Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Apresentação para décimo segundo ano de 2016 7, segunda aula de cábulas
1.
2.
3. IV
Horas mortas
O teto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
4. Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.
5. Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!
Ó nossos filhoes! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.
6. Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!
Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
7. E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as
[ pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.
8. E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
9.
10.
11. hoje
itens 1, 2, 3 (Campos, Pessoa)
gramática de exame (tópicos secundários)
(Felizmente há luar!)
sexta
itens 1, 2, 3 (Caeiro, Reis,
Mensagem/Lusíadas, Memorial, Felizmente)
gramática de exame (orações, funções)
dissertação (III)
12. • Por favor, usar a tolerância
– Exame de Português é contingente (e
depende do bom acabamento, da atenção
aos pormenores)
13.
14. 1.
O tempo evocado é o da infância feliz,
vivida em Lisboa, que o sujeito poético
caracteriza como um tempo de encantamento
que a memória convoca quando ouve a cantiga;
é também um período de «Sossego de várias
espécies» (v. 7), físicas e mentais, vivido com
despreocupação, porque se trata de uma
«infância sem o futuro pensado» (v. 8). É um
tempo de harmonia, de tranquilidade, de
vivências familiares e domésticas, representado
pelo «terceiro andar das tias» (v. 6), pelo «ruído
aparentemente contínuo da máquina de costura»
(v. 9) e em que «É tudo bom e a horas» (v. 10).
15. 2.
A primeira citação remete para a
memória encantada da infância, o tempo
em que o su-jeito poético ouvia a cantiga
agora evocada; a segunda, para quando
a consciência do presente se interpõe
entre o "eu" e a recor-dação da infância.
A permanência do seu eco na memória
do sujeito poético faz com que essa
cantiga se revele como um resto do
passado morto, que se torna incómodo e
que, como tal, o sujeito tenta silenciar.
16. 3.
A consciência do presente, que
surge do con-fronto com o passado
evocado, desencadeia um sentimento de
perda irremediável que domina o sujeito
poético. A saudade de um tempo perdido
é agudizada e o verso final traduz o
desespero do "eu" perante a
impossibilidade de esquecer a cantiga e
de recuperar a infância perdida.
17. 4.
A repetição da forma verbal «dói» acentua
o efeito da dor experimentada pelo sujeito
poético, para a qual contribui também o valor
semântico do verbo utilizado. O facto de a
repetição cons-tituir um verso curto e tripartido,
com recurso a um monossílabo de sons
abertos, confere a essa dor uma dimensão
insuportável, uma presença constante, da qual o
sujeito poético não se consegue libertar. As
reticências finais conferem à série um efeito de
indelimitação que acentua o valor aspetual,
imperfetivo, que já advinha do uso do Presente
do Indicativo.
18.
19. 1.
Existe, no poema, uma distinção entre o
passado ou o tempo em que o sujeito poético
«[e]ra criança» e o presente ou o «[h]oje» do
adulto. Na primeira estrofe, os dois primeiros
versos referem-se à infância e os dois últimos
versos ao presente. Na segunda estrofe, o
sujeito poético refere-se ao passado e, na
terceira estrofe, ao presente.
Os elementos linguísticos que evidenciam
a distinção entre o passado e o presente são as
formas verbais, o advérbio de tempo e as
expressões temporais. Assim, a referência ao
20. passado está marcada através das formas
verbais do Pretérito Perfeito do Indicativo
e do Pretérito Imperfeito do Indicativo,
além da expressão temporal «[e]m tem-
pos». A referência ao presente é feita
através da conjugação de verbos no
Presente do Indicativo e do advérbio
«hoje».
21. 2.
O sujeito poético descreve-se como
«lúcido» e «estrangeiro», na primeira estrofe.
