2. ● Atuação das mulheres no
mercado de trabalho no
início da República;
● Movimentos e conquistas
feministas no período da
Primeira República.
● Refletir sobre as conquistas e
os desafios das mulheres no
início da República;
● Entender a importância da
luta feminina por direitos.
3. Júlia Lopes de Almeida foi uma escritora e
cronista brasileira. Ela foi uma das
idealizadoras da Academia Brasileira de
Letras (ABL). Seu nome inclusive constava
da primeira lista dos 40 “imortais” que
fundariam a entidade, mas foi excluído em
sua primeira reunião, quando optaram por
manter a Academia exclusivamente
masculina. Vamos analisar um trecho de um
de seus livros, publicado em 1906, no qual
ela fala sobre “A mulher brasileira”:
4. “O europeu tem a respeito da mulher brasileira uma noção falsíssima. Para ele nós só
nascemos para o amor e a idolatria dos homens, sendo para tudo mais o protótipo da
nulidade. Dir-se-ia que a existência para nós desliza como um rio de rosas sem espinhos
e que recebemos do céu o dom escultural da formosura, que impõe a adoração... Nem
uma nem outra coisa. [...] Ela é exatamente digna de observação elogiosa pelo seu
caráter independente, pela presteza com que se submete aos sacrifícios, a bem dos
seus, e pela sua virtude. [...]
Felizes as donzelas pobres, obrigadas pelas circunstâncias apertadas da vida a
empregar a sua inteligência e a sua atividade no trabalho e no estudo! São as mocinhas
que, para ir às aulas que frequentam, engomam as suas saias ou cosem as suas blusas
[...]. Decididamente, o trabalho é o melhor saneador de almas! E nós precisamos da
nossa muito sã, porque só a virtude da mulher pode salvar os homens, seus filhos e seus
irmãos, no descalabro das sociedades arruinadas ou em deliquescência [...]."
5. “A verdade, que deve aparecer aqui, é que nos acontecimentos
culminantes da nossa história, aqueles que nos fatos da nacionalidade
brasileira iniciam períodos de renovação e de progresso – a independência,
a abolição, a república – a intervenção da mulher, direta ou indiretamente
considerada, quando não foi nula foi hostil [...].”
ALMEIDA, J. L. Livro das donas e donzelas.
6. Após ter analisado o texto, e considerando o questionamento proposto,
vire e converse com seu(sua) colega:
a) Como Júlia Lopes de Almeida percebia o papel da mulher na
sociedade brasileira do início do século XX?
7. a) Como Júlia Lopes de Almeida percebia o papel da mulher na sociedade
brasileira do início do século XX?
Resposta esperada: Júlia Lopes de Almeida colocou que as mulheres
brasileiras eram frequentemente subestimadas pelos europeus. Ela
discorda dessa visão, destacando a independência e outras virtudes das
mulheres brasileiras. Almeida mencionou as mulheres que se
motivavam a trabalhar e estudar e observou que, no contexto da
passagem da Monarquia para a República, a intervenção direta ou
indireta das mulheres não foi considerada ou foi hostilizada.
Correção
8. Nas primeiras décadas do século XX, era convencionado socialmente que o
sexo feminino era o “sexo frágil”. Mas apesar da crença coletiva de que a
atuação das mulheres deveria se restringir ao âmbito doméstico, muitas
enfrentaram preconceito ao terem buscado atuar publicamente, ingressando
no mercado de trabalho e até mesmo na política, lutando contra o estigma de
serem taxadas como “mulheres públicas”.
“Sexo frágil”
9. No entanto, em busca de sua sobrevivência, após o final da escravidão
houve mulheres que buscaram oportunidades no trabalho doméstico,
desempenhando funções como criadas, cozinheiras, lavadeiras e
costureiras. Outras ingressaram na insurgente indústria brasileira, que
passou a incluir mulheres e crianças entre seus operários.
