O documento descreve a situação econômica do Brasil em 2014 e início de 2015. A economia brasileira estagnou em 2014 e apresentou piora em vários indicadores como inflação, contas públicas, conta externa e atividade industrial. Em 2015, o governo anunciou um ajuste fiscal, mas sem medidas para estimular o crescimento, o que pode aprofundar a recessão.
Boletim 34 - Grupo de conjuntura econômica da UFES
Uma economia estagnada e avariada: o desafio do ajuste no Brasil em 2015
1.
2. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 1 -
APRESENTAÇÃO
O ano de 2015 começou
conturbado para a economia
brasileira. A disputa política
observada nas eleições de
outubro 2014 manteve-se
presente e cada vez mais
acirrada tanto na mídia quanto
no Congresso. O resultado é a
crescente dificuldade de o
Governo Dilma colocar em
prática suas políticas
econômicas, em particular o
ajuste fiscal tão demandado pelo
mercado.
No plano econômico, a inflação
medida pelo IPCA apresentou
trajetória crescente, chegando a
8,42%, em abril, e 8,34%, em
maio, no acumulado em 12
meses. No primeiro trimestre de
2015, as despesas do governo
aumentaram 6,8%, em
comparação ao mesmo período
de 2014, contra um aumento de
apenas 2,8% das receitas totais.
Por sua vez, as despesas com
juros da dívida pública
alcançaram 10,4% do PIB. A
atividade industrial registrou
queda de 5,9% no primeiro
trimestre e o resultado para o
PIB foi de -0,2%. O setor
externo, que registrou déficits
históricos na conta de transações
correntes, em 2014, e déficit na
balança comercial após mais de
uma década de superávits,
segue a mesma tendência para
2015. Estes resultados
combinados com o quadro
político deterioram cada vez
mais as expectativas para o
desempenho da economia
brasileira.
O cenário atual é difícil e esta
edição n. 52 do Boletim de
Conjuntura busca apresentá-lo
ao leitor em toda sua
complexidade, ao analisar os
resultados da economia
brasileira para o ano de 2014,
bem como para os primeiros
meses de 2015.
Boa leitura!
1. POLÍTICA ECONÔMICA
A política econômica do
desajuste
Fabrício Augusto de Oliveira
1. Uma economia estagnada
Graças à mudança de
metodologia no cálculo do PIB
feita pelo IBGE, para o período
de 2000-2014, o governo Dilma
escapou do dissabor de entregar,
no último ano de seu primeiro
mandato, um resultado
econômico negativo ao país,
embora este não tenha ido além
de 0,1%, um nível que retrata
uma situação de estagnação da
economia.
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Com essa revisão, a média anual
de crescimento do PIB de seu
primeiro mandato, antes
projetada para 1,5%, uma das
piores dos governos
republicanos, saltou para 2,1%,
ainda abaixo da atingida no
segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso (1999-2002),
de 2,25% também revisados, o
qual, igualmente, enfrentou
crises externas e internas de
grande gravidade.
A trajetória declinante do PIB
entre 2011 e 2014 é um
indicador de que as variáveis
centrais da economia foram
crescentemente se deteriorando,
neste período, devido à
implementação de uma política
econômica equivocada, e
condicionando a necessidade de
realização de um ajuste criativo
e eficiente para corrigir os
desequilíbrios existentes e
destravar os caminhos do
crescimento.
Este era o desafio colocado para
o segundo mandato do governo,
iniciado em 2015, considerando
que, de um lado, a crise
mundial, apesar de começar a
ensaiar alguma recuperação,
ainda não dá mostras de que
essa seja sólida; de outro, com
os principais pilares da economia
abalados – inflação, câmbio,
contas públicas, contas externas,
insuficiência dos investimentos
etc. – algum ajuste seria
inevitável, enquanto se criavam
as condições para a retomada do
crescimento econômico.
Tendo, no entanto, feita a opção
por escolher uma equipe para
comandar a economia
representante da ortodoxia, com
o claro objetivo de agradar e
acalmar o mercado, o ajuste
anunciado no início do ano,
centrado exclusivamente no
equilíbrio fiscal, indica não
somente que o governo
renunciou a criar as condições
estruturais para o crescimento,
como corre o risco de ver
aprofundar-se e manter-se, por
um bom tempo, o quadro
recessivo, deteriorando ainda
mais as principais variáveis da
economia ao longo do tempo.
