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O Leão e o Rato
O leão estava a dormir no seu covil em certa tarde de Verão, quando um rato lhe passou por
cima do focinho e o acordou. O leão rosnou, furioso, e já ia esmagar o rato com a pata enorme
quando:
- Oh, poupai-me, senhor - guinchou o rato. - Na verdade, eu não mereço ser morto. Não vos
fiz mal... e também não presto para comer.
O leão tornou a rugir, ensonado.
- Além disso - continuou o rato -, se me poupardes agora, talvez um dia possa fazer qualquer
coisa por vós.
O leão rugiu uma enorme gargalhada, mas levantou a pata e o rato escapou-se.
Passado algum tempo, o leão andava a caçar na floresta quando caiu numa armadilha. Uma
rede cai-lhe em cima e fechou-o. Sem qualquer esperança de fuga, começou a rugir, e a sua
voz ecoou em todos os recantos da floresta.
O rato, que também saíra para caçar naquela noite, depressa reconheceu a voz do leão e
correu para o sítio onde ele estava. E vendo o que se passava, disse:
- Não vos preocupeis, senhor, eu tiro-vos daí num instante. - E logo começou a roer e a
mordiscar as grossas malhas da rede. Passado pouco tempo o leão estava solto.
O rato, como tinha prometido, salvou-lhe a vida.
Não julgues a utilidade das pessoas pelo seu aspeto.
ESOPO, Fábulas de Esopo, versão portuguesa de Ricardo Alberty

A lenda do galo de Barcelos


  A lenda do galo de Barcelos já é muito antiga. Diz-se que tudo aconteceu no séc. XVI...

  Conta a lenda que todos andavam muito assustados em Barcelos por causa de um
crime que lá se tinha passado. É que o criminoso ainda não tinha sido descoberto e isso
deixava as pessoas com medo.

   Certo dia, apareceu na zona um galego (espanhol da região da Galiza) que passou
logo a ser o principal suspeito. As autoridades acharam que era ele o culpado pelo crime
e prenderam-no.

  O galego defendeu-se, dizendo que ia a caminho de Santiago de Compostela para
pagar uma promessa, mas ninguém acreditou nele...

  Com toda a gente contra o galego, e ele sem poder provar que estava inocente, acabou
por ser condenado à forca.

  Como última vontade, o galego pediu que o levassem até ao juiz que o tinha
condenado. Quando o galego chegou a casa do juiz, ele estava a deliciar-se com os
amigos com um grande banquete. Voltou a dizer que estava inocente, mas, mais uma
vez, ninguém acreditou nele...

  Então, o condenado reparou num galo assado que estava numa travessa na mesa,
prontinho para ser comido, e disse:
  - É tão certo eu estar inocente como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.
Todos se riram da afirmação do homem mas, mesmo assim, resolveram não comer o
galo.
   Mas, quando chegou a hora de enforcarem o galego, na casa do juiz o galo assado
levantou-se e cantou.

  Afinal, o homem estava mesmo inocente!

  O juiz correu até ao sítio onde ele estava prestes a ser enforcado e mandou soltá-lo
imediatamente.

  Passados alguns anos, o galego voltou a Barcelos e mandou construir um monumento
em louvor à Virgem e a São Tiago para lhes mostrar o seu reconhecimento.

A lenda das amendoeiras em flor


Há muitos e muitos séculos, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb pertencia aos
árabes, reinava em Chelb, a futura Silves, o famoso e jovem rei Ibn-Almundim que
nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a
linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro
deu-lhe a liberdade, conquistou-lhe progressivamente a confiança e um dia confessou-
lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua mulher. Foram felizes durante algum tempo,
mas um dia a bela princesa do Norte caiu doente sem razão aparente. Um velho cativo
das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e revelou-lhe que a
princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. A solução estava ao alcance do
rei mouro, pois bastaria mandar plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras que
quando florissem as suas brancas flores dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria
curada da sua saudade. Na Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do
castelo e a princesa sentiu que as suas forças regressavam ao ver aquela visão
indiscritível das flores brancas que se estendiam sob o seu olhar. O rei mouro e a
princesa viveram longos anos de um intenso amor esperando ansiosos, ano após ano, a
Primavera que trazia o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.