De acordo com a historiadora Margareth Rago, nas primeiras décadas do
século XX, o aumento das atividades industriais no Brasil demandou uma
significativa quantidade de trabalhadores. A classe operária industrial
passou então a conter a presença majoritária de mulheres e crianças,
devido ao custo mais baixo dessa mão de obra.
10. Para além disso, essas operárias
enfrentavam desafios como longas
jornadas de trabalho, más
condições de trabalho, maus-
tratos dos patrões e assédio
sexual. As que desafiavam as
normas impostas enfrentaram
resistência e violência. O discurso
predominante colocava essas
operárias num papel inferior,
limitando sua resistência e criando
estereótipos em relação às
mulheres no ambiente de trabalho.
11.
12. “[...] Tema 12: como regulamentar o trabalho feminino e a admissão de aprendizes nas
fábricas e oficinas?
Considerando que a causa principal da exploração exercida contra as mulheres, que,
pela sua situação, se tornam terríveis concorrentes do homem, está no fato de lhes
faltar coesão e solidariedade;
Que a necessidade da organização sindical impõe-se entre as mulheres, uma vez que
para os homens tem sido adotada com bons resultados;
O Congresso, salientando a necessidade da organização das operárias em sindicatos,
convida e incita os sindicatos operários a envidar todos os esforços para organizar as
mulheres e torná-las companheiras de luta, abolindo a concorrência que fazem
[...]”. Bases de acordo da Confederação Operária Brasileira – Aprovadas pelo Primeiro
Congresso Operário Brasileiro, 1906.
Vamos fazer a análise de um documento
histórico relacionado ao contexto estudado:
13. Considerando a análise do
trecho do acordo aprovado no
Primeiro Congresso Operário
Brasileiro em 1906, e
partindo dos questionamentos
disparadores, escreva um
parágrafo que resuma seu
entendimento do trecho do
documento.
14. Questionamentos disparadores:
1. De acordo com o texto, como as mulheres operárias eram percebidas?
2. Elas eram consideradas colaboradoras ou concorrentes dos homens?
A que você atribui esse fato?
3. Elas eram consideradas uma classe unida e coesa, ou desunida e
desorganizada? A que você atribui esse fato?
4. Elas eram organizadas sindicalmente ou atuavam de maneira mais
autônoma? A que você atribui esse fato?
5. Você acredita que esse documento tenha sido escrito por um homem
ou por uma mulher? Por quê?
15. No documento, as mulheres operárias foram colocadas como “terríveis
concorrentes dos homens”. É apontado que a falta de coesão e
solidariedade entre as mulheres seria a causa da exploração exercida
contra elas. As mulheres eram vistas como concorrentes dos homens,
sendo também colocado que elas não eram organizadas sindicalmente.
É ressaltada a importância da organização sindical das operárias. O
texto traz uma perspectiva masculina sobre as mulheres trabalhadoras
da indústria. E nesse sentido é importante ressaltar que a maior parte
da documentação da época era produzida por autoridades públicas
masculinas.
Correção
16. “[...] Apesar das muitas greves e mobilizações políticas que realizaram contra a
exploração do trabalho nos estabelecimentos fabris entre 1890 e 1930, as
operárias foram, na grande maioria das vezes, descritas como ‘mocinhas infelizes
e frágeis’. Apareciam desprotegidas e emocionalmente vulneráveis aos olhos da
sociedade, e por isso podiam ser presas da ambição masculina.
[...] Italianas, espanholas, portuguesas, alemãs, romenas, polonesas, húngaras,
lituanas, sírias, judias, a grande maioria das operárias das primeiras fábricas
instaladas no país fazia parte da imigração europeia. [...] Desde meados do século
XIX, o governo brasileiro procurou atrair milhares de imigrantes europeus para
trabalhar tanto na lavoura, nas fazendas de café, quanto nas fábricas que surgiam
nas cidades, substituindo a mão de obra escrava. [...]
Vamos analisar um trecho de um texto historiográfico sobre a questão do
trabalho feminino no contexto do início da República no Brasil:
A arte da frase!
