O documento discute estratégias para produção de textos, incluindo introduções e desenvolvimentos de parágrafos. Apresenta exemplos de diferentes tipos de introduções como declaração inicial, divisão, citação, definição e interrogação. Também exemplifica formas de desenvolvimento como explicação, contraste, exemplificação, causa-consequência e resposta à interrogação.
3. 8.3 ESTRATÉGIAS PARA A
PRODUÇÃO DE TEXTOS
Parágrafo: um minitexto. Parágrafo é
o texto (ou parte de um texto)
formado por uma ou por um conjunto
de sentenças que, relacionadas
semântica e/ou sintaticamente entre
si, tratam de uma ideia central.
4. Um bom parágrafo, assim como um texto
formado por mais de um parágrafo, deve
ter: unidade de sentido (todas as sentenças
devem convergir para uma ideia central);
coerência (as frases devem atender aos
princípios de um discurso lógico, com
informações em quantidade e em qualidade
suficientes para o interesse do leitor);
coesão (as sentenças precisam de
elementos linguísticos adequados como
conjunções, pronomes, preposições etc.).
A maioria dos parágrafos se estrutura em
introdução, desenvolvimento e conclusão
(macroestrutura do texto).
5. Exemplo
(Não há cidadania sem efetivo acesso à
Justiça). Não há acesso à Justiça se esta
apenas atende à parcela da população que
consegue desfrutar os recursos mal
distribuídos da sociedade de consumo. Não
há acesso à Justiça se grande parte da
população não detém os meios concretos
para exercê-lo, e socorre-se de mecanismos
primitivos de justiça privada, em que a
violência converte-se no cenário do
cotidiano. Não há acesso à Justiça quando
o Estado se revela impotente para
responder às demandas reais da sociedade,
inclusive através de seu poder competente:
o Judiciário (José Roberto Batochio, Folha
de S. Paulo, 20/5/93).
6. O tópico contém a ideia-chave,
apresentada de forma genérica; a
seguir, especifica-se pela repetição
da mesma frase "não há acesso à
Justiça", por três vezes.
7. A importância da introdução é flagrante,
porque é ela que determina, entre
outras coisas, o tom do texto, o
encaminhamento do desenvolvimento e
sua estrutura básica.
Dessa forma, uma introdução não deve
ser vista como um simples pretexto
decorativo, mas como um primeiro
compromisso que o autor assume com
o restante do desenvolvimento.
8. A introdução de um texto
argumentativo (ou expositivo) pode
ser feita, utilizando estratégias
diferentes, cuja escolha será
motivada pelas intenções do locutor
e segundo a finalidade do texto.
Diferentes são as técnicas de se
iniciar o parágrafo.
9. Para Carneiro (1992), uma
introdução segue diversos
modelos, que devem ser
empregados segundo a
finalidade do texto: declaração
inicial, divisão, citação, alusão
histórica, definição, proposição,
interrogação, convite e
suspense.
10. A declaração inicial é a introdução de
tom neutro, normalmente
desenvolvida pela explicitação do
que seus termos deixam oculto ou
pela justificativa do que se declara.
Corresponde a qualquer frase que
emite um juízo sobre um fato.
Ex.: Em plena Rua Marechal Floriano,
no Centro, ainda existe um palacete
neoclássico com jardim, lago e
cisnes de verdade. É o Palácio
Itamaraty.
11. A divisão supõe a presença de dois ou
mais termos. O desenvolvimento desse
tipo de introdução se realiza ora pela
análise dos elementos em conjunto, ora
pela análise dos elementos
separadamente, ora pela análise
progressiva e comparativa dos
elementos.
Ex.: A fórmula da estabilidade
democrática europeia está no equilíbrio
em torno de duas grandes forças
políticas: de um lado os social-
democratas e de outro, os liberais.
12. A citação é um tipo de introdução que
apresenta a opinião de alguém de destaque
sobre o tema aludido pelo texto. Tal citação
pode corresponder a uma intenção
valorizativa ou a uma intenção ilustrativa.
No primeiro caso, pela importância do autor
da citação, o texto se vê alçado à posição
de mais peso, enquanto no segundo caso,
ela só está presente por servir de ponto
inicial de análise do tema.
Ex.: "Quem joga bola é menino, menina
brinca com boneca". "Mulher que pratica
esportes se masculiniza!" Durante séculos
pensamentos desse tipo afastaram as
mulheres dos esportes.
