Boletim 34 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Análise da política econômica e perspectivas de crescimento no Brasil em meio a incertezas
1. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 1
Universidade Federal do Espírito Santo
Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas
Departamento de Economia
BOLETIM Nº 56
JULHO DE 2017
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Até alguns analistas do mercado reconhecem que a crise
brasileira vai além de uma mera crise econômica
conjuntural. O modelo de governabilidade política do
país, instaurado desde a Nova República de Sarney, não
mais apresenta saídas aceitáveis.
Vivencia-se uma explícita pulverização dos partidos
políticos e da esfera política nacional gerando um vazio
que deixa espaço a alternativas incertas do ponto de
vista da frágil democracia brasileira. Tais aspectos
estruturais no campo político trazem profundas
incertezas à economia brasileira.
Adicionalmente, no próprio campo econômico, somam-se
mais de quatro décadas perdidas em torno do mesmo
óbice macroeconômico: o estoque de dívida pública
crescente.
Sob a justificativa de equacionar esse óbice
empreendeu-se, desde inicio dos 1990 e sem resultados
aceitáveis, políticas de ajuste fiscal estrutural, voltadas
para promover a sustentabilidade financeira da dívida.
De uma maneira geral, lançou-se mão de um conjunto
de reformas do Estado, privatizações e de uma política
econômica compatível com a visão de Estado mínimo.
Essas, desde então, tem levando a economia brasileira a
becos sem saída.
Mesmo nos governos Lula e Dilma, nos quais tais
orientações foram em parte flexibilizadas, manteve-se o
cerne do modelo econômico neoliberal.
Não obstante os pífios resultados econômicos da
alternativa neoliberal empreendida desde 1990, o
impeachment de Dilma, entre 2015/2016, e a crise
política a ele associada e ainda vigente, geraram um
amargo sabor de que não se pode mais desviar um
APRESENTAÇÃO
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mínimo que seja dessa perspectiva. A visão de que é o
aprofundamento das reformas neoliberais a única saída
para o país tem ganhado cada vez mais adeptos,
promovida por meios de comunicação fortemente
alinhados a esses interesses.
O governo Temer é exatamente a oportunidade política
encontrada pelos grandes beneficiários desse modelo
econômico para um aprofundamento cabal do mesmo.
Aquelas que ainda não haviam sido empreendidas a
fundo, como a Reforma Trabalhista e a Reforma
Previdenciária, passaram a ser pautadas no Governo e
no Congresso diretamente pelos próprios interessados.
A reforma trabalhista, como se revela na análise de
empregos e salários, recém aprovada neste mês de
julho, altera em profundidade o mercado de trabalho no
país. Os seus impactos, sob uma realidade de alta
informalidade e num contexto de profunda crise
econômica e acentuado desemprego, tendem a agudizar
a precarização do trabalho no Brasil.
A Reforma da Previdência, por outro lado, encontra
maiores resistências na sociedade e sua apreciação pelo
Congresso tem sido seguidamente postergada a cada
crise política que se instaura. Não obstante, como ela é
uma das maiores razões de um governo Temer, a chance
de sua aprovação não parece ser desprezível. O item
sobre Política Fiscal sintetiza os principais pontos da
reforma proposta, considerando as alterações feitas pelo
substitutivo do relator na Câmara. Também evidencia
como a questão fiscal no curto prazo se deteriorou e no
longo prazo está atrelada a limites estritos face ao
estabelecimento, em fins de 2016, de um teto de gastos
por 20 anos.
Outra frente de mudanças estruturais empreendida pelo
governo Temer e menos destacada pela imprensa é a
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mudança qualitativa no papel do BNDES. As alterações
na TJLP, taxa que remunera os empréstimos dessa
instituição, vão alinhá-la gradualmente à remuneração
de títulos do tesouro direto. Isso cancela a função do
BNDES de financiador do investimento produtivo de LP. A
tendência é que esse banco passe a adotar uma lógica
de atuação privada alterando significativamente sua
função. O item de Política monetária evidencia em
detalhe essa questão bem como outras mais
conjunturais, associadas às políticas de crédito e à taxa
de juros da economia.
Num quadro claramente desfavorável ao trabalho, o
contexto atual pode ser interpretado de diferentes
pontos de vista, a depender de quem projete o cenário
futuro. A análise de Política Econômica de Fabrício de
Oliveira apresenta três diferentes cenários, o otimista,
que encarna a posição do Governo Temer, o cauteloso,
que responde pela posição do mercado e o pessimista,
que caracteriza a posição do autor e também deste
boletim.
Esse boletim evidencia que os sinais de recuperação da
economia brasileira, ou o que é pior, os sinais de uma
reversão do quadro estrutural de entraves ao
crescimento econômico, estão distantes de serem dados.
Eles mais são consequências do duro ajuste recessivo
vivenciado desde 2015, com impactos que reduzem a
inflação e ampliam o superávit comercial pela forte
contração interna.
A queda da inflação, celebrada por muitos, no contexto
atual revela de fato uma intensificação da fragilidade da
economia brasileira. Mais do que um reflexo da redução
da Taxa Selic ela se explica pelo próprio quadro
recessivo, resultando numa taxa real de juros em
patamares ainda bem acima dos padrões internacionais.
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Uma análise crítica sobre o comportamento da inflação
pode ser encontrada no item Inflação.
Por fim, nas contas externas do país o superávit
comercial não requer comemorações. Também
consequente do processo recessivo interno não é
suficiente para evitar um déficit maior no balanço de
pagamentos. A evidente fuga de capitais detectada em
2016 se manifesta na sensível queda das captações
líquidas de investimentos de portfólio. A análise no item
Setor Externo corrobora a posição desse boletim de que,
também no campo externo, o que parece positivo está
longe de sê-lo.
Em síntese, a Economia Brasileira encontra-se ainda em
compasso de espera frente às indefinições que cercam o
quadro político e econômico nacional. Ela não manifesta
sinais concretos de uma recuperação significativa e, o
que é pior, vivencia um reordenamento estrutural que
caminha no sentido de aprofundamento das reformas
neoliberais. Esse aprofundamento ocorre à revelia de
processos legitimadores do ponto de vista político,
evidenciando a fragilidade da democracia no país bem
como a baixa mobilização de forças políticas que vem
sendo altamente prejudicadas pelas mudanças em curso.
Desejamos uma boa leitura para todos!
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A política econômica e o crescimento num
ambiente de incertezas políticas e econômicas -
Fabrício Augusto de Oliveira
Os números do PIB do primeiro trimestre deste ano,
divulgados pelo IBGE, permitem várias leituras,
dependendo de quem e de como estes são analisados:
otimista, cautelosa ou pessimista.
Otimista. O crescimento registrado de 1% após oito
trimestres seguidos de queda parece não deixar dúvidas
de que houve uma inflexão na trajetória da economia e
de que esta pode estar começando a ingressar numa
fase de recuperação. Foi como o presidente da
República, Michel Temer, ávido por boas notícias no
campo econômico para compensar seu desgaste político,
saudou este resultado, decretando o fim da recessão no
Brasil, argumentando que teria, em apenas um ano,
recolocado a “economia nos trilhos”. Uma façanha.
Melhorias em alguns indicadores econômicos podem até
dar razão a essa expectativa mais otimista sobre a
economia. A inflação, medida pelo IPCA, fechou o mês
de abril em 4,08%, dentro da meta, um nível bem
inferior ao registrado em maio de 2016, de 8,65%,
quando Temer assumiu interinamente o governo,
abrindo espaço para a redução da taxa nominal de juros,
a Selic, que caiu de 14,25% para 10,25% neste período,
aparentemente, porque em termos reais nada se alterou,
permitindo injetar forças para o investimento e o
consumo. A partir de março, voltaram-se a se registrar
até mesmo superávits na balança de transações
correntes, fazendo com que o déficit, nessa conta,
acumulado nos últimos doze meses fechados em abril,
1. POLÍTICA ECONÔMICA
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caísse para US$ 19,8 bilhões, correspondentes a 1,06%
do PIB.
É bem verdade, que a melhoria registrada nesses
indicadores foi mais consequência da recessão instalada
no Brasil em 2014, a qual, além de ter asfixiado a
demanda interna, retirando forças do investimento e do
consumo, contribuindo, portanto, para reduzir o nível de
preços, desviou parte expressiva da produção nacional
para o exterior, propiciando a obtenção de superávits
mais robustos na balança comercial com o aumento das
exportações e redução das importações. De qualquer
forma, ao se somar ao ajuste externo, o ajuste interno
nas variáveis inflação e juros, mesmo que os últimos não
tenham, em termos reais, conhecido, de fato, alguma
mudança, a política econômica passou a contar com
maior espaço para tornar-se mais efetiva.
No ajuste realizado, principalmente por meio da
recessão, permaneceu ainda sem solução, até mesmo
pelos seus efeitos sobre a arrecadação de tributos, a
questão de um ajuste fiscal mais confiável, considerando
que o governo ainda projeta para 2017 um déficit
primário de R$ 139 bilhões, enquanto a dívida líquida
pública do setor público não tem parado de crescer,
tendo atingido 47,7% do PIB nos últimos doze meses
fechados em abril, com a dívida bruta chegando a 71,7%
do PIB.
O governo contava, no entanto, para reverter mais à
frente este quadro, além do limite aprovado para a
expansão dos gastos públicos primários com a PEC-55,
também com a aprovação da reforma previdenciária que,
aos trancos e barrancos, seguia sua trajetória no
Congresso, mesmo com o esvaziamento de alguns de
seus ganhos iniciais.
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Foi com essa perspectiva e a convicção de que poderia
sair vitorioso na batalha da reforma, que o presidente
Temer saudou o crescimento divulgado pelo IBGE do
primeiro trimestre do ano, confiante na sua sustentação
e de que, com ele, poderia dar início à reabsorção, pelo
sistema econômico, dos 14 milhões de desempregados
no país. Uma visão otimista tanto sobre as possibilidades
de sustentação e de continuidade do resultado alcançado
quanto sobre a solução para os problemas da economia
que continuam pendentes num quadro de grandes
incertezas.
Cautelosa. Para os que analisam os dados com mais
cautela, ainda é cedo para comemorar este feito. Afinal,
o crescimento ocorreu sobre uma base bastante
deprimida, a do último trimestre de 2016, e, quando
comparada ao mesmo período do ano anterior, registrou-
se um recuo de 0,4%, com a economia continuando a se
manter no patamar de 2010. E, o que mais coloca em
xeque a avaliação otimista, é o fato de tal crescimento
não ter se dado de forma espalhada por todos os
setores, mas alcançado graças ao desempenho
espetacular do agronegócio, que conheceu uma
expansão de 13,4%, visto pela ótica do produto, e de
4,8% das exportações, pela ótica da demanda.
Assim, embora tecnicamente este resultado possa indicar
que a economia tenha voltado a respirar sem a ajuda de
aparelhos, ainda é cedo para dizer por quanto tempo isso
será possível, pois enquanto, do lado do produto, a
indústria e os serviços continuam prostrados, do lado da
demanda, o consumo das famílias, do governo e os
investimentos, que respondem por mais de 90% do PIB,
continuam em queda. Não sem razão, houve uma
revisão para baixo do crescimento feita por quase todas
as instituições de pesquisa tanto para 2017 como para
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2018: no primeiro para algo próximo de 0%; no segundo
para não mais que 2%.
Os que esposam essa posição questionam também a
visão otimista que tanto o presidente Temer como os
gestores da política econômica têm manifestado sobre as
questões relativas às reformas e ao ajuste fiscal. Para
eles, não somente a meta estabelecida para o déficit
primário, neste ano, de R$ 139 bilhões parece estar se
tornando inatingível, devido principalmente à
continuidade de queda da arrecadação, com o governo
tendo de se esmerar na busca de receitas extraordinárias
para fechar a conta, como parte dos ganhos inicialmente
esperados com a reforma previdenciária já foi perdida
com as seguidas concessões feitas para algumas
categorias profissionais para sua aprovação.
Por tudo isso, a questão do ajuste fiscal, peça central
para acalmar o mercado e os investidores, tem se
tornado crescentemente mais problemática e mais difícil
de ter uma solução confiável. A redução recente das
notas de crédito do Brasil pelas agências de risco,
Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s, seria reflexo, além
da maior deterioração do quadro político, também das
dificuldades de se levar a bom termo as chamadas
reformas ditas “estruturais” e de se colher, com elas,
frutos importantes para o ajuste fiscal e o crescimento
econômico.
