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Da idéia de “impacto” a de “viver com” a
internet: a percepção de jovens usuários
do programa AcessaSP sobre o orkut
Pesquisadora
Melissa Migliori S. Machado
Mestranda em Comunicação e Semiótica
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo – Brasil
Pesquisadora do Programa Conexões Científicas
Escola do Futuro da USP
Maio de 2007
1
Índice
Introdução – p. 03
A passagem da idéia de “comunidade” para as “redes sociais” – p. 05
Da idéia de “impacto” para a de “viver com” a internet – p. 07
A Pesquisa – p. 09
Os Resultados – p. 10
A Confiança – p. 11
Conclusões – p. 18
Encaminhamentos – p. 20
Bibliografia – p. 22
2
Introdução
O público da Internet é predominantemente jovem. Em todas as pesquisas
realizadas, a proporção de jovens acessando a rede é maior do que na população adulta.
Estamos presenciando o início de uma era na qual jovens estão crescendo com/na
Internet e, portanto está se desenvolvendo uma cultura de Internet. Não se trata de
agregar “uma coisa a mais” na vida dos jovens, mas sim de compreender que a vida em
si mudou.
Algumas tecnologias são consideradas revolucionárias na medida em que
introduzem profundas alterações tanto no tecido social quanto nas formas de pensar,
agir, sentir e ser de seus contemporâneos. A internet é uma dessas tecnologias
revolucionárias. Segundo Costa (2005), os impactos da internet podem ser divididos em
dois tipos principais - a) impactos diretos: aqueles gerados pela interação dos usuários
com a rede de computadores ou pela interação entre usuários por meio dela; b) impactos
indiretos: aqueles que incidem tanto sobre os usuários da rede quanto sobre homens e
mulheres que podem jamais ter tido qualquer experiência direta com a internet. Isso
porque tanto os primeiros quanto os últimos sofrem os efeitos das profundas alterações
introduzidas pela internet no mercado de trabalho, na circulação do capital, no exercício
da cidadania, no acesso à informação, na educação etc.
Uma das principais manifestações de uma determinada sociedade (ou de um
conjunto de sociedades), em uma dada época, é a tecnologia por ela desenvolvida e
usada. A internet não é uma exceção a essa regra. Ela faz parte do conjunto de
tecnologias (computadores, satélites, fibras ópticas, celulares etc.) que está tornando
possível a emergência de uma nova "era" (por muitos chamada de pós-moderna, ver
Bauman, 2001; Harvey, 1989; Sennett, 1998); uma era cujas principais características
são a integração, a globalização, a relativização, o imediatismo, a agilidade, a derrubada
de fronteiras, a extraterritorialidade, o nomadismo etc. (Costa, 2002)
Ao fazer parte do conjunto de fatores que estão mudando a configuração social
do mundo em que vivemos, a internet evidentemente também vem tendo um importante
papel nas mudanças que estão ocorrendo nos nossos comportamentos, nas nossas
3
formas de ver o mundo, bem como de nos vermos nele, e, acima de tudo, nas nossas
formas de ser.
Há muito nos foi mostrado que aquilo que acontece no nível social tem um
importante papel na construção da organização subjetiva. Todo ambiente sócio-cultural
é feito de um conjunto dinâmico de universos. (Rolnik, 1997). Tais universos afetam as
subjetividades, traduzindo-se como sensações que mobilizam um investimento de
desejo em diferentes graus de intensidade. O contorno de uma subjetividade delineia-se
a partir de uma composição singular de forças. A cada novo universo que se incorpora,
novas sensações entram em cena e um novo mapa de relações se estabelece, sem que
mude necessariamente a figura através da qual a subjetividade se reconhece. O conceito
de subjetividade é um conceito híbrido por excelência já que não descreve uma essência
ou uma natureza, mas diz respeito a um processo de produção de si que se realiza com
componentes heterogêneos, matérias distintas ou vetores de existencialização diversos.
(Passos, 2002).
Estamos aqui falando não só das relações familiares, dos acontecimentos da
infância ou dos componentes biológicos, mas também das relações com a cidade, com a
política, com os meios de comunicação, com as novas tecnologias etc. Sem incluirmos
aspectos da subjetividade contemporânea nas pesquisas e atividades, corremos o risco
de nos tornarmos inadequados ou mesmo preconceituosos (como é o caso daqueles para
os quais qualquer mudança recebe valoração negativa a partir de parâmetros
tradicionais).
Dentre os elementos da internet que vêm co-habitando todas essas mudanças, os
sites de comunidades de relacionamento, principalmente o orkut, têm sido de grande
destaque. O programa de inclusão digital Acessa São Paulo, com a preocupação de
acompanhar o desenvolvimento do perfil dos usuários freqüentadores, seus hábitos e
atitude em relação as novas tecnologias, o impacto pessoal e comunitário, realiza
anualmente uma pesquisa chamada Ponline. Segundo os resultados da pesquisa de 2006,
seu público é predominantemente jovem, a grande maioria utiliza os postos mais de uma
vez por semana, e em resposta a questão “o que você faz na internet?”, as três principais
são: recebo e envio e-mail – 86,4%; converso via mensagens instantâneas (exemplo:
MSN, Google talk) – 64,8%; participo de sites de comunidades de relacionamento
(exemplo orkut) – 63,1%.
4
Esse dado é importante porque muitos estudiosos (vide Castells, 2003; Lévy,
1999, Rheingold, 1994) consideram a comunicação mediada por computador como uma
forma de conexão entre as pessoas e aumento do senso de comunidade, através do
surgimento de comunidades virtuais. A sinergia entre as pessoas via internet,
dependendo do projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com enorme
sucesso. (Costa, 2205) Essas redes digitais representam hoje fator determinante para a
compreensão da expansão de novas formas de redes sociais.
Embora isso possa acontecer, o exemplo do orkut leva-nos a inferir como esta
dinâmica, pesquisada do ponto de vista da subjetividade, pode se traduzir em aplicações
no contexto de um programa de inclusão digital.
A passagem da idéia de “comunidade” para as “redes sociais”
As diversas formas de comunidades virtuais, a explosão dos blogs e wikis, e a
própria febre do orkut são prova de que o ciberespaço constitui fator crucial na
constituição de um novo jeito de fazer sociedade e, consequentemente, nos contornos da
subjetividade. Os estudos que levam a passagem da compreensão de “comunidade” para
“redes sociais” se deve em grande parte a explosão das comunidades virtuais no
ciberespaço e a estrutura dinâmica das redes de comunicação. Com tantos eventos
coletivos disparados pelo orkut, não há dúvidas sobre seu potencial de reorganização da
dinâmica dos movimentos sociais. As redes digitais representam hoje um fator
determinante para a compreensão e ampliação de novas formas de redes sociais.
A discussão sobre o termo “comunidade” se dá em torno da idéia de que esse
termo pode, de fato, ter mudado de sentido. Alguns autores relacionam o termo
comunidade com o sentido mais tradicional que conhecemos: laços por proximidade
local, parentesco, solidariedade de vizinhanças. Neste sentido, a perda da possibilidade
de se relacionar desta maneira, pelo crescimento das cidades e outros fatores
relacionados à revolução industrial das últimas décadas, nos traria relações não coesas,
uma vez que este desenho de comunidade é a base para relacionamentos consistentes.
Essa revolução teria trazido relações superficiais, exploratórias, transitórias,
especializadas e desconectadas nas vizinhanças. Wellman & Berkowitz afirmam que
5
recentes análises fazem uma comparação nostálgica das comunidades contemporâneas
com os supostos bons tempos, e oferecem uma análise mais complexa trazendo a idéia
de que estamos em rede, mas associados em comunidades pessoais, e que as
comunidades contemporâneas não estão mortas.
O que os recentes analistas de redes apontam é para a necessidade de uma mudança no
modo como se compreende o conceito de comunidade: novas formas de comunidade
surgiram, o que tornou mais complexa nossa forma de relação com as antigas formas.
De fato, se focarmos diretamente os laços sociais e sistemas informais de troca de
recursos, ao invés de focarmos as pessoas vivendo em vizinhanças e pequenas cidades,
teremos uma imagem das relações interpessoais bem diferente daquela com a qual nos
habituamos.(Costa, 2005, p.239).
Isso nos leva a passagem da idéia de “comunidade” para a de “redes sociais”.
Nas redes as relações não estão mais presas a padrões específicos e estabelecidos.
Cobrar das comunidades virtuais aquilo que se entendia “romanticamente por
comunidade”, pode ser simplesmente se impedir de ver o que vem acontecendo nos
movimentos coletivos de nossa época. Uma vez entendido que comunidades virtuais são
uma nova forma de se fazer sociedade, essa forma fala de uma outra divisão dos
espaços. É desprendida, baseada muito mais na cooperação, trocas objetivas e interesses
específicos do que na permanência de laços próximos. Estes termos só foram possíveis
com o apoio das novas tecnologias de comunicação.
No entanto, essas novas formas de associação que estabelecem as dinâmicas de
nossa atividade atualmente trazem desafios interessantes. As redes sociais pedem novas
maneiras de estender nossas “simpatias” para além dos clãs e vizinhanças próximas e
conhecidas, ou seja, as “comunidades” em seu sentido mais tradicional. A questão que
aparece é como caminhar para um arranjo de comunidades pessoais em redes. Como
analisar as tendências, o intenso uso do orkut, por exemplo, e buscar o que precisa ser
fortalecido para que esse movimento se constitua de fato numa organização proveitosa
para todos. Segundo o estudioso de redes sociais Rogério da Costa:
Um dos aspectos essências para a consolidação de comunidades pessoais ou redes
sociais é, sem dúvida, o sentimento de confiança mútua que precisa existir em maior ou
menor escala entre as pessoas. A construção dessa confiança está diretamente
6
relacionada com a capacidade que cada um teria de entrar em relação com os outros, de
perceber o outro e incluí-lo em seu universo de referência. (p.243)
Da idéia de “impacto” a de “viver com” a internet
Muito tem sido produzido a respeito do impacto dessas tecnologias no modo de
vida no século XXI, especialmente na atual geração de crianças e jovens. A geração
dos jovens que nasceram em meados dos anos 80, nasceu e cresceu com a informática e
a Internet como parte elementar da contemporaneidade. Essa geração não viu a
“transformação” de um mundo analógico em digital, mas sim cresceu dentro de um
ambiente no qual a vida virtual nada mais é que parte de seu cotidiano, uma ampliação
de território.
Uma pesquisa realizada durante seis anos, Annenberg Digital Future Project,
encomendada pela Universidade do Sul da California (USC), entre o público jovem
americano, mostra que muitos internautas acreditam que pertencer a
comunidades virtuais é tão importante quanto os laços estabelecidos
no mundo real. De acordo com a pesquisa, cada vez mais gente participa de atividades
sociais "online", como escrever "blogs", participar de fóruns e manter contato com
amigos e parentes. E um em cada cinco pais acredita que seus filhos passam muito
tempo na internet. Mas a maioria acha que isso não melhora nem prejudica seu
rendimento escolar.