13. A alusão histórica representa um tipo de
introdução em que um fato passado se
relaciona de algum modo a um fato
presente, servindo de ponto de reflexão ou
pelas semelhanças entre eles, ou pelas
diferenças. Normalmente, o
desenvolvimento da alusão histórica se
realiza por uma evolução cronológica dos
fatos a partir do momento histórico da
citação, ora pelos pontos de semelhança,
ora pelos traços de oposição, ora só como
pretexto de comentários no presente.
Ex.: Em 18 de setembro de 1950, dia em que
a televisão brasileira foi pela primeira vez ao
ar, Walter Avancini já estava sendo
focalizado pelas câmeras da TV Tupi de São
Paulo.
14. A introdução por definição precede
geralmente textos científicos.
Desenvolve-se pela explicitação dos
termos que a compõem ou pelas
consequências advindas do
conhecimento cientifico.
Ex.: A segregação racial é o fruto do
concubinato entre a imoralidade e a
desumanidade. Não se pode tratá-la
com a vaselina da contemporização.
15. A introdução por interrogação supõe
um desconhecimento real ou dialético.
No caso do desconhecimento real, o
desenvolvimento do texto pode
apresentar uma resposta direta ou mais
de uma resposta; no caso da
interrogação puramente retórica, o
texto geralmente se desenvolve pela
análise do motivo da pergunta.
Ex.: Quanto vale um homem? Para
cantar durante duas horas no recente
festival US, na Califórnia, David Bowie
recebeu um milhão e meio de dólares.
16. A introdução por convite, como o
próprio nome indica, propõe que o
leitor participe de alguma coisa
apresentada pelo texto, procurando
seduzi-lo de algum modo. É muito
empregada em textos publicitários.
Ex.: Você quer estar "na sua"? Quer
se sentir seguro, ter o sucesso
pretendido? Não entre pelo cano!
Entre na nossa organização e faça
sua orientação vocacional.
17. Algumas orientações sobre as
formas para um bom
desenvolvimento e esquema de
redação.
Desenvolvimento é a explanação da
ideia principal, o agregamento de
ideias secundárias para melhor
enunciar o objetivo redacional; é o
corpo do texto que dá a conhecer o
assunto e o tema ao receptor.
18. Segundo o objetivo do emissor e o
gênero redacional, diferentes são as
formas de desenvolver a ideia-chave,
destacando, entre elas, as seguintes:
Explanação da declaração inicial:
mero desdobramento significativo do
tópico frasal. Explicação,
apresentando pormenores e
particularidades para caracterizar o
tema.
19. Comparação e Contraste: mostrar
semelhanças e/ou diferenças, firmar
oposições e assim demonstrar o
posicionamento do emissor. O
contraste pode evidenciar-se de
modo explícito ou implícito.
20. Enumeração: indicação de fatores e
funções de algum objeto (ideia-
núcleo), podendo, ainda, classificá-lo
e dividi-lo, indicar a evolução
temporal, as variações de suas
características, podendo agrupar os
elementos por semelhanças e
diferenças.
21. Conceituação: construir conceitos
corretos sobre os seres, os fatos e os
fenômenos é um dos mais importantes
requisitos de aprendizagem.
Exemplificação: apresentar exemplos
relevantes para viabilizar a
compreensão. Recurso usado para
esclarecer ou reforçar uma afirmação;
serve-se de expressões como: por
exemplo, ou melhor, assim entre outras.
22. Causa-consequência: é o
encadeamento lógico do raciocínio. A
causa é o motivo dos atos humanos;
a consequência é o efeito, o
resultado.
Resposta à interrogação: uma
pergunta inicial é o recurso, para um
desenvolvimento que tem por
objetivo desdobrar o parágrafo.
23. Analogia: estabelecer uma relação de
semelhança entre duas coisas.
Diferente da comparação, pois seu
objetivo é estabelecer uma
identidade entre duas coisas.
Ordenação Temporal: ordenação
cronológica de uma série de
acontecimentos para facilitar a
compreensão do tópico e funcionar
como recurso de argumentação.
24. Quando se ressaltam
semelhanças e diferenças tem-se
a comparação e o confronto, mas
pode-se delimitar esse recurso,
empregando somente um ou
outro. A analogia é a comparação
por semelhanças.
