O documento contém três questões sobre literatura brasileira respondidas por um estudante. A primeira questão resume o gênero teatral e o papel da personagem Compadecida na peça "Auto da Compadecida" de Ariano Suassuna. A segunda questão explica a relação entre episódios mencionados por Primo Argemiro e o desfecho do conto "Sarapalha" de Guimarães Rosa. A terceira questão define a organização que une e distingue os poemas "O mar e o canavial" e "O canavial e o mar" de
2. QUESTÃO 01
ufop 2009, segundo semestre
Explique as características do gênero teatral expresso no título da obra Auto da Compadecida e defina o
papel da personagem Compadecida na peça de Ariano Suassuna.
SOLUÇÃO
[gênero textual + temática]
O auto é um gênero teatral, de forte teor religioso, surgido na Idade Média.
No texto de Suassuna, critica-se veementemente o mundanismo da Igreja, por intermédio das figuras
do Bispo [apegado às coisas mundanas], do Padre [preguiçoso] e do Sacristão [ladrão], que, num ato
de simonia, participam [direta ou indiretamente] enterro de Xaréu.
Vale a pena afirmar que a peça critica apenas a cúpula da Igreja Católica.
Os representantes da classe popular acabam por triunfar na peça. Tal assertiva se confirma através da
eleição do Frade como representante da Igreja não corrompida pelos valores mundanos, e, ainda, pela
defesa que faz a Compadecida dos desvalidos.
A Compadecida é a representante da graça Divina na Peça.
A metonímia por intermédio da qual é designada indica seu papel – interceder pelos desvalidos. Ela é,
afinal, a grade advogada, nas palavras de João Gilo.
Ela se compadece – se apieda – e defende os fracos, os oprimidos, manifestando, assim, a bondade
divina por intermédio de suas ações.
3. QUESTÃO 02
ufop 2009, segundo semestre
Leia o trecho de “Sarapalha” apresentado a seguir.
“...Não adiantou ter sido tão direito... Se ele, Primo Argemiro, tivesse tido coragem... Se tivesse sido
mais esperto... Talvez ela gostasse... Podia ter querido fugir com ele; o boiadeiro ainda não tinha
aparecido... Agora, ela havia de se lembrar, achando que era um pamonha, um homem sem decisão...
E, no entanto, viera para a fazenda só por causa dela... Primo Ribeiro não punha malícia em coisa
nenhuma... Sim, os dois tinham sido bem tolos, só o homem de fora era quem sabia lidar com
mulher!...”
(ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 65. impr., 2001, p. 165)
No trecho citado, Primo Argemiro faz alusões a episódios decisivos de “Sarapalha”. Explique a relação
entre os episódios mencionados e o desfecho do conto.
4. QUESTÃO 02
ufop 2009, segundo semestre
SOLUÇÃO
[enredo de “Sarapalha”]
No trecho em questão, Primo Argemiro fala sobre sua paixão por Luísa, esposa de Ribeiro.
Argemiro alude, em seus pensamentos, à fuga de Luísa. Ela fora embora da fazenda com um
boiadeiro, que pede pouso a Argemiro.
De acordo com o narrador, o boiadeiro e Luísa não se falaram durante a estada daquele na fazenda.
Entretanto, fugiram sem deixar pistas para os dois primos.
Merece menção o fato de que, Argemiro etimologicamente significa "corajoso" e a personagem alude,
no trecho citado, exatamente ao fato de que lhe faltara coragem para fugir com a esposa de Ribeiro.
Ao final da narrativa, Argemiro “toma coragem” e conta seu segredo a Ribeiro: sempre fora
apaixonado por Luísa, mesmo antes de ela conhecer Ribeiro. Nunca, entretanto, faltara com o
respeito ao primo.
A coragem de Argemiro é entendida por Ribeiro como traição. Por isso, o dono do rancho expulsa o
agregado da fazenda.
5. QUESTÃO 03
ufop 2009, segundo semestre
Leia os seguintes poemas de João Cabral de Melo Neto:
CANAVIAL E O MAR
O que o mar sim ensina ao canavial:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial sim ensina ao mar:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não ensina ao canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial não ensina ao mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
O MAR E O CANAVIAL
O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso:
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.
O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.
O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.
O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.
6. QUESTÃO 03
ufop 2009, segundo semestre
Explique o tipo de organização que une e distingue, ao mesmo tempo, os poemas “O mar e o
canavial” e “O canavial e o mar”.
7. QUESTÃO 03
ufop 2009, segundo semestre
SOLUÇÃO
[correspondência externa]
Em A educação pela pedra, oito poemas se estruturaram a partir do princípio da correspondência externa [ou
sintática], as duas partes do poema primitivo se relacionam com as duas partes de um outro que dele
se origina, por intermédio da permutação de versos.
Uma boa resposta deveria fazer uma paralelo entre pares de versos e mostrar as alterações da estrutura
sintática propostas em cada poema.