Pessimista. Se a essa leitura mais realista adicionarmos
o aprofundamento da crise política, que deve paralisar as
reformas de agrado do mercado que estavam em
andamento e a deterioração das expectativas dos
agentes econômicos ante as incertezas provocadas com
essa paralisação sobre o futuro da economia, fica
evidente que a tênue luz que se acendeu no final do
túnel pode rapidamente se apagar pelo fato de o país ter
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sido jogado numa encruzilhada com este imbróglio
político, da qual não parece haver absolutamente saída.
A hipótese de continuidade de Michel Temer à frente do
governo, que se torna cada vez mais difícil, não
representa mais nenhuma garantia de que as reformas,
mesmo esvaziadas, terão continuidade e de que serão
aprovadas, o que seria essencial para manter favoráveis
as expectativas privadas e dar algum impulso a este
pequeno ensaio de crescimento. Com uma base de apoio
no Congresso despedaçada, sem desfrutar de qualquer
respeito da opinião pública, seu governo, tornado agora
ainda mais ilegítimo, não deve conseguir mais nenhuma
mudança essencial para manter a economia na trajetória
do primeiro trimestre.
A hipótese, com a sua queda, de realização de uma
eleição indireta de um novo presidente pelo Congresso,
colocará o país, por alguns meses, sob o governo do
presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, outro
político investigado na Lava Jato, até a conclusão do
processo. Dificilmente, o nome que for escolhido para
comandar o país desfrutará de qualquer legitimidade
para promover mudanças necessárias para dar forças a
essa recuperação, mesmo por que não disporá de tempo
suficiente para a montagem de uma nova equipe, para
fazer as articulações políticas exigidas e para implantar
as medidas que vierem a ser aprovadas.
Por último, no caso de uma eleição direta, como vem
sendo defendido e proposto principalmente pela
esquerda no país, além de mudanças na ordem
constitucional, que demandam tempo, também o tempo
exigido para a sua preparação e realização, mostra que
isso não ocorrerá, com otimismo, antes do final do ano,
sem considerar os custos que uma eleição representa.
Enquanto isso, o país continuaria praticamente sem
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governo e, o que for eleito, também não disporá de
tempo suficiente sequer para organizar seu governo, a
menos que não se limitasse a um mandato tampão de
um ano, mas que o mesmo fosse definido para um
mandato normal de quatro anos. Mesmo assim, faltam
candidatos confiáveis para a população em condições de
assumir as responsabilidades e desafios deste cargo.
A verdade é que o Brasil, pela falta de compromissos dos
políticos com a população, preocupados apenas com seus
interesses particulares e familiares, foi jogado numa
encruzilhada que não parece oferecer qualquer saída e
que a réstea de luz lançada na economia neste primeiro
trimestre pode rapidamente se apagar e trazer de volta a
recessão nele instalada desde 2014. Se a política
econômica, que até então não vinha conseguindo acertar
o passo, à espera de um improvável ajuste fiscal
convincente nas condições atuais, deve, na ausência de
uma referência presidencial legitimada, pode perder-se
ainda mais ante o desafio de arrumar uma economia que
precisa urgentemente de correções estruturais. Por tudo
isso, não são pequenos os riscos de o Brasil ver abortado
este ensaio de recuperação do primeiro trimestre e de
retornar à trajetória recessiva que vem trilhando desde
aquele ano.
Em busca dos principais condicionantes da recente
trajetória da inflação no país, será feita uma exposição
dos dados obtidos a partir de diferentes índices. Para
tanto, será comparada a evolução da inflação no ano de
2016 com a de 2015, bem como sua trajetória entre
2. INFLAÇÃO
12. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 11
janeiro e maio de 2017 com a do mesmo período do ano
passado.
O panorama é de que a inflação sofreu uma sensível
redução. Esse processo só pode ser compreendido
considerando a crise brasileira e as reviravoltas da
política econômica. Assim, a guinada ortodoxa no final
do primeiro mandato de Dilma, a divulgação do
"programa" "Ponte para o Futuro”, do PMDB, no final de
2015, e a Aprovação da PEC do "teto dos gastos", ao
final de 2016, são alguns episódios relevantes.
Pode-se constatar que, sobretudo a partir último
semestre de 2016, a inflação desacelerou fortemente,
chegando perto ao centro da meta, que desde 2005 está
fixado em 4,5%. Após dois anos consecutivos de queda
do PIB, de 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, a economia
brasileira ainda apresenta os sintomas daquela que é
uma das maiores crises da nossa história. Não cabe aqui
debater suas origens e natureza, apenas recordar
algumas das contundentes respostas governamentais ao
seu recrudescimento: o encarecimento do crédito por
meio da elevação das taxas de juros; a redução de
gastos estatais; a desvalorização do real; e a redução
dos controles dos preços administrados. Todas essas
medidas acabaram por reforçar a tendência recessiva da
economia brasileira.
Assim, além da redução do nível de atividade, vê-se, a
partir de 2015, uma forte elevação do desemprego, do
nível de capacidade ociosa; do endividamento privado;
da inadimplência; bem como uma contundente redução
do consumo e do investimento privado. Como se sabe,
esse conjunto de fatores compete para o processo de
queda da inflação.
Nesse contexto, mesmo a disposição de preservação das
margens de lucro mediante elevação de preços, por
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parte de oligopólios e oligopsônios, vê-se comprometida.
A inflação atinge, assim, um patamar historicamente
baixo, pari passu ao trágico desempenho da economia
brasileira.
IPCA e INPC
Dentre os principais indicadores na mensuração da
inflação no Brasil ganha destaque o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
tendo por base a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
feita em 2008-9.
O IPCA abrange as famílias nas áreas urbanas com
rendimentos de um a quarenta salários mínimos, seja
qual for sua fonte de rendimento. Ele é a principal
referência para as diretrizes da política monetária
baseada em metas de inflação.
2.1 – Inflação calculada pelo IPCA (em %)
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.
0.00
0.20
0.40
0.60
0.80
1.00
1.20
1.40
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
IPCA 2016 IPCA 2015
14. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 13
A inflação acumulada no ano de 2016, segundo o IPCA,
totalizou 6,29%, muito menor do que os 10,67%
registrados ao longo do ano de 2015. Essa tendência de
queda se acelera a partir do último trimestre de 2016.
Entre maio de 2016 e maio de 2017 o indicador
apresentou uma variação acumulada de 3,6%, portanto,
abaixo da meta de inflação anual.
2.2 – Inflação calculada pelo IPCA (em %)
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.
O IPCA no acumulado do ano de 2017, entre os meses
de janeiro e maio, encontra-se em 1,41%,
expressivamente menor quando comparado com o
acumulado do mesmo período no ano anterior, de
3,99%. Considerando os grupos de mercadorias e
serviços que constituem esse índice, a desaceleração
verificada no ano de 2017, incidiu, sobretudo, nos
grupos de "alimentos e bebidas"; "vestuário"; "saúde";
"despesas pessoais" e "educação".
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
Jan Fev Mar Abr Mai
2016 2017
15. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 14
Esses grupos, apesar de apresentarem uma elevação nos
preços no período, desaceleraram fortemente quando
comparados com a trajetória verificada no mesmo
período do ano anterior; isso ocorre em particular nos
grupos de "alimentação e bebidas" (5,98%) e de saúde
(2,97%). Vale ressaltar que apenas os grupos de
"habitação" e "comunicação" tiveram crescimento nessa
comparação, de respectivamente 1,21% e 0,59%; e que
os setores de "artigos de residência" e de "transporte"
foram os setores que apresentaram queda no acumulado
dos cinco meses, respectivamente de -0,72% e -0,33%.
No grupo "artigos de residência" destaca-se o item
"aparelhos eletroeletrônicos" (-1,9%).
Outro indicador na mensuração da inflação pelo IBGE é o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (INPC),
que difere do IPCA em sua abrangência, já que considera
as famílias com rendimentos mensais de 1 a 5 salários
mínimos.
O acumulado no ano de 2016 foi de 6,58%, bem menor
do que o acumulado no ano de 2015 (11,28%). Trata-se
de uma trajetória decrescente como se pode observar,
porém é ainda maior do que o IPCA.
16. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 15
2.3 – Inflação calculada pelo INPC (em %)
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.
O acumulado nos cinco primeiros meses de 2017 totaliza
1,42%, e é significativamente menor comparado com o
mesmo período de 2016 (4,52%). Dentre os grupos que
compõem o índice geral, o que apresentou deflação foi o
de "artigos de residência" (-0,86%), e no que tange aos
grupos "habitação" e "comunicação" a inflação se
acelerou. Nos demais, ocorreu uma desaceleração dos
preços.
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
INPC 2016 INPC 2015
17. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 16
2.4 – Inflação calculada pelo INPC (em %)
Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE.
IGP-DI e IGP-M
O Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) é o órgão da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) responsável pelo cálculo
do Índice Geral de Preços. Este índice é muito
importante, pois separa os setores da economia e afere
quais áreas estão sendo mais afetadas pela inflação.
O Índice Nacional de Custo de Construção (INCC)
representa 10% do cálculo do IGP, e mede a variação de
preços na construção civil, tanto da mão de obra, como
dos materiais utilizados. O Índice de Preços ao
Consumidor (IPC) possui um peso de 30% do IGP e
mede a variação de preços dos produtos consumidor por
famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos, com base
na POF de 2008-9. O que tem maior influência é o Índice
de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com um peso de
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
5
jan fev mar abr mai
2016 2017
18. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 17
60% no cálculo do IGP, e que mede a variação de preços
do mercado atacadista.
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-
DI) registra a inflação do primeiro ao último dia do mês
de referência. Há também o IGP-M (Índice Geral de
Preços do Mercado), cujo levantamento é realizado entre
o dia 21 do mês anterior até o dia 20 do mês atual, e
que serve de parâmetro para o reajuste de aluguéis, de
tarifas públicas, dentre outros.
O IGP é muito importante, pois mede a inflação global da
economia, dos produtos agrícolas básicos, passando por
todos os processos produtivos até os bens e serviços
finais.
Entre janeiro e maio de 2017, o IGP-DI registrou uma
deflação de 1,3%, que contrasta fortemente com a
elevação de 4,09% ocorrida no mesmo período de 2016.
O INCC e o IPC apresentaram forte desaceleração, mas
foi o IPA que competiu para a deflação do índice: com
exceção para os "bens intermediários" de exportação,
todos os itens que compõe este índice apresentaram
variação negativa, com destaque para "matérias-primas
brutas" (-14,88%), no que tange aos estágios da
produção; e para os "produtos agropecuários" (-
11,92%); e "produtos industriais" (-2,94%), no que
tange à origem dos produtos. Como mencionado, a
trajetória descendente do índice geral de preços é
condicionada por múltiplos fatores, em particular pelo o
cenário de crise da economia brasileira, com um elevado
nível de capacidade ociosa e de desemprego, e uma
tendência à diminuição do crédito para empresas e
famílias.
19. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 18
2.5 Evolução do IGP-DI (em %)
Fonte: elaboração própria com os dados do IBRE
Já o IGP-DI acumulado no ano de 2016, registrou
7,18%, um recuo ante o acumulado no ano de 2015, de
10,7%.
- 2.00
- 1.50
- 1.00
- 0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
Jan Fev Mar Abr Mai
2016 2017
20. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 19
2.6 Evolução do IGP-DI (em %)
Fonte: Elaboração própria com os dados do IBRE
Os principais condicionantes do abrupto crescimento da
inflação no ano de 2015 foram os aumentos das tarifas
de energia e dos combustíveis, bem como a
desvalorização cambial. O IPA-DI variou 11,31%, no
acumulado do ano. O principal responsável por esse
movimento foi o subgrupo Bens finais, cuja variação
registrou 12,65%. O IPC-DI registrou variação positiva,
no acumulado do ano, em todas as classes de despesa
componentes do índice.
Já no ano de 2016 o IGP-DI acumulou 7,18%; o IPA-DI
recuou para 7,73%, no acumulado do ano, período em
que o subgrupo "bens intermediários’’ registrou alta de
1,95%, muito por conta do arrefecimento dos preços
administrados. O IPC-DI registrou desinflação, no
-2.00%
-1.50%
-1.00%
-0.50%
0.00%
0.50%
1.00%
1.50%
2.00%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
2015 2016
21. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 20
acumulado do ano, em cinco das oito classes de despesa
componentes do índice.
