1) No início do século XVII, químicos continuaram a enfatizar o uso de remédios químicos e a estudar reações, com mais especulações teóricas.
2) Farmacêuticos começaram a se tornar importantes no desenvolvimento da química, realizando muitas descobertas em laboratórios.
3) Químicos como Béguin, Sala e Glauber conduziram muitos experimentos químicos práticos e avançaram a compreensão sobre sais e reações.
Capítulo 10 - Química prática e a teoria na primeira metade do do século XVII
1. CAPÍTULO X
QUÍMICA PRÁTICA E A TEORIA NA PRIMEIRA METADE DO
SÉCULO XVII
A ênfase dos iatroquímicos no uso de remédios químicos continuou a
inspirar homens a estudar reações químicas à medida que o Século
XVII começava. O caminho racional de investigação apontado por
Libavius foi cada vez mais sendo seguido. À medida que o número de
reagentes disponíveis aumentava, assim também aconteceu com o
número de novos compostos e o número de reações estudadas. A
ênfase recaía sobre operações práticas de laboratório, mas
especulações teóricas, tão pouco desenvolvidas no século anterior,
tornaramse mais frequentes. Como será visto, os primeiros passos
nessa direção falsearam e havia pouca unanimidade de pensamento,
mas durante o Século XVII um padrão de pensamento químico emergiu,
e, pelo fim do século, a filosofia química era um assunto florescente e
popular.
Nessa época, também, a Química começou a assumir a posição de uma
ciência independente. Aquele que a seguiram eram seguidores de uma
nova profissão. Muitos eram ainda membros de outros grupos treinados,
mas alguns podiam ser chamados de químicos hoje. Até essa época,
muitos dos homens que tiveram um profundo interesse em Química
tinham sido médicos, mas com frequência crescente, farmacêuticos
começaram a trabalhar em publicar no campo. Eles eram
particularmente apropriados para perseguir o assunto desde que eles
operavam laboratórios e realizavam a maioria das preparações dos
remédios iatroquímicos. Poucos médicos realmente sujavam suas mãos
nos laboratórios, e assim seu interesse em Química tendeu a ser
teórico.
2. Os farmacêuticos, com seu conhecimento prático, tornaramse cada vez
mais importantes no desenvolvimento da Química. Pelos próximos
duzentos anos um grande número de descobertas químicas
fundamentais foi feita pelos farmacêuticos ou homens com treinamento
farmacêutico. Isso foi particularmente verdadeiro no continente Euroeu.
Na Inglaterra, avanços químicos foram feitos por um tipo diferente de
investigador, o cientista amador.
A tradição de Libavius de Química Prática permaneceu bem no novo
Século. Um dos que seguiram essa tradição foi o farmacêutico francês
Jean Béguin (falecido por volta de 1620). Em 1604 ele começou a dar
aulas de Química para o público geral e em 1610 ele publicou seu
“Tyrocinium Chymicum” (O Químico Iniciante). O livro tornouse muito
popular e teve várias reedições. É interessante notar que nele Béguin
distinguiu os pontos de vista do físico, do médico, e do Químico em
relação aos fatos da Natureza. Essa é a evidência definitiva que o
Químico agora era reconhecido como um cientista individual.
O livro de Béguin quase não contém teoria. Ele é uma coleção
heterogênea de receitas para a preparação de remédios químicos.
Entretanto, ele mostra de muitas formas quão longe os “cozinheiros”
tinham progredido. Um exemplo interessante é a descrição da digestão
do minium (óxido de chumbo) com vinagre, e a destilação dos cristais
resultantes para produzir uma substância volátil que nós conhecemos
como acetona. Béguin adicinou que se o receptor “não estiver muito
bem e exatamente cimentado à retorta, então uma grande fragrância
(que preencheria todo o laboratório) será perdida (como eu não duvido
que se os odores de todos os vegetais odoríferos fossem reunidos e
misturados, esse odor poderia excedêlos em muito).
3. Outro químico prático, dessa vez um médico, foi Angelo Sala
(15761637). Em 1617 ele descreveu a preparação do vitriol de cobre
(CuSO4.5H2O) a partir de quantidades bem pesadas de cobre, espírito
de enxofre (ácido sulfúrico) e água. Ele então decompôs o composto e
encontrou os mesmos ingredientes e nas mesmas proporções que ele
tinha usado na síntese original. Isso demonstrou a existência contínua
dos constituintes no sal, que ia contra as velhas ideias Aristotélicas, e
também mostrou, como ele afirmou, que os vitriois natural e artificial
eram iguais.
Um químico ainda mais grandioso que Béguin e Sala foi Johann
Rudolph Glauber (16041670). Ele era autodidata em Química, e ele
perambulou pela Europa aprendendo os métodos em uso em vários
países.
4.
