Este documento discute a relação entre economia e política no Brasil no contexto pré-eleitoral de 2014. Apesar da economia apresentar crescimento baixo e inflação alta, a popularidade do governo Dilma permanece alta. Críticos argumentam que as distorções econômicas podem prejudicar a reeleição de Dilma em 2014, enquanto o governo aposta que novas medidas podem melhorar o crescimento. A administração da economia considerando a política é uma estratégia do governo para as eleições, mas precisa evitar prejudicar
Artigo reflexões sobre o novo código florestal agosto_2012
Boletim macroeconomia CNA nº179
1. Brasília, 25 de março de 2013. Nº 179
O risco de administrar a economia
com olho (só) na política
1 A economia brasileira está em “trajetória gradual de aceleração”, definiu o ministro
Guido Mantega em audiência na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Sena-
do. Ainda que seja positiva, não é uma qualificação empolgante acerca do estado atual da
economia brasileira.
2 A cautela do ministro é compatível com a situação econômica do País, a qual carac-
teriza-se, em linhas gerais, pela combinação de crescimento baixo e inflação alta.
A trajetória, daqui para frente, como apontou o ministro, parece ser moderadamente po-
sitiva, ao menos para 2013 e 2014. Mas há preocupações consistentes a respeito do que
ocorrerá mais adiante, tendo em vista o acúmulo de distorções macroeconômicas, espe-
cialmente no campo fiscal.
3 Além de a conjuntura econômica não ser especialmente auspiciosa, são crescentes,
em amplitude e intensidade, as críticas à política econômica. Elas se concentram na
área fiscal, censurada duramente até mesmo por Delfim Netto, defensor declarado do go-
verno Dilma, mas se estendem também às políticas cambial e monetária. Isto é, alcançam
a Fazenda e o Banco Central (BC).
4 Se a economia não vai bem, diz a regra de ouro da relação entre economia e políti-
ca, a opinião pública repudia o governante. Não é, entretanto, o que está ocorrendo
atualmente no Brasil. A pesquisa CNI-Ibope, divulgada na última terça-feira, mostrou que
a maioria dos brasileiros está bastante satisfeita com o governo Dilma Rousseff, aprovado
por 63% dos entrevistados, patamar recorde desde que ela assumiu o poder. Mais do que
isso. Melhorou a avaliação popular a respeito da condução da criticada política econômi-
ca.
5 De dezembro a março, a diferença entre aprovação e desaprovação subiu de -5 para
1, no caso do “combate à inflação”, e de 15 para 17 para “combate ao desemprego”. Já
quanto a “impostos” e “taxa de juros”, embora as avaliações apresentem saldos negativos,
isto é, exista mais gente que desaprova do que aprova a ação governamental, o desconten-
tamento diminuiu, pois a diferença caiu de -35 para -24 e de –10 para -8, respectivamente.
O destaque é a aprovação ao “combate ao desemprego”, elemento que explica, em grande
parte, a popularidade do Governo, a despeito dos percalços da economia.
No próximo sábado sai a coluna da senadora Kátia Abreu,
presidente da CNA, na Folha de S. Paulo,
no caderno B - Mercado.
Vamos conferir!
2. Brasília, 25 de março de 2013. Nº 179
6 Naturalmente, a elevada popularidade reforça o cenário de favoritismo de Dilma
Rousseff para a disputa presidencial de 2014. Caso seja reeleita, Dilma ganhará
tempo para tentar destravar a economia e colocá-la na rota de crescimento mais acelerado
e mais equilibrado. A aposta do Governo é que isso ocorrerá por conta das medidas, algu-
mas delas certamente corretas, que tem adotado para destravar o investimento e melhorar
a produtividade da economia. Apesar do excessivo ceticismo de muitos analistas, não é
possível decretar, desde já, que a aposta do Governo esteja fadada ao insucesso.
7 Contudo, se os críticos estiverem corretos e se as distorções e desequilíbrios que
estão se acumulando prevalecerem sobre as medidas favoráveis ao investimento e à
produtividade, a bomba pode estourar no colo da própria presidente Dilma. É possível que
Aécio Neves, Eduardo Campos e, talvez, até Marina Silva estejam vislumbrando tal cenário.
Todos eles sabem que Dilma é favorita para 2014. Porém, provavelmente, não recuarão na
intenção de enfrentá-la, porque enxergam a possibilidade de a economia degringolar a par-
tir de 2014, o que os deixaria em boa situação para tentar desalojar o PT do Governo federal
em 2018. Nesse cenário, especialmente para Aécio e Campos, a eleição de 2014 servirá para
torná-los conhecidos nacionalmente. Será uma preparação para 2018. Além disso, sempre
há a chance de os ventos mudarem e o favoritismo de Dilma se esvanecer daqui até 2014.
8 Para evitar surpresas no próximo ano, Dilma está fortalecendo os laços com os par-
tidos aliados, principal objetivo da reforma ministerial ainda em andamento. No
campo econômico, por sua vez, ataca a inflação – ou pelo menos os índices de inflação – via
desonerações fiscais e administração de preços chave da economia (transportes e combus-
tíveis), pois a alta dos preços parece ser o único fator econômico com potencial de colocar
em risco a reeleição de Dilma.
9 Tal convicção justifica, também do ponto de vista político, a aposta de que o Banco
Central aumentará a taxa Selic ainda neste ano, de modo a reduzir a probabilidade
de a inflação se acelerar em 2014. Mas o aperto monetário não pode ser muito forte. Caso
contrário, comprometerá a “trajetória gradual de aceleração” citada por Mantega.
10 Essas são as conexões de momento entre a economia e a política no Brasil, as
quais, aqui e alhures, caminham juntas. Isto é especialmente verdade nos perío-
dos préeleitorais como vivenciamos atualmente no País, no qual todos os pré-candidatos
já estão em campo, armando-se da melhor maneira possível para enfrentar a disputa de
2014.
11 Administrar a economia de olho na política é uma das armas do governo. Pode-
se dizer que, ao misturar as duas coisas, o Governo corre o risco de derrapar no
campo econômico. Mas é ingenuidade pensar que governantes conduzem a economia sem
mirar também para a política. Os mais responsáveis cuidam para evitar que os interesses
políticos subvertam certos limites da lógica econômica. Os mais incautos os atropelam.
Dilma está no primeiro grupo, mas parece flertar com o segundo.