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  • 1. O Leão e o Rato O leão estava a dormir no seu covil em certa tarde de Verão, quando um rato lhe passou por cima do focinho e o acordou. O leão rosnou, furioso, e já ia esmagar o rato com a pata enorme quando: - Oh, poupai-me, senhor - guinchou o rato. - Na verdade, eu não mereço ser morto. Não vos fiz mal... e também não presto para comer. O leão tornou a rugir, ensonado. - Além disso - continuou o rato -, se me poupardes agora, talvez um dia possa fazer qualquer coisa por vós. O leão rugiu uma enorme gargalhada, mas levantou a pata e o rato escapou-se. Passado algum tempo, o leão andava a caçar na floresta quando caiu numa armadilha. Uma rede cai-lhe em cima e fechou-o. Sem qualquer esperança de fuga, começou a rugir, e a sua voz ecoou em todos os recantos da floresta. O rato, que também saíra para caçar naquela noite, depressa reconheceu a voz do leão e correu para o sítio onde ele estava. E vendo o que se passava, disse: - Não vos preocupeis, senhor, eu tiro-vos daí num instante. - E logo começou a roer e a mordiscar as grossas malhas da rede. Passado pouco tempo o leão estava solto. O rato, como tinha prometido, salvou-lhe a vida. Não julgues a utilidade das pessoas pelo seu aspeto. ESOPO, Fábulas de Esopo, versão portuguesa de Ricardo Alberty A lenda do galo de Barcelos A lenda do galo de Barcelos já é muito antiga. Diz-se que tudo aconteceu no séc. XVI... Conta a lenda que todos andavam muito assustados em Barcelos por causa de um crime que lá se tinha passado. É que o criminoso ainda não tinha sido descoberto e isso deixava as pessoas com medo. Certo dia, apareceu na zona um galego (espanhol da região da Galiza) que passou logo a ser o principal suspeito. As autoridades acharam que era ele o culpado pelo crime e prenderam-no. O galego defendeu-se, dizendo que ia a caminho de Santiago de Compostela para pagar uma promessa, mas ninguém acreditou nele... Com toda a gente contra o galego, e ele sem poder provar que estava inocente, acabou por ser condenado à forca. Como última vontade, o galego pediu que o levassem até ao juiz que o tinha condenado. Quando o galego chegou a casa do juiz, ele estava a deliciar-se com os amigos com um grande banquete. Voltou a dizer que estava inocente, mas, mais uma vez, ninguém acreditou nele... Então, o condenado reparou num galo assado que estava numa travessa na mesa, prontinho para ser comido, e disse: - É tão certo eu estar inocente como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.
  • 2. Todos se riram da afirmação do homem mas, mesmo assim, resolveram não comer o galo. Mas, quando chegou a hora de enforcarem o galego, na casa do juiz o galo assado levantou-se e cantou. Afinal, o homem estava mesmo inocente! O juiz correu até ao sítio onde ele estava prestes a ser enforcado e mandou soltá-lo imediatamente. Passados alguns anos, o galego voltou a Barcelos e mandou construir um monumento em louvor à Virgem e a São Tiago para lhes mostrar o seu reconhecimento. A lenda das amendoeiras em flor Há muitos e muitos séculos, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb pertencia aos árabes, reinava em Chelb, a futura Silves, o famoso e jovem rei Ibn-Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade, conquistou-lhe progressivamente a confiança e um dia confessou- lhe o seu amor e pediu-lhe para ser sua mulher. Foram felizes durante algum tempo, mas um dia a bela princesa do Norte caiu doente sem razão aparente. Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. A solução estava ao alcance do rei mouro, pois bastaria mandar plantar por todo o seu reino muitas amendoeiras que quando florissem as suas brancas flores dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria curada da sua saudade. Na Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo e a princesa sentiu que as suas forças regressavam ao ver aquela visão indiscritível das flores brancas que se estendiam sob o seu olhar. O rei mouro e a princesa viveram longos anos de um intenso amor esperando ansiosos, ano após ano, a Primavera que trazia o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.