Quais os efeitos dessa informatização nesses jovens?
É interessante notar o percurso dos temas de interesse das pesquisas e notícias na
mídia sobre a internet. Desde meados da década de 1990, iniciou-se uma difusão da
internet com foco nas diversas patologias que seu uso poderia causar e, daí em diante, as
crenças nos comportamentos patológicos associados à internet.
Os psicólogos americanos Kimberly Young (1996, 1998) e David Greenfield
(1999, 2000), divulgaram a existência de um novo comportamento compulsivo, com
referencia inclusive ao Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-
IV), dizendo se tratar de comportamento semelhante ao do jogo compulsivo. Esta nova
patologia foi chamada de Internet addiction ou Pathological Internet Use (PIU) e tanto
Young quanto Greenfield passaram a se dedicar ao seu tratamento.
7
Outra pesquisa que encontrou muita receptividade na mídia norte-americana foi
aquela levada a cabo pelo Stanford Institute for the Quantitative Study of Society
(SIQSS, 2000). De acordo com o professor Norman Nie, diretor do SIQSS, o estudo
revela que o uso intensivo da Internet está gerando uma legião de pessoas solitárias que
não se interessam pelas obrigações e prazeres do mundo real e substituem vínculos
afetivos fortes e reais por vínculos afetivos mais fracos e virtuais.
Estes estudos foram seguidos de muitos outros sobre os efeitos negativos do uso
intensivo da Rede. Pesquisas americanas, canadenses, francesas, suíças, todas ganharam
muito espaço na mídia nacional.
Brasileiros tiveram acesso nos últimos anos a noticias e informações do tipo:
Instituições tentam curar viciados em Internet: a nova doença foi identificada em
janeiro de 1995, e seu histórico e sintomas podem ser encontrados na homepage
mantida pelo Centro para Viciados On line da Universidade de Pittsburgh
(http://www.pitt.edu/~ksy/). (Folha de São Paulo, 20 de novembro de1996); Médico
diz que Internet vicia como cocaína: Essa é a conclusão do psicólogo britânico Mark
Griffiths, que, após um ano e meio de pesquisas, definiu o perfil do viciado: é o
adolescente solitário que usa o computador para criar um universo paralelo (Jornal do
Brasil, 7 de agosto de 1997); Viciados em Internet: o número de viciados em
informações obtidas na Internet está aumentando em todo o mundo, segundo estudo
realizado pela agência Reuters. Um total de 53% das mil pessoas entrevistadas admitiu
que sofrem de incontrolável ânsia de obter informação pela Internet (Jornal O Globo, 8
dezembro de 1997); Internet vira vício para 10% dos usuários: [Segundo o psicólogo
canadense Jean-Pierre Rouchon], homens entre 25 e 35 anos com um bom nível
socioeconômico, que passam incontáveis horas trabalhando na frente dos seus
computadores, são o principal grupo de risco para um novo tipo de dependência que
começa a ser detectado: o vício em Internet (Folha de São Paulo,30 de agosto de 1998).
A revista Superinteressante, em outubro de 2000, buscando oferecer um panorama geral
sobre a internet publica a matéria: Armadilha Digital, na qual é ressaltada mais uma vez
a dependência, o isolamento social e a substituição da realidade “real” pela “virtual” e
seus prejuízos.
É isso o que vem sendo passado para o público em geral desde o início da
difusão da Internet.
8
Como estamos no olho do furacão, vivendo todas estas transformações,
conseguir se afastar e desenvolver uma visão reflexiva sobre os acontecimentos é um
grande exercício. A proposta desse trabalho não é, portanto, fazer mais uma análise de
impacto, e sim tentar caminhar na direção de iluminar pontos emergentes de uma nova
configuração. Diferente de medir impactos em relação a outros cenários anteriores ou
posteriores.
Esta, certamente, é a geração considerada como depositária das novas
informações, ou seja, existe em nossa sociedade um conceito de que as crianças e os
jovens têm domínio sobre o “mundo dos fios e dos botões”. Segundo FEIXA (2001),
agora são os pais que começam a aprender com os filhos, os quais constituem um novo
referencial de autoridade e transformam certas condições biográficas que definem o
ciclo vital. São os jovens os encarregados de dar conta das novas tecnologias.
Não é nosso foco aprofundar no julgamento destas colocações, mas apenas
ressaltar que uma grande mudança ocorre no desenho das relações e nos conceitos de
aprendizagem e construção do conhecimento. Ao analisar tudo aquilo que, em nossa
forma de pensar, depende da oralidade, da escrita e da impressão descobriremos que
apreendemos o conhecimento por simulação, típico da cultura informática, com os
critérios e os reflexos mentais ligados às tecnologias intelectuais anteriores (Levy,
2002).
Colocar em perspectiva, relativizar as formas teóricas ou críticas que perdem
terreno hoje, isto talvez facilite o indispensável trabalho de luto que permitirá abrimo-
nos a novas formas de comunicar e de conhecer. A cultura de rede exige novos
aspectos e competências de sociabilidade em novos contextos: atenção, cooperação,
confiança e inter-relação. (Costa, R.; 2002) Tais aspectos apontam para o surgimento de
uma nova linguagem e convidam para uma análise sobre nossas capacidades de se
comunicar, de se relacionar com inúmeros indivíduos e ambientes de informação.
A pesquisa
A presente pesquisa buscou investigar quais mudanças se estariam operando nas
subjetividades destes jovens, hoje, considerando-se a configuração das redes sociais. O
foco da pesquisa foi o orkut, por ser o “campeão de audiência” entre os jovens usuários
do programa Acessasp.
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Uma vez que é sabido que o jovem usa muito o orkut, buscamos investigar qual
sua percepção sobre esta rede e como começou a fazer parte de sua vida.
Universo:
Foi selecionada uma mostra de jovens com idade entre 16 a 18 anos, faixa etária
com grande intensidade de participação no orkut, freqüentadores dos postos do
programa. A escolha do posto se deu pensando na influência que seu perfil poderia ter
nas possibilidades de comparações entre o encontro com amigos no ambiente virtual e
no presencial. Nesta perspectiva, foi escolhido o Posto Parque Fontes do Ipiranga, que
fica dentro de um parque e tem características de um “ponto de encontro” entre turmas
de conhecidos.
Metodologia:
A perspectiva de investigar aspectos da subjetividade direcionou a opção por
uma metodologia de pesquisa qualitativa. Foi elaborado um roteiro semi-estruturado de
entrevista a fim de realizar os estudos de caso.
Para isso foram realizadas entrevistas-piloto, para se aproximar da linguagem e
imagens utilizadas pelos jovens. O desafio dessa conversa-entrevista era não direcionar
imagens e buscar perceber os sentimentos que acompanham as falas. O roteiro foi
modificado após o piloto, com ajustes desta natureza.
Foram realizadas doze entrevistas, sendo uma mostra de três meninas e nove
meninos. As entrevistas aconteceram no posto escolhido, enquanto esperavam sua vez
de usar as máquinas.
Os Resultados
A dinâmica das entrevistas permitiu que a análise e comparação dos dados, a
partir de indicadores de referencia estabelecidos do agrupamento e cruzamento dos
conteúdos obtidos, formasse um corpo coeso que passa a constituir nosso “jovem
imaginário”, que representará o resultado deste coletivo na narrativa a seguir. Os
resultados serão indicados no texto como comentários ilustrativos das idéias e conceitos
trazidos a partir da análise das entrevistas.
Três grandes vetores emergiram do universo da pesquisa: a questão da
linguagem e comunicação, do território e da confiança, que é ressaltada pelo viés da
segurança. Muitos outros caminhos de aprofundamento podem ser traçados a partir dos
10
depoimentos sobre relacionamentos, o que dizem sobre ser amigo e fazer novos amigos,
pois, olhar estes temas pensando na configuração das subjetividades é um universo
amplo de exploração.
Os dois primeiros temas não foram aprofundados em sua análise e merecem
nova investigação por sua riqueza de conteúdos. A questão da linguagem e
comunicação refere-se às novas competências da maneira de escrever, perceber
sutilezas da comunicação verbal e não-verbal, se emocionar, perceber o todo da
comunicação, e da capacidade de realizar uma colagem entre elementos separados para
formar a imagem de uma pessoa. Esta competência de colagem, no caso do orkut, é a
composição da foto, das mensagens, das comunidades, do perfil, seus afetos,
pensamentos e imaginação, para criar seu interlocutor e estabelecer uma relação.
A questão do território fica bem marcada na medida em que os jovens não se
referem, durante a entrevista, a dois mundos diferentes: o presencial e o virtual.
Referem-se as suas vidas, ao que fazem, aos amigos, às diferenças de graus de
intensidade de relações, mais do que à diferenças físicas e espaciais. Fica a percepção de
fato, de um território ampliado, de uma nova percepção da realidade e de um modo de
vida, mais do que a soma de uma parte a uma vida que sempre existiu.
Estes temas aparecem na apresentação geral da pesquisa, mas não se consolidam
como análise aprofundada. O recorte mais trabalhado aqui é referente à construção de
confiança.
A Confiança
Percebemos que a participação em redes sociais não é uma mera apropriação
tecnológica ou conceitual, mas sim um modo de vida, um jeito de ser, existir, fazer e se
relacionar. A internet, de fato, é tida como uma experiência, e não um conceito
entendido. Pura apreensão do conhecimento por simulação.
Em primeiro lugar, vale ressaltar que o orkut está inserido num ambiente de
tecnologias da inteligência. O mundo informacional do coletivo, a cybercultura, etc. É
sabido que o orkut foi lançado sem pretensões estabelecidas e quando, nesta pesquisa,
nos referimos a ele como objeto central a partir do qual fazemos nossas análises, não
estamos nos referindo somente a ele, mas arriscamos conectar o pensamento a tudo o
que ele pode representar para os jovens quanto à relação com seu ambiente de inserção.
11
Na conceituação dos jovens entrevistados, o orkut é um lugar para encontrar os
amigos e fazer novos, podendo ainda conhecer gente do mundo inteiro. Quando são
perguntados se há algum lugar que freqüentam que poderia se assemelhar ao orkut (um
lugar onde encontram e fazem novos amigos), surgem relações interessantes: escolas,
shoppings, parques e festas, lugares com possibilidade de encontrar os amigos. As
respostas não indicam comparação ou exclusão/substituição de um pelo outro, não é
uma relação deste tipo, mas sim a percepção de complementaridade. Não há um lugar
que possa ser comparado ao orkut, mas sim que se complementa a ele, como poder ir
aos encontros combinados pelo orkut, conhecer pessoalmente um novo amigo, namorar.