Em uma certa época ele se estabeleceu em Amsterdam, onde ele
construiu um excelente laboratório. Muito da sua vida foi dispendida em
experimentações químicas. Ele foi um dos primeiros químicos industriais
e engenheiros químicos. Em seu “Furni Novi Philosophici” (Novos
Fornos Filosóficos – Amsterdam, 16481650), ele descreveu vários
aparatos químicos e muitas operações químicas. No “Pharmacopoeia
Spagyrica” (Niimberg, 1654) ele dá receitas para muitos medicamentos
iatroquímicos. Em “Teutschlands Wohlfahrt” (A Prosperidade da
Alemanha – Amsterdam, 1656) ele aplicou princípios químicos em suas
elaboradas recomendações para tornar a Alemanha um país
economicamente autosustentável. Sua doença fatal e morte
provavelmente resultaram de suas investigações sobre a Química do
mercúrio e do arsênio em laboratórios pobremente ventilados.
5. Glauber era muito interessado em metalurgia e na manufatura de
ácidos, bases, e sais. Entre outros procedimentos, ele preparou ácido
sulfúrico forte e melhorou em muito o método de Libavius para a
preparação de ácido clorídrico. Sua receita mais famosa era uma para o
tratamento de sal ordinário com ácido sulfúrico, um sal ao qual Glauber
atribuiu poderes maravilhosos. Ele próprio chamouo de sal mirabile, e
desde então é conhecido como Sal de Glauber. Contrário a esse
costume usual, ele fez algumas tentativas de manter o método de
preparação desse sal em segredo, e seu entusiasmo em exaltar suas
virtudes levouo a ser considerado algo como um charlatão por aqueles
que não conheciam seus outros trabalhos.
Mais importante para a história da química foi seu grande interesse nos
sais em geral. Desde que ele tinha disponíveis os ácidos minerais
comuns, ele podia tratar um grande número de metais e óxidos
metálicos com eles para preparar sais neutros. Ele frequentemente
obtinha esses sais em forma pura e em grandes quantidades. Ele assim
estava apto a reconhecer que sais eram compostos de duas partes,
uma proveniente de um ácido, a outra de um metal ou de sua terra
(óxido). Seus estudos posteriores mostraram que sais neutros podiam
reagir com outro para produzir novos sais: dupla composição. Na
preparação de salitre (nitrato de potássio) a partir de ácido nítrico e sal
tártaro (carbonato de potássio), ele usou a evolução (liberação de gás)
de dióxido de carbono como um indicador para o ponto neutro. Por tais
reações ele aprendeu que diferentes sais tinham diferentes forças. Ele
expressou esse fato em termos que mostraram que ele estava tateando
em direção à ideia de afinidade química.
6. Como um metal é de uma natureza diferente do outro, mas são
semelhantes, amam um ao outro, e como devem “abominar” e
“esquivarse” um ao outro; e quando existirem diversos metais em uma
massa, e você pudesse separálos, é necessário que você o faça pela
adição de uma coisa que tenha afinidade pela parte mais imperfeita, e
esteja em inimizade com a parte perfeita. Como por exemplo, Enxofre é
um amigo de todos os metais, exceto Ouro, que ele odeia; mas ele
ainda ama (mesmo em metais imperfeitos) um mais que o outro.
A terminologia de amor e ódio é aqui essencialmente aquela de
Empédocles de 2100 anos atrás; mas, enquanto o filósofo Grego
pensava em Amor e Discórdia como corpos físicos, está claro que
Glauber considerouos como forças.
Assim Glauber foi além de Libavius em sua compreensão da natureza
das reações inorgânicas que ele realizou. Ele também fez observações
sobre Química Orgânica, preparando tais substâncias como Cloreto de
Etila, acetona, acroleína, e benzeno, mas a natureza desses compostos
era muito complexa para ser compreendida por um cientista do século
XVII.
Mesmo que Glauber fosse primeiro um químico prático, ele tinha uma
compreensão teórica maior que seus predecessores do Século XVI.
Assim não é surpreendente que seus contemporâneos que estavam
mais interessados em teoria devessem fazer mudanças notáveis nas
ideias amplamente aceitas de natureza da matéria. O químico que mais
combinou teoria com prática em seu trabalho nessa época foi Jan
Baptist van Helmont (15771644). Apesar de muitas das suas teorias
serem errôneas, suas contribuições para o avanço da Química foram
grandes.
7. Van Helmont era um próspero médico que viveu próximo a Bruxelas.
Ele gastou muito da sua vida de aposentado, realizando experimentos
químicos. Ele considerava a si mesmo um philosophus per ignem, um
filósofo do fogo, que aproximadamente significa um químico profissional.