2. Uma economia estagnada
e avariada
Por mais que o governo tenha se
empenhado, especialmente
antes das eleições presidenciais
de 2014, em vender um quadro
otimista da economia e em
sustentar que não reverteria a
política econômica que vinha
implementando, os resultados
que essa vinha apresentando
eram mais do que suficientes
para contradizer a falácia destes
argumentos.
Do ponto de vista externo,
embora a economia mundial
viesse registrando alguma
recuperação, apoiada
principalmente na economia
norte-americana e numa ainda
tímida reversão da deprimida
Zona do Euro, estes sinais não
eram suficientemente claros para
indicarem uma retomada mais
sólida da economia internacional,
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indicando que o Brasil não
poderia contar com estímulos
externos para os objetivos de
maior crescimento.
Internamente, todas as
variáveis-chave da economia se
deterioravam rapidamente,
indicando a necessidade de um
ajuste para evitar seu colapso e
a perda de grau de investimento
do país pelas agências de rating.
A inflação, que passou o ano
represada com a contenção
artificial dos preços dos
combustíveis e das tarifas
públicas, causando enormes
prejuízos para empresas estatais
e para o Tesouro, e por medidas
de intervenção no câmbio pelo
Banco Central, que ainda assim
conheceu uma desvalorização de
13%, fechou o ano em 6,41%
(contra 5,91% em 2013),
próxima do teto de 6,5%. Mas
era evidente que iria ingressar,
inevitavelmente, numa trajetória
de acentuada elevação, com os
reajustes de preços e tarifas que
passaram a ser anunciados tão
logo encerradas as eleições.
Devido à política econômica
expansionista que vinha sendo
implementada pelo governo
desde a crise do subprime, as
contas públicas apresentaram,
pela primeira vez, desde 2001,
um déficit, no conceito primário,
de R$ 32,5 bilhões (contra um
superávit de R$ 91,3 bilhões em
2013), o equivalente a 0,63% do
PIB. É bem verdade que nos
anos anteriores, o governo já
não vinha colhendo resultados
favoráveis nessas contas,
conseguindo, no entanto, ocultá-
los com a prática da chamada
“contabilidade criativa”. Mas, no
ano de 2014, mesmo fazendo
diversas “pedaladas fiscais”, ao
empurrar certas despesas para
pagamento futuro, isso não foi
mais possível. Por um lado,
porque o próprio Tribunal de
Contas da União denunciou
publicamente a manobra, e, por
outro, devido ao tamanho do
rombo orçamentário.
Como decorrência, e também
como resultado da retomada da
política de elevação das taxas de
juros em abril de 2013 e da
intervenção do Banco Central no
mercado de câmbio para conter
a alta do dólar e represar a
inflação, os gastos com juros
dispararam, atingindo R$ 311,4
bilhões no ano, ou 6,07% do PIB
(contra 3,25% em 2013), com o
déficit nominal chegando a R$
343,9 bilhões (6,7% do PIB).
A dívida líquida do setor público,
com isso, saltou de 33,6% do
PIB, em 2013, para 36,7%, em
2014, um nível que só não foi
maior devido à desvalorização do
Real de 13% no ano, que reduziu
expressivamente seu montante.
Mas a dívida bruta, no conceito
do Banco Central, avançou 6
pontos percentuais do PIB,
saltando de 56,7% para 63,4%.
As contas externas, por sua vez,
principal óbice para o
crescimento até a década de
1990, continuaram em trajetória
de rápida deterioração. Com a
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balança comercial registrando
um déficit de US$ 3,93 bilhões
no ano, o primeiro desde o ano
de 2000, o da balança de
transações correntes avançou
para US$ 104,8 bilhões, o pior
resultado desde o início da série
histórica do Banco Central, em
1947, equivalente a 4,43% do
PIB, dados revisados pelo Banco
Central. Como os investimentos
diretos (IED) não foram além de
US$ 62,5 bilhões neste ano, para
se evitar a queima de reservas
externas para o financiamento
deste desequilíbrio, o governo
teve de lançar mão de novos
empréstimos externos, com a
dívida bruta com o exterior
saltando de US$ 308,6 bilhões,
em 2013, para US$ 347,6
bilhões, em 2014, um aumento
nada inexpressivo de 12,6%.
