SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
Alberto Caeiro
“O guardador de Rebanhos”
(Poema I)
“Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem por que ama, nem o que é amar...”
CAEIRO, Alberto
Alberto Caeiro
 Criado por Fernando Pessoa em
8 de Março de 1914.
 Segundo Pessoa:
◦ nasceu em Lisboa (1889);
◦ morreu tuberculoso em 1915; (26
anos)
◦ viveu quase toda a sua vida no
campo;
◦ só teve educação primária e não
teve profissão;
◦ escreve por inspiração (fazer
poesia é uma atitude involuntária,
espontânea)
 Filosofia de Caeiro:
◦ é anti-religião;
◦ é anti-metafísica;
◦ é anti-filosofia;
Porque vive no presente e não
quer saber do passado nem do
destino.
 Caeiro consegue atingir a paz e a felicidade ao recusar o pensamento
(“pensar é estar doente dos olhos”), pois quando se pensa o mundo fica
incerto e sem pensar seriamos todos felizes. Então Caeiro não é atingido
pela dor de pensar.
 É o criador do sensacionismo, pois vive das sensações e sente sem pensar,
não procurando assim qualquer sentido para a vida ou o universo, porque
lhe basta aquilo que vê e sente em cada momento.
 Para Caeiro o “único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido
oculto nenhum” e “as coisas não têm significado, têm existência”, e a sua
existência é o seu próprio significado.
 Caeiro tem uma postura objetiva do mundo, aceitando-o como ele é e com
alegria ingénua e contemplação, sem refletir sobre tal.
 A verdade absoluta para
Caeiro é existência
material das coisas
principalmente da
Natureza, e para ele
existia uma divindade no
mundo.
 Caeiro aceitava o
presente sem questionar
sobre o futuro ou pensar
sobre o passado, vivendo
assim de maneira calma e
de maneira natural.
 Devido a maneira como
vive tudo o que vê é uma
eterna novidade.
 Ao submeter o pensar ao sentir,
permite-lhe:
◦ viver sem dor;
◦ envelhecer sem angústia e morrer
sem desespero;
◦ não procurar encontrar sentido
para a vida e para as coisas que
lhe rodeiam;
◦ sentir sem pensar;
◦ ser um ser uno (não
fragmentado);
Alberto Caeiro – O mestre
 Caeiro é considerado o Mestre de Fernando Pessoa e dos outros
Heterónimos, pois:
◦ Recusa do pensamento: Elimina assim a dor de pensar e alcança a felicidade;
◦ Sensacionismo: Ao substituir a “doença” pensamento pelas sensações objetivas,
mostra que nada existe para além do que é percetível pelos sentidos;
◦ Aceitação serena do mundo e da realidade tal qual eles são: As coisas são o que
são, não têm significados ocultos (são a sua aparência) e o poeta aceita-as sem
as pensar/questionar, visto que "pensar é não compreender“
◦ Comunhão com a Natureza: Submete-se às leis naturais e não pensa sobre os
acontecimentos naturais, nem os nega, por isso não existe significados ocultos na
Natureza;
◦ Olhar ingénuo sobre o mundo: Aceita as ideias de vida e de morte sem refletir;
◦ Neopaganismo: Adota uma visão pagã da existência.
“O guardador de Rebanhos”
 Os poemas de “O Guardador de Rebanhos”, segundo Pessoa, foram
escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem
interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exactamente a
busca fundamental de Alberto Caeiro: completa naturalidade.
 Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”,
que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a
qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de
comunhão com a natureza.
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.
Estrofe: Explicação:
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
• O sujeito poético tem em comum com
um pastor a sua Alma, logo é um pastor
por metáfora que estabelece uma
relação de harmonia com a natureza e
anda sem rumo definido observando o
que o rodeia (simboliza a solidão do
pensamento completivo.
• Encontra-se triste pois no final do dia
sente dificuldade em contemplar a
natureza.
• Comparações presente nos vv.2-3 ; v.9;
vv.12-13
• Personificação da natureza vv.5,7-8
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem dar por isso.
• É natural e justo que sinta tristeza
quando o pensamento invade a alma daí
ser identificada com o sossego. Isto
mostra que o sujeito poético aceita o
real, sem ilusões.
Estrofe: Explicação:
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são
contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
• Como os pensamentos aparecem
ruidosamente e livres de simplicidade
existe um desprezo pelo pensamento,
de modo a que se atinga a paz e a
felicidade.
• Não se lamenta que saiba que os seus
pensamentos sejam contentes, pois se
não soubesse seria feliz na mesma.
• É paradoxalmente “contente” e “triste”
e a tristeza advém-lhe do pensar.
• Os pensamentos são felizes e ao saber
que usa os pensamento, os seus
sentimentos ficam tristes.
• Comparação presente no vv.19-20
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove
mais.
• Comparação entre a dificuldade de
andar a chuva e a dificuldade de ser
feliz quando pensamos.
Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.
• Não tem ambições nem desejos (porque
implica o pensamento), admitindo que
estar sozinho é estar com as suas
ideias, num estado de autorreflexão.
Recursos Estilísticos:
 Metáfora:
◦ Ele é um pastor que guarda o seu rebanho, ele escreve os versos num “papel” que
é o seu “pensamento” e faz isso olhando para o seu “rebanho” e vê os seus
“pensamentos” olhando para estes e vê o seu “rebanho”, donde se conclui que o
rebanho é os seus pensamentos, e as ovelhas são as suas ideias . E está aqui
presente um quiasmo, ou seja, um cruzamento simétrico de rebanho -
pensamento, pensamento – rebanho.
 Paradoxo:
◦ O tema da poesia são as sensações, e para Caeiro verbalizar as suas sensações,
tem de pensar, ou seja, para escrever necessita de pensar. Mas Caeiro afirma
que não pensa, pois assim não atinge a felicidade.
 Hipálage:
◦ Caso não pensasse os seus versos não teriam nada de tristeza, seriam apenas
“alegres e contentes”, mas quem é “alegre e contente” ao não pensar é o sujeito
poético, não são os versos que são “alegres e contentes”
Marcas Formais:
 O tempo verbal predominante é o presente e vive sem pensar nem no
passado nem no futuro, e existe uma presença do gerúndio (“olhando”,
“vendo”, etc) para expor o fluir das sensações, sugeridas pelos verbos
sensitivos;
 A linguagem é simples e objetiva;
 Existe irregularidade estrófica e métrica;
 Simplicidade sintática;
 Pobreza estilística.
Traços Ideológicos neste
poema:
 Caeiro apresenta-se como pastor, como o poeta da Natureza e do olhar,
de olhos ingénuos sempre abertos para as coisas (vv. 3-6).
 Caeiro apresenta-se como o anti-metafísico, negando a utilidade ou o
valor do pensamento (vv. 19-25, 26).

