Assuntos abordados:
Rápida análise qualitativa da atual situação financeira dos clubes;
Identificação de possíveis causas do cenário atual;
Como gerenciar os recursos financeiros dos clubes, de modo a garantir sua saúde financeira, evitando sua quase insolvência e de modo que possam honrar seus compromissos, inclusive tributários;
Sugestões para dar maior transparência à gestão financeira e à aplicação dos recursos financeiros dos clubes, a fim evitar desvios e possível corrupção.
João Paulo de Jesus Lopes
Consultor da Vice-Presidência do São Paulo Futebol Clube e Conselheiro vitalício. Nesse clube, ocupou, durante mais 30 anos, entre outros, os cargos de Vice-Presidente Administrativo-Financeiro, Vice-Presidente de Futebol, Diretor Financeiro, Diretor de Planejamento e Diretor de Futebol Profissional e Vice-Presidente de Futebol.
Conferência SC 24 | Estratégias de precificação para múltiplos canais de venda
As principais dificuldades do futebol brasileiro e soluções para o Fair Play Financeiro
1. AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DO
FUTEBOL BRASILEIRO QUE IMPACTAM
NO FAIR-PLAY FINANCEIRO
João Paulo de Jesus Lopes – Maio de 2016
2. Situação Financeira Atual dos
Clubes de Futebol do Brasil
Os balanços dos 20 maiores clubes de futebol do Brasil nos
últimos anos, vêm apresentando a seguinte situação:
1- Receitas excessivamente dependentes de negociações de
atletas (17% em 2015) e direitos de TV (38% em 2015) e com
pouca representatividade de receitas comerciais (14% em 2015)
e de bilheteria (10% em 2015);
2- Elevados custos dos departamentos de futebol (73% das
receitas em 2015);
3- Déficits anuais crônicos;
4- Elevados endividamentos;
5- Elevada dívida fiscal.
Fonte dos dados: Análises de Amir Somoggi
4. 1- Gestão
A falta de profissionalização (incompetência) leva a
decisões erradas no âmbito financeiro. Clubes em
má situação financeira negociam mal suas
propriedades junto ao mercado, aceitando propostas
desvantajosas e perdendo receitas a longo prazo.
Por outro lado, a paixão e emoção inerentes ao
futebol levam a posturas e decisões equivocadas,
com grande impacto negativo nas finanças dos
clubes (contratações, premiações, salários, etc.)
5. 2- Calendário
Ocupando grande espaço nas discussões sobre os
problemas do futebol brasileiro, o Calendário Nacional
contraria totalmente os interesses do futebol e destoa
completamente de outros calendários de importantes
centros mundiais.
O número excessivo de jogos, longas e mal planejadas
competições, atrativas somente em suas fases finais e
inchadas por competidores em excesso, impactam
indireta, porém significativamente, nas finanças dos
clubes.
6. 3- Organização Societária
A maioria dos grandes clubes brasileiros de futebol segue
o mesmo modelo das associações criadas no fim do
século XIX e início do século XX.
Com a profissionalização dos atletas, o futebol ingressou
no chamado “ambiente econômico”, necessitando se
estruturar e auferir receitas para pagar os salários, custos
e despesas correlatos.
Entretanto, a organização interna da maioria dos clubes
ainda remonta, em grande parte, a época das suas
formações.
7. 4- Formação
A formação de atletas deveria se revestir de atividade
fundamental para as entidades esportivas, pelo
provisionamento técnico de suas equipes principais e a
fonte de receita que representa, além da função social que
os clubes devem exercer.
Com a salutar extinção do vínculo entre atleta e clube, a
transferência de atletas formados internamente tomou
caminho errado.
Em vez de beneficiar os clubes formadores, foram
favorecidos novos protagonistas, os “empresários”.
8. 5- Bilheteria
Diferentemente do mero espectador de um
espetáculo, no futebol o torcedor participa tão
ativamente do jogo, que se caracteriza como a
própria razão de ser do evento.
