O documento resume as principais características estilísticas e temáticas das Liras de Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga. Em especial, destaca-se a presença de elementos neoclássicos e pré-românticos, assim como a descrição da natureza idealizada e da atmosfera bucólica que permeiam as composições.
4. O livro pertence ao Neoclassicismo ou
Arcadismo que é exatamente a reação ao
preciosismo e confusão do estilo
barroco.
Retorno ao equilíbrio, à simplicidade da
linguagem e de idéias da literatura clássica
5. 1) Em Marília de Dirceu
encontramos a linguagem
estereotipada da mitologia e do
retrato da mulher ideal.
ANOTAR
6. O poeta descreve sua amada como uma
mulher nívea, de cabelos longos e louros
(na primeira lira da Parte I).
Não importava que Marília fosse brasileira
e morena, como o poeta a descreverá na
lira seguinte .
Era, talvez, mais importante estar
integrado no espírito e convenções do
Arcadismo.
8. "Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve;
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de
neve.
Os teus cabelos são uns fios d'ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!"
10. "O destro Cupido um dia Por fazer pensar a todos
Extraiu mimosas cores No seu liso centro escreve
De frescos lírios,e rosas, Um letreiro, que pergunta:
De jasmins, e de outras flores. 'Este espaço a quem se deve?'
Com as mais delgadas penas Vênus, que viu a pintura,
Usa de uma, e de outra tinta, E leu a letra engenhosa,
E nos ângulos do cobre Pôs por baixo: 'Eu dele cedo;
A quatro belezas pinta. Dê-se a Marília formosa'"
12. "Já viste, minha Marília, As grandes Deusas do Céu
Avezinhas, que não façam Sentem a seta tirana
Os seus ninhos no verão? Da amorosa inclinação.
Aquelas, com quem se enlaçam, Diana, com ser Diana,
Não vão cantar-lhes defronte Não se abrasa, não suspira
De mole pouso, em que estão? Pelo amor de Endimião?
Todos amam: só Marília Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção? Queria ter isenção?
Se os peixes, Marília, geram Desiste, Marília bela,
Nos bravos mares, e rios, De uma queixa sustentada
Tudo efeitos de Amor são. Só na altiva opinião.
Amam os brutos ímpios, Esta chama é inspirada
A serpente venenosa, Pelo Céu; pois nela assenta
A onça, o tigre, o leão. A nossa conservação.
Todos amam: só Marília Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção? Não deve ter isenção."
13. 3) O Bucolismo
A poesia pastoril ou bucólica chegou a
representar uma idealização da vida,
inclusive, numa tentativa de identificação com
os modelos gregos, os poetas arcádicos
chegaram a usar nomes de pastores:
Gonzaga (Dirceu), Cláudio
(Glauceste/Alceste), Basílio da Gama
(Termindo Sipílio).
ANOTAR
14. Há um predomínio quase que
total da atmosfera pastoril nas
liras, sobretudo na Parte I:
15. "Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d'expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado,
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
(...)
Irás divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço.
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!" (Lira 1)
16. 4) Convívio com a Natureza.
"fugere urbem" (= fugir da cidade)
ANOTAR
17. Nas liras a natureza aparece como cenário
dos idílios e devaneios amorosos, a ponto
de transformar a íngreme e montanhosa Vila
Rica em doces e amenos campos de
pastagens ("locus amoenus"), onde vivem os
pastores e seus rebanhos.
A presença da natureza nas liras é uma
constante: a natureza idealizada - não a
verdadeira, como se pode notar na lira 5 (I):
18. "Aqui um regato Mas como discorro?
Corria sereno Acaso podia
Por margens cobertas Já tudo mudar-se
De flores, e feno: No espaço de um dia?
A esquerda se erguia Existem as fontes,
Um bosque fechado, E os feixos copados;
E o tempo apressado, Dão flores os prados,
Que nada respeita, E corre a cascata,
Já tudo mudou. Que nunca secou.
São estes os sítios? São estes os sítios?
São estes; mas eu São estes;
mas eu
O mesmo não sou. O mesmo não sou.
Marília, tu chamas? Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou Espera, que eu vou."
20. "Pintam, Marília, os Poetas Porém eu, Marília, nego,
A um menino vendado, Que assim seja Amor; pois ele
Com uma aljava de setas Nem é moço, nem é cego,
Arco empunhado na mão; Nem setas, nem asas tem.
