Algumas propostas do PMDB contrariam interesses de grupos
1. %HermesFileInfo:B-2:20160509:
B2 Economia SEGUNDA-FEIRA, 9 DE MAIO DE 2016 O ESTADO DE S. PAULO
Primeira pessoa
Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário
A
poucos dias da muito prová-
velmudançadegoverno,bra-
sileiros que há dois anos so-
fremosefeitosdeumaprofundacri-
se política, econômica, social e mo-
ral continuam em dúvida: ainda po-
depiorar?Setomarmosuminteres-
sante indicador conhecido como
“índice de mal-estar”, construído
pelaequipedeanáliseeconômicade
umainstituiçãofinanceira,arespos-
ta é ruim: pode, sim. Resultado da
combinaçãodeinflaçãoedesempre-
go – aferido pela Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio (Pnad)
Contínua, de abrangência nacional
e divulgada mensalmente pelo IB-
GE –, esse índice alcançou em mar-
ço seu ponto mais alto desde que
começouasercalculadopeloBanco
Fibra e talvez continue a subir. Em-
bora alguns dados apontem que a
inflação está se desacelerando, ou-
trossugeremqueodesempregocon-
tinuacrescendo.Ascondiçõesdevi-
daestãoruins etendemasemanter
– ou piorar, pelo menos por algum
tempo.
Naiminênciadeosprincipaiscar-
gos do Poder Executivo federal te-
rem novos ocupantes, no entanto,
surgem também alguns sinais de
que,pelomenosnoqueserefereàativi-
dade de alguns setores da economia, o
fundodopoçoparecetersidoatingido.
São tênues, ressalve-se, as indicações
derecuperaçãodaindústria,masainda
assimauspiciosas.Estefoiosetormais
afetado pela crise e que por mais de
umadezenademesesconsecutivosacu-
mulou resultados negativos. Em mar-
ço,segundooIBGE,aproduçãoindus-
trialfoi1,4%maiordoqueadefevereiro
(no primeiro trimestre do ano, porém,
houve queda de 11,7% na comparação
com igual período de 2015). O cresci-
mento no mês é pequeno e se dá sobre
umabase muito baixa.Mas é positiva a
evoluçãodoinvestimento,expressana
produçãodebensdecapital,cujaexpan-
são tem evitado há meses resultados
piores da indústria de transformação.
Háindicaçõestambémdeque,dian-
te da provável mudança dos rumos na
condução da política econômica, co-
meçaamelhorarohumordoempresa-
riado, que, como se sabe, influi decisi-
vamentenoritmodosnegócios.Opau-
latino afastamento das incertezas e
dos temores alimentados pelos desas-
tres fiscais, econômicos e sociais acu-
mulados durante o governo Dilma
Rousseff abre espaço para a mudança
no ambiente empresarial. Na popula-
ção, a expectativa de superação da cri-
sequeparalisouogovernoeafetoufor-
temente a economia tende a criar um
novo estado de ânimo.
O anúncio, há alguns meses, do pro-
gramade governo do PMDBintitulado
Uma ponte para o futuro – previsível e
duramente atacado pelo governo Dil-
maeseusapoiadores,queoconsidera-
ram parte do “golpe” que se preparava
contraapresidentedaRepública–teve
como principal objetivo conquistar o
apoiodoempresariadoparaumgover-
no Michel Temer, que já então a cada
dia pareciamais provável.
Estãolá,defato,pontosquehámuito
parte significativa do setor produtivo
considera indispensáveis para recolo-
car o País nos trilhos da estabilidade e
do crescimento econômico. É um pro-
gramaque,comodizoPMDB,sedesti-
na a “preservar a economia brasileira e
tornar viável o seu desenvolvimento,
devolvendo ao Estado a capacidade de
executar políticas sociais que comba-
tam efetivamente a pobreza e criem
oportunidades para todos”.
Alisedestaca,entreoutrosobjetivos,
a redução rápida do desajuste das con-
tas públicas, que “chegou a um ponto
crítico”. Para isso, será preciso “o con-
curso de muitos atores”, deixando de
lado “divergências e interesses pró-
prios”. O ajuste deveria, como princí-
pio, “evitar o aumento de impostos”,
dizodocumento,comaressalvadeque
isso poderia ser feito “em situação de
extremaemergênciaecomamplocon-
sentimento social”. Talvez venha a ser
necessário fazê-lo.
O texto refere-se também à necessi-
dade de acabar com todas as vincula-
ções orçamentárias, bem como a de se
instituiroorçamentointeiramenteim-
positivo.Acabarcomvinculaçõessigni-
fica retirar a exigência de aplicações
mínimasemdeterminadossetores,co-
mosaúde e educação.
