1) O documento descreve a sociedade oitocentista após o triunfo do liberalismo, caracterizada pela emergência de uma sociedade de classes urbana e industrial.
2) Surgem a burguesia e o proletariado, com a burguesia conquistando poder político e social e o proletariado vivendo em condições de trabalho e de vida extremamente precárias.
3) O documento também aborda as primeiras formas de organização e solidariedade dos operários, como associações de socorros mútuos e sindicatos,
2. SOCIEDADE
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A sociedade de classes
E URBANA
A principal consequência do triunfo do liberalismo, a nível
social, foi a afirmação de um novo ordenamento jurídico,
segundo o qual todos eram livres e iguais perante si:
• era direito de todos poder aceder às oportunidades sem
restrições;
• terminam as hierarquias institucionalmente estabelecidas;
• afirma-se uma sociedade flexível e dinâmica, na qual a
ascensão deveria ser por mérito próprio (“self-made men”).
O grupo social que mais beneficiou desta mudança foi a
burguesia. Conseguiu ultrapassar em poder e riqueza as velhas
elites aristocráticas, com as quais se vai fundindo.
Pág. 65
3. LOGO
O sucesso do liberalismo traduz-se no triunfo dos objetivos e ideais burgueses:
• Politicamente conquista o poder à custa do parlamentarismo - é a democracia
burguesa.
•Socialmente, em virtude da abolição dos privilégios de nascimento, conquistam a
supremacia pela igualdade e liberdade individuais (mais dinheiro significa mais prestígio).
•Mentalmente, a burguesia adquire a consciência do mérito próprio à custa do trabalho,
da poupança, da competência pessoal. Estes sentimentos alicerçam a consciência de
classe que se afirmara em toda a pujança.
4. Caminhos do sucesso
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burguês
• Carreira das armas - dependente ainda dos velhos conceitos aristocráticos;
• Estudos universitários - necessários ao desenvolvimento das capacidades técnicas;
• Profissões liberais - prestigiadas e prestigiantes devido ao papel que desempenham no
progresso económico e bem-estar:
• Engenharia - construtores das estradas, das pontes, das fábricas e máquinas;
• Medicina - salvadores da vida humana;
•Funcionalismo público e privado - é necessário
um aparelho de Estado que ponha em marcha a
burocratização.
•Professorado - as novas necessidades educativas
exigem um corpo docente treinado ao serviço do
Estado e da sociedade.
5. Caminhos do sucesso
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E URBANA
burguês
O modo de triunfo mais rápido e mais fácil era o
mundo dos negócios. No entanto, este mundo era
altamente competitivo e perigoso. Requeria muito talento,
competência técnica, mas uma grande dose de sorte.
Associado ao desenvolvimento económico e cultural,
verificou-se o triunfo de outros géneros culturais. É o
caso das artes, do teatro e da carreira teatral e do
jornalismo. Paralelamente nasceu uma nova carreira que
representa a consolidação de todas as ambições: a
carreira política.
7. SOCIEDADE
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A Alta Burguesia
E URBANA
A Alta Burguesia (ou aristocracia financeira)
correspondia a um grupo limitado de famílias
dedicadas às atividades mais lucrativas e à
política. São eles quem controla os mecanismos
de produção e detém o poder.
Cultos e requintados exerceram o mecenato.
Eram os filantropos e fundaram verdadeiras
dinastias financeiras – ex. os Rothschild.
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8. SOCIEDADE
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Classes médias
E URBANA
As Classes Médias não eram fáceis de
caracterizar, já que as pessoas facilmente
ascendiam e descendiam socialmente. Uma
característica comum a todas é o facto de ganharam
a vida total ou parcialmente do trabalho não braçal.
• Classe Média Baixa (pequena burguesia) –
pequenos comerciantes, artífices por conta própria,
empregados de comércio, funcionários dos
pequenos serviços públicos e privados, titulares de
baixas patentes militares. Aspiravam ascender
socialmente e copiavam os modos do grupo médio.
