3. Memorial do Convento , uma das obras maiores de José Saramago, foi publicado em 1982 e é das mais importantes de toda a literatura contemporânea portuguesa. Rosto de uma edição
4. Natural da Golegã, onde nasceu em1922 Formação escolar: curso da escola técnica Variedade de profissões: serralheiro a funcionário público. Jornalista a escritor Filiação no PCP (posicionamento ideológico) Escritor polígrafo e intelectual polémico Obra literária (romance, teatro, poesia, diário, crónica, tradução,...) Popularidade (Portugal, Espanha, Brasil, Itália …) Atribuição do Prémio Nobel da Literatura (1998) Vive na ilha de Lanzarote, casado com a jornalista Pilar del Rio
13. “ (…) retiram-se a uma parte D. João V e o inquisidor, e este diz, Aquele que além está é frei António de S. José, a quem falando-lhe eu sobre a tristeza de vossa majestade por lhe não dar filhos a rainha nossa senhora, pedi que encomendasse vossa majestade a Deus para que lhe desse sucessão, e ele me respondeu que vossa majestade terá filhos se quiser, e então perguntei-lhe que queria ele significar com tão obscuras palavras, porquanto é sabido que filhos quer vossa majestade ter, e ele respondeu-me, palavras enfim muito claras, que se vossa majestade prometesse levantar um convento na vila de Mafra, Deus lhe daria sucessão (…)”
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16. -Início da construção do convento. D. João V coloca a primeira pedra dos alicerces (17 de Novembro de 1717). -Bartolomeu de Gusmão regressa de Coimbra com o título de “doutor em cánones” e instala-se em Lisboa na casa de uma viúva. -Em Lisboa assiste-se à epidemia da febre-amarela. -Blimunda adoece. Domenico Scarlatti toca cravo. Ao ouvir a música, Blimunda volta a ter saúde. -A passarola está concluída e pronta para voar. O padre Bartolomeu anuncia a Baltasar e Blimuda que tem de fugir, porque o tribunal do Santo Ofício procura-o. Os três resolvem fugir na máquina voadora. Passam por Mafra e aterram na serra do Barregudo (Monte Junto). O padre tenta incendiar a passarola, é impedido por Baltasar. Entretanto o padre desaparece.
17. -Baltasar e Blimunda vão viver para Mafra. Baltasar trabalha na construção do convento e , sempre que pode, vai ver a máquina voadora ao Monte Junto. -D. João V diz a João Frederico Ludovice que quer ampliar o convento para duzentos frades e manda recrutar trabalhadores, independentemente da sua vontade, por todo o país. -Cortejo real e casamento dos príncipes portugueses (D. Maria Bárbara e D. José) com os infantes espanhóis (D. Fernando VI e Maria Vitória). -Baltasar vai ver a passarola ao Monte Junto. Quando está dentro dela, inesperadamente, esta sobe no ar. -Blimunda vai à serra do Barregudo procurar Baltasar. -No dia 22 de Outubro de 1730, data de aniversário do rei (41 anos), faz-se a sagração do convento.
18. -Durante nove anos, Blimunda procura, de terra em terra, Baltasar. Por fim, encontra-o em Lisboa: ardia na fogueira do Santo Ofício, juntamente com outros suplicados, entre os quais António José da Silva, durante a realização de um auto-de-fé. Blimunda
19. O narrador é geralmente heterodiegético . É uma entidade exterior à história que relata os acontecimentos. Surge na terceira pessoa. NB. Por vezes temos formas verbais na primeira pessoa do plural: “fizemos”, “tomámos” e pronome possessivo “nossos” que remetem para um tipo de narrador homodiegético. Este narrador é uma personagem da história, que revela as suas próprias vivências, mas não se trata da participação na história como protagonista. Assume vozes proféticas, críticas, sapienciais. O Narrador e Focalização da narrativa
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22. PERSONAGENS D. João V Representa o poder real absoluto, condena um povo a servir a sua religiosidade fanática e a sua vaidade. Como marido e rei assume o papel de gerar um filho e um convento. Amante dos prazeres, a sua figura é construída através do olhar crítico do narrador: fanático religioso, assiste aos autos-de-fé. Como marido, não tem qualquer sentimento amoroso pela rainha. Megalómano e vaidoso vive dominado pelo luxo e pelo fausto.
36. CLERO - A crítica subjacente a todo o discurso narrativo enfatiza a hipocrisia e a violência dos representantes do espiritualismo convencional, da religiosidade vazia, baseada em rituais que, ao invés de elevarem o espírito, originam o desregramento, a corrupção e a degradação moral. - Papel do clero na Inquisição, como marca negativa.
40. LISBOA Enquanto macroespaço, integra outros espaços Terreiro do Paço Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa Rossio Este espaço aparece no início da obra como local onde decorre o auto-de-fé S. Sebastião da Pedreira Espaço relacionado com a passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão e com o carácter mítico da máquina voadora
46. Espaço Social – Lisboa e Mafra O espaço social é construído através do relato de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social. Destaque: 1- Procissão da Quaresma – caracterização da cidade de Lisboa; excessos praticados durante o Entrudo; penitência física; a descrição da procissão; as manifestações de fé que tocavam a histeria com os penitentes a autoflagelarem-se. 2- Autos-de-fé (Rossio) – entre os autos-de-fé e as touradas, o povo revela gosto sanguinário e emoções fortes; a assistência feminina preocupa-se com os pormenores fúteis e com os jogos de sedução; a morte dos condenados é motivo de festa.