Já o IGP-M acumulado no ano de 2016 registrou
elevação de 6,98%, um recuou ante o acumulado no ano
de 2015, de 10,08%. Em relação a 2017, mantém-se a
tendência à desaceleração: os primeiros cinco meses do
ano fecharam em um acumulado de -1,3%, um recuo em
comparação com os primeiros cinco meses de 2016 que
variou positivamente em 4,09%.
2.7 Inflação calculada pelo IGP-M (em %)
Fonte: Elaboração própria com os dados do IBRE
-1.50%
-1.00%
-0.50%
0.00%
0.50%
1.00%
1.50%
2.00%
2.50%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
2015 igp-m 2016 igp-m 2017 igp-m
22. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 21
Índice de custo de vida e cesta básica
Segundo o DIEESE (2014), o Índice de Custo de Vida
(ICV) foi criado em 1959 e calcula mês a mês as
transformações ocorridas nos preços da cesta de famílias
da cidade de São Paulo que possuam renda entre 1 a 30
salários mínimos.
Para tanto, toma-se como base uma cesta de bens e
serviços definida por meio da Pesquisa de Orçamento
Familiar (POF) ocorrida em 1994/95. Na presente análise
será utilizado o índice geral, que abrange todos os
estratos, ou seja, todos os domicílios.
Conforme divulgado pelo DIEESE, o Índice Geral
acumulado para o ano de 2015 foi de 11,46%. Dos dez
itens que fazem parte da base de cálculo para o ICV
apenas "habitação" (15,70%) e "transporte" (15,13%)
apresentaram elevações.
Em 2016 a variação acumulada foi de 6,15%, inferior em
5,31 pontos em relação ao ano anterior. Nesse caso, seis
dos dez itens apresentaram aumento nos preços. Os
grupos com maior destaque foram "despesas diversas"
(12,76%) e "despesas com gastos pessoais" (11,03%).
23. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 22
2.8 – Variação do índice custo de vida (em %)
Fonte: elaboração própria com os dados do DIEESE
De janeiro a maio deste ano, o ICV apresentou uma
variação acumulada de 1,10%, menor que os 4,25% no
mesmo período de 2016. Nesses meses de 2017, o
grupo que apresentou a variação positiva mais
expressiva foi o de "literatura", com elevação de 6,85%,
enquanto a menor variação foi a do grupo de
"transporte", com –2,18%.
Por outro lado, de janeiro a maio de 2016, os itens que
apresentaram elevação mais acentuada foram o de
"despesas pessoais" (12%) e de "literatura" (7,78%).
0
0.5
1
1.5
2
2.5
%ICV
ICV 2015 ICV 2016
24. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 23
2.9 – Variação do índice custo de vida (em %)
Fonte: elaboração própria com os dados do DIEESE
O DIEESE, de igual modo, elabora pesquisa sobre os
preços da Cesta Básica de Alimentos. A metodologia
aplicada para esse cálculo tem por base o Decreto Lei nº
399, o mesmo que regulamenta o Salário Mínimo
Brasileiro. Essa pesquisa analisa o comportamento
mensal dos preços de 13 produtos alimentícios que
compõe a Cesta Nacional Básica nas 27 capitais
nacionais, bem como o gasto que um trabalhador teria
para adquiri-las.
Nos meses finais de 2016, observa-se uma tendência à
diminuição no custo da cesta básica: em novembro o
valor acumulado da cesta básica começou a suavizar,
apresentando uma média de R$ 403,72 e a diminuição
prosseguiu nos meses seguintes. No mês de novembro
de 2016, Vitória apresentou uma cesta com preço de R$
438,00, maior que a média nacional.
Em maio de 2017, o custo da cesta básica apresentou
comportamento diversificado, ocorrendo elevação nos
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
%IVC
Índice Geral 2017 Índice Geral 2016
25. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 24
preços dos alimentos que compõe a cesta em onze
capitais, e queda em dezesseis capitais, segundo dados
fornecidos pelo DIEESE.
As elevações de maior destaque correspondem a Recife,
São Paulo e Aracaju com, respectivamente, 2,89%,
2,83% e 1,96%. E as maiores quedas foram das cidades
de Fortaleza (-4,39%), Palmas (-4,25%) e Salvador (-
4,18%).
Vitória ficou na quarta posição em relação a maior queda
no custo da cesta básica, apresentando -2,20%. Neste
mês podemos destacar o aumento nos preços da batata,
da manteiga e do pó de café.
Dentre as cidades que possuíram a maior cesta básica
destacam-se Porto Alegre, São Paulo e Florianópolis, que
apresentaram os seguintes valores, respectivamente: R$
460,65, R$ 458,93, R$ 446,52.
Vitória, por sua vez, ocupa a 6ª posição entre os maiores
valores (R$ 422,03). E as que apresentaram menores
valores destacam-se Rio Branco e Salvador com valores
de, respectivamente, R$ 333,15 e R$ 351,00.
Destaque-se ainda que o salário mínimo para que sejam
atendidas as necessidades de uma família de quatro
pessoas no período de maio de 2017 deveria ser de R$
3.869,92, bem distante do salário mínimo vigente no
período, de R$ 937,00.
26. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 25
2.10 Evolução do Custo da Cesta Básica
Fonte: elaboração própria com os dados do DIEESE
Da análise precedente, pode-se notar que todos os
índices expressam uma forte desaceleração inflacionária.
Como não poderia deixar de ser, vê-se que cada ramo da
economia é afetado de modo peculiar e com uma
temporalidade própria, em função de questões
estruturais e conjunturais.
O que cabe destacar é que, de acordo com o discurso
oficial e com a abordagem econômica convencional, a
referida desaceleração seria uma grande conquista,
prova cabal da correção das "políticas de austeridade"
ora em curso.
Dessa ótica, a inflação seria um desequilíbrio a ser
combatido incessantemente, e seu "controle"
representaria um louvável feito governamental, gerando
condições para a recuperação da economia brasileira.
0.00
100.00
200.00
300.00
400.00
500.00
600.00
Jan-16
Feb-16
Mar-16
Apr-16
May-16
Jun-16
Jul-16
Aug-16
Sep-16
Oct-16
Nov-16
Dec-16
Jan-17
Feb-17
Mar-17
Apr-17
May-17
R$Reais
Porto Alegre São Paulo Vitória Rio Branco Natal
27. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 26
Do exposto, pode-se realizar uma leitura diversa: a
queda da inflação seria não o resultado de um conjunto
de políticas econômicas coerentes e implementadas de
modo eficaz, mas antes uma expressão da crise
econômica, exprimindo a gravidade da situação atual e o
pessimismo em relação ao futuro da economia.
Logo, a inflação é um fenômeno complexo, que não pode
ser analisado de modo isolado, e tampouco em termos
morais ou dogmáticos. Ao contrário, deve ser situado
dentro de um quadro mais amplo, tendo em vista a
singularidade do momento que atravessa o país, nada
promissor, conforme indicado pelo conjunto das análises
expostas neste boletim.
PIB
Desde 2014 o Brasil tem enfrentado grandes dificuldades
para a retomada de seu crescimento, reflexo de um
cenário de instabilidade política e econômica que se
intensificou em 2015. De acordo com o IBGE, a
economia brasileira registrou, em 2016, nova contração
do PIB (-3,6%), em relação ao ano anterior. Sendo a
segunda queda anual consecutiva, no acumulado de
2015 e 2016, a economia brasileira encolheu 7,2%. E em
2017, apesar da euforia governamental com o aumento
de 1% do PIB no primeiro trimestre do ano, em relação
ao último trimestre de 2016, quando comparado com o
acumulado de igual período do ano anterior a variação
do PIB apresenta queda de 0,4%.
Em decorrência da queda do PIB em 2016, seu valor per
capita nominal alcançou R$ 30.407, após ter recuado
(em termos reais) 4,4% em relação ao ano anterior. Em
3. NÍVEL DE ATIVIDADE
28. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 27
valores correntes, o maior agregado macroeconômico
brasileiro alcançou R$ 6,3 trilhões no ano passado, sendo
R$ 5,4 trilhões referentes ao Valor Adicionado a preços
básicos e R$ 852,3 bilhões de Impostos sobre Produtos
Líquidos de Subsídios.
Pela ótica da oferta, essa contração foi acompanhada por
uma retração generalizada em todos os setores, sendo a
primeira vez desde 1996, que indústria, serviços e
agropecuária, ao mesmo tempo, sofreram retração em
relação ao ano anterior.
O setor agropecuário apresentou queda de 6,6%, no
acumulado do ano de 2016 em relação ao ano anterior,
sendo a pior retração desde 1996, ficando a agricultura
como maior responsável pelo desempenho negativo do
setor, em razão, principalmente, do clima, que afetou
fortemente a produção no campo. Conforme o
Levantamento Sistemático da Produção Agrícola
(LSPA/IBGE), divulgado em fevereiro de 2017, culturas
importantes como milho, café e mandioca registraram
quedas significativas, 25,7%, 15,5%, 2,8%,
respectivamente, na estimativa anual de produção e
perda de produtividade.
Já a Indústria apresentou uma queda de 3,8% em 2016,
tendo como principal fator negativo o comportamento da
Indústria de transformação, a qual apresentou contração
de 5,2% ao longo daquele exercício. Esse resultado foi
influenciado, principalmente, pelo decréscimo da
fabricação de máquinas e equipamentos, indústria
automotiva, produtos farmacêuticos, metalurgia,
alimentos e bebidas, móveis, etc. No entanto,
considerando os dados do primeiro trimestre de 2017
com relação ao último trimestre do ano anterior, a
Indústria apresenta um pequeno resultado positivo, de
0,9%.
29. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 28
O único destaque positivo na atividade industrial em
2016 foi o desempenho do subsetor Eletricidade e gás,
água, esgoto e limpeza urbana, que registrou expansão
de 4,7% em relação a 2015. Isso se deveu ao efeito da
decisão do Governo Federal de substituição de
termelétricas por hidrelétricas no fornecimento de
energia elétrica no país entre os dois períodos.
TABELA 3.1 - Brasil: Taxa Acumulada ao Longo do Ano (variação em volume
em relação ao mesmo período do ano anterior – %)
Setor de Atividade 2015.IV 2016.I 2016.II 2016.III 2016.IV 2017.I
Agropecuária 3,6 -8,3 -7,3 -6,9 -6,6 15,2
Indústria -6,3 -7,0 -5,0 -4,3 -3,8 -1,1
Extrativa Mineral 4,8 -9,2 -7,1 -5,1 -2,9 9,7
Transformação -10,4 -10,4 -7,5 -6,1 -5,2 -1,0
Construção Civil -6,5 -5,0 -4,1 -4,4 -5,2 -6,3
Prod. e
distrib.eletricidade, gás e
água
-1,5 3,8 6,2 5,6 4,7 4,4
Serviços -2,7 -3,5 -3,1 -2,8 -2,7 -1,7
Comércio -8,7 -10,5 -8,6 -7,2 -6,3 -2,5
Transporte, amarzenagem
e correio
-6,6 -7,3 -6,6 -6,9 -7,1 -2,2
Serviços de informação -0,5 -4,5 -3,8 -3,1 -3,0 -0,3
Intermediação financeira,
seguros...
-0,8 -1,3 -2,1 -2,5 -2,8 -4,0
Outros serviços -1,9 -3,3 -3,6 -3,2 -3,1 -1,8
Ativ. imobilárias e aluguel -0,1 0,2 0,3 0,2 0,2 -0,6
Adm. saúde e educação
públicas
-0,1 -0,1 0,2 0,2 -0,1 -0,7
Valor adicionado a
preços básicos
-3,2 -4,6 -3,8 -3,4 -3,1 -0,3
Impostos líquidos sobre
produtos
-7,0 -10,2 -8,7 -7,4 -6,4 -0,8
PIB a preços de
mercado
-3,8 -5,4 -4,5 -4,0 -3,6 -0,4
Despesa de consumo das
famílias
-3,9 -5,8 -5,3 -4,7 -4,2 -1,9
Despesa de consumo da
adm. Pública
-1,1 -0,8 -0,6 -0,7 -0,6 -1,3
Formação bruta de capital
fixo
-13,9 -17,3 -13,1 -11,6 -10,2 -3,7
Exportação de bens e
serviços
6,3 12,7 7,9 5,2 1,9 1,9
Importação de bens e
serviços (-)
-14,1 -21,5 -16,0 -13,1 -10,3 9,8
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
30. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 29
O setor de Serviços também apresentou queda em 2016,
2,7% em relação a 2015. Entre os subsetores que
compõe os Serviços, somente atividades imobiliárias
apresentaram resultado positivo e, ainda assim, muito
tímido (0,2%). A pressão sobre o consumo pesou no
desempenho do setor de serviços, e, dentre as possíveis
causas para esse comportamento negativo, estão a
escassez de crédito, o aumento no endividamento das
famílias, o desemprego. Tais fatores reduzem o poder de
compra e o consumo agregado, afetando diretamente o
seu desempenho. No entanto, ao contrário da Indústria,
o Setor de serviços vem ganhando participação relativa
no PIB correspondendo a 73,3% do principal agregado
macroeconômico do país.
