O documento discute a transformação do mercado de trabalho e a importância do empreendedorismo. Apresenta as características de um profissional empreendedor segundo a teoria de David McClelland, incluindo a busca por realização, independência, planejamento de riscos calculados e estabelecimento de metas. Explica que embora não exista um perfil único, experiências de vida ajudam a desenvolver atributos empreendedores.

1. INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho vem se transformando, por intermédio dos avanços tecnológicos e
novos processos de produção, cada vez mais rápido. O que era uma prática comum na década
anterior, hoje pode-se considerar uma atitude arcaica e em desuso. Nos anos de 1980, os
profissionais tinham como ideal uma profissão (que poderia ser preferencialmente de nível
superior), trabalhar numa empresa conceituada, com carteira assinada e todas as proteções.
Porém, nos dias atuais essa configuração mudou e o mercado de trabalho exige dos seus
profissionais uma postura de inquietude, de mudança de ocupação e de empregador, e que tenham
como foco a sua própria carreira e não a empresa. Essa modificação de postura lança o
empreendedorismo como norteador de uma mudança de cultura empresarial e de vida. A
qualificação e a formação profissional passaram a ser, então, demandas de primeira grandeza
para se preparar para o mundo do trabalho e o empreendedorismo não é mais só alinhado com o
desenvolvimento do próprio negócio. As atitudes empreendedoras vão muito além do simples
conhecimento teórico, acadêmico para o negócio. São formas de lidar em qualquer ambiente,
seja ele de trabalho ou mesmo das relações pessoais e essas atitudes marcam a busca e alcance
de resultados nas diversas áreas da vida.
O presente texto pretende apresentar o que é empreendedorismo, quais são as
características dos empreendedores e como eles agem diante de um cenário cada vez mais
globalizado. Sendo assim, selecionamos alguns conceitos básicos dando destaque especial à
teoria do renomado psicólogo David McClelland, por sua robustez, facilidade de abordagem, e
também pelo fato de ser uma das teorias mais abordadas no Brasil, segundo estudos do SEBRAE.
Boa leitura e vamos nessa onda!

2. O PROCESSO COMPORTAMENTAL
Tomemos como exemplo hipotético Gustavo Tobias, jovem empresário do ramo de
bebidas, com formação técnica e universitária na área de engenharia química, diversos cursos
voltados à área de gestão e afins.
Gustavo é profissional inquieto,
proativo, antenado com as novos processos de
fabricação, estoque, distribuição e venda,
sempre interessado e comunicativo com os
seus colaboradores e liderados. Sua mente
trabalha aliando seu conhecimento lógico-
técnico com a criatividade que foi
desenvolvida ao longo de sua vida, e isso o
coloca um passo à frente, gerando assim
oportunidades e conquistas nas suas
atividades. Podemos então afirmar que
Gustavo tem um espírito empreendedor! Mas,
você sabe o que é Empreendedorismo, e quais
as características de um profissional
empreendedor?
Fonte: iStock, Getty Images
O empreendedorismo pode ser entendido como à capacidade do indivíduo em obter por
meio de iniciativa, criatividade e confiança, novas oportunidades de negócio. Para o Joseph A.
Schumpeter (1942), o caráter empreendedor está associado ao desenvolvimento econômico e
segundo suas reflexões, o fato do sistema capitalista possuir a dinâmica de substituir antigos
processos por novos métodos de produção e novos mercados, isso possibilita, dentre outros
fatores, a criatividade do indivíduo em enxergar novas oportunidades.
Já para Maria Inês Felippe (1996), uma postura empreendedora, em geral, é motivada
pela autorrealização e pelo desejo em assumir responsabilidades e ser independente.
A imagem abaixo traz de forma ilustrativa uma visão básica das características de um
profissional empreendedor.

3. Figura 1 - Característica básicas Empreendedoras
Fonte: Autor - 2017
Levantaremos aqui uma pergunta básicas à cerca do empreendedorismo.
A pessoa nasce empreendedora?
Há muito, acreditava-se na tese de que o empreendedor seria fruto de uma herança
genética e que essas pessoas empreendedoras traziam isto de seus antepassados. Porém, tais
convicções caíram em desuso e não encontram mais seguidores nos meios científicos.
“Na verdade ninguém nasce empreendedor. O contato com família, escola, amigos, trabalho,
sociedade vai favorecendo o desenvolvimento de alguns talentos e características de
personalidade e bloqueando ou enfraquecendo outros. Isso acontece aolongo da vida, muitas
vezes ao acaso, pelas diversas circunstâncias enfrentadas.” (POMBO, 2014)
Dito de outra forma, é a experiência de vida que, na maioria das vezes ao acaso, pelas
diversas circunstâncias enfrentadas, faz desenvolver-se o perfil empreendedor.
Embora não exista um perfil padrão, alguns autores tentam esclarecer e definir algumas
características que o profissional empreendedor deve ter. Chiavenato (2008, p.8-9) define três
características básicas que identificam o espírito empreendedor, a saber:
1- Necessidade de realização: A necessidade de realização varia de pessoa para pessoa.
Se confrontados com as pessoas em geral o empreendedor obtém um índice mais elevado
de necessidade de realização.
2- Disposição para assumir riscos: O empreendedor assume vários riscos, como o
investimento financeiro, o abandono da carreira profissional no antigo emprego e os
riscos referentes ao fator psicológico que pode ser influenciado diante do fracasso. Porém,