Com a forte desaceleração
registrada no ano, num ambiente
de crescente desconfiança dos
agentes econômicos sobre a
política econômica e o futuro do
país, as principais fontes de
crescimento, que ainda vinham
injetando algum oxigênio para a
atividade econômica,
enfraqueceram: motor do maior
dinamismo econômico desde a
era Lula, o consumo das famílias
cresceu apenas 0,9% (contra
2,9% em 2013) e, o do governo,
1,3% (2,2% em 2013). Em
contrapartida, os investimentos
conheceram uma retração de
4,4%, reduzindo sua
participação no PIB de 20,5%
para 19,7%, já com a nova
metodologia de cálculo do IBGE,
que aumentou os gastos
contabilizados neste
componente. Sob a ótica da
oferta, a indústria recuou mais
1,2%, com a indústria de
transformação reduzindo sua
participação no PIB para 10,9%,
enquanto o setor de serviços e a
agropecuária, que, até então,
vinham sustentando algum
crescimento, ainda que mais
baixo, também registraram taxas
reduzidas de expansão de 0,7%
e 0,4%, respectivamente.
Nessa situação, não restavam
dúvidas sobre a necessidade de
um ajuste da economia, não
somente para aplainar os
caminhos para uma nova etapa
de crescimento, sob novas
bases, mas também para evitar
maior deterioração das variáveis
macroeconômicas-chave e para
impedir que o país tivesse sua
nota de crédito rebaixado pelas
agências de rating, o que
agravaria ainda mais este
quadro.
3. Um ajuste fiscal solitário
Quando se realiza um ajuste é
preciso ter clareza sobre pelo
menos três questões: i) qual a
sua natureza e o que com ele se
pretende, ou aonde se quer
chegar, para ganhar o apoio dos
agentes econômicos e da
sociedade; ii) sua composição,
viabilidade política, bem como
serão afetadas as demais
variáveis econômicas com a sua
realização, visando a evitar que
essas prejudiquem seus
6. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 5 -
propósitos; e iii) como se
distribuirão os seus custos para
a sociedade.
Para os que esperavam,
acreditando nas promessas de
campanha da presidente Dilma
Rousseff, de que o ajuste seria
feito de modo a preservar as
conquistas sociais e dar
continuidade ao objetivo do
crescimento, a decepção foi
geral com o seu anúncio: tão
logo indicada a equipe de
governo que comandaria a
economia, as medidas que
começaram a ser divulgadas
revelaram tratar-se de um ajuste
exclusivamente fiscal,
desacompanhado de propostas
ou projetos voltados para a
correção dos problemas
estruturais da economia, sem
indicar, portanto, a porta de
saída da crise.
O tamanho do ajuste fiscal a ser
atingido anunciado pelo governo
foi sintetizado na definição da
meta de um superávit primário
de R$ 66,3 bilhões (1,2% do
PIB), em 2015, um nível
modesto se se consideram os
megassuperávits alcançados
alguns anos atrás, mas
apreciável, levando-se em conta
o déficit primário de 0,6% do PIB
em 2014. Em conjunto, um
ajuste global, portanto, de R$
99,5 bilhões, ou de 1,8% do PIB.
A composição do ajuste foi ainda
mais surpreendente: R$ 18
bilhões viriam de mudanças
restritivas na concessão de
benefícios trabalhistas e
previdenciários (seguro-
desemprego, abono salarial,
pensão por morte e auxílio-
doença); R$ 5,3 bilhões, em
2015, do aumento das alíquotas,
em mais de 100%, do imposto
sobre o faturamento cobrado de
56 setores da economia que
haviam sido beneficiados com a
política de desoneração da folha
de pagamentos; R$ 22 bilhões,
do retorno pleno das alíquotas
do IPI, que haviam sido
reduzidas anteriormente para
alguns setores, visando a
estimular o consumo de seus
bens, da ampliação do IOF sobre
operações de crédito, do retorno
da cobrança da CIDE-
combustíveis e da cobrança do
PIS/PASEP e COFINS sobre
produtos importados; entre R$
50 e 60 bilhões, para se chegar
ao ajuste de 1,8% do PIB, do
corte de gastos no orçamento do
governo federal, cuja aprovação,
no Congresso Nacional, só
ocorreria no final do mês de
março do ano.