Pela ótica do gasto, composta pelo Consumo das
Famílias, Consumo do Governo, Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF) e Exportações Líquidas, um
componente que vem apresentando queda expressiva
desde 2014 é a Formação Bruta de Capital fixo, a qual
indica o nível dos gastos de investimento. Assim, pode-
se afirmar que, em 2016, a contração dos investimentos
foi da ordem de 10,2%. Este recuo é justificado,
principalmente, pela queda das importações de bens de
capital, pelo desempenho negativo da construção civil,
além da recessão global. Tal resultado da FBCF levou a
taxa de investimento da economia brasileira a fechar o
ano em 16,6% do PIB, o nível mais baixo da série
iniciada em 1995. Com relação aos condicionantes
externos, a desaceleração mundial impacta
profundamente as economias altamente dependentes da
produção de commodities, como é o caso do Brasil.
A Despesa de Consumo das Famílias, principal
componente do PIB pelo lado da demanda, registrou
retração de 4,2% em 2016 quando comparada a 2015.
31. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 30
Este resultado se justifica com base no comportamento
dos indicadores de juros, crédito, emprego e renda ao
longo de 2016. A deterioração do mercado de trabalho
foi o principal fator para reduzir a demanda das famílias,
corroendo o poder de compra das mesmas. Como se
pode perceber, a redução da inflação, não se refletiu no
aumento do consumo.
A Despesa de Consumo do Governo, que inclui as esferas
municipal, estadual e federal, por sua vez, também
apresentou queda de 0,6% em 2016, na comparação
com o ano imediatamente anterior.
No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços
cresceram 1,9%, enquanto as Importações
apresentaram contração de 10,3% ao longo do ano de
2016, muito por conta do quadro recessivo que se
instalou, além da influência do câmbio. Entre os produtos
e serviços da pauta de exportações, os maiores
aumentos foram observados em petróleo e gás natural,
açúcar, automóveis, embarcações e outros equipamentos
de transporte.
Já entre as importações, as maiores quedas foram
observadas em máquinas e equipamentos, automóveis,
materiais elétricos, petróleo e derivados, bem como os
serviços de transportes.
Importante destacar ainda que algumas mudanças
metodológicas feitas pelo IBGE no início de 2017, que
dizem respeito ao cálculo do desempenho do setor de
serviços e vendas no varejo, podem ter influenciado de
maneira positiva, mas apenas estatisticamente, os
resultados agregados. Afinal, os pesos de alguns
subsetores foram alterados (as vendas dos
supermercados perderam peso no conjunto do comércio,
enquanto as vendas de combustíveis ganharam peso). A
base de comparação das pesquisas mensais passou de
32. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 31
2011 para 2014 – ano de menor crescimento. Além de
ter atualizado o cadastro de empresas entrevistadas,
algumas entraram e as que foram fechadas saíram.
Tais mudanças, no geral, acabam por impactar
positivamente o resultado de índices como emprego,
inflação, vendas no varejo, comércio e consumo das
famílias, o que gerou uma onda de críticas ao Instituto e,
em especial, ao presidente do IBGE, Paulo Rabello de
Castro, posto sob suspeição de tentar maquilar os
resultados da atividade econômica com fins políticos.
Indústria
A produção da indústria brasileira, de acordo com o
IBGE, terminou o ano de 2016 com uma queda de 6,6%
no acumulado do ano, completando três anos
consecutivos de resultados negativos para o setor.
Fato relevante foi que a maioria dos segmentos da
indústria mostrou resultados negativos durante o
exercício 2016, como comprovam os desempenhos das
indústrias extrativas (-9,4%), de coque, produtos
derivados do petróleo e bicombustíveis (-8,5%), além de
veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,4%).
Já na outra ponta, as maiores influências positivas
partiram de produtos alimentícios (0,6%) e de celulose,
papel e produtos de papel (2,5%). De acordo com dados
publicados pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI), o faturamento real da indústria caiu 12,1%, em
2016.
Em abril de 2017, quando se toma o acumulado dos
últimos 12 meses e se compara com igual período
anterior, ou seja, maio de 2015 a abril de 2016,
novamente é observada queda (-3,6 %), repetindo-se,
assim, a tendência negativa observada desde junho de
2016. Ainda na mesma base de comparação, as quatro
33. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 32
grandes categorias econômicas da indústria apresentam,
todas, resultados negativos, como bens de capital (-
1,2%), bens de consumo intermediário (-3,8%), bens de
consumo duráveis (-3,0%) e bens semi e não duráveis (-
3,9%).
Os principais setores que contribuíram negativamente
para esse resultado foram, a exemplo de 2016, a
indústria extrativa (-0,35%) e a de coque, produtos
derivados de petróleo e biocombustível (-1,30%),
acrescidos ainda da indústria de produtos alimentícios (-
0,25%) e a de minerais não metálicos (- 0,25%).
Olhando-se para o acumulado de janeiro a abril 2017,
observa-se a décima queda consecutiva, desta vez da
ordem de (-0,7%), com destaque para a queda na
produção de alimentos (carnes de bovinos congeladas e
sucos concentrados de laranja e açúcar cristal e VHP) (-
6,2%), medicamentos (-15,0%) e na de coque e
produtos derivados de petróleo e biocombustível(-9,1%),
devida a queda na produção de álcool etílico e óleos
diesel.
Comércio
As vendas do comércio varejista brasileiro caíram 6,2%,
em 2016, quando comparadas às de 2015, de acordo
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), perfazendo assim a maior queda observada na
série histórica do indicador desde 2001. Em 2016, quase
todos os subsetores apresentaram taxas negativas, e o
que mais influenciou a queda geral do índice do varejo
foram aquelas que mais representam o consumo da
classe trabalhadora, ou seja, as vendas de
hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
bebidas e fumo (-3,1%), que tiveram o pior resultado
desde 2003.
34. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 33
Ainda de acordo com o mesmo instituto, a pressão
inflacionária o aumento das taxas de juros, o
desemprego e o enfraquecimento do mercado de
trabalho ao longo de 2016 podem ser apontados como as
principais causas da queda nos índices de consumo e
comércio.
Seguindo igual tendência, o ano de 2017 começou
apresentando taxas negativas no que tange ao comércio
varejista nacional, tanto para o volume de vendas
quanto para a receita nominal. Por ser um setor sensível
à variação da renda das famílias, o comércio varejista
reflete a situação econômica de crise pela qual o país
vem passando, como serve de exemplo o primeiro
trimestre de 2017, que acumulou redução de 3,0% no
comércio varejista e -5,3% nos últimos doze meses.
Notícias acalentadoras apresentadas por diversos canais
de mídia impressa e de fontes ligadas ao próprio governo
realçam uma melhora no comércio varejista em termos
da receita nominal de vendas. Isso por terem
apresentado alta de 4,2%, na comparação do acumulado
de abril de 2016 a março de 2017, contra igual período
imediatamente anterior. Não obstante, quando se
confronta tal informação com o volume de vendas para a
mesma base de comparação, é possível constatar uma
retração de 3,2%. Possivelmente esse aumento da
receita está vinculado a elevações de preços nesses
setores visando contrarrestar a baixa no volume de
vendas.
Em relação ao desempenho das unidades federativas, o
acumulado de 2016 quando comparado ao de 2015
mostrou redução no volume de vendas do Comércio
Varejista em praticamente todas as regiões. Das 27
Unidades da Federação, 26 apresentaram taxas
negativas, com exceção de Roraima que obteve avanço
35. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 34
de 1,2 % sendo o único estado em que o comércio
varejista apresentou avanços em 2016. Os destaques
negativos, em termos de magnitude de taxa, são o do
Amapá (-18,1%), Pará (-13,1%), Rondônia (-12,3%) e
Bahia (-12,1%).
Tabela 3.2– Taxa de variação do volume de vendas para as principais
atividades (%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.
As famílias estão consumindo menos e um dos principais
motivos é o avanço do desemprego que já atinge uma
taxa de 13,7% no primeiro trimestre de 2017, segundo
dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) Contínua, divulgados pelo IBGE. O
desempenho negativo do volume de vendas é
influenciado, sobretudo, pelo setor de Hipermercados,
supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo
que foi responsável por 57,0% da redução no total do
varejo.
Atividades
2015 2016
1º tri 2º tri 3º
tri
4º
tri
1º
tri
2º
tri
3º
tri
4º
tri
Comércio varejista -1,3 -2,5 -2,7 -0,7 -2,7 -0,6 -1,6 -1,2
Combustíveis e lubrificantes -4,2 -1,2 -2,9 -3,5 -3,1 -1,1 -2,1 -1,6
Hiper.,Super., Alim., Beb. e
Fumo -0,5 -1,3 -2,2 0,8 -2,2 0,3 -0,8 -1,8
Tecidos, vest.e calçados -3,3 -4,9 -3,1 -1,6 -5,3 0,6 -5,4 -1,2
Móveis e eletrodomésticos -4,6 -7,0 -5,2 -1,3 -4,7 -2,0 -3,3 -1,1
Artigos farmacêuticos -0,1 0,7 -1,3 2,0 0,1 -3,2 -2,0 0
Livros, jornais, rev. E
papelaria -2,8 -2,8 -5,9 -4,3 -4,4 -6,9 -2,4 -1,8
Equip e mat. para escritório
4,6
-
10,8 -6,2 -3,9 0,4 -6,5 -1,0 2,2
Outros art. de uso pessoal e
doméstico
2,7 -5,5 -1,6 -3,7 -5,0 -0,4 -1,6 2,4
Comércio Varejista
ampliado
-4,1 -3,8 -2,7 -2,4 -1,9 -2,5 -2,6 -0,9
Veic. e motos, partes e Peças -
11,6
-4,6 -3,1 -5,4 -0,8 -7,0 -4,3 -0,5
Material de Construção -3,5 -4,4 -3,1 -4,4 -2,4 -2,6 -1,1 -1,1
36. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 35
Na comparação do primeiro trimestre de 2017 com igual
trimestre de 2016, o volume de vendas do comércio
varejista registrou recuo de 3,0%. Apesar disso, quando
comparado com o trimestre imediatamente anterior, o
volume de vendas apresentou resultado positivo de
3,3%. Entre outros motivos, estão os saques realizados
nas contas inativas do FGTS que já injetaram R$ 5,5
bilhões na economia, embora parcialmente nem todo
montante seja absorvido pelo consumo. Este
desempenho positivo não era observado desde o último
trimestre de dezembro de 2014, quando a taxa de
variação foi 1,4%.
O volume de vendas do varejo ampliado, que inclui os
setores de veículos, motos, partes e peças e de material
de construção também obteve redução na queda
passando de -8,1% no segundo semestre de 2016 para -
4,8% em janeiro de 2017 influenciado pelo setor se
veículos, motos, partes e peças que passou de -14,2%
para -4,6% e de material de construção (de -8,4% para
-0,3%).
ESPÍRITO SANTO
PIB Capixaba
A economia capixaba, em 2015, já apresentava um ritmo
de desaceleração. Em 2016, essa tendência se agravou e
o cenário foi de retração em todos os setores
econômicos. O resultado negativo mais expressivo foi
apresentado pela indústria extrativa, que sofreu os
efeitos do desastre ocorrido em Mariana-MG. Dados do
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) apontam
retração de 12,2% do PIB estadual em relação a 2015,
pior resultado para esse agregado desde 2009. Por sua
vez, o último trimestre do ano de 2016, frente ao
37. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 36
terceiro trimestre do mesmo ano, apresentou variação
positiva de 1,6%. Já o primeiro trimestre de 2017 houve
estabilidade no acumulado do ano e crescimento de
2,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
GRÁFICO 3. 1 - Indicador do PIB Trimestral do Espírito Santo
Fonte: Coordenação de Estudos Econômicos – CEE/IJSN.
Elaboração própria.