Em qualquer um destes ambientes “... não vai ter todo mundo que tem no orkut,
e também não vai ter meus amigos do orkut, vai ter só alguns [os amigos do grupo
daquela balada].” A possibilidade de se comunicar em escala e estar em contato com
todos ou muitos ao mesmo tempo é um atributo essencial e já incorporado.
Outro aspecto interessante é a complementaridade que o orkut faz às paqueras e
aproximações entre novos amigos. Pelo orkut “podemos mandar mensagens sem ter
medo da reação da menina, se ela não gostar nem chegamos nela quando encontramos.
Mas se ela for receptiva, marcamos um encontro.” A timidez é citada pela grande
maioria dos jovens entrevistados como atributo do encontro presencial, o olho no olho,
o tom de voz, a aparência, são aspectos que falam muito sobre a pessoa, que vão
aprendendo a usar e reservam para momentos “especiais”. “A facilidade de fazer
amigos no orkut é muito bom, não é como na festa”; além da timidez, “na festa nem dá
tempo de saber tudo, ou muita coisa da pessoa.” Pelo esquema de “analisar o orkut da
pessoa” (termo usado por eles), ou seja, seu perfil, fotos e amigos em comum, pode-se
obter bastante informação, e se houver interesse é só enviar um convite.
Mas aceitar convites não é uma simplicidade sem nenhuma implicação. “Se a
pessoa não me escrever um recado eu não aceito”, há uma exigência, sabem de quem
querem se aproximar, e de quem não querem. Geralmente a rede se expande via a rede
de amigos dos conhecidos, “vou pesquisando os amigos dos meus amigos e quem eu me
interessar eu convido, principalmente menina, se for bonita!”. Outra possibilidade é
começar a se relacionar com pessoas de comunidades de interesses. Começam a trocar
vídeos, informações, dicas “dicas de lugar onde tem uma pista de skate legal”, por
exemplo.
Um comportamento comum, mas não formalizado vai se esboçando. Práticas
vão se disseminando e a tal cultura de internet vai aparecendo. A semelhança nas
12
respostas aponta para um conjunto de conhecimentos e competências que estão sendo
usados, mas a dinâmica da internet não facilita esse olhar reflexivo para “descolar” a
prática do aprendizado. A dificuldade dos jovens em responder a perguntas objetivas
(como avaliado nas entrevistas-piloto) ressalta tais características.
Outros aspectos relevantes de serem apontados, no que diz respeito a
competências e práticas, é a fala constante de que foram apresentados ao orkut pelo
convite ou insistência de um amigo para que participassem. As novas descobertas como
incluir vídeos, enviar mensagens não públicas, incluir e modificar fotos, são todos
conhecimentos passados por amigos. Vão aparecendo claramente competências de
colaboração e troca. E por fim, a percepção geral de que vão ao posto do Acessa “ficar
no orkut” por diversão, mas uma diversão que faz emergir essas diversas competências
e que “não dá mais para ficar sem”, porque a dinâmica social já está estabelecida por
entre ela.
O presencial e o virtual
Quando são perguntados sobre conhecer uma pessoa presencialmente, há a
percepção de que fora do orkut é mais difícil. Mas como é fazer amigos pelo orkut? “Se
souber conversar dá para saber tudo. É só saber ir perguntando”, “dá para conhecer
mesmo alguém, de verdade. Conheci uma amiga do interior, vi as fotos dela, da família
dela, os amigos, e um dia ela veio aqui para ficar na minha casa.” O conceito de
“amigo” é entendido desta maneira, uma relação que começa pela troca de mensagens e
vai ampliando seu conteúdo podendo chegar a um encontro pessoalmente ou não. Essa,
portanto, não é uma meta, as pessoas conhecem novos amigos para se relacionar, e se
relacionar não significa necessariamente conhecer pessoalmente.
Os jovens parecem saber compor o presencial com os encontros no orkut,
quando transitar de um ambiente para outro, encontrar para namorar, para conhecer
mais a fundo. Esta dinâmica não aparece como uma tensão, ou alguma forma de
privação de contato. No entanto, fica claro que o orkut, e tudo o que representa, não
substitui nenhum outro tipo de relacionamento, e sim amplia e modifica as
possibilidades de se relacionar e se comunicar. Foi muito comum encontrar no posto
jovens em turmas ou acompanhados de amigos, queriam inclusive um participar da
entrevista do outro fazendo comentários engraçados! Os amigos ali presentes eram da
mesma comunidade em geral, mas a partir do momento que “entram” no orkut, essas
fronteiras realmente vão se apagando.
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A referencia de “comunidade”, local, restrita a laços próximos e conhecidos
parece mesmo estar se ampliando para uma nova filosofia do encontro: em redes
sociais. É real o uso da possibilidade de conversar e manter contato com antigos colegas
de trabalho, com aqueles que mudaram do bairro e da escola, ou iniciar uma amizade
com alguém que tem interesses parecidos, como “gostar de skate” e passar a trocar uma
série de recursos. Este aspecto tão ressaltado pelos jovens de aumentar sua rede de
amigos, conhecer a rede dos seus conhecidos, iniciar “redes de conversa”, trocar, traz a
questão da segurança, mas com ela, também a da confiança.
A construção da confiança
Quando questionados sobre esta dinâmica da rede social, trazem suas
competências de segurança. Dizem já saber distinguir bons encontros de maus
encontros. Este aprendizado digital, de um novo jeito de comunicar e fazer amigos tem
sutilezas e subjetividades que os jovens conseguem ler nas telas e, por exemplo, saber
identificar ameaças.
“Ah, a gente sabe, o tipo de mensagem, o jeito que ela fala. Aí não aceita [o
convite].” “Eu sei que o orkut tem muitas coisas erradas também né, essas coisas que
as pessoas ficam falando: essas coisas de pedófilos, de marcar encontro com outras
pessoas... Isso eu sei, eu tenho consciência disso que está acontecendo, tanto que, não
vou ficar ouvindo tudo o que as pessoas falam [no orkut]. Vou conversar normal, e se
alguém me chamar para ir em algum lugar, depende de quantas pessoas vão, se é
conhecido ou não. Não é uma pessoa que vai acessar o meu orkut e dizer que vai ter
uma festa, vai ser assim e assim, eu não vou. É preciso ter cabeça, é preciso saber usar
o orkut. Sabendo usar não vai acontecer nada.” “Acho que isso pode acontecer num
shopping também. Porque é um lugar livre, um lugar público e se a pessoa não
conhece a outra, ela pode arrastar a pessoa pelo braço para algum lugar e ninguém
saber.”
Na medida em que a questão da segurança parece estar integrada no seu universo
de percepção, e que estão buscando suas respostas, podemos abordar este ponto também
sob um outro aspecto: a confiança. Mesmo sabendo dos riscos, continuam a e lançar em
relacionamentos com “desconhecidos”. Um dos entrevistados relatou já ter criado, ele
próprio, um perfil fake. Divertiu-se com isso, mas desistiu, “ah, não e legal né. E
depois dá pra saber, eu ia me dar mal no final”. A questão da segurança, portanto, pode
ser vista sob a ótica da confiança e desconfiança.
14
O conceito de confiança está atrelado à relação mútua entre indivíduos em
interação social, onde se produzem expectativas e estas são concretizadas. “Confiança é
a expectativa que aparece dentro de uma comunidade regular, honesta e com um
comportamento cooperativo, baseado em normas comuns; estas normas podem
representar questões profundas em relação à origem do bem ou da justiça ou podem
estar relacionadas aos códigos de comportamento. (Fukuyama,1995,p.26) A confiança
requer então, algum grau de entendimento e de cooperação mútuos. Porém “a
desconfiança não é tanto o oposto como é a ‘outra face’ da confiança (como a outra face
de uma moeda; não se pode ter uma face sem a outra).” (Flores, 2002, p. 54)
O interessante é que construir confiança não é tão complexo quanto se imagina.
O casamento como exemplo, é uma resolução mútua de confiar. O amor não está
garantido, mas a partir daí concluir que todo casamento está em perigo é nos
alongarmos no negativo, na desconfiança, na crença da ameaçadora falta de segurança.
Embora se fale em “confiança incondicional”, a confiança quase sempre possui seus
limites, como os jovens colocam, por exemplo, na atenção especial com algumas
mensagens, ou o convite de um desconhecido. A percepção desses limites é essencial
para a confiança. Para além dos limites da confiança está a desconfiança, a sensação de
falta de segurança generalizada no orkut. A confiança sempre envolve riscos. Mas
estender-se na confiança com a sensação dominante de risco é não perceber o ponto
principal da confiança: o de que esta abre a porta para resultados positivos, sem ela
impossíveis.
A quantidade de publicações que encontramos na internet sobre “segurança no
orkut” é bastante grande. Listas de coisas que devem e que não devem ser feitas para
garantir, ou ao menos buscar o máximo de segurança. Esta postura generaliza a
sensação de falta de segurança e a fragilidade do internauta. Vai criando-se uma cultura
de desconfiança, um cenário que está dado. No entanto, este é um erro comum, muitos
agem como se a confiança fosse um estado e, ao invés disso, ela é uma dinâmica.
Segundo Flores:
Ela é de fato parte da vida, não da base inerte, dos relacionamentos. A confiança é uma
prática social, não um conjunto de crenças. É um aspecto da cultura e o produto de uma
prática, não só questão de psicologia ou de atitude individual. O problema da confiança
é prático: como criar e manter confiança, como se mover da desconfiança para a
confiança, de um abuso na confiança para sua recuperação. A confiança é questão de
15
relacionamentos recíprocos, não de previsão, de risco ou de dependência. A confiança é
questão de tecer e manter compromissos, e o problema da confiança não é perder a
confiança, mas sim o fracasso em se cultivar o tecer de compromissos.”(p. 31)
Flores nos apresenta as idéias de “confiança ingênua”, ou simples, aquela
confiança plena, sem nenhum questionamento ou dúvida, que se distingue da “confiança
autêntica”, que não é simplesmente uma questão de confiança cega, mas sim uma forma
de auto-superação, e é a desconfiança que deve ser superada, mas não negada. Esta
seria, portanto, uma confiança madura, articulada e cuidadosamente considerada.
Quando os jovens afirmam saber dos casos de “quebra de confiança” no orkut e
continuam participando, e muito, desta rede, estão sem dúvidas treinando e
amadurecendo sua confiança, sem negar os riscos, mas sem deixar de apostar nos
resultados e ganhos que estas relações podem trazer. Essa construção mostra que a
confiança não é apenas uma questão de predisposição para considerar argumentos e
evidencias, nem tão pouco subjetiva, cega e irracional. A colocação dos jovens nos leva
a se aproximar das idéias de Flores de que a confiança é (ou pode ser) racional, pode
levar em conta toda evidência disponível. “Não é subjetiva tanto quanto é intersubjetiva
– depende de relacionamentos sociais e de respostas mútuas”.