Complementaram o ajuste
proposto outras medidas
voltadas para reduzir os
prejuízos que o governo tivera
com as políticas de combate à
inflação e de incentivo ao
consumo, visando sustentar o
emprego. Com este propósito,
tarifas e preços administrados de
combustíveis, energia elétrica,
transportes coletivos etc. foram
consideravelmente majorados,
num curto espaço de tempo (o
chamado tarifaço), enquanto o
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Banco Central, para evitar maior
descontrole da inflação, passou a
elevar seguidamente a taxa de
juros Selic, como se com isso
fosse possível quebrar ou deter a
subida de preços destes setores.
Pela sua natureza, composição e
qualidade, o ajuste em curso não
atende a nenhum dos requisitos
anteriormente apontados para
ser bem sucedido. De um lado,
navegando solitário nessa
empreitada, o ajuste fiscal,
embora possa agradar ao
mercado, não possui, por si só,
suporte teórico ou empírico para
garantir o retorno do
crescimento, à medida que
desacompanhado de projetos e
mudanças estruturais. De outro,
sua composição, baseada
principalmente em substanciais
aumentos de impostos e em
cortes de gastos essenciais para
a população e para a própria
economia, numa conjuntura já
recessiva, indica que essa deve
continuar se aprofundando e
agravando as condições de
outras variáveis econômicas,
podendo mais do que neutralizar
seus ganhos inicialmente
projetados. Por último, ao lançar
os custos do ajuste sobre a
produção e os trabalhadores em
geral, praticamente deixando
deles infensas as camadas mais
ricas da sociedade e o capital
financeiro, despertou fortes
resistências de várias frentes à
sua aprovação. Sua
desfiguração, diante disso, como
vem acontecendo ao longo deste
semestre, indicava inevitáveis
derrotas para os objetivos da
política econômica, com o
quadro econômico e político se
deteriorando progressivamente,
a menos que o governo
modifique sua equação, para o
que, até o momento, não
demonstrou a menor disposição.
4. Congresso e recessão:
minando o ajuste
A resistência de vários setores
trabalhistas ao ajuste, apoiado
em parte pelo Congresso,
incluindo parlamentares da base
aliada, juntamente com o avanço
da recessão, tem sido fatal para
que, de um lado, os frutos que
se esperava colher com o
aumento das restrições ao
acesso dos benefícios
previdenciários e trabalhistas
começassem a ser esvaziados,
como reduzidos os ganhos de
receita.
A economia de recursos de R$
18 bilhões esperada com a
redução dos benefícios
previdenciários e trabalhistas,
nas negociações realizadas com
o Congresso para a aprovação
das Medidas Provisórias 664 e
665, que tratam dessas
matérias, viu-se reduzida a cerca
de apenas R$ 8 bilhões para o
ano de 2015.
Isso porque, no caso da MP 664,
as mudanças no abono salarial,
com o qual se pretendia
economizar R$ 7 bilhões, só
produzirão efeitos em 2016,
enquanto o governo teve de
aceitar mudanças nas propostas
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originais do seguro-desemprego,
que reduziram, de acordo com
os novos cálculos do governo,
seus ganhos de R$ 8,9 bilhões
para R$ 6,4 bilhões. Já na MP
665, que trata do benefício da
pensão por morte e do auxílio-
doença, cujos ganhos
inicialmente estavam previstos
em R$ 2 bilhões, esses foram
reduzidos para algo próximo a
R$ 1 bilhão, para garantir sua
aprovação na Câmara dos
Deputados, incluindo a rejeição
do aumento de 15 para 30 dias
da responsabilidade pela
empresa na cobertura do auxílio-
doença. Além disso, na votação
da Câmara da MP 664, os
parlamentares incluíram uma
emenda, que cria uma
alternativa para o fator
previdenciário, a fórmula 85/95
(combinação de idade com
tempo de contribuição) para a
aposentadoria de mulheres e
homens, que aumenta, segundo
cálculos do governo, os gastos
previdenciários em R$ 40 bilhões
nos próximos quatro anos.