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"MiguelavRodrigues
 
características temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo
características temáticas de Fernando Pessoa - ortónimocaracterísticas temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo
características temáticas de Fernando Pessoa - ortónimoDina Baptista
 
Fernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da InfânciaFernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da InfânciaSamuel Neves
 
Um mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadosoUm mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadosoHelena Coutinho
 
Estrutura mensagem
Estrutura mensagemEstrutura mensagem
Estrutura mensagemameliapadrao
 
Miguel Torga - Poemas
Miguel Torga - PoemasMiguel Torga - Poemas
Miguel Torga - PoemasAna Tapadas
 
Mensagem - D. Sebastião Rei de Portugal
Mensagem - D. Sebastião Rei de PortugalMensagem - D. Sebastião Rei de Portugal
Mensagem - D. Sebastião Rei de PortugalMaria Teixiera
 
"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa
"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa
"Quinto Império" - Mensagem de Fernando PessoaFilipaFonseca
 
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana SofiaCesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana SofiaJoana Azevedo
 
Resumos de Português: Camões lírico
Resumos de Português: Camões líricoResumos de Português: Camões lírico
Resumos de Português: Camões líricoRaffaella Ergün
 
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa OrtónimoOxana Marian
 

Mais procurados (20)

Poemas de Alberto Caeiro
Poemas de Alberto CaeiroPoemas de Alberto Caeiro
Poemas de Alberto Caeiro
 
Autopsicografia e Isto
Autopsicografia e IstoAutopsicografia e Isto
Autopsicografia e Isto
 
"Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade""Não sei se é sonhe, se realidade"
"Não sei se é sonhe, se realidade"
 
características temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo
características temáticas de Fernando Pessoa - ortónimocaracterísticas temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo
características temáticas de Fernando Pessoa - ortónimo
 
Fernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da InfânciaFernando Pessoa Nostalgia da Infância
Fernando Pessoa Nostalgia da Infância
 
Um mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadosoUm mover de olhos brando e piadoso
Um mover de olhos brando e piadoso
 
Estrutura mensagem
Estrutura mensagemEstrutura mensagem
Estrutura mensagem
 
Miguel Torga - Poemas
Miguel Torga - PoemasMiguel Torga - Poemas
Miguel Torga - Poemas
 