Em certo sentido, a confiança não se reporta em nada às evidencias e aos
resultados, exceto como preocupações secundárias. A confiança autêntica trata, em
última instância, dos relacionamentos e do que é necessário para criá-los, mantê-los e
restabelecê-los.
Afirmar que a confiança está associada a relacionamentos não nega que a
desconfiança a ser superada seja produto de pressões sociais, familiares, forças
abrangentes e impessoais. Esta desconfiança pode crescer questionando o sentido, a
produção, o bem gerado, os vínculos e terminar por contaminar uma sociedade ou
comunidade e terminar com suas possibilidades mais elementares de cooperação
comunitária. Para Solomon & Flores:
Tanto a confiança como a desconfiança tendem a se confirmar, e é fácil entender por
quê. Se uma pessoa confia na outra, a segunda pessoa, sabendo-se recebedora da
confiança, estará mais inclinada a ser confiável, confirmando assim a confiança da parte
da primeira pessoas. A recompensa psicológica da confiança é o fato de ser gratificante
receber confiança. É também gratificante, de modo mais profundo, confiar. A confiança
indica respeito, e a confiança cria um laço (se apenas, de início, um laço de confiança).
16
O problema de pensar a confiança como sendo a atitude em relação a outras pessoas é o
de ignorar a natureza recíproca da confiança. A maioria das pessoas reage à confiança
sendo confiável, tornando ainda mais provável a confiança. (pg. 60)
Essa tendência de confirmação também acontece para a desconfiança, uma vez
que nessa rota, sempre tendemos a interpretar comportamentos de modo a buscar
evidencias de que não merecem confiança de forma a confirmar nosso comportamento
prudente em ser cauteloso e a recusa em confiar nela. Tanto a atual discussão sobre a
confiança como a crença na difundida desconfiança são acompanhadas dos mais
estranhos exemplos de uma confiança tola.
Não é o que mostra nossas entrevistas com os jovens do orkut. Não há a
confiança cega, nem tão pouco uma desconfiança que enfraquece, percebemos o
nascimento de comportamentos que vão fortalecendo a perspicácia e senso comum de
confiança. A construção da confiança começa por uma compreensão, mas também
requer rotinas e práticas diárias. E isso no dia-a-dia dos jovens não é problema! Visto a
intensidade do uso e da prática do orkut.
A construção da confiança não é só “uma brincadeira de criança” para fazer
redes, mas está relacionada a temas como capital social. Capital Social é um conjunto de
hábitos e normas sociais formais e informais que afetam os níveis de confiança,
interação e aprendizado em um sistema social. Acumular capital social significa
fomentar processos de desenvolvimento e de confiança entre membros de uma
determinada sociedade local ou nacional. Capital social também pode ser entendido
como o conjunto de normas e valores informais compartilhados entre os membros de
um grupo, possibilitando-lhes a cooperação e a solidariedade. A confiança numa
sociedade não é garantida, é o produto de uma ação coletiva consciente. Neste sentido, a
questão da segurança no orkut pode ser abordada não apenas por uma visão unilateral,
mas com a perspectiva da construção de confiança.
Considerando que jovens, nesta faixa etária, estão rastreando informações,
conhecimentos e experiências estruturantes de seu modo de ser e agir, é interessante
pensar em impactos futuros de um programa de inclusão digital. Talvez hoje não esteja
clara a implicação destas experiências na construção de uma nova organização de
sociedade, com novos instrumentos, tecnologias e competências, para de fato promover
uma inclusão e inter-relação entre muitos. No entanto, parece ser um processo em
andamento a pleno vapor. Ao final da conversa, vem a pergunta: como seria sua vida
17
hoje se não pudesse mais acessar o orkut? “Vixxxxx, impossível!”. “não poderia mais
manter o contato com amigos que não vejo sempre”, “os colegas do emprego passado
que não encontro mais todos os dias”, “um amigo que mudou de escola e do bairro”,
“meus amigos do Canadá e Japão”. E quando perguntados da importância dos postos
do AcessaSP, todos se referem a ele como sua única possibilidade de vivenciar esta
dimensão de suas vidas.
Conclusão
Considerando-se os dados e análises apresentadas é possível traçar alguns
comentários finais indicando possibilidades de aprofundamento a partir deste estudo.
O fato de o posto AcessaSP ter acesso gratuito foi mencionado diversas vezes e
indica a percepção clara do lugar que ocupa na satisfação de certas necessidades sociais
imediatas. No entanto, sabemos que, o que o acesso aos postos promove é mais do que
diversão e preenchimento do tempo livre, vide as análises feitas nesta pesquisa. Estes
outros resultados como colaboração, confiança, ampliação da rede pessoal, talvez não
tão imediatos, podem ser cada vez mais explorados e intensificados.
O grande uso do orkut e as trocas de mensagens como principal ação de
interação com outros usuários indica a crescente comunicação que se estabelece entre os
jovens. Não entramos em nenhuma questão relacionada aos conteúdos trocados, porque
o que nos interessava era saber da sua percepção sobre isso. E o que ficou claro foi a
importância que dão para manter essa comunicação, a possibilidade de troca de
informações interessantes e o sentimento de pertencimento. O que nos interessou foi
perceber que não usam a linguagem somente como instrumentos abstratos, mas a
exercitam todos os dias. Essa possibilidade de comunicação ampliada, instantânea e de
muitos para muitos já está incorporada em seus universos subjetivos.
O espaço para ações casadas nos ambientes presencial e não-presencial é fértil.
Não há por parte dos jovens, a priorização de um em detrimento do outro. Podem existir
preferências, mas no mais são ambientes complementares para seus interesses. A
relação entre orkut, suas redes pessoais e ambientes presenciais parece estar dada pelos
18
usuários do programa quando vinculam encontros, “baladas” e pessoas em especial. No
entanto, poderia ser interessante apresentar para eles outras possibilidades que estas
redes podem oferecer. Desta maneira, expandir ações do programa do posto para
comunidades ou locais próximos, alinhados com interesses das políticas de inclusão
digital parece ser produtivo. Os aspectos de colaboração, confiança e participação
poderiam ser mais explorados.
A percepção da dinâmica do uso do orkut como “redes sociais” amplia as
possibilidades de leitura sobre a prática dos jovens nos postos e abre espaço para
reflexão sobre: como dinamizar esta prática, como fazer a apropriação da capacidade e
competência de estabelecer redes pessoais e, como esse conjunto pode ser aproveitado
para os fins do programa AcessaSP. Neste sentido, seria interessante também, se pensar
em pesquisas de mapeamento de capital social, com foco especial para ações de
implicação nas comunidades locais, ou mesmo participação em movimentos nacionais e
internacionais.
Este ponto traz a discussão da relevância ou não do uso de sites de
relacionamento pelos jovens. Como vimos nas análises, este uso pode ser muito
proveitoso desde que seja desenvolvido uma linha de trabalho que reconheça estas
produções e crie um terreno que valorize suas aplicações. Competências como
colaboração e participação têm que passar a integrar nosso olhar consciente sobre as
atividades que desempenhamos. Devem passar a ser percebidas como características
que se aprende, se pratica e, que são essenciais para a realização de inúmeras tarefas que
realizamos todos os dias, mas nunca foram ressaltadas.
Em relação à construção de conhecimento e aquisição de conhecimento por
simulação, fica claro que todos estes ganhos e aprendizados acontecem em clima de
diversão e cooperação. Este traço pode ser, de alguma maneira, incorporado aos
processos tradicionais de ensino e aprendizagem e bem aproveitados nas suas
características positivas. A percepção dessa dinâmica pode fornecer diretrizes para
futuros programas que possam se dirigir a estes públicos, como por exemplo a atuação
de monitoria nos postos.
Por fim, fica claro que a análise da atuação de grupos hoje em dia tem que
estar voltada, sobretudo, à formação de coletivos, redes, comunidades, mas dentro de
19
uma perspectiva filosófica que envolve discussões sobre afeto, confiança, potência de
ser e estar em relação. Isso significa que precisamos ter um olhar cuidadoso para a
socialização dos afetos, o modo encarnado e comprometido de se construir
conhecimentos, relações, trabalho, vida em comum.
A perspectiva de uma análise da subjetividade nos indica que é preciso aprender
a incluir o afeto como a capacidade de criar relações, de criar linguagem. São
justamente, construções mentais de afeto, de imaginação, de razão, de técnicas. E
pensando em explorar e multiplicar este potencial, de que forma ele poderia ser
explorado? Explorando-se a relação. Explorando-se a cooperação, explorando-se as
condições imateriais nas quais este processo se desenvolve, se reproduz.
Encaminhamentos
Como estes resultados podem contribuir para uma proposta de inclusão digital?
Podemos deslocar a ênfase do olhar do objeto (o computador, o programa, o orkut, este
ou aquele software) para o projeto (o ambiente cognitivo, a rede de relações humanas
que se quer instituir).
A questão não é regularizar/normatizar um bom uso da máquina e seus
componentes, mas sim articular as possibilidades de desenvolvimento que surgem da
relação com este universo. Pode-se pensar que um programa de inclusão digital não
persegue uma finalidade concreta e imediata, mas que pode estar encarregado de
compor os equipamentos coletivos da inteligência, contribuindo para estruturar os
espaços cognitivos dos indivíduos, assim como os arquitetos definem o espaço físico no
qual se desenvolve boa parte da vida privada e das atividades sociais. É um desafio atual
pensar políticas públicas considerando-se as novas dinâmicas dos coletivos.
Um dos papéis mais importantes das instituições não é exatamente o de governar
as relações entre as pessoas, mas o de mobilizar suas tendências, integrando-as num
todo maior. Para tanto, pesquisas como essa são importantes para desenhar tendências,
analisar cenários e definir estratégias.
Este recorte da subjetividade dos jovens apresentado acima pode indicar que
necessidades sociais atuais são supridas pelo programa, mas cujo resultados serão a
longo prazo, é uma construção social. Para que estes resultados se tornem efetivos, seria
interessante fortalecer a matriz de identidade do programa de inclusão digital: seus
20
princípios, missão e diretrizes, para expressá-los em suas ações e saber compor da
melhor maneira com os dados apresentados.
