Este documento discute as considerações éticas na pesquisa com crianças e adolescentes, incluindo a importância do consentimento, da participação e do bem-estar dos participantes. Também aborda questões como gênero, diversidade e os diferentes níveis de participação que podem ser envolvidos.
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Pesquisa com Crianças e Adolescentes: Ética, Participação e Diversidade
1. Pesquisa com Crianças
e Adolescentes:
Apresentação: Karen da Silva Figueiredo
(karen@ic.ufmt.br)
Ética, Participação
e Diversidade
2. Por que Crianças e
Adolescentes?
Por que Ética, Participação
e Diversidade?
Introdução
FRASER, Sandy (Ed.). Doing research with
children and young people. Sage, 2004.
3. Introdução
Pesquisadores(as) podem irritar crianças/adolescentes e
responsáveis, deixá-los(as) constrangidos(as) ou traídos(as) por falsas
promessas
Risco de publicar resultados que geram constrangimento, estigma
ou desvantagem para o grupo de crianças/adolescentes ou demais
envolvidos(as) (responsáveis, escola etc.)
Ética é sobre ajudar pesquisadores(as) a ficarem mais atentos(as)
aos problemas, questões e contexto da pesquisa
E como lidar com eles, ainda que as respostas não sejam simples
4. Por que ética importa?
quando é opcional ou vital para a pesquisa?
Alguns encaram a ética tardiamente, como uma perturbação extra,
um obstáculo
Um ou dois parágrafos são escritos sobre ética como decoração
Muitas questões éticas surgem ao longo de toda a pesquisa,
especialmente com crianças e adolescentes
Ética
5. O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é um colegiado interdisciplinar
e independente que deve existir nas instituições que realizam
pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil, criado para defender
os interesses dos sujeitos em sua integridade e dignidade e para
contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões
éticos
A missão do CEP é salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa
O CEP contribui para a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da
pesquisa no desenvolvimento social da comunidade
Contribui ainda para a valorização do pesquisador que recebe o reconhecimento
de que sua proposta é eticamente adequada
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
Resoluções do CNS n° 466/2012 e 510/2016
6. Comitês de ética podem ajudam a aumentar a atenção e elevar os
padrões do projeto
A submissão ao comitê de ética toma tempo, mas protege
participantes e pesquisadores(as) de críticas e processos
Pesquisadores(as) precisam estar atentos(as) às pesquisas que não
tiveram aprovação do comitê de ética
Mesmo que seja um risco, com a aprovação pesquisadores(as)
sentem que podem ser mais causais do que o planejado
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
7. Jogo (detetive, vítima e assassino):
a vítima, o resgatador ou o
perseguidor – na maioria das
pesquisas as crianças/adolescentes
desempenham o papel de vítima
Crianças e adolescentes continuam
sendo pouco entendidos(as) e
desrespeitados(as) e o ciclo
continua – mantidos(as) como
minoria
Crianças e
Adolescentes na
Pesquisa
8. Modelos de
Infância
Precisam ser revistos
Estereótipos: a criança inocente que
precisa de proteção, a criança em
desvantagem que precisa de
recursos e serviços, a criança
criminosa que precisa de controle, a
criança ignorante que precisa de
educação, a criança deficiente que
é vítima de tragédia ou rejeitada
pela sociedade, a criança destaque
que possui recursos, é forte ou muito
inteligente, e colocar crianças em
rótulos específicos de teorias.
Mini gaiolas da infância
Olhar criticamente para a gaiola
em si, suas causas e efeitos
9. Identificação de Barreiras e Limites
Planejamento e Design
Acesso
Negociação
Preparação do Ambiente
Reflexão
Elementos Indispensáveis para Incluir
Crianças e Adolescentes na Pesquisa
10. Barreiras e Limites
Barreiras e limites são erguidas para proteger a participação de
crianças e adolescentes na pesquisa
Elaborar critérios para o papel das crianças e adolescentes
Verificar aspectos da pesquisa inapropriados para as crianças e adolescentes
Considerar os conhecimentos e habilidades das crianças e adolescentes
Estabelecer o tempo de participação
Considerar barreiras de acesso e comunicação
11. Metodologia deve estar alinhada com a participação das crianças
e adolescentes
A conexão entre método e teoria não pode ser perdida e deve estar explícita
Usar métodos de comunicação criativos
Ex.: grupo focal, dramatização, diários, fotos e vídeos etc.
