2. O REALISMO
análise psicológica
Estudam-se as motivações que impulsionam as personagens.
análise psicológica Tome-se como exemplo a aproximação que Palha faz de Rubião
em Quincas Borba.
Machado de Assis estuda detidamente os mecanismos de
tipificação social ascensão social do II Império. Veja-se, por exemplo, o conto
“Teoria do medalhão”.
Através da descrição detalhada de objetos, personagens e
verossimilhança costumes obtém-se um efeito de real, que visa a trazer o leitor
para a cena.
Ceticismo e niilismo pontuam a obra de Machado de Assis,
pessimismo como se observa na metáfora das batatas, da qual se
depreende que viver é ser devorado.
3. O REALISMO
análise psicológica
o corpus
burguesia fluminense fins do século XIX
doenças da alma
adultério falsas amizades dissimulação
interesse financeiro arrivismo social ostentação de aparências
arrivismo social
as personagens planejam e executam um projeto de ascensão social
4. O ENREDO
quincas borba
no presente da enunciação, Rubião se recorda da sua vida pregressa [de professor a capitalista]
Quincas Borba, o filósofo, vai a Barbacena receber herança; apaixona-se pela irmã de Rubião
Quincas Borba adoece; cria teoria do humanitismo [lei do mais forte]; vai para o RJ e morre
testamento [Rubião receberia a herança desde que cuidasse do cachorro Quincas Borba]
Rubião vai ao RJ tomar posse da herança; dentro do trem conta sua história a Palha e Sofia
Palha e Sofia ajudam Rubião [receber herança, montar casa, investimentos, sociedade]
Caso Deolindo + Camacho + Candidatura a Deputado + Comensais + Carlos Maria
Rubião corteja Sofia durante o aniversário desta; Sofia se irrita e conta a Palha [a culpa é de Sofia]
A sociedade Palha-Rubião está a pleno vapor [rompe sociedade] + investimentos em O atalaia
A crise se avizinha: Rubião faz a barba igual à de Napoleão II: loucura; amigos se afastam
Rubião é recolhido à casa de saúde mental; Palha liquida negócios; recolhe dois contos de réis
Rubião foge da clínica [c/ o cachorro] e recebe 150 mil réis para passagem; morre em Barbacena.
5. HUMANITISMO
a lei do mais forte
humanitismo
Explicação científica que busca dar conta do que é o homem, segundo filósofo Quincas Borba
alegorias humorísticas
morte da avó de Quincas Borba conflito entre as duas tribos
Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar
a supressão de uma delas; mas rigorosamente não há morte, há vida, porque a supressão de
uma é a sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o
caráter conservador e benéfico da guerra.
uma análise
posto que a filosofia pressupõe a ética, e que a teoria de Quincas Borba é uma paródia da teoria
evolucionista, pode-se afirmar que o humanitismo é uma filosofia anti-filosófica, ou irônica.
6. A FILOSOFIA MACHADIANA
quincas borba
humor negro
Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona – um triste molambo de mulher –,
chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passear um
homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. – É minha, sim,
meu senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo. – Dá-me então licença que acenda ali o meu
charuto?
amargura e ironia na observação do ser humano
E não faltará quem ache que a alma deste homem é uma colcha de retalhos. Pode ser;
moralmente as colchas inteiriças são raras! O principal é que as cores se não desmintam umas
às outras – quando não podem obedecer à simetria e regularidade. Era o caso do nosso homem.
Tinha o aspecto baralhado à primeira vista; mas atentando bem, por mais opostos que fossem
os matizes, lá se achava a unidade moral da pessoa.
7. SINTAXE DAS PERSONAGENS
palha & rubião
condição humilde [nascimento de Cristo]
Cristiano
ascensão econômica [nome irônico]
Palha conhece Rubião na estação de Vassouras
Palha
varrer: pegar para si os bens de outrem
auxilia na execução da herança e fornece senhas para ingresso na sociedade
indica onde Rubião deve investir e acaba por se tornar tutor e sócio do mineiro
Rubião, perdulário, dissipa os bens (Palha avisa e depois rompe sociedade)
usa Sofia como isca para atrair o mineiro, mas se irrita com a “cena do jardim”
Palha acreditava que o mineiro nunca passaria à ação, daí os ciúmes
8. SINTAXE DAS PERSONAGENS
palha & rubião
loucura de rubião
quando a sociedade de Palha e Rubião começa a dar lucros, aquele a aborta
[a loucura é uma forma de fugir da realidade adversa]
arrivismo e ingratidão
quando a loucura de Rubião se manifesta, Palha escarnece [interna-o a pedido de D. Fernanda]
Palha executa os bens de Rubião e custeia sua passagem para Barbacena
9. SINTAXE DAS PERSONAGENS
camacho & rubião
estilo meio magro e meio inchado
ideias colhidas aqui e ali
Camacho
sem partido definido
caricatura dos políticos do II Império
jornal atalaia
divulga o “caso Deolindo”;
divulga ideias de Camacho e de Rubião;
ora defende, ora ataca o governo
[caricatura dos políticos do II Império]
o arrivismo de camacho
empobrecido Rubião, Camacho alega mudanças na direção do jornal e abandona o mineiro
[o rompimento de Camacho, tal qual o de Palha, corrobora na loucura de Rubião.]
