2. Wilhelm Wundt nasceu em
1832, na Alemanha. Oriundo de uma
família com fortes tradições
intelectuais, faz um percurso escolar
onde se regista uma reprovação.
Aos 19 anos, entra na
universidade, tendo-se formado em
Medicina na Universidade de
Heidelberg. No decorrer do curso
compreende que o seu interesse não é
propriamente a medicina e especializa-
se em fisiologia.
Enquanto professor, investiga
o modo como se processa a informação
sensorial, o que o leva a orientar-se
para a psicologia.
3. A Consciência
O objecto de estudo de Wundt era a consciência e os
processos mentais. Partilhava com os empiristas e os associacionistas
do século XIX a convicção de que a consciência era constituída por
várias partes distintas e que se deveria recorrer à análise dos
elementos mais simples. Tal como os átomos constituem as
substâncias químicas, as sensações seriam os elementos simples da
mente e da consciência.
4. Para Wundt, os elementos da consciência não eram estáticos : a
consciência tinha um papel activo na organização do seu próprio conteúdo.
Existiria como que uma força de vontade em organizar os conteúdos da
consciência em processos mentais superiores. Wundt considerava que era
compatível o reconhecimento dos elementos simples da consciência e a
afirmação de que a mente consciente tem capacidade para proceder a uma
síntese desses elementos em processos cognitivos de nível mais elevado.
Por isso, a metodologia a seguir deveria partir dos elementos básicos
dos processos conscientes, identificar o modo com esses elementos eram
sintetizados e organizados em experiências mentais complexas e determinar as
leis que orientavam este processo.
5. As sensações e
os sentimentos
Os elementos simples constitutivos da
consciência eram as sensações e os sentimentos.
As sensações ocorrem sempre que um órgão dos
sentidos é estimulado e esta informação é enviada
ao cérebro.
O sentimento é a componente subjectiva
da sensação; são as qualidades que acompanham as
sensações e que não fazem parte do estímulo.
Assim, uma sensação pode ser
acompanhada de um sentimento de
prazer/desprazer, de excitação/depressão e de
relaxamento/tensão. A emoção seria constituída
por um conjunto complexo de sentimentos.
6. Segundo Wundt, todos os processos psicológicos podem ser descritos
como passagens de elementos mais simples aos mais complexos: é um
processo progressivo de complexidade em que, partindo de elementos simples
como as sensações, a consciência, no seu processo criativo de organização,
produzia ideias.
Quando percepcionamos uma casa percebemo-la como uma unidade, um
todo, e não como uma soma de elementos que podem ser estudados num
laboratório . para explicar esta experiência consciente unificada, Wundt
recorre ao conceito de apercepção: processo de organização dos elementos
mentais e que formam uma unidade, uma síntese criativa.
7. Para conhecer os elementos Metodologia
constitutivos da consciência, Wundt
utiliza como método a introspecção de
controlada: só o sujeito que vive a investigação
experiência é que pode descrevê-la
introspeccionando-se, isto é, fazendo
a auto-análise dos seus estados
psicológicos em condições
experimentais. Nas condições
experimentais os observadores
treinados eram alunos ou psicólogos
que trabalhavam com Wundt, que
exigia uma grande rigor nas
descrições, que seriam quantificadas.
Antes de se submeterem à
introspecção controlada, isto é,
experimental, teriam de ter feito
cerca de 10000 auto-análises
individuais. Este pré-requisito dava a
possibilidade de os indivíduos serem
rápidos e rigorosos nas suas
observações internas.
8. Assim, a Contudo, a
introspecção era uma introspecção
percepção interna que controlada só dava
dava a possibilidade de a conhecer os
aceder aos elementos elementos básicos
básicos para se conhecer da consciência, as
a consciência, que é o sensações e as
objecto da psicologia. As percepções; os
outras ciências processos mentais
recorriam à percepção complexos, como a
externa para obterem memória e a
dados sobre o seu aprendizagem, não
objecto de estudo, que é poderiam ser
a realidade. O objecto da estudados
introspecção é o próprio experimentalmente,
sujeito, enquanto o tendo de se
objecto das observações recorrer a
que se fazem nas outras metodologias
ciências é o real exterior qualitativas.
ao sujeito.
9. Conclusão
Wundt desmarcou-se do pensamento dominante da época
procurando autonomizar a psicologia da filosofia. Definiu um
objecto (a consciência) é um método de investigação (introspecção
controlada) com a finalidade de dar um estatuto de ciência à
psicologia. Procurou desenvolver uma teoria sobre a natureza da
mente humana que conjugasse a componente biológica e a
componente social, o mundo interno e o mundo externo, a dimensão
individual e colectiva.
Actualmente, muitos dos contributos de Wundt encontram
a sua fundamentação nas investigações das neurociências
contemporâneas.