E métodos que permitam explorar (inclusive a si mesmos), desafiem
estereótipos, promovam intercambio de ideias e serem vistos(as)
como sujeitos(as) de conhecimento
Planejamento
12. Acesso
É um dos estágios mais difíceis da pesquisa
Enfrenta-se muitas barreiras (gatekeepers) - protegem mas também
silenciam a participação
Ex.: diretores(as) e responsáveis institucionais, professores(as), responsáveis, comitê
de ética, órgãos de fomento etc. - trabalho com é minorias ainda mais difícil
Duas formas de acesso:
Via listas fechadas (ex.: escolas)
Via chamadas públicas – maior respeito à privacidade e à liberdade de escolha -
mais perigosa: abordar a criança na rua “stranger danger”
13. Conversar com crianças/adolescentes e responsáveis os seus interesses em
participar da pesquisa - Termos de Consentimento e Assentimento
Atentar às questões de linguagem e estilos de comunicação
Cartões, imagens, diagramas
Tudo deve ficar claro e explícito: formas de participação, métodos, período,
benefícios, riscos, como contatar pesquisadores(as) e CEP
As atividades não devem explorar os(as) participantes nem atrapalhar as atividades escolares
Mostrar para as crianças e adolescentes que a sua participação influencia
no cenário maior e quais os benefícios disso
Negociação e Consentimento
14. Antigamente crianças (e adolescentes) eram consideradas imaturas para
consentir
Mudanças na década de 90 nas ciências sociais fizeram com que fossem
escutadas
Sempre precisa do consentimento de responsáveis mesmo com
adolescentes? – forma direta sim
Legalmente e eticamente os argumentos são baseados na noção de
competência – mas não seriam as crianças e adolescentes competentes?
Consentimento informal para fugir das regras e forma de protesto
Negociação e Consentimento
15. Você decide se
deseja falar
comigo
Você não precisa
dizer sim
Se você disser sim,
você não precisa
fazer toda a
entrevista
Podemos parar ou
fazer um intervalo
quando você
quiser
Se você não
quiser responder,
pode dizer
“passo”
Antes de decidir
você pode
conversar com a
sua família
A pesquisa é
anônima, quando eu
escrevo sobre a
pesquisa eu sempre
troco os nomes
Eu não falarei com ninguém sobre
o que você disser aqui, a não ser
que você ou outra pessoa possa
estar em risco, então eu farei o
necessário para te ajudar
Frases
Simples para
Consentimento
16. É importante encarar as crianças e adolescentes como
“trabalhadores(as)” da pesquisa
Oferecer treinamento, supervisão e compensação
Treinamento deve ser apropriado à idade
Como crianças podem ser compensadas pelo seu tempo? Não
devem receber benefícios materiais, benefícios incluem: aquisição
de novas habilidades, certificados de treinamento, referencias para
seu currículo etc.