A questão da Previdência, cujo défi-
cit cresce a velocidades assustadoras
em razão das regras de concessão dos
benefíciosedamudançadopadrãode-
mográfico–alémdeseralimentado,no
presente,pelarecessãoquereduzoem-
pregoe,consequentemente,onúmero
decontribuintesdosistema–,étratada
com prioridade. Prudentemente,o do-
cumento do PMDB fala em preservar
direitos adquiridos, mas faz propostas
que podem afetar a vida dos aposenta-
dos e as expectativas dos que hoje ain-
dacontribuemparaosistemadeprevi-
dência.Defende,porexemplo,ofimda
indexação dos benefícios e a institui-
çãoderegrasmaisdurasparaaconces-
sãodenovosbenefícios,comoaexigên-
cia de idade mínima.
São propostas sensatas, mas algu-
mas contrariam interesses de grupos
comforterepresentaçãopolítica.Mes-
mo assim, um governo determinado,
com um núcleo operacional coeso e
competente, poderia fazê-las avan-
çar, pavimentando o caminho do
progresso que beneficiaria a todos.
O início de um governo, ainda que
decorrente de um processo trau-
mático como o do afastamento da
presidente Dilma Rousseff, é uma
grandeoportunidade para iniciaras
mudanças necessárias.
O que se tem visto nas conversa-
ções para a constituição de um go-
verno Temer, porém, com raras ex-
ceções, é a repetição da negociação
rasteira por cargos e verbas em tro-
ca de apoio parlamentar, como a
que fez do agonizante governo Dil-
ma um conjunto disforme e disfun-
cional. Surgiram também exigên-
cias absurdas, entre elas a realiza-
ção de uma impossível reforma po-
lítica no prazo que o PSDB impôs
como condição para integrar o go-
verno Temer. Supostos apoiadores
de primeira hora do impeachment
de Dilma e de um novo governo Te-
mer, como sindicalistas controla-
dospelodeputadoPaulinhodaFor-
ça, afirmaram que não aceitarão
“perdadedireitos”–ouseja,mudan-
ças na legislação trabalhista e nas
regras das aposentadorias.
Nãosãoboasindicações dequeas
coisascomeçarão a melhorarlogo.
]
JORNALISTA, É AUTOR DE ‘O SÚDITO (BAN-
ZAI, MASSATERU!)’, ED. TERCEIRO NOME
Algumas propostas do PMDB,
apesar de sensatas, contrariam
interesses de grupos com forte
representação política
Colaboraram:
Aline Bronzati, Clarice Couto, Fernando Scheller e Renée Pereira
l]
JORGE J.
OKUBARO
Opinião
Esperançaseinquietações
SEGUROS
Fábio
Rodrigues,
sócio da Bisup
Consulting
catia.luz@estadao.com
‘Volta da credibilidade
vai intensificar as
fusões e aquisições’
Mesmo com uma possível mudan-
ça de governo, a situação financei-
ra das empresas continuará bas-
tante delicada este ano, afirma Fá-
bio Rodrigues, sócio fundador da
Bizup Consulting – empresa re-
cém lançada no mercado, com fo-
co em reestruturação de dívidas e
assessoria de fusões e aquisições.
Na avaliação dele, entretanto, o
componente “expectativa” vai me-
lhorar o ambiente de negócios,
com aumento de fusões e aquisi-
ções e de novos investimentos.
l O que veremos mais nos próximos
meses: fusões e aquisições ou que-
bra de empresas?
Em quantidade, haverá mais que-
bra de empresas. Entretanto, as
fusões e aquisições vão se intensi-
ficar com a volta da credibilidade
do País. Será a hora de ir às com-
pras no Brasil. O dólar está favorá-
vel e os indicadores das empresas
em baixa, como o Ebitda e o múlti-
plo de Ebitda (instrumento de ava-
liação de empresas).
l Como está a vida financeira das em-
presas neste momento de recessão?
Com certeza muito difícil. Além
da queda dos negócios, a redução
do crédito tem afetado de manei-
ra dramática a vida das empresas.
Quem não tinha um colchão de
liquidez está em situação delicada.
l Qual a previsão para os próximos
meses?
O componente “expectativa” é
um dos principais fatores nas deci-
sões econômicas. Portanto, a pos-
sibilidade de um governo com me-
nos problemas políticos poderá
conduzir a economia de forma
mais objetiva e produtiva. A pró-
pria possibilidade de privatização
da infraestrutura do Brasil por si
só, traz boas expectativas, princi-
palmente de investimentos e de
movimentação da economia. Isso
não vai ocorrer rapidamente, mas
vai estabelecer uma nova expecta-
tiva de futuro, com um 2017 mais
positivo.
BrasilAgropodeanunciar
aquisiçõesneste trimestre
“O Brasil precisa de menos Estado e de mais livre economia.”
