O documento discute os conceitos de interação e interatividade. Apresenta diferentes enfoques para interação mediada por computador e defende uma abordagem sistêmica e relacional, considerando contextos e mudanças recíprocas entre os envolvidos. Também diferencia interação reativa e interação mútua.
2. Talvez você já tenha
ouvido falar em interação
em algum momento.
3. No mundo em que vivemos, parece que a interação está
inserida em tudo. Na internet temos blogs, e-mails, facebook,
twitter, videoconferências. Fala-se em interatividade nos
videogames, nos programas de rádio e televisão.
Podemos ouvir em situações banais, como um cinema
interativo, ou um brinquedo interativo. Já teve até anúncio de
tênis (“Esse interage com seus pés!”)
Ela está no senso comum, confundindo-se com vários termos,
como o diálogo, a comunicação, a ação involuntária, entre
outros.
4. Segundo estudos em linguística histórica de Starobinski (2002):
● a palavra interação não possui antecedentes na língua
latina;
● o substantivo interaction surgiu no Oxford English
Dictionary, em 1832 (como neologismo);
● em 1839, surge o verbo to interact, significando "agir
reciprocamente";
● na França, a palavra surge em 1867 depois de outro
neologismo, a "interdependência".
Referência do termo
5. Ela também está na Física, na Informática, na
Matemática, na Saúde, na Educação, nas relações sociais
e em outras áreas do conhecimento.
A interação é base para compreensão de processos
interpessoais, informáticos, educativos, psicológicos
e sociais.
6. Interação é uma "ação entre"
(inter+ação).
Vejamos alguns exemplos:
Vamos partir da seguinte definição:
Ela está apoiada no princípio de reciprocidade da ação
entre pessoas ou entes (máquinas, substâncias
químicas, variáveis estatísticas, etc.).
É estabelecida uma relação entre entes.
7. Relações entre seres vivos e não vivos
dentro de um ecossistema. Podem
ocorrer de vários tipos. Aqui podemos
ver uma interação harmônica do tipo
sociedade (de abelhas), com indivíduos
da mesma espécie, caracterizado por
uma divisão do trabalho.
Interação biológica
8. Interação eletrostática
(ou lei de Coulomb)
A Lei de Coulomb trata da força de interação
entre partículas eletrizadas; partículas de
mesmo sinal se repelem, e as de sinais
opostos se atraem.
Fonte: texto e imagem: http://www.efeitojoule.com/2008/09/lei-
de-coulomb.html
10. Interação social = Interação que ocorre entre
uma pessoa e outra, entre uma pessoa e um
grupo ou entre um grupo e outro.
É um fenômeno estudado pelo campo da
sociologia, como podemos ver na teoria da ação
social de Max Weber.
11. A ação social não é qualquer ação do indivíduo; ela
ocorre quando o indivíduo age com algum sentido
na relação com o outro.
12. As ações dos homens carregam propósitos, intenções
e significados, e uma das grandes questões
sociológicas de Weber era saber decifrar isso.
Quando o indivíduo age com o outro, acontece uma
relação social.
13.
14. A interação é um dos objetos da ação social, além da
presença do outro e do significado.
A sociedade é uma totalidade constituída de uma
multiplicidade de interações sociais.
15. Com base em Weber,
“os indivíduos estão ligados uns aos
outros por uma trama de relações
sociais, e a interação implicada pela
orientação do comportamento em
relação a outrem toma lugar, por
conseguinte, no seio de um conjunto".
(Apud SILVA, 2007).
16. Com base no que vimos até agora, o aspecto mais
importante da interação é que ela provoca uma
modificação de comportamento nos indivíduos
envolvidos, como resultado do contato e da
comunicação que se estabelece entre eles.
Essa relação precisa fazer sentido aos envolvidos.
17. Quando falamos de interação social, levamos em
consideração as relações, o comportamento, as
mudanças de comportamento, sabendo que o indivíduo
é produto de um sistema complexo, com culturas,
símbolos e linguagens diferentes.
18. Significados de determinados gestos e
comportamentos variam de uma cultura
para outra, de uma época para
outra, concordam?