Negociação e Consentimento
17. Ambiente e Proteção
Responsabilidade proteger as crianças e adolescentes de danos
Responsabilidade como pesquisadores(as) de proteger todos(as) os(as)
participantes da pesquisa de danos
Reconhecer que a nossa responsabilidade vai além do momento da pesquisa
Riscos ambientais: dano físico é pouco provável na maioria das
pesquisas sociais
Lugares e espaços físicos: agradáveis, seguros, que não precisem caminhar
sozinhos(as), deslocamento durante o dia, oferecer formas de transporte, fazer nas
suas próprias comunidades – ambientes são significativos
18. Ambiente e Proteção
Riscos emocionais e bem estar:
Medir esse potencial é problemático - Os riscos não devem ser maiores que as
experiências cotidianas
Pesquisador(a) não é conselheiro(a), nem deveria ser
Dica: carregar panfletos e informações sobre ajuda e aconselhamento com você
durante a pesquisa
Riscos de “contato com adultos”:
Pessoas que participam da pesquisa ou terceiros
Reconhecer os limites da confidencialidade
Passar as informações para as autoridades responsáveis
Construir estratégias de como agir caso situações assim ocorram
19. Reflexão e monitoramento devem ser feitos constantemente
Reflexão e supervisão são necessárias para garantir que:
Que os objetivos da pesquisa sejam alcançados
Que a pesquisa se mantenha nos seus princípios éticos
Que efeitos emocionais da pesquisa sejam identificados e tratados
Confrontar comportamentos e gerar estratégias para inclusão
Problemas com habilidades, treinamento e recursos sejam identificados
Que os insights dos(as) participantes sejam incluídos na pesquisa
Reflexão
20. Participação
Pesquisa e exploração são formas principais pelas quais crianças e
adolescentes aprendem e se desenvolvem
Na maioria das vezes são considerados(as) simples “objetos” de
estudo
Pode-se dizer que o conhecimento sobre crianças e adolescentes é
incompleto a não ser que se considerem seus conhecimentos sobre
si mesmos(as)
21. Participação
É preciso escutar as suas vozes
Vozes marginalizadas
Reconhecer crianças e adolescentes como competentes e confiáveis
testemunhas das suas vidas
Há perigos em ouvir somente a voz de crianças e adolescentes
Outras perspectivas são importantes: familiares, professores(as) - perspectivas
alternativas para trazer compreensão maior do contexto
22. Participação
Não limitar a “pesquisa participante”
Está além do contexto dessa apresentação explorar a relação das crianças nas
pesquisas em diferentes perspectivas metodológicas e epistemológicas
Pode ser que a criança não possa participar como esperado da pesquisa, mas
isso não significa que ela deva ser abandonada
Fazer pesquisa com crianças e adolescentes requer
comprometimento para ver que estes(as) não estão separadas do
contexto
Crianças são convidadas não por serem crianças, mas por serem qualificados
para a pesquisa por uma série de fatores
Crianças podem prover insights valiosos independente do seu background
23. Perguntar o que os(as) participantes pensam sobre os achados – ex.:
biblioteca
Crianças demonstram ser preocupadas ativamente em ser parte da
solução, e não simplesmente do problema - ex. technovation
Mesmo a criança mais nova, envolvida na pesquisa, com sua
autonomia pode mostrar como pode contribuir para a sua família,
vida e comunidade
Pesquisa ética engloba desenvolver métodos sensíveis para
descobrir a visão e significados da criança
Combinar a visão de Crianças e
Adolescentes
24. Colocar
crianças/adolescentes
para entrevistar
crianças/adolescentes
(questões delicadas)
Perguntar as crianças
quais questões são
seguras para responder
Pesquisa em duplas
Agrupar por gênero,
idioma e cultura, nível
de confiança
Crianças maiores com
menores
Envolver crianças na
etapa de
interpretação dos
dados (muitos
trabalham só com a
coleta)
Fazer as crianças lerem
relatórios para
identificar termos
estranhos, ambíguos
etc.
Teatro para divulgar
resultados
Exemplos
26. 1) Manipulação
2) Decoração
3) Token (cota)
4) Participação atribuída e informada
5) Participação consultada e informada
6) Participação iniciada por adultos, com
decisões compartilhadas
7) Participação iniciada e dirigida por
crianças/adolescentes
8) Participação iniciada por crianças/adolescentes e
decisões compartilhadas com adultosSemparticipação
Níveisdeparticipação
27. Pesquisas autorreflexivas e centradas na criança-adolescente
Autorreflexivas: estilo em que o entrevistador reflete nas formas em
que as identidades são produzidas e negociadas no contexto do
processo de pesquisa
Considerar no processo da pesquisa como as identidades de gênero são
