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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
     DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV
           LICENCIATURA EM HISTÓRIA

           GRAZIELA SILVA DAS MERCÊS




REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO LIVRO DIDÁTICO DA
    3ª SÉRIE DE HISTÓRIA DA DÉCADA DE 1980.




                  Conceição do Coité
                        2010
GRAZIELA SILVA DAS MERCÊS




REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO LIVRO DIDÁTICO DA
    3ª SÉRIE DE HISTÓRIA DA DÉCADA DE 1980.




                    Trabalho de conclusão de curso apresentado como
                    requisito para obtenção do titulo de Licenciado em
                    História, pelo Departamento de Educação, Campus
                    XIV, da Universidade do Estado da Bahia.
                    Orientadora: Zuleide Paiva




                 Conceição do Coité
                       2010
RESUMO




Esse artigo tem como finalidade analisar a representação da mulher a partir do livro didático
de História da década de 1980, trazendo a discussão de gênero, de Scott. Outro ponto também
discutido é a discriminação sofrida pelas mulheres negras em meio ao principal recurso
didático que deveria ser construído com base nas democracias, tanto raciais quanto sexuais,
contribuindo para que as diferenças possam ser vistas como algo que constrói e não que
discrimina.



Palavras-chave: História – Historiografia – Gênero – PNLD – Livro didático de História




ABSTRACT



This article has as purpose to analyze the representation of the woman from the didactic book
of History of the decade of 1980, bringing the quarrel of sort, of Scott. Another point also
argued is the discrimination suffered for the black women in way to the main didactic
resource that would have on the basis of to be constructed the democracies, racial how much
in such a way sexual, contributing so that the differences can be seen as something that
constructs and not that it discriminates.
Introdução
                 Este artigo tem como tema geral a representação da mulher no livro didático
de história da 3ª série da década de 1980. Antes de qualquer coisa o meu interesse pelo tema
partiu devida minha aproximação com professores da área em que minha pesquisa está
incluída (gênero e educação).
                 De uma maneira geral o objetivo desse trabalho é realmente mostrar como a
mulher foi ocultada dentro do principal recurso didático que foi livro didático da década 1980.
Mas para que todo esse processo fosse completado, foi necessária uma busca na história das
mulheres desde os meados do século XIX até o século XX. Isso foi necessário para poder
perceber que, mesmos a mulher com a sociedade contra as suas reivindicações, ela conseguiu
construir seu lugar dentro das academias, e tudo isso tendo como base nas suas lutas e
manifestações sociais.
                         A partir daí pude analisar como as mulheres estavam representadas
dento do livro didático, e quais eram os valores e os códigos sociais veiculados as imagens
das mesmas, levando em conta principalmente como sua história estava escrita no livro
didático. Todos esses pontos foram cruciais para o entendimento do panorama histórico que a
mulher se encontrava no final do século XIX e início do XX.
                 A escrita da história das mulheres no Brasil, assim como, em outros países
teve relação direta com o movimento de mulheres e feministas. A partir daí, torna-se cada vez
mais necessário, uma “politização” em relação à colocação da mulher na sociedade, e é em
decorrência dos seus movimentos sociais, que essa tão sonhada oficialização é construída.
                 Maria Izilda analisa como a política influenciou no dia-a-dia da mulher:

                         “e como a descoberta do ser político levou a questionamentos sobre as
                         transformações na sociedade e no funcionamento da família, o papel da disciplina
                         das mulheres o significado dos fatos lutas e gestos do cotidiano...” (MATOS, 2005,
                         p. 89).

                Todavia, o contexto da ditadura militar deu para esses movimentos no Brasil,
uma configuração diferente daquela que se encontrava em outros países, a exemplo dos
Estados Unidos da América e da França, grandes pólos de movimentos sociais. No entanto, se
faz necessário lembrar, que foi exatamente no contexto da ditadura, que várias militantes do
movimento de resistência, tiveram contato com o feminismo nas décadas de 1960 e 1970.
Uma vez, que muitas delas foram exiladas por serem membros integrantes desses movimentos
sociais, mas também, existiram aquelas que saíram do Brasil para completarem seus
mestrados e doutorados, e assim tiveram contato com essas idéias. É dentro desse contexto,
que assistimos no Brasil o chamado Feminismo de Segunda Onda, que teve como
característica a criação de “grupos de reflexão”, formados apenas por mulheres, que no
passado mantiveram contato com as mais diversas premissas partidárias, sendo que, muitas
delas eram esquerdistas.
                 De acordo com Joana Maria Pedro,

                       “O movimento de mulheres e feministas da “Segunda Onda” constituiu uma
                       identificação: de “mulher”, separada de “homem”, como ser universal. Elas estavam
                       afirmando que eram diferentes dos homens, ao mesmo tempo que buscava a
                       igualdade com eles”(PEDRO,2006,p.167).

                  Dessa maneira, o que as feministas questionavam, era justamente que o
universal em nossa sociedade, é masculino, e que elas não se sentiam incluídas quando eram
nomeadas pelo ele. Assim, o que o movimento reivindicava, o fazia em nome da “mulher” e
não do “homem”, mostrando que esse sujeito universal masculino não incluía as questões
específicas da “mulher”.


Mulher, Mulheres e Gênero
                 Nesse contexto de reivindicações de um reconhecimento de outro sujeito, o
feminino, a categoria Mulher se estabelece em oposição ao sujeito universal homem,
categoria que era vista pelo movimento feminista como invisibilizadora das mulheres
enquanto sujeitos da realidade.
                 A partir dessas discussões e do uso da categoria Mulher, criam-se duas
vertentes, as “separatistas”, que seguiam o grupo ligado a Luce Irigaray e Heléne Cixous,
ambas ligadas às ideologias feministas, e as “igualitaristas”, seguidoras de Simone de
Beauvoir pioneira com seu manifesto feminista, Segundo Sexo, no qual propõe novas bases
para o relacionamento entre mulheres e homens. Na perspectiva “separatista”, era comum
somente reunir mulheres em suas recorrentes reuniões para reafirmar sua identidade enquanto
mulher, entendendo também que as pessoas possuidoras de um mesmo sexo, no caso o
feminino, eram identificadas como “mulher”, e passavam a ser pensadas como submetidas ao
sexo masculino, sendo, portanto, alvo da mesma forma de opressão. Outra maneira de
promover essa luta contra a violenta submissão sofrida pela mulher de acordo com as
separatistas é o de reafirmar que seria o sexo, no caso o genital que promoveria a diferença
em relação aos homens, dando-lhe uma identidade para lutar contra as subordinações sofridas.
                 Segundo Joana Maria Pedro, as “igualitaristas”, as “separatistas”, queriam a
preconização da “feminização do mundo”, essa feminização proporcionaria a mulher, uma
independência em relação ao que era proibido dentro do contexto da época, em relação ao
político, econômico, mas principalmente do social.
                     Enquanto as “separatistas” lutavam para afirmar suas premissas, que eram a
de liberdade e acima de tudo, construção de uma identidade, as “igualitaristas” reivindicavam
que as mulheres participassem em igualdade de condições com os homens na esfera pública.
Com essa idéia, o movimento “igualitaristas”, ganhou diversas críticas, mas não tão severas,
quanto à do movimento “separatistas”, onde acusou que estavam sendo feitas exigências, para
que mulheres se transformassem em homens para entrarem nos espaços públicos destinados
aos mesmos. Contra todo movimento “igualitaristas”, as separatistas afirmavam, que para a
mulher ter poder, as mesmas tinham que colocar suas diferenças com igual valor aos dos
homens, mas sem perder sua feminilidade.
                     Desse modo, o uso da categoria “mulher”, sofria interpretações das mais
diversas, dependendo da perspectiva utilizada. Mas foi nos Estados Unidos, que essa categoria
foi mais criticada. Algumas estudiosas da área entendiam que essa categoria não atendia às
especificidades dos diversos problemas das mulheres, sejam das negras, indígenas e as pobres
trabalhadoras domésticas. As feministas reivindicavam a “diferença”, dentro da grande
diferença existente entre as mulheres. “Assim, a categoria “mulher”, como a categoria “
homem”, não era suficiente para explicar a diversidade de femininos.
                     Diante dessas questões, emergiu a categoria mulheres em substituição à
categoria mulher no final da década de 70, com o objetivo de revelar que ao se falar das
mulheres não se poderia fazê-lo no singular. Éramos plurais, éramos mulheres, com as mais
diversas experiências e vivências.
                     Todavia, vale ressaltar, que independentemente de usar a categoria “mulher”
ou “mulheres”, a grande questão a que todas queriam responder, e que buscavam nos mais
variados meios, seja ele acadêmico ou não, era o porquê das mulheres, em diferentes
sociedades, serem submetidas à autoridade masculina, nas mais diversas formas e nos mais
diferentes graus .
                     Acrescentamos ainda, que apesar da contestação do uso da categoria
mulher, não se pode negar a contribuição que essa categoria possibilitou para a elaboração de
um elevado número de produções realizadas, sejam por historiadores, sociólogos, filósofos,
antropólogos e tantas outras, sendo que, as pioneiras do século XX, Margareth Mead com sua
análise em relação à diferença sexual na constituição dos papéis dentro das sociedades, e
Simone de Beauvoir, usando a categoria “mulher” para discutir nos referenciais do
existencialismo, a constituição da “mulher” como ser social, deixando de lado o fator
biológico para se dedicar ao fator cultural, com sua célebre frase: “Não se nasce mulher,
torna-se” (PEDRO, 2006, p. 171).
                  E pensando especificamente na produção historiográfica, essas categorias,
aliadas ao revisionismo pelo qual vinha passando a História desde a Escola dos Annales, na
década de 20, e que se consolidou na década de 60 em diante, nas abordagens da Nova
História e História social, onde as novas perspectivas de Marc Bloch como rever o passado a
partir das indagações do presente, ampliação da noção de sujeito e a inclusão do cotidiano, se
consolidaram como importantes perspectivas historiográficas, aliadas as pressões dos novos
movimentos sociais, com os movimentos de mulheres e o movimento feminista, abriu-se uma
importante brecha para pensar na História das mulheres, ou melhor, para narração da História
das mulheres.
                  A partir desse contexto, a mulher passa a ser percebida dentro das
universidades, como um ser também responsável pela construção das sociedades, fugindo de
certo modo da posição de invisibilidade ideológica que lhes deram há muito tempo.
                  No entanto, mesmo com toda transformação ocorrida no intuito de atender e
responder questões relacionadas aos anseios feministas, as categoria “mulheres”, não deram
grandes passos em relação às reais mudanças que as mulheres buscavam. Paralelamente a
isso, abri-se uma porta para um novo pensar, mais forte, mais incisivo, mais direto, que já
estava se usando nos Estados Unidos e que abarcava desde os movimentos feministas, indo
até as diferenças percebidas entre os sexos além das discussões sobre relações de poder.
                  Essa nova categoria surge no Brasil trazendo tudo o que é novo, mas o que
mais chama a atenção das feministas, é que ela analisa a mulher juntamente com o homem,
traçando assim uma análise mais relacional. Segundo Maria Izilda, “o gênero chegou
procurando dialogar com outras categorias históricas já existentes e que muitas vezes foi
empregado de maneira incorreta nos muitos estudos” (MATOS, 2005, p.97).
                  No Brasil isso foi mais visível quando a maioria dos estudiosos a partir de
1990, passa a ter como base a obra de Joan Wallach Scott, que tem como tema: “Gênero: uma
categoria útil para análise histórica”, publicada no Brasil no final da década de 80.
                  Assim, gênero ganhou dentro dos movimentos sociais de mulheres
feministas, gays e lésbicas, uma grande relevância.
                  Podemos então com isso perceber que a categoria “gênero”, não vai
somente ser vinculada aos movimentos relacionados às mulheres, mas também para todos os
movimentos que se baseavam na diferença entre os sexos nas relações de poder, e porque não
dizer nas relações sociais, transformando-se com isso em uma categoria que abarcaria os
movimentos que buscava uma identidade frente a uma sociedade masculinizada e
conseqüentemente machista.
                 Dessa forma Scott define gênero como,

                       “tem duas partes e várias subpartes. Elas são ligadas entre si, mas deveriam ser
                       analiticamente distintas. O núcleo essencial da definição baseia-se na conexão
                       integral entre duas proposições: o gênero é um elemento construtivo de relações
                       sociais, baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma
                       primeira de significar as relações de poder. As mudanças na organização das
                       relações sociais correspondem sempre a mudanças nas representações de poder...”
                       (SCOTT, 1989, p.14).