19. “A sociedade nasce das interações individuais. Nenhuma ação humana
existe separada da interação. Quase tudo o que uma pessoa é e faz é
formado no processo de interatuar simbolicamente com outras pessoas. A
interação consiste num mútuo levar-em-conta e responder, e a sociedade
resulta de cada pessoa coordenar a sua própria conduta como a dos outros.
Mas a vida em grupo e a conduta individual modelam-se através do
processo em curso de interação simbólica.”
(LITTLEJOHN, 1982)
Do Interacionismo Simbólico
Por Herbert Mead e Herbert Blumer (discípulo de Mead)
20. E quando levamos essa
discussão para os
ambientes criados pelas
novas tecnologias?
21. Quando se trata de computadores, além do termo
interação, ouvimos muito o termo interatividade.
"Este site tem interatividade!"
"O curso a distância tem um grau elevado de
interatividade por apresentar uma animação que
praticamente fala com a gente."
22. O Professor Alex Primo (2005) prefere usar o conceito
de interação mediada pelo computador.
Mas, como vimos, a interação deve valorizar a ação
recíproca e a interdependência. Para isso, Primo
problematiza alguns enfoques que se dão ao termo
interação, principalmente por conta das visões
limitadas de comunicação.
23. Enfoque transmissionista
A interação está limitada à polarização "Webdesigner" e
"Usuário"(*).
Há uma crítica ao modelo tradicional de comunicação, de
emissor que transmite a informação por um canal para o
receptor. (SHANNON e WEAVER, 1949). Esse modelo ajuda a
pensar a comunicação de massa (de um emissor para
muitos receptores, como é a televisão), e a lógica do
webdesigner que disponibiliza.
* Para Primo (2005), “usuário” é aquele que está à mercê de alguém hierarquicamente superior,
que disponibiliza um pacote para uso baseado em determinadas regras. Primo prefere usar o
termo interagente, pois que emana dele a ideia de interação.
25. Enfoque informacional
Esse enfoque incorpora os pressupostos da Teoria da Informação, mas
valoriza a possibilidade de escolha entre alternativas disponíveis. Nessa
perspectiva, a interatividade é classificada a partir do número de escolhas
que o programador coloca à disposição do "usuário" e de como este
usuário pode reagir (seleção entre alternativas).
Somos reféns de um programador, que pode nos dar poucas ou muitas
possibilidades de escolha. Isso não contempla pensar em dinâmicas
como criação compartilhada (wiki, por exemplo).
26. Por exemplo, um formulário
online de múltipla escolha. São
escolhas limitadas,
predeterminadas por alguém.
27. Enfoque tecnicista
Por sempre remeter ao aparato tecnológico, esse
enfoque da interação mediada por computador destaca
características técnicas, abordando a capacidade do
canal (quantidade de informações que pode transmitir).
Steuer (1999) define interatividade como "a medida da
habilidade potencial da mídia em permitir que o usuário
manifeste uma influência no conteúdo e/ou forma de
comunicação mediada" (PRIMO, 2005, p. 7)
28. Enfoque mercadológico
É um argumento de venda. Se há a capacidade de
nos incluir na cena e nos fazer crer que estamos
inclusos, é interatividade. É nos dar uma resposta
rápida, como, por exemplo, uma pesquisa que eu
faço no buscador do Google. Não há necessidade de
um diálogo.
É puro marketing!
29. Enfoque antropomórfico
Bairon (1995, p 16): "Por interativo podemos
entender todo o sistema de computação onde se
manifesta um diálogo entre o usuário e a máquina."
O computador dialoga?
Quando uso o sistema operacional Windows, estou
dialogando com o computador?
30. Abordagem sistêmico-relacional de
interação
Após problematizar esses enfoques, Primo (2005) vai buscar na
comunicação interpessoal o estudo sobre as interações mediadas por
computador. Toma como base Gregory Bateson, que visa destacar
padrões de interação em vez de atos individuais.
Descrever uma amizade entre duas pessoas, por exemplo, não deve ser
um estudo separado de cada pessoa, pois a relação que se forma é
diferente da soma das características individuais.