Pág. 68
9. SOCIEDADE
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Classes médias
E URBANA
• Classe Média propriamente dita – pequenos empresários,
profissionais liberais, altos burocratas dos serviços e
titulares de altas patentes militares. Proprietários de alguns
bens de raiz. Como que uma média burguesia, manteve a
mentalidade burguesa do A. R. – rigor, trabalho, educação…
Dentro desta classe média encontramos os Colarinhos
Brancos – um numeroso e complexo grupo de funcionários
administrativos que se distinguiam dos operários por não
terem de sujar a roupa para exercer as suas funções.
10. SOCIEDADE
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Os “colarinhos brancos” foram os grupos sociais que mais cresceram em número e
importância no século XIX, porque:
• o setor dos serviços administrativos (sector terciário) crescia a olhos vistos na cidade;
• o aparelho administrativo, militar e paramilitar dos Estados crescia devido ao aumento
da população e às necessidades da modernização.
• nos serviços privados, o sucesso dependia da sua capacidade;
• eram quem realmente exercia poder nos serviços públicos;
• tinham formação intelectual e poder para influenciar a opinião pública;
• tinham grande poder de consumo e eram desejados e estimados no mercado;
• eram modelos de virtude já que levavam uma vida limpa, suscitando respeito e
admiração, e aproximando-se da alta burguesia endinheirada.
11. SOCIEDADE
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E URBANA Valores e comportamentos
burgueses
•Viviam em casas elegantes, luxuosas e confortáveis;
•Possuíam espaços rurais que ostentavam riqueza;
•Rodeavam-se de serviçais;
•Seguiam a moda internacional nobre e chique;
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12. SOCIEDADE
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•Colocavam os filhos nas mais prestigiadas escolas;
•Exerciam altos cargos de governação ou colocavam no poder familiares ou intelectuais
de confiança;
•Viajavam para locais requintados instalando-se em hotéis de luxo;
•Rodeavam-se de cultura, colecionavam arte e antiguidades, exibiam grandes
bibliotecas, promoviam atividades culturais e frequentavam a ópera e o teatro.
13. SOCIEDADE
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Na mentalidade, os burgueses do século XIX
foram-se refinando:
•Têm espírito de iniciativa, capacidade de risco,
culto do trabalho e amor ao lucro legitimamente
conseguido;
•São metódicos e organizados, valorizam o talento
e o esforço individuais, possuem consciência de
classe e cultivam o mito do “self made men”;
•Orgulham-se da condição da sua classe e da sua
dignidade;
•Respeitam a família;
•São conservadores, apreciam a ordem e a
estabilidade.
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14. SOCIEDADE
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A condição operária
Surge um terceiro grupo constituído pelos donos da força de trabalho, o proletariado.
Os proletários eram obrigados a vender a sua capacidade de produzir trabalho aos
capitalistas. Era uma relação meramente económica entre dois polos sociais do
processo produtivo. O mesmo liberalismo que defendia a liberdade, a igualdade e a
fraternidade, era o liberalismo criador da proletarização dos trabalhadores.
A lei do mercado era também aplicada aos salários. Estes pagavam um produto de
compra e venda – o trabalho – alvo da lei da oferta e da procura.
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15. SOCIEDADE
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Salários
A oferta de mão-de-obra aumentava diariamente. Uma vez que as máquinas
dispensavam qualquer especialização ou conhecimento, os trabalhos podiam ser
realizados por qualquer um. Os patrões aproveitavam-se para reduzir custos com os
salários, oferecendo cada vez menos. O poder político não tinha qualquer intervenção
na regulamentação do funcionamento do mercado, já que era a época do liberalismo.
O preço do
trabalho caiu de tal
forma que os
operários viviam em
situações de extrema
miséria.
16. SOCIEDADE
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Condições de trabalho
As condições de trabalho eram miseráveis e
desumanas:
• Faltava iluminação, arejamento e higiene. As fábricas
não dispunham de estruturas de apoio social (primeiros
socorros, cantinas, vestiários ou instalações sanitárias);
• As jornadas de trabalho variavam entre as 12 e as 16
horas de trabalho vigiado, sem direito a descansos ou
pausas e hora de almoço de 30 minutos. As férias e os
dias de descanso eram nulos. Um dia sem trabalho era
um dia sem salário.
