.
Nós pertencemos a esse
amplo grupo de crentes em
Jesus de Nazaré que decidiu,
desde há uns quarenta anos,
reivindicar através da palavra
edasaçõesaopcionalidadedo
celibato para os sacerdotes da
Igreja Católica do Ocidente.
O nosso percurso como
grupo foi ampliando a perspetiva inicial, centrada
em torno de celibato, passando a aprofundar um
modelo de padre não clerical e um modelo de Igre-
ja não assente ferreamente num sacerdote exclusi-
vamente varão, célibe e clérigo.
Onosso objetivo neste congressofoiclaro:"Fa-
zer uma análise e um balanço" — após quase qua-
rentaanos—doquetemproduzidoanossa presen-
çanascomunidadesdoscrentesaquepertencemos,
tanto a nívelpessoal quantoeclesial.
Para isso, partilhámos e refletimos sobre várias
experiências comunitárias, algumas das quais fo-
ram trabalhadas e publicadas no livro com o mes-
motítulodocongresso("Curas enunascomunida-
des adultas"). Contámos com a inestimável ajuda
de dois conferencistas (SílviaR.deLima,brasilei-
ra,e JuanA.Estrada,espanhol),dos intervenientes
numamesaredonda,ecomotrabalhorealizadoem
váriosgrupos.
De entre as nossas conclusões, destacamos:
1. Estamosconvencidos—enissocoincidimoscom
outras comunidades da Igreja — de que o modelo
de cristandade maioritariamente imperante está
desatualizado,quandonãoacabado;e,longedeaju-
darà implementaçãodo Reinado
deDeus,é,muitasvezes,umobs-
táculo à vivência dos valores do
Evangelho.Umnovotipodeigre-
PADRES EM COMUNIDADESADULTAS
A Federação Europeia de Padres CatólicosCasados (FEPCC) realizou o seu VIII congresso em
Madrid, com o tema "Padres em comunidades adultas".
No finaldostrabalhos,iniciadosa 29 de outubro econcluídosa 1 de novembro,os congressistas
aprovaram a Declaração Final, em que pedem um novo modelo de Igreja.
Comunicado Final
Elementos da direção da Fraternitas presentes no Congresso.