Este documento fornece um resumo biográfico e contextual da vida e obra dos poetas portugueses Eça de Queirós e Cesário Verde. Detalha os principais eventos na vida de Cesário Verde e descreve a Lisboa do final do século XIX, época em que ambos viveram e escreveram. Explica como a poesia de Cesário Verde retratava a vida quotidiana e contrastes sociais da cidade, renovando a linguagem poética portuguesa.
4. Cesário Verde O poeta do quotidiano E TANGEM-ME EXCITADOS, SACUDIDOS, O TACTO, A VISTA, O OUVIDO, O GOSTO, O OLFACTO...
Cesário 1855 –1886
5. -1855: A 23 de Fevereiro, num prédio da Rua da Padaria (junto à Sé de Lisboa), nasce José Joaquim CESÁRIO VERDE, filho de Maria da Piedade dos Santos Verde e de José Anastácio Verde.
–1857: Peste em Lisboa; a família Verde refugia-se na sua quinta de Linda-a-Pastora.
–1865: Os Verde passam a morar na Rua do Salitre (Lisboa). Cesário conclui a instrução primária e começa a estudar inglês e francês.
–1872: Cesário começa a trabalhar na loja de ferragens do pai, na Rua dos Fanqueiros. Com 19 anos, tuberculosa, morre Maria Julia, irmã de Cesário.
Unicamente, a minha doce irmã, Como uma ténue e imaculada rosa, Dava a nota galante e melindrosaNa trabalheira rústica, aldeã.
E foi num ano pródigo, excelente, Cuja amargura nada sei que adoce, Que nós perdemos essa flor precoce, Que cresceu e morreu rapidamente!
Ai daqueles que nascem neste caos, E, sendo fracos, sejam generosos! As doenças assaltam os bondososE -custa a crer -deixam viver os maus!
A Biografia
6. –1873: Cesário matricula-se no Curso Superior de Letras, onde conhece e se torna grande amigo do escritor Silva Pinto. Publica os seus primeiros poemas no Diário de Notícias. –1874: Publica mais poemas no Diário de Notícias(Lisboa) e nos jornais do Porto Diário da Tardee A Tribuna. Ramalho Ortigão crava-lhe uma Farpaa propósito do poema Esplêndida. Boémia revolucionária no “Martinho”. –1875: Cesário conhece e faz amizade com Macedo Papança (futuro conde de Monsaraz). Continua a publicar poemas no Mosaico(Coimbra), n’A Tribunae n’O Porto. Começa a dirigir a loja da Rua dos Fanqueiros e a quinta de Linda-a-Pastora.
7. –1876: Desenvolve negócios. Frequenta a casa de Papança, na Travessa da Assunção, onde se cruza com Guerra Junqueiro, Gomes Leal e João de Deus. Os Verde mudam-se para a Rua das Trinas.
–1877: Volta a colaborar no Diário de Notícias. Queixa-se dos primeiros sintomas de tuberculose.
–1878: Passa a viver em Linda-a-Pastora. Nos jornais publica Noitada, Manhãs Brumosas, Em Petiz.
–1879: Publica Cristalizaçõesno primeiro número da Revista de Coimbra. É atacado pela republicana Angelina Vidal n’A Tribuna do Povoe pelo monárquicoDiário Ilustrado
–1880: Publica O Sentimento dum Ocidentalno número do Jornal de Viagens(Porto) dedicado ao tricentenário de Camões. Os Verde exportam maçãs para Inglaterra, Alemanha e Brasil.
–1881: Cesário participa no “Grupo do Leão” e convive com Abel Botelho, Alberto de Oliveira, Fialho de Almeida, Gualdino Gomes e com os pintores José Malhoa, Silva Porto, Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro.
8. –1882: Morre, tuberculoso, Joaquim Tomás, irmão de Cesário.
–1883: Cesário viaja para França, numa tentativa malograda de exportar vinhos portugueses.
–1884: Publica Nós. Deixa de frequentar os meios literários. Activa negócios, produz, compra e exporta frutas. Recolhe-se a Linda-a- Pastora.
–1885: Agrava-se o seu estado de saúde mas regressa a Lisboa e continua a trabalhar na loja da Rua dos Fanqueiros.
–1886 (31 anos): Extremamente doente, instala-se em Caneças. Vai depois para casa de um amigo, no Lumiar (às portas de Lisboa), onde vem a morrer a 19 de Julho.
