2. A inquisição
• A inquisição era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé
católica: vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem
suspeitos de praticar outras religiões.
• Exercia também uma severa vigilância sobre o comportamento
moral dos fiéis e censurava toda a produção cultural bem como
resistia fortemente a todas as inovações científicas.
• Na verdade, a igreja receava que as ideias inovadoras conduzissem
os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade do
papa.
3. A inquisição
• A 23 de maio de 1536 – bula do papa Paulo II - estabelece a
inquisição em Portugal, no reinado de D. João III
• Os judeus foram os mais perseguidos pela inquisição em Portugal.
• As novas propostas filosóficas ou científicas eram, geralmente,
olhadas com desconfiança pela inquisição que submetia a um
regime de censura prévia todas as obras a publicar, criando o Index
(catálogo de livros cuja leitura era proibida aos católicos) sob pena
de excomunhão.
4. A inquisição
• As pessoas viviam amedrontadas e sabiam que podiam ser
denunciadas a qualquer momento sem que houvesse
necessariamente razão para isso.
• Quando alguém era denunciado, levavam-no preso e, muitas
vezes, era torturado até confessar. Alguns dos suspeitos chegavam
a confessar-se culpados só para acabar com a tortura.
• No caso do acusado não se mostrar arrependido ou de ser
reincidente, era condenado, em cerimónias chamadas autos-de-fé,
a morrer na fogueira.
• A inquisição em Portugal terminou em 1821 depois da revolução
liberal de 1820.
6. A inquisição – Em Roma
• Em Roma as mulheres penitentes eram ameaçadas com a
inquisição se não tivessem relações sexuais com o sacerdote.
• Os padres ameaçavam as penitentes no confessionário que, a
menos que tivessem relações sexuais com eles, seriam entregues à
Inquisição.
• Se um sacerdote ameaçasse uma mulher dizendo que este iria
mentir sobre ela aos oficiais da "Santa" Inquisição, ela sabia o tipo
de tortura e morte que a esperava.
• O sacerdote poderia provavelmente delatar a mulher aos
inquisidores como bruxa.
8. A inquisição – Em Roma
• Muitas das vítimas eram simplesmente queimadas na estaca.
Normalmente, essas execuções na fogueira eram realizadas em
público mas primeiro eram torturadas em privado.
• Se uma mulher fosse acusada de bruxaria, ficava na iminência de
sofrer uma tortura por parte do clero. As mulheres eram
especialmente visadas para perseguição como prováveis bruxas.
• Se uma mulher fosse meramente lançada de um lugar alto, podia
chamar a si mesma de sortuda por ter uma morte relativamente
rápida e com pouca dor.
10. A inquisição – Em Roma
• Essa obsessão sexual rapidamente cresceu ao ponto em que uma
mulher vivia com medo de que um dia, a partir do nada, pudesse
ser acusada por alguém de ser uma bruxa; visto que a acusação
era equivalente à culpa, aquela mulher podia esperar uma morte
lenta sob tortura nas mãos de sacerdotes.
11. O número de mortes foi enorme:
• "Foi infligido no sul da França um dos mais ferozes massacres da
história. Grupos de brigadas do norte pilhavam e saqueavam. Na
Catedral de Saint-Nazaire, doze mil 'hereges' foram mortos...
Aqueles que tentaram fugir foram cortados e mortos. Milhares
mais foram queimados na estaca. Em Toulouse, o bispo Foulque
levou à morte dez mil pessoas acusadas de heresia. Em Béziers, a
população inteira de mais de vinte mil pessoas foi chacinada. Em
Citeau, quando questionado sobre como os soldados deveriam
distinguir os católicos dos cátaros gnósticos, o abade respondeu
com seu cinismo afamado:
• 'Matem todos; Deus saberá quais são os seus'."
16. O berço de Judas
• Esse instrumento era um pouco mais elaborado que o clássico
empalamento popularizado por Vlad, o Drácula, mas parece muito
pior, devido a lentidão com que a dor era infringida. A vítima era
colocada com o ânus ou a vagina sobre a ponta do berço e era
lentamente baixada através de cordas amarradas a ela. Parece
simples, mas existe agravantes aí. Se ela demorasse a morrer – o
que poderia levar dias – poderiam ser amarrados pesos nas suas
pernas, para dar uma acelerada no processo. Mas se quisessem o
efeito contrário, a vítima sofria sozinha. Fora que nunca lavavam o
aparelho, o que produzia infecções dolorosas.