Agricultura e Indústria foram as atividades que
apresentaram perdas mais expressivas, no acumulado do
ano de 2016. O rompimento da barragem de Fundão e a
posterior paralisação das unidades da Samarco no
Estado surtiram efeito sobre a produção da Indústria
Extrativa, contribuindo para uma queda de 31,0%, a
maior dentre os setores. Numa menor intensidade, a
Indústria de Transformação recuou 1,5%. A retração da
Indústria Geral capixaba atingiu 18,8%.
-0.1
0.6
6.0 6.6 6.9
1.4
-1.7
-9.6
-13.1
-13.8 -14.5
-6.9
0.0
-0.1
0.3
2.2
3.3
6.8
3.9
1.9
-1.1
-13.2
-13.5
-13.9
-12.2
0.0
-1.1
3.0 3.3
1.2
-0.8
-1.9
-0.5
-6.7
-3.9 -3.3
-1.5
1.6 2.3
-20.0
-15.0
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
Variação em relação ao mesmo trimestre do ano anterior
Acumulado ao londo do ano / mesmo período do ano anterior
Trimestre contra trimestre imediatamente anterior com ajuste sazonal
(%)
38. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 37
No primeiro trimestre de 2017, o desempenho da
Indústria capixaba teve incremento de 4,0%, primeiro
resultado positivo desde a tragédia de Mariana-MG. O
principal destaque positivo, neste período, ficou por
conta da Indústria Extrativa, que cresceu 6,5%, seguida
por Metalurgia, 5,7% e Fabricação de produtos
alimentícios, 4,2%. A Indústria de Transformação obteve
resultado positivo de 1,6%. O destaque negativo foi
observado no segmento de Fabricação de celulose, papel
e produtos de papel, com retração de 9,1%.
A produção de café Conilon caiu expressivamente em
2016, retraindo 32,5%, em relação à produção de 2015.
Esse recuo pela produção de café e por outros produtos
agrícolas capixabas foi provocado, em parte, pela grave
crise hídrica que assolou o Estado. Apesar da crise
hídrica, a produção de café Arábica expandiu 27,7%.
Segundo pesquisadores do Instituto Capixaba de
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
(INCAPER), isso foi possível, pois o cultivo dessa
variedade se dá em regiões acima de 500m de altitude,
onde a temperatura é mais amena e as chuvas foram
mais intensas, mais uniformes e mais bem distribuídas.
Ademais, essas chuvas ocorreram no início de 2016,
período de enchimento dos grãos, quando a planta mais
necessitava de água.
No primeiro trimestre de 2017 os resultados na
agricultura capixaba foram, em sua maioria, positivos.
No que tange a produção de café a produção de Conilon
expandiu 12,0%, ao passo que a produção de café
Arábica retraiu 11,3%. O fato de as condições climáticas
sinalizarem melhora nos últimos meses teve um efeito
positivo sobre a produção de Conilon no Estado. Já a
retração da produção de café Arábica no Estado decorreu
39. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 38
da característica das safras a cada ano alternadas, um
ano de baixas safras, e outro de alta produção.
No que concerne ao comércio exterior capixaba, no ano
acumulado do ano de 2016, as importações retraíram
28,3%, enquanto que as exportações recuaram 33,6%.
As importações foram afetadas, em parte, pela condição
das empresas brasileiras, uma vez que máquinas,
equipamentos e insumos deixam de ser importados pelos
portos capixabas. Por outro lado, como a pauta das
exportações do país se concentra fortemente em
commodities, isso torna economia do estado muito
dependente do crescimento da economia mundial.
Apesar da recuperação do crescimento da China, EUA e
União Europeia, principais países importadores de
produtos do estado, as exportações mantiveram
resultados negativos, no ano de 2016, e os portos
acabaram por refletir esse cenário de retração do
comércio exterior.
No primeiro trimestre de 2017, o comércio exterior
capixaba já começou a mostrar reação frente à melhora
das condições da economia mundial. Nesse período as
exportações tiveram crescimento de 29,7% e as
importações expandiram 12,4%. Em valores monetários,
isso correspondeu a um montante de US$ 2,0 bilhões em
exportações, US$ 1,0 bilhão em importações.
O minério de ferro, que ocupa a primeira posição da
pauta do Estado, apresentou crescimento no valor das
exportações de 56,0%, atingindo a marca de US$ 523,41
milhões, em relação ao mesmo período de 2016. No
entanto, no tocante ao volume de exportação houve
recuo de 14,8%.
40. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 39
Indústria Capixaba
No acumulado nos quatro primeiros meses de 2017, a
indústria capixaba apresentou um crescimento de 4,8%
frente ao mesmo período de 2016, segundo dados da
Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) do
Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Tabela 3.3 - Produção física industrial por tipo de índice e seções e
atividades industriais
(% acumulado em relação à igual período do ano anterior)
Seções e atividades industriais / Mês
Abr/17-
Abr/16
Acum
ano
Acum12
meses
Brasil
1.Indústria geral -4,5 0,7 3,6
2.Indústria extrativa 4,4 7,2 2,7
3.Indústria de transformação -5,7 1,8 -3,7
Espírito Santo
1.Indústria geral 1,4 3,3 -11,2
2.Indústria extrativa 2,9 5,6 -19,8
3.Indústria de transformação -0,2 1,1 -0,5
FONTE: IBGE / Sidra – Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF)
O crescimento da indústria capixaba contou com o
aumento de 5,6% na Indústria Extrativa, no acumulado
até abril de 2017, impulsionado pela fabricação e óleos
brutos de petróleo, gás natural e minério de ferro. Essa
expansão coincidiu com a produção recorde da Vale
(cresceu 11,2% no primeiro trimestre), atingindo a
marca de 86,2 milhões de toneladas. Outras
contribuições importantes para o resultado positivo da
indústria capixaba vieram do setor de Metalurgia (7,0%)
e da Fabricação de Produtos Alimentícios (2,3%). O
primeiro aumento foi puxado por tubos trefilados e aço e
bobinas à quente de aço e aços ao carbono e o segundo
por carnes de bovinos frescas ou refrigeradas.
Um estímulo para o aumento na produção da Indústria
Extrativa pode ter sido o aumento nas vendas de minério
41. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 40
de ferro, aço e petróleo. Segundo coluna do jornal A
Gazeta sobre Economia Capixaba, dentre as 230
empresas que exportaram mais de R$ 100 milhões no
primeiro quadrimestre, cinco operam no Estado. Entre
elas estão Vale, Arcelor Mittal, Petrobras, Fibria e
Flexibras. O aumento nas exportações desses itens é
reflexo do cenário mais favorável na economia mundial,
com aumento no preço das commodities e das
importações chinesas, que aceleraram em 38,1% em
fevereiro deste ano.
Já a reação no preço do petróleo, deve-se à recuperação
da demanda internacional e mudanças no quadro da
oferta. A Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP), fechou acordo de redução de preços em
novembro de 2016, aderindo a produtores
independentes, em especial a Rússia. Dessa forma,
abriu-se espaço para que os EUA expandissem sua
produção a partir de fontes não convencionais, mantendo
os preços estáveis.
O principal destaque negativo da indústria capixaba ficou
por conta do segmento de Minerais não-metálicos, com
retração 7,4%. O setor de Fabricação de celulose, papel
e produtos de papel também apresentou um recuo na
produção, da ordem de 1,6%, em relação ao mesmo
período do ano anterior.
Comércio Capixaba
O ano de 2016 acumulou declínio de 10,6% no volume
de vendas do varejo restrito, com destaque para
Eletrodomésticos que recuou 34,2%. No varejo
ampliado, o desempenho do comércio também não foi
satisfatório, com retração de 15,0%. O destaque, no
varejo ampliado, ficou por conta do segmento Veículos,
motocicletas, partes e peças, com retração de 23,4%.
42. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 41
No que diz respeito à receita nominal, no acumulado de
2016, a retração foi mais suave do que no volume de
vendas. O varejo ampliado retraiu 0,4%. Já o varejo
restrito teve contração de 7,5%. No varejo ampliado, o
segmento que impulsionou tal queda, foi, novamente,
Eletrodomésticos, no varejo ampliado e Veículos,
motocicletas, partes e peças, no varejo restrito, com
quedas de 32,8% e 21,2% respectivamente.
No acumulado no primeiro quadrimestre de 2017, de
acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Comércio
(PMC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o volume de vendas do comércio
varejista restrito capixaba apresentou retraiu 11,5%.
Tabela 3.4 – Volume de vendas no varejo por atividade – Espírito Santo
(variação real% em relação ao mesmo período do ano anterior)
Atividades
Abr/17-
Abr/16
Acum
no ano
Acum 12
Meses
Comércio Varejista -4,6 -11,5 -11,2
Combustíveis e Lubrificantes -15,7 -14,2 15,6
Hiper., Super., Alim., Beb. E Fumo -13,6 -17,7 -8,1
Supermercados e Hipermercados -12,2 -16,5 -7,7
Tecidos, vestuário e calçados 45,0 5,3 -10,1
Móveis e eletrodomésticos -1,2 -4,9 -19,9
Móveis 21,4 -1,2 -23,9
Eletrodomésticos -16,2 -27,0 -23,9
Artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, de perfumaria e cosméticos
-2,7 0,0 0,2
Outros artigos de uso pessoal e
doméstico 27,8 -5,3 -12,5
Comércio Varejista Ampliado -1,7 -5,1 -10,7
Veículos, motos, partes e peças 8,0 14,3 -8,6
Material de Construção -25,2 -35,3 -16,9
Fonte: Sidra – Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).
Dentre os setores, observa-se um perfil disseminado de
quedas, com destaque para o subsetor de
eletrodomésticos, com contração de 27,0%.
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios,
bebidas e fumo tiveram, ambos, recuo de 17,7%.
43. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 42
Os resultados positivos foram apurados no segmento de
Tecidos, vestuário e calçados, 5,3%. O setor de Artigos
farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e
cosméticos apresentou estabilidade, após três meses de
crescimento. No entanto, a receita nominal do setor teve
incremento de 11,5% no acumulado até abril, refletindo
o aumento nos preços dos produtos desse segmento. A
Grande Vitória vive um boom no comércio varejista
farmacêutico, tendência que é nacional. Nos últimos dois
anos foram abertas 334 novas lojas na Grande Vitória. O
número de farmácias no Estado é cinco vezes maior do
que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Já o comércio varejista ampliado, que além do varejo
restrito, inclui Veículos, motocicletas partes e peças e
Material de Construção, também recuou de 5,0%,
puxado, principalmente, pelo subsetor Material de
Construção, que retraiu 33,6%.
Em Vitória, o percentual de famílias endividadas, chegou
a 69,3%, em maio, o que corresponde à 88.316 famílias.
Já o percentual de famílias inadimplentes atingiu 42,1%.
Famílias que afirmam que não terão condições de pagar
suas dívidas em atraso somaram 4,2%. Os dados foram
divulgados pela Pesquisa de Endividamento e
Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Federação do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-ES).
Dos consumidores de Vitória entrevistados pela Pesquisa
de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), também
realizada pela Fecomércio-ES, 80,2% afirmaram que
estão comprando menos. Quanto a perspectiva de
consumo, 79,4% dos entrevistados esperam consumir
menos no segundo semestre deste ano do que
consumiram no segundo semestre do ano passado.
44. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 43
A atividade do comércio é influenciada pela redução do
consumo, pelo desemprego e pelo aumento do
endividamento e da inadimplência. Além disso, a greve
da polícia militar teve sua contribuição para o resultado
desfavorável apresentado pela atividade do comércio.
Estima-se que em seis dias de paralisação os prejuízos
chegaram R$ 180 milhões. Nesse período
estabelecimentos permaneceram fechados e alguns
locais foram saqueados.
As reformas trabalhistas no mundo, e de maneira
semelhante no Brasil, foram aprovadas em meio a
justificativas oficiais de “modernização” da legislação
trabalhista em tempos de globalização. Um dos
argumentos para sua implantação refere-se à geração de
postos de trabalho em meio a taxas de desemprego
elevadíssimas, sobretudo entre os jovens.
Mas, segundo a OIT (2015, p. 120) 1 , “não há
significância estatística na relação entre rigidez da
legislação trabalhista e nível de emprego. Ao contrário:
países onde a desregulamentação cresceu, o nível de
desemprego aumentou no período; onde a
regulamentação se intensificou, o desemprego caiu no
longo prazo”.
Debate posto, acreditamos que a ordem dos argumentos
oficiais deve ser invertida. De fato, estamos em meio a
uma crise capitalista mundial e tais reformas, assim
como várias outras, são aprovadas como tentativa de
reverter a queda nas taxas de lucro.
