O documento discute os desafios que profissionais de saúde enfrentam ao lidar com a morte de pacientes. A formação médica enfatiza cura e salvar vidas, tornando a morte um fracasso. Além disso, a cultura ocidental evita discutir a morte, dificultando o treinamento de médicos para cuidar de pacientes terminais. O documento defende que discutir a morte na educação médica pode ajudar profissionais a lidarem melhor com a finitude humana.
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...
O Profissional de Saúde e a Morte
1. O PROFISSIONAL DA SAÚDE
DIANTE DA MORTE
Marian Festugato de Souza
Psicóloga/Psicooncologista
marian@clinionco.com.br
Marian Festugato de Souza- marian@clinionco.com.br
2. “A vida é o primeiro bem a que
todos os seres humanos têm direito.
“Todos temos direito a nascer,
crescer, envelhecer e morrer”
(BEYERS et.al,1995).
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3. “A cultura ocidental moderna torna a morte um assunto
socialmente evitado e politicamente incorreto. A
palavra morte freqüentemente associa-se ao sentimento
de dor. No tocante aos médicos, formados para salvar e
curar, associa-se à sensação de fracasso ou erro. Embora
a maioria dos óbitos no século XXI ocorra nos
hospitais, os médicos são pouco treinados para cuidar
do paciente vítima de doença terminal. Torna-se então
necessário que o tema morte e morrer passe a ser
debatido no lar, escolas e universidades. Aprender a
aceitar e conviver com a morte e o morrer é essencial
para a formação dos profissionais de saúde”.
(Moritz, Raquel)
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4. A Formação Acadêmica
• 1º Contato: Cadáver
• Ensinados a curar, a salvar...
• Onipotência? (cultural)
• Distanciamento da Morte
Mas tem como não se deixar afetar?
“(...) A atenção de saúde, por ser um encontro,
produz afeto. (...) Todo encontro é afecção, isto
é, quando há um encontro afetamos e/ou somos
afetados pelo outro” (Ceccim, 1997)
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5. • Questão:
Deparar-se com a morte do outro, é como dar-
se conta da sua própria finitude?
“(...) Poderíamos argumentar que se a
experiência da nossa própria morte é
impossível, podemos pelo menos ter a
experiência da morte do outro. No entanto, tal
experiência é também impossível; quando
muito podemos ter a experiência dos últimos
momentos da vida do outro, mas não podemos
ter a experiência do seu próprio morrer”.
(Garcia Roza, APUD: Ceccim, 1997)
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6. O PROFISSIONAL DE SAÚDE
Para o profissional da saúde, vivenciar na prática e atender
pacientes graves e em situação de morte iminente é um
grande desafio (SANTOS, 1996). Tal fato se explica pelo
compromisso que assume com a sociedade, “pois tem em
seus ideais a preservação da vida” (FIGUEIREDO et al.,
1995). Para MIRANDA (1996) é provável que esta seja a
questão mais difícil e delicada quando se fala da área de
saúde, “pois todo o movimento do profissional dessa área é
em direção ao bem estar, à saúde, à vida”. E de repente há o
defrontamento com o seu exato avesso - a perda, a finitude,
a morte.
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7. Ninguém deixa de pensar a respeito da morte. Por
mais que tentemos negá-la ou mesmo evita-la, a
sua existência é um fato e dela ninguém poderá
fugir.
Ao pensarmos sobre ela tornamo-nos ansiosos e
os valores e as crenças pessoais de cada um
interferem decisivamente no comportamento
adotado individualmente perante a questão.
RIBEIRO et al. (1998) afirmam que a equipe de
enfermagem sofre com tais situações, mas este
sofrimento parece ser mascarado pelo
cumprimento de rotinas.
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8. • O profissional de saúde é um ser humano que, como
qualquer outro, tem suas tristezas, irritações, receios,
dentre outros sentimentos. No entanto, muitas vezes
vê como necessário a minimização de tais qualidades,
para que, assim, consiga realizar a “tarefa” que muitas
vezes lhe é cabida. Ao isolar sentimentos e receios,
minimiza suas tensões, afim de assegurar que as suas
respostas individuais não prejudiquem o paciente que
está sendo atendido. Assim seria possível chegar ao
doente, configurar diagnósticos, planejar
sistematicamente a assistência e a partir daí,
implementá-la, avaliá-la e modificá-la quando houver
necessidade.
Mas a questão é: dá realmente para fazer isto??
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9. Moritz coloca que o médico, formado para salvar vidas,
nega a morte de seu paciente. Sua indignação ante seus
limites o torna culpado no processo do morrer. A
barganha o leva à busca de novas opções terapêuticas,
que poderão somente prolongar o sofrimento do
enfermo. Sua depressão ante a constatação da
irreversibilidade da morte e de sua própria impotência o
faz avaliar a morte como fracasso, e não parte natural da
vida. O erro médico passa a ser temido e o profissional
se deixa vencer pela tecnologia, esquecendo-se de
avaliar o lado humano do problema.
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10. No século XXI, a morte entrou na era da alta
tecnologia, podendo ser qualificada por cinco
características: um ato prolongado, gerado pelo
desenvolvimento tecnológico; um fato científico,
gerado pelo aperfeiçoamento da monitoração; um fato
passivo, já que as decisões pertencem aos médicos e
familiares e não ao enfermo; um ato profano, por não
atender às crenças e valores do paciente, e ato de
isolamento, pois o ser humano morre socialmente em
solidão.