22. Dama de Ferro
• Um sarcófago de madeira com espinhos afiados e longos. Essa
ferramenta de tortura tinha os espinhos colocados de tal forma
que não atingia nenhum ponto vital das vítimas, para prolongar
seu sofrimento.
24. A Pera
• O nome é dado pelo formato da peça. É uma peça que expandia
progressivamente as aberturas onde era introduzida.
• Esse instrumento forçava a boca, o ânus ou a vagina da vítima. Era
usada para punir os condenados por adultério, ou união sexual
com Satã, e também para blasfémias ou hereges.
27. A Roda
• Era uma das mais utilizadas formas de tortura da antiguidade.
Existem evidências de sua utilização na Inglaterra, Holanda e
Alemanha entre o ano de 1100 a 1700. Podia ser usada de duas
formas: Eram quebrados os ossos das juntas da vítima (pulsos,
joelhos, cotovelos, ombros), para que essa pudesse ser "trançada"
entre os raios da roda. Estando a vítima nua e com os membros
trançados, a roda era suspensa e ficava exposta em praça pública
ou em locais chamados de docas de execução. As vítimas
agonizavam até a morte, muitas vezes com os ossos expostos.
31. D. João V
• D. João V foi Rei de Portugal desde Janeiro de 1707 até à sua morte
(31 de Julho de 1750). Era filho de Pedro II e de Maria Sofia.
Recebeu os cognomes de O Magnífico em virtude do luxo de que
se revestiu o seu reinado.
• A época de D. João V foi o período de maior fluxo de ouro
brasileiro, mas o aumento da receita pública e privada não se
refletiu em transformações duradouras no plano económico, ou
em modificações sensíveis na estrutura social portuguesa.
33. D.João V
• O rei consumiu quase tudo quanto do rendimento das minas
brasileiras na manutenção de uma corte luxuosa e em gastos
enormes relacionados com o prestígio real, no entanto, o dinheiro
não podia, por si só, resolver nenhum problema. A sua utilização
refletia a mentalidade e formação das pessoas que o utilizavam.
• A época de D. João V caracteriza-se pela inexistência quase
completa de quadros empresariais, pela falta de gente preparada
para se servir da riqueza como instrumento criador de nova
riqueza.
37. Em Portugal
• Havia falta de elites em todos os campos: na cultura, na arte, na
política, na economia. A inexistência de empresários ativos
conduziu ao não surgimento, nas épocas do ouro, de
empreendimentos reprodutores de riqueza.
• A abundância do ouro atraiu vários estrangeiros, que procuravam
instalar indústrias ou eram encorajados pelo Estado a produzirem
em Portugal os bens importados. A maior parte destas iniciativas
desapareceram por falta de organização económica.
38. O Convento de Mafra
• A mais importante realização pessoal de D. João V foi o projeto de
construção de um edifício gigantesco, de proporções que excediam
de longe tudo quanto até então se edificara em Portugal: o
Convento de Mafra, inaugurado em 1744 pelo Papa Bento XIV;
quatro anos mais tarde, receberia desse mesmo papa o título
de Sua Majestade Fidelíssima, extensível aos seus sucessores.
40. Aqueduto das Águas Livres
• D. João V teve a oportunidade para satisfazer a sua paixão pelas
construções grandiosas, com o Aqueduto das Águas Livres, em
Lisboa, considerado como o local mais bonito da cidade no virar do
século, e que se ergue sobre o vale de Alcântara.
• O aqueduto das Águas Livres resistiu ao terramoto como edifício, e
forneceu água a várias fontes; contudo só resolveu parcialmente o
problema da falta de água, especialmente quando os particulares –
gentes ligadas à nobreza e à Igreja – começam a ter os seus
próprios ramais privados
41. Aqueduto das Águas Livres
• O objectivo principal do aqueduto era abastecer os chafarizes que,
entretanto, tinham sido construídos de propósito um pouco por
toda a cidade. Eram eles o Chafariz das Amoreiras, o de
Entrecampos, Janelas Verdes, Estrela, Rato, Carmo, Esperança, Cais
do Tojo, Flores e muitos outros. Alguns destes chafarizes também
tinham tanques para a lavagem de roupa.
43. D. Maria Ana Josefa de Áustria
• Maria Ana Josefa de Áustria nasceu em Linz em 7 de setembro de 1683
era filha do imperador Leopoldo I, e da sua terceira mulher, a condessa
Leonor Madalena.