10. 1. Wundt definiu como objecto da psicologia:
A- o comportamento e os processos mentais.
B- o desenvolvimento e processos mentais.
C- a consciência e os processos mentais.
D- o inconsciente e os processos mentais.
2. Segundo Wundt, a consciência é constittuída por elementos simples:
A- as percepções e as emoções.
B- as percepções e os sentimentos.
C- as sensações e os sentimentos.
D- as sensações e as percepções.
3. Wundt utilizou como método:
A- o método clínico.
B- a consciência controlada.
C- o método experimental.
D- a introspecção controlada.
11. 4. Analisa as afirmações que se seguem sobre as concepções de Wundt.
Seleccione, depois, a opção que as avalia correctamente.
1. A consciência conhece-se a partir da observação do
comportamento.
2. A psicologia deve estudar fenómenos individuais e sociais.
3. Os processos mentais elementares podem ser estudados
experimentalmente.
A- 1 e 2 são verdadeiras; 3 é falsa.
B- 1 é verdadeira; 2 e 3 são falsas.
C- 2 é verdadeira; 1 e 3 são falsas.
D- 2 e 3 são verdadeiras; 1 é falsa.
Soluções:
1. C 2. C
3. D 4.
12.
13. Jerome Seymour
Bruner nasceu em 1915, em
Nova Iorque. Em 1937,
formou-se na Universidade
de Duke. Após ter-se
doutorado em Psicologia pela
Universidade de Harvard,
desenvolveu a maior parte da
sua carreira como professor
e investigador. Com o início
da Segunda Guerra Mundial,
Bruner desenvolveu a sua
tese de doutoramento sobre
as técnicas de propaganda
nazi, direccionando o seu
interesse para a psicologia
social.
14. Bruner interessou-se pelo estudo
da evolução das competências cognitivas A Cognição
das crianças e pela necessidade de
estruturar os conteúdos educativos. Tal
como Piaget, considerou que a maturação e
o meio ambiente influenciavam o
desenvolvimento intelectual. A abordagem
de Bruner à cognição passa pela análise da
percepção.
Distingue na percepção duas
determinantes: a autóctone que inclui as
qualidades da percepção directamente
relacionadas com o sistema nervoso,
reflecte directamente as propriedades
dos órgãos dos sentidos e dos sistema
nervoso e a comportamental que se
relaciona com a motivação, a
personalidade, a aprendizagem, as
atitudes, as necessidades sociais, o
contexto cultural, etc.
15. Bruner e Cecile Goodman concluíram que as crianças mais
pobres cometiam poucos erros de avaliação das moedas de menor valor
e que sobrevalorizavam as moedas de valor mais elevado. Esta
experiência mostra que a percepção não é neutra, mas depende do valor
que se atribui a um objecto.
Esta abordagem da percepção, a que se chamou “new look”, defende que
o sujeito é activo no acto de percepcionar, dado que atribui um sentido
ao que percepciona em função das suas expectativas, interesses,
necessidades, valores e experiências anteriores vividas. A teoria “new
look”, assim designada para acentuar que se trata de uma nova
abordagem, vai orientar a investigação da percepção tendo em conta os
quadros de referência do sujeito.
16. Modos
de
representação
Segundo Bruner, o desenvolvimento cognitivo organiza-se em torno
de determinadas capacidades: a pessoa que aprende tem de dominar certos
conhecimentos ou acções para poder dominar outros mais avançados. Bruner
defendia que o desenvolvimento intelectual da criança depende do modo
como a mente usa a informação que recebe. No decurso do seu
desenvolvimento, a criança adquire três diferentes modos de
representação do meio que a envolve, da mais simples à mais complexa:
“enactivo”, icónico e simbólico. O nível anterior da representação é condição
do desenvolvimento do nível seguinte. Assim, a criança só atinge a
representação simbólica se os modos anteriores de representação
estiverem já presentes.
17. O primeiro nível de
representação designa-se por
representação “enactiva”, isto é, ligada
à acção, à manipulação.
Bruner retira conclusões ao
nível educativo: os professores podem
induzir os estudantes a usarem a
representação enactiva no processo de
aprendizagem proporcionando-lhes
experiências, materiais sugestivos,
exemplos de comportamento, etc.
18. Na representação
“icónica”, o pensamento baseia-
se nas imagens mentais dos
objectos e situações não
presentes, adquire uma
importância maior à medida que
a criança cresce e aprende
conceitos e princípios que não
se podem “mostrar” e realiza-
se por interiorização dos
gestos e das percepções sob a
forma de esquemas estáveis.
Bruner considerava
que os professores poderiam
recorrer a filmes e a outros
materiais audiovisuais como
forma de enriquecimento dos
estudantes.
19. Na representação
“simbólica”, a representação do
meio faz-se através de símbolos,
assumindo particular importância
a linguagem falada e escrita.