                 A partir dessas novas teorias, a palavra gênero emerge em um grande
movimento de efervescência epistemológica entre os pesquisadores sobre os mais variados
temas. E é com essas novas práticas que a história das mulheres irá dar início a sua grande
caminhada acadêmica, mostrando sua luta que há muito tempo foi abafada, e de certo modo
incriminada pelas produções que construíram uma história eminentemente androcêntrica a
qual Sarda entende como: “O homem como medida de todas as coisas. Enfoque de um estudo
análise ou investigação a partir da perspectiva unicamente masculina, utilização posterior dos
resultados válidos para a generalização dos indivíduos, homens e mulheres (...)” (SARDA,
1987, p.23).


Livro Didático um Meio de Comunicação
                 E se hoje, existe uma produção da História das Mulheres, ela ainda é
produzida as margens de uma história universalizante, que reflete uma concepção de ciência
que legitima o homem como sujeito universal e o espaço público como palco dos
acontecimentos importantes da história. O cotidiano e o espaço privado são colocados como
espaços de pouca importância, lugares dos homens e mulheres comuns. Nesse contexto, o
livro didático reflete a história das grandes narrativas e dos feitos dos homens, assim como, a
história do político e do econômico.
                 Vale ressaltar, que essa produção historiográfica, que cunhou um sujeito
universal e elegeu determinados fatos históricos para serem narrados, reflete a concepção
positivista de ciência que se estabeleceu no século XIX e boa parte do século XX.
                 No Brasil, esse pensamento positivista, marcou fortemente o processo de
implantação da República.
As várias reformas curriculares que passaram a ser realizadas no final do
século XIX passaram a defender um currículo mais científico, mais técnico e prático,
adequado aos anseios de modernização que se propunha um novo país republicano. Tudo isso,
para que se concretizassem os projetos de estruturação e desenvolvimento do Novo Estado
nos moldes de uma concepção positivista que pregava a idéia de Ordem e progresso. Ou seja,
organizar para progredir.
                 Dessa forma, o ensino de história nessa época, obedeceu ao discurso
republicano que reforçou as idéias positivistas, cabendo somente à escola e o ensino,
denunciarem os atrasos impostos pela monarquia e principalmente criar uma mentalidade nos
indivíduos de progresso e ordem. Respondendo aos objetivos de novo governo, de evidenciar
os “grandes heróis da república brasileira”, que lutaram para transformar o Brasil em um lugar
de novas perspectivas, criando um modelo de cidadão com sentimento nacionalista,
trabalhador e acima de tudo patriótico.
                 Esse pensamento acabou por posicionar o nosso ensino de história, mais
especificamente, em um grande currículo que somente iria priorizar o homem e suas
importantes colaborações para a construção da nossa nação. Assim, Selva Guimarães
Fonseca, analisa a educação de História como:

                       “afirmação das identidades nacionais e a legitimação dos poderes políticos fizessem
                       com que a História ocupasse posição central no conjunto de disciplinas escolares,
                       pois cabía-lhe apresentar a criança e os jovens o passado glorioso da nação e os
                       feitos dos grandes vultos da pátria” (FONSECA, 2004, p.24).

                 E esses objetivos criados pelo estado se refletiam no livro didático, que era
uma produção que alcançava uma significativa parcela da população, devido aos muitos
programas criados pelo próprio governo, um desses programas era uma Comissão Nacional de
Livros Didáticos na década de 60, cuja atribuição era o estabelecimento de regras para a
produção, compra e utilização do livro didático.
                 E é dessa maneira, que o livro torna-se mais que um recurso pedagógico
dentro da escola, torna-se um meio de comunicação do estado com futuros homens e mulheres
do Brasil. Todavia, essa função que o livro didático ganhou, não só afetou o nosso país, mas
também, a maioria dos países americanos e europeus, após os processos de independência.
                 Alain Choppin descreve bem o que o livro didático representa para um país:

                       “os livros não são somente ferramentas pedagógicas, mas também suportes de
                       seleções culturais variáveis, verdades a serem transmitidas às gerações mais jovens,
                       além de meios de comunicações cuja eficácia repousa na importância de suas formas
                       de visão. Nessa perspectiva, os livros, para além de se constituírem de vetores
ideológicos, são fortes abundantes, diversificadas e, ao mesmo tempo, completas,
                       visto que cada obra constitui uma unidade própria e coerente, com princípios, meio e
                       fim...” (ANPUH, 2004, p.99).

                 Considerando todos esses pontos que o livro didático traz consigo, ele torna-
se o principal recurso didático dentro de uma escola, e um dos objetos mais importantes para a
construção do saber do aluno dentro do espaço escolar.
                 Devido ao reconhecimento dessa importância do livro didático como uma
ferramenta ideológica, na época da Ditadura Militar, o governo investe fortemente na
produção e distribuição desse recurso pedagógico.
                 Isso porque, era necessário levar os ideais de ordem e progresso para todos,
e o livro didático cumpria essa função. Todavia, não era qualquer livro que poderia ser
distribuído nesse período, apenas aqueles que passassem pelo controle da censura. A ausência
da democracia deixaria marcas indeléveis no sistema público de ensino no Brasil.
                 Cabe destacar também as muitas frustrações entre o setor editorial-cultural e
o Estado autoritário, os quais envolveram relações de caráter político-ideológico, cuja
repercussão sobre o conteúdo do livro didático foi marcante, sobretudo na perspectiva de
civismo presente na grande maioria das obras do período.
                 É percebendo essa importância do livro didático, que a partir da década de
1980, são feitas algumas tímidas ações no âmbito da discussão acerca dos problemas
presentes nos livros didáticos distribuídos em todo território brasileiro. Esse movimento de
renovação do livro didático coincidiu com as transformações feitas no programa de História
em estados do sudeste, sendo eles, os primeiros a serem beneficiados com as modificações na
área da educação com as propostas do marxismo em substituição do positivismo. Todas essas
transformações estavam intrinsecamente ligadas ao processo de redemocratização que o
Brasil estava passando, já que vivemos durante um longo tempo sob ordens de governos
ditatoriais.
                 Em 1985 é que criado o Programa Nacional do Livro Didático o PNLD, o
qual fica responsável por analisar todo conteúdo designado ao livro, além da distribuição
gratuita de todos os livros didáticos para os alunos das escolas publicas do ensino
fundamental de todo país. Outra modificação com esse programa, é que a partir dele a criação
do livro didático vai ser mais criteriosa e democrática em relação ao âmbito político e de
criação, devido à participação do próprio professor no momento da construção e também na
hora da escolha da obra.
Esse programa aprimorou critérios que foram imprescindíveis para a
construção das obras didáticas, a exemplo dos vários olhares que o livro didático deve ter. As
leituras críticas que possibilitaram aos alunos a terem mais que uma leitura padrão dentro do
assunto discutido, e tudo com a própria evolução do PNLD, vinculada com as transformações
dentro das várias áreas da educação.
                 Mas ainda com todas essas transformações ocorridas dentro do mundo
educacional brasileiro ligado ao livro didático, não houve muitas mudanças em relação à
própria concepção de história que o livro didático projetava antes da década de 1980. Os fatos
que anteriormente eram privilegiados ainda continuam a serem os mesmos, os grandes heróis,
homens fortes que lutaram por tudo que temos, e que sem eles não seríamos hoje um país
liberto dos portugueses, e principalmente não conquistaríamos a tão sonhada República.
                 O fato é que as mudanças que se observam na historiografia brasileira, ainda
são sentidas de forma muito tímida nos livros didáticos, se concentrando mais nos meios
acadêmicos, do que no nível dos manuais de história.
                 Assim se continua a privilegiar temas “importantes” ligados a determinados
períodos da história brasileira como as épocas do Império, Regime Monárquico, República, a
Política de Vargas (1930-1945), seguindo o Regime Militar, e por fim, a Democratização,
enfatizando sempre o repetitivo, o cíclico, proporcionando uma história sem muitas
preocupações com o indivído, com o ser humano e com sua contribuição dentro das varias
revoluções e lutas que o Brasil tem orgulho de dizer que fez.
                 Desse modo uma das disciplinas mais especiais fica na maioria das vezes
muito pragmática e cheia de conceitos formados pelos “grandes vencedores” da história do
Brasil. Não esquecendo também da grande historia global que é reduzida a algumas guerras e
revoluções promovidas por alguns paises com seus heróis.
                 É preciso ressaltar também, a possibilidade em pensar na renovação dos
grupos de autores, que são responsáveis pela criação dos livros didáticos, isso porque, a
metodologia empregada pelo autor para expor os conteúdos no livro didático de história,
interfere diretamente na interpretação do aluno sobre os fatos, e são justamente esses “fatos”,
e a falta de outros que são os maiores problemas.
                  Analisando esse impasse percebemos que o papel dos autores no livro
didático, não é apenas de espectadores do tempo, são agentes que contribuem para a
construção das futuras sociedades.
E é nessa construção que Alain Choppin observa que: “após ter sido
negligenciado por historiadores, os livros didáticos vêm despertando um grande interesse de
alguns anos para cá” (SANTOS, 2007, p.4).
                  E é nesse interesse, que várias autoras e autores vêm buscar nas várias
lacunas deixadas por muitos anos, as respostas, para que de fato nós tenhamos uma visão mais
abrangente da grande criação que é o livro didático de história. E dentro dessas várias lacunas
que foram deixadas no livro didático, no período analisado, um dos problemas existentes, a
ausência da mulher como alguém que participa ativamente do espaço público.
                  Segundo Ana Lucia Goulart de Faria, autora de várias pesquisas sobre a
ausência da mulher no livro didático:

                        “A mulher em geral é discriminada no livro didático”. Sua função é ser mãe e cuidar
                        da casa. A mulher não aparece como um ser humano normal que trabalha para o
                        progresso. [...] Poucas vezes a mulher não aparece como mãe e daí ela tem alguma
                        profissão. Mas ela é citada em listas de profissões, no feminino. “Trata-se sempre
                        daquelas profissões tipicamente femininas: enfermeiras, bordadeiras, bibliotecárias,
                        professoras, datilógrafa, costureira, conzinheira, diretora de escola, babá” (FARIA
                        1991, p.41-42).