1 OIT, World Employment and Social Outlook 2015: The
Changing Nature of Jobs, 2015.
4. EMPREGO E SALÁRIOS
45. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 44
Evidentemente, os prejudicados serão os trabalhadores
que, além de terem flexibilizados seus direitos
conquistados historicamente, ficam à mercê de supostas
“livre-negociações” num contexto de correlação de força
política e econômica ainda mais desigual, devido à crise.
As conquistas sociais e a proteção do trabalho são
reduzidas. Um fato já se verifica nos países que
adotaram tais reformas: a intensificação da precarização
do trabalho.
Na periferia do sistema, como o caso do Brasil, este
processo de precarização das condições de trabalho e de
vida tende a ser ainda mais intenso, considerando seu
histórico de país subdesenvolvido e com a maioria de sua
população totalmente desprovida de mínimas condições
de sobrevivência.
IBGE – PNAD contínua
Calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Economia (IBGE), a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) Contínua é um indicador, dentre
outros aspectos, da inserção da população brasileira no
mercado de trabalho.
A divulgação dos dados é feita mensalmente, porém com
duas bases de análise distintas: a mais completa, que
considera quatro trimestres fixos e que, portanto, só é
disponibilizada quatro vezes por ano, e a mensal, que
levanta os dados da média do mês da pesquisa e os dois
imediatamente anteriores a ele. A título de simplificação,
a análise se concentrará nos resultados do ano de 2016
em comparação aos de 2015, sendo também feita uma
exposição dos disponíveis em 2017.
O Brasil passa por um período que muitos consideram
como a pior crise já enfrentada em sua história. Ela,
entretanto, não se restringe ao campo econômico, vide
os acontecimentos na política. Essa, por sua vez, não
46. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 45
passa apenas por um momento de instabilidade quanto
às denúncias de corrupção, mas também atravessa um
período de aprofundamento nos mecanismos restritivos
da política econômica, afetando diretamente o nível de
emprego e salários.
Pode-se ver pelos indicadores no Gráfico 4.1 que a
tendência e os reflexos negativos nos índices se fazem
presente desde o quarto trimestre de 2014, com
constantes elevações da taxa de desocupação.
Gráfico 4.1: Evolução do índice de desocupação – PNAD (%)
Fonte: IBGE – PNAD Contínua. Elaboração própria.
Por si só esses resultados são preocupantes: de 6,5%,
no quarto trimestre de 2014, para 13,7%, no primeiro
trimestre de 2017, com a expressiva alta de 7,2 p.p. –
há mais de dois anos a tendência é de alta.
Afinal, não se trata apenas de uma taxa, mas também
representa as dificuldades enfrentadas no período por
7%
7,90%
8,30%
8,90%
9,00%
10,90%
11,30%
11,80%
12,00%
13,70%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
2014/4 2015/1 2015/2 2015/3 2015/4 2016/1 2016/2 2016/3 2016/4 2017/1
47. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 46
aqueles que perderam o trabalho. Porém, ele traz algo
mais preocupante: essa elevação foi puxada
principalmente pela diminuição do número de
empregados no setor privado com carteira assinada, que
é a categoria com o maior “peso” dentre as que o IBGE
divide na pesquisa. Do primeiro trimestre de 2015 a
igual período de 2017, o número de trabalhadores nessa
situação caiu 7,38%.
Notou-se um processo de “migração de empregos”, ou
seja, enquanto a categoria de empregados no setor
privado com carteira assinada apresentou significativa
queda, a dos que trabalham no setor privado sem a
carteira assinada (+1,33%) e os chamados “conta-
própria” (+1,55%) tiveram leves elevações em seus
contingentes no mesmo período.
Não é demais afirmar que esta última representa o
núcleo central da informalidade. Portanto, além da
grande perda de empregos no período é observável
simultaneamente um processo que se apresenta como a
precarização das condições de trabalho, visto que essas
tendem a ser piores no núcleo informal em comparação
ao formal.
Situação que consegue ser mais preocupante que a do
Brasil é a do Espírito Santo (Gráfico 4.2). O Estado, que
vinha apresentando taxas de desocupação abaixo da
média nacional, ultrapassou no quarto trimestre de 2015
essa média. Ou seja, de uma taxa de 6% no quarto
trimestre de 2014, atingiu-se 14,4% no primeiro
trimestre de 2017, elevação expressiva de 8,4 p.p..
Enquanto para a maioria das categorias a tendência foi a
mesma da apresentada nacionalmente no período
(queda nos com carteira assinada e
aumento/estabilidade nos sem carteira assinada) uma se
destacou, a do “Trabalhador auxiliar familiar”.
48. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 47
Apesar da pouca quantidade de pessoas se comparado
com as outras categorias pesquisadas (cerca de 76 mil
no primeiro trimestre de 2017) esse tipo de categoria
apresentou uma dinâmica muito peculiar. No ano de
2015 o número de trabalhadores nela inseridos sofreu
sucessivas quedas (chegando a -19,1% no quarto
trimestre), o que continuou até o terceiro trimestre de
2016. Porém, esse segmento apresentou significativas
elevações nos últimos dois trimestres (out-dez/16 e jan-
mar/17) de 15,7% e 25,4%, respectivamente.
Quando se observa os grupamentos de atividade, a
situação do ES deve ser analisada com cuidado. Desde
2015 o que se vê é uma grande flutuação nos índices, o
que pode indicar períodos de sazonalidade
principalmente no grupo da “Agricultura, pecuária,
produção florestal, pesca e aquicultura”.
Porém, a significativa elevação da taxa de desocupação
não se dá nesse grupo, mas sim é puxada por três
outros de grande peso: “Indústria Geral”, “Construção” e
“Comércio, reparação de veículos automotores e
motocicletas”, setores centrais e com influência decisiva
no nível de emprego.
49. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 48
Gráfico 4.2: Evolução do índice de desocupação - Espírito Santo - PNAD (%)
Fonte: IBGE – PNAD Contínua. Elaboração própria.
DIEESE – PED
Os resultados disponibilizados pela Pesquisa de Emprego
e Desemprego (PED) podem ser observados através do
Gráfico 4.3, que apresenta uma média das regiões
metropolitanas de Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, São
Paulo e Distrito Federal. Vale ressaltar que a PED é
dividida em desemprego Aberto e Oculto, sendo este
último dividido em outros dois subgrupos: desemprego
oculto pelo trabalho precário e o desemprego oculto pelo
desalento.
6%
6,90%
6,60%
8,10%
9,10%
11,10%
11,50%
12,70%
13,60%
14,40%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
2014/4 2015/1 2015/2 2015/3 2015/4 2016/1 2016/2 2016/3 2016/4 2017/1
50. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 49
Gráfico 4.3: Brasil - Evolução da taxa de desemprego médio total PED - (%)
Fonte: elaboração própria através dos dados do DIEESE/PED.
Os dados mostram taxas elevadas de desemprego no
ano de 2016 e um crescimento contínuo em 2017. No
primeiro semestre de 2016, o indicador saiu de 15%, em
janeiro, para 17,6%, em junho, reduzindo para 15,5%
em outubro do mesmo ano, permanecendo assim em
dezembro. Apesar da redução, as taxas permaneceram
extremamente elevadas. Em 2017, a tendência
verificada foi de aumentos contínuos, totalizando 18,6%
em abril corrente.
Essas variações positivas mostram-se, naturalmente,
preocupantes, pois a baixa demanda reflete-se em
poucas contratações. Além disso, o aumento observado
desde dezembro de 2016 se associa a diminuição da
participação dos trabalhadores assalariados com carteira
assinada e dos estatutários do setor público, posições
10.1 10.3
11.5
12.1 12.5 12.6 13 13.2 13.4 13.6 13.6 13.3
15
15.7
16.2
17 17.3 17.6
16.8 16.4 16
15.5
16
15.5
17
17.5
18.4 18.6
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2015 2016 2017
51. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 50
essas que no mercado de trabalho possuem maior
proteção e acesso aos direitos trabalhistas, demonstrado
pelos últimos boletins emitidos pelo DIEESE.
Mês a mês, a pesquisa mostrou uma taxa de
desemprego em 17% em abril de 2016 e de 18,6% no
mesmo mês de 2017.
Salvador fechou março de 2017 com uma taxa de
desemprego de 16,3%, tendo o desemprego oculto um
destaque especial. O setor de Comércio e Reparação de
Serviço contribuiu para manter a taxa de desemprego
elevada em Salvador, pois é um dos setores que mais
vem demitindo trabalhadores.
Os dados referentes à renda mensal média mostraram
relativa estabilidade no primeiro trimestre de 2017.
Salvador apresentou as menores quantias, fechando
março com uma renda mensal média de R$ 1.479,00
para os ocupados e R$ 1.020,00 para os autônomos.
O DIEESE calcula o salário mínimo necessário para a
reprodução da força de trabalho do trabalhador e de sua
família. O Salário mínimo oficial definido em 1 de janeiro
de 2017 foi reajustado em 6,47%, passando de R$
880,00 para R$ 937,00.
Em nota de seu boletim de conjuntura, o DIEESE projeta
que o salário mínimo estimado no mês de abril deveria
ser de R$ 3.069,92, ou seja, três vezes o salário mínimo,
demonstrando o quão precário é a reprodução dos
trabalhadores brasileiros que dependem deste salário
mínimo para sobreviver.
CAGED
Como era de se esperar, a geração de trabalho formal na
economia brasileira apresentou retração. No período
selecionado para análise, comparando os anos 2015 e
2016 além dos primeiros cinco meses do ano 2017,
52. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 51
pode-se perceber o tamanho desta queda conforme
Tabelas 4.1 e 4.2. O ano de 2015 apresentou um saldo,
conforme Tabela 4.1, com 1.625.551 postos de trabalho
formal encerrados.
O resultado é o pior para um ano da série histórica do
Ministério do Trabalho, que tem início em 2002,
considerando ajustes. Na série sem ajustes, é o pior
desempenho desde 1992, quando teve início a
contabilização dos empregos formais pelo Caged. Com
isso, trata-se do pior resultado em 24 anos.
O fechamento de vagas aconteceu em meio à forte
queda do nível de atividade econômica, com a economia
em recessão e disparada da inflação – que ficou em
10,67% em 2015, o maior patamar em 13 anos.
Destaques para o mês de dezembro com o saldo
negativo registrado com 596.208 vagas e o mês de
março com saldo positivo 19.282 vagas.
Em 2016 foram eliminadas 1.321.994 vagas, significando
a tendência de mais demissões do que contratações no
mercado de trabalho brasileiro. De todos os meses da
série, nenhum apresentou saldo positivo, refletindo a
forte recessão que atingiu o país. Destaque para o mês
de dezembro com um saldo negativo de 462.366 vagas.
No ano de 2017, conforme na tabela 4.2, entre janeiro a
maio, foram registrados o saldo acumulado de 25.234
postos de trabalho. Em comparação com o mesmo
período do ano passado, notou-se um saldo superior,
sinalizando uma variação positiva neste intervalo de
tempo.
Os subsetores da atividade econômica que mais
contribuíram para este saldo positivo foram os de
Agropecuária, seguido por Serviços e Indústria de
Transformação.
53. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 52
Tabela 4.1: Brasil - Evolução do emprego formal por setor de atividade
econômica - (2015 e 2016)
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
1 - O item "outros" refere-se aos setores extrativa mineral, serviço industrial de
utilidade pública e administração pública.