Ligeiras asas nos ombros, Ora, pois, eu vou formar-lhe
O tenro corpo despido, Um retrato mais perfeito
E de Amor, ou de Cupido Que ele já feriu meu peito;
São os nomes, que lhe dão. Por isso o conheço bem."
21. Marília de Dirceu apresenta, portanto duas
faces
A) quando imita os moldes clássicos e
quinhentistas, é arcádica
propriamente dita, ou neoclássica;
B) quando reflete as novas inquietações
que preparavam a eclosão do
Romantismo, é pré-romântica "
ANOTAR
24. Parte I. Na primeira parte (anterior
à prisão) mostra-se o poeta cheio
de esperanças, fazendo projetos
conjugais, defendendo o ideal de
vida burguês.
ANOTAR
25. Nesta primeira fase, conforme Antônio Cândido,
"denota preferência pelo verso leve, :
"Se alguém te louvava, Se estavas alegre,
De gosto me enchia; Dirceu se alegrava;
Mas sempre o ciúme Se estavas sentida,
No rosto acendia Dirceu suspirava
Um vivo calor À força da dor.
Marília, escuta Marília, escuta
Um triste Pastor. Um triste Pastor."
26. Parte II. A segunda parte das liras traz
a marca dos dias de masmorra, longe de sua
pastora e de seu rebanho, curtindo a
amargura da prisão.
ANOTAR
27. O poeta vive de sonhos
ou do tempo passado.
"Assim vivia...
Hoje os suspiros
O canto mudo;
Assim, Marília,
Se acaba tudo."
28. o poeta jamais perde a esperança de
rever Marília, de reconstruir tudo - porque
crê na sua inocência:
"Ah! minha Bela; se a Fortuna volta,
Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo;
Por essas brancas mãos, por essa faces
Te juro renascer um homem novo;
Romper a nuvem, que os meus olhos cerra,
Amar no Céu a Jove, e a ti na terra."
29. Realidade X Lembranças
"A quanto chega
A pena forte!
Pesa-me a vida,
Desejo a morte,
A Jove acuso,
Maldigo a sorte,
Trato a Cupido
Por um traidor.
Eu já não sofro
A viva dor."
33. b) pentassílabo ou redondilha
menor (cinco sílabas):
"Mal/vi/o/teu/ros/to,
O/san/gue/ge/lou/-se,
A/lín/gua/pren/deu/-se,
Tre/mi,/e/mu/dou/-se,
Das/fa/ces/a/cor"
34. c) heptassílabo ou redondilha maior
(sete sílabas):
"Tem/re/don/da e/li/sa/tes/ta
Ar/que/a/das/so/bran/ce/lhas
A/voz/mei/ga a/vis/ta
ho/nes/ta
E/seus/o/lhos/são/uns/sóis"
37. a) Maria Dorotéia Joaquina de Seixas
(Marília). O retrato de Marília (figura vaga,
sem existência concreta - objeto ideal de
poesia) e o de Maria Dorotéia (amada de
Gonzaga, menina de 17 anos)
Além de outras indicações, veja-se a lira 2 (I), que traça o perfil da
amada do poeta.
ANOTAR
38.
39. b) Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu).
• As liras são a expressão do "eu" do poeta,
onde se revela altivo e apaixonado.
•Fala com naturalidade e abundância da sua
inteligência, posição social, prestígio,
habilidades.
ANOTAR
40. • Preocupa-se com a aparência física e a
erosão da idade ; com o conforto, futuro,
planos, glória etc.
ANOTAR
43. c) Cláudio Manuel da Costa (Glauceste ou
Alceste).
• Nas liras e a amizade que unia os dois poetas, em
que se nota também a admiração que Gonzaga
nutria pelo poeta mais velho.
• Outra referência a Cláudio pode-se ver na lira 7
(II), onde Gonzaga parece ignorar a prisão e morte
do grande amigo.
44. d) Na lira 38 (II), onde Gonzaga faz a justificação da sua
inocência, há uma alusão a Tiradentes, cabeça da conjuração,
que era tido por todos como alucinado:
"Ama a gente assisada
A honra, a vida, o cabedal tão pouco,
Que ponha uma ação destas
Nas mãos dum pobre, sem respeito e louco?"
A lira 23 (II) é um elogio ao Visconde de Barbacena,
governador de Minas, destinada a captar-lhe a benevolência.
O visconde foi quem mandou prender Gonzaga mas fora-lhe
um dos amigos mais caros.