• Era irmã dos imperadores José I e Carlos VI, também pretendente ao
trono espanhol, e meia-irmã de Maria Antónia da Áustria, eleitora da
Baviera, entre outros.
• Foi rainha consorte de Portugal de 1708 a 1750, enquanto mulher do
Rei D. João V de Portugal. Três dos seus filhos sentaram-se no trono: D.
José, Rei de Portugal, D. Pedro, Rei-Consorte de Portugal pelo seu
casamento com a sua sobrinha, e D. Maria Bárbara, Rainha de Espanha
pelo casamento.
• Muito culta, conhecia e falava alemão, francês, italiano, espanhol, latim
e português, além de perceber inglês.
• Acabou por morrer em Lisboa em 14 de agosto de 1754.
45. Bartolomeu de Gusmão
• Bartolomeu Lourenço de Gusmão, filho de Francisco Lourenço e de
Maria Alvares, nasceu a Dezembro de 1685, na Vila de Santos, no
Brasil.
• Logo se destacou por ser um rapaz brilhante e de ideias avançadas.
Fez os estudos primários na Vila de Santos, seguiu para o
Seminário de Belém, a fim de completar o Curso de Humanidades,
vindo a filiar-se à Companhia de Jesus, sob a orientação do grande
amigo de seu pai e fundador daquele Seminário, Padre Alexandre
de Gusmão.
46. Bartolomeu de Gusmão
• Em 1705, com apenas 20 anos de idade, requereu à Câmara da Bahia, o
privilégio para o seu primeiro invento. Era um aparelho que fazia subir a
água de um riacho até uma altura de cerca de 100 metros. A água não
precisaria mais de ser transportada nas costas de homens ou em lombo
de animais.
• Entre 1708 e 1709, Bartolomeu de Gusmão, embarcou para Lisboa,
onde aprofundou os seus conhecimentos.
• Na Universidade de Coimbra realizou profundos estudos da Ciência
Matemática, Ciências de Astronomia, Mecânica, Física, Química e
Filologia, além do exercício da Diplomacia e da Criptografia, atendendo
designação de D. João V, tendo bacharelando-se a 5 de Maio de 1720 e
completado o Curso de Doutoramento na Universidade de Coimbra, a
16 de Junho.
48. Bartolomeu de Gusmão
• Foi uma bolha de sabão elevando-se ao se aproximar do ar quente
ao redor da chama de uma vela, que acendeu o intelecto de
Gusmão para a diferença entre as densidades do ar. Um objeto
mais-leve-que-o-ar poderia então voar! Em 1709, anunciou à corte
que apresentaria uma "Máquina de Voar". Em 19 de Abril daquele
ano, recebeu autorização do Rei D. João V para demonstrar seu
invento perante a Casa Real.
49. Bartolomeu de Gusmão
• A 3 de agosto de 1709 foi realizada a primeira tentativa na Sala de Audiências
do Palácio. No entanto, o pequeno balão de papel aquecido por uma chama
incendiou-se antes ainda de alçar voo. Dois dias mais tarde, uma nova
tentativa deu resultado: o balão subiu cerca de 20 palmos, para verdadeiro
espanto dos presentes. Assustados com a possibilidade de um incêndio, os
criados do palácio lançaram-se contra o engenho antes que este chegasse ao
teto.
• Três dias mais tarde, exatamente no dia 8 de agosto de 1709, foi feita a
terceira experiência, agora no Pátio da Casa da Índia perante D. João V e a
rainha D. Maria. Desta vez, sucesso absoluto. O balão ergue-se lentamente,
indo cair, uma vez esgotada sua chama, no Terreiro do Paço. Havia sido
construído o primeiro engenho mais-leve-que-o-ar. O Rei ficou tão
impressionado com o engenho que concedeu a Gusmão o direito sobre toda e
qualquer nave voadora desde então. E para todos aqueles que ousassem
interferir ou copiar-lhe as ideias, a pena seria a morte.
51. Bartolomeu de Gusmão
• O invento do Padre chamou-se Passarola, em razão de ter a forma de pássaro.
• A concepção e realização do aeróstato por Bartolomeu de Gusmão, mostrou o
passo gigantesco que representou a sua invenção, idealização e objetivação
do flutuador aerostático, donde deveria sair a aeronave, sendo corretamente
considerado o Pai da Aerostação, tendo precedido em 74 anos os irmãos
Montgolfier, que voaram num balão de ar quente em 1783.