21
Bibliografia
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Conexões Científicas Ciclo III 2006 - 2007: Da idéia de “impacto” a de “viver com” a internet: a percepção de jovens usuários do programa AcessaSP sobre o orkut

  • 1. Da idéia de “impacto” a de “viver com” a internet: a percepção de jovens usuários do programa AcessaSP sobre o orkut Pesquisadora Melissa Migliori S. Machado Mestranda em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo – Brasil Pesquisadora do Programa Conexões Científicas Escola do Futuro da USP Maio de 2007 1
  • 2. Índice Introdução – p. 03 A passagem da idéia de “comunidade” para as “redes sociais” – p. 05 Da idéia de “impacto” para a de “viver com” a internet – p. 07 A Pesquisa – p. 09 Os Resultados – p. 10 A Confiança – p. 11 Conclusões – p. 18 Encaminhamentos – p. 20 Bibliografia – p. 22 2
  • 3. Introdução O público da Internet é predominantemente jovem. Em todas as pesquisas realizadas, a proporção de jovens acessando a rede é maior do que na população adulta. Estamos presenciando o início de uma era na qual jovens estão crescendo com/na Internet e, portanto está se desenvolvendo uma cultura de Internet. Não se trata de agregar “uma coisa a mais” na vida dos jovens, mas sim de compreender que a vida em si mudou. Algumas tecnologias são consideradas revolucionárias na medida em que introduzem profundas alterações tanto no tecido social quanto nas formas de pensar, agir, sentir e ser de seus contemporâneos. A internet é uma dessas tecnologias revolucionárias. Segundo Costa (2005), os impactos da internet podem ser divididos em dois tipos principais - a) impactos diretos: aqueles gerados pela interação dos usuários com a rede de computadores ou pela interação entre usuários por meio dela; b) impactos indiretos: aqueles que incidem tanto sobre os usuários da rede quanto sobre homens e mulheres que podem jamais ter tido qualquer experiência direta com a internet. Isso porque tanto os primeiros quanto os últimos sofrem os efeitos das profundas alterações introduzidas pela internet no mercado de trabalho, na circulação do capital, no exercício da cidadania, no acesso à informação, na educação etc. Uma das principais manifestações de uma determinada sociedade (ou de um conjunto de sociedades), em uma dada época, é a tecnologia por ela desenvolvida e usada. A internet não é uma exceção a essa regra. Ela faz parte do conjunto de tecnologias (computadores, satélites, fibras ópticas, celulares etc.) que está tornando possível a emergência de uma nova "era" (por muitos chamada de pós-moderna, ver Bauman, 2001; Harvey, 1989; Sennett, 1998); uma era cujas principais características são a integração, a globalização, a relativização, o imediatismo, a agilidade, a derrubada de fronteiras, a extraterritorialidade, o nomadismo etc. (Costa, 2002) Ao fazer parte do conjunto de fatores que estão mudando a configuração social do mundo em que vivemos, a internet evidentemente também vem tendo um importante papel nas mudanças que estão ocorrendo nos nossos comportamentos, nas nossas 3
  • 4. formas de ver o mundo, bem como de nos vermos nele, e, acima de tudo, nas nossas formas de ser. Há muito nos foi mostrado que aquilo que acontece no nível social tem um importante papel na construção da organização subjetiva. Todo ambiente sócio-cultural é feito de um conjunto dinâmico de universos. (Rolnik, 1997). Tais universos afetam as subjetividades, traduzindo-se como sensações que mobilizam um investimento de desejo em diferentes graus de intensidade. O contorno de uma subjetividade delineia-se a partir de uma composição singular de forças. A cada novo universo que se incorpora, novas sensações entram em cena e um novo mapa de relações se estabelece, sem que mude necessariamente a figura através da qual a subjetividade se reconhece. O conceito de subjetividade é um conceito híbrido por excelência já que não descreve uma essência ou uma natureza, mas diz respeito a um processo de produção de si que se realiza com componentes heterogêneos, matérias distintas ou vetores de existencialização diversos. (Passos, 2002). Estamos aqui falando não só das relações familiares, dos acontecimentos da infância ou dos componentes biológicos, mas também das relações com a cidade, com a política, com os meios de comunicação, com as novas tecnologias etc. Sem incluirmos aspectos da subjetividade contemporânea nas pesquisas e atividades, corremos o risco de nos tornarmos inadequados ou mesmo preconceituosos (como é o caso daqueles para os quais qualquer mudança recebe valoração negativa a partir de parâmetros tradicionais). Dentre os elementos da internet que vêm co-habitando todas essas mudanças, os sites de comunidades de relacionamento, principalmente o orkut, têm sido de grande destaque. O programa de inclusão digital Acessa São Paulo, com a preocupação de acompanhar o desenvolvimento do perfil dos usuários freqüentadores, seus hábitos e atitude em relação as novas tecnologias, o impacto pessoal e comunitário, realiza anualmente uma pesquisa chamada Ponline. Segundo os resultados da pesquisa de 2006, seu público é predominantemente jovem, a grande maioria utiliza os postos mais de uma vez por semana, e em resposta a questão “o que você faz na internet?”, as três principais são: recebo e envio e-mail – 86,4%; converso via mensagens instantâneas (exemplo: MSN, Google talk) – 64,8%; participo de sites de comunidades de relacionamento (exemplo orkut) – 63,1%. 4
  • 5. Esse dado é importante porque muitos estudiosos (vide Castells, 2003; Lévy, 1999, Rheingold, 1994) consideram a comunicação mediada por computador como uma forma de conexão entre as pessoas e aumento do senso de comunidade, através do surgimento de comunidades virtuais. A sinergia entre as pessoas via internet, dependendo do projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com enorme sucesso. (Costa, 2205) Essas redes digitais representam hoje fator determinante para a compreensão da expansão de novas formas de redes sociais. Embora isso possa acontecer, o exemplo do orkut leva-nos a inferir como esta dinâmica, pesquisada do ponto de vista da subjetividade, pode se traduzir em aplicações no contexto de um programa de inclusão digital. A passagem da idéia de “comunidade” para as “redes sociais” As diversas formas de comunidades virtuais, a explosão dos blogs e wikis, e a própria febre do orkut são prova de que o ciberespaço constitui fator crucial na constituição de um novo jeito de fazer sociedade e, consequentemente, nos contornos da subjetividade. Os estudos que levam a passagem da compreensão de “comunidade” para “redes sociais” se deve em grande parte a explosão das comunidades virtuais no ciberespaço e a estrutura dinâmica das redes de comunicação. Com tantos eventos coletivos disparados pelo orkut, não há dúvidas sobre seu potencial de reorganização da dinâmica dos movimentos sociais. As redes digitais representam hoje um fator determinante para a compreensão e ampliação de novas formas de redes sociais. A discussão sobre o termo “comunidade” se dá em torno da idéia de que esse termo pode, de fato, ter mudado de sentido. Alguns autores relacionam o termo comunidade com o sentido mais tradicional que conhecemos: laços por proximidade local, parentesco, solidariedade de vizinhanças. Neste sentido, a perda da possibilidade de se relacionar desta maneira, pelo crescimento das cidades e outros fatores relacionados à revolução industrial das últimas décadas, nos traria relações não coesas, uma vez que este desenho de comunidade é a base para relacionamentos consistentes. Essa revolução teria trazido relações superficiais, exploratórias, transitórias, especializadas e desconectadas nas vizinhanças. Wellman & Berkowitz afirmam que 5
  • 6. recentes análises fazem uma comparação nostálgica das comunidades contemporâneas com os supostos bons tempos, e oferecem uma análise mais complexa trazendo a idéia de que estamos em rede, mas associados em comunidades pessoais, e que as comunidades contemporâneas não estão mortas. O que os recentes analistas de redes apontam é para a necessidade de uma mudança no modo como se compreende o conceito de comunidade: novas formas de comunidade surgiram, o que tornou mais complexa nossa forma de relação com as antigas formas. De fato, se focarmos diretamente os laços sociais e sistemas informais de troca de recursos, ao invés de focarmos as pessoas vivendo em vizinhanças e pequenas cidades, teremos uma imagem das relações interpessoais bem diferente daquela com a qual nos habituamos.(Costa, 2005, p.239). Isso nos leva a passagem da idéia de “comunidade” para a de “redes sociais”. Nas redes as relações não estão mais presas a padrões específicos e estabelecidos. Cobrar das comunidades virtuais aquilo que se entendia “romanticamente por comunidade”, pode ser simplesmente se impedir de ver o que vem acontecendo nos movimentos coletivos de nossa época. Uma vez entendido que comunidades virtuais são uma nova forma de se fazer sociedade, essa forma fala de uma outra divisão dos espaços. É desprendida, baseada muito mais na cooperação, trocas objetivas e interesses específicos do que na permanência de laços próximos. Estes termos só foram possíveis com o apoio das novas tecnologias de comunicação. No entanto, essas novas formas de associação que estabelecem as dinâmicas de nossa atividade atualmente trazem desafios interessantes. As redes sociais pedem novas maneiras de estender nossas “simpatias” para além dos clãs e vizinhanças próximas e conhecidas, ou seja, as “comunidades” em seu sentido mais tradicional. A questão que aparece é como caminhar para um arranjo de comunidades pessoais em redes. Como analisar as tendências, o intenso uso do orkut, por exemplo, e buscar o que precisa ser fortalecido para que esse movimento se constitua de fato numa organização proveitosa para todos. Segundo o estudioso de redes sociais Rogério da Costa: Um dos aspectos essências para a consolidação de comunidades pessoais ou redes sociais é, sem dúvida, o sentimento de confiança mútua que precisa existir em maior ou menor escala entre as pessoas. A construção dessa confiança está diretamente 6
  • 7. relacionada com a capacidade que cada um teria de entrar em relação com os outros, de perceber o outro e incluí-lo em seu universo de referência. (p.243) Da idéia de “impacto” a de “viver com” a internet Muito tem sido produzido a respeito do impacto dessas tecnologias no modo de vida no século XXI, especialmente na atual geração de crianças e jovens. A geração dos jovens que nasceram em meados dos anos 80, nasceu e cresceu com a informática e a Internet como parte elementar da contemporaneidade. Essa geração não viu a “transformação” de um mundo analógico em digital, mas sim cresceu dentro de um ambiente no qual a vida virtual nada mais é que parte de seu cotidiano, uma ampliação de território. Uma pesquisa realizada durante seis anos, Annenberg Digital Future Project, encomendada pela Universidade do Sul da California (USC), entre o público jovem americano, mostra que muitos internautas acreditam que pertencer a comunidades virtuais é tão importante quanto os laços estabelecidos no mundo real. De acordo com a pesquisa, cada vez mais gente participa de atividades sociais "online", como escrever "blogs", participar de fóruns e manter contato com amigos e parentes. E um em cada cinco pais acredita que seus filhos passam muito tempo na internet. Mas a maioria acha que isso não melhora nem prejudica seu rendimento escolar. Quais os efeitos dessa informatização nesses jovens? É interessante notar o percurso dos temas de interesse das pesquisas e notícias na mídia sobre a internet. Desde meados da década de 1990, iniciou-se uma difusão da internet com foco nas diversas patologias que seu uso poderia causar e, daí em diante, as crenças nos comportamentos patológicos associados à internet. Os psicólogos americanos Kimberly Young (1996, 1998) e David Greenfield (1999, 2000), divulgaram a existência de um novo comportamento compulsivo, com referencia inclusive ao Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM- IV), dizendo se tratar de comportamento semelhante ao do jogo compulsivo. Esta nova patologia foi chamada de Internet addiction ou Pathological Internet Use (PIU) e tanto Young quanto Greenfield passaram a se dedicar ao seu tratamento. 7
