Gil Vicente foi um dramaturgo português do século XVI considerado o pai do teatro português. Suas peças, como "Auto da Barca do Inferno", continham críticas sociais à nobreza e clero por meio de alegorias sobre o julgamento final e personagens representando classes sociais. A obra usava a comicidade e versos para transmitir mensagens morais de forma satírica.
2. • Viveu entre 1465? – 1537? Aproximadamente. É
considerado o pai do teatro português.
• Pertencente ao Humanismo, movimento que marca a
transição entre a Idade Média e o Renascimento. É o
momento em que a ideia de Deus como explicação
do mundo começa a dar lugar ao pensamento crítico
e à razão do homem
• Autor de autos e farsas, pequenas peças teatrais
representadas para a corte portuguesa
3. Eram elementos presentes em suas
peças:
- Temática religiosa
- Críticas à sociedade portuguesa da época (inclusive
ao clero e à nobreza)
- Personagens TIPOS (um personagem representando
toda uma classe)
- Comicidade (“O riso é uma maneira de moralizar”)
- Maniqueísmo (divisão do mundo entre o bem e o
mal)
- Redondilha maior (versos com 7 sílabas poéticas)
4. Auto da Barca do Inferno
O "Auto da Barca do Inferno" (1517) representa o juízo
final católico de forma satírica e com forte apelo moral.
O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram
duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada
pelo diabo, e a outra, com destino ao
paraíso, comandada por um anjo. Ambos os
comandantes aguardam os mortos, que são as almas
que seguirão ao paraíso ou ao inferno.
5. Os mortos são:
- Fidalgo (nobre)
- Sapateiro
- O Parvo (bobo)
- Uma alcoviteira
(cafetina)
- Judeu
- Um corregedor e um
procurador
(representantes do
judiciário)
- Enforcado
- Onzeneiro (agiota;
alguém que empresta
dinheiro a juros)
- Frade (representante do
clero) e sua “dama”
- 4 Cavaleiros (cruzados)
6. Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro.
Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por
seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao
fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se
merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando
por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-
se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta
convencer o diabo a deixá-lo rever sua amada, pois esta
"sente muito" sua falta. O diabo destrói seu
argumento, afirmando que ela o estava enganando.
7. Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao
inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo
a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao
diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que
acumulou, mas é impedido e acaba na barca do
inferno.
O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um
tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na
barca do inferno; quando o parvo descobre qual é o
destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o
por sua humildade, permite-lhe entrar na barca do céu.
8. A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus
instrumentos de trabalho. Durante sua vida enganou
muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo.
Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena
como alguém que roubou do povo.
O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega
cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o
convida a entrar na barca do inferno, pois, sendo
representante religioso, crê que teria perdão.
Foi, porém, condenado ao inferno por falso moralismo
religioso.
9. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo
diabo, que lhe diz que seu o maior bem são "seiscentos
virgos postiços". Virgo é hímen, representa a
virgindade. Compreendemos que essa mulher
prostituiu muitas meninas virgens, e "postiço" nos faz
acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo
que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta
convencer o anjo a levá-la na barca do céu inutilmente.
Ela é condenada por prostituição e feitiçaria.
10. A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por
um bode. Encaminha-se direto ao diabo, pedindo para
embarcar, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta
subornar o diabo, porém este, com a desculpa de não
transportar bodes, o aconselha a procurar outra barca.
O judeu fala então com o anjo, porém não consegue
aproximar-se dele: é impedido, acusado de não aceitar
o cristianismo. Por fim, o diabo aceita levar o judeu e
seu bode, mas não dentro de sua
barca, e, sim, rebocados.
11. O corregedor e o procurador, representantes do
judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos.
Quando convidados pelo diabo para
embarcarem, começam a tecer suas defesas e
encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo os
impede de entrar: são condenados à barca do inferno
por manipularem a justiça em benefício próprio.
Ambos farão companhia à Brísida Vaz, revelando certa
familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em
trocas de serviços entre eles e ela.
12. O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter
perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e
enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno
por corrupção.
Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que lutaram
e morreram defendendo o cristianismo. Estes são
recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente.
13. Exemplo de redondilha maior:
DIABO
Vai/ ou /vem!/ Em/bar/cai/ pres/tes!