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11. Questões pontuadas por Norbert Elias em
“A Solidão dos Moribundos”
• A problemática em questão não é só a morte, mas, principalmente,
o significado de partida antecipada que assume o envelhecimento
nas sociedades industrializadas.
• Nas sociedades modernas, a morte é vista como um dos maiores
perigos biopsicossociais na vida dos indivíduos. Em outros
momentos da civilização, como na Idade Média, pode-se perceber
que a morte era muito menos oculta, mais presente e familiar,
embora, não mais pacífica.
• Pouco se fala sobre morte porque ela é uma evidência de nosso
limite, da nossa fragilidade enquanto condição humana.
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12. Questões pontuadas por Norbert Elias em
“A Solidão dos Moribundos”
• Muitas pessoas vivem secreta ou abertamente em constante terror
da morte. A angustia, a depressão e o sofrimento, causados por
fantasias e pelo medo de morrer, podem ser tão intensos e tão reais
quanto a dor física.
• Encobrir a morte da consciência é uma tendência muito antiga na
história da humanidade, porém, mudaram os modos usados para
esse encobrimento. Atualmente, os avanços científicos que
permitem o prolongamento da vida e a possibilidade de
institucionalizar os cuidados com os velhos e moribundos, são as
formas mais comuns para encobrir o processo de envelhecer e
morrer.
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13. Questões pontuadas por Norbert Elias em
“A Solidão dos Moribundos”
• A morte biológica não é o maior pesadelo. O pior pode ser a dor dos
moribundos e a incomensurável perda sofrida pelos vivos quando
morre uma pessoa amada.
• A grande tarefa que ainda temos pela frente é enfrentar os terrores
que, emocionalmente, alimentamos sobre envelhecer e morrer
opondo-lhes a realidade de uma vida biológica que tem fim.
“A morte não tem segredos. Não abre portas. É o fim de uma pessoa. O que
sobrevive é o que ela ou ele deram às outras pessoas, o que permanece na
memória alheias”(Elias, 2001)
• Existem alguns meios para se mudar a atitude frente à morte: a
amizade e solidariedade dos vivos e o sentimento dos moribundos
de que não causam embaraço aos vivos
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14. Elizabeth Kübler-Ross
• Kübler Ross descreve cinco estágios quando da aproximação da
morte:
• 1º) a negação e o isolamento
• 2º) a raiva
• 3º) a barganha
• 4º) a depressão
• 5º) a aceitação
Percebe- se que estas etapas são vividas não apenas diante da
morte, mas também, pro exemplo, quando alguém recebe um
diagnósitco como o de câncer. E cabe também pensar se os
profissionais da saúde não vivenciam estas etapas em si mesmos,
quando diantes de um paciente terminal, ou diante da perda de um
paciente.
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15. Trabalhando com a Equipe, pela enfermeira
Marilyn Stoner:
É necessário que a equipe vivencie o luto, trabalhe o luto. Existem
vários modos de fazer isto. O que importa é que hajam rituais de
despedida, que podem ser, por exemplo:
• Reunir a equipe e fazer uma oração para os pacientes que
morreram;
• Despetalar uma flor e, a cada pétala, dizer o nome de um paciente.
Depois, pode-se guardá-las, ou jogá-las ao vento;
• Na época do Natal, enfeitar uma árvore, fazendo um ritual em que
cada um traz um enfeite, e cada enfeite representa um dos
pacientes falecidos...
Enfim... é preciso que a equipe possa fazer a sua despedida!!
Marilyn Smith Stoner, RN, Phd.
Universidade do Estado da Califórnia, Fullerton
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16. Dicas de Leitura:
• BOTSARIS, Alex. Sem Anestesia: o desabafo de um médico.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
• ELIAS, Norbert. A Solidão dos Moribundos. Rio de Janeiro,
Zahar, 2001.
• KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. Rio de
Janeiro: Martins Fontes, 2000.
• KÜBLER-ROSS, Elisabeth & KESSLER, David. Os Segredos da
Vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
• MILLER, Sukie. Depois da Vida: Desvedando a jornada pós-
morte. São Paulo: Summus, 1997.
• MURPHET, Howard. Entendendo a Morte. São Paulo:
Pensamento, 1990
• VIORST, Judith. Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos,
2002.
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17. Referências:
CECCIM, RB.; CARVALHO, PR. Criança hospitalizada: atenção
integral como escuta à vida. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, 1997.
CECCIM, R.B. “O Psicanalista na CTI”. In: A Prática da Psicologia
nos Hospitais. ROMANO, Wilma (org). Ed. Pioneira, 1997.
SPEZANI René & CRUZ, Isabel. Produção Científica de
Enfermagem sobre ansiedade e morte: implicações para o
enfermeiro de terapia intensiva (fonte: internet)
ELIAS, Norbert. A Solidão dos Moribundos. Rio de Janeiro, Zahar,
2001.
MORITZ, Raquel. Simposio Médico.In:
http://www.portalmedico.org.br/revista/bio13v2/simposios/simposio03.htm
KLÜBER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer.Rio de
Janeiro: Martins Fontes, 2000.
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