                  Toda essa visão que os livros didáticos trazem para as crianças é fruto da
própria sociedade, que trata a mulher como uma simples peça dentro da grande engrenagem
de construção que é o mundo. Trata-se de uma sociedade que se auto-pensou e que se auto-
conduziu em termos do trabalho e do conhecimento racional, ou seja, um contexto em que a
razão e a ciência dominante estariam na base do processo do desenvolvimento modernizante,
articulando os elementos favoráveis e discriminando os seus “entraves” históricos que ficam a
cargo das crianças, velhos, negros, índios e principalmente das mulheres.
                  Segundo Faria, a mulher é sempre valorizada no livro didático na sua função
de mãe na medida em que é apresentada como reprodutora da força de trabalho, enquanto
procriadora, e como mantenedora do lar. O trabalho doméstico, por sua vez, não é sequer
questionado enquanto salário indireto numa relação de exploração, sendo valorizada apenas
moralmente como função natural da mulher, assim como o amor.
                  É comum também nos textos didáticos, a mulher quando trabalha fora de
casa, aparecer na figura da empregada doméstica, e nas raras vezes em que ela é citada como
alguém que trabalha fora, é exercendo a profissão de professora que tem certo preço e um
prestígio dentro do contexto social.
                  Segundo professora Maria de Lourdes Chagas Deiró Nossela, uma
pesquisadora também da área educacional, a mulher é vista no livro didático como:
“uma pessoa boa, dedicada, considera seus alunos como seus filhos, sendo também
                        amada por eles como uma outra mãe [...] a imagem da professora [...] é a de uma
                        pessoa bondosa, mas também autoritária e repressiva [...] já descrição da figura do
                        professor é diferente da que se faz da professora, pois não se diz que ele é bom,
                        carinhoso. Aqui também ele é o ‘chefe’, que exerce a desinteressada missão de
                        educar” (NOSELLA, 1979, p.64-65).

                  Todos esses estereótipos criados pela sociedade e assimilados pelos livros
didáticos são altamente prejudiciais para o crescimento da mulher enquanto pessoa, que
necessita de autoconfiança dentro desse contexto androcêntrico e preconceituoso, onde a
mesma é vista como um mero agente passivo dentro desse espaço de construção.
                  E como é de conhecimento de todos, na medida em que o estereótipo é uma
generalização abusiva e acima de tudo sofre uma simplificação extremada, ele pode ser
considerado como um fenômeno negativo, implicando numa distorção da realidade.
                  E é exatamente esse processo que atinge as mulheres, a simplificação de
seus esforços, a redução dos melhores trabalhos dentro da sociedade, e principalmente a não
valorização de seus movimentos sociais que ajudaram no crescimento da mentalidade do povo
brasileiro em plena Ditadura Militar.
                  E para perceber melhor esta distinção dentro do livro didático juntamente
com todos seus estereótipos, foram selecionados oito livros que vão desde o início da década
analisada, que ainda estava com o governo ditatorial até ao final da década de 80, que já tinha
reestruturado a democracia. Já a escolha da terceira série, foi devido a ser uma série inicial, e
que vem formar e moldar as mentes das crianças que serão as futuras mulheres e os futuros
homens do Brasil.


Discussão Sobre os Livros Didáticos
                  Para iniciar a análise dos livros didáticos, utilizarei somente as ilustrações
referentes às mulheres, os homens, meninos e meninas que possam evidenciar implícita ou
explicitamente o sexismo. No entanto, também salientamos que, apesar de não ser o vértice do
trabalho iremos perceber como a presença racial/étnica está apresentada nos livros didáticos.
                  A primeira obra a ser analisada é da coleção Crescendo com os Estudos
Sociais, e ela foi produzida pela Editora F.T.D.1ª Edição, em 1985. Editora responsável:
Albani Galo Diez, Licenciada em Pedagogia, pela Universidade Católica do Salvador (BA),
com especialização em Supervisão Educacional. É técnica em Estudos Sociais e Supervisão
Educacional, pela Divisão de Aperfeiçoamento do Professor, pelo antigo PABAEE, de Belo
Horizonte (MG).
É funcionária aposentada da Secretaria da Educação e Cultura do Estado da
Bahia, atuando inicialmente, como professora primária, e, posteriormente, como técnica em
Estudos Sociais, participando, inclusive, do projeto Pólo Nordeste. Freqüentou, ainda, um
curso intensivo em Currículo e Avaliação, patrocinado pelo Ministério de Educação e Cultura,
no Rio de Janeiro (RJ). Dedica-se atualmente à pesquisa e elaboração de livros didáticos e
outros trabalhos educacionais. O livro está dividido em três partes, ligado a região da Bahia,
onde mostra a cidade Salvador de 1985, 1500, e finalizando, como o homem avançou para o
interior da Bahia, em especial. Em relação às figuras, todas elas foram cedidas pela
BAHIATURSA, EMATERBA, Micucci Fotografias, Assessoria do Palácio Estado da Bahia,
CEPLAC, Prefeitura Municipal de Salvador e pelo senhor Jerry Andriane P. de Andrade.
                 Essa obra está composta por 49 imagens, com exatamente cinco mapas.
Dessas figuras, apenas dezenove refere-se às imagens femininas, sendo que, somente oito das
imagens são figuras étnicas. As imagens que aparecem apresentam a mulher sempre ligada ao
quotidiano turístico de Salvador (Baiana do acarajé), dando sempre a idéia de como é exótica
o sociedade da Bahia. Essa situação colocada no livro didático é bem esclarecida na obra de
Alberto Heráclito Ferreira Filho, Quem Pariu e Bateu, Que Balance! Mundos Femininos,
Maternidade e Pobreza, Salvador, 1890-1940, aonde ele vem problematizar a vivência das
baianas juntamente com seus meios de trabalhos. Para Heráclito, a participação das mulheres
negras e pobres da cidade de Salvador é definida da seguinte forma: “[...] a participação das
mulheres se fez vigorosa na luta pela sobrevivência em face de uma economia que não
oferecia alternativas formais de emprego” (FERREIRA, 2003, p.34).
                 Outras imagens que o livro didático traz do período colonial é a
escravização dura e forte das mulheres nuas, sendo castigadas em grandes troncos nos
pelourinhos espalhado pela velha capital baiana.
                 Uma imagem bem comum era o local de trabalho das escravas, as grandes
casas de engenho com toda sua arquitetara européia, acima de tudo com toda hierarquia
existente na qual todo trabalho recaia todo sobre as escravas. Esse trabalho ia desde limpar a
casa, fazer comida, jogar fora seus dejetos fisiológicos e outros tantos. Mas além dessas
mesmas escravas trabalharem o dia todo na grande casa, elas tinham o seu “trabalho” noturno,
que era a de servir ao dono da casa, além de seus visitantes e muitas vezes seus filhos e
parentes, sexualmente, o que acabava por mais ainda, desvalorizar as negras como um todo
dentro da sociedade brasileira. É por essa perversão praticada pelos donos de engenho no
período colonial, que hoje muitas domésticas na maioria delas negras são assediadas pelos
seus patrões, e muitas vezes espancadas quando negam aos seus desejos sexuais.
                  O livro seguinte é da Coleção Ainda Brincando, ele foi produzido pela
Editora de BRASIL S.A./ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL DO
LIVRO DIDATICO, 1ª Edição em 1987. Editora responsável, Joanita Nascimento Souza Neta
como é mais conhecido na imprensa, tem 76 anos, nasceu na Ilha de Marajó e trabalhou com
educadora.
                  O livro está dividido em três partes, e está ligado diretamente ao nascimento
das comunidades, construção dos municípios e as celebrações das datas comemorativas
nacionais. Em relação às figuras, todas elas foram catalogadas e escolhidas pelo Programa
Nacional do Livro Didático.
                  No livro tem exatamente noventa oito imagens com três mapas. Entre essas
figuras, somente quatorze representam à mulher, sendo seis delas, imagens étnicas. Nesta obra
pode-se perceber bem como a mulher é desvalorizada dentro da área do saber. No todo ainda
predomina a superioridade masculina promovendo assim o tão conhecido sexismo didático,
que é a tentativa de mostrar sempre a mulher em situações de fragilidade em relação ao
trabalho, e a qualquer coisa que ela possa disputar com o homem.
                  As mulheres referidas no livro didático analisado aparecem como tendo
somente duas profissões, a de ser mãe e de professora, isso porque todas as imagens
representadas estão na figura da mãe e da professora. Assim, a imagem da mulher está sempre
ligada a conteúdos educacionais e domésticos reforçando ainda mais as muitas idéias
conservadoras em relação à mulher. Já em relação à diferenciação das mulheres enquanto
negras e brancas era muito visível, as brancas sempre na zona urbana, pouquíssimas negras
nas cidades, elas eram sempre representadas nas grandes lavouras das zonas rurais, ao lado de
seus maridos e filhos independentemente de sua etnia.
                  Dando seguimento, a Coleção agora analisada é Quero Aprender, e ela foi
produzida pela Editora Ática, 2ª Edição, em 1988. Editora responsável, Marina Nascimento e
Souza, licenciada em História Social pela Universidade de São Paulo, professora com
experiência na rede publica e particular, no ensino de 1º, 2º e 3º graus.
                  O livro tem uma divisão de quatro partes, e assim ele faz uma análise da
história dos municípios e da população, as atividades naturais e econômicas existentes, os
meios de transportes utilizados dentro dos municípios, e finaliza fazendo uma análise de como
o município faz parte do Brasil. Diferentemente do livro anterior, as imagens desse foram
catalogadas pela própria Editora, que buscou em seu banco de dados todas as imagens
necessárias.
                   No livro existem 164 imagens, com 12 mapas. De todas essas imagens
somente 24 representam a mulher, sendo que só foram encontradas, oito imagens étnicas.
Aqui, a percepção que se tem da mulher como um ser ativo dentro da sociedade, é muito rara
e a busca de uma figura que ilustre o papel da mesma como construtora é mais difícil ainda,
isso porque, a percepção da mulher dentro do livro didático é de base familiar, a exemplo da
figura que espera o marido na volta do trabalho e a obrigação dos cuidados para com os
filhos. Mas é aqui, que percebo o quanto o negro é desvalorizado nos livros didáticos, não
pelas poucas imagens dele em relação às demais, é devido a ele está retratado sendo
humilhado rotineiramente, surrado além das várias outras situações nas quais o mesmo está
condicionado.




         Figura1: Escravos nos pelourinhos apanhando. . (http://1 .bp.blogspot.com/escravidao.jpg).


                   O livro seguinte é da Coleção Alegria de Saber, e ele foi produzido pela
Editora Scipione, 3ª Edição, em 1988. Editores responsáveis, Lucina Passos, Albani Fonseca e
Marta Chaves ambos educadores.
                   O livro didático é seqüenciado em três partes, dando início a sua análise
com os seguintes temas, comunidades urbanas, comunidades rural, pecuária e outras
atividades e por fim, meios de comunicação. Em relação às imagens, todas elas são de
exclusividade da Editora e retirada de arquivos privados.
O livro tem 114 imagens, com três mapas. Contabilizadas as imagens,
somente 19 delas referem-se à mulher, seis delas refere-se às imagens étnicas. Aqui como nos
demais livros, a presença da mulher continua exclusivamente no seio familiar. E quando ela é
homenageada, é por ser o que ela mais sabe fazer, “ser mãe”, ser professora e poucas vezes
enfermeira, não que essas profissões sejam indignas de serem praticadas pelas mulheres e
consequentemente serem mostradas, mas é que a mulher fez mais do que mostraram, lutou
mais do que escreveram, produziu mais do que foi publicado, e é por isso, que existem hoje os
diversos trabalhos voltados para mostrar o quanto mulher transformou as mais variadas
sociedades.
                 O quarto livro a ser analisado é da Coleção O Brasil em Estudos Sociais, e
ele foi produzido pela Editora do Brasil S/A, 1ª Edição, em 1982. Editores responsáveis,
Hamilton Gonçalves Matos e Paulo César de Alcântara, ambos educadores.
                 O livro está dividido em três blocos de estudo que se inicia pelas Regiões
brasileiras e sua ocupação, Conhecendo a Região Nordeste, e por último, as regiões
desenvolvidas do Sul e Sudeste. Todas as imagens foram retiradas da própria editora.
                 No livro tem 49 imagens, com 55 mapas. Em relação às imagens que se
referem à mulher, somente uma figura foi encontrada. Esse livro se distingue dos demais,
devido às pouquíssimas imagens que venham retratar a mulher.
                 A única mulher a ser representada é a baiana Maria Quitéria, que lutou na
Guerra de Independência da Bahia bravamente contra os saldados portugueses em 1823. Mas
as várias outras guerras que foram analisadas, juntamente com as muitas revoluções, será que
a mulher ficou inerte em todas as outras e até mesmo na própria Guerra de Independência da
Bahia, será que a única mulher a lutar foi Maria Quitéria não querendo tirar seu grande
trabalho, mas questionando a ausência da mulher como um braço forte que foi durante as
muitas guerras, batalhas e revoluções.
Figura 2: Maria Quitéria ( http://www.atarde.com.br/arquivos/2008.)