Estes dois adjetivos são cruciais na
caracterização do seu estado de espírito: a
lucidez ou capacidade de a inteligência analisar
o real associa-se ao sofrimento que o pensar ou
a consciência traz ao sujeito poético; o «ser
estrangeiro» traduz a incapacidade de o sujeito
poético se relacionar com os outros, mantendo
distancia-mento, quer em relação aos outros,
quer em relação ao real. Estas duas dimensões
são fundamentais na poesia de Pessoa ortónimo;
são no presente o inverso do que «em criança»
havia, o «amar». Além disso, na última estrofe,
22. constatamos que, para o sujeito poético, a
evocação de uma infância mítica (um
passado onde havia «amar») constitui
uma «brisa», que ele descreve como
«sombras», termo que atribui um sentido
negativo ao «hoje». Finalmente, a
evocação desse passado risonho é
considerada um «enleio» associado a algo
positivo — a infância — reinventado pela
imaginação, representado pelo
pensamento e pela linguagem como um
tempo em que era possível sentir.
23. 3.
A expressão transcrita associa,
através da metáfora, a «alma» a «céu»,
elemento que constitui o símbolo da
felicidade. Através desta associação
descreve-se a infância do sujeito poético
como momento de extrema felicidade.
Note-se ainda que o determinante artigo
indefinido «um» particulariza a analogia,
o que permite conotá-la também com o
sonho: a alma não é «o céu», é um dado
céu imaginado.
25. • Metáfora (explicar a analogia e mostrar
como é curiosa a transposição para outro
contexto).
• Comparação (idem; mostrar como o termo
da comparação é inusitado)
• Repetição, anáfora, uso repetido e
expressivo de determinado sinal de
pontuação.
• Paralelismo.
26. • Polissíndeto.
• Longa enumeração (assindética ou
não).
• Gradação.
• Hipérbole.
• Antítese, Paradoxo (ou Oxímoro)
(destacar o contraste conseguido, e efeito
de oposição e agregação).
28. Designar e localizar a figura,
transcrevendo.
Referir em que consiste o processo
estilístico (em que é que se rompeu a
norma) e o efeito que assim se obtém.
29. 4.
«Em tempos quis o mundo inteiro»
desenvolve o complexo de dimensões que
caracteriza a poesia de Pessoa ortónimo: a
evocação de uma infância mítica, em que o
poeta se imagina feliz, constitui o reverso
de um presente pleno de tédio existencial
e de angústia, criados pelo constante ato
de pensar que impede o sujeito poético de
estabelecer qualquer relação, quer com os
outros, quer com o real, que
incessantemente ele desconstrói.
30.
31. Quatro tipos (para itens 8-10 do grupo II):
• ‘Classifique a oração’; 6.ª
• ‘Indique o valor da oração’; listas de itens
• ‘Identifique a função sintática’; 6.ª
• ‘Identifique o referente (o antecedente [a
expressão correspondente à anáfora] / a
expressão correspondente à catáfora [o
sucedente])’. listas de itens
•Surge uma vez um quinto tipo —
‘Classifique o ato ilocutório’. hoje
32. Em Gaveta de Nuvens pus todos os itens
de gramática (organizados por assuntos)
saídos nos exames nos últimos anos.
33.
34.
35. 1. Relações de hierarquia
Hiperonímia Relação entre palavras em que o significado de uma
(hiperónimo), por ser mais geral, inclui o de outras
(hipónimos). O hiperónimo impõe sempre as suas
propriedades ao hipónimo, criando assim, entre eles, uma
dependência semântica.
Ex.: Árvore [hiperónimo];
Carvalho, pinheiro, macieira… [hipónimos].
Relações semânticas entre palavras
Expressões
36. Hiponímia Relação entre palavras, em que o significado de uma
(hipónimo), por ser mais específico, se encontra incluído no
de outra (hiperónimo). O hipónimo, além de conservar as
propriedades semânticas do hiperónimo, possui os seus
próprios traços diferenciadores.
Ex.: Gato [hipónimo];
Animal [hiperónimo].
[O significado de gato implica o significado de animal. Pode dizer-se
que gato é um tipo/uma espécie de animal.]