10. SINTAXE DAS PERSONAGENS
sophia & rubião
a sabedoria mundana
[consente em ser usada no projeto de Pilhagem de Rubião]
Sofia
delicada, vaidosa e independente
tão arrivista quanto o marido
a fidelidade por um fio
01) SOPHIA E RUBIÃO: Cena do jardim [crítica ao lugar-comum do Romantismo];
02) SOPHIA E RUBIÃO: A esposa de Palha dá esperanças e depois as frustra;
03) SOPHIA E CARLOS MARIA: Flertes e danças [desejo de ser infiel];
04) SOPHIA E CARLOS MARIA: Seduzida e abandonada [não vai ao casamento da prima: ciúmes].
11. SINTAXE DAS PERSONAGENS
sophia & rubião
indiferença e solidariedade
01) reluta em dizer a Rubião que Maria Benedita era a noiva que ser-lhe-ia oferecida;
02) sente ciúmes dos rápidos progressos intelectuais da prima e do namoro com Carlos Maria;
03) “adoece” no dia em que o casal Carlos Maria-Maria Benedita viaja para a Europa;
04) trabalho voluntário pelos flagelados de Alagoas X indiferente ao sofrimento de Rubião.
12. SINTAXE DAS PERSONAGENS
sophia e dona fernanda
visita à casa da Rua do Príncipe para reaver o cão
Sem que nenhuma recordação pessoal lhe viesse daquela miserável estância, sentia-se presa de
uma comoção particular e profunda, não a que dá a ruína das cousas. Aquele espetáculo não
lhe trazia um tema de reflexões gerais, não lhe ensinava a fragilidade dos tempos, nem a tristeza
do mundo, dizia-lhe tão-somente a moléstia do homem, de um homem que ela mal conhecia, a
quem falara algumas vezes. E ia ficando e olhando, sem pensar, sem deduzir, metida em si
mesma, dolente e muda.
SOFIA DONA FERNANDA
pede um funcionário para buscar o cão convida Sofia para buscar o cão
mando ver [alma exterior] vamos nós mesmas [alma interior]
quer sair rapidamente daquele lugar repugnante condói-se da situação do cão e do dono da casa
13. SINTAXE DAS PERSONAGENS
sophia e dona fernanda
visita à casa da Rua do Príncipe para reaver o cão
Dona Fernanda coçava a cabeça do animal. Era o primeiro afago depois de longos dias de
solidão e desprezo. Quando Dona Fernanda cessou de acariciá-lo, e levantou o corpo, ele ficou a
olhar para ela, e ela para ele, tão fixos e tão profundos, que pareciam penetrar no íntimo um do
outro. A simpatia universal, que era a alma desta senhora, esquecia toda a consideração
humana diante daquela miséria obscura e prosaica, e estendia ao animal uma parte de si
mesma, que o envolvia, que o fascinava, que o atava aos pés dela. Assim, a pena que lhe dava o
delírio do senhor, dava-lhe agora o próprio cão, como se ambos representassem a mesma
espécie. E sentindo que a sua presença levava ao animal uma sensação boa, não queria privá-lo
do benefício. - A senhora está-se enchendo de pulgas, observou Sofia. Dona Fernanda não a
ouvia. Continuou a mirar os olhos meigos e tristes do animal, até que este deixou cair a cabeça e
entrou a farejar a sala
14. SINTAXE DAS PERSONAGENS
sophia e dona fernanda
visita à casa da Rua do Príncipe para reaver o cão
Saíram. Sofia, antes de pôr o pé na rua, olhou para um e outro lado, espreitando se vinha
alguém; felizmente, a rua estava deserta. Ao ver-se livre da pocilga, Sofia readquiriu o uso das
boas palavras, a arte maviosa e delicada de captar os outros, e enfiou amorosamente o braço no
de D. Fernanda. Falou-lhe de Rubião e da grande desgraça da loucura; assim também do
palacete de Botafogo. Por que não ia com ela ver as obras? Era só lanchar um pouco e partiriam
imediatamente.