                  Dando continuidade aos trabalhos, o sexto livro a ser analisado é da Coleção
Aquarela, e ele foi produzido pela Editora Ática, 2ª Edição, em 1989. O Editor responsável é
D’Olim Marote, licenciado em Letras pela USP, professor de 1ª grau do Magistério, Oficial
do Estado de São Paulo, professor de Prática de Ensino de Línguas da Faculdade de
Educação, da USP, e professor de Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP.
                  O livro divide-se em três blocos, iniciando com a localização e construção
dos municípios, como o município é governado e seus tipos básicos de trabalho. Todas as
imagens foram retiradas da própria Editora Ática.
                  O livro tem 52 imagens, com oito mapas. De todas as imagens somente
nove das figuras representam a mulher, sendo apenas encontrada em quatro delas, traços
étnicos.
                  A partir do que foi contabilizado com esse livro, é notável a diferença
numérica. Mas, mais do que isso, é a diferença nos papéis entre homens e mulheres,
colocados no livro didático que chama a atenção.
                  As maiorias das imagens mostram as mulheres ligadas ao serviço da casa, e
principalmente, da família, nunca projetando a mulher como uma pessoa que é capaz de lutar
e de produzir a diferença no meio de trabalho no qual o homem se destaca como os setores
comerciais ou industriais. Percebendo essa situação fica claro como as relações poder estão
instituídas, concretizando mais ainda os estereótipos sexistas e androcentrico.
Figura 3: Mulher em seus trabalhos domésticos (http://www.ahw.com.br/anew/pia.jpg).


                   O penúltimo livro didático analisado é da Coleção Como é Fácil. Ele foi
produzido pela Editora Scipione, 1ª Edição, em 1989, tendo como Editores, Maria Emília
Correia e Mauro Galhardi, ambos educadores.
                   O livro está dividido em três partes, começando pela construção da família e
do município, zona rural e zona urbana, e finalizando com datas importantes para o Brasil.
Todas as imagens dos livros foram retiradas da própria Editora. No livro foram encontradas
151 imagens, com dois mapas contabilizando 66 imagens femininas, sendo encontradas 28
imagens étnicas.
                   As mulheres, como nos demais livros, são sempre representadas nos meios
familiares e educacionais, sendo o homem a personagem principal, e muitas vezes, única, das
transformações ocorridas no mundo, mas principalmente no Brasil.
                   Todo esse jeito de construir o principal recurso didático faz com que a
mulher tenha sempre seu lugar na sociedade cativo e privado, o trabalho doméstico,
juntamente todo com esse círculo fechado, no qual determinaram que fosse seu lugar. E
qualquer mudança que venha a ocorrer, irá ser tratada como uma transgressão para com a
sociedade que já está acostumada a conviver com esse tipo de relação.
                   Então foi a procura do seu verdadeiro lugar que o segundo sexo fez seus
movimentos sociais, acarretando para um dos maiores pensadores do nosso tempo Noberto
Bobbio, como a “mais importante revolução do século XX”. E Bobbio chama atenção ainda
mais: “Quero lembrar que não se trata aqui da chamada revolução feminista, com tantas
polêmicas e conotações ideológicas..., mas do seu planejamento estrutural, seria ela uma
revolução mais paciente e mais prudente, obscura talvez” (BOBBIO, 2008, p.669).
O ultimo livro didático a ser analisado, é da coleção Integrando o Aprender,
e ele foi produzido pela Editora Scipione, 2ª Edição 1989, tendo como Editores Maria
Eugênia e Luiz Cavalcante, ambos educadores.
                    O livro está dividido em três partes, iniciando pela construção das
comunidades, localização geográfica dos municípios, origem dos municípios e suas condições
climáticas. Em relação às imagens, todas elas foram retiradas da própria Editora. No livro
foram encontradas 55 imagens, com um mapa, sendo dessas imagens, somente 16 femininas e
cinco imagens étnicas.
                    Ele segue o padrão dos demais livros antes analisados, busca sempre
mostrar a mulher em situações cotidianas do lar, abordando sempre como a mulher é à base de
uma família, juntamente com todo aquele discurso androcentrico e sexista que existe nos
livros didáticos.
                    Então analisando de uma maneira geral, todas as coleções foram criadas
para tratar de assuntos que privilegiassem o homem, a exemplo da economia e da política,
possibilitando assim, que o mesmo fosse visto como o grande, e muitas vezes único
transformador do espaço em que vivemos. A última transformação que o mundo viveu foi
com a globalização, há um tempo, e o homem é muitas vezes o responsável por iniciar essa
grande mudança, que alcançou todas as áreas percorrendo desde a economia até o social.
                    E isso fica muito nítido quando os mesmos oito livros analisados mantêm
sua mesma linha de pensamento e apresentação. A problematização em torno das criações do
homem na sociedade é quase nula, as mulheres não aparecem em um só momento quando se
fala em construção social, política e econômica.
                    Todos os espaços públicos estão reservados para o primeiro sexo, já que o
segundo é supostamente “frágil”, e sua função já é clara para a sociedade. Na maioria das
vezes os livros, sejam eles, do período militar ou não, estão sempre com uma idéia pronta e
óbvia, no entanto, erradamente em relação á mulher.
                    Sem falar de uma situação tão grave quanto à ocultação dos seus feitos, é a
falta de representação das mulheres negras nos livros didáticos da década de 80. É de uma
falta de respeito tão grande com os assuntos analisados, sem falar de como eles são abordados
em sala de aula com suas imagens preconceituosas e muitas vezes deslocadas do tempo e do
espaço, só estando lá para ilustrar um determinado texto.
As situações dos povos negros e dos indígenas nos livros didáticos da
década analisada são muito mal abordadas, além deles servirem como meios de comunicação
para reafirmar os muitos estereótipos construídos desde o período colonial.




    Figura 4: Imagem dos índios ainda no período colonial. (http:// 1.bp.blogspot.com/escravidao/indios).




Conclusão
                       Terminada a análise dos oitos livros didáticos foram contabilizadas um
total de 732 imagens, 168 femininas e 65 representando os traços étnicos. Assim é através
desse tipo de supervalorização que nós percebemos quanto o nosso principal material escolar
é sexista, preconceituoso e acima de tudo machista. E esse processo desastroso que tínhamos
na década de oitenta, onde influenciava fortemente nossas crianças no momento de
aprendizagem.
                   As conseqüências desse sexismo impregnado no livro didático são das mais
variadas, que vão desde a construção de mentalidade altamente machista, à crença do próprio
homem como ser supremo no mundo no qual vivemos. E isso fica claro quando o Núcleo de
Estudos Interdisciplinares de Estudos sobre a Mulher o (NEIM), analisa como essas
conseqüências interferem na vida dos futuros homens e mulheres.

                          “Conseqüências que são das desigualdades entre os sexos, como já vimos, os
                          estereótipos, por sua vez, tornam-se agentes de discriminação entre sexos. Quanto
                          mais nova a criança, menos armada estará para resistir à influência dos estereótipos,
                          que a induzem a ver o outro sexo como atributos, qualidades ou defeitos
                          convencionais. Assim, crianças pequenas são levadas a atribuir qualidades míticas
                          aos meninos e a desvalorizar as meninas” (NEIM, 2007, pág. 25).

                   No entanto, o NEIM levanta uma questão bastante relevante, onde analisa
que as crianças não aprendem a serem sexistas somente com o livro didático, mas também
com todas as hierarquias que o sistema escolar impõe que vai desde a simples divisão de
papéis entre os profissionais da educação.
                 Isso tudo faz com que se construa dentro desse espaço, que deveria ser de
resolução e construção de problemas, em um espaço desigual, onde há um grande
desenvolvimento de ideologias, que busca a todo o momento uma suposta afirmação da
superioridade do homem.
                 E é pensando nessa distorção, na qual o livro didático esteve inserido na
década de 1980, que foi levantada essa discussão em cima das relações de gênero e uma breve
abordagem sobre raça. É necessário lembrar também, que todo trabalho foi feito com o intuito
de trazer à tona, toda desvalorização que alguns indivíduos sofreram durante muito tempo, e
não a tentativa de valorizar um em detrimento do outro, porque senão, estaria sendo feito o
mesmo processo no qual o livro didático esteve colocado. Tudo isso faz com que se construa
um no espaço escolar mais democrático, menos desigual e principalmente, sem afirmação da
superioridade de um sexo em relação ao outro.




REFERÊNCIA :


DEL PRIORE, Mary (org.). História das Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 2008.

FERREIRA, Filho Alberto Heráclito. Quem pariu e bateu, que balance!: mundos femininos,
maternidade e pobreza: Salvador, 1890-1940/ Salvador: CEB, 2003.

FONSECA, Thaís Nívia de Lima e. História & ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica,
2004.

Revista Brasileira de História - Órgão Oficial da Associação Nacional de História. São Paulo,
ANPUH, vol.24, nº. 48, jul. - dez 2004.

SARDA, Amparo Moreno. Em torno al androcentrismo em la historia. Cuadernos
inacabados. El arquétipo viril protagonista de la historia. Exercicios de lecturas no
andocentricas.Barcelona: La Sal. 1987. P17-52


SCOTT, Joan Wallach, Gênero: uma categoria útil para analise histórica. New York.
Columbia Universiy Press. 1989.
SECAD – Secretaria de Educação continuada, Alfabetização e Diversidade Ministério da
Educação.

Silva, Zélia Lopes da. (Org.) Cultura histórica em debate. São Paulo: ed. UNESP, 1995
(Seminários e debates).


ARTIGOS:


Eni de Mesquita Sâmara, Rachel Solht, Maria Izilda S. de Matos: Gênero em Debate.

Fabiana Bruce, Lúcia Falcão, Maria Thereza Didier: História e Ensino de História.

JOANA MARIA PEDRO, Historicizando o Gênero.

Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Estudo Sobre a Mulher: curso de especialização
metodologia e de pratica de ensino em gênero e outros temas transversais 2007.

RAFAELA DE ALMEIDA SANTOS, As perspectivas sobre o livro didático de História:
temas e perspectivas.



LIVROS DIDÁTICOS:

CORREIA, Maria Emília, GALHARDI Mauro. Como é Fácil, Scipione, 1ª Edição em 1989
(3ª série).