Van Helmont rejeitava a ideia Aristotélica de quatro elementos, desde
que ele sentia que nem o fogo e nem a terra eram constituintes
fundamentais das substâncias. Ar era um elemento, mas ele não podia
se mudado para qualquer outra forma, e onde ele exercia qualquer
influência, como em auxiliar na queima de um fogo, só o estava fazendo
por uma ação mecânica. Isso deixava a água como base de todas as
substâncias químicas, e muito do trabalho experimental de Van Helmont
foi devotado a provar a importância da água na natureza. Van Helmont
era um seguidor de Paracelsus e aceitava muito do seu misticismo, mas
ele não se precocupava muito com a importância dos três princípios,
mercúrio, enxofre e sal.
A mais famosa tentativa de Van Helmont de provar que a água podia
ser convertida em outras substâncias era seu experimento do
salgueirochorão. Esse era uma performance real do experimento
sugerido por Nicholas de Cusa duzentos anos antes. Van Helmont
plantou uma árvore em uma quantidade de terra pesada, regoua por
cinco anos, e então mostrou que, enquanto a árvore ganhou 164 libras,
o peso da terra permaneceu o mesmo. Para ele, isso provou que todas
as partes da árvore tinham sido formadas a partir da água. De ainda
maior interesse químico foi seu experimento com uma quantidade
conhecida (pesada) de areia. Ela foi fundida com excesso de álcalis
para formar vidroágua (vidrolíquido ou provavelmente polissilicato de
sódio), que liquefazia quando exposto ao ar, obviamente uma conversão
de terra para água. A água podeia ser reconvertida para terra por
tratamento com ácido, e a quantidade de terra (sílica) recuperada era a
mesma que tinha sido usada originalmente.
8. Esses experimentos não parecem a nós muito boas demonstrações da
natureza elementar da água, mas eles ilustram dois aspectos do
trabalho de Van Helmont que mostram a nós que seu pensamento
estava muito mais próximo daquele dos químicos modernos do que da
forma de pensar dos seus predecessores. O primeiro aspecto era a
natureza quantitativa dos seus experimentos. Ele usava a balança
quase que rotineiramente. Decorre disso, e ainda mais importante, é a
suposição implícita de sua parte que a matéria não é criada e nem
destruída nas mudanças que ela sofre. A lei de conservação de massa
não foi estabelecida até muito mais tarde, mas Van Helmont e aquele
que o seguiram usaram o princípio continuamente. O uso da balança
sem dúvida causou uma aceitação generalizada desse princípio, pois de
outra forma não haveria necessidade de pesagem se isso fosse falso. O
instrumento introduzido pelos ensaístas para propósitos puramente
práticos estava levando a importantes avanços teóricos na Química.
Outro avanço significativo resultou da teoria de Van Helmont dos
elementos. Ar não podia ser convertido em água, como muitos filósofos
anteriores pensavam, ainda, quando água era evaporada, ela dava
origem a uma substância parecida com ar. Muitas reações químicas
também liberam substâncias similares. Elas podiam não ser ar, e assim
precisavam representar uma nova classe de materiais. O produto da
evaporação da água facilmente retornava a água, e assim Van Helmont
consideroua como um vapor. As outras substâncias eram mais
permanentes, e para elas ele encontrou um novo nome.
Eu chamo a isso de Espírito, até então desconhecido, pelo novo nome
de Gás, que não pode ser contido por vasos, nem reduzido a um corpo
visível, a menos que a semente tenha sido extinta. Mas Corpos contém
esse espírito, e algumas vezes partem totalmente em um tal Espírito,
não porque de fato ele está verdadeiramente em seus corpos (porque
ele não pode ser verdadeiramente contido, mas sim todo o corpo
composto poderia voar para longe de uma vez só) mas ele é um Espírito
que cresceu junto, coagulado na forma de um corpo.
9. A palavra “gás” provavelmente derivou de “chaos”, que Paracelsus usou
como um termo generalizado para o ar. O uso dessa nova palavra
nunca morreu completamente no continente Europeu, mas na Inglaterra
Robert Boyle substituio pelo termos “ar” e não foi até o Século XIX que
ele foi reestabelecido na Inglaterra.
Para Van Helmon, um gás era mais sutil que um vapor, mas mais denso
que o ar elementar. A diferença em propriedades entre gases e vapores
está no arranjo diferente de enxofre, mercúrio e sal nas partes íntimas.
Experimentalmente, Van Helmont preparou gás por meio de várias
diferentes rações, e frequentemente usou o termo gas sylvestre (espírito
selvagem) para designálo. Muitos dos espécimes que ele preparou
eram na realidade dióxido de carbono obtido de fontes como a queima
do carvão, fermentação de uvas, ou ácidos e sais de tártaro (carbonato
de potássio), mas ele também obteve amostras impuras de óxidos de
nitrogênio, dióxido de enxofre, e hidrogênio. Ele sabia que seus gases
nem sempre tinham as mesmas propriedades, embora ele não
atribuísse muita importância a esse fato. Ele foi chamado o pai da
química pneumática.
