1. O PROJETO COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO INICIAL
DOCENTE: um relato de experiência
Gleicy Aparecida de Sousa – gleicysousa@hotmail.com
Eglen Silvia Pipi Rodrigues – eglenrodrigues@gmail.com
Waine Teixeira Junior - waine.jr@gmail.com
RESUMO
A aprendizagem tem sido foco nos últimos tempos discutidos e preocupantes da
educação. Todos procuram alguém para ser o culpado no fracasso escolar de uma criança,
e não conseguem chegar a uma conclusão que realmente afirme isso. O Projeto
Comunidades de Aprendizagem vem de encontro a essas contradições, pois em seu
desenvolvimento todos os envolvidos adquirem uma aprendizagem. A escola passa a ser
um espaço educativo transformador, todas as ações da escola devem ser transformadoras,
tem que se efetivar nas relações pessoais o diálogo, deve haver o diálogo nas relações
sociais internas e externas da escola. O Projeto Comunidades de Aprendizagem que tem
como perspectiva sanar os problemas dentro da escola, atendendo as necessidades de
mudanças no contexto social, sua proposta é de transformar social e culturalmente com a
colaboração da comunidade de entorno, famílias, professores, gestores, alunos, equipe
escola entre outros, alcançando assim a máxima aprendizagem. Por estar em formação,
participar desse projeto contribuiu e vem contribuindo para a formação docente, pois
oportuniza um contato mais próximo com alunos, além de proporcionar a construção das
relações, que são muito importantes na formação de um professor. O objetivo dessa
vivência foi o de poder compreender a importância do projeto para a comunidade escolar
(professores, alunos, funcionários, voluntários e familiares) e analisar as contribuições que
o projeto tem proporcionado às pessoas nele envolvidas. É de suma importância para a
sociedade, pois nele estão inseridas atividades que contribuirão para que aprendizagem
realmente aconteça independente das condições sociais, culturais e históricas das crianças e
também levando em consideração todo o seu contexto histórico e social. Seu
desenvolvimento na cidade de Rondonópolis/MT, sua implantação iniciou em 2012, na
Escola Estadual Professora Sebastiana Rodrigues de Souza e vem dando continuidade
durante o ano de 2013. Até o momento apenas os alunos das séries iniciais vem
participando das principais atividades desenvolvidas em Comunidades, que são a
Biblioteca Tutorada, Grupo Interativo e iniciando em agosto de 2013, o grupo de Tertúlia
Literária, por isso, está em fase de implantação, enquanto todas as atividades não estiverem
sendo realizadas e todas as turmas participando delas, não se passa para a fase de
consolidação. Com relação às atividades propostas, estas se concretizam a partir do diálogo
igualitário e estão diretamente relacionadas com a leitura, a escrita e a interpretação de
textos, com base no referencial teórico-metodológico - Aprendizagem Dialógica -,
composto por sete princípios que orientam as relações e ações numa Comunidade de
Aprendizagem. São eles (FLECHA, 1997): 1º Diálogo Igualitário: numa interação, o
direito de fala deve ser garantido a todos. Os argumentos são apreciados em função de sua
validade e não da posição de poder que ocupa o falante; 2º Inteligência Cultural: refere-se
à capacidade de aprender e/ou de aprender de diferentes maneiras. Todas as pessoas são
capazes de participar de um diálogo igualitário, contribuindo com seus conhecimentos e
2. aprendendo mediante a interação dialógica; 3º Transformação: aprender dialogando e
valorizando tudo o que aprendemos em espaços coletivos, por meio do diálogo igualitário,
cada pessoa percebe que pode se engajar em processos de transformação social; 4º
Dimensão Instrumental da Educação: torna-se necessário garantir que todos possam ter
acesso à dimensão instrumental da educação, analisando os conhecimentos escolares a
partir de suas experiências e necessidades e transformando-os em instrumento para atuação
mais autônoma na atual sociedade; 5º Criação de Sentido: somos capazes de definir e de
conduzir nossos próprios projetos de existência; 6º Solidariedade: os âmbitos dialógicos de
aprendizagem são abertos à participação de todas as pessoas, ou seja, não há obstáculos
acadêmicos garantindo direitos a todos e oportunizando que todos estabeleçam redes de
parceria (sistema mundo e mundo da vida); 7º Igualdade de Diferenças: garantir a
diversidade cultural e vice-versa, o direito de todos e todas obterem condições objetivas
dignas de vida e de poder viver e pensar de maneira diferente. Conforme o trabalho vem
sendo desenvolvido, é possível perceber algumas mudanças, mesmo que ainda discretas.
Percebe-se, por exemplo, que algumas alterações têm ocorrido por meio das interações
estabelecidas com os integrantes durante a atividade. É possível notar, por exemplo, o
aumento do respeito que as crianças passaram a ter pelas pessoas voluntárias e pelos
próprios colegas. Outro ponto bastante visível foi com relação à relutância de algumas
crianças em ajudar aquelas que têm mais dificuldades. Essas crianças aos poucos foram
vendo que quando elas ensinam, estão aperfeiçoando o que sabem e aprendendo com
aqueles que sabem outras coisas, pois todos nós temos algo a ensinar e a aprender. Ao
mesmo tempo, os voluntários passaram a perceber melhor a relação entre as crianças,
identificando quem se colocava mais distante no grupo, bem como as que mais se
destacavam. Essas percepções favoreceram a proposta de situações que viessem a
contribuir com a inserção e a aceitação de todas as pessoas. A mudança na aprendizagem
das crianças, observada pela professora em sala de aula e também por seus familiares,
sinaliza que aos poucos as crianças estão se aproximando mais da escola e ganhando
confiança no trabalho que está sendo feito com toda a comunidade. Nesse espaço de
aprendizagem dialógica, igualitária e solidária por parte de todos os envolvidos é visível às
transformações que estão ocorrendo e favorecendo o trabalho pedagógico do professor e de
toda a escola e entorno. Desta forma, é possível dizer que por meio das interações,
possibilitadas através da participação de mais pessoas no processo de ensino e
aprendizagem das crianças (estudantes do PET Educação Interdisciplinar, voluntários,
familiares e educadores) estamos construindo uma escola mais democrática, mais
participativa e de mais qualidade de ensino para todos e todas. Enfim, entendemos que as
atividades realizadas são importantes na formação dos estudantes como espaço de
aprendizagem e prática dialógica, tendo em vista que esta prática educativa se preocupa em
garantir a máxima aprendizagem e possibilita a todos os agentes educativos, possibilitando
refletir cada dia mais sobre as práticas futuras, apostando em uma relação mais
humanizadora, dialógica e igualitária.
Palavras-chaves: Comunidades de Aprendizagem. Formação. Docente.
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