PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
Ironia
1.
2. Nesta sua tese, Kierkegaard restaura todo o vigor do pensamento da ironia socrática. Não
se trata de um procedimento. A ironia é a própria condição humana em sua
transcendência. A tarefa da ironia não é encontrar respostas, nem dar explicações ou
construir teorias. É examinar as posições das diversas respostas vividas pelos homens em
seus respectivos pressupostos de sustentação. Na famosa formulação socrática: sei que
não sei, o que não tem função categorial, seja integrante ou casual, mas existencial. Indica
a conjuntura da existência em que se dá e exerce a libertação da liberdade: em tudo que
sabe, Sócrates não apenas sabe que não sabe. A ironia não visa constatar um fato. Fala de
uma atitude e modo de ser. A atitude e o modo de ser do homem. Em tudo, o homem vive
sobretudo o não saber. Pensar não é saber. É não saber. Quando se pensa, não se pretende
saber, quando se pretende saber, não se pensa. Ironia é liberdade.
3. No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre
aquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas
perguntas feitas por ele.
Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos
problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o
orgulho, a ignorância e a presunção do saber.
A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a
confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir
certezas e clarividências.
Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o
caminho da reconstrução das próprias idéias.