Mensagem - D. Sebastião Rei de Portugal
Mensagem - D. Sebastião Rei de PortugalMensagem - D. Sebastião Rei de Portugal
Mensagem - D. Sebastião Rei de Portugal
 
áLvaro de campos
áLvaro de camposáLvaro de campos
áLvaro de campos
 
A fragmentação do eu
A fragmentação do euA fragmentação do eu
A fragmentação do eu
 
Ceifeira
CeifeiraCeifeira
Ceifeira
 
"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa
"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa
"Quinto Império" - Mensagem de Fernando Pessoa
 
Nevoeiro
Nevoeiro   Nevoeiro
Nevoeiro
 
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana SofiaCesario Verde   Ave Marias   Ana Catarina E Ana Sofia
Cesario Verde Ave Marias Ana Catarina E Ana Sofia
 
Resumos de Português: Camões lírico
Resumos de Português: Camões líricoResumos de Português: Camões lírico
Resumos de Português: Camões lírico
 
Ricardo Reis
Ricardo ReisRicardo Reis
Ricardo Reis
 
Antero de Quental.docx
Antero de Quental.docxAntero de Quental.docx
Antero de Quental.docx
 
Amor de perdição
Amor de perdiçãoAmor de perdição
Amor de perdição
 
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo
 

Semelhante a Alberto Caeiro - poema I do guardador de rebanhos

“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto CaeiroAna Beatriz
 
Poesia Heterônima de Alberto Caiero
 Poesia Heterônima de Alberto Caiero Poesia Heterônima de Alberto Caiero
Poesia Heterônima de Alberto CaieroLindolfo Teixeira
 
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análiseAlberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análiseAnabela Fernandes
 
Fernando Pessoa Ficcoes Do Interludio
Fernando Pessoa Ficcoes Do InterludioFernando Pessoa Ficcoes Do Interludio
Fernando Pessoa Ficcoes Do Interludioguestfd29b755
 
Síntese programa12º
Síntese programa12ºSíntese programa12º
Síntese programa12ºMª Galvão
 
Fernando_Pessoa_ele-mesmo.ppt
Fernando_Pessoa_ele-mesmo.pptFernando_Pessoa_ele-mesmo.ppt
Fernando_Pessoa_ele-mesmo.pptWilliamVieira65
 
Alberto Caeiro - Temática Amor
Alberto Caeiro - Temática AmorAlberto Caeiro - Temática Amor
Alberto Caeiro - Temática AmorTânia Patrícia
 
Aprendendon A Olhar Com Alberto Caeiro
Aprendendon A Olhar Com Alberto CaeiroAprendendon A Olhar Com Alberto Caeiro
Aprendendon A Olhar Com Alberto CaeiroEspacoinovarte
 
Fernando Pessoa
Fernando PessoaFernando Pessoa
Fernando PessoaNaisha Br
 
O guardador de rebanhos
O guardador de rebanhosO guardador de rebanhos
O guardador de rebanhoseuequesei
 
COM SOM! Fernando Pessoa
COM SOM!  Fernando PessoaCOM SOM!  Fernando Pessoa
COM SOM! Fernando PessoaNaisha Br
 
Abrindo Os Olhos Sso
Abrindo Os Olhos SsoAbrindo Os Olhos Sso
Abrindo Os Olhos Ssoguestd59813
 
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/PoéticoFernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/PoéticoAlexandra Canané
 
Jésus gonçalves e as poesias
Jésus gonçalves e as poesiasJésus gonçalves e as poesias
Jésus gonçalves e as poesiasDalila Melo
 
1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro
1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro
1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiroguest71f8245
 

Semelhante a Alberto Caeiro - poema I do guardador de rebanhos (20)

Alberto Caeiro
Alberto CaeiroAlberto Caeiro
Alberto Caeiro
 
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
“Eu nunca guardei rebanhos”-Alberto Caeiro
 
Poesia Heterônima de Alberto Caiero
 Poesia Heterônima de Alberto Caiero Poesia Heterônima de Alberto Caiero
Poesia Heterônima de Alberto Caiero
 
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análiseAlberto caeiro   eu nunca guardei rebanhos- análise
Alberto caeiro eu nunca guardei rebanhos- análise
 
106
106106
106
 
Fernando Pessoa Ficcoes Do Interludio
Fernando Pessoa Ficcoes Do InterludioFernando Pessoa Ficcoes Do Interludio
Fernando Pessoa Ficcoes Do Interludio
 
Síntese programa12º
Síntese programa12ºSíntese programa12º
Síntese programa12º
 
Fernando_Pessoa_ele-mesmo.ppt
Fernando_Pessoa_ele-mesmo.pptFernando_Pessoa_ele-mesmo.ppt
Fernando_Pessoa_ele-mesmo.ppt
 