A votação no Senado das MP 664
e 665, onde a oposição às
mudanças parecia ainda maior,
terminou garantindo sua
aprovação, mas dos ganhos
iniciais pretendidos de R$ 18
bilhões para o ajuste, restaram,
para este ano, de acordo com os
novos cálculos do governo,
apenas os R$ 6,4 bilhões do
seguro-desemprego, já que as
restrições ao abono salarial só
produzirão efeito em 2016 (MP
665), e cerca de R$ 1 bilhão da
MP 664 que tratava das
mudanças na pensão por morte
e no auxílio-doença. Manteve-se,
contudo, na medida provisória, a
substituição do fator
previdenciário pela fórmula
85/95, o qual, se não vetado
pela presidente Dilma, deve
aumentar expressivamente os
gastos previdenciários nos
próximos anos.
Por outro lado, os ganhos de R$
5,3 bilhões esperado com o
aumento das alíquotas do
imposto sobre o faturamento das
empresas que foram favorecidas
com a desoneração da folha de
salários, correm o risco de serem
consideravelmente reduzidos ou
mesmo não ocorrerem neste ano
devido às resistências à sua
aprovação. Em primeiro lugar,
porque a Medida Provisória que
tratava da matéria teve de ser
substituída por um projeto de lei
que demanda mais tempo para
ser apreciado, podendo provocar
atrasos em sua apreciação. Em
segundo, porque seu relator tem
insistido em excluir, do rol
dessas empresas, alguns setores
mais intensivos em mão de obra,
o que diminuiria
significativamente seus efeitos.
Por fim, a meta de obtenção de
mais R$ 20 bilhões (aumento de
5% em termos reais) de
crescimento da receita tributária,
com a recomposição das
alíquotas do IPI, aumento do IOF
e retorno da CIDE parece
naufragar ante a evolução
9. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 8 -
desfavorável da economia e a
queda real da arrecadação até
abril: nos quatro primeiros
meses do ano, a arrecadação
federal atingiu R$ 418,6 bilhões,
desempenho, em termos reais,
2,7% inferior ao do mesmo
período de 2014, devido ao
avanço da recessão e à
continuidade das expressivas
renúncias tributárias.
5. Ajustando o ajuste
Diante dessa situação, o governo
que vinha adiando a divulgação
da programação do orçamento
para 2015, visando adequar os
cortes de gastos que faria em
função dos ganhos que poderia
obter com o ajuste proposto,
terminou antecipando-se aos
seus resultados finais, e
anunciando um
contingenciamento de gastos de
R$ 69,9 bilhões, o maior dos
últimos anos, visando garantir a
economia pretendida de recursos
da ordem de 1,2% do PIB.
Dos cortes anunciados, foram
contingenciados R$ 25 bilhões do
Programa de Aceleração
Econômica (PAC), ou seja,
basicamente de investimentos,
aumentando as dificuldades para
superação dos gargalos
estruturais da economia. Das
áreas sociais nobres e, até
então, caras ao governo, foram
bloqueados R$ 11,7 bilhões da
saúde, R$ 9,4 bilhões da
educação, emagrecendo de
recursos programas como o FIES
e o PRONATEC, bandeiras de
campanha da presidente Dilma,
e R$ 1,4 bilhão da política de
combate à fome, para ficar em
alguns programas mais
importantes e de maior
visibilidade. Ainda assim, o
ministro do Planejamento,
Nelson Barbosa, reconheceria,
com razão, que “os R$ 69,9
bilhões estão muito longe de um
ajuste capaz de gerar
crescimento da economia no
futuro e de evitar que a relação
dívida/PIB continue a crescer”. O
que significa que o ajuste não
deve parar por aí.