Como um iatroquímico, Van Helmont aplicou muitas das suas ideias a
organismos vivos. Seguindo Paracelsus, ele assumiu a existência de um
Archaeu que dirigia corporalmente as reações, mas ele generalizou o
conceito ao declarar que todas as reações em vida eram controladas
por “fermentos”, os quais eram um tipo de energia formativa individual.
Essa terminologia continuou em uso até o final do Século XIX. Não pode
ser dito que a concepção de Van Helmont sobre os fermentos tinha
muito em comum com a ideia moderna de enzimas, embora essa
comparação algumas vezes tenha sido feita. A despeito do caráter
preferencialmente místico de muitas das suas teorias bioquímicas, Van
Helmont realizou muito trabalho prático em bioquímica de fluidos
corporais, a assim ajudou a lançar as bases para uma bioquímica
cientítica.
10. Dois dos preeminentes sucessores de Van Helmont levaram suas ideias
de um mecanismo bioquímico de vida mais adiante que ele próprio o
fez. François de la Boe, cujo nome latinizado era Sylvius (16141672), e
Otto Taechnius (cerca de 16201690) fora indubitavelmente
influenciados pelas teorias mecânicas de Química que desenvolveram
pela metade do século, os quais tentaram simplificar todas a ideias
químicas. Eles também estavam preocupados com as descobertas
práticas de Glauber. Como iatroquímicos, eles sentiram a necessidade
de explicar todos os processos vitais nessa terminologia moderna, e
assim eles deduziram todas as reações nos corpos vivos à interações
de ácidos com álcalis. A impressionante efervescência de carbonatos
com ácidos parecia suficiente para descrever as forças da vida. Foi o
violento conflito de substâncias antagônicas que produziu a vida. Essa
era realmente uma ressurreição da antiga doutrina dos contrários, mas
ela estava expressa na mais moderna linguagem.
Os farmacêuticos que preparavam drogas iatroquímicas estavam mais
próximos dos laboratórios que os iatroquímicos médicos, e assim
estavam mais preocupados com a natureza dos materiais com os quais
trabalhavam do que com a concepção de todas as teorias abrangentes
sobre a vida. Eles devotaram muito do seu tempo às destilações,
especialmente de produtos de plantas e de animais. Eles acreditavam
que por esse processo eles estavam analisando a substância em seus
constituintes. Desde que eles obtivessem um licor volátil, uma
substância inflamável, e um resíduo solúvel em água em muitos casos,
eles estavam preparados para aceitar os três princípios de Paracelsus:
mercúrio, enxofre e sal. Eles também encontraram em muitas das suas
destilações um líquido mais pesado e um sólido insolúvel, e assim eles
adicionaram aos elementos Parecelsianos dois mais: a fleuma
(phleugma) e a terra. Os primeiros três eram princípios ativos; os dois
últimos princípios passivos; e assim surgiu um conceito de cinco
elementos. Uma série completa de farmacêuticos que davam leituras
públicas sobre química
11. No Jardin du Roi em Paris, Davidson de Clave, Le Févre, Glaser, e
Lémery, consideravam a crença básica nos cinco princípios, apesar de
eles diferirem grandemente entre eles próprios nas suas aplicações
destes princípios à teoria química.
Pode ser visto que a primeira metade do Século XVII foi um período de
crescente precisão na Química Prática. A importância dos experimentos
quantitativos foi apreciada; a ideia de indestrutibilidade da matéria foi
intuitivamente elaborada; e a natureza dos ácidos, bases, e sais e de
muitas das suas reações começaram a ser compreendidas. Ao mesmo
tempo o desenvolvimento teórico da Química estava em um estado
caótico. Praticamente cada químico desenvolveu sua própria explicação
sobre a estrutura fundamenta da matéria. Muitas das suas teorias que
vieram a público nessa época não sobreviveram até o fim do Século
XVII, mas elas desenvolveram um papel importante na história da
Química. Elas surgiram porque os homens dessa época não podiam
aceitar as teorias que tinham sido aceitas por duzentos anos, e por sua
variedade eles varreram as velhas teorias de cena. Novas descobertas
que saíram dos laboratórios demandaram melhores explicações que
podiam ser oferecidas pelas forças místicas e ocultas dos Paracelsianos
por um lado, ou pelas explicações extremamente simplistas dos
iatroquímicos mais racionalmente inclinados por outro lado, claramente
as variadas e individualistas teorias desse período abriram o caminho
para a teoria corpuscular que seguise e que, no seu desenvolvimento
gradual, levou às ideias modernas de Química.
QUESTIONÁRIO
1) Qual foi a contribuição de Jean Béguin para o desenvolvimento da
Química?
2) Qual foi a contribuição de Glauber para o desenvolvimento da
Química?