  • 8. Outra pesquisa que encontrou muita receptividade na mídia norte-americana foi aquela levada a cabo pelo Stanford Institute for the Quantitative Study of Society (SIQSS, 2000). De acordo com o professor Norman Nie, diretor do SIQSS, o estudo revela que o uso intensivo da Internet está gerando uma legião de pessoas solitárias que não se interessam pelas obrigações e prazeres do mundo real e substituem vínculos afetivos fortes e reais por vínculos afetivos mais fracos e virtuais. Estes estudos foram seguidos de muitos outros sobre os efeitos negativos do uso intensivo da Rede. Pesquisas americanas, canadenses, francesas, suíças, todas ganharam muito espaço na mídia nacional. Brasileiros tiveram acesso nos últimos anos a noticias e informações do tipo: Instituições tentam curar viciados em Internet: a nova doença foi identificada em janeiro de 1995, e seu histórico e sintomas podem ser encontrados na homepage mantida pelo Centro para Viciados On line da Universidade de Pittsburgh (http://www.pitt.edu/~ksy/). (Folha de São Paulo, 20 de novembro de1996); Médico diz que Internet vicia como cocaína: Essa é a conclusão do psicólogo britânico Mark Griffiths, que, após um ano e meio de pesquisas, definiu o perfil do viciado: é o adolescente solitário que usa o computador para criar um universo paralelo (Jornal do Brasil, 7 de agosto de 1997); Viciados em Internet: o número de viciados em informações obtidas na Internet está aumentando em todo o mundo, segundo estudo realizado pela agência Reuters. Um total de 53% das mil pessoas entrevistadas admitiu que sofrem de incontrolável ânsia de obter informação pela Internet (Jornal O Globo, 8 dezembro de 1997); Internet vira vício para 10% dos usuários: [Segundo o psicólogo canadense Jean-Pierre Rouchon], homens entre 25 e 35 anos com um bom nível socioeconômico, que passam incontáveis horas trabalhando na frente dos seus computadores, são o principal grupo de risco para um novo tipo de dependência que começa a ser detectado: o vício em Internet (Folha de São Paulo,30 de agosto de 1998). A revista Superinteressante, em outubro de 2000, buscando oferecer um panorama geral sobre a internet publica a matéria: Armadilha Digital, na qual é ressaltada mais uma vez a dependência, o isolamento social e a substituição da realidade “real” pela “virtual” e seus prejuízos. É isso o que vem sendo passado para o público em geral desde o início da difusão da Internet. 8
  • 9. Como estamos no olho do furacão, vivendo todas estas transformações, conseguir se afastar e desenvolver uma visão reflexiva sobre os acontecimentos é um grande exercício. A proposta desse trabalho não é, portanto, fazer mais uma análise de impacto, e sim tentar caminhar na direção de iluminar pontos emergentes de uma nova configuração. Diferente de medir impactos em relação a outros cenários anteriores ou posteriores. Esta, certamente, é a geração considerada como depositária das novas informações, ou seja, existe em nossa sociedade um conceito de que as crianças e os jovens têm domínio sobre o “mundo dos fios e dos botões”. Segundo FEIXA (2001), agora são os pais que começam a aprender com os filhos, os quais constituem um novo referencial de autoridade e transformam certas condições biográficas que definem o ciclo vital. São os jovens os encarregados de dar conta das novas tecnologias. Não é nosso foco aprofundar no julgamento destas colocações, mas apenas ressaltar que uma grande mudança ocorre no desenho das relações e nos conceitos de aprendizagem e construção do conhecimento. Ao analisar tudo aquilo que, em nossa forma de pensar, depende da oralidade, da escrita e da impressão descobriremos que apreendemos o conhecimento por simulação, típico da cultura informática, com os critérios e os reflexos mentais ligados às tecnologias intelectuais anteriores (Levy, 2002). Colocar em perspectiva, relativizar as formas teóricas ou críticas que perdem terreno hoje, isto talvez facilite o indispensável trabalho de luto que permitirá abrimo- nos a novas formas de comunicar e de conhecer. A cultura de rede exige novos aspectos e competências de sociabilidade em novos contextos: atenção, cooperação, confiança e inter-relação. (Costa, R.; 2002) Tais aspectos apontam para o surgimento de uma nova linguagem e convidam para uma análise sobre nossas capacidades de se comunicar, de se relacionar com inúmeros indivíduos e ambientes de informação. A pesquisa A presente pesquisa buscou investigar quais mudanças se estariam operando nas subjetividades destes jovens, hoje, considerando-se a configuração das redes sociais. O foco da pesquisa foi o orkut, por ser o “campeão de audiência” entre os jovens usuários do programa Acessasp. 9
  • 10. Uma vez que é sabido que o jovem usa muito o orkut, buscamos investigar qual sua percepção sobre esta rede e como começou a fazer parte de sua vida. Universo: Foi selecionada uma mostra de jovens com idade entre 16 a 18 anos, faixa etária com grande intensidade de participação no orkut, freqüentadores dos postos do programa. A escolha do posto se deu pensando na influência que seu perfil poderia ter nas possibilidades de comparações entre o encontro com amigos no ambiente virtual e no presencial. Nesta perspectiva, foi escolhido o Posto Parque Fontes do Ipiranga, que fica dentro de um parque e tem características de um “ponto de encontro” entre turmas de conhecidos. Metodologia: A perspectiva de investigar aspectos da subjetividade direcionou a opção por uma metodologia de pesquisa qualitativa. Foi elaborado um roteiro semi-estruturado de entrevista a fim de realizar os estudos de caso. Para isso foram realizadas entrevistas-piloto, para se aproximar da linguagem e imagens utilizadas pelos jovens. O desafio dessa conversa-entrevista era não direcionar imagens e buscar perceber os sentimentos que acompanham as falas. O roteiro foi modificado após o piloto, com ajustes desta natureza. Foram realizadas doze entrevistas, sendo uma mostra de três meninas e nove meninos. As entrevistas aconteceram no posto escolhido, enquanto esperavam sua vez de usar as máquinas. Os Resultados A dinâmica das entrevistas permitiu que a análise e comparação dos dados, a partir de indicadores de referencia estabelecidos do agrupamento e cruzamento dos conteúdos obtidos, formasse um corpo coeso que passa a constituir nosso “jovem imaginário”, que representará o resultado deste coletivo na narrativa a seguir. Os resultados serão indicados no texto como comentários ilustrativos das idéias e conceitos trazidos a partir da análise das entrevistas. Três grandes vetores emergiram do universo da pesquisa: a questão da linguagem e comunicação, do território e da confiança, que é ressaltada pelo viés da segurança. Muitos outros caminhos de aprofundamento podem ser traçados a partir dos 10
  • 11. depoimentos sobre relacionamentos, o que dizem sobre ser amigo e fazer novos amigos, pois, olhar estes temas pensando na configuração das subjetividades é um universo amplo de exploração. Os dois primeiros temas não foram aprofundados em sua análise e merecem nova investigação por sua riqueza de conteúdos. A questão da linguagem e comunicação refere-se às novas competências da maneira de escrever, perceber sutilezas da comunicação verbal e não-verbal, se emocionar, perceber o todo da comunicação, e da capacidade de realizar uma colagem entre elementos separados para formar a imagem de uma pessoa. Esta competência de colagem, no caso do orkut, é a composição da foto, das mensagens, das comunidades, do perfil, seus afetos, pensamentos e imaginação, para criar seu interlocutor e estabelecer uma relação. A questão do território fica bem marcada na medida em que os jovens não se referem, durante a entrevista, a dois mundos diferentes: o presencial e o virtual. Referem-se as suas vidas, ao que fazem, aos amigos, às diferenças de graus de intensidade de relações, mais do que à diferenças físicas e espaciais. Fica a percepção de fato, de um território ampliado, de uma nova percepção da realidade e de um modo de vida, mais do que a soma de uma parte a uma vida que sempre existiu. Estes temas aparecem na apresentação geral da pesquisa, mas não se consolidam como análise aprofundada. O recorte mais trabalhado aqui é referente à construção de confiança. A Confiança Percebemos que a participação em redes sociais não é uma mera apropriação tecnológica ou conceitual, mas sim um modo de vida, um jeito de ser, existir, fazer e se relacionar. A internet, de fato, é tida como uma experiência, e não um conceito entendido. Pura apreensão do conhecimento por simulação. Em primeiro lugar, vale ressaltar que o orkut está inserido num ambiente de tecnologias da inteligência. O mundo informacional do coletivo, a cybercultura, etc. É sabido que o orkut foi lançado sem pretensões estabelecidas e quando, nesta pesquisa, nos referimos a ele como objeto central a partir do qual fazemos nossas análises, não estamos nos referindo somente a ele, mas arriscamos conectar o pensamento a tudo o que ele pode representar para os jovens quanto à relação com seu ambiente de inserção. 11
  • 12. Na conceituação dos jovens entrevistados, o orkut é um lugar para encontrar os amigos e fazer novos, podendo ainda conhecer gente do mundo inteiro. Quando são perguntados se há algum lugar que freqüentam que poderia se assemelhar ao orkut (um lugar onde encontram e fazem novos amigos), surgem relações interessantes: escolas, shoppings, parques e festas, lugares com possibilidade de encontrar os amigos. As respostas não indicam comparação ou exclusão/substituição de um pelo outro, não é uma relação deste tipo, mas sim a percepção de complementaridade. Não há um lugar que possa ser comparado ao orkut, mas sim que se complementa a ele, como poder ir aos encontros combinados pelo orkut, conhecer pessoalmente um novo amigo, namorar. Em qualquer um destes ambientes “... não vai ter todo mundo que tem no orkut, e também não vai ter meus amigos do orkut, vai ter só alguns [os amigos do grupo daquela balada].” A possibilidade de se comunicar em escala e estar em contato com todos ou muitos ao mesmo tempo é um atributo essencial e já incorporado. Outro aspecto interessante é a complementaridade que o orkut faz às paqueras e aproximações entre novos amigos. Pelo orkut “podemos mandar mensagens sem ter medo da reação da menina, se ela não gostar nem chegamos nela quando encontramos. Mas se ela for receptiva, marcamos um encontro.” A timidez é citada pela grande maioria dos jovens entrevistados como atributo do encontro presencial, o olho no olho, o tom de voz, a aparência, são aspectos que falam muito sobre a pessoa, que vão aprendendo a usar e reservam para momentos “especiais”. “A facilidade de fazer amigos no orkut é muito bom, não é como na festa”; além da timidez, “na festa nem dá tempo de saber tudo, ou muita coisa da pessoa.” Pelo esquema de “analisar o orkut da pessoa” (termo usado por eles), ou seja, seu perfil, fotos e amigos em comum, pode-se obter bastante informação, e se houver interesse é só enviar um convite. Mas aceitar convites não é uma simplicidade sem nenhuma implicação. “Se a pessoa não me escrever um recado eu não aceito”, há uma exigência, sabem de quem querem se aproximar, e de quem não querem. Geralmente a rede se expande via a rede de amigos dos conhecidos, “vou pesquisando os amigos dos meus amigos e quem eu me interessar eu convido, principalmente menina, se for bonita!”. Outra possibilidade é começar a se relacionar com pessoas de comunidades de interesses. Começam a trocar vídeos, informações, dicas “dicas de lugar onde tem uma pista de skate legal”, por exemplo. Um comportamento comum, mas não formalizado vai se esboçando. Práticas vão se disseminando e a tal cultura de internet vai aparecendo. A semelhança nas 12