Adicionalmente, o governo
editaria, no dia 21 de maio,
outra medida provisória, visando
compensar pelo menos
parcialmente as perdas em que
vinha incorrendo no Congresso e
também no comportamento da
economia, aumentando a
Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL) dos bancos de
15% para 20%, projetando uma
arrecadação extra no ano de
cerca de R$ 4 bilhões.
O governo ainda conta com a
possibilidade de algumas receitas
alternativas para garantir o
atingimento da meta fiscal
estabelecida, mas essas, além de
não serem expressivas, não têm
garantia de que se realizarão
ainda este ano: uma se refere à
venda de ações do setor de
Seguridade da Caixa Econômica
Federal, com a qual poderia
arrecadar cerca de R$ 6 bilhões;
outra, ao leilão de concessões de
exploração de petróleo na área
do pré-sal, que lhe poderia
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render cerca de R$ 2 bilhões
ainda em 2015.
Com todas essas dificuldades,
não poucos analistas têm
apontado que dificilmente o
governo conseguirá obter um
superávit primário superior a
0,8% no ano (ao invés de
1,2%), o que, se alcançado, já
seria uma grande vitória, pois
corresponderia a um ajuste
global de 1,4% do PIB,
considerando que houve déficit
de 0,63%, neste conceito, em
2014. Mesmo essa meta, mais
reduzida, que tem encontrado
apoio em alguns setores do
governo para tornar o ajuste
mais suave e crível, corre o risco
de não ser atingida, pois forças
contrárias continuam remando
em direção ao aumento dos
gastos.
6. Os movimentos de
aumento dos gastos contra o
ajuste
Na contramão do ajuste fiscal, o
Congresso aprovou
recentemente, no início de abril,
projeto de reajuste dos
servidores federais que podem
custar ao governo cerca de R$
3,6 bilhões. O texto votado
aprova a transposição para o
quadro de servidores da União
dos servidores dos ex-territórios
de Rondônia, Amapá e Roraima e
assegura a paridade de
remuneração entre policiais e
bombeiros desses territórios com
os do Distrito Federal. Com ele,
abrem-se também brechas para
a isonomia entre as carreiras de
auditores e fiscais, além de
elevar o salário de mais de 500
defensores públicos da União a
partir de 2016.
Da mesma forma, a Comissão de
Constituição e Justiça do Senado
Federal aprovou, no dia 20 de
maio, projeto que aumenta, em
média, em 59%, os salários dos
servidores do judiciário federal,
que alegam não terem recebido
reajuste nos últimos anos,
diferentemente do que ocorreu
com o Executivo e o Legislativo.
Apresentado pelo Supremo
Tribunal Federal (STS), em
2014, a proposta previa um
impacto de R$ 1,4 bilhão nos
cofres da União em 2015, mas
cálculos realizados pelo
ministério do Planejamento
estimam um impacto de R$ 25,7
bilhões em quatro anos,
números contestados pelo STF.
Como se não bastasse, o déficit
da previdência social que já
havia sido reestimado de R$
43,6 bilhões na primeira versão
do orçamento de 2015, para R$
72,8 bilhões (1,2% do PIB) na
revisão mais recente, pode ser
ainda maior, no caso de a
recessão e o nível de
desemprego irem além do que
atualmente projeta o governo, o
que parece ser o mais provável,
diante da progressiva
deterioração do quadro
macroeconômico.
Não é, no entanto, apenas por
essas dificuldades, tanto
econômicas como políticas, que
o ajuste pode naufragar, mas
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pelas suas próprias
características, centrado
exclusivamente nas contas
primárias, as quais, se
relevantes por dar visibilidade ao
esforço do governo, representa
apenas um dos determinantes
que impacta a dívida pública e
nem é, na atualidade, o mais
importante para o controle de
sua evolução em relação ao
produto nacional.
7. Os juros da dívida e o
componente financeiro:
desajustando o ajuste
Os principais fatores de
contração ou de expansão da
relação dívida/PIB, o parâmetro
que investidores e agências de
rating efetivamente levam em
conta para avaliar a situação
fiscal/financeira dos governos,
são, além do resultado primário,
os juros da dívida, o câmbio e o
próprio PIB. Produzir resultados
primários positivos (ou
superávits) é importante para
agradar o mercado, mas pode,
de um lado, ser prejudicial para
seus próprios objetivos, dado
seus efeitos recessivos que
solapam as receitas públicas, e,
de outo, ser insuficiente para
deter o crescimento da relação
dívida/PIB se os demais fatores
estiverem atuando em direção
contrária.