DIEZ, Albani Galo. Crescendo com os Estudos Sociais. F.T.D.1ª Edição em 1985 (3ª série).

EUGÊNIA, Maria, CAVALCANTE Luiz. Integrando o Aprender, Scipione, 2ª Edição 1989
(3ª série).

LUCINA, Passos, ALBANI Fonseca, MARTA Chaves. Alegria de Saber, Scipione, 3ª Edição
em 1988 (3ª série).
MAROTE, D’ Olim. Aquarela, Ática, 2ª Edição, em 1989 (3ª série).

MATOS, Hamilton Gonçalves, ALCÂNTARA, Paulo César de. O Brasil em Estudos Sociais,
Brasil S/A, 1ª Edição, em 1982 (3ª série).

SOUZA, Joanita de. Ainda Brincando. BRASIL S.A./ MINISTERIO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDATICO, 1ª Edição em 1987 (3ª série).
SOUZA, Marina Nascimento e. Quero Aprender, Ática, 2ª Edição em 1988 (3ª série).

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Representação da mulher no livro didático da 3ª série de histíoria da década de 1980

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV LICENCIATURA EM HISTÓRIA GRAZIELA SILVA DAS MERCÊS REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO LIVRO DIDÁTICO DA 3ª SÉRIE DE HISTÓRIA DA DÉCADA DE 1980. Conceição do Coité 2010
  • 2. GRAZIELA SILVA DAS MERCÊS REPRESENTAÇÃO DA MULHER NO LIVRO DIDÁTICO DA 3ª SÉRIE DE HISTÓRIA DA DÉCADA DE 1980. Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para obtenção do titulo de Licenciado em História, pelo Departamento de Educação, Campus XIV, da Universidade do Estado da Bahia. Orientadora: Zuleide Paiva Conceição do Coité 2010
  • 3. RESUMO Esse artigo tem como finalidade analisar a representação da mulher a partir do livro didático de História da década de 1980, trazendo a discussão de gênero, de Scott. Outro ponto também discutido é a discriminação sofrida pelas mulheres negras em meio ao principal recurso didático que deveria ser construído com base nas democracias, tanto raciais quanto sexuais, contribuindo para que as diferenças possam ser vistas como algo que constrói e não que discrimina. Palavras-chave: História – Historiografia – Gênero – PNLD – Livro didático de História ABSTRACT This article has as purpose to analyze the representation of the woman from the didactic book of History of the decade of 1980, bringing the quarrel of sort, of Scott. Another point also argued is the discrimination suffered for the black women in way to the main didactic resource that would have on the basis of to be constructed the democracies, racial how much in such a way sexual, contributing so that the differences can be seen as something that constructs and not that it discriminates.
  • 4. Introdução Este artigo tem como tema geral a representação da mulher no livro didático de história da 3ª série da década de 1980. Antes de qualquer coisa o meu interesse pelo tema partiu devida minha aproximação com professores da área em que minha pesquisa está incluída (gênero e educação). De uma maneira geral o objetivo desse trabalho é realmente mostrar como a mulher foi ocultada dentro do principal recurso didático que foi livro didático da década 1980. Mas para que todo esse processo fosse completado, foi necessária uma busca na história das mulheres desde os meados do século XIX até o século XX. Isso foi necessário para poder perceber que, mesmos a mulher com a sociedade contra as suas reivindicações, ela conseguiu construir seu lugar dentro das academias, e tudo isso tendo como base nas suas lutas e manifestações sociais. A partir daí pude analisar como as mulheres estavam representadas dento do livro didático, e quais eram os valores e os códigos sociais veiculados as imagens das mesmas, levando em conta principalmente como sua história estava escrita no livro didático. Todos esses pontos foram cruciais para o entendimento do panorama histórico que a mulher se encontrava no final do século XIX e início do XX. A escrita da história das mulheres no Brasil, assim como, em outros países teve relação direta com o movimento de mulheres e feministas. A partir daí, torna-se cada vez mais necessário, uma “politização” em relação à colocação da mulher na sociedade, e é em decorrência dos seus movimentos sociais, que essa tão sonhada oficialização é construída. Maria Izilda analisa como a política influenciou no dia-a-dia da mulher: “e como a descoberta do ser político levou a questionamentos sobre as transformações na sociedade e no funcionamento da família, o papel da disciplina das mulheres o significado dos fatos lutas e gestos do cotidiano...” (MATOS, 2005, p. 89). Todavia, o contexto da ditadura militar deu para esses movimentos no Brasil, uma configuração diferente daquela que se encontrava em outros países, a exemplo dos Estados Unidos da América e da França, grandes pólos de movimentos sociais. No entanto, se faz necessário lembrar, que foi exatamente no contexto da ditadura, que várias militantes do movimento de resistência, tiveram contato com o feminismo nas décadas de 1960 e 1970. Uma vez, que muitas delas foram exiladas por serem membros integrantes desses movimentos sociais, mas também, existiram aquelas que saíram do Brasil para completarem seus mestrados e doutorados, e assim tiveram contato com essas idéias. É dentro desse contexto,
  • 5. que assistimos no Brasil o chamado Feminismo de Segunda Onda, que teve como característica a criação de “grupos de reflexão”, formados apenas por mulheres, que no passado mantiveram contato com as mais diversas premissas partidárias, sendo que, muitas delas eram esquerdistas. De acordo com Joana Maria Pedro, “O movimento de mulheres e feministas da “Segunda Onda” constituiu uma identificação: de “mulher”, separada de “homem”, como ser universal. Elas estavam afirmando que eram diferentes dos homens, ao mesmo tempo que buscava a igualdade com eles”(PEDRO,2006,p.167). Dessa maneira, o que as feministas questionavam, era justamente que o universal em nossa sociedade, é masculino, e que elas não se sentiam incluídas quando eram nomeadas pelo ele. Assim, o que o movimento reivindicava, o fazia em nome da “mulher” e não do “homem”, mostrando que esse sujeito universal masculino não incluía as questões específicas da “mulher”. Mulher, Mulheres e Gênero Nesse contexto de reivindicações de um reconhecimento de outro sujeito, o feminino, a categoria Mulher se estabelece em oposição ao sujeito universal homem, categoria que era vista pelo movimento feminista como invisibilizadora das mulheres enquanto sujeitos da realidade. A partir dessas discussões e do uso da categoria Mulher, criam-se duas vertentes, as “separatistas”, que seguiam o grupo ligado a Luce Irigaray e Heléne Cixous, ambas ligadas às ideologias feministas, e as “igualitaristas”, seguidoras de Simone de Beauvoir pioneira com seu manifesto feminista, Segundo Sexo, no qual propõe novas bases para o relacionamento entre mulheres e homens. Na perspectiva “separatista”, era comum somente reunir mulheres em suas recorrentes reuniões para reafirmar sua identidade enquanto mulher, entendendo também que as pessoas possuidoras de um mesmo sexo, no caso o feminino, eram identificadas como “mulher”, e passavam a ser pensadas como submetidas ao sexo masculino, sendo, portanto, alvo da mesma forma de opressão. Outra maneira de promover essa luta contra a violenta submissão sofrida pela mulher de acordo com as separatistas é o de reafirmar que seria o sexo, no caso o genital que promoveria a diferença em relação aos homens, dando-lhe uma identidade para lutar contra as subordinações sofridas. Segundo Joana Maria Pedro, as “igualitaristas”, as “separatistas”, queriam a preconização da “feminização do mundo”, essa feminização proporcionaria a mulher, uma
  • 6. independência em relação ao que era proibido dentro do contexto da época, em relação ao político, econômico, mas principalmente do social. Enquanto as “separatistas” lutavam para afirmar suas premissas, que eram a de liberdade e acima de tudo, construção de uma identidade, as “igualitaristas” reivindicavam que as mulheres participassem em igualdade de condições com os homens na esfera pública. Com essa idéia, o movimento “igualitaristas”, ganhou diversas críticas, mas não tão severas, quanto à do movimento “separatistas”, onde acusou que estavam sendo feitas exigências, para que mulheres se transformassem em homens para entrarem nos espaços públicos destinados aos mesmos. Contra todo movimento “igualitaristas”, as separatistas afirmavam, que para a mulher ter poder, as mesmas tinham que colocar suas diferenças com igual valor aos dos homens, mas sem perder sua feminilidade. Desse modo, o uso da categoria “mulher”, sofria interpretações das mais diversas, dependendo da perspectiva utilizada. Mas foi nos Estados Unidos, que essa categoria foi mais criticada. Algumas estudiosas da área entendiam que essa categoria não atendia às especificidades dos diversos problemas das mulheres, sejam das negras, indígenas e as pobres trabalhadoras domésticas. As feministas reivindicavam a “diferença”, dentro da grande diferença existente entre as mulheres. “Assim, a categoria “mulher”, como a categoria “ homem”, não era suficiente para explicar a diversidade de femininos. Diante dessas questões, emergiu a categoria mulheres em substituição à categoria mulher no final da década de 70, com o objetivo de revelar que ao se falar das mulheres não se poderia fazê-lo no singular. Éramos plurais, éramos mulheres, com as mais diversas experiências e vivências. Todavia, vale ressaltar, que independentemente de usar a categoria “mulher” ou “mulheres”, a grande questão a que todas queriam responder, e que buscavam nos mais variados meios, seja ele acadêmico ou não, era o porquê das mulheres, em diferentes sociedades, serem submetidas à autoridade masculina, nas mais diversas formas e nos mais diferentes graus . Acrescentamos ainda, que apesar da contestação do uso da categoria mulher, não se pode negar a contribuição que essa categoria possibilitou para a elaboração de um elevado número de produções realizadas, sejam por historiadores, sociólogos, filósofos, antropólogos e tantas outras, sendo que, as pioneiras do século XX, Margareth Mead com sua análise em relação à diferença sexual na constituição dos papéis dentro das sociedades, e Simone de Beauvoir, usando a categoria “mulher” para discutir nos referenciais do
  • 7. existencialismo, a constituição da “mulher” como ser social, deixando de lado o fator biológico para se dedicar ao fator cultural, com sua célebre frase: “Não se nasce mulher, torna-se” (PEDRO, 2006, p. 171). E pensando especificamente na produção historiográfica, essas categorias, aliadas ao revisionismo pelo qual vinha passando a História desde a Escola dos Annales, na década de 20, e que se consolidou na década de 60 em diante, nas abordagens da Nova História e História social, onde as novas perspectivas de Marc Bloch como rever o passado a partir das indagações do presente, ampliação da noção de sujeito e a inclusão do cotidiano, se consolidaram como importantes perspectivas historiográficas, aliadas as pressões dos novos movimentos sociais, com os movimentos de mulheres e o movimento feminista, abriu-se uma importante brecha para pensar na História das mulheres, ou melhor, para narração da História das mulheres. A partir desse contexto, a mulher passa a ser percebida dentro das universidades, como um ser também responsável pela construção das sociedades, fugindo de certo modo da posição de invisibilidade ideológica que lhes deram há muito tempo. No entanto, mesmo com toda transformação ocorrida no intuito de atender e responder questões relacionadas aos anseios feministas, as categoria “mulheres”, não deram grandes passos em relação às reais mudanças que as mulheres buscavam. Paralelamente a isso, abri-se uma porta para um novo pensar, mais forte, mais incisivo, mais direto, que já estava se usando nos Estados Unidos e que abarcava desde os movimentos feministas, indo até as diferenças percebidas entre os sexos além das discussões sobre relações de poder. Essa nova categoria surge no Brasil trazendo tudo o que é novo, mas o que mais chama a atenção das feministas, é que ela analisa a mulher juntamente com o homem, traçando assim uma análise mais relacional. Segundo Maria Izilda, “o gênero chegou procurando dialogar com outras categorias históricas já existentes e que muitas vezes foi empregado de maneira incorreta nos muitos estudos” (MATOS, 2005, p.97). No Brasil isso foi mais visível quando a maioria dos estudiosos a partir de 1990, passa a ter como base a obra de Joan Wallach Scott, que tem como tema: “Gênero: uma categoria útil para análise histórica”, publicada no Brasil no final da década de 80. Assim, gênero ganhou dentro dos movimentos sociais de mulheres feministas, gays e lésbicas, uma grande relevância. Podemos então com isso perceber que a categoria “gênero”, não vai somente ser vinculada aos movimentos relacionados às mulheres, mas também para todos os