Alberto Caeiro - Temática Amor
Alberto Caeiro - Temática AmorAlberto Caeiro - Temática Amor
Alberto Caeiro - Temática Amor
 
Aprendendon A Olhar Com Alberto Caeiro
Aprendendon A Olhar Com Alberto CaeiroAprendendon A Olhar Com Alberto Caeiro
Aprendendon A Olhar Com Alberto Caeiro
 
Alberto Caeiro
Alberto CaeiroAlberto Caeiro
Alberto Caeiro
 
Fernando Pessoa
Fernando PessoaFernando Pessoa
Fernando Pessoa
 
O guardador de rebanhos
O guardador de rebanhosO guardador de rebanhos
O guardador de rebanhos
 
18
1818
18
 
COM SOM! Fernando Pessoa
COM SOM!  Fernando PessoaCOM SOM!  Fernando Pessoa
COM SOM! Fernando Pessoa
 
PINTURAS E POESIAS
PINTURAS E POESIASPINTURAS E POESIAS
PINTURAS E POESIAS
 
Abrindo Os Olhos Sso
Abrindo Os Olhos SsoAbrindo Os Olhos Sso
Abrindo Os Olhos Sso
 
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/PoéticoFernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
Fernando Pessoa - Fingimento Artístico/Poético
 
Jésus gonçalves e as poesias
Jésus gonçalves e as poesiasJésus gonçalves e as poesias
Jésus gonçalves e as poesias
 
1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro
1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro
1 Aprendendo A Olhar Com Alberto Caeiro
 

Último

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaaulasgege
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.keislayyovera123
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfEyshilaKelly1
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptxthaisamaral9365923
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.Susana Stoffel
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Regência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdfRegência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdfmirandadudu08
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSlides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSilvana Silva
 

Último (20)

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologiaAula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
Aula - 1º Ano - Émile Durkheim - Um dos clássicos da sociologia
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
Família de palavras.ppt com exemplos e exercícios interativos.
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Regência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdfRegência Nominal e Verbal português .pdf
Regência Nominal e Verbal português .pdf
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSlides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
 

