2. CRONOLOGIA DO CLASSICISMO
marcos históricos
1427 1580
Sá de Miranda Luís Vaz de Camões
volta da Itália, trazendo novas formas literárias ano em que morre o maior poeta português
4. DEFINIÇÃO
o que é o classicismo?
continuação dos ideais do Humanismo;
desdobramento do Renascimento na literatura;
revitalização da tradição clássica;
afirmação da superioridade humana [antropocentrismo];
valorização das proporções, do equilíbrio e da harmonia;
idealização da realidade.
6. SONETO
Petrarca
Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?
Se eu ardo por querer por que o lamento
Se sem querer o lamentar que vai?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento?
E se eu consinto sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou por alto-mar e sem governo.
É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.
lirismo amoroso: o sujeito poético tenta explicar/definir o amor por intermédio da razão
trabalho linguístico: tom angustiado e tenso expresso por interrogações, antíteses e paradoxos.
7. SONETO
William Shakespeare
Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.
lirismo filosófico/amoroso: inexorabilidade da passagem do tempo;
lirismo amoroso/filosófico: o eu lírico vê o amor como arma para se vencer o tempo e a morte.
8. Trecho do filme O homem que copiava, de Jorge Furtado. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=tOqpWG59AbI
9. CONTEXTO HISTÓRICO EM PORTUGAL
o classicismo
grandes navegações;
prosperidade econômica;
conquista no Norte da África;
caminho marítimo para as Índias;
era dos descobrimentos.
10. O teatro do globo terrestre, de Abraham Ortelius, considerado primeiro atlas moderno.
11. O PROJETO LITERÁRIO
o classicismo
retomada dos ideais da Antiguidade Clássica;
a razão é o parâmetro de observação e análise da realidade;
antropocentrismo: afirmação da superioridade humana;
volta do uso das formas clássicas: ode e elegia;
linguagem sóbria: sem excesso de figuras;
predomínio da razão sobre os sentimentos;
busca da universalidade e da impessoalidade;
substituição da medida velha pela medida nova.
13. Poema de Sá de Miranda em azulejos na Casa do Barreiro, Gemieira, Ponte de Lima.
14. FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA
o classicismo
na Itália, entra em contato com as inovações literárias;
usa tanto a medida velha quanto a medida nova;
elogio da vida rústica e defesa da liberdade individual;
crítica dos costumes e da ambição provocada pelo ouro.
16. Retrato de Camões, feito por Fernão Gomes. Considerando o mais autêntico retrato do poeta.
17. LUÍS VAZ DE CAMÕES
classicismo
o Camões épico
Os lusíadas são uma epopeia de imitação;
seguem modelo estabelecido na Antiguidade por Homero;
celebra as glórias portuguesas.
19. LUIZ VAZ DE CAMÕES
classicismo
estrutura de Os lusíadas
dez cantos;
1.102 versos em oitava rima [ABABABCC];
8.816 versos decassílabos;
TEMA: glória do povo navegador português
TEMA: memória dos reis que dilataram a Fé e o Império;
O HERÓI: o navegador Vasco da Gama e o povo português
20. OS LUSÍADAS
Luís Vaz de Camões
As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas, Canto I.
22. OS CANTOS DE OS LUSIADAS
Luís Vaz de Camões
proposição
Trata-se da apresentação do poema, com a identificação do tema e do herói [três primeiras
estrofes do Canto I].
23. OS CANTOS DE OS LUSÍADAS
Luís Vaz de Camões
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas, Canto I.
25. OS CANTOS DE OS LUSIADAS
Luís Vaz de Camões
invocação
O poeta pede às musas que lhe deem um engenho ardente e um som alto e sublimado [estrofes
4 e 5 do Canto I]; no caso de Camões, as musas escolhidas são as Tágides, ninfas do Rio Tejo, que
corta a cidade de Lisboa.
26. OS CANTOS DE OS LUSÍADAS
Luís Vaz de Camões
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas, Canto I.
27. As tágides camonianas são uma versão portuguesa das nereidas [ninfas gregas associadas à água].
28. OS CANTOS DE OS LUSIADAS
Luís Vaz de Camões
dedicatória
Camões dedica o poema a Dom Sebastião, rei de Portugal [estrofes 6 a 18 do Canto I].
30. OS CANTOS DE OS LUSIADAS
Luís Vaz de Camões
narração
Desenvolvimento do tema, com o relato dos episódios da viagem de Vasco da Gama e com a
reconstituição da história passada dos reis portugueses [inicia na estrofe 19 do canto I e termina
na estrofe 144 do canto X].
32. OS CANTOS DE OS LUSIADAS
Luís Vaz de Camões
epílogo
Encerramento do poema; o poeta pede às musas que calem a voz de sua lira, pois se encontra
desiludido com uma pátria que não merece ter suas glórias louvadas [estrofes 145 e 156 do
Canto X].
33. OS CANTOS DE OS LUSÍADAS
Luís Vaz de Camões
Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas, Canto X.