Por isso, enquanto o ministro da
Fazenda continua empenhado –
e obcecado – em realizar, a todo
custo, um superávit primário de
1,2% do PIB, o qual, tudo indica,
dificilmente será alcançado, os
demais fatores que influenciam a
relação dívida/PIB devem mais
do que neutralizar este esforço.
Se o PIB, por exemplo, conhecer
uma contração de 1,2% no ano,
que representa a nova
estimativa do governo, todo este
esforço terá ido por água abaixo
do ponto de vista da melhoria
dessa relação, pois ela se
manterá praticamente estável,
com a redução do denominador.
No primeiro trimestre deste ano,
os resultados alcançados nas
contas públicas, não são
animadores: a economia de
recursos do setor público
consolidado chegou a R$ 19
bilhões (retração de 26% em
relação ao mesmo período de
2014), mas quem mais
contribuiu para este resultado
foram os governos regionais
(estados e municípios), que
registraram um superávit de R$
14,6 bilhões no período (77% do
total), num período em que
costumam apresentar melhor
desempenho fiscal devido à
cobrança do IPVA e do IPTU. Já a
poupança do governo central,
para quem se projeta a maior
contribuição neste esforço, não
foi além de R$ 4,48 bilhões. Um
nível preocupante, que parece
dar razão as analistas que não
veem o governo em condições
de cumprir a meta prometida de
1,2% do PIB.
Bem mais importante, contudo,
é o que acontece com as
despesas financeiras com o
pagamento dos juros da dívida,
12. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 11 -
que pode impactá-la
negativamente e para as quais
nenhuma atenção tem sido dada,
imprimindo, ao ajuste, uma
feição esquizofrênica. Com o
objetivo de combater sem
sucesso a inflação, que tem sido
pressionada, principalmente
pelos reajustes de preços e
tarifas monitorados e, por isso,
insensível à política monetária, o
Banco Central tem
persistentemente mantido a
política de elevação dos juros,
amplificando o desajuste das
contas públicas, pelo seu
componente financeiro, com o
aumento do déficit nominal, mais
do que fraudando o objetivo do
ministério da Fazenda de
minimamente equilibrá-las.
No primeiro trimestre de 2015, o
déficit nominal atingiu R$ 124,8
bilhões (contra R$ 33 bilhões no
mesmo período de 2014),
acumulando, nos últimos doze
meses, o montante de R$ 435,7
bilhões (ou 7,81% do PIB). Ou
seja, enquanto se busca, de um
lado, produzir um superávit
primário de R$ 66,3 bilhões, o
déficit nominal aumentou, em
relação ao mesmo período do
ano anterior, R$ 91,8 bilhões.
Com isso, a dívida líquida do
setor público, como proporção do
PIB, só não conheceu aumento
porque a desvalorização cambial
de 20,8% acumulada no ano
respondeu por uma redução de
cerca de R$ 180 bilhões em seu
estoque. Isso, porque o Brasil
ainda se encontra numa situação
de “credor líquido” do resto do
mundo (reservas externas >
dívida externa), uma condição
próxima do fim, já que a dívida
externa bruta tem crescido
expressivamente, tendo atingido
US$ 347,8 bilhões em março de
2015, enquanto as reservas
externas se encontram, há dois
anos, estagnadas em US$ 370
bilhões. Mas a dívida bruta, no
conceito do Banco Central,
aumentou, já com a revisão feita
das contas nacionais, 1,4 ponto
percentual do PIB, passando de
61% para 61,4%.
Mantida a política de
manutenção dos juros em níveis
elevados, como já sinalizado pelo
Banco Central, com o objetivo de
trazer a inflação para o centro da
meta, o mais provável é que as
contas públicas continuem
progressivamente se
deteriorando, apesar do esforço
fiscal realizado pelo ministério da
Fazenda, centrado
exclusivamente no ajuste
primário.