15. QUINCAS BORBA, O NOME E O HOMEM
quincas borba
joaquim
Javé, o que levanta ou restabelece
elevação ou preparação
Quincas, quinquinharias
Quincas, bagatelas
borba
fontes nascentes; gago;
bolha [metáfora da efemeridade da existência]
dos santos
na carta que envia a Rubião diz ser Santo Agostinho
[loucura]
16. QUE(M) É “QUINCAS BORBA”?
quincas borba
para Quincas Borba
para o filósofo, Quincas Borba é ele [que continuaria vivo por suas ideias e no nome do cão];
para Rubião
para Rubião, Quincas Borba é o filósofo [que continuaria vivo por suas ideias e no nome do cão];
para Dona Fernanda
para o Dona Fernanda, Quincas Borba é o cachorro, em cuja condição vê espelha a do dono;
para o Leitor
para o leitor, Quincas Borba é o nome de uma personagem ficcional e o nome do livro.
17. UM SONHO DE RUBIÃO
quincas borba
Uma noite, Rubião sonhou com Sofia e Maria Benedita. Viu-as num grande terreiro, apenas
vestidas de saia, costas inteiramente despidas; o marido de Sofia, armado de um azorrague de
cinco pontas de couro, rematando em bicos de ferro, castigava-as desapiedadamente. Elas
gritavam, pediam misericórdia, torciam-se, alagadas em sangue, as carnes caíam-lhe aos
bocados. Agora, por que razão Sofia era a Imperatriz Eugênia, e Maria Benedita uma aia sua, é o
que não sei dizer com exatidão. ‘São sonhos,m sonhos, Penseroso”’ exclamava uma personagem
do nosso Álvares de Azevedo. Mas eu prefiro a reflexão do velho Polonius, acabando de ouvir
uma fala tresloucada de Hamlet: ‘Desvario embora, lá tem o seu método’. [...] Rubião,
indignado, mandou logo cessar o castigo, enforcar o Palha e recolher as vítimas. Uma delas,
Sofia, aceitou um lugar na carruagem aberta que esperava pelo Rubião, e lá foram a galope, ela
garrida e sã, e ele glorioso e dominador. Os cavalos, que eram dous à saída, eram, daí a pouco,
oito, quatro belas parelhas. Ruas e janelas cheias de gente, flores chovendo em cima deles,
aclamações... Rubião sentiu que era o Imperador Luís Napoleão; o cachorro ia no carro aos pés
de Sofia.
01) símbolos: rivalidade Palha x Rubião; desejo de poder; erotismo sádico; mania de grandeza
02) antecipa a cena em que Rubião entrará na carruagem, causando medo em Sophia;
03) antecipação da loucura do protagonista.
18. SINTAXE DAS PERSONAGENS
rubião
pedro
primeiro papa
imperador do Brasil
rubião
rubi [alusão ao enriquecimento do professor]
rúbia [cor dourada]: alude a rubiácea [café]
alvarenga
simetria fonética com Alcântara, sobrenome do Imperador
lancha [transporte]: Rubião transporta as personagens
a loucura de Rubião é análoga à esquizofrenia das elites/do governo ante a escravidão:
necessita-se do escravo e dos escravocratas [para a manutenção do aparato social-exportador]
a manutenção da escravidão é incompatível com as aspirações modernas da elite/governo.
19. SINTAXE DAS PERSONAGENS
rubião
representação alegórica dos eventos da história do Brasil
ascensão social de Rubião construção do romance
boom do café 1886 a 1891
enriquecimento da elite agrária representação alegórica dos eventos históricos
estabilidade do governo de D. Pedro II Abolição da Escravidão e Proclamação da República
20. O REALISMO EM QUINCAS BORBA
aspectos temático-estruturais
niilismo: fidelidade na apresentação das personagens;
análise psicológica;
narrativa lenta e pormenorizada;
falsas pistas que levam o leitor ao engano:
Palha escreve carta que Sophia envia a Rubião, junto com a cesta de morangos;
Sophia, para fugir à curiosidade do Major, inventa a história do Padre Mendes;
Carlos Maria mente para Sophia, ao dizer que estivera toda noite em frente à casa dela;
Cocheiro inventa o caso do adultério da Rua da Harmonia [nome irônico];
Rubião mente sobre o cachorro à comadre e sobre a carta ao médico.