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17. SOCIEDADE
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• A falta de segurança destacava-se principalmente nas minas, nos acidentes, em vez de
assistência médica, o acidentado “recebia” o despedimento sem compensação ou apoio
social;
• O trabalho era rotineiro e monótono;
• A mão-de-obra infantil era habitual e muito utilizada, uma vez que era mais barata;
• Quando existiam contratos de trabalho, os deveres eram dos trabalhadores e os direitos
dos patrões.
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18. SOCIEDADE
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Modos de vida
As condições de vida também eram péssimas. O salário
era insuficiente para suprir as mais básicas necessidades,
mal chegava para pão, água e vegetais.
Os trabalhadores eram frequentemente vítimas de doenças
graves e fatais (ex. tifo). As mulheres e as crianças viram-se
obrigada a procurar emprego na tentativa de ajudar. Viviam em locais lotados, de
construções precárias, sem privacidade, num ambiente de promiscuidade em bairros
sem infraestruturas. Assiste-se então a uma degradação dos costumes – alcoolismo,
prostituição, delinquência, vagabundagem e mendicidade.
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19. SOCIEDADE
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A questão operária
Surgem as primeiras formas de organização social e as primeiras formas de
organização política. O poder político acaba por intervir na regulamentação das
condições de trabalho – acaba com os abusos de maior e institui um esquema de
proteção social.
Os intelectuais românticos e a Igreja, conscientes da “questão operária”,
denunciavam-na. As instituições para a proteção social dos pobres e oprimidos tentaram
apoiar, mas os resultados não eram muito grandes. Todavia, desenvolve-se uma
preocupação social.
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20. SOCIEDADE
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E URBANA Formas de solidariedade
operária
As primeiras formas de solidariedade operária surgem da reativação de práticas de
associativismo artesanal, agora com formas particulares de mutualismo e cooperação.
» Caixas Mutuárias ou Associações de Socorros Mútuos – sociedades fraternas de
trabalhadores que se ajudavam numa altura de crise económica. Os associados pagavam
uma quota determinada em valor e em prazo, e eram obrigados a seguir regras de
comportamento e conduta.
» Cooperativas – procuravam dar resposta às necessidades de consumo dos operários,
produzindo e comercializando bens a preços competitivos sem lucros, ou distribuindo-os
por todos os cooperantes quando este existia.
Alguns patrões apercebendo-se que trabalhadores mais realizados eram menos
reivindicativos e mais produtivos, promoveram e financiaram formas de associativismo e
aceitaram negociar as primeiras concessões ao crescente movimento reivindicativo.
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21. SOCIEDADE
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As Associações de Socorros Mútuos eram fundamentalmente compostas por
operários mais esclarecidos. Todavia, o grosso destes empregados não possuía
qualificações e, por vezes, reagia de forma violenta, destruindo máquinas, atacando as
fábricas (os movimentos Luddistas) ou fazendo greves. Todas estas reações provocaram
a repressão dos empresários, apoiados pelos Governos.
Surgem as primeiras associações de caráter sindical (trade unions) funcionavam
como organismos de apoio aos trabalhadores ou às suas famílias, em caso de acidente
ou morte no trabalho. Paralelamente, os operários vão adquirindo a consciência dos seus
direitos. Lutam para conquistar regalias.
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22. SOCIEDADE
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Mas a grande maioria dos patrões insistia na exploração dos seus trabalhadores. Em
resultado disso, aumentaram os movimentos de protesto e a luta operária saía à rua. A
luta era desorganizada e facilmente as autoridades as reprimiam, prendendo os
agitadores que eram então encarcerados, condenados a trabalhos forçados e até à
morte.
O sindicalismo, originário da Inglaterra, estende-se por toda a Europa e restantes
continentes do mundo. Vencido o medo, a ignorância, a desconfiança, a falta de
solidariedade e a ausência de consciência de classe, os sindicatos organizavam-se em
federações laborais e são reconhecidos como parceiros sociais pelos governos.