• Bartolomeu de Gusmão foi uma figura singular, na qual o homem, o sacerdote
e o bem-dotado se fundiam numa personalidade complexa, que enxergava
muito à frente de seu tempo, sofrendo as naturais e inevitáveis consequências
dessa excepcionalidade.
• O Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão faleceu a 19 de Novembro de 1724,
em Toledo (Espanha) sendo considerado pelos seus feitos a primeira e a mais
bela página da Aeronáutica.
53. Domenico Scarlatti
• Compositor, cravista e organista italiano, nasceu em Nápoles (Itália) a 26
de Outubro de 1685.
• Filho de Alessandro Scarlatti, compositor de muitas óperas, foi mestre-
de-capela da rainha Cristina da Suécia em Roma. Scarlatti passou muitos
anos a viajar pela Europa, morou em Roma onde foi mestre-de-capela
da exilada rainha da Polónia e foi maestro de São Pedro.
• Morou eventualmente em Lisboa, onde foi professor da Princesa Maria
Bárbara, filha mais velha de D. João V., futura rainha de Espanha.
Quando a princesa se casou com o herdeiro do trono espanhol em
1729, Scarlatti foi para Madrid onde passou o resto da vida. Durante os
anos em que morou na Espanha, produziu a sua melhor música. A sua
música é extremamente inventiva, e as suas sonatas para cravo são
densas experiências auditivas, devido à sua complexidade.
54. Domenico Scarlatti
• Foi durante este período que começou a compor os pequenos
exercícios, peças para cravo, inspiradas na música popular e pela vida
quotidiana espanhola, que ele chamou de sonatas.
• Considerado um dos fundadores da moderna técnica de teclado,
empregou nessas sonatas dispositivos novos como mão-cruzadas,
arpejos rápidos e repetições de notas. A Sonata em Ré maior, por
exemplo, é uma referência para as composições para teclado do Período
Clássico. As suas composições para o cravo foram comparadas às de
Chopin e de Liszt nas suas obras para piano.
• Além das sonatas e 12 óperas, também compôs cantatas e música sacra,
incluindo um Stabat Mater.
• Scarlatti morreu em Madrid no dia 23 de Julho.
56. Baltasar Mateus
• Baltasar Mateus , com alcunha hereditária de Sete-Sóis, é
abandonado pelo exército durante a Guerra da Sucessão
Espanhola por ter ficado inválido devido à perda da sua mão
esquerda, representando a crítica da desumanidade na guerra.
Deixado na miséria, consegue chegar a Lisboa, onde conhece nesse
mesmo dia Blimunda e o padre Bartolomeu, num auto-de-fé no
Rossio. Contava 26 anos. Imediatamente encantado pelos olhos de
Blimunda no primeiro olhar, partilha desde esse momento até
morrer a vida e os sonhos com ela. O padre Bartolomeu fá-lo
participante do sonho de voar, projeto que será prosseguido na
sua responsabilidade após o desaparecimento deste.
57. Baltasar Mateus
• Torna-se açougueiro em Lisboa, uma vez que o gancho que usa
para substituir a mão lhe facilita o trabalho, e posteriormente
integra-se como boieiro nas legiões de operários nas obras do
convento de Mafra. Porém, a sua principal ocupação é a
construção da passarola.
• Esta personagem revela-se gradualmente o herói do romance.
Pois, em primeiro, por ser o representante do povo oprimido, o
seu percurso torna-se o foco do narrador, abatendo do primeiro
plano as personagens do grupo de poder. Em segundo, a sua
relação com Blimunda, cujos poderes são considerados heréticos,
entra em conflito com os valores da sociedade vigente, por não
serem casados oficialmente.
58. Baltasar Mateus
• Em terceiro, pela amizade e partilha de ideias e sonhos com o padre
Bartolomeu, que o divinizou ao compará-lo com Deus, por achar que
este também é maneta da mão esquerda. Em quarto, pela a influência
dessa amizade, Baltasar adquire o conhecimento de outras verdades,
acerca do questionamento de dogmas religiosos e, principalmente,
sobre a consciência do papel do homem no mundo, esta que será
obtida quando Baltasar reconhecer e assumir o seu próprio valor.
• E por último, porque Baltasar paga com a sua própria vida a perseguição
do sonho, o que, por consequente, o faz transcender a imagem do povo
oprimido e espezinhado de que faz parte e que representa. Assim, não é
um herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem: um homem
simples, elementar, fiel, terno e maneta, que reage perante a vida com a
resignação típica dos humildes tanto de coração como de condição.