-Curo-me? Sim, talvez. Mas como ficou eu? Um cangalho, um canastrão, um grande cesto roto, entra-me a chuva, entra-me o vento no corpo escangalhado...
-Queres alguma coisa?
-Não quero nada. Deixa-me dormir.
São as últimas palavras do poeta.
–1887: Silva Pinto edita O Livro de Cesário Verde.
9. A época –Lisboa do final de séc. XIX
. As pessoas do campo rumavam para as grandes cidades, nomeadamente Lisboa, na tentativa de melhorar as condições de vida. O que provocou o crescimento da cidade. Estes homens ocupavam-se de trabalhos pesados, eram estivadores, pedreiros…
. Os laços com o campo e os hábitos rurais permaneciam fortes e a cidade parecia asfixiante aos novos habitantes.
. Lisboa tinha os primeiros candeeiros a gás (1848) e chegavam também ao Chiado os primeiros candeeiros eléctricos (1878)
. Grande parte das ruas eram de terra, malcheirosas e escuras. A muitas das vielas e escadinhas a civilização não chegara.
. Nos bairros antigos a higiene era deplorável, havia animais domésticos e as casas estavam cheias de parasitas.
. A rede de água não chegava a todas as casas.
. Os contrastes entre ricos e pobres eram enormes.
. No centro da cidade entre portais e vãos de escada, amontoavam-se cegos estropiados, crianças abandonadas e velhos paralíticos.
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10. . Os albergues nocturnos abarrotavam de gente suja e esfarrapada.
. Os trabalhadores ganhavam salários irrisórios e estavam sempre à beira do desemprego.
. A sua ementa era insuficiente o que sustenta as altas taxas de mortalidade de Lisboa e Porto. A tuberculose e as pneumonias eram as doenças mais frequentes.
. As condições de vida eram atrozes: sem condições de trabalho, sem dignidade, sem segurança…
. Foi-se generalizando a ideia de que o Estado tinha de intervir na defesa dos mais desfavorecidos.
11.
12. A obra
. A recepção dos poemas de Cesário Verde publicados na Imprensa foi péssima
. Os leitores estavam habituados ao sentimentalismo romântico e detestaram aqueles versos que traziam para a poesia a realidade quotidiana da cidade e do campo, através de uma linguagem que lhes parecia pouco poética e demasiado prosaica.
. Poeta do quotidiano e do banal, inebriado pela cor, prendeu-se ao imediato da natureza luminosa e às pessoas recortadas na paisagem. Deve-se-lhe a renovação impressionista da linguagem poética, depois prosseguida pelo movimento modernista.
. Ele fornece-nos fotografias verbais que são verdadeiras imagens da época: as ruas, a iluminação, o gás, os quartéis, as tipóias e a fauna humana: militares e peixeiras, padeiros e dentistas.
. Transparecem também as simpatias e antipatias ideológicas daquela época
13. Cidade de contrastes : a cidade carregando o peso aristocrático do passado, ou a cidade dos novos bairros da jovem burguesia, ou ainda a “outra cidade”, a dos bairros de trabalhadores com origem camponesa.
O poeta deambula, desvendando para si e para o leitor os bairros pobres que circundam o centro cosmopolita da cidade.
. São ainda descritas personagens que se situam entre um e outro mundo: o criado, caixeiros, lojistas e a “actrizita”
. Em Cesário “ver é conhecer”, é descobrir o que se esconde atrás das aparências, daí a percepção acutilante e minuciosa da cidade, revelando todas as zonas mais sombrias do retrato impressionista que faz da cidade.
. Toda esta construção realista tem por detrás uma consciência social e uma inteligência que filtra as sensações.
Este “eu” cosmopolita conhece/vê a cidade e vê-se a si no espelho que ela é.
A poesia nasceria da impressão que o “fora” deixa no “dentro” do artista.
14. . O sujeito poético projecta-se nas coisas exteriores com o peso da sua vida interior, a fim de apreender a imagem fugaz das coisas, em perpétuo dinamismo.
. A dicotomia cidade/campo
A nível pessoal a cidade significa a ausência, a impossibilidade ou a perversão do amor e o campo a sua expressão idílica
A cidade significa opressão e o campo a liberdade. Assim o poeta assume o campo como uma realidade a ser descrita: Um campo de que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante e com os quais o poeta se identifica
A mulher
. Dois tipos de mulher: a mulher esplêndida, madura, destrutiva associada à cidade e ao Norte; e a jovem simples, terna e vulnerável, associada ao campo