Relações semânticas entre palavras
Expressões
37. 2. Relações de parte-todo
Holonímia Relação entre palavras, em que o significado de uma
(holónimo) refere um todo do qual a outra palavra
(merónimo) é parte constituinte. O holónimo não impõe
obrigatoriamente as suas propriedades ao merónimo.
Ex.: Carro [holónimo]; volante [merónimo];
Corpo [holónimo]; braço [merónimo].
Meronímia Relação entre palavras, em que o significado de uma
(merónimo) remete para uma parte constituinte da outra
(homónimo). O merónimo cria uma relação de dependência
ao implicar a referência a um todo (holónimo).
Ex.: Dedo [merónimo] implica a palavra mão/pé [holónimo].
Relações semânticas entre palavras
Expressões
38. X [hipónimo] pertence à classe de Y [hiperónimo]
X é um(a) Y
Eça é um escritor
X [merónimo] é uma parte de Y [holónimo]
X integra Y (ou Y tem X)
A folha integra o livro
O livro tem folhas
39.
40. «museu» é holónimo de «exposição»
«quadro» é merónimo de «museu»
«artista» é hiperónimo de «Pollock»
41. «museu» é holónimo de «exposição»
«quadro» é merónimo de «museu»
«artista» é hiperónimo de «Pollock»
«pintor» é hiperónimo de «Pollock»
«Louvre» é hipónimo de «museu»
«Magritte» é hipónimo de «homem»
42. «corrente artística» é hiperónimo de
«pictomarista»
«Lourenço Marques» é merónimo de
«Moçambique»
«Bélgica» é hipónimo de «país»
43. «corrente artística» é hiperónimo de
«pictomarista»
«Lourenço Marques» é merónimo de «Moçambique»
«Bélgica» é hipónimo de «país»
São co-hipónimos «Moçambique» e «Bélgica»
São co-merónimos «quadro» e «bilheteira»
53. Baza!
diretivo
Vou ser a única mulher aqui na casa.
(Luciana, chorosa)
expressivo (ou assertivo)
Tem dois minutos para abandonar a
casa.
diretivo
54. Tem dois minutos para abandonar a casa.
diretivo (indireto)
Ah! Lindo, lindo, lindo! (Roberto Leal a ver
Débora a abraçar Unas)
expressivo
Porque é que fizeste isso, Débora? (por
Unas)
diretivo (ou, indiretamente, expressivo)
55. Só tenho pena de não ter comido o
açoriano.
expressivo
Amo-te Débora! (por Débora)
expressivo
* Sim, vou descongelar duas portadas
para o jantar do César.
compromissivo
57. 5. Na frase, proferida por D. Miguel
Forjaz, «Quero os sinos das aldeias a
tocar a rebate», estamos perante um
acto ilocutório
a) expressivo.
b) diretivo.
c) assertivo.
d) compromissivo.
58. 5. Na frase, proferida por D. Miguel
Forjaz, «Quero os sinos das aldeias a
tocar a rebate», estamos perante um
acto ilocutório
a) expressivo.
b) diretivo.
c) assertivo.
d) compromissivo.
59. 2) Com o recurso à interjeição
«Bravo!» (linha 10), // a) o enunciador
manifesta um estado emocional.
60. 2) Com o recurso à interjeição
«Bravo!» (linha 10), // a) o enunciador
manifesta um estado emocional. (Seria
expressivo.)
61. O segmento textual «Este livro reúne
alguns dos textos que mensalmente e
ao longo dos últimos anos fui
publicando» (linhas 1 e 2) constitui um
ato ilocutório diretivo. [V/F] Não, é
assertivo.
62.
63.
