O documento discute a visão de Arthur Danto sobre a história da arte e seu fim. Ele argumenta que a arte progrediu através do desenvolvimento das técnicas de representação, mas que as vanguardas do século 20 abandonaram a equivalência ótica, encerrando a história da arte como era concebida. A arte agora se define a si mesma através de múltiplos conceitos em vez de obras materiais.
2. • A verossimilhança produzida
pelo ideal de equivalência
ótica é convencionada?
• O fato de que podemos
associar o conteúdo de uma
obra de arte a alguma coisa
que percebemos na realidade
(mímesis) é determinado pela
cultura?
3. • Não! Para Danto, somente a
decisão de realizar a mímesis
é cultural. A existência de
imagens que se parecem com
aquilo que representam não
depende da cultura, mas sim
do aprendizado e da evolução
de técnicas de representação.
4. Hokusai (1760-1849), artista
japonês, adotou a perspectiva
assim que soube de sua
existência, sem que isso fizesse de
suas obras “ocidentais”.
5. • “Se consideramos a
representação do espaço
como sendo meramente
matéria de convenção, o
conceito de progresso evapora
e a estrutura da história da
arte que estamos discutindo
deixa de ter qualquer
aplicação” (Danto, p. 6)
6. • Danto está se referindo, portanto,
a uma compreensão da história
da arte como possuidora de
sentido linear, de finalidade, de
um começo e fim determináveis.
• É justamente o progresso das
técnicas e dos meios de
representação que justifica a
existência de uma história da
arte.
7. • O medium (meio) de representação
é passível de desenvolvimentos e de
transformações.
• Quando ele se desenvolve, não há
novas ferramentas, instrumentos e
materiais na arte, mas sim uma nova
habilidade ou técnica praticada pelo
artista no mesmo medium.
Exemplos: A descoberta da
perspectiva na pintura, ou a
passagem do cinema P&B para
colorido.
8. • Quando o medium se transforma,
os seus próprios limites é que
devem ser superados, e novas
ferramentas e instrumentos
passam a ser utilizados. O
medium se modifica
substancialmente, como meio de
representação.
Exemplos: A adjunção do som às
imagens no cinema sonoro ou o
possível uso da holografia para
um “cinema de arena”.
9. • INFERÊNCIAS
PERCEPÇÃO
DIRETA
• A arte progride, portanto, de
acordo com as transformações
dos meios em busca de uma
capacidade cada vez maior de
mostrar o conteúdo para um
público que deve percebê-lo
diretamente.
10.
11. O David esculpido por
Bernini em 1624 procura
inferir o movimento em um
meio que não pode mostrá-
lo. Não há percepção direta
do movimento, mas pode-se
entender que ele é uma
característica dessa obra.
Observação: A estaticidade
não poderia ser
característica de uma
escultura, mas sim do
cinema, pois nele o
movimento já uma condição
técnica, não mais uma
característica.
13. • Danto observa algumas
características curiosas sobre isso:
- Sempre que há “expansão técnica”
da arte, as obras focalizam a
novidade. Exemplo: os irmãos
Lumière filmando o movimento das
ruas apenas para mostrar o
movimento, ou os pintores do
Renascimento que criavam quadros
apenas para exercitar virtuosamente a
perspectiva.
14.
15. Paolo Uccello é exemplo de um artista que, fascinado pela
perspectiva, pintou assuntos incomuns com tratamentos
extravagantes, de modo a exibir o seu domínio da técnica. O
objetivo era exatamente esse: uma “batalha” entre o assunto e o
virtuosismo de Ucello.
Batalha de São Romano (1430-60)
16. - Se a mímesis (representação
ilusionista) não é transformada em
diegesis (o espaço/tempo artificial
em que se desenvolve uma
narrativa), a arte deve perder o seu
interesse e capacidade de
entusiasmar.
As filmagens dos irmãos Lumière
não teriam qualquer interesse feitas
hoje! Tampouco a virtuose da
17. • A invenção do cinema realizou
tecnicamente a “imitação” do
movimento. A criação do
cinema narrativo (sua diegese)
ocorreu na mesma época em
que pintura e escultura
abandonavam seus objetivos
miméticos.
• Isso indica, para Danto, o fim
da história da arte.
18. • Nós abandonamos o paradigma
histórico da arte como realização
da equivalência ótica, pois ela há
muito tempo já não nos
surpreende.
• As vanguardas do século XX
tiveram que justificar a arte,
encontrar novo(s) paradigma(s),
encontrar novos critérios de
julgamento.
• A realidade muda, a teoria precisa
19. Houve quem dissesse
que Matisse teria
desaprendido a pintar
(ou ainda o sabia, mas
estava louco), já que o
nariz de sua esposa não
continha a faixa verde
que o retrato de 1906
mostrava.
20. As esculturas de Alberto
Giacometti também
exemplificam a arte que motivou
a teoria da expressão. São
“figuras impossivelmente
emagrecidas, nem por razões
óticas, nem porque há seres
assim, mas porque os artistas
revelam sentimentos de
agressividade, nostalgia
espiritual ou compaixão” (Danto,
p. 12)
21. • O paradigma da expressão
obteve grande ressonância a
partir da publicação de A estética
como ciência da expressão, de
Benedetto Croce (1902).
• A arte seria a comunicação de
um sentimento, a objetificação do
que o artista sente. Disso não se
pode derivar uma história
progressiva da arte, mas
somente uma história dos
artistas.
22. • O conceito de expressão
relativiza a arte e supõe a
possibilidade de modificarmos
arbitrariamente a história
cronológica da arte. Por
exemplo: Picasso poderia vir
antes do Barroco. Isso anula a
interpretação das obras numa
estrutura histórica linear.
23. • A teoria da expressão foi
certeira, pelo menos, no
resgate da questão: o que a
arte é?
• Danto nos conduz para além
do conceito de expressão, ao
propor que o fim do progresso
histórico da arte inaugurou
uma era de pluralismo.
24. A
autoconsciência
da arte foi
despertada
quando Andy
Warhol criou
suas Brillo
Boxes (1964).
25. • Poderíamos dizer que a arte
se dá a si mesma sua
definição. Vivemos um
momento de muitos conceitos
(inclusive com a chamada arte
conceitual ou as
performances) e menos obras
(materialmente falando).
26. • “Os objetos se aproximam de
zero enquanto a teoria sobre
eles se aproxima do infinito, de
modo que virtualmente tudo o
que há no final é teoria, tendo
a arte finalmente se
vaporizado num deslumbre de
puro pensamento sobre si
mesma, um objeto de sua
consciência teórica” (Danto, p.
27. Coiote, eu gosto da América e a América gosta de mim (Joseph Beuys,
1974)