17. [...] o número de mulheres e crianças imigrantes e que essa força de trabalho,
abundante e barata, era maioria em nossas primeiras fábricas. [...] Da variação
salarial à intimidação física, da desqualificação intelectual ao assédio sexual, elas
tiveram sempre de lutar contra inúmeros obstáculos para ingressar em um campo
definido – pelos homens – como ‘naturalmente masculino’. Esses obstáculos não
se limitavam ao processo de produção; começavam pela própria hostilidade com
que o trabalho feminino fora do lar era tratado no interior da família.
[...] A rotina de trabalho nas fábricas era muito pesada, variando de 10 a 14 horas
diárias, e estava sob a supervisão dos contramestres e outros patrões. Em geral,
na divisão do trabalho, as mulheres ficavam com as tarefas menos especializadas e
mal remuneradas; os cargos de direção e de concepção, como os de mestre,
contramestre e assistente, cabiam aos homens. [...]
A arte da frase!
18. [...] As anarquistas e socialistas procuraram organizar as trabalhadoras, nas
primeiras décadas do século, convocando-as para as assembleias sindicais ou para
discutir os problemas femininos dentro dos sindicatos e comitês a que pertenciam.
Desde o começo da industrialização, elas escreveram inúmeros artigos na imprensa
operária, apontando os problemas enfrentados pelas trabalhadoras na produção e
na vida social, as péssimas condições de trabalho e de higiene nas fábricas ou nas
habitações coletivas e a inexistência de direitos sociais e políticos para as
mulheres”.
RAGO, M. Trabalho feminino e sexualidade. In: PRIORE, M. D. (Org.). História das mulheres no Brasil. p.
484-507.
Agora vamos nos dividir em grupos. Para facilitar a análise do trecho do texto
da historiadora Margareth Rago, cada grupo deverá partir de um dos quatro
questionamentos que serão propostos a seguir.
A arte da frase!
19. 1. Como as operárias eram vistas pela sociedade na época?
2. De acordo com a historiadora, qual era o perfil das mulheres que
trabalhavam nas fábricas brasileiras no início da República?
3. Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelas operárias
em seu cotidiano, de acordo com o texto?
4. Segundo a autora, as operárias eram unidas ou não?
O(A) professor(a) vai distribuir, de maneira equilibrada, as questões aos
grupos formados. Durante a discussão, os grupos deverão escrever
frases que resumam seu entendimento em relação ao que fora colocado
sobre o cotidiano das operárias no contexto estudado. Posteriormente,
exponham suas frases para os outros grupos.
A arte da frase!
20. ● Refletimos sobre o papel social das mulheres no início
da República;
● Exploramos as bases de acordo da Confederação
Operária Brasileira de 1906, revelando a percepção
que se tinha das mulheres operárias na época;
● Discutimos as condições de trabalho das mulheres no
início do século XX, a partir de um texto da
historiadora Margareth Rago;
● Conhecemos quais eram as dificuldades enfrentadas
pelas operárias nas fábricas, incluindo longas
jornadas, desqualificação, assédio sexual e a luta por
direitos.
21. Referências
ALMEIDA, J. L. Livro das donas e donzelas. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000171.pdf . Acesso em: 02 jan. 2024.
Bases de Acordo da Confederação Operária Brasileira. Primeiro Congresso Operário Brasileiro. 1906.
Disponível em: https://pt.scribd.com/document/48450691/BASES-DE-ACORDO-DA-
CONFEDERACAO-OPERARIA-BRASILEIRA-APROVADAS-PELO-PRIMEIRO-CONGRESSO-
OPERARIO-BRASILEIRO-1906 . Acesso em: 08 jan. 2024.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fundação
para o Desenvolvimento da Educação (FDE), 1999.
LEMOV, D. Aula nota 10 2.0: 62 técnicas para melhorar a gestão da sala de
aula. Porto Alegre: Penso, 2018.
PRIORE, M. D. (Org). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Educação. Currículo Paulista: Etapas
Educação Infantil e Ensino Fundamental. São Paulo, 2019.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Currículo em Ação. Coordenadoria Pedagógica –
COPED. São Paulo, 2023.