64. Aspeto
• perfetivo: comeu a papa
• imperfetivo: está a comer a papa
• genérico: o Benfica é um clube
• habitual: joga na rua
• iterativo: todos os fins de semana se
embebeda
• pontual: chegou ontem
• durativo: está lendo, está a ler
• incoativo / ingressivo: comecei a trabalhar
• progressivo: ando a aprender chinês
65. Ela estava a fazer jogo, esteve a fazer
jogo desde o início.
imperfetivo
Há muitas melgas nesta casa.
genérico
Já acabou o Fenistil.
perfetivo
66. A melga entrou lá dentro.
perfetivo
A melga vinha [a voar].
imperfetivo
Procurei bué. Estive ali um quarto de
hora à procura da melga.
imperfetivo / perfetivo
67. Tu és meu amigo, Rui.
genérico
* Costumo sair do quarto dos homens e
visitar o das mulheres.
habitual
* Tens procurado as melgas todas as
noites.
iterativo
68. Esboço de léxico porventura útil para respostas a grupos I
o «eu» poético / o «eu» lírico / o sujeito poético / o sujeito lírico / o poeta / [o
narrador] / ...
trecho / texto / excerto / passagem / passo / período / parágrafo / segmento / frase /
expressão / estrofe / terceto / quadra / quintilha / dístico / sextilha / verso / ...
trata de / aborda / conota / denota / remete para / implica / evoca / alude a / refere /
traduz / significa / assinala / menciona / exprime / traça / esboça / desenha / perfila /
desenha / marca / vinca / acentua / sublinha / sugere / insinua / salienta / valoriza /
desvaloriza / prefere / pretere / favorece / desfavorece / privilegia /prejudica / enumera /
elenca / estabelece / distingue / ...
infere-se / conjetura-se / adivinha-se / percebe-se / nota-se / é percetível / é notório /
evidencia-se / é evidente / apercebemo-nos de que /...
oposição / paralelismo / contraste / simetria / tema agregador / assunto / leitmotiv /
binómio / motivo / símbolo / direção / vetor / linha de sentido / tópico / alusão / ...
Entretanto, / Acrescente-se que / Note-se ainda que / Diga-se também / É de notar / Por
outro lado, / Na verdade, / Com efeito, / ...
69.
70. Integrar um dado fenómeno do texto
nos mecanismos de coesão...
lexical (repetições de palavras, antonímia,
sinonímia, hiperonímia, hiponímia),
referencial (pronominalizações),
frásica (concordâncias, modificadores),
interfrásica (conjunções, conectores,
estruturação em períodos e certa pontuação),
temporal (advérbios de tempo, sequência de
tempos verbais).
71.
72. A ocorrência de termos equivalentes
ou antónimos, como «esmola», «medalha»,
«moedas», e «pague», «receba», «vende»,
constitui um mecanismo de coesão lexical.
O mesmo se pode dizer da própria
repetição da palavra «moeda».
73. Na fala de Manuel, o referente
«moeda», surge substituído várias vezes
por termos anafóricos: «[lh]a» (duas
vezes), «a [use]»; depois, o antecedente
«trinta moedas» é substituído pelos
pronomes, também anafóricos, «as» («as
pague ou as receba»). Trata-se de
mecanismo de coesão referencial. Como
o é também a elipse de «Rita» no
segundo período da didascália maior.
74. Numa das didascálias, o valor
imperfetivo de «iluminava», matizado pela
progressividade de «apaga-se
gradualmente» — conferida pelo advérbio,
mas contraditória do sentido de ‘apagar’
—, vinca o valor também imperfetivo do
presente de «permanecer», verbo já
marcado por sentido durativo. A sequência
de verbos no presente («entrega», beija»,
«corre», «surge») é estabelece a ideia de
ação, avanço no tempo. Este jogo entre
tempos, advérbio, etc., constitui um
exemplo de coesão temporoaspetual.
75. De novo na fala de Manuel, o
conector final «para que» ou a ligação
aditiva «e», que vemos na primeira frase
da página, ou até a sequencialização
conseguida pela justaposição de períodos
podem ilustrar a chamada coesão
interfrásica.
76.
77. Indicar tipo de deíticos (ou tipo de
«referência deítica» ou «deixis»):
Pessoais (eu, tu, formas verbais na 1.ª e 2.ª
pessoas, vocativos)
Espaciais (aqui, ali, este, aquele, esse, cá)
Temporais (agora, neste momento, amanhã,
ontem, há pouco, daqui a pouco, tempos das
formas verbais)
[Textuais]