  • 13. respostas aponta para um conjunto de conhecimentos e competências que estão sendo usados, mas a dinâmica da internet não facilita esse olhar reflexivo para “descolar” a prática do aprendizado. A dificuldade dos jovens em responder a perguntas objetivas (como avaliado nas entrevistas-piloto) ressalta tais características. Outros aspectos relevantes de serem apontados, no que diz respeito a competências e práticas, é a fala constante de que foram apresentados ao orkut pelo convite ou insistência de um amigo para que participassem. As novas descobertas como incluir vídeos, enviar mensagens não públicas, incluir e modificar fotos, são todos conhecimentos passados por amigos. Vão aparecendo claramente competências de colaboração e troca. E por fim, a percepção geral de que vão ao posto do Acessa “ficar no orkut” por diversão, mas uma diversão que faz emergir essas diversas competências e que “não dá mais para ficar sem”, porque a dinâmica social já está estabelecida por entre ela. O presencial e o virtual Quando são perguntados sobre conhecer uma pessoa presencialmente, há a percepção de que fora do orkut é mais difícil. Mas como é fazer amigos pelo orkut? “Se souber conversar dá para saber tudo. É só saber ir perguntando”, “dá para conhecer mesmo alguém, de verdade. Conheci uma amiga do interior, vi as fotos dela, da família dela, os amigos, e um dia ela veio aqui para ficar na minha casa.” O conceito de “amigo” é entendido desta maneira, uma relação que começa pela troca de mensagens e vai ampliando seu conteúdo podendo chegar a um encontro pessoalmente ou não. Essa, portanto, não é uma meta, as pessoas conhecem novos amigos para se relacionar, e se relacionar não significa necessariamente conhecer pessoalmente. Os jovens parecem saber compor o presencial com os encontros no orkut, quando transitar de um ambiente para outro, encontrar para namorar, para conhecer mais a fundo. Esta dinâmica não aparece como uma tensão, ou alguma forma de privação de contato. No entanto, fica claro que o orkut, e tudo o que representa, não substitui nenhum outro tipo de relacionamento, e sim amplia e modifica as possibilidades de se relacionar e se comunicar. Foi muito comum encontrar no posto jovens em turmas ou acompanhados de amigos, queriam inclusive um participar da entrevista do outro fazendo comentários engraçados! Os amigos ali presentes eram da mesma comunidade em geral, mas a partir do momento que “entram” no orkut, essas fronteiras realmente vão se apagando. 13
  • 14. A referencia de “comunidade”, local, restrita a laços próximos e conhecidos parece mesmo estar se ampliando para uma nova filosofia do encontro: em redes sociais. É real o uso da possibilidade de conversar e manter contato com antigos colegas de trabalho, com aqueles que mudaram do bairro e da escola, ou iniciar uma amizade com alguém que tem interesses parecidos, como “gostar de skate” e passar a trocar uma série de recursos. Este aspecto tão ressaltado pelos jovens de aumentar sua rede de amigos, conhecer a rede dos seus conhecidos, iniciar “redes de conversa”, trocar, traz a questão da segurança, mas com ela, também a da confiança. A construção da confiança Quando questionados sobre esta dinâmica da rede social, trazem suas competências de segurança. Dizem já saber distinguir bons encontros de maus encontros. Este aprendizado digital, de um novo jeito de comunicar e fazer amigos tem sutilezas e subjetividades que os jovens conseguem ler nas telas e, por exemplo, saber identificar ameaças. “Ah, a gente sabe, o tipo de mensagem, o jeito que ela fala. Aí não aceita [o convite].” “Eu sei que o orkut tem muitas coisas erradas também né, essas coisas que as pessoas ficam falando: essas coisas de pedófilos, de marcar encontro com outras pessoas... Isso eu sei, eu tenho consciência disso que está acontecendo, tanto que, não vou ficar ouvindo tudo o que as pessoas falam [no orkut]. Vou conversar normal, e se alguém me chamar para ir em algum lugar, depende de quantas pessoas vão, se é conhecido ou não. Não é uma pessoa que vai acessar o meu orkut e dizer que vai ter uma festa, vai ser assim e assim, eu não vou. É preciso ter cabeça, é preciso saber usar o orkut. Sabendo usar não vai acontecer nada.” “Acho que isso pode acontecer num shopping também. Porque é um lugar livre, um lugar público e se a pessoa não conhece a outra, ela pode arrastar a pessoa pelo braço para algum lugar e ninguém saber.” Na medida em que a questão da segurança parece estar integrada no seu universo de percepção, e que estão buscando suas respostas, podemos abordar este ponto também sob um outro aspecto: a confiança. Mesmo sabendo dos riscos, continuam a e lançar em relacionamentos com “desconhecidos”. Um dos entrevistados relatou já ter criado, ele próprio, um perfil fake. Divertiu-se com isso, mas desistiu, “ah, não e legal né. E depois dá pra saber, eu ia me dar mal no final”. A questão da segurança, portanto, pode ser vista sob a ótica da confiança e desconfiança. 14
  • 15. O conceito de confiança está atrelado à relação mútua entre indivíduos em interação social, onde se produzem expectativas e estas são concretizadas. “Confiança é a expectativa que aparece dentro de uma comunidade regular, honesta e com um comportamento cooperativo, baseado em normas comuns; estas normas podem representar questões profundas em relação à origem do bem ou da justiça ou podem estar relacionadas aos códigos de comportamento. (Fukuyama,1995,p.26) A confiança requer então, algum grau de entendimento e de cooperação mútuos. Porém “a desconfiança não é tanto o oposto como é a ‘outra face’ da confiança (como a outra face de uma moeda; não se pode ter uma face sem a outra).” (Flores, 2002, p. 54) O interessante é que construir confiança não é tão complexo quanto se imagina. O casamento como exemplo, é uma resolução mútua de confiar. O amor não está garantido, mas a partir daí concluir que todo casamento está em perigo é nos alongarmos no negativo, na desconfiança, na crença da ameaçadora falta de segurança. Embora se fale em “confiança incondicional”, a confiança quase sempre possui seus limites, como os jovens colocam, por exemplo, na atenção especial com algumas mensagens, ou o convite de um desconhecido. A percepção desses limites é essencial para a confiança. Para além dos limites da confiança está a desconfiança, a sensação de falta de segurança generalizada no orkut. A confiança sempre envolve riscos. Mas estender-se na confiança com a sensação dominante de risco é não perceber o ponto principal da confiança: o de que esta abre a porta para resultados positivos, sem ela impossíveis. A quantidade de publicações que encontramos na internet sobre “segurança no orkut” é bastante grande. Listas de coisas que devem e que não devem ser feitas para garantir, ou ao menos buscar o máximo de segurança. Esta postura generaliza a sensação de falta de segurança e a fragilidade do internauta. Vai criando-se uma cultura de desconfiança, um cenário que está dado. No entanto, este é um erro comum, muitos agem como se a confiança fosse um estado e, ao invés disso, ela é uma dinâmica. Segundo Flores: Ela é de fato parte da vida, não da base inerte, dos relacionamentos. A confiança é uma prática social, não um conjunto de crenças. É um aspecto da cultura e o produto de uma prática, não só questão de psicologia ou de atitude individual. O problema da confiança é prático: como criar e manter confiança, como se mover da desconfiança para a confiança, de um abuso na confiança para sua recuperação. A confiança é questão de 15
  • 16. relacionamentos recíprocos, não de previsão, de risco ou de dependência. A confiança é questão de tecer e manter compromissos, e o problema da confiança não é perder a confiança, mas sim o fracasso em se cultivar o tecer de compromissos.”(p. 31) Flores nos apresenta as idéias de “confiança ingênua”, ou simples, aquela confiança plena, sem nenhum questionamento ou dúvida, que se distingue da “confiança autêntica”, que não é simplesmente uma questão de confiança cega, mas sim uma forma de auto-superação, e é a desconfiança que deve ser superada, mas não negada. Esta seria, portanto, uma confiança madura, articulada e cuidadosamente considerada. Quando os jovens afirmam saber dos casos de “quebra de confiança” no orkut e continuam participando, e muito, desta rede, estão sem dúvidas treinando e amadurecendo sua confiança, sem negar os riscos, mas sem deixar de apostar nos resultados e ganhos que estas relações podem trazer. Essa construção mostra que a confiança não é apenas uma questão de predisposição para considerar argumentos e evidencias, nem tão pouco subjetiva, cega e irracional. A colocação dos jovens nos leva a se aproximar das idéias de Flores de que a confiança é (ou pode ser) racional, pode levar em conta toda evidência disponível. “Não é subjetiva tanto quanto é intersubjetiva – depende de relacionamentos sociais e de respostas mútuas”. Em certo sentido, a confiança não se reporta em nada às evidencias e aos resultados, exceto como preocupações secundárias. A confiança autêntica trata, em última instância, dos relacionamentos e do que é necessário para criá-los, mantê-los e restabelecê-los. Afirmar que a confiança está associada a relacionamentos não nega que a desconfiança a ser superada seja produto de pressões sociais, familiares, forças abrangentes e impessoais. Esta desconfiança pode crescer questionando o sentido, a produção, o bem gerado, os vínculos e terminar por contaminar uma sociedade ou comunidade e terminar com suas possibilidades mais elementares de cooperação comunitária. Para Solomon & Flores: Tanto a confiança como a desconfiança tendem a se confirmar, e é fácil entender por quê. Se uma pessoa confia na outra, a segunda pessoa, sabendo-se recebedora da confiança, estará mais inclinada a ser confiável, confirmando assim a confiança da parte da primeira pessoas. A recompensa psicológica da confiança é o fato de ser gratificante receber confiança. É também gratificante, de modo mais profundo, confiar. A confiança indica respeito, e a confiança cria um laço (se apenas, de início, um laço de confiança). 16