2015/
2016
Ind
Transf
Constr
Civil Comérc Serviços Agrop Outros¹
Total
Setor
Jan 27.417 -9.729 -97.800 -7.141 9.428 -3.949 -81.774
Fev 2.001 -25.823 -30.354 52.261 -9.471 8.971 -2.415
Mar -14.683 -18.205 2.684 53.778 -6.281 1.989 19.282
Abr -53.850 -23.048 -20.882 -7.530 8.470 -988 -97.828
Mai -60.989 -29.795 -19.351 -32.602 28.362 -1.224 -115.599
Jun -64.228 -24.131 -25.585 -39.130 44.650 -2.775 -111.199
Jul -64.312 -21.996 -34.545 -58.010 24.465 -3.507 -157.905
Ago -47.944 -25.069 -12.954 4.965 -4.448 -1.093 -86.543
Set -10.915 -28.221 -17.253 -33.535 -3.246 -2.432 -95.602
Out -48.444 -49.830 -4.261 -46.246 -16.958 -3.392 -169.131
Nov -77.341 -55.585 52.592 -23.312 -21.969 -5.014 -130.629
Dez -192.833 -102.660 -38.697 -180.941 -58.853 -22.224 -596.208
Jan -16.553 -2.588 -69.750 -17.159 8.729 -2.373 -99.694
Fev -26.187 -17.152 -55.520 -9.189 -3.661 7.127 -104.582
Mar -24.856 -24.184 -41.978 -18.654 -12.131 3.027 -118.776
Abr -15.982 -16.036 -30.507 -9.937 8.051 14.827 -49.584
Mai -21.162 -28.740 -28.885 -36.960 43.117 13.840 -58.790
Jun -31.102 -28.149 -26.787 -42.678 38.630 -946 -91.032
Jul -13.298 -27.718 -16.286 -40.140 4.253 -1.535 -94.724
Ago 6.294 -22.113 888 -3.014 -15.436 -572 -33.953
Set 9.346 -27.592 3.939 -15.145 -8.175 -1.655 -39.282
Out -5.571 -33.517 12.501 -30.317 -12.503 -5.341 -74.748
Nov -51.859 -50.891 58.961 -37.959 -26.097 -8.902 -116.747
Dez -130.599 -82.567 -18.973 -157.654 -48.265 -24.308 -462.366
Tot -927.650 -775.339 -458.803 -736.249 -29.339 -42.449 -2.969.829
54. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 53
Tabela 4.2: Brasil - Evolução do emprego formal por setor de atividade
econômica - (jan.17 à mai.17)
Ind
Transf
Constr
Civil Comérc Serviço Agropec Outros¹
Total
dos
Setores
Janeiro 17.501 -775 -60.075 -9.525 10.663 1.347 -40.864
Fevereiro 3.949 -12.857 -21.194 50.613 6.201 8.900 35.612
Março -3.499 -9.059 -33.909 -17.082 -3.471 3.396 -63.624
Abril 13.689 -1.760 5.327 24.712 14.648 3.240 59.856
Maio 1.433 -4.021 -11.254 1.989 46.049 58 34.254
Saldo
Total 33.073 -28.472
-
121.105 50.707 74.090 16.941 25.234
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
1. O item "outros" refere-se aos setores extrativa mineral, serviço industrial de
utilidade pública e administração pública.
Os setores mais afetados nesses anos de 2015 e 2016
pela redução nos postos de trabalho foram os da
Indústria de Transformação, Construção Civil e Serviços.
Esses setores apresentaram mais de 82,1% do saldo
negativo acima indicado. O mês de dezembro de 2015,
conforme na tabela 4.1, por exemplo, é considerado o
pior já registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (CAGED). Isto devido à perda gradual e
constante do emprego nos setores da indústria de
transformação e construção civil que afetou diretamente
os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro,
que foram os que mais fecharam vagas no ano de 2015.
Em 2016, apenas os setores que registraram saldo
positivo foram Indústria da Transformação nos meses de
agosto e setembro, Comércio nos meses de agosto a
novembro e Agropecuários nos meses de janeiro, abril a
julho. Para a Indústria da Transformação esses meses
citados indicaram uma variação positiva devido às
contratações nas empresas de confecção têxtil e
metalurgia. No Comércio houve um aumento na
contratação no setor varejista e no setor Agropecuário a
geração de empregos formais cresceu no Estado de
Minas Gerais devido ao café - meses de maio e junho. A
55. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 54
Construção Civil segue com um fortíssimo registro
negativo de 775.339 postos de trabalho formal, ao lado
da Indústria da Transformação com 927.950 vagas
formais encerradas.
Como fator de análise para esse recuo, pode-se
relacionar o ajuste fiscal, baseado no corte de gastos
públicos, que diminuiu o volume de obras públicas e
gastos com infraestrutura. Já no setor de Serviços foram
registradas 736.249 vagas fechadas, relacionadas aos
segmentos de Ensino, Comércio e Adm. de Imóveis e de
Serviços médicos, odontológicos e veterinários. Para
2017, conforme tabela 4.2, o setor com maior número
de demissões é do Comércio apresentando um registro
de 121.105 vagas formais eliminadas, destaque para o
mês de janeiro que houve um registro negativo de
60.075 postos de trabalhos referentes a demissões pós-
período de festas de fim de ano. Por outro lado, o setor
de Serviços e Agropecuários registraram os maiores
saldos positivos. O setor de Serviços cresceu devido a
alta de contratações na área de ensino e o setor
Agropecuário relacionado ao café, sobretudo em Minas
Gerais, laranja em São Paulo e cana-de-açúcar em São
Paulo e no Rio de Janeiro.
No Espírito Santo foram registrados acumulados de
46.391 postos de trabalho formal encerrados em 2015 e
38.135 vagas formais encerradas em 2016. Assim, o
Estado acompanhou a tendência nacional de retração de
postos de trabalho, tendo saldos negativos em todos os
setores da atividade econômica local. Nesses dois anos
analisados, 2015 e 2016, Tabela 4.3, o setor de Serviços
registrou o maior índice de retração, 30.162 postos
encerrados. Esse total apresentou uma leve redução, de
5,05%, em relação ao fechamento de vagas em 2015,
56. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 55
quando o Estado registrou uma perda de 44.971
empregos.
O setor Comércio apresentou o maior saldo negativo em
2017 (3.322 vagas) no período janeiro a maio, apesar de
expressar uma queda menor que a do mesmo período
em 2016 que teve saldo negativo de 6.214 vagas. No
setor de Serviços foi registrado o terceiro melhor
resultado de todos os setores analisados com saldo de
1.131 postos de trabalho criados, com maior
expressividade dos subsetores de Comércio e
administração de imóveis, valores mobiliários, Serviço
técnico e serviços de alojamento, Alimentação,
reparação.
O setor Agropecuário se encontra com saldo positivo de
5.988 de postos de trabalhos criados, indicando aumento
em relação aos anos anteriores. Isso se deve ao cultivo
do café, relacionado às exportações do café do tipo
Conillon e Arábica para os países árabes (Líbano e
Turquia) e os Estados Unidos. A Indústria da
transformação registrou saldo positivo de 1.601 postos
de trabalhos, devido a contratações nos subsetores de
Metalurgia e Siderúrgica; a Construção Civil também
registrou saldo positivo, de apenas 126 vagas.
57. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 56
Tabela 4.3: ES - Evolução do emprego formal por setor de atividade
econômica - (2015 e 2016)
Ind
Transf
Constr
Civil Comér Serviços Agropec Outros¹
Total
Setores
Janeiro
2015 1.424 87 -2.348 -202 -165 83 -1.121
Fevereiro -256 -1.591 -1.771 409 95 53 -3.061
Março 418 -248 -417 -1.028 -171 -38 -1.484
Abril -943 -389 -806 -2.347 3.315 -103 -1.273
Maio -533 -1.781 -964 -1.603 2.786 -6 -2.101
Junho -976 -689 -1.267 -1.426 -2.464 -313 -7.135
Julho -715 -1.125 -1.609 -543 -1.646 -28 -5.666
Agosto -711 -804 -925 -698 -1.319 -46 -4.503
Setembro 96 -432 135 -1.946 -248 -7 -2.402
Outubro -595 -726 132 -1.512 -517 -153 -3.371
Novembro -1.621 -1.040 725 -965 -432 -93 -3.426
Dezembro -3.631 -2.339 29 -3.936 -446 -525 -10.848
Janeiro
2016 -62 -100 -1.437 -1.100 -210 -24 -2.933
Fevereiro -161 -786 -2.341 -934 63 -6 -4.165
Março -923 -210 -659 -1.462 -405 -9 -3.668
Abril 264 164 -869 -794 1.647 54 466
Maio -205 12 -908 -1.380 3.645 62 1.226
Junho -874 -374 -1.219 -1.147 -2.743 -71 -6.428
Julho -553 -431 -922 -831 -1.206 -430 -4.373
Agosto -917 -603 -820 -1.043 -1.454 -25 -4.862
Setembro -483 -518 546 -641 -652 -161 -1.909
Outubro -222 -493 505 -1.015 -306 -296 -1.827
Novembro -379 -1.120 498 -1.079 63 -195 -2.212
Dezembro -2.476 -1.620 515 -2.939 -374 -556 -7.450
Saldo
Total -15.034 -17.156 -16.197 -30.162 -3.144 -2.833 -84.526
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
1 O item "outros" refere-se aos setores extrativo mineral, serviço industrial de
utilidade pública e administração pública.
58. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 57
Tabela 4.4: ES - Evolução do emprego formal por setor de atividade
econômica - (jan.17 à mai.17)
Ind
Transf
Constr
Civil Comérc Serviços Agropec Outros¹
Total
Setores
Janeiro 1.192 71 -1.259 432 263 27 726
Fevereiro -750 -1.033 -1.142 449 296 103 -2.077
Março -175 605 -784 -329 115 -226 -794
Abril 1.365 300 120 561 1.083 119 3.548
Maio -31 183 -257 18 4.231 -27 4.117
Saldo
Total 1.601 126 -3.322 1.131 5.988 -4 5.520
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
1 O item "outros" refere-se aos setores extrativo mineral, serviço industrial de
utilidade pública e administração pública.
Crédito
O saldo das operações de crédito do sistema financeiro,
que em 2015 apresentou uma expansão contínua de
6,6%, mostrou-se de maneira inversa no ano de 2016,
com queda de 2,9%.
Segundo dados do Banco Central do Brasil, a redução no
volume de crédito em 2016 foi de R$ 100 bilhões. As
operações de crédito vinculadas à Pessoa Jurídica
também apresentaram um recuo de 8,2% no ano. As
operações de crédito envolvendo Pessoa Física cresceram
3% em 12 meses.
O ano de 2017 começou com certa estabilidade no saldo
das operações de crédito. O saldo total acumulou até o
mês de abril uma tímida e quase inexpressiva queda
(0,1%). No mesmo período, em 2016, notou-se um
recuo em maior magnitude, 1,8%.
5. POLÍTICA MONETÁRIA
59. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 58
Gráfico 5.1 – Saldo total das Operações de Crédito (em R$ bilhões)
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração Própria.
O saldo de crédito, quando destrinchado em Pessoa
Jurídica e Pessoa Física, apresenta movimentos inversos
entre os segmentos.
O crédito destinado à Pessoa Jurídica ainda segue em
recuo, panorama também visto durante todo o ano
passado. Entretanto, o ritmo de recuo vem
desacelerando, de janeiro a abril de 2017 a queda foi de
aproximadamente 1%. No mesmo período do ano
passado a redução foi de 3,7%. O saldo dessas
operações encerrou abril deste ano com um saldo de R$
1,49 trilhão, volume 8% menor do que foi visto em
2016, R$ 1,62 trilhão.
Desde o final de 2015 é possível notar uma redução
contínua do nível de concessões de crédito à Pessoa
Jurídica. O nível de endividamento prévio das empresas
seria uma das razões para tal comportamento. Análises
3 000.0
3 050.0
3 100.0
3 150.0
3 200.0
3 250.0
60. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 59
feitas pelo BACEN confirmam que haveria uma tendência
de desaceleração no segmento, o que indica uma
limitação à capacidade de retomada do investimento
futuro.
Em contrapartida, as operações vinculadas à Pessoa
Física seguem no crescimento verificado no ano de 2016
(0,7% de janeiro a abril de 2017). Tal saldo encerrou o
mês de abril com um montante de R$ 1,58 trilhão, 3,8%
maior do que o verificado no mesmo período de 2016.
Gráfico 5.2 – Saldo de Crédito – Pessoa Física X Pessoa Jurídica
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração Própria.
Além da divisão entre Pessoa Física e Jurídica, as
operações de crédito podem ser classificadas em crédito
com recursos livres e crédito direcionado. Este último,
como o próprio título já diz, é destinado a determinados
setores ou atividades da economia, como o crédito rural,
o financiamento imobiliário, e o crédito com recursos do
BNDES.
1 450.0
1 500.0
1 550.0
1 600.0
1 650.0
1 700.0
1 750.0
PJ PF
61. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 60
O crédito de recursos livres envolve, por outro lado,
empréstimos nos quais as instituições financeiras têm
autonomia sobre o destino dos recursos. Dentre eles,
encontra-se o financiamento de veículo à pessoa Física, e
financiamento de importações à pessoa jurídica.
O crédito com recursos livres totalizou R$ 1,53 trilhão
em abril de 2017, uma queda de 3,5% em 12 meses.
Importante destacar o recuo em segmentos na esfera
dos recursos livres à Pessoa Jurídica.