  • 8. movimentos que se baseavam na diferença entre os sexos nas relações de poder, e porque não dizer nas relações sociais, transformando-se com isso em uma categoria que abarcaria os movimentos que buscava uma identidade frente a uma sociedade masculinizada e conseqüentemente machista. Dessa forma Scott define gênero como, “tem duas partes e várias subpartes. Elas são ligadas entre si, mas deveriam ser analiticamente distintas. O núcleo essencial da definição baseia-se na conexão integral entre duas proposições: o gênero é um elemento construtivo de relações sociais, baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. As mudanças na organização das relações sociais correspondem sempre a mudanças nas representações de poder...” (SCOTT, 1989, p.14). A partir dessas novas teorias, a palavra gênero emerge em um grande movimento de efervescência epistemológica entre os pesquisadores sobre os mais variados temas. E é com essas novas práticas que a história das mulheres irá dar início a sua grande caminhada acadêmica, mostrando sua luta que há muito tempo foi abafada, e de certo modo incriminada pelas produções que construíram uma história eminentemente androcêntrica a qual Sarda entende como: “O homem como medida de todas as coisas. Enfoque de um estudo análise ou investigação a partir da perspectiva unicamente masculina, utilização posterior dos resultados válidos para a generalização dos indivíduos, homens e mulheres (...)” (SARDA, 1987, p.23). Livro Didático um Meio de Comunicação E se hoje, existe uma produção da História das Mulheres, ela ainda é produzida as margens de uma história universalizante, que reflete uma concepção de ciência que legitima o homem como sujeito universal e o espaço público como palco dos acontecimentos importantes da história. O cotidiano e o espaço privado são colocados como espaços de pouca importância, lugares dos homens e mulheres comuns. Nesse contexto, o livro didático reflete a história das grandes narrativas e dos feitos dos homens, assim como, a história do político e do econômico. Vale ressaltar, que essa produção historiográfica, que cunhou um sujeito universal e elegeu determinados fatos históricos para serem narrados, reflete a concepção positivista de ciência que se estabeleceu no século XIX e boa parte do século XX. No Brasil, esse pensamento positivista, marcou fortemente o processo de implantação da República.
  • 9. As várias reformas curriculares que passaram a ser realizadas no final do século XIX passaram a defender um currículo mais científico, mais técnico e prático, adequado aos anseios de modernização que se propunha um novo país republicano. Tudo isso, para que se concretizassem os projetos de estruturação e desenvolvimento do Novo Estado nos moldes de uma concepção positivista que pregava a idéia de Ordem e progresso. Ou seja, organizar para progredir. Dessa forma, o ensino de história nessa época, obedeceu ao discurso republicano que reforçou as idéias positivistas, cabendo somente à escola e o ensino, denunciarem os atrasos impostos pela monarquia e principalmente criar uma mentalidade nos indivíduos de progresso e ordem. Respondendo aos objetivos de novo governo, de evidenciar os “grandes heróis da república brasileira”, que lutaram para transformar o Brasil em um lugar de novas perspectivas, criando um modelo de cidadão com sentimento nacionalista, trabalhador e acima de tudo patriótico. Esse pensamento acabou por posicionar o nosso ensino de história, mais especificamente, em um grande currículo que somente iria priorizar o homem e suas importantes colaborações para a construção da nossa nação. Assim, Selva Guimarães Fonseca, analisa a educação de História como: “afirmação das identidades nacionais e a legitimação dos poderes políticos fizessem com que a História ocupasse posição central no conjunto de disciplinas escolares, pois cabía-lhe apresentar a criança e os jovens o passado glorioso da nação e os feitos dos grandes vultos da pátria” (FONSECA, 2004, p.24). E esses objetivos criados pelo estado se refletiam no livro didático, que era uma produção que alcançava uma significativa parcela da população, devido aos muitos programas criados pelo próprio governo, um desses programas era uma Comissão Nacional de Livros Didáticos na década de 60, cuja atribuição era o estabelecimento de regras para a produção, compra e utilização do livro didático. E é dessa maneira, que o livro torna-se mais que um recurso pedagógico dentro da escola, torna-se um meio de comunicação do estado com futuros homens e mulheres do Brasil. Todavia, essa função que o livro didático ganhou, não só afetou o nosso país, mas também, a maioria dos países americanos e europeus, após os processos de independência. Alain Choppin descreve bem o que o livro didático representa para um país: “os livros não são somente ferramentas pedagógicas, mas também suportes de seleções culturais variáveis, verdades a serem transmitidas às gerações mais jovens, além de meios de comunicações cuja eficácia repousa na importância de suas formas de visão. Nessa perspectiva, os livros, para além de se constituírem de vetores
  • 10. ideológicos, são fortes abundantes, diversificadas e, ao mesmo tempo, completas, visto que cada obra constitui uma unidade própria e coerente, com princípios, meio e fim...” (ANPUH, 2004, p.99). Considerando todos esses pontos que o livro didático traz consigo, ele torna- se o principal recurso didático dentro de uma escola, e um dos objetos mais importantes para a construção do saber do aluno dentro do espaço escolar. Devido ao reconhecimento dessa importância do livro didático como uma ferramenta ideológica, na época da Ditadura Militar, o governo investe fortemente na produção e distribuição desse recurso pedagógico. Isso porque, era necessário levar os ideais de ordem e progresso para todos, e o livro didático cumpria essa função. Todavia, não era qualquer livro que poderia ser distribuído nesse período, apenas aqueles que passassem pelo controle da censura. A ausência da democracia deixaria marcas indeléveis no sistema público de ensino no Brasil. Cabe destacar também as muitas frustrações entre o setor editorial-cultural e o Estado autoritário, os quais envolveram relações de caráter político-ideológico, cuja repercussão sobre o conteúdo do livro didático foi marcante, sobretudo na perspectiva de civismo presente na grande maioria das obras do período. É percebendo essa importância do livro didático, que a partir da década de 1980, são feitas algumas tímidas ações no âmbito da discussão acerca dos problemas presentes nos livros didáticos distribuídos em todo território brasileiro. Esse movimento de renovação do livro didático coincidiu com as transformações feitas no programa de História em estados do sudeste, sendo eles, os primeiros a serem beneficiados com as modificações na área da educação com as propostas do marxismo em substituição do positivismo. Todas essas transformações estavam intrinsecamente ligadas ao processo de redemocratização que o Brasil estava passando, já que vivemos durante um longo tempo sob ordens de governos ditatoriais. Em 1985 é que criado o Programa Nacional do Livro Didático o PNLD, o qual fica responsável por analisar todo conteúdo designado ao livro, além da distribuição gratuita de todos os livros didáticos para os alunos das escolas publicas do ensino fundamental de todo país. Outra modificação com esse programa, é que a partir dele a criação do livro didático vai ser mais criteriosa e democrática em relação ao âmbito político e de criação, devido à participação do próprio professor no momento da construção e também na hora da escolha da obra.
  • 11. Esse programa aprimorou critérios que foram imprescindíveis para a construção das obras didáticas, a exemplo dos vários olhares que o livro didático deve ter. As leituras críticas que possibilitaram aos alunos a terem mais que uma leitura padrão dentro do assunto discutido, e tudo com a própria evolução do PNLD, vinculada com as transformações dentro das várias áreas da educação. Mas ainda com todas essas transformações ocorridas dentro do mundo educacional brasileiro ligado ao livro didático, não houve muitas mudanças em relação à própria concepção de história que o livro didático projetava antes da década de 1980. Os fatos que anteriormente eram privilegiados ainda continuam a serem os mesmos, os grandes heróis, homens fortes que lutaram por tudo que temos, e que sem eles não seríamos hoje um país liberto dos portugueses, e principalmente não conquistaríamos a tão sonhada República. O fato é que as mudanças que se observam na historiografia brasileira, ainda são sentidas de forma muito tímida nos livros didáticos, se concentrando mais nos meios acadêmicos, do que no nível dos manuais de história. Assim se continua a privilegiar temas “importantes” ligados a determinados períodos da história brasileira como as épocas do Império, Regime Monárquico, República, a Política de Vargas (1930-1945), seguindo o Regime Militar, e por fim, a Democratização, enfatizando sempre o repetitivo, o cíclico, proporcionando uma história sem muitas preocupações com o indivído, com o ser humano e com sua contribuição dentro das varias revoluções e lutas que o Brasil tem orgulho de dizer que fez. Desse modo uma das disciplinas mais especiais fica na maioria das vezes muito pragmática e cheia de conceitos formados pelos “grandes vencedores” da história do Brasil. Não esquecendo também da grande historia global que é reduzida a algumas guerras e revoluções promovidas por alguns paises com seus heróis. É preciso ressaltar também, a possibilidade em pensar na renovação dos grupos de autores, que são responsáveis pela criação dos livros didáticos, isso porque, a metodologia empregada pelo autor para expor os conteúdos no livro didático de história, interfere diretamente na interpretação do aluno sobre os fatos, e são justamente esses “fatos”, e a falta de outros que são os maiores problemas. Analisando esse impasse percebemos que o papel dos autores no livro didático, não é apenas de espectadores do tempo, são agentes que contribuem para a construção das futuras sociedades.