Alberto Caeiro - poema I do guardador de rebanhos

  • 1. Alberto Caeiro “O guardador de Rebanhos” (Poema I)
  • 2. “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é. Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem por que ama, nem o que é amar...” CAEIRO, Alberto
  • 3. Alberto Caeiro  Criado por Fernando Pessoa em 8 de Março de 1914.  Segundo Pessoa: ◦ nasceu em Lisboa (1889); ◦ morreu tuberculoso em 1915; (26 anos) ◦ viveu quase toda a sua vida no campo; ◦ só teve educação primária e não teve profissão; ◦ escreve por inspiração (fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea)  Filosofia de Caeiro: ◦ é anti-religião; ◦ é anti-metafísica; ◦ é anti-filosofia; Porque vive no presente e não quer saber do passado nem do destino.
  • 4.  Caeiro consegue atingir a paz e a felicidade ao recusar o pensamento (“pensar é estar doente dos olhos”), pois quando se pensa o mundo fica incerto e sem pensar seriamos todos felizes. Então Caeiro não é atingido pela dor de pensar.  É o criador do sensacionismo, pois vive das sensações e sente sem pensar, não procurando assim qualquer sentido para a vida ou o universo, porque lhe basta aquilo que vê e sente em cada momento.  Para Caeiro o “único sentido oculto das coisas / é elas não terem sentido oculto nenhum” e “as coisas não têm significado, têm existência”, e a sua existência é o seu próprio significado.  Caeiro tem uma postura objetiva do mundo, aceitando-o como ele é e com alegria ingénua e contemplação, sem refletir sobre tal.
  • 5.  A verdade absoluta para Caeiro é existência material das coisas principalmente da Natureza, e para ele existia uma divindade no mundo.  Caeiro aceitava o presente sem questionar sobre o futuro ou pensar sobre o passado, vivendo assim de maneira calma e de maneira natural.  Devido a maneira como vive tudo o que vê é uma eterna novidade.  Ao submeter o pensar ao sentir, permite-lhe: ◦ viver sem dor; ◦ envelhecer sem angústia e morrer sem desespero; ◦ não procurar encontrar sentido para a vida e para as coisas que lhe rodeiam; ◦ sentir sem pensar; ◦ ser um ser uno (não fragmentado);
  • 6. Alberto Caeiro – O mestre  Caeiro é considerado o Mestre de Fernando Pessoa e dos outros Heterónimos, pois: ◦ Recusa do pensamento: Elimina assim a dor de pensar e alcança a felicidade; ◦ Sensacionismo: Ao substituir a “doença” pensamento pelas sensações objetivas, mostra que nada existe para além do que é percetível pelos sentidos; ◦ Aceitação serena do mundo e da realidade tal qual eles são: As coisas são o que são, não têm significados ocultos (são a sua aparência) e o poeta aceita-as sem as pensar/questionar, visto que "pensar é não compreender“ ◦ Comunhão com a Natureza: Submete-se às leis naturais e não pensa sobre os acontecimentos naturais, nem os nega, por isso não existe significados ocultos na Natureza; ◦ Olhar ingénuo sobre o mundo: Aceita as ideias de vida e de morte sem refletir; ◦ Neopaganismo: Adota uma visão pagã da existência.
  • 7. “O guardador de Rebanhos”  Os poemas de “O Guardador de Rebanhos”, segundo Pessoa, foram escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exactamente a busca fundamental de Alberto Caeiro: completa naturalidade.  Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.
  • 8. Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem dar por isso. Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes. Só tenho pena de saber que eles são contentes, Porque, se o não soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. Não tenho ambições nem desejos. Ser poeta não é ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho.
  • 9. Estrofe: Explicação: Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. • O sujeito poético tem em comum com um pastor a sua Alma, logo é um pastor por metáfora que estabelece uma relação de harmonia com a natureza e anda sem rumo definido observando o que o rodeia (simboliza a solidão do pensamento completivo. • Encontra-se triste pois no final do dia sente dificuldade em contemplar a natureza. • Comparações presente nos vv.2-3 ; v.9; vv.12-13 • Personificação da natureza vv.5,7-8 Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem dar por isso. • É natural e justo que sinta tristeza quando o pensamento invade a alma daí ser identificada com o sossego. Isto mostra que o sujeito poético aceita o real, sem ilusões.
  • 10. Estrofe: Explicação: Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes. Só tenho pena de saber que eles são contentes, Porque, se o não soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. • Como os pensamentos aparecem ruidosamente e livres de simplicidade existe um desprezo pelo pensamento, de modo a que se atinga a paz e a felicidade. • Não se lamenta que saiba que os seus pensamentos sejam contentes, pois se não soubesse seria feliz na mesma. • É paradoxalmente “contente” e “triste” e a tristeza advém-lhe do pensar. • Os pensamentos são felizes e ao saber que usa os pensamento, os seus sentimentos ficam tristes. • Comparação presente no vv.19-20 Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. • Comparação entre a dificuldade de andar a chuva e a dificuldade de ser feliz quando pensamos. Não tenho ambições nem desejos. Ser poeta não é ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho. • Não tem ambições nem desejos (porque implica o pensamento), admitindo que estar sozinho é estar com as suas ideias, num estado de autorreflexão.
  • 11. Recursos Estilísticos:  Metáfora: ◦ Ele é um pastor que guarda o seu rebanho, ele escreve os versos num “papel” que é o seu “pensamento” e faz isso olhando para o seu “rebanho” e vê os seus “pensamentos” olhando para estes e vê o seu “rebanho”, donde se conclui que o rebanho é os seus pensamentos, e as ovelhas são as suas ideias . E está aqui presente um quiasmo, ou seja, um cruzamento simétrico de rebanho - pensamento, pensamento – rebanho.  Paradoxo: ◦ O tema da poesia são as sensações, e para Caeiro verbalizar as suas sensações, tem de pensar, ou seja, para escrever necessita de pensar. Mas Caeiro afirma que não pensa, pois assim não atinge a felicidade.  Hipálage: ◦ Caso não pensasse os seus versos não teriam nada de tristeza, seriam apenas “alegres e contentes”, mas quem é “alegre e contente” ao não pensar é o sujeito poético, não são os versos que são “alegres e contentes”
  • 12. Marcas Formais:  O tempo verbal predominante é o presente e vive sem pensar nem no passado nem no futuro, e existe uma presença do gerúndio (“olhando”, “vendo”, etc) para expor o fluir das sensações, sugeridas pelos verbos sensitivos;  A linguagem é simples e objetiva;  Existe irregularidade estrófica e métrica;  Simplicidade sintática;  Pobreza estilística.
  • 13. Traços Ideológicos neste poema:  Caeiro apresenta-se como pastor, como o poeta da Natureza e do olhar, de olhos ingénuos sempre abertos para as coisas (vv. 3-6).  Caeiro apresenta-se como o anti-metafísico, negando a utilidade ou o valor do pensamento (vv. 19-25, 26).