Se/gun/do /lá /es/co/lhes/tes,
As/sim/ cá/ vos/ com/tem/tai./
Pois/ que/ já a /mor/te pas/sas/tes,
Ha/veis /de /pas/sar /o /ri/o.
Obs: lembrando que a contagem deve ser feita até a
última sílaba forte de cada verso
14. A Farsa de Inês Pereira
Peça construída para comprovar o provérbio popular “Mais
vale asno que me leve que cavalo que me derrube”.
A peça conta a história de Inês Pereira, moça simples e
sonhadora que procura, por meio do casamento com um
homem que saiba tanger viola, fugir à rotina doméstica.
Despreza a proposta de Pero Marques, filho de um
camponês rico, homem tolo e ingênuo, e aceita se casar
com Brás da Mata, um escudeiro cretino e pobretão. No
entanto, essa união se torna desastrosa para Inês, pois Brás
da Mata viaja para a África para lutar pelas colônias
portuguesas e ordena que Moço, seu criado, vigie Inês e
que quando saísse da casa da protagonista a trancasse.
15. Brás da Mata é morto na África. Inês, ensinada pela
dura experiência, toma consciência da realidade e
aceita se casar com Pero Marques, seu primeiro
pretendente. Depressa também a jovem aceita a corte
de um falso ermitão. A farsa termina com o marido
(cantado por ela como cuco, gamo e
cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos do
homem traído) levando-a às costas (asno que me
carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um
“encontro”.
16. Personagens:
Inês Pereira
Mãe (de Inês Pereira)
Lianor Vaz (alcoviteira, mulher que à época arranjava
casamentos)
Latão e Vidal (judeus casamenteiros que apresentaram
Brás da Mata a Inês)
Pero Marques
Brás da Mata
Moço (criado de Brás da Mata, o primeiro marido de
Inês)
Ermitão (amante de Inês)
18. 26. (UFRGS/2010)
Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso) as seguintes afirmações
sobre o teatro do português Gil Vicente e do brasileiro Ariano
Suassuna.
( ) Nos autos vicentinos, são comuns figuras da Igreja que não
cumprem seus votos, a exemplo de padres envolvidos com amantes
ou com a venda de indulgências.
( ) No Auto da Compadecida, a santa é apresentada de acordo com a
perspectiva popular, já que protege os oprimidos.
( ) A postura moralista de Gil Vicente contraria a visão de mundo
estratificada da Idade Média, pois condena os personagens a partir
de seus defeitos individuais.
( ) Ariano Suassuna, inspirado nas tradições populares ibéricas, criou
heróis que sobrevivem graças ao uso da astúcia que burla a ordem
social, como é o caso de
João Grilo.
19. A sequência correta de preenchimento dos
parênteses de cima para baixo, é
(A) F – F – V – F.
(B) F – F – F – V.
(C) V – F – V – V.
(D) V – V – F – V.
(E) V – V – V – F.
20. A primeira afirmação é verdadeira, pois, de
fato, aparecem nas obras de Gil Vicente personagens
representantes do clero que não cumprem os
mandamentos católicos, como por exemplo o Frade de
O Auto da Barca do Inferno.
A terceira afirmação é falsa, pois, Gil Vicente não
condena seus personagens por problemas
individuais, já que eles são representantes de toda uma
classe (personagens TIPOS)
A alternativa correta, portanto, é a letra D.
21. (UFRGS/2004) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao
episódio do embarque do fidalgo, da obra Auto da Barca do
Inferno, de Gil Vicente.
I. A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo configura
uma crítica não ao indivíduo, mas à classe a que ele pertence.
II. Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o desprezo
do fidalgo aos pequenos, aos desfavorecidos.
III. No momento em que o fidalgo pensa ser salvo por haver
deixado, em terra, alguém orando por ele, evidencia-se a crítica
vicentina à fé religiosa.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I. (D) Apenas II e III.
(B) Apenas I e II. (E) I, II e III.
(C) Apenas I e III.
22. A primeira afirmativa está correta. Como vimos, os
personagens vicentinos representam toda uma classe.
A segunda afirmativa também é verdadeira. A crítica
social está muito presente na obra de Gil Vicente.
A terceira afirmativa é FALSA. Gil Vicente não crítica a
fé católica, e sim o falso moralismo dos padres.
A alternativa correta, portanto, é a letra B.