  • 12. E é nessa construção que Alain Choppin observa que: “após ter sido negligenciado por historiadores, os livros didáticos vêm despertando um grande interesse de alguns anos para cá” (SANTOS, 2007, p.4). E é nesse interesse, que várias autoras e autores vêm buscar nas várias lacunas deixadas por muitos anos, as respostas, para que de fato nós tenhamos uma visão mais abrangente da grande criação que é o livro didático de história. E dentro dessas várias lacunas que foram deixadas no livro didático, no período analisado, um dos problemas existentes, a ausência da mulher como alguém que participa ativamente do espaço público. Segundo Ana Lucia Goulart de Faria, autora de várias pesquisas sobre a ausência da mulher no livro didático: “A mulher em geral é discriminada no livro didático”. Sua função é ser mãe e cuidar da casa. A mulher não aparece como um ser humano normal que trabalha para o progresso. [...] Poucas vezes a mulher não aparece como mãe e daí ela tem alguma profissão. Mas ela é citada em listas de profissões, no feminino. “Trata-se sempre daquelas profissões tipicamente femininas: enfermeiras, bordadeiras, bibliotecárias, professoras, datilógrafa, costureira, conzinheira, diretora de escola, babá” (FARIA 1991, p.41-42). Toda essa visão que os livros didáticos trazem para as crianças é fruto da própria sociedade, que trata a mulher como uma simples peça dentro da grande engrenagem de construção que é o mundo. Trata-se de uma sociedade que se auto-pensou e que se auto- conduziu em termos do trabalho e do conhecimento racional, ou seja, um contexto em que a razão e a ciência dominante estariam na base do processo do desenvolvimento modernizante, articulando os elementos favoráveis e discriminando os seus “entraves” históricos que ficam a cargo das crianças, velhos, negros, índios e principalmente das mulheres. Segundo Faria, a mulher é sempre valorizada no livro didático na sua função de mãe na medida em que é apresentada como reprodutora da força de trabalho, enquanto procriadora, e como mantenedora do lar. O trabalho doméstico, por sua vez, não é sequer questionado enquanto salário indireto numa relação de exploração, sendo valorizada apenas moralmente como função natural da mulher, assim como o amor. É comum também nos textos didáticos, a mulher quando trabalha fora de casa, aparecer na figura da empregada doméstica, e nas raras vezes em que ela é citada como alguém que trabalha fora, é exercendo a profissão de professora que tem certo preço e um prestígio dentro do contexto social. Segundo professora Maria de Lourdes Chagas Deiró Nossela, uma pesquisadora também da área educacional, a mulher é vista no livro didático como:
  • 13. “uma pessoa boa, dedicada, considera seus alunos como seus filhos, sendo também amada por eles como uma outra mãe [...] a imagem da professora [...] é a de uma pessoa bondosa, mas também autoritária e repressiva [...] já descrição da figura do professor é diferente da que se faz da professora, pois não se diz que ele é bom, carinhoso. Aqui também ele é o ‘chefe’, que exerce a desinteressada missão de educar” (NOSELLA, 1979, p.64-65). Todos esses estereótipos criados pela sociedade e assimilados pelos livros didáticos são altamente prejudiciais para o crescimento da mulher enquanto pessoa, que necessita de autoconfiança dentro desse contexto androcêntrico e preconceituoso, onde a mesma é vista como um mero agente passivo dentro desse espaço de construção. E como é de conhecimento de todos, na medida em que o estereótipo é uma generalização abusiva e acima de tudo sofre uma simplificação extremada, ele pode ser considerado como um fenômeno negativo, implicando numa distorção da realidade. E é exatamente esse processo que atinge as mulheres, a simplificação de seus esforços, a redução dos melhores trabalhos dentro da sociedade, e principalmente a não valorização de seus movimentos sociais que ajudaram no crescimento da mentalidade do povo brasileiro em plena Ditadura Militar. E para perceber melhor esta distinção dentro do livro didático juntamente com todos seus estereótipos, foram selecionados oito livros que vão desde o início da década analisada, que ainda estava com o governo ditatorial até ao final da década de 80, que já tinha reestruturado a democracia. Já a escolha da terceira série, foi devido a ser uma série inicial, e que vem formar e moldar as mentes das crianças que serão as futuras mulheres e os futuros homens do Brasil. Discussão Sobre os Livros Didáticos Para iniciar a análise dos livros didáticos, utilizarei somente as ilustrações referentes às mulheres, os homens, meninos e meninas que possam evidenciar implícita ou explicitamente o sexismo. No entanto, também salientamos que, apesar de não ser o vértice do trabalho iremos perceber como a presença racial/étnica está apresentada nos livros didáticos. A primeira obra a ser analisada é da coleção Crescendo com os Estudos Sociais, e ela foi produzida pela Editora F.T.D.1ª Edição, em 1985. Editora responsável: Albani Galo Diez, Licenciada em Pedagogia, pela Universidade Católica do Salvador (BA), com especialização em Supervisão Educacional. É técnica em Estudos Sociais e Supervisão Educacional, pela Divisão de Aperfeiçoamento do Professor, pelo antigo PABAEE, de Belo Horizonte (MG).
  • 14. É funcionária aposentada da Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Bahia, atuando inicialmente, como professora primária, e, posteriormente, como técnica em Estudos Sociais, participando, inclusive, do projeto Pólo Nordeste. Freqüentou, ainda, um curso intensivo em Currículo e Avaliação, patrocinado pelo Ministério de Educação e Cultura, no Rio de Janeiro (RJ). Dedica-se atualmente à pesquisa e elaboração de livros didáticos e outros trabalhos educacionais. O livro está dividido em três partes, ligado a região da Bahia, onde mostra a cidade Salvador de 1985, 1500, e finalizando, como o homem avançou para o interior da Bahia, em especial. Em relação às figuras, todas elas foram cedidas pela BAHIATURSA, EMATERBA, Micucci Fotografias, Assessoria do Palácio Estado da Bahia, CEPLAC, Prefeitura Municipal de Salvador e pelo senhor Jerry Andriane P. de Andrade. Essa obra está composta por 49 imagens, com exatamente cinco mapas. Dessas figuras, apenas dezenove refere-se às imagens femininas, sendo que, somente oito das imagens são figuras étnicas. As imagens que aparecem apresentam a mulher sempre ligada ao quotidiano turístico de Salvador (Baiana do acarajé), dando sempre a idéia de como é exótica o sociedade da Bahia. Essa situação colocada no livro didático é bem esclarecida na obra de Alberto Heráclito Ferreira Filho, Quem Pariu e Bateu, Que Balance! Mundos Femininos, Maternidade e Pobreza, Salvador, 1890-1940, aonde ele vem problematizar a vivência das baianas juntamente com seus meios de trabalhos. Para Heráclito, a participação das mulheres negras e pobres da cidade de Salvador é definida da seguinte forma: “[...] a participação das mulheres se fez vigorosa na luta pela sobrevivência em face de uma economia que não oferecia alternativas formais de emprego” (FERREIRA, 2003, p.34). Outras imagens que o livro didático traz do período colonial é a escravização dura e forte das mulheres nuas, sendo castigadas em grandes troncos nos pelourinhos espalhado pela velha capital baiana. Uma imagem bem comum era o local de trabalho das escravas, as grandes casas de engenho com toda sua arquitetara européia, acima de tudo com toda hierarquia existente na qual todo trabalho recaia todo sobre as escravas. Esse trabalho ia desde limpar a casa, fazer comida, jogar fora seus dejetos fisiológicos e outros tantos. Mas além dessas mesmas escravas trabalharem o dia todo na grande casa, elas tinham o seu “trabalho” noturno, que era a de servir ao dono da casa, além de seus visitantes e muitas vezes seus filhos e parentes, sexualmente, o que acabava por mais ainda, desvalorizar as negras como um todo dentro da sociedade brasileira. É por essa perversão praticada pelos donos de engenho no
  • 15. período colonial, que hoje muitas domésticas na maioria delas negras são assediadas pelos seus patrões, e muitas vezes espancadas quando negam aos seus desejos sexuais. O livro seguinte é da Coleção Ainda Brincando, ele foi produzido pela Editora de BRASIL S.A./ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDATICO, 1ª Edição em 1987. Editora responsável, Joanita Nascimento Souza Neta como é mais conhecido na imprensa, tem 76 anos, nasceu na Ilha de Marajó e trabalhou com educadora. O livro está dividido em três partes, e está ligado diretamente ao nascimento das comunidades, construção dos municípios e as celebrações das datas comemorativas nacionais. Em relação às figuras, todas elas foram catalogadas e escolhidas pelo Programa Nacional do Livro Didático. No livro tem exatamente noventa oito imagens com três mapas. Entre essas figuras, somente quatorze representam à mulher, sendo seis delas, imagens étnicas. Nesta obra pode-se perceber bem como a mulher é desvalorizada dentro da área do saber. No todo ainda predomina a superioridade masculina promovendo assim o tão conhecido sexismo didático, que é a tentativa de mostrar sempre a mulher em situações de fragilidade em relação ao trabalho, e a qualquer coisa que ela possa disputar com o homem. As mulheres referidas no livro didático analisado aparecem como tendo somente duas profissões, a de ser mãe e de professora, isso porque todas as imagens representadas estão na figura da mãe e da professora. Assim, a imagem da mulher está sempre ligada a conteúdos educacionais e domésticos reforçando ainda mais as muitas idéias conservadoras em relação à mulher. Já em relação à diferenciação das mulheres enquanto negras e brancas era muito visível, as brancas sempre na zona urbana, pouquíssimas negras nas cidades, elas eram sempre representadas nas grandes lavouras das zonas rurais, ao lado de seus maridos e filhos independentemente de sua etnia. Dando seguimento, a Coleção agora analisada é Quero Aprender, e ela foi produzida pela Editora Ática, 2ª Edição, em 1988. Editora responsável, Marina Nascimento e Souza, licenciada em História Social pela Universidade de São Paulo, professora com experiência na rede publica e particular, no ensino de 1º, 2º e 3º graus. O livro tem uma divisão de quatro partes, e assim ele faz uma análise da história dos municípios e da população, as atividades naturais e econômicas existentes, os meios de transportes utilizados dentro dos municípios, e finaliza fazendo uma análise de como o município faz parte do Brasil. Diferentemente do livro anterior, as imagens desse foram
  • 16. catalogadas pela própria Editora, que buscou em seu banco de dados todas as imagens necessárias. No livro existem 164 imagens, com 12 mapas. De todas essas imagens somente 24 representam a mulher, sendo que só foram encontradas, oito imagens étnicas. Aqui, a percepção que se tem da mulher como um ser ativo dentro da sociedade, é muito rara e a busca de uma figura que ilustre o papel da mesma como construtora é mais difícil ainda, isso porque, a percepção da mulher dentro do livro didático é de base familiar, a exemplo da figura que espera o marido na volta do trabalho e a obrigação dos cuidados para com os filhos. Mas é aqui, que percebo o quanto o negro é desvalorizado nos livros didáticos, não pelas poucas imagens dele em relação às demais, é devido a ele está retratado sendo humilhado rotineiramente, surrado além das várias outras situações nas quais o mesmo está condicionado. Figura1: Escravos nos pelourinhos apanhando. . (http://1 .bp.blogspot.com/escravidao.jpg). O livro seguinte é da Coleção Alegria de Saber, e ele foi produzido pela Editora Scipione, 3ª Edição, em 1988. Editores responsáveis, Lucina Passos, Albani Fonseca e Marta Chaves ambos educadores. O livro didático é seqüenciado em três partes, dando início a sua análise com os seguintes temas, comunidades urbanas, comunidades rural, pecuária e outras atividades e por fim, meios de comunicação. Em relação às imagens, todas elas são de exclusividade da Editora e retirada de arquivos privados.