Aceita apenas o que a vida lhe oferece, sem medo do trabalho ou da
morte.
59. Blimunda de Jesus
• Blimunda Jesus é uma jovem mulher do povo de dezanove anos que tem a
capacidade de ver por dentro as pessoas e os objetos, durante o jejum, e de recolher
as vontades, este ato não mata as pessoas mas é mais fácil ser executado nas que
estão a morrer, dom este que é revelado apenas quando o padre de Bartolomeu
descobre que o combustível da passarola é o éter e que este está dentro das
vontades das pessoas, fazendo esta personagem também parte desse projeto.
• Torna-se companheira de Baltasar em consequência da sua mãe, Sebastiana de Jesus,
que ao vê-la pergunta-lhe telepaticamente quem é o homem que está ao seu lado.
Blimunda vira-se simplesmente para Baltasar e pergunta-lhe qual é o seu nome?.
Baltasar responde-lhe, Blimunda diz-lhe o seu e imediatamente inicia-se o puro amor
entre os dois, transgredindo a moral tradicional e entrando para um domínio do
maravilhoso, e em sua casa os dois entregam-se um ao outro, em corpo e em alma,
com o batismo através do sangue virgem de Blimunda. Foram abençoados tanto pela
mãe de Blimunda, como pelo padre Bartolomeu, ao casá-los à sua maneira e ao
batizar Blimunda com o nome Sete-Luas. Este amor é o símbolo da aceitação e da
renúncia, uma vez que Blimunda promete nunca olhar Baltasar por dentro, evitando
saber da existência de alguma doença mortal, porque amar alguém é aceitá-lo sem
reservas.
60. Blimunda de Jesus
• Esta relação amorosa dá-lhe o carácter de uma mulher adiantada em
relação ao seu tempo, pois afirma-se dentro -e fora- da relação, tem
nela uma igualdade de direitos, tal como Baltasar, e juntos têm uma
cumplicidade tão perfeita que não é deste mundo na qual partilham os
seus sonhos, os seus medos e a sua vida. No percurso final de Blimunda,
quando procura Baltasar durante nove anos, revela ainda uma faceta
corajosa e persistência, disposta a tudo e até ao fim para encontrar o
seu amor perdido.
• A união do dois assenta numa relação de amparo, uma vez que ele
tranquiliza-a na sua maldição de ver por dentro, enquanto ela ajuda-o
na carência da sua mão, completando-se um ao outro, formando uma
união perfeita. E são felizes na sua "religião do silêncio", em que o olhar
tem mais valor que as palavras, em que olharem-se era a casa de
ambos.
61. Blimunda de Jesus
• Em contraste com o casal de conveniência do rei e da rainha,
Blimunda e Baltasar, embora sejam um casal ilegítimo por não se
terem casado oficialmente, vivem um amor puro e verdadeiro, e
por isso vivem mais de Deus, do que o casal real que tanto relevo
dá à religiosidade. Deste modo, se houvesse diferença entre esse
amor ancestral e a santa missa, a missa perderia.
• Simbolicamente, o nome Blimunda é o reverso do de Baltasar, tal
como é a Lua o reverso do Sol, que, juntamente com o número
sete, completam-se até serem um só. O seu nome tem origem na
Música, cujo som desgarrador de violoncelo habita no nome
Blimunda e cuja vibração está na sua própria alma.
62. Blimunda de Jesus
• Blimunda tem uma grande firmeza interior, e aceita a vida e oferece-se
em silêncio sem orgulho nem submissão, com a naturalidade de quem
sabe onde está e para o quê. Para além do dom de ver por dentro e de
recolher vontades, tem um poder excecional de intuição e de
compreensão da complexidade do mundo. Afirma o narrador que
Blimunda aprendeu as coisas sobre a vida e a morte, sobre o pecado e o
amor na barriga da mãe, onde esteve de olhos abertos.
• Representa também o transcendente e a inquietação constante do ser
humano em relação à morte, ao amor, ao pecado e à existência de
Deus.
• Foi a única sobrevivente da Santíssima Trindade terrena, sendo à
partida a mais provável vítima da Inquisição devido aos seus dons. Será
um significado de uma vitória da mulher? Vitória do amor? Ou vitória
daquela que sabia ver?
