Este documento discute a influência da filosofia de Michel Foucault na Arquivística contemporânea. Apresenta brevemente o pensamento pós-estruturalista e como Foucault abordou a questão do arquivo. Explora como autores arquivísticos nacionais e internacionais se apropriaram das ideias foucaultianas, especialmente sobre o arquivo como dispositivo de poder. O objetivo é categorizar esta influência e propor novas abordagens dos conceitos foucaultianos para arquivos digitais.
1. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea. Roberto Lopes – Doutorando em CI (IBICT/ UFRJ) Aluf Alba Elias – Mestranda em CI (IBICT/ UFRJ) II Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia Rio de Janeiro – RJ 16 a 18 de novembro de 2011
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6. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 8/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Michel Foucault 15/10/1926 – 25/06/1984 “ O homem é uma invenção recente que a arqueologia de nosso pensamento mostra claramente a data recente, e talvez também o fim próximo” Um dos mais influentes pensadores franceses contemporâneos, inicialmente identificado como estruturalista. Nasceu em Poitiers e foi professor no Collège de France (1970). Seu ponto de partida é o conceito de episteme , uma rede de significados – uma formação discursiva – que caracteriza uma determinada época nos diversos domínios da sociedade e da cultura. A análise arqueológica que realiza, representa um método original em história das ideias . Mais tarde inspirado por Nietzsche, desenvolve seu método em outra direção, que chama de genealogia, que é essencialmente uma análise histórica de como o poder pode ser tomado como explicativo nas produções dos saberes. O poder contudo deve ser visto ai de uma forma difusa, não se identificando necessariamente com a questão do estado, mas nas várias instancias sociais e culturais. (JAPIASSU e MARCONDES, 1991.)
7. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 13/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes O Pós-estruturalismo Os pós-estruturalistas reivindicam conhecer impossibilidade do conhecimento sistemático Não existe um significado transcendental e sim o relativismo determinado pelo contexto, o significado não é centrado ou fixo porque está preso num jogo de referências entre as palavras e definições. Os significados estão dispersos, indo da palavra para a definição, para as definições de palavras na definição e assim por diante. As políticas públicas e o Estado, não passariam da compreensão de poder situado no contexto da perspectiva, do ponto de vista do discurso. Cherryholmes (1993).
8. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 14//34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes O Pós-estruturalismo “ A existência do objeto é inseparável da trama lingüística que supostamente o descreve” (Silva, 2007) ...as classes não mais existissem.... O significado não é centrado ou fixo por que está preso num jogo de referências ou de palavras. Os significados estão dispersos indo da palavra à definição e vice-versa , assim por diante. (Cherryholmes, 1993)
9. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 15/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Breve análise da relação entre o Pós-estruturalismo, Ciência da Informação e Arquivologia. Ronald Day (2005): a relação ente o Pós-estruturalismo e os estudos da informação, em particular a CI, são problemáticos e intrigantes; A forma epistêmica ou ontológica da noção de CI é muitas vezes auto-referente (auto-afetiva – “informação”, “dados”, “fatos”) se mostrando ser um efeito sociocultural de contextos muito vagos ou gerais; A identidade é constituída de jogos de diferença; Nesse sentido as teorias de estudos de informação têm se apresentado como uma empresa positivista se enquadrando dentro da tradição metafísica ocidental dos atos de linguagem, substituindo uma pragmática variável com modelos idealistas;
10. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 17/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes A filosofia de Michel Foucault e a questão do Arquivo No que tange a Arquivística, são as idéias de Foucault, no âmbito da filosofia contemporânea, as mais apropriadas e discutidas dentro da área. Sua abordagem sobre o arquivo, quando ainda se dedica à construção dos saberes, o sugere como dispositivo de afirmação/construção dos saberes, relativizando a questão do documento (de arquivo) como um “monumento” repleto de intenções futuristas. O autor apresenta o documento (arquivo) sendo um instrumento historicizado, portanto, negando a sua idéia forjada de legado verdadeiro do passado e afirmando o papel do historiador em transformá-lo, oferecendo-lhe uma elaboração, um estatuto. Essas idéias causaram impacto para a disciplina Arquivística, pois a partir desta perspectiva o Arquivo perde sua “pureza” e imutabilidade e passa se tornar algo maleável, que se transforma conforme a manipulação.