MARCIO FERNANDES /ESTADÃO - 9/8/2012
O MAPA DA BOLSA
● As ações que mais subiram e
as que mais caíram na semana
entre 29 de abril e 6 de maio
NA SEMANA
Piores
NA SEMANA
Melhores
INFOGRÁFICO/ESTADÃOFONTE: ECONOMATICA
Empresas com volume
diário de negociação
superior a R$ 1 milhão e
presentes em 80% dos
pregões na semana
30%-30%
15%
-15%
7,5%
-7,5%
45%
-45%
22,5%
-22,5% 37,5%
-37,5%
-11,67%
-14,10%
-14,27%
-15,22%
-16,24%
8,61%
8,78%
8,88%
18,43% 19,19%
Lojas Americanas PN
EM UM MÊS
7,09%
Vale PNA
EM UM MÊS
45,62%
Vale ON
EM UM MÊS
12,01%
CSN
EM UM MÊS
18,60%
Rossi Residencial ON
EM UM MÊS
-10,78%
Gol PN
EM UM MÊS
6,85%
M. Dias Branco ON
EM UM MÊS
27,19%
São Martinho ON
EM UM MÊS
13,26%
Ser Educação ON
EM UM MÊS
26,73%
Profarma ON
EM UM MÊS
34,43%
0%
0%
ComChubb, Porto Seguro
dobrabase decarrosde luxo
A Porto Seguro vai dobrar sua base de
clientes de automóveis de luxo com a
aquisição da carteira da Chubb Segu-
ros. Além de se firmar junto ao públi-
co de alta renda, de quebra ainda tira
do jogo sua principal concorrente nes-
te segmento. O valor do negócio não
foi revelado por questões estratégicas
e outras companhias, conforme apu-
rou o Broadcast, também disputaram
o ativo, como a SulAmérica, da Famí-
lia Larragoiti, e a japonesa Yasuda Ma-
rítima. Com a aquisição, a Porto Segu-
ro adiciona outros cerca de 50 mil
itens em sua base de automóveis pre-
mium num total de cerca de R$ 250
milhões em prêmios. A Porto Seguro
lidera o segmento de auto no Brasil.
COSMÉTICOS
AvontransferesededosEUA
epromove‘diáspora’daequipe
Ao transferir seu quartel-general glo-
bal dos Estados Unidos para o Reino
Unido – como consequência da venda
para o fundo Cerberus, especializado
em ativos com dificuldades –, a com-
panhia de venda direta de cosméticos
Avon deverá promover uma “diáspo-
ra” de sua equipe – além de corte de
parte dos funcionários.
Segundo a presidente da Avon,
Sherry McCoy, durante teleconferên-
cia com analistas, a empresa “vai dis-
persar as pessoas que hoje estão no
escritório de Nova York”. Entre os
destinos estão a Suécia (onde há uma
capacidade grande na área de marke-
ting), Polônia (onde se concentra a
área financeira) e Brasil (maior merca-
do para a marca).
Editado por:
Cátia Luz
Paíspodefechar150milrestaurantes
PANORÂMICA
A
contenção de gastos dos bra-
sileiros fez encolher o movi-
mento em bares e restauran-
tes e está levando empresários a
considerar a possibilidade de fe-
char as portas. Um levantamento
da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel) obtido
com exclusividade pelo Broadcast,
serviço em tempo real da Agência
Estado, mostra que um a cada seis
empresários avalia dar fim ao negó-
cio ou repassar o ponto nos próxi-
mos meses. São 150 mil pontos em
todo o País que correm o risco de
não resistirem à crise.
O motivo para a decisão, em 84%
dos casos, é o prejuízo acumulado
diante do aumento de custos e da
queda no faturamento. “São núme-
ros assustadores, com reflexos dra-
máticos. Isso vai impactar a econo-
mia e pode gerar mais demissões”,
diz o presidente da Abrasel, Paulo
Solmucci Jr. A vontade de trocar de
ramo ou de arrumar um emprego
também são motivações citadas.
Em 2015, esses estabelecimentos
acabaram sofrendo um baque nas
contas. A tarifa de energia elétrica,
uma despesa básica, subiu mais de
50%. Taxa de água e esgoto e alimen-
tos também ficaram mais caros. Hou-
ve ainda, no início do ano, o reajuste
de 11,68% no salário mínimo, para
R$ 880, remuneração base para mui-
tos trabalhadores do ramo.
“Conta de energia não fecha loja,
mas, quando soma tudo e ainda tem
perspectiva de retorno pequeno,
complica. Boa parte dos empresários
não está com fôlego para esperar a
crise passar”, diz o economista Fabio
Bentes, da Confederação Nacional
do Comércio de Bens, Serviços e Tu-
rismo (CNC). “A perversidade não é
o tamanho do tombo, mas sim a du-
ração da crise.”
PROPRIEDADES RURAIS
O presidente da BrasilAgro, Julio Pi-
za, afirmou na sexta-feira que investi-
mentos e aquisições continuam no
radar da companhia, apesar das incer-
tezas no País. “Se tudo correr bem, no
próximo balanço teremos novidades
sobre novas aquisições”, disse, em
teleconferência sobre os resultados.
A BrasilAgro atua na aquisição, desen-
volvimento e venda de propriedades
rurais. A cautela da empresa é justifi-
cada, em parte, pelo fato de que os
preços das terras não vêm caindo, ape-
sar da crise. Segundo dados da Infor-
ma Economics FNP, a valorização mé-
dia das propriedades variou de 3%
(no Centro-Oeste) a 6,4% (na região
Sul), nos últimos 12 meses.