66. Outras Personagens
• Sebastiana Maria de Jesus: mãe de Blimunda;
• João Francisco e Marta Maria: pais de Baltasar;
• Álvaro Diogo e Inês Antónia: irmã de Baltasar e cunhados de Blimunda; Álvaro Diogo
morre ao cair de uma janela durante a construção do convento;
• Gabriel: sobrinho de Baltasar Mateus e filho de Inês Antónia e Álvaro Diogo;
• João Elvas: antigo soldado, vadio e amigo de Baltasar;
• D. Nuno da Cunha: bispo inquisidor;
• Frei António de São José: é o franciscano que alega ter tido a premonição na qual diz
que o rei terá a tão desejada sucessão se este construir um convento franciscano.
Perante esta condição, D. João V promete construir um convento em Mafra se tiver
um filho varão dentro de um ano a partir desse mesmo dia. É revelado no romance
pelo narrador que esta premonição é falseada pelo clero, pois este já sabia da
gravidez da rainha através do confessionário, com a revelação de mais "milagres"
produzidos pela ordem franciscana ou que são apenas coincidências.
67. Outras Personagens
• Frei Boaventura de São Gião: o padre censor do paço;
• Infante D.Francisco: irmão d'el-rei que cobiça o seu trono e que tentou manipular em vão a
rainha; o seu passatempo é fazer pontaria com a pistola aos marinheiros;
• Infante D. Maria Bárbara: é a princesa herdeira cujo convento de Mafra foi construído em sua
honra, embora nunca o tivesse visto; Casa aos dezassete anos com D.Fernando de Espanha e
torna-se rainha de Espanha;
• Clero: revestidos pelas críticas do narrador, são enfatizados a sua hipocrisia e a sua violência
de todos os seus representantes, com foco na Inquisição. Retratados por quebrarem
constantemente a castidade e por desprezarem os pobres, é revelada a sua religiosidade
vazia, cujos rituais originam a corrupção e a degradação moral no povo, ao invés de elevar os
seus espíritos.
• Povo: um dos protagonistas do romance como massa coletiva anónima que foi sacrificada na
construção do convento, embora também seja representado por Baltasar e Blimunda. É
caracterizado como ignorante, miserável, violento e escravos dos poderosos. As personagens
que foram individualizadas dessa massa anónima e que representam a força e o
companheirismo perante a desgraça da escravidão e da solidão na construção do convento,
traduzem a essência de ser português.
71. Análise
• Além de o leitor mergulhar numa aventura junto às personagens
Baltasar e Blimunda, é levado a uma revisão dos parâmetros que
regiam a sociedade passada e às restrições ideológicas - referentes
à Idade Média -, ambiente que se vê principalmente nas cenas dos
monólogos de Bartolomeu, e no trágico fim de Baltasar Sete-Sóis.
Posto como um dos melhores livros de José Saramago, lado a
Evangelho Segundo Jesus Cristo, Memorial do convento é uma
obra que revoluciona por ter sido elaborado com extrema
precisão, tendo em vista a época histórica retratada pelo autor,
acrescentando-lhe mais um dote, que é a visão máxima de uma
realidade histórica passada.
72. Tempo
• Tempo histórico: O romance tem como plano de fundo o início do século XVIII.
Uma época marcada pelos contrastes: as práticas retrógradas e medievais, do
povo e da corte, em oposição ao esforço de modernização, com D. João V
como representante.
• Tempo diegético: Na narração da obra a cronologia da ação, que sejam
eventos reais ou ficcionais, data entre 1711 a 1739 (28 anos), iniciando com a
apresentação do rei e terminando com o último auto-de-fé em Portugal, em
que Baltasar morre.
• Tempo do discurso: O modo como flui a cronologia da ação (tempo diegético)
é na maior parte do romance linear, tendo porém algumas anacronias, tal
como a analepse, a prolepse, utilizada por exemplo para narrar a morte do
sobrinho de Baltasar e do infante D.Pedro, e a elipse, utilizada na descrição do
período em que Blimunda procurou Baltasar durante 9 anos; e ainda a
presença do narrador através dos seus comentários, juízos críticos, registos de
língua, e referências ao século XX.
73. Espaço Físico
• O cenário da obra tem dois macro-espaços:
• Lisboa:
• Terreiro do Paço - local onde se situava o Paço da Ribeira, é o centro do poder;
• Rossio - é o centro urbano onde tem lugar as festividades como os autos-de-fé,
as procissões e as touradas;
• Abegoaria - na Quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, é o local
onde a passarola é construída.