Enquanto na Europa as receitas de bilheteria são
parcela importante das receitas totais dos clubes, no
Brasil, em 2015, representaram apenas 10% da
receitas totais dos 20 principais clubes brasileiros,
segundo estudo de Amir Somoggi.
Por que tanta diferença?
9. 6- Marketing
Percebe-se que há no Brasil consumidores ávidos por
produtos relacionados com o futebol e que o mercado do
futebol ainda não é capaz de atender essa demanda.
A relação entre o futebol e o marketing no Brasil, apesar
de visível evolução, inclusive em recursos humanos,
ainda se ressente de atuação mais efetiva, criativa e
qualificada.
Há ainda, frequentemente, a tendência de se confundir
MARKETING, que traz receitas, com PROMOÇÃO, que traz
despesas.
10. 7- Direitos de TV
A Televisão tem importância fundamental para o produto
futebol. Determinadas partidas, têm público estimado em
muitos milhões de telespectadores.
O futebol precisa da Televisão para se divulgar, e aos seus
parceiros nas ações de marketing que revertem em
receitas para os clubes. Por seu lado, a Televisão tem no
futebol conteúdo muito atraente para sua audiência e seus
anunciantes.
É fundamental que as duas partes encontrem um equilíbrio
na relação e eliminem os conflitos de interesses.
11. 8- Legislação
Além das suas dificuldades internas, o futebol brasileiro
necessita de regulamentações “de cima para baixo”, mas
negociadas com as entidades esportivas, para superar
impasses decorrentes da falta de consenso (e bom-
senso) entre os clubes, geralmente motivadas pela
paixão e emoção em suas relações.
Os progressos conquistados com legislações federais
vigentes, como a Lei Pelé, Estatuto de Defesa do
Torcedor e o PROFUT, precisam ser expandidos com
novas regulamentações.
12. 9- Organização Federativa
Os mesmos impasses decorrentes da falta de consenso
e bom-senso entre os clubes vêm alimentando a
existência de uma organização federativa do futebol,
além de anacrônica, profundamente lesiva aos
interesses dos clubes.
Exemplo disso é que, enquanto no período 2007-2015,
segundo o mesmo Amir Somoggi, os 20 principais
clubes brasileiros apresentaram déficits acumulados
totalizando mais de R$ 3,3 bilhões, a CBF, nesse mesmo
período, apresentou superávit de R$ 506 milhões.
13. “O desafio do futebol brasileiro
é ajustar as finanças para
tornar a operação sustentável,
sem frustrar os torcedores.”
Relatório do Itaú BBA
16. 1- Gestão
Profissionalização e especialização dos gestores;
Utilização de métodos corporativos modernos;
Adoção de planejamento financeiro responsável.
Maior consenso entre dirigentes dos principais clubes
brasileiros, evitando decisões dentro de um clima de
rivalidade, paixão e emoção, de forma a valorizar o
futebol como importante negócio dentro da indústria de
entretenimento e que, pela grande sensibilização
nacional, tem todas as condições para ser altamente
rentável.
17. 2- Calendário
Racionalização do Calendário Nacional, colocando os
interesses dos clubes em primeiro lugar;
Redução do número de jogos disputados pelos clubes
em uma temporada;
Inclusão de períodos dedicados a pré-temporadas e
excursões dos clubes ao exterior;
Melhor planejamento das competições, tornando-as
mais curtas e atrativas durante toda sua disputa;
O calendário da Seleção Nacional deve estar
harmonizado com o calendário dos clubes.
18. 3- Organização Societária
Modernização da estrutura societária dos clubes, de
forma a ingressar como empresas no chamado “ambiente
econômico”, auferindo receitas compatíveis com o
pagamento de seus salários, custos, despesas e
investimentos correlatos.
Profissionalização dos gestores e adoção dos modernos
métodos de administração, não só no futebol, mas
também nas áreas de marketing, jurídico, saúde, etc.