negociadas e construídas
Relacionamento entre participante e pesquisador(a) é a dinâmica central
do estudo, moldando os achados da pesquisa e os delineamentos do
projeto
Gênero
28. Centradas na criança-adolescente: Análise das categorias sociais
pela perspectiva dos(as) participantes
Mais que perguntar que tipo de informações são relevantes para
meninos e meninas com relação aos gêneros
Considerar os gêneros como construídos culturalmente significa que
os gêneros não são fixos e podem mudar com o passar do tempo e
espaço
Gênero
29. Ser aceito(a) pelos(as) participantes, apadrinhado(a)
O gênero do(a) pesquisador(a) desempenha um papel importante
Estereótipo de pesquisador(a)/professor(a) autoritário(a) prejudica o
acesso
Relacionamentos pessoais positivos
Envolve tempo, escuta ativa, respeito mútuo e postura apoiadora e livre de
julgamentos
Acesso ao Universo das Crianças e
Adolescentes
30. Gênero compartilhado e distância compartilhada
Homens pesquisando meninos
Em grupos: criticam meninas, são mais assertivos e agressivos
Polarização de gênero
Individualmente são mais sensíveis e abertos, elogiam meninas
Fluidez de gênero
Homens pesquisando meninas
Historicamente criticados
Dificuldade: Identificação de gênero (de ambas as partes)
Gênero do(a) Pesquisador(a)
31. Mulheres pesquisando meninos
Ataques e abusos verbais
“A feminista má”
Mulheres pesquisando meninas
Mais difícil ser uma das meninas do que um homem ser um dos meninos
Figura de autoridade (associações com professores(as) e figuras da família)
Grupo: feminilidades em alta, espírito de grupo baixo
Antagonismo de classe – rivalidades, grupos pequenos e exclusivos
Meninos se colocam como vítimas
Gênero do(a) Pesquisador(a)
32. Resistência inicial
Criação de identificações e vínculos
Promover relações mais equânimes
Execução de “Performances”
Reproduz diferenças e polarizações
Dica: meninas e meninas divididos em grupos pequenos
Evitar bullying e ênfase nas diferenças de gênero
Gêneros Mistos
33. Viés da própria infância/adolescência
Manter uma postura crítica e reflexiva
A partir da reflexão da sua vivência pessoal, pode aprender lições
importantes sobre a pesquisa, as relações na pesquisa e seu lugar
como pesquisador(a)
Experiências de Gênero do(a)
Pesquisador(a) na Infância
34. Raça e Etnia
Há poucas pesquisas com crianças e adolescentes de minorias
Reconhecer que o racismo impacta na pesquisa
Desde a escolha de tópicos às experiências de pesquisadores e das crianças e
adolescentes de minorias étnicas, e nas formas como os achados de pesquisa são
disseminados
Evitar a reprodução de estereótipos: diferente, exótico
Cuidado com dados quantitativos sem análise e explicação
A importância da triangulação de dados para melhor compreensão do fenômeno
– estratégia para evitar interpretações enviesadas
Experiências escolares completamente diferente da realidade que
vivem nos seus lares e comunidades – currículo oculto
35. Co-Configuração e Participação em Todas as Etapas
Pesquisa intervencionista
A experiência da infância e adolescência é rápida demais
Como a pesquisa pode contribuir ainda para aqueles que estão sendo
pesquisados?
Melhorar as condições o mais rápido possível
Loops de feedback
Interdisciplinaridade: o mundo das crianças e adolescentes é
interdisciplinar - todos se beneficiam inclusive pesquisadores(as)
O Futuro das Pesquisas com Crianças e
Adolescentes
36. Clareza sobre o propósito do envolvimento da
criança/adolescente
Transparência dos motivos da pesquisa
Consentimento da criança/adolescente e
responsáveis
Valorização do trabalho da criança/adolescente
Tarefas apropriadas à idade, habilidades e
fatores pessoais
Linguagem e métodos acessíveis
Suporte adequado para facilitar a participação
Segurança da criança/adolescente
Entendimento e concordância sobre até que
ponto a pesquisa pode ir
Pesquisa com
Crianças e
Adolescentes
devem
garantir:
37. Não respeitar a privacidade e confidencialidade
Fazer observações ou registros secretos
Não preservar a identidade da
criança/adolescente
Assumir que crianças não podem falar por elas
mesmas
Questionar sobre as coisas ruins sem questionar
sobre as coisas boas
Usar instrumentos centrados em adultos
Rotular a criança/adolescente
Publicar resultados que reoforçam estereótipos
negativos
Métodos
desrespeitosos
38. Ache um equilíbrio
Crianças devem ter a oportunidade de explorar o que pesquisa
significa
A criança/adolescente pode realmente gostar do processo da
pesquisa
Entender que o poder continua na “mão dos adultos”
Conclusão