• Mafra:
• Vila de Mafra: é uma pequena população que sobrevive pela agricultura e que
vive isolada da civilização até o rei escolher Mafra como local da construção do
convento;
• Alto da Vela: é o local da construção do convento;
• Ilha da Madeira: é um aglomerado de barracões de madeira onde se localiza os
alojamentos dos operários que trabalham na construção do convento;
74. Estrutura da ação
• “Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento de Mafra. Era uma
vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma
mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
Era uma vez.”
• A ação centra-se na construção do convento de Mafra, que funciona como eixo
estruturador de toda a diegese da obra, intercalando assim outras linhas diegéticas,
como se pode verificar no texto da contracapa.
• Deste modo, na linha diegética da construção do convento, são referidos os
trabalhadores de Mafra que vivem a escravidão e que são valorizados pelo narrador.
Na linha diegética do amor, são confrontados dois tipos distintos de relação amorosa,
um representado pelo casal Baltasar e Blimunda, o amor puro, transgressor e que se
basta por si próprio; o outro é o casal artificial, constituído pelo rei e pela rainha, que
são estranhos que encontram-se exclusivamente duas vezes por semana por dever
real. Na linha diegética da passarola a ciência transgressora é encarada como a força
da curiosidade e criatividade do homem, responsável pela perseguição incessável
pelo sonho, independentemente das consequências.
75. Narrador
• Estatuto:
• É homodiegético, com a intenção
de captar a atenção do narrador
que se sente participante;
• É heterodiegético, na maior parte
da obra, quando narra a ação;
• Por vezes torna-se autodiegético,
quando representa um
pensamento (não confundir com
os diálogos) de uma personagem;
• Focalização:
• Omnisciente: tem um conhecimento absoluto
tanto sobre as personagens, como sobre as
informações dos eventos e move-se no
presente, no passado e, consequentemente, no
futuro. É como um Deus na narrativa, que tudo
vê e tudo sabe;
• Interna: a voz plural do narrador revela-se
quando é mostrado o ponto de vista de uma
personagem que vive a história. Estas são as
seguintes:
• Sebastiana Maria de Jesus, no auto-de-fé;
• D. João V e o patriarca, na procissão do Corpo
de Deus
• Arquiteto Ludwig, durante uma reunião com o
rei
• Interventiva: é revelada quando o narrador tece
comentários, juízos, registos de língua e marcas
da contemporaneidade. Estas últimas, utilizadas
com ironia, são as seguintes:
• o nome do próprio Saramago;
• a moda do bronzeado;
• os cravos do 25 de Abril
• o cinema como entretenimento
• o parto sem dor
• As cores da bandeira da república portuguesa
• Intertextualidade com outras obras e
autores de modo a ultrapassar as
barreiras do tempo:
• Padre António Vieira, com a sua
oratória;
• Fernando Pessoa, com
Mensagem;
• Camões, com Os Lusíadas;
76. Simbologia
• Passarola: é tanto o símbolo da
concretização do sonho, representando
assim também a libertação do espírito e a
passagem a outro estado de consciência,
uma vez que que esta é igualmente um
símbolo da ligação do céu e da terra, pois
ousa sair do domínio dos homens e entrar
no domínio de Deus; Por outro lado é um
símbolo dual, pois é por sua causa que
nasce a Trindade terrestre, mas também é
o motivo de separação desta; O voo da
passarola está associada em comparação
com a mitologia grega acerca de Faetonte,
filho de Apolo, que, querendo imitar o pai,
conseguiu com que este o deixasse guiar o
carro do sol por um dia. Porém, Faetonte
não conseguiu sustentar o carro no céu,
despenhando-se sobre a Terra e morrendo
no incêndio resultante. Da mesma maneira,
o padre Bartolomeu de Gusmão e Baltasar
morrerão devido ao seu desejo de voar e
Blimunda tornar-se-á errante
• Sete-Sóis: alcunha
de Baltasar porque
só pode ver à luz;
• Sete-Luas: batismo
de Blimunda porque
"vê" no escuro,
devido aos seus
dons;
77. Simbologia
• Sol: representa a força e a própria
vida, fazendo corresponder Sete-
Sóis a Sete Vidas, transformando
deste modo a personagem de
Baltasar como representante de
todo o povo. Por outro lado, o sol
para nascer tem que vencer as
trevas, do mesmo modo que
Baltasar tem que vencer a
Inquisição e a superstição popular.