47. 3- Tourada (Terreiro do Paço) – os touros são torturados, o público exulta com o espectáculo. 4- Procissão do Corpo de Deus – as procissões caracterizam Lisboa como um espaço caótico, cujo ritual tem um efeito exorcizante. 5- O trabalho no Convento – Mafra simboliza o espaço da servidão desumana a que D. João V sujeitou o seu povo (cerca de 40 mil trabalhadores). 6-A miséria do Alentejo – este espaço associa-se à fome e à miséria.
48. Espaço Psicológico O espaço psicológico é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Revela-se através dos sonhos e dos pensamentos. Ex.: Sonhos de D. Maria Ana (com infante D. Francisco); de Baltasar quando andava a lavrar o alto da Vela; pensamentos do padre Bartolomeu relativamente ao voo da passarola.
49. Tempo O fluir do tempo , mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens. - a) tempo da história (tempo diegético) - b) tempo do discurso,
50. a) Tempo Diegético Trata-se do tempo histórico em que decorre a acção. (1711 a 1730) A acção tem início no ano de 1711 : ”S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze…” Datas: 1711 – promessa de construção do convento. 1716 – bênção da primeira pedra. 1717 – Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa. 1719 – casamentos de D. José e de Maria Bárbara. 1730 – sagração do convento. 1739 – fim da acção, quando Blimunda vê Baltasar a ser queimado.
51. b) Tempo do Discurso Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos. Pode ser apresentado de forma linear, e ou com recurso a analepses e prolepses.
52. As analepses explicam acontecimentos passados. Anteriormente ao ano da acção(1711), concretamente em 1624, já os franciscanos expressavam o desejo de possuir um convento em Mafra. As prolepses antecipam acontecimentos. Caso das mortes do sobrinho de Baltasar e do infante D. Pedro, para criticamente estabelecer o contraste dos funerais de um e outro.
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55. - Paralelismo de construção . -Utilização do polissíndeto . - Enumeração . - Ausência de sinais gráficos indicadores do diálogo (a fuga à gramática normativa faz com que o texto ganhe fluidez aproximando-o do registo oral). . A vírgula é que separa as falas das personagens . Os pontos de exclamação e interrogação são omissos - Hibridismo discursivo (directo, indirecto e indirecto livre, sem demarcação gráfica (dois pontos + travessão) e lexical (verbos como declarar , perguntar …).
56. A História, em Memorial do Convento , torna-se matéria simbólica para reflectir sobre o presente, na perspectiva da denúncia e dela extrair uma moralidade que sirva de lição para o futuro Dimensão simbólica das personagens Baltasar Sete-Sóis / Blimunda Sete-Luas Baltasar e Blimunda são personagens heróicas. Regressado da frente de batalha, Baltasar apresenta uma “deformidade física”.
57. Em termos simbólicos liga-se a Blimunda, também diferente pela sua capacidade de “olhar por dentro das pessoas”. Baltasar, apesar do seu lado negativo e infernal, conclui o seu percurso ascensional e a sua identidade, através do voo. A sua condição de homem simples e pragmático faz dele o demiurgo que cria a passarola da liberdade. Qual Ícaro, ousou aproximar-se do Sol sofrendo a queda que o conduziu à fogueira. A sua união com Blimunda simboliza a completude que os torna imunes ao meio que os rodeia. Simbolizam a dualidade cíclica através da cosmogonia universal (Sete-Sóis / Sete-Luas).
58. A complementaridade Sol/Lua, dia/noite, luz/sombra enfatiza a alternância do mundo. O Padre Bartolomeu de Gusmão representa o ser fragmentário, dividido entre a religião e a alquimia. À semelhança de Prometeu, pela subversão do religioso, pela alquimia do conhecimento, brinca com o fogo. Simboliza a aspiração humana (voo da passarola), conferindo sacralidade ao acto humano de construir e sonhar Domenico Scarlatti – ligado à música, representa o transcendente. Simboliza a ascensão do homem através da música.
59. Pela sensibilidade criadora, e pela técnica de execução, liga-se ao mito órfico e contribui para a cura de Blimunda. Partilha o sonho do trio e morrerá, metaforicamente, após o voo da passarola. Elementos simbólicos SETE – Representa a totalidade do universo. Sete é o somatório dos quatro pontos cardeais com a trindade divina. A sua presença no nome de Baltasar e Blimunda tem um significado dual. O par representa a alteridade cíclica, a harmonia cosmogónica NOVE – Representa a gestação, a renovação e o renascimento.
60. Blimunda procura Baltasar durante nove anos. PASSAROLA – Concebida como a “barca voadora”, simboliza o elo de ligação entre o Céu e a Terra. Remete para a viagem e pelo seu movimento ascensional representa metaforicamente a alma humana que ascende aos céus, numa ânsia de realização e libertação.
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62. Memorial do Convento : - Como romance histórico (embora fugindo ao esquema clássico), apresenta uma descrição crítica da sociedade portuguesa do início do séc. XVIII. Como romance social , dentro da linha neo-realista, sobressai o operariado oprimido e explorado. Como romance de intervenção , visa a história repressiva portuguesa do século XX. Como romance de espaço , representa uma época onde se cruza o ambiente histórico e os quadros sociais.
99. José Maria Araújo Ano de 2007 FIM Bibliografia: In SARAMAGO, José, Memorial do Convento , 39.ª edição, Editorial Caminho In MOREIRA, Vasco, outro, Preparação para o Exame Nacional 2006 , Português – 12 º ano, Porto Editora In JACINTO, Conceição, outro, Análise da obra Memorial do Convento , Porto Editora