11. “ O arquivo é, de início, aquilo que pode ser dito, o sistema que rege o aparecimento dos enunciados como acontecimentos singulares. Mas o arquivo é , também, o que faz com que todas as coisas ditas não se acumulem indefinidamente em uma massa amorfa, não se inscrevam, tampouco, em uma linearidade sem rupturas e não desapareçam ao simples acaso dos acidentes externos , mas que se agrupem em figuras distintas, se componham umas com as outras segundo relações múltiplas, se mantenham ou se esfumem segundo regularidades específicas (...)” Foucault, p. 147, 2007)
12. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 19/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Autores Nacionais Encontramos autores que apenas fazem menção a sua obra ou a idéias esparsas, apresentadas em ponto específico de sua literatura (por exemplo, em Jardim, 1995, p.23; 1999, p.97; Fonseca, 2005, p. 34-35), ligadas a aspectos epistemológicos.
13. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 20/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes A filosofia de Michel Foucault e a questão do Arquivo Outros pesquisadores buscaram utilizar conceitos mais específicos do filósofo francês em relação a função ou definição de arquivo. Isso é visto, por exemplo, em Heymann (2008, p.3-4) e Duarte (2007, p.143-144), que citam a classificação dada por Foucault aos arquivos no livro Arqueologia do saber, especificamente na idéias da relação entre saber e poder, onde as afirmações de poder se atualizam ou fica evidenciadas quando é estabelecido, direta ou indiretamente, o que é “interdito” ou o que é permitido.
14. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 21/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Em relação a autores que utilizaram de forma um pouco mais aprofundada as abordagens de Foucault, cita-se a comunicação de Marques e Rodrigues (2010), que ao estudarem os referenciais teóricos da interlocução da Arquivologia nacional e internacional, separaram, entre outros conceitos um chamado de “campo dos acontecimentos discursivos” onde são analisados aspectos de circulação e constituição dos discursos a partir da (já citada) correlação entre saber e poder. Barros (2010, cap.4) também utiliza parcialmente as idéias foucaultianas, a partir do desenvolvimento de uma “análise do discurso” que permite, segundo o autor, contribuir para o crescimento da disciplina arquivística, e entender os discursos mais influentes na área.
15. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 22/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Autores Internacionais Na produção internacional arquivistica, destaca-se a cena canadense, que apresentou um numero considerável de pesquisadores que, em diferentes graus, estudaram aspectos da obra do filósofo Francês em seus trabalhos [1] . Destaca-se Terry Cook, que, entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, produziu influentes trabalhos buscando novos paradigmas “pós-modernos” para a arquivistica, buscando incluir correntes filosóficas ou questões éticas, políticas, sociais e (em menor medida) teóricas e epistemológicas para a discussão da disciplina, do seu profissional e do objeto de estudo . [ 1] Podem ser citados autores Verne Harris e Bernadette Dodge, que em seus estudos, utilizaram de forma localizada a obra de Foucault em alguns de seus trabalhos.
16. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 23/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata As analises de Foucault na obra de Cook variavam, por exemplo, indo de uma breve citação (por exemplo, em Cook, 1997; 2001), buscando identificar entre várias correntes filosóficas, autores que podiam ser relacionados aos arquivos e, no caso de Foucault, poderiam ter conceitos críticos acerca do papel do cientista ou da construção dos arquivos.
17. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 22/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Ou em análises mais aprofundadas sobre a utilização de idéias foucaultianas na arquivologia, onde aparecem, por exemplo, em um trabalho que discute a relação entre arquivos, documentos e poder (Schwartz, Cook, 2002). Nesse artigo, os autores enfatizam a definição de Foucault (reutilizada por Derrida) ao papel dos arquivos de “um construto metafórico onde expõem perspectivas do conhecimento humano, memória e poder e uma questão de justiça” (Schwartz, Cook, 2002, p.4) revisando autores que utilizaram, indiretamente, questões de “microfísica do poder”, controle e o acesso a utilização dos documentos em diferentes suportes e conteúdos .
18. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 25/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Outro trabalho que merece citação é de Katelaar (2002), nele encontramos uma das poucas utilizações das idéias da função e papel dos documentos ou arquivos feitas pelo autor no livro vigiar e punir, onde chega a ser citado e discutido o conceito de panópitco, do qual Foucault se apropria em parte deste trabalho
19. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 26/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Carter fez utilização de Foucault em uma interessante tema que relaciona o arquivo não só ao poder, mas ao silêncio que as vezes podem ser sentidos nesses documentos ou nas informações não utilizadas, acessadas ou divulgadas neles. Em relação a análise ligada a documentação, o (já citado) autor canadense Bernd Frohmann foi um dos que mais abordou, de forma quantitativa e aprofundada, a relação entre Foucault e o papel dos documentos ou conjuntos documentais. Além da já citada qualidade de sua análise sobre o autor, outra vantagem do estudo de Frohmann é a inclusão de outras características na filosofia foucaultiana que também podem ser aproveitadas no estudo do documento, além das apresentadas em arqueologia do saber e Vigiar e Punir.
20. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 27/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Entre diferentes artigos, o trabalho que pode ser considerado como o “principal” é o artigo com o sugestivo título Discourse and Documentation (2000) onde é feito uma análise inicialmente sobre o conceito de documentação oferecido por Paul Otlet, partindo para a análise da visão micro (ligado a arqueologia do saber e da materialização do documento) e macro(relacionado a obra vigiar e punir- e da função do documento) de Foucault e, por fim, buscando utilizar ambas as abordagens tentando utilizar uma junção entre a documentação e a analise do discurso.
21. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 28/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Identificando Foucault na bibliografia Arquivística e co-relata Sobre análises de outras idéias feitas por Foucault, não necessariamente relacionadas ao documento, pode ser citado a proposta feita pelo autor (FROHMANN, 2009) de buscar uma “biopolítica documental”, utilizando conceitos feitos por diferentes autores, mas baseando-se fundamentalmente na concepção de biopoder [2] apresentada por Focault. 2] O conceito de Biopoder, segundo a definição original de Foucault, baseia-se ao controle dos corpos e da vida exercidos pelo estado contemporâneo por meio de leis e normas aplicadas pela pedagogia, medicina e economia, que regulariam a sexualidade e o modo de vida da sociedade. Essas idéias podem ser encontras na trilogia História da Sexualidade, sendo o primeiro volume publicado em 1976 e os dois últimos em 1984.
22. A Filosofia de Michel Foucault e sua apropriação pela Arquivística Contemporânea: um ensaio exploratório. 28/34 Aluf A. Elias e Roberto Lopes Novas abordagens do dispositivo foucaultiano: Ineficiência das práticas e teorias clássicas de recuperação da informação no ambiente digital, onde uma possível “solução” pode ser encontrada na abordagem de Wittgenstein relacionada aos jogos de linguagens (Blair, 2006; Saldanha, Gracioso, 2010). Ou , também, na abordagem novos “dispositivos” , políticas, ou instrumentos que discutam o fluxo informacional nessas novas midias (Braman, 2006). Análise sobre questões relacionadas ao poder e ética nas redes digitais a partir de uma visão das idéias de Foucault e Deleuze (Frohmann, 2004). Alguns trabalhos que lidam com arquivos (ou documentos de arquivo) digitais podem ser incluídos na discussão de novas formas de estudar o dispositivo foucaultiano na era "virtual“, (apesar de não citarem, pelo menos diretamente, a obra do filósofo francês ou a corrente Pós-esturturalista). “ Aprofundamento” dos estudos de autores como Jardim e Heymann, que aprofundaram, nas décadas de 1990 e 2000, o conceito de dispositivo de Foucault no âmbito da arquivologia.