A linguagem possibilita
que a criança aceda ao
conhecimento disponível no seu
meio, ultrapassando-o, é o
elemento vital do
desenvolvimento intelectual.
A linguagem é o
principal sistema simbólico
utilizado pelo adulto na
aprendizagem. No fim
desta fase, o sujeito tem
os instrumentos mentais
que lhe permitem outros
desenvolvimentos.
20. Poder-se-ia dizer que, para Bruner, existem três estádios:
“Enactivo” – aprender fazendo;
Icónico – aprender por meio de imagens e gravuras;
Simbólico – aprender por meio de palavras ou números.
21. A mente Bruner foi um dos
impulsionadores da teoria cognitivista
mas acabou por se afastar, por
considerar o modelo proposto muito
limitativo e redutor.
Bruner defende que o
desenvolvimento da mente está ligado
à construção de significados pelos
seres humanos na sua relação com o
meio. Estes significados construídos
pelos sujeitos nada têm a ver o modo
informático do processamento de
informação. A mente é criativa,
produz sentido, é pessoal e subjectiva,
mas é partilhada com os outros que
fazem parte do seu contexto social. A
pertença a um dado grupo social marca
a forma de uma pessoa pensar e de
comportar-se; por isso, não podemos
compreender os processos cognitivos
sem termos em conta o factor cultura.
22. Bruner reconhece que existe, em cada
cultura, o que comummente se chama psicologia
popular que consiste na forma como, num dado
contexto social e cultural, cada um de nós procura
explicar o que são as pessoas, por que razão se
comportam de determinada maneira, como encaram os
problemas, etc. Variam de sociedade para sociedade
pois dependem das práticas sociais e das instituições.
A psicologia popular é uma teoria da mente
que procura explicar as causas dos desejos, crenças,
intenções e motivações. A psicologia popular produz
um conjunto de narrativas que organizam estas
explicações, que descrevem um modo padronizado de
pensar os comportamentos, as motivações, as
intenções. Diferentemente da psicologia científica,
que organiza as suas teorias conceptualmente, a
psicologia popular fá-lo através das narrativas.
23. A Aprendizagem
A cada modo de representação corresponde um modelo de
aprendizagem. Bruner considera que as aprendizagens devem ser compatíveis
com as diferentes fases de representação. Assim, na fase enactiva
dominarão as aprendizagens centradas sobretudo na manipulação dos
objectos; segue-se, na fase icónica, uma aprendizagem das representações
dos objectos e das suas características; na última fase, a capacidade
simbólica vai possibilitar a compreensão de conceitos lógicos e abstractos e
as suas combinações em sistemas.
Um mesmo assunto pode ser abordado de formas distintas nas três
fases, num percurso que vai de uma abordagem mais simples até à mais
complexa. Propõe o que se designa por currículo em espiral.
24. Bruner defende que existe um
desejo natural de aprender por parte da
criança, uma motivação que, se for
aproveitada pelos professores, conduzirá a
um maior sucesso escolar. Tem de se ter em
conta as necessidades do aluno e a sua
capacidade para entender a estrutura do
que está a aprender. Primeiro deve ser feita
uma abordagem icónica e depois uma
simbólica.
Finalmente, referia a necessidade
do reforço: uma aprendizagem bem-
sucedida deve ser reforçada, para aumentar
a probabilidade de se repetir.
25. Bruner deu grande
importância à aprendizagem por
descoberta: se o aluno estiver
envolvido na exploração e pesquisa
de um determinado assunto,
aprenderá melhor e desenvolverá
as suas capacidades intelectuais,
designadamente o pensamento
intuitivo. Este tipo de pensamento
antecipa as hipóteses antes de
estar de posse de todos os dados,
explorando, correndo alguns
riscos, procurando uma
compreensão imediata do
problema. O professor age como
um facilitador que encoraja os
alunos a descobrirem os princípios
por si próprios e a constituírem o
conhecimento, para resolverem
problemas reais em cooperação
com os outros.
26. Metodologia de investigação
Bruner considerava
que, se queria compreender
o processo de
aprendizagem, deveria
observar alunos e
professores em contexto
da sala de aula.
Adoptou
procedimentos da
metodologia experimental
procurando compatibilizar
as suas investigações com
as regras científicas.
27. Conclusão
Bruner abandona o cognitivismo,
por considerar que a busca de uma
cientificidade conduziu esta corrente à
adopção de um modelo explicativo dos
processos da mente que não respeita o
seu carácter criativo e dinâmico.
Bruner considerou a elaboração
das representações mentais e da
categorização da informação como
processos fundamentais do pensamento
humano. A criação de significados é o
centro dos processos cognitivos que são
partilhados pelas narrativas de cada
cultura. Reflexo da importância que
atribui à ligação entre o desenvolvimento
cognitivo e a cultura é a criação da
psicologia cultural.