Segundo Fisher (1982), uma pessoa não comunica, mas se engaja em um
processo de comunicação, cria relacionamentos através da interação.
32. 1) Interação mútua
"O relacionamento entre os participantes vai definindo-se ao
mesmo tempo que acontecem os eventos interativos (nunca
isentos dos impactos contextuais)." (Primo, 2005, p.13 ). É um
constante vir-a-ser, que vai se atualizando através das ações
na relação entre os interagentes.
Nessa interação, há modificações recíprocas dos interagentes
durante o processo: um modifica o outro. O comportamento
de um afeta o do outro.
Vai além da ação de um e da reação do outro.
33. Leva em conta uma
complexidade global
de comportamentos
(intencionais ou não e
verbais ou não), além
de contextos sociais,
físicos, culturais,
temporais, etc.
Como num fórum de
uma comunidade ou
de um curso.
34. 2) Interação reativa
Baseados no modelo estímulo-resposta, permite uma
ação, porém simples e limitada.
Depende da previsibilidade e da automatização nas trocas.
Podem recorrer a trilhas previsíveis, permitido que uma
troca reativa aconteça repetidamente até a exaustão.
São os sistemas fechados, com situações previstas de
participação do usuário.
Como ocorre nas enquetes de redes sociais.
35. Pode haver uma multi-interação - várias
interações simultâneas
Se ao mesmo tempo pode "rolar" uma interação presencial
entre duas pessoas através da fala, dos gestos,
do perfume...
… na mediação do computador, pode rolar interações reativas
e mútuas ao mesmo tempo, como é o caso do chat ("rola" a
conversa, ao mesmo tempo que a pessoa interage com as
limitações da interface do software utilizado).
36. Finalizando
Como vimos, a interação social não é apenas o ato de
transmitir informação. São ações entre pessoas que
implicam reciprocidade, mudanças de comportamento,
relações culturais, sociais, territoriais.
Isso ocorre nas relações presencias e nas virtuais.
37. Você acha que a Comunidade de Práticas é um espaço
potente de interação para as equipes de saúde, para discutir
políticas públicas, novos projetos, entre tantos outros
encontros entre os profissionais do Sistema Único de Saúde?
Se sim, consegue enxergar sua experiência interagindo com
outras experiências? Provocando mudanças de
comportamento, transformações em outros territórios, ou
criando relações?
38. Referências
BAIRON, S. . Multimídia. 1. ed. São Paulo: Global, 1995. v. 3.000. 250p .
FISHER, B. A. The pragmatic perspective of human communication: a view from system theory. In F.E.X.
DANCE (Ed.). Human communication theory. New York: Harper & Row, 1982, p. 192-219
LITTLEJOHN, S.W. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.
p. 65-86.
PRIMO, Alex; CASSOL, Márcio. Explorando o conceito de interatividade: definições e taxonomias . Informática
na Educação: teoria & prática, Porto Alegre, v. 2, n. 2, 1999.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/InfEducTeoriaPratica/article/view/6286> Acesso em: 15 abr. 2015.
PRIMO, Alex. Enfoques e desfoques no estudo da interação mediada por computador. Salvador, v. 1, n. 45, p.
1-15, 2005. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/AlexPrimo/enfoques-e-desfoques-no-estudo-da-
interao-mediada-por-computador> Acesso em: 15 abr. 2015.
SHANNON, Claude; WEAVER, W. The Mathematical Theory of Communication. Illinois: University of Illinois
Press, 1949.
SILVA, M. Sala de aula interativa. 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2007.
STAROBINSKI, Jean. Ação e reação: vida e aventuras de um casal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
STEUER, Jonathan. Defining virtual reality: dimensions determining telepresence. Journal of Communication,
v.42, n.4, p.72-93, Autumm 1992.
UNIVESPTV. Canal no Youtube. Clássicos da Sociologia: Max Weber. <https://www.youtube.com/watch?v=ea-
sXQ5rwZ4>. Acesso em: 16 abr. 2015.
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