25. 8.3.1 EXEMPLOS ANALISADOS
Exemplo 1
(O direito é realidade universal.) (Onde
quer que exista o homem, aí existe o
direito como expressão de vida e de
convivência. É exatamente por ser o
direito fenômeno universal que é ele
suscetível de indagação filosófica. A
Filosofia não pode cuidar senão daquilo
que tenha sentido de universalidade.
Esta a razão pela qual se faz Filosofia
da vida, Filosofia do direito, Filosofia da
história ou Filosofia da arte.
26. Falar em vida humana é falar também
em direito, daí se evidenciando os
títulos existenciais de uma Filosofia
jurídica.) (Na Filosofia do Direito deve
refletir-se, pois, a mesma necessidade
de especulação do problema jurídico
em suas raízes, independentemente de
preocupações imediatas de ordem
prática).
(Miguel Reale. Filosofia do direito,
1965)
27. Explanação da declaração inicial:
mero desdobramento significativo do
tópico frasal. Nesse exemplo, a frase
inicial representa o tópico frasal, uma
declaração inicial. A seguir, o
desenvolvimento – explanação da
declaração inicial e, por fim, a
conclusão marcada pela conjunção
conclusiva “pois”.
28. Exemplo 2
(O valor é sempre bipolar.) (A bipolaridade
possível no mundo dos objetos ideais, só é
essencial nos valores, e isto bastaria para não
serem confundidos com aqueles. Um triângulo,
uma circunferência são; e a esta maneira de ser
nada se contrapõe. Da esfera dos valores, ao
contrário, é inseparável a bipolaridade, porque
a um valor se contrapõe um desvalor; ao bom
se contrapõe o mau; ao belo, o feio; ao nobre, o
vil; e o sentido de um exige o do outro.)
(Valores positivos e negativos se conflitam e se
implicam em um processo).
(Miguel Reale. Filosofia do direito, 1965).
29. Contraste: mostrar diferenças, firmar
oposições e assim demonstrar o
posicionamento do emissor. O
contraste pode evidenciar-se de
modo explícito ou implícito. A frase
inicial desse exemplo é uma divisão
e orienta para o desenvolvimento por
contraste, pois “bipolar” significa
dois polos, ou seja, opostos.
30. Exemplo 3
(Analogia é um fenômeno de ordem
psicológica, que consiste na tendência
para nivelar palavras ou construções
que de certo modo se aproximam pela
forma ou pelo sentido, levando uma
delas a se modelar pela outra.) (Quando
uma criança diz fazi e cabeu, conjuga
essas formas verbais por outras já
conhecidas, como dormi e correu).
(Rocha Lima. Português no colégio,
1956)
31. Exemplificação: recurso usado para
esclarecer ou reforçar uma
afirmação; serve-se de expressões
como: por exemplo, ou melhor, assim
entre outras.
No exemplo 3, a introdução é uma
definição e seu desenvolvimento foi
feito com exemplos.
32. Exemplo 4
(Vieram as chuvas.) (A princípio grossas e
fortes, como chuva de verão e depois finas
e incessantes. Era o inverno que apertava o
trabalho e os sofrimentos. A água do céu
não é um convite para o trabalho. É uma
ordem. Por isso a labuta era grande. Ao
tempo do sol, pode-se ficar por aí
enganando a própria fome. À aproximação
das chuvas, e com elas, abre-se, porém, a
terra e planta-se). (Mas aguenta-se a luta
contra o mato bravo, na disputa do terreno
conquistado).
(Nestor G. Duarte. Gado Humano, 1936)
33. Causa-consequência: é o
encadeamento lógico do raciocínio. A
causa é o motivo dos atos humanos;
a consequência é o efeito, o
resultado. A introdução é uma
declaração e o desenvolvimento foi
feito por explicação de causa e
consequência: se chove, deve-se
plantar.
34. Exemplo 5
(O livro foi sempre considerado o baluarte
em que poderiam confiar os pessimistas da
cultura de massa no momento em que
tivessem de salvar do incêndio a cultura
autêntica.) (Todavia, agora, e cada vez mais,
esses pessimistas têm razões de sobra para
desesperar. O livro, ao qual tinham acesso
apenas as minorias privilegiadas, passa a
figurar no cardápio da classe média e do
proletariado. Os últimos anos marcaram o
aparecimento em grande estilo dos livros de
bolso, ostensivamente concorrendo com
jornais e revistas nas bancas e na disputa
das horas de ócio dos leitores.