As transações envolvendo cartão de crédito caíram em
3,7% no ano de 2016 e de janeiro a abril de 2017
sofreram recuo de 18,8%. Nos mesmos períodos, o
financiamento às importações também recuou em 15,6%
e 46,7%, respectivamente.
O financiamento às exportações oscilou positivamente
84,7%, em 2016, mas o acumulado até abril no ano de
2017 apresentou queda de 12%.
Nos Recursos livres à Pessoa Física também se nota uma
pequena desaceleração. Um dado interessante envolve o
crédito consignado, com um movimento inverso entre
Setor Privado e Setor Público.
Enquanto o crédito consignado aos trabalhadores do
setor privado apresentou uma queda de 5,9%, em 2016,
e acumulou um recuo de 2%, de janeiro a abril de 2017,
o crédito consignado aos trabalhadores do setor público
avançou 1,5% no ano passado, e encerrou o mês de
abril de 2017 com um crescimento de 1,2%.
Apesar de ambos sentirem impactos do momento
recessivo, quem possui determinada estabilidade
financeira2 consegue manter um padrão de consumo no
2
No caso, os trabalhadores do Setor Público.
62. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 61
mesmo patamar, o que explica essa leve expansão do
crédito no setor.
No segmento direcionado à Pessoa Jurídica, observam-se
quedas nos indicadores. Como exemplo, o Crédito com
Recursos do BNDES, a redução foi de 12,71%, em 2016,
e 1,64%, no primeiro quadrimestre de 2017. O
financiamento imobiliário decresceu 1,59% no ano de
2016 e 2,57% no primeiro quadrimestre de 2017.
A única elevação do crédito observada no seguimento à
Pessoa Jurídica deveu-se ao crédito rural, em que
ocorreu alta de 3,31%, em 2016, e 2,14%, no primeiro
quadrimestre de 2017.
Já na esfera dos recursos direcionados à Pessoa Física
vê-se um crescimento em todas as modalidades
analisadas. O crédito rural, que obteve um crescimento
de 5,3%, em 2016, continuou avançando no primeiro
quadrimestre de 2017, crescendo 3,3%.
O financiamento imobiliário, com variação positiva de
6,3%, em 2016, cresceu 1,6% no primeiro quadrimestre
de 2017. O Crédito com Recursos do BNDES apresentou
um crescimento de 4%, em 2016, e de 1,8% no primeiro
quadrimestre de 2017.
A taxa de inadimplência do sistema financeiro cresceu
0,3 p.p. em 12 meses com relação ao mês de abril de
2017. No mesmo período, a taxa de inadimplência
vinculada à Pessoa Física caiu 0,3 p.p., enquanto a
inadimplência no âmbito Pessoa Jurídica cresceu quase 1
p.p.
A relação crédito/PIB, em abril de 2017, foi de 48,5%,
ante 51,8%, apontados no mesmo mês do ano de 2016.
63. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 62
Taxa de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom), órgão colegiado
do Banco Central do Brasil, promoveu mais uma vez o
corte na Taxa Selic, nos dias 30 e 31 de maio do
presente ano. Com corte de 1 p.p. a taxa básica de juros
da economia caiu de 11,25% para 10,25%, o que
corresponde a sexta redução consecutiva da taxa de
juros, chegando ao menor patamar desde novembro de
2013, quando alcançou 10% ao ano.
No regime de metas de inflação adotado pelo Copom,
considera-se que a taxa Selic é um dos principais
instrumentos para controlar a inflação da economia. De
acordo com esse regime, o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) é usado como parâmetro
oficial para análise de inflação, tendo como principal
objetivo a sua manutenção no centro da meta, 4,5% a.a.
No mecanismo exposto, é estabelecida uma relação
entre a taxa básica e o controle da inflação, porém a
conjuntura nos indica que não é bem assim.
O momento em que vive o Brasil é bem peculiar. A
inflação, medida pelo IPCA, caiu de 10,7%, em 2015,
para 6,3%, em 2016, com expectativas de uma taxa de
3,9% 3 no final do ano de 2017. Essa significativa
redução tem dado força para a ideia de que ela seria
advinda da política monetária, uma representação que
parece claramente insuficiente para explicar o que
ocorreu.
Além da política monetária, pode-se identificar outros
aspectos que contribuíram para a grande redução na
taxa de inflação. Dentre os mais relevantes, a recessão
(refletida no alto nível de ociosidade dos fatores de
produção e também na alta taxa de desemprego) bem
3
Projeção do Boletim Focus.
64. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 63
como a valorização do real frente ao dólar (no início do
ano de 2016, o real era cotado em média a R$ 4,10/US$,
e depois de um ano chegou a R$ 3,10/US$ em média, o
que corresponde a uma grande valorização).
Adicionalmente, a desinflação que pode ser observada no
segmento de alimentos.
Cabe apontar um elemento de corroboração dessa
perspectiva de análise que o processo de queda da taxa
Selic frente à queda da taxa de Inflação: enquanto a
taxa Selic vem sendo reduzida a partir de cortes tímidos,
a queda da taxa de inflação vem seguindo um ritmo
muito mais intenso.
Pode-se evidenciar esse fato a partir de comparações
entre a queda da taxa Selic e a queda da taxa de
inflação: durante o período de dezembro de 2015 e
janeiro de 2017, por exemplo, o IPCA caiu cerca de 50%
frente a uma queda de apenas cerca de 9% da taxa
nominal da Selic.
Conclui-se, assim, que a queda da taxa de inflação
explica-se em grande medida por motivos exógenos à
taxa Selic. Esse movimento gerou um aumento
significativo na taxa real de juros acumulada 4 em 12
meses: de 3,6% saltou para 7,6%.
4
A taxa de juros real é a diferença entre a taxa básica de juros em termos nominais
e a inflação observada em determinado período.
65. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 64
Gráfico 5.3 – Taxa de juros real acumulada (% a.a.) x Taxa de juros nominal
(Meta Selic % a.a.)
Fonte: Banco Central do Brasil/IBGE. Elaboração própria.
Ao analisar o gráfico 5.3, pode-se observar uma
tendência de manutenção das taxas reais de juro no
Brasil em níveis altíssimos (uma das mais altas do
mundo) em comparação com patamares internacionais,
dada a queda expressiva da inflação em comparação
com o recuo da Selic.
Em meados de 2013, o Copom iniciou um longo ciclo de
aumentos da taxa Selic, que continuou até mesmo
quando a economia brasileira já sofria com uma enorme
recessão. Essa política de taxa de juros altas manteve-se
até a segunda metade do ano de 2016. Durante esse
período, a queda da inflação se deu principalmente pelos
motivos expostos anteriormente.
Tal fenômeno não se observa no ano de 2015, em que
ocorreu justamente o contrário: a inflação subiu
rapidamente. Isso se deveu principalmente ao “tarifaço”
3
5
7
9
11
13
15
2015.1
2015.2
2015.3
2015.4
2015.5
2015.6
2015.7
2015.8
2015.9
2015.10
2015.11
2015.12
2016.1
2016.2
2016.3
2016.4
2016.5
2016.6
2016.7
2016.8
2016.9
2016.10
2016.11
2016.12
2017.1
2017.2
2017.3
2017.4
Taxa de juros real acumulada (% a.a.)
Taxa de juros nominal (Meta Selic % a.a.)
66. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 65
no setor de energia, a desvalorização cambial – por
conta da conjuntura – e um período irregular de chuvas,
afetando o preço final dos alimentos. Dessa forma, as
taxas de juros reais não foram tão absurdas,
comparando-se com o período atual.
As taxas de juros reais elevadas dificultam o processo de
recuperação da atividade econômica, principalmente
porque é um dos fatores essenciais na análise dos
empresários ao buscarem tomar decisões de produzir e
de investir. Também é importante destacar que a
manutenção da taxa básica de juros alta eleva o custo da
dívida pública, alimentando o sistema financeiro e
estagnando o processo de crescimento da economia
brasileira.
Analisando agora a taxa média de juros das operações
de crédito do sistema financeiro, computando as
contratações com recursos livres e direcionados, pode-se
observar que atingiu 30,2% a.a., em abril de 2017, com
queda de 2, p.p. no quadrimestre.
Essa queda da taxa de juros pode ser observada tanto
para pessoas físicas como jurídicas, nos segmentos de
crédito livre e direcionado. Fazendo a comparação de
2016/2015, podemos observar um aumento de 2,5 p.p.,
de dezembro de 2015, com 29,7% até dezembro de
2016, com 32,2%.
No crédito livre, na comparação entre final de 2016 com
o final de 2015, tem-se um aumento de 52,2%, no ano
de 2016, contra 47,2%, no ano de 2015. Para esse
segmento, a taxa caiu em relação ao mês de março,
chegando a 49,1% a.a. em abril, apresentando uma
variação negativa de 3,1 p.p. no primeiro quadrimestre
de 2017.
67. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 66
Nas contratações utilizando recursos direcionados,
analisando a variação do ano de 2016/2015, tem-se
9,7% no final do ano de 2015 contra 10,6% no final do
ano de 2016, uma variação de 0,9 p.p. No primeiro
quadrimestre de 2017 houve uma queda de 0,7 p.p., de
10,6% para 9,9%.
Tabela 5.1 – Taxa de Aplicação (% a.a.) em 2016 e 2017
Período
Pessoa
Jurídica
Pessoa Física Total
Jan 22,5 39,6 31,4
Fev 22,6 40,3 31,9
Mar 22,2 41,0 32,1
Abr 22,0 41,8 32,6
Mai 21,6 42,2 32,7
Jun 21,5 41,9 32,5
Jul 22,1 42,1 33,0
Ago 22,0 42,2 33,0
Set 21,3 42,9 33,1
Out 21,6 43,1 33,4
Nov 21,0 43,2 33,2
Dez 20,1 42,0 32,2
Jan 21,1 42,2 32,9
Fev 20,3 41,6 32,3
Mar 20,0 41,4 32,1
Abr 19,2 38,7 30,2
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.
Considerando o segmento de pessoa física, a taxa média
de juros de aplicação apresentou um aumento de quatro
p.p. comparando-se os anos de 2016 e de 2015, com
38,0%, em 2015, e 42,0%, em 2016. Chegou a 38,7%
a.a. em abril corrente, com queda de 3,3 p.p. no
quadrimestre.
A taxa das contratações por recursos livres, no período
de 2016/2015, aumentou 8,6 p.p., em 2015, com 63,8%
e, em 2016, com 72,4%. Essa taxa chegou a 68,1% a.a.
no mês de abril de 2017, destacando-se retração em
crédito rotativo regular, de 135 p.p. recuando de 431,1%
68. Vitória/ES – Boletim de Conjuntura nº 56 – Página 67
para 296,1%; no cartão de crédito rotativo não regular,
de 4,6 p.p. e no crédito não consignado, de 6 p.p.
Nos recursos direcionados ocorreu uma variação positiva
de 0,7 p.p., na comparação do ano de 2016 com o ano
de 2015. Equivaleu a uma taxa de 9,0% a.a., com queda
de 1,4 p.p. no primeiro quadrimestre de 2017.
Destaca-se também um movimento de queda das taxas
de juros nas modalidades do cartão de crédito rotativo e
cheque especial. Olhando a comparação de 2016 com
2015, houve um aumento de 66,9 p.p. na taxa desta
última modalidade. A taxa de juro médio do rotativo do
cartão de crédito caiu em abril corrente para 422,5%
a.a. com variação negativa de 75,2 p.p. no
quadrimestre.
Já a taxa de juros do cheque especial atingiu 328,3%,
em 2016, contra 287,0%, em 2015. Chegou a 328,3%
a.a. no mês de abril, com uma variação negativa de 0,3
p.p. no quadrimestre.
No segmento de pessoas jurídicas, a taxa média de juros
apresentou queda na comparação do ano de 2016, com
20,1%, frente ao ano de 2015, com 20,7%. Também
caiu para 19,2% a.a. no mês de abril de 2017, com
variação negativa de 0,9 p.p. no quadrimestre.
Nas operações com recursos livres, comparando o ano
de 2016 com o ano de 2015, houve um aumento da
taxa, de 1,1 p.p. Por outro lado, houve uma queda no
mês de abril de 1,2 p.p., chegando a 26,3% a.a. Nas
operações com recursos direcionados, a taxa chegou a
11% a.a. com um aumento de 0,1 p.p. no quadrimestre.
A ponto de esclarecimento, serão discutidas algumas
mudanças realizadas nas regras do cartão de crédito