E, da mesma maneira que o sol
possuí o dia temporariamente,
Baltasar atravessa o céu, rasgando
o dogma católico do céu como
terreno de Deus, adquirindo um
estatuto transgressor e de herói
mítico. E como tal, para que o
destino de herói mítico clássico
seja completo, Baltasar morre
tragicamente pelo fogo;
• Lua: Tradicionalmente a Lua
simboliza, por não ter luz própria, o
princípio passivo do sol. No entanto,
a obra revoluciona o conceito da Lua
ao dar a Blimunda capacidades
sobrenaturais que dependem das
fases da lua, tornando a tão
relevante como o sol. Assim é
também a relação de Blimunda e
Baltasar, pois têm ambos igualdade
de direitos e de relevância na obra;
Uma vez que a capacidade de
Blimunda depende das fases da lua,
é revelado a Lua como símbolo do
ritmo da Terra, a medida do tempo,
este responsável pelo ciclo da vida.
Deste modo, Blimunda é quem
recolhe as vontades humanas dos
moribundos e as junta nas esferas da
passarola, transformando-as em
energia vital;
• Sol e Lua: simboliza a
união como um todo,
porque são o verso e o
reverso da mesma
realidade, o dia; e a
união do princípio
masculino e do
princípio feminino:
dormiram nessa noite
os sóis e as luas
abraçados enquanto as
estrelas giravam
devagar no céu.
78. Simbologia
• Sete: este número
representa a
totalidade perfeita.
Para além da
utilização deste
símbolo na expressão
da completude de
Baltasar e Blimunda,
também é recorrido
noutras situações, tal
como no dia da
sagração do convento.
• Nove: representa o
coroamento dos
esforços, o concluir
de uma criação,
utilizado para
simbolizar os 9 anos
de procura de
Blimunda por
Baltasar;
• Vontade: as vontades recolhidas,
utilizadas como combustível para
a passarola voar, representa que,
aliadas com a ciência e arte, o
querer do homem faz avançar o
mundo, superando os seus
próprios limites; Esta junção das
vontades humanas que é aliada
com a ciência e que produz mais
força, é comparada com a
Primavera mítica que arranca a
Humanidade do dogma da
religião, do terror inquisitorial e
da superstição, livrando assim
Portugal da vontade resignada e
do pensamento falso e passivo
que caracterizava a época;
79. Simbologia
• Trindade terrena:
constituída pelo padre
Bartolomeu, o pai, por
Baltasar, o filho, e por
Blimunda, o espírito.
Esta simboliza a
harmonia perfeita;
Uma vez que esta é
terrena, está aberta a
um quarto elemento,
Domenico Scarlatti,
dado que quatro é o
número da terra;
• Mãe das pedras: o transporte
desta grande pedra de mármore de
Pêro Pinheiro a Mafra é uma
epopeia, uma vez que esta ação é
descrita com "grandeza" clássica e
é vista como um ato heroico dos
operários, que tem que transportar
uma pedra gigantesca, num carro
especialmente concebido para o
seu transporte, este comparado a
uma nau da Índia, e com a ajuda de
duzentas juntas de bois. Os
seiscentos homens que a puxam
têm que enfrentar difíceis
obstáculos do caminho, tal como
uma narrativa de heróis clássicos,
em que estes têm que contornar
grandes obstáculos com um esforço
sobrenatural;
• Cobertor: Trazido da Áustria
pela rainha, é o símbolo da
separação entre os
monarcas, marcando o
casamento de conveniência
do casal
• Convento de Mafra: é o
símbolo da ostentação
régia, da opressão e da
megalomania, representa
também o sacrifício e
exploração do povo que
trabalhou na construção do
convento.
80. Crítica
• Carácter transgressor:
• Amor de Blimunda e Baltasar, por não serem casados oficialmente e por
viverem numa relação de igualdade, obtendo uma cumplicidade e uma
perfeição;
• Padre Bartolomeu, por perseguir o seu sonho e acreditar na ciência,
pondo em causa o poder e dogmas da Igreja;
• Passarola, ao voar ousa sair do domínio dos homens e entrar no domínio
de Deus;
• Escrita literária do narrador, por não conter marcas gráficas do discurso
direto;
81. Ópera
• Memorial do Convento serviu de base a uma ópera, Blimunda,
com música do italiano Azio Corghi, estreada em Milão em 1998.