35. As edições de livros de bolso se
multiplicaram. O livro, antes privilégio das
gentes de espírito e sensibilidade, de
repente é levado à categoria de produto de
consumo para a massa, tratado no mesmo
nível do sabão de coco e do sabonete. O
livro penetra na drugstore e a cultura é
equiparada a um comprimido que se
compra para dor de cabeça.) (A cultura
veiculada pelo livro adquire então o aspecto
vulgar que faz a ira dos inimigos da cultura
de massa: o de tratar com simplicidade
coisas por natureza complicadas).
(Charles R. Wright. Comunicação de
massa).
36. Ordenação Temporal: não só no
gênero narrativo, mas também na
descrição e na dissertação, os
indicadores de tempo (e espaço)
oferecem referenciais para a
compreensão da mensagem. O
desenvolvimento tem progressão
com indicadores de tempo como
“agora’, “últimos anos”, “antes”, “de
repente”.
37. 8.3.2 Desenvolvimentos Diferentes
para uma mesma Introdução
Uma mesma introdução pode ser
desenvolvida de formas diferentes.
Você poderá escolher a que achar
melhor de acordo com o objetivo do
texto. Veja o exemplo a seguir:
Desenvolvimento a partir do tópico
frasal: “A vida agitada das grandes
cidades aumenta os índices de
doenças do coração”.
38. Desenvolvimento por detalhes:
A vida agitada das grandes cidades
aumenta os índices de doenças do
coração. O tráfego intenso, o ruído
do tráfego, as preocupações geradas
pela pressa, o almoço corrido, o
horário de entrar no trabalho, tudo
isso abala as pessoas, produzindo o
stress que ataca o coração.
39. Desenvolvimento por definição:
A vida agitada das grandes cidades
aumenta os índices de doenças do
coração. Vida agitada é aquela em que
o indivíduo não tem tempo para cuidar
de si próprio, mercê dos compromissos
assumidos e do tempo exíguo para
cumpri-los. Entre as doenças do
coração, a mais comum é a que ataca
as artérias coronárias, assim chamadas
porque envolvem o coração, como uma
coroa, para irrigá-lo em toda a sua
topologia.
40. Desenvolvimento por exemplo específico:
A vida agitada das grandes cidades aumenta os
índices de doenças do coração. Imaginemos
um chefe de família que deixa sua casa, às 6h30
da manhã. Logo de início, tem de enfrentar a fila
da condução. A angústia da demora: será que
vem ou não vem o ônibus? Finalmente, vem.
Superlotado. Sobe ele, aos trancos, e logo
enfrenta a roleta. – Troco? – Não tem troco pra
cem. – Espera um pouco pra passar na roleta. –
Agora tem, pode passar. – Finalmente o ponto
de descida. O relógio de ponto. Em cima da
hora. Nesse momento, o relógio do coração do
nosso amigo já passou do ponto. Está
acelerado. Suas coronárias sofrem sob o
impacto do stress e entram em débito de fluxo
sanguíneo.
41. Desenvolvimento por fundamentação da
proposição:
A vida agitada das grandes cidades
aumenta os índices de doenças do coração.
Somente na última década, segundo
informações da Secretaria da Saúde do
Estado de São Paulo, o paulistano se
infartou vinte vezes mais do que no decênio
anterior. O stress causado pela vida intensa
acelera os batimentos cardíacos, por
intermédio da injeção exagerada de
adrenalina e apressa o surgimento dos
problemas do coração.
42. Desenvolvimento por comparação:
A vida agitada das grandes cidades aumenta os
índices de doenças do coração. Imagine o
leitor, por exemplo, um automóvel dirigido
suavemente, com trocas de marcha em tempo
exato, sem freadas bruscas ou curvas
violentas. A vida útil desse veículo tende a
prolongar-se bastante. Imagine agora o
contrário: um automóvel cujo proprietário se
compraz em arrancadas de “cantar pneus”,
curvas no limite de aderência, marchas
esticadas e freadas violentas. A vida útil desse
último tende a decair miseravelmente. O mesmo
podemos fazer com nosso coração. Podemos
conduzi-lo com doçura, em ritmo de alegria e de
festa, ou podemos tratá-lo agressivamente,
exigindo-o fora de seu ritmo e de seu tempo de
recuperação.