  • 17. O problema de pensar a confiança como sendo a atitude em relação a outras pessoas é o de ignorar a natureza recíproca da confiança. A maioria das pessoas reage à confiança sendo confiável, tornando ainda mais provável a confiança. (pg. 60) Essa tendência de confirmação também acontece para a desconfiança, uma vez que nessa rota, sempre tendemos a interpretar comportamentos de modo a buscar evidencias de que não merecem confiança de forma a confirmar nosso comportamento prudente em ser cauteloso e a recusa em confiar nela. Tanto a atual discussão sobre a confiança como a crença na difundida desconfiança são acompanhadas dos mais estranhos exemplos de uma confiança tola. Não é o que mostra nossas entrevistas com os jovens do orkut. Não há a confiança cega, nem tão pouco uma desconfiança que enfraquece, percebemos o nascimento de comportamentos que vão fortalecendo a perspicácia e senso comum de confiança. A construção da confiança começa por uma compreensão, mas também requer rotinas e práticas diárias. E isso no dia-a-dia dos jovens não é problema! Visto a intensidade do uso e da prática do orkut. A construção da confiança não é só “uma brincadeira de criança” para fazer redes, mas está relacionada a temas como capital social. Capital Social é um conjunto de hábitos e normas sociais formais e informais que afetam os níveis de confiança, interação e aprendizado em um sistema social. Acumular capital social significa fomentar processos de desenvolvimento e de confiança entre membros de uma determinada sociedade local ou nacional. Capital social também pode ser entendido como o conjunto de normas e valores informais compartilhados entre os membros de um grupo, possibilitando-lhes a cooperação e a solidariedade. A confiança numa sociedade não é garantida, é o produto de uma ação coletiva consciente. Neste sentido, a questão da segurança no orkut pode ser abordada não apenas por uma visão unilateral, mas com a perspectiva da construção de confiança. Considerando que jovens, nesta faixa etária, estão rastreando informações, conhecimentos e experiências estruturantes de seu modo de ser e agir, é interessante pensar em impactos futuros de um programa de inclusão digital. Talvez hoje não esteja clara a implicação destas experiências na construção de uma nova organização de sociedade, com novos instrumentos, tecnologias e competências, para de fato promover uma inclusão e inter-relação entre muitos. No entanto, parece ser um processo em andamento a pleno vapor. Ao final da conversa, vem a pergunta: como seria sua vida 17
  • 18. hoje se não pudesse mais acessar o orkut? “Vixxxxx, impossível!”. “não poderia mais manter o contato com amigos que não vejo sempre”, “os colegas do emprego passado que não encontro mais todos os dias”, “um amigo que mudou de escola e do bairro”, “meus amigos do Canadá e Japão”. E quando perguntados da importância dos postos do AcessaSP, todos se referem a ele como sua única possibilidade de vivenciar esta dimensão de suas vidas. Conclusão Considerando-se os dados e análises apresentadas é possível traçar alguns comentários finais indicando possibilidades de aprofundamento a partir deste estudo. O fato de o posto AcessaSP ter acesso gratuito foi mencionado diversas vezes e indica a percepção clara do lugar que ocupa na satisfação de certas necessidades sociais imediatas. No entanto, sabemos que, o que o acesso aos postos promove é mais do que diversão e preenchimento do tempo livre, vide as análises feitas nesta pesquisa. Estes outros resultados como colaboração, confiança, ampliação da rede pessoal, talvez não tão imediatos, podem ser cada vez mais explorados e intensificados. O grande uso do orkut e as trocas de mensagens como principal ação de interação com outros usuários indica a crescente comunicação que se estabelece entre os jovens. Não entramos em nenhuma questão relacionada aos conteúdos trocados, porque o que nos interessava era saber da sua percepção sobre isso. E o que ficou claro foi a importância que dão para manter essa comunicação, a possibilidade de troca de informações interessantes e o sentimento de pertencimento. O que nos interessou foi perceber que não usam a linguagem somente como instrumentos abstratos, mas a exercitam todos os dias. Essa possibilidade de comunicação ampliada, instantânea e de muitos para muitos já está incorporada em seus universos subjetivos. O espaço para ações casadas nos ambientes presencial e não-presencial é fértil. Não há por parte dos jovens, a priorização de um em detrimento do outro. Podem existir preferências, mas no mais são ambientes complementares para seus interesses. A relação entre orkut, suas redes pessoais e ambientes presenciais parece estar dada pelos 18
  • 19. usuários do programa quando vinculam encontros, “baladas” e pessoas em especial. No entanto, poderia ser interessante apresentar para eles outras possibilidades que estas redes podem oferecer. Desta maneira, expandir ações do programa do posto para comunidades ou locais próximos, alinhados com interesses das políticas de inclusão digital parece ser produtivo. Os aspectos de colaboração, confiança e participação poderiam ser mais explorados. A percepção da dinâmica do uso do orkut como “redes sociais” amplia as possibilidades de leitura sobre a prática dos jovens nos postos e abre espaço para reflexão sobre: como dinamizar esta prática, como fazer a apropriação da capacidade e competência de estabelecer redes pessoais e, como esse conjunto pode ser aproveitado para os fins do programa AcessaSP. Neste sentido, seria interessante também, se pensar em pesquisas de mapeamento de capital social, com foco especial para ações de implicação nas comunidades locais, ou mesmo participação em movimentos nacionais e internacionais. Este ponto traz a discussão da relevância ou não do uso de sites de relacionamento pelos jovens. Como vimos nas análises, este uso pode ser muito proveitoso desde que seja desenvolvido uma linha de trabalho que reconheça estas produções e crie um terreno que valorize suas aplicações. Competências como colaboração e participação têm que passar a integrar nosso olhar consciente sobre as atividades que desempenhamos. Devem passar a ser percebidas como características que se aprende, se pratica e, que são essenciais para a realização de inúmeras tarefas que realizamos todos os dias, mas nunca foram ressaltadas. Em relação à construção de conhecimento e aquisição de conhecimento por simulação, fica claro que todos estes ganhos e aprendizados acontecem em clima de diversão e cooperação. Este traço pode ser, de alguma maneira, incorporado aos processos tradicionais de ensino e aprendizagem e bem aproveitados nas suas características positivas. A percepção dessa dinâmica pode fornecer diretrizes para futuros programas que possam se dirigir a estes públicos, como por exemplo a atuação de monitoria nos postos. Por fim, fica claro que a análise da atuação de grupos hoje em dia tem que estar voltada, sobretudo, à formação de coletivos, redes, comunidades, mas dentro de 19
  • 20. uma perspectiva filosófica que envolve discussões sobre afeto, confiança, potência de ser e estar em relação. Isso significa que precisamos ter um olhar cuidadoso para a socialização dos afetos, o modo encarnado e comprometido de se construir conhecimentos, relações, trabalho, vida em comum. A perspectiva de uma análise da subjetividade nos indica que é preciso aprender a incluir o afeto como a capacidade de criar relações, de criar linguagem. São justamente, construções mentais de afeto, de imaginação, de razão, de técnicas. E pensando em explorar e multiplicar este potencial, de que forma ele poderia ser explorado? Explorando-se a relação. Explorando-se a cooperação, explorando-se as condições imateriais nas quais este processo se desenvolve, se reproduz. Encaminhamentos Como estes resultados podem contribuir para uma proposta de inclusão digital? Podemos deslocar a ênfase do olhar do objeto (o computador, o programa, o orkut, este ou aquele software) para o projeto (o ambiente cognitivo, a rede de relações humanas que se quer instituir). A questão não é regularizar/normatizar um bom uso da máquina e seus componentes, mas sim articular as possibilidades de desenvolvimento que surgem da relação com este universo. Pode-se pensar que um programa de inclusão digital não persegue uma finalidade concreta e imediata, mas que pode estar encarregado de compor os equipamentos coletivos da inteligência, contribuindo para estruturar os espaços cognitivos dos indivíduos, assim como os arquitetos definem o espaço físico no qual se desenvolve boa parte da vida privada e das atividades sociais. É um desafio atual pensar políticas públicas considerando-se as novas dinâmicas dos coletivos. Um dos papéis mais importantes das instituições não é exatamente o de governar as relações entre as pessoas, mas o de mobilizar suas tendências, integrando-as num todo maior. Para tanto, pesquisas como essa são importantes para desenhar tendências, analisar cenários e definir estratégias. Este recorte da subjetividade dos jovens apresentado acima pode indicar que necessidades sociais atuais são supridas pelo programa, mas cujo resultados serão a longo prazo, é uma construção social. Para que estes resultados se tornem efetivos, seria interessante fortalecer a matriz de identidade do programa de inclusão digital: seus 20
  • 21. princípios, missão e diretrizes, para expressá-los em suas ações e saber compor da melhor maneira com os dados apresentados. 21
  • 22. Bibliografia CASALEGNO, F. (1999) Sherry Turkle: Fronteiras do real e do virtual. Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 11l 117 CASTELLS, MANUEL. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, vol. 3, São Paulo: Paz e terra, 1999, p. 411-439 COSTA, R. (2002). A Cultura Digital. São Paulo, Publifolha. COSTA, Rogério da. Inteligência afluente e ação coletiva. A expansão das redes sociais e o problema da assimetria indivíduo/grupo. Razón y, n.41, 2004. Disponível em: http://www.cem.itesm.mx/dacs/publicaciones/logos/anteriores/n41/rdacosta.html>. FEIXA, Carles. De jóvenes, Bandas y Tribus - antropología de la juventud. Barcelona: Editorial Ariel, 1999. __________ . “Generación @ - La Juventud en la era digital”. In: Revista Nómadas 13. Bogotá, D.C.: Universidad Central, 2000. KENSKI, Rafael e AGUERRE, Gabriela. “Armas de diversão em massa”. In: Revista Superinteressante 189: 57-60. Ed. Abril, 2003. LEITÃO, C. F. (2003). Os impactos subjetivos da Internet: reflexões teóricas e clínicas. Tese de Doutorado Não-Publicada, Pós Graduação em Psicologia Clínica, Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. LEITÃO, C., & NICOLACI-DA-COSTA, A. M.(2000). Impactos da Internet sobre pacientes: a visão de psicoterapeutas. Internet LÉVY, P. (1995). O que é virtual. São Paulo: Editora 34. LÉVY, Pierre e AUTHIER, Michel. As árvores de conhecimento. Trad. Monica M. Seincman. São Paulo, Ed. Escuta, 1995 MAFFESOLI, Michel. Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas. Rio de Janeiro: Record, 2001. NARANJO, J. M. (2006) Diez años de vida (cotidiana) en la pantalla: una relectura crítica de la propuesta de Sherry Turkle. Vocpapers, 2 issn 1885-1541 NICOLACI-DA-COSTA, A. M. (2002a). Internet: a negatividade do discurso da mídia versus a positividade da experiência pessoal. À qual dar crédito? Estudos de Psicologia NICOLACI-DA-COSTA, A. M. (2002). Quem disse que é proibido ter prazer online? Identificando o positivo no quadro de mudanças atual. Psicologia: Ciência e Profissão, 22(2), 12-21. 22
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