  • 17. O livro tem 114 imagens, com três mapas. Contabilizadas as imagens, somente 19 delas referem-se à mulher, seis delas refere-se às imagens étnicas. Aqui como nos demais livros, a presença da mulher continua exclusivamente no seio familiar. E quando ela é homenageada, é por ser o que ela mais sabe fazer, “ser mãe”, ser professora e poucas vezes enfermeira, não que essas profissões sejam indignas de serem praticadas pelas mulheres e consequentemente serem mostradas, mas é que a mulher fez mais do que mostraram, lutou mais do que escreveram, produziu mais do que foi publicado, e é por isso, que existem hoje os diversos trabalhos voltados para mostrar o quanto mulher transformou as mais variadas sociedades. O quarto livro a ser analisado é da Coleção O Brasil em Estudos Sociais, e ele foi produzido pela Editora do Brasil S/A, 1ª Edição, em 1982. Editores responsáveis, Hamilton Gonçalves Matos e Paulo César de Alcântara, ambos educadores. O livro está dividido em três blocos de estudo que se inicia pelas Regiões brasileiras e sua ocupação, Conhecendo a Região Nordeste, e por último, as regiões desenvolvidas do Sul e Sudeste. Todas as imagens foram retiradas da própria editora. No livro tem 49 imagens, com 55 mapas. Em relação às imagens que se referem à mulher, somente uma figura foi encontrada. Esse livro se distingue dos demais, devido às pouquíssimas imagens que venham retratar a mulher. A única mulher a ser representada é a baiana Maria Quitéria, que lutou na Guerra de Independência da Bahia bravamente contra os saldados portugueses em 1823. Mas as várias outras guerras que foram analisadas, juntamente com as muitas revoluções, será que a mulher ficou inerte em todas as outras e até mesmo na própria Guerra de Independência da Bahia, será que a única mulher a lutar foi Maria Quitéria não querendo tirar seu grande trabalho, mas questionando a ausência da mulher como um braço forte que foi durante as muitas guerras, batalhas e revoluções.
  • 18. Figura 2: Maria Quitéria ( http://www.atarde.com.br/arquivos/2008.) Dando continuidade aos trabalhos, o sexto livro a ser analisado é da Coleção Aquarela, e ele foi produzido pela Editora Ática, 2ª Edição, em 1989. O Editor responsável é D’Olim Marote, licenciado em Letras pela USP, professor de 1ª grau do Magistério, Oficial do Estado de São Paulo, professor de Prática de Ensino de Línguas da Faculdade de Educação, da USP, e professor de Lingüística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O livro divide-se em três blocos, iniciando com a localização e construção dos municípios, como o município é governado e seus tipos básicos de trabalho. Todas as imagens foram retiradas da própria Editora Ática. O livro tem 52 imagens, com oito mapas. De todas as imagens somente nove das figuras representam a mulher, sendo apenas encontrada em quatro delas, traços étnicos. A partir do que foi contabilizado com esse livro, é notável a diferença numérica. Mas, mais do que isso, é a diferença nos papéis entre homens e mulheres, colocados no livro didático que chama a atenção. As maiorias das imagens mostram as mulheres ligadas ao serviço da casa, e principalmente, da família, nunca projetando a mulher como uma pessoa que é capaz de lutar e de produzir a diferença no meio de trabalho no qual o homem se destaca como os setores comerciais ou industriais. Percebendo essa situação fica claro como as relações poder estão instituídas, concretizando mais ainda os estereótipos sexistas e androcentrico.
  • 19. Figura 3: Mulher em seus trabalhos domésticos (http://www.ahw.com.br/anew/pia.jpg). O penúltimo livro didático analisado é da Coleção Como é Fácil. Ele foi produzido pela Editora Scipione, 1ª Edição, em 1989, tendo como Editores, Maria Emília Correia e Mauro Galhardi, ambos educadores. O livro está dividido em três partes, começando pela construção da família e do município, zona rural e zona urbana, e finalizando com datas importantes para o Brasil. Todas as imagens dos livros foram retiradas da própria Editora. No livro foram encontradas 151 imagens, com dois mapas contabilizando 66 imagens femininas, sendo encontradas 28 imagens étnicas. As mulheres, como nos demais livros, são sempre representadas nos meios familiares e educacionais, sendo o homem a personagem principal, e muitas vezes, única, das transformações ocorridas no mundo, mas principalmente no Brasil. Todo esse jeito de construir o principal recurso didático faz com que a mulher tenha sempre seu lugar na sociedade cativo e privado, o trabalho doméstico, juntamente todo com esse círculo fechado, no qual determinaram que fosse seu lugar. E qualquer mudança que venha a ocorrer, irá ser tratada como uma transgressão para com a sociedade que já está acostumada a conviver com esse tipo de relação. Então foi a procura do seu verdadeiro lugar que o segundo sexo fez seus movimentos sociais, acarretando para um dos maiores pensadores do nosso tempo Noberto Bobbio, como a “mais importante revolução do século XX”. E Bobbio chama atenção ainda mais: “Quero lembrar que não se trata aqui da chamada revolução feminista, com tantas polêmicas e conotações ideológicas..., mas do seu planejamento estrutural, seria ela uma revolução mais paciente e mais prudente, obscura talvez” (BOBBIO, 2008, p.669).
  • 20. O ultimo livro didático a ser analisado, é da coleção Integrando o Aprender, e ele foi produzido pela Editora Scipione, 2ª Edição 1989, tendo como Editores Maria Eugênia e Luiz Cavalcante, ambos educadores. O livro está dividido em três partes, iniciando pela construção das comunidades, localização geográfica dos municípios, origem dos municípios e suas condições climáticas. Em relação às imagens, todas elas foram retiradas da própria Editora. No livro foram encontradas 55 imagens, com um mapa, sendo dessas imagens, somente 16 femininas e cinco imagens étnicas. Ele segue o padrão dos demais livros antes analisados, busca sempre mostrar a mulher em situações cotidianas do lar, abordando sempre como a mulher é à base de uma família, juntamente com todo aquele discurso androcentrico e sexista que existe nos livros didáticos. Então analisando de uma maneira geral, todas as coleções foram criadas para tratar de assuntos que privilegiassem o homem, a exemplo da economia e da política, possibilitando assim, que o mesmo fosse visto como o grande, e muitas vezes único transformador do espaço em que vivemos. A última transformação que o mundo viveu foi com a globalização, há um tempo, e o homem é muitas vezes o responsável por iniciar essa grande mudança, que alcançou todas as áreas percorrendo desde a economia até o social. E isso fica muito nítido quando os mesmos oito livros analisados mantêm sua mesma linha de pensamento e apresentação. A problematização em torno das criações do homem na sociedade é quase nula, as mulheres não aparecem em um só momento quando se fala em construção social, política e econômica. Todos os espaços públicos estão reservados para o primeiro sexo, já que o segundo é supostamente “frágil”, e sua função já é clara para a sociedade. Na maioria das vezes os livros, sejam eles, do período militar ou não, estão sempre com uma idéia pronta e óbvia, no entanto, erradamente em relação á mulher. Sem falar de uma situação tão grave quanto à ocultação dos seus feitos, é a falta de representação das mulheres negras nos livros didáticos da década de 80. É de uma falta de respeito tão grande com os assuntos analisados, sem falar de como eles são abordados em sala de aula com suas imagens preconceituosas e muitas vezes deslocadas do tempo e do espaço, só estando lá para ilustrar um determinado texto.
  • 21. As situações dos povos negros e dos indígenas nos livros didáticos da década analisada são muito mal abordadas, além deles servirem como meios de comunicação para reafirmar os muitos estereótipos construídos desde o período colonial. Figura 4: Imagem dos índios ainda no período colonial. (http:// 1.bp.blogspot.com/escravidao/indios). Conclusão Terminada a análise dos oitos livros didáticos foram contabilizadas um total de 732 imagens, 168 femininas e 65 representando os traços étnicos. Assim é através desse tipo de supervalorização que nós percebemos quanto o nosso principal material escolar é sexista, preconceituoso e acima de tudo machista. E esse processo desastroso que tínhamos na década de oitenta, onde influenciava fortemente nossas crianças no momento de aprendizagem. As conseqüências desse sexismo impregnado no livro didático são das mais variadas, que vão desde a construção de mentalidade altamente machista, à crença do próprio homem como ser supremo no mundo no qual vivemos. E isso fica claro quando o Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Estudos sobre a Mulher o (NEIM), analisa como essas conseqüências interferem na vida dos futuros homens e mulheres. “Conseqüências que são das desigualdades entre os sexos, como já vimos, os estereótipos, por sua vez, tornam-se agentes de discriminação entre sexos. Quanto mais nova a criança, menos armada estará para resistir à influência dos estereótipos, que a induzem a ver o outro sexo como atributos, qualidades ou defeitos convencionais. Assim, crianças pequenas são levadas a atribuir qualidades míticas aos meninos e a desvalorizar as meninas” (NEIM, 2007, pág. 25). No entanto, o NEIM levanta uma questão bastante relevante, onde analisa que as crianças não aprendem a serem sexistas somente com o livro didático, mas também
  • 22. com todas as hierarquias que o sistema escolar impõe que vai desde a simples divisão de papéis entre os profissionais da educação. Isso tudo faz com que se construa dentro desse espaço, que deveria ser de resolução e construção de problemas, em um espaço desigual, onde há um grande desenvolvimento de ideologias, que busca a todo o momento uma suposta afirmação da superioridade do homem. E é pensando nessa distorção, na qual o livro didático esteve inserido na década de 1980, que foi levantada essa discussão em cima das relações de gênero e uma breve abordagem sobre raça. É necessário lembrar também, que todo trabalho foi feito com o intuito de trazer à tona, toda desvalorização que alguns indivíduos sofreram durante muito tempo, e não a tentativa de valorizar um em detrimento do outro, porque senão, estaria sendo feito o mesmo processo no qual o livro didático esteve colocado. Tudo isso faz com que se construa um no espaço escolar mais democrático, menos desigual e principalmente, sem afirmação da superioridade de um sexo em relação ao outro. REFERÊNCIA : DEL PRIORE, Mary (org.). História das Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 2008. FERREIRA, Filho Alberto Heráclito. Quem pariu e bateu, que balance!: mundos femininos, maternidade e pobreza: Salvador, 1890-1940/ Salvador: CEB, 2003. FONSECA, Thaís Nívia de Lima e. História & ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. Revista Brasileira de História - Órgão Oficial da Associação Nacional de História. São Paulo, ANPUH, vol.24, nº. 48, jul. - dez 2004. SARDA, Amparo Moreno. Em torno al androcentrismo em la historia. Cuadernos inacabados. El arquétipo viril protagonista de la historia. Exercicios de lecturas no andocentricas.Barcelona: La Sal. 1987. P17-52 SCOTT, Joan Wallach, Gênero: uma categoria útil para analise histórica. New York. Columbia Universiy Press. 1989.
  • 23. SECAD – Secretaria de Educação continuada, Alfabetização e Diversidade Ministério da Educação. Silva, Zélia Lopes da. (Org.) Cultura histórica em debate. São Paulo: ed. UNESP, 1995 (Seminários e debates). ARTIGOS: Eni de Mesquita Sâmara, Rachel Solht, Maria Izilda S. de Matos: Gênero em Debate. Fabiana Bruce, Lúcia Falcão, Maria Thereza Didier: História e Ensino de História. JOANA MARIA PEDRO, Historicizando o Gênero. Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Estudo Sobre a Mulher: curso de especialização metodologia e de pratica de ensino em gênero e outros temas transversais 2007. RAFAELA DE ALMEIDA SANTOS, As perspectivas sobre o livro didático de História: temas e perspectivas. LIVROS DIDÁTICOS: CORREIA, Maria Emília, GALHARDI Mauro. Como é Fácil, Scipione, 1ª Edição em 1989 (3ª série). DIEZ, Albani Galo. Crescendo com os Estudos Sociais. F.T.D.1ª Edição em 1985 (3ª série). EUGÊNIA, Maria, CAVALCANTE Luiz. Integrando o Aprender, Scipione, 2ª Edição 1989 (3ª série). LUCINA, Passos, ALBANI Fonseca, MARTA Chaves. Alegria de Saber, Scipione, 3ª Edição em 1988 (3ª série). MAROTE, D’ Olim. Aquarela, Ática, 2ª Edição, em 1989 (3ª série). MATOS, Hamilton Gonçalves, ALCÂNTARA, Paulo César de. O Brasil em Estudos Sociais, Brasil S/A, 1ª Edição, em 1982 (3ª série). SOUZA, Joanita de. Ainda Brincando. BRASIL S.A./ MINISTERIO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDATICO, 1ª Edição em 1987 (3ª série).
  • 24. SOUZA, Marina Nascimento e. Quero Aprender, Ática, 2ª Edição em 1988 (3ª série).