35. LUÍS VAZ DE CAMÕES
classicismo
o Camões lírico
usa tanto a medida velha como a medida nova;
as redondilhas [medida velha] eram compostas geralmente de um mote e glosas [voltas];
mote: motivo inicial fornecido por alguém ou tomado emprestado a outro poeta.
glosa: desenvolvimento do tema fornecido no mote.
36. DESCALÇA VAI PARA A FONTE
mote e glosa
Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote, Descobre a touca a garganta,
O testo nas mãos de prata, Cabelos de ouro entrançado
Cinta de fina escarlata, Fita de cor de encarnado,
Sainho de chamelote; Tão linda que o mundo espanta.
Traz a vasquinha de cote, Chove nela graça tanta,
Mais branca que a neve pura. Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura. Vai fermosa e não segura.
37. VERDES SÃO OS CAMPOS
mote e glosa
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes Gados que pasceis
Com verdura bela; Com contentamento,
Ovelhas, que nela Vosso mantimento
Vosso pasto tendes, Não no entendereis;
De ervas vos mantendes Isso que comeis
Que traz o Verão, Não são ervas, não:
E eu das lembranças São graças dos olhos
Do meu coração. Do meu coração.
38. A LÍRICA CAMONIANA
o classicismo
o desconcerto do mundo;
as mudanças constantes;
o sofrimento amoroso;
os mistérios da condição humana;
a presença do homem no mundo.
39. A LÍRICA CAMONIANA
o classicismo
amor e neoplatonismo
para Camões, o Amor [com A maiúsculo – personificação] é ideal por que aspiramos:
único perfeito idéia superior
não se fala da posse física, mas apenas das concepções que o autor tem de Amor.
40. A LÍRICA CAMONIANA
o classicismo
o tratamento dado à mulher
a mulher aparece dotada da mesma perfeição conferida ao Amor:
ser perfeito imagem ideal espiritualizada
41. A LÍRICA CAMONIANA
o classicismo
influências da poesia de Camões
AMOR CORTÊS ASPECTOS MEDIEVAIS
influência de Petrarca e da Poesia Provençal influência das Cantigas Medievais
regras/procedimentos para homenagear a dona elogio da natureza e mágoa de amor
presença da coita de amor descrição naturalista da dona [olhos, talhe, etc.]
relação entre adorar e ser e entre sofrer e amar soidade [ausência de um presente q poderia ter sido]
42. AO DESCONCERTO DO MUNDO
Luís Vaz de Camões
Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m'espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
anda o mundo concertado.
lirismo filosófico: o locutor constata que o mundo está mudado [para pior];
tema: o discurso poético articula-se como tentativa de compreensão do ser-estar no mundo.
forma: décima com versos heptassílabos.
43. ENDECHAS A BÁRBARA ESCRAVA
Luís Vaz de Camões
Aquela cativa Nem no campo flores, Uma graça viva,
Que me tem cativo, Nem no céu estrelas Que neles lhe mora,
Porque nela vivo Me parecem belas Pera ser senhora
Já não quer que viva. Como os meus amores. De quem é cativa.
Eu nunca vi rosa Rosto singular, Pretos os cabelos,
Em suaves molhos, Olhos sossegados, Onde o povo vão
Que pera meus olhos Pretos e cansados, Perde opinião
Fosse mais fermosa. Mas não de matar. Que os louros são belos.
Pretidão de Amor, Presença serena
Tão doce a figura, Que a tormenta amansa;
Que a neve lhe jura Nela, enfim, descansa
Que trocara a cor. Toda a minha pena.
Leda mansidão, Esta é a cativa
Que o siso acompanha; Que me tem cativo;
Bem parece estranha, E. pois nela vivo,
Mas bárbara não. É força que viva.
lirismo amoroso: elogio ao corpo da amada: olhos, cabelo, cor da amada;
nela descansa toda minha pena [ambiguidade]: metalinguagem e sensualidade
metalinguagem: ela inspira a escrita; sensualidade: ela apazigua o sofrimento.
44. AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
Luís Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É um solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor.
lirismo amoroso: como, sendo tão paradoxal, pode o amor causar amizade nos corações;
três primeiras estrofes: efeitos paradoxais do amor no ser humano;
quarta estrofe: perplexidade do locutor encenada na pergunta final;
estrofe 01: efeitos corporais: sensibilidade à dor;
estrofe 02: dimensão romântica: caráter de entrega; estrofe 03: dilema moral do apaixonado.
45. MUDAM-SE OS TEMPOS
Luís Vaz de Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz, de mor espanto,
que não se muda já como soía.
lirismo filosófico: triste constatação de que tudo muda; postura desencantada do eu lírico;
46. ALMA MINHA GENTIL...
Luís Vaz de Camões
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou
lirismo amoroso: para o locutor, o amor envolve sofrimento, perda e dor;
tema: morte da amada; a tristeza é tamanha que o eu lírico deseja a morte;
platonismo
47. SETE ANOS DE PASTOR...
Luís Vaz de Camões
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai, ousando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora
Come se a não tivera merecida,
Começa por servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
lirismo amoroso: celebração do caráter sublime e sagrado do amor;
matrizes intertextuais: Petrarca [Por Rachel ho servito e non por Lia] e Bíblia;
platonismo: o sujeito poético ama o amor.