Adoção de maior transparência e de dispositivos legais
responsabilizando os responsáveis pela gestão.
19. 4- Formação
Criação pelos clubes de regras de relacionamento internas
e externas, de forma a limitar a atuação da atividade dos
empresários e impedindo-os de atuar desregradamente no
mercado em geral.
Gestões conjuntas dos clubes com o Governo Federal e
autoridades esportivas, objetivando regulamentar a
transferência de atletas para o exterior, de forma a proteger
os clubes formadores e permitir aos atletas agregar seus
talentos a eles, deixando de proporcionar elevados
rendimentos a quem nada investiu nas suas formações.
20. 5- Bilheteria
Elevação da participação da bilheteria nas receitas totais dos
clubes com a melhoria dos serviços, conforto e segurança
internos nos estádios;
Responsabilização severa dos maus torcedores e torcidas
organizadas;
Melhoria nas deficientes condições de transporte e
estacionamento nos estádios;
Fidelização do torcedor, com aperfeiçoamento dos programas
de sócios-torcedores, agregando receitas marginais a esses
programas através de parceiros comerciais;
Planejar mais mercadologicamente o chamado “match-day”.
21. 6- Marketing
Profissionalização especializada e experiente, bem como
revisão dos conceitos aplicados, objetivando maior
criatividade e resultados;
Quantificação da força das marcas dos clubes, objetivando
melhores valores nas negociações de seus produtos;
Adaptação, em conjunto com os patrocinadores, da oferta
de produtos mais compatíveis com a conjuntura econômica
nacional e mundial;
Ações conjuntas dos clubes com autoridades e demais
protagonistas, coibindo a proliferação de produtos piratas.
22. 7- Direitos de TV
Reequilíbrio das negociações entre clubes e TV, com independência e em
igualdade de condições, permitindo direta e individualmente aos clubes a
negociação de seus direitos televisivos, apurando valores mais justos nas
transmissões de seus jogos e definindo datas e horários mais adequados
aos interesses comuns.
Sugere-se como a fórmula, a que define como propriedade do clube
mandante em uma partida de futebol todos os direitos de transmissão para a
própria praça. Fica reservado ao clube visitante os direitos de transmissão
para fora da praça do evento. Ou seja, as transmissões locais, geralmente
feitas via pay-per-view, ficariam com o mandante e as “de” e “para” outras
praças, geralmente transmitidas pela TV aberta, ficariam com o visitante.
Seriam, ainda, reservadas parcelas para distribuição homogênea a todos
participantes da competição e para ser distribuída ponderadamente,
conforme os índices técnicos de cada clube na competição do ano anterior.
23. 8- Legislação
Novas regulamentações e aperfeiçoamento da legislação
existente, consensados entre clubes e oferecidos aos
governos para sua oficialização, entre elas:
1- Organização das sociedades esportivas;
2- Legislação trabalhista diferenciada para atletas;
3- Direitos de TV;
4- Tratamento tributário diferenciado aos clubes;
5- Formação e transferência de jovens atletas;
6- Definição das mínimas condições de saúde financeira para
que uma equipe dispute uma competição;
7- Regulações municipais em que os espetáculos esportivos
devem se enquadrar.
24. 9- Organização Federativa
Criação pelos clubes de uma Liga Nacional, para
regulamentação e disputa das competições, reservando à CBF e
às federações apenas a administração da Seleção Nacional e
dos registros dos atletas, exigindo dela o repasse aos clubes
dos salários dos atletas convocados durante o período que
servem a Seleção Nacional, conforme a legislação vigente;
Dar andamento, também no âmbito do futebol sulamericano, à
presente mobilização para a criação de uma Liga Continental,
eliminando de seu contexto a desmoralizada Conmebol.
Com isso, deixa-se de esperar que as soluções venham apenas
das ações desenvolvidas pelas CPI, Justiça, Polícia Federal e até
pelos FBI e Interpol.