23. SOCIEDADE
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O socialismo
Karl Marx defendia que o movimento operário devia ser
internacional e único. É sob a sua ação que, em 1884, se
reúnem em Londres trabalhadores e sindicalistas de vários
países para o 1º grande congresso operário. Formou-se a
Associação de Trabalhadores, a I Internacional. Marx pretendia
unir partidos socialistas e forças sindicalistas à escala do globo
e lançar o operariado na luta política.
Os progressos do movimento operário resultaram
numa maior consciencialização dos problemas
laborais e na extensão e intensificação da luta
sindical, de que a grande manifestação do 1º de Maio
de 1890 é uma prova.
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24. SOCIEDADE
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O socialismo utópico
Saint- Simon - o salário deveria ser proporcional à produtividade de cada um. A
sociedade deveria ser encabeçada pelos produtores.
Fourier - criação de Federações - pequenas empresas fechadas - Falanstérios.
Harmonia entre patrões e empregados - eliminar a divisão do trabalho.
Proudhon - eliminação da grande propriedade e formação de cooperativas - as
Associações Mútuas, sistema que segundo ele conduzia à igualdade porque defendia a
liberdade do produtor. Condenou o lucro sem trabalho, a luta armada.
Robert Owen - coletivização do trabalho através da associação dos trabalhadores em
cooperativas ou comunidades a fim de se conseguir melhor produção e uma distribuição
mais justa dos lucros. Abolição da propriedade privada.
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25. SOCIEDADE
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Socialismo científico
Aplicando as regras científicas, Marx e Engels fizeram um estudo sobre as sociedades
e chegaram a determinadas conclusões.
Segundo estes, no princípio, os homens mais fortes dominaram os mais fracos e
então tornaram-se mais ricos. Os mais ricos passaram a deter o poder. Assim nasceu a
sociedade de senhores e escravos: é a primeira etapa - o Esclavagismo. Os escravos
não tinham liberdades.
A segunda etapa acontece na Idade Média: é o surgir do Feudalismo. Neste sistema,
os servos ou camponeses dependentes conquistam a liberdade jurídica, mas não têm a
económica, pelo que pertenciam à terra em que trabalhavam.
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26. SOCIEDADE
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Com o desenvolvimento do Capitalismo, atinge-se a
terceira etapa, em que os trabalhadores vendem a sua
força de trabalho. Não têm bens, mas têm liberdade
económica e a jurídica. São, todavia, obrigados a
trabalhar para ganhar o seu salário.
Segundo Marx, a evolução natural da sociedade
seria o triunfo do trabalhador sobre o capitalista, ou
seja, a abolição do Capitalismo. Os bens, os meios de
produção e o produto, pertenciam ao produtor. Seria
uma sociedade sem classes: o Socialismo.
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27. SOCIEDADE
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O movimento operário encontrou grandes dificuldades de desenvolvimento:
• era um movimento, na sua essência, espontâneo e não organizado;
•.os “revoltosos” eram mal preparados e sem estudos, o que dificultava o acesso às ideias
socialistas, mais intelectuais e filosóficas;
• existiam grandes divisões (não só entre socialistas utópicos e científicos, mas também
na luta entre reformistas e revolucionários).
Finalmente, as teorias marxistas acabam por unificar os trabalhadores na sua luta e,
simultaneamente, estes concedem-lhe a base de apoio no alcançar no poder político.
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28. SOCIEDADE
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As ações de luta passam a ser conscientes e organizadas, conseguindo-se alguns
resultados importantes:
• Direito à negociação e à celebração dos primeiros contratos coletivos de trabalho. O
poder político reconhecia e conferia carácter institucional a estes acordos;
• Obtenção de benefícios de trabalho:
• redução de horas de trabalho para 10 e depois para 8 horas diárias;
• melhoria dos salários;
• proibição do trabalho de menores;
• um dia de descanso semanal e férias; subsídios de carácter social;
• assistência na doença e na velhice;
• direito a condições de higiene e salubridade no trabalho;
• direito à greve, legitimamente fundamentada e organizada.