4. ele prefere situações arriscadas, desde que, possa exercer controle pessoal sobre o
resultado.
3- Autoconfiança: O empreendedor confia na sua capacidade e habilidade para gerir o
negócio. Ele sente-se seguro em relação aos seus propósitos e considera-se preparado para
enfrentar os desafios que existem ao seu redor.
Daremos agora atenção especial à teoria sobre o processo comportamental empreendedor
de David Clarence McClelland (1917-1998), psicólogo e teórico americano que teve durante a
sua carreira o lançamento de várias obras literárias voltadas ao assunto.
De acordo com McClelland, existem três necessidades pelas quais as pessoas motivam-
se:
1. Realização: é a mais marcante entre os empreendedores, pois os leva a agir segundo
padrões de excelência, buscando fazer o melhor com grande desejo de êxito. São
autoconfiantes, gostam de assumir responsabilidades individuais e de ver a realização de
suas metas. Assumem riscos moderados, com base em planejamento e investigações que
os minimizam, além de fazer coisas de maneira criativa e inovadora;
2. Poder: buscam fazer as coisas como e quando querem, capitaneando uma equipe ou
um grupo em prol de um objetivo. Procuram influenciar, persuadir ou argumentar. Têm
ação ativa na política de suas organizações e são capazes de equilibrar-se entre a
expressão pessoal de domínio e o exercício da liderança socializada, revelando ora um
aspecto, ora outro;
3. Afiliação: ocorre quando se coloca o bem-estar do todo em detrimento do individual,
de fazer algo em prol da comunidade sem desejar destacar-se.

5. As Três necessidades motivacionais: Realização, Poder e Afiliação
Fonte: Politicaparapoliticos, 2017
Para McClelland, uma pessoa empreendedora é aquela que utiliza com certa frequência e
certa intensidade, as chamadas CCES (Características Comportamentais Empreendedoras).
A tabela abaixo apresenta as Características Comportamentais Empreendedoras de
McClelland, destacando a característica de cada uma delas.
Tabela 1 - Características Comportamentais Empreendedoras - CCES
Categoria CCES Características
DESEJO DE
REALIZAÇÃO
Exigência de
qualidade e
eficiência
Procura novasformasde fazermelhoras coisas, de fazer mais rápido ou
maisbarato; faz as coisasde forma que supere ospadrõesde excelência;
assegura que o seu trabalho será feito no tempo e com a qualidade
combinados.
Independência e
autoconfiança
Busca autonomiasobre normase controlesde outros; mesmo diante de
resultados adversos mantém seu ponto de vista; demonstra confiança
em sua própria capacidade.
PLANEJAMENTO
E RESOLUÇÃO
DE PROBLEMAS
Correr riscos
calculados
Avalia e discute as alternativas; procura manter sempre o controle
da situação para reduzir os riscos; envolve-se em situações de riscos
moderados.
Estabelecimentos
de metas
Os objetivos e metas são desafiantes e têm um significado pessoal;
as metas são claras, objetivas e definidas no longo prazo; as metas
de curto prazo são mensuráveis.
Busca de
informações
Procura pessoalmente todasasinformaçõespossíveis sobre o ambiente
em que está inserido; busca auxílio de especialistas para obter
assessoria
técnica ou comercial.

6. Planejamento e
monitoramento
sistemáticos
Divide as tarefas de grande porte em subtarefas com prazos definidos;
estásempre revisandoosseusplanos, observando as diversas variáveis
que possam influenciar; faz uso de registros financeiros para a tomada
de decisões.
INFLUÊNCIA
(CAPACIDADE DE
SE RELACIONAR
COM PESSOAS)
Persuasão e rede
de contatos
Discute estratégias antecipadamente para influenciar e persuadir os
outros; utiliza-se de pessoas-chave para atingir os próprios objetivos;
está sempre desenvolvendo e mantendo relações comerciais.
Comprometimento
Sacrifica-se e faz qualquer esforço para completar uma tarefa; está
sempre colaborando com os empregados para que o trabalho seja
terminado; faz qualquer coisa para manter o cliente.
Fonte: Autor, 2017
Apesar de muitos estudos e teorias sobre o comportamento empreendedor, as pesquisas
não chegaram a um consenso sobre tal assunto. O que fica claro por tudo o que foi dito
anteriormente é que ser empreendedor depende somente de nós e de nossa vontade de inovar e
transformar as nossas vidas, seja no lado profissional, familiar e nos diferentes setores do nosso
convívio.

7. ATIVIDADE:
1) De acordo com o texto, explique o que para você é ser um profissional
empreendedor e quais características são marcantes no perfil desse profissional.
2) É comum vermos um discurso do tipo:
“ah! Aquele empresário de sucesso é um empreendedor, ele já nasceu com esse
dom.”
Pelo que foi estudado no texto, você concorda com essa afirmação? Justifique!
3) Segundo o texto, o que leva as pessoas a se motivarem?

8. BIBLIOGRAFIA
ALLEMAND, R. N. Teoria Comportamental Empreendedora. SEBRAE – SP, 2007.
DOLABELA, F. Oficina do Empreendedor. 6a Ed. SP. Editora de Cultura. 1999.
FELIPPE, M. I. Empreendedorismo: buscando o sucesso empresarial. Sala do
Empresário, São Paulo,1996.
POMBO, A. A. da R. O que é ser Empreendedor. SEBRAE – SP, 2014.
SARAIVA, P. M., DANTAS, F. L. Empreendedorismo na Prática. Livro Rápido.
Olinda – PE, 2014.
SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de janeiro: Zahar
Editores, 1984.