8. O ajuste esquizofrênico
Com um ajuste dessa natureza
que se encontra em curso,
desacompanhado de qualquer
proposta de reformas, não será
nenhuma surpresa se a política
econômica, além de produzir a
“paz dos cemitérios” no país,
situação em que não há mais
vida econômica e social pulsante,
conduzi-lo para um quadro de
maiores desequilíbrios
financeiros, jogando-o, sem
forças, nos braços das
13. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 12 -
agourentas agências de rating.
Não sem razão, o mercado já
começa a projetar uma
contração de 2% do PIB neste
ano e de 8,3% para a taxa de
inflação, prova inequívoca da
ineficácia da política monetária
no seu combate. Como o déficit
externo bateu, em abril, em
4,53% do PIB, e a relação
dívida/PIB deve continuar em
trajetória de elevação, pelos
motivos apontados, todos os
ingredientes parecem estar à
mesa para a perda do grau de
investimento do país. Não
parecem amenos os caminhos
que se descortinam para a
população nos próximos anos.
2. INFLAÇÃO
IPCA e INPC
A inflação é um processo de alta
generalizada e continua dos
preços, que sempre foi motivo
de constante vigilância e de
debates na política econômica do
Brasil. Dentre os indicadores
mais importantes na mensuração
da inflação ganha destaque o
Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA),
medido pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística
(IBGE), que considera em sua
metodologia as famílias com
rendimentos mensais de até
quarenta salários mínimos e é a
principal referência para a
política de meta de inflação
fixada pelo governo (Resolução
nº 3991/11 do Banco Central,
que fixa a meta para a inflação
em 4,5% ao ano podendo variar
2,0 pontos percentuais para mais
ou para menos).
O IPCA acumulado no ano de
2014 foi de 6,41%, valor
superior aos 5,91% do ano de
2013. Ainda que tenha fechado
dentro do teto da meta (6,50%
a.a.), em março de 2015 o
acumulado de 12 meses chegou
a 8,13% ante aos 6,15% do
mesmo período do ano anterior.
Gráfico 2.1 - Valores do IPCA jul/2013 a mar/2014 – jul/2014 a
mar/2015 (% a.m)
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
14. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 12 -
Como pode ser observado no
Gráfico 2.1, as variações do IPCA
no segundo semestre de 2014
acompanharam a trajetória do
índice no segundo semestre de
2013. Porém, o mesmo não
ocorre na comparação do
primeiro trimestre do atual ano
com o mesmo período de 2014.
O primeiro apresenta variações
muito superiores, que podem ser
explicadas pelo longo período de
seca entre o final de 2014 e
inicio de 2015, que se refletiu no
aumento no preço de vários itens
(alimentos, água e luz, por
exemplo); pela liberação dos
preços controlados pelo governo,
fazendo com que itens como
energia elétrica, combustíveis,
água e tarifas de transporte
sofressem grandes reajustes;
além das pressões advindas da
desvalorização cambial e do fim
dos subsídios e isenções nos IPI
praticados como política
anticíclica pelo governo desde
2012.
Dentre as principais medidas que
estão sendo tomadas a fim de
conter os aumentos observados
no primeiro trimestre de 2015
estão os aumentos sucessivos da
SELIC, assim como as restrições
às condições de crédito desde
novembro de 2014.
A Tabela 2.1 apresenta a
variação do IPCA por grupos de
gastos com consumo familiar,
bem como o acumulado do
segundo semestre e no ano de
2014.
Tabela 2.1 - Variações mensais por grupos (%) – IPCA
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
Considerando a variação
semestral, destacam-se os
grupos de Habitação com
variação de 4,79%, Alimentação
e Bebidas com 2,79%, saúde e
cuidados pessoais com 2,52% e
Transportes com 2,18%. Além
de representarem as maiores
variações no segundo semestre
de 2014, estes grupos se
configuram como representantes
de grande parcela das despesas
familiares.
Em Habitação, a energia elétrica
residencial merece destaque,
devido ao reajuste ocorrido em
Grupos Acumulado (%)
jul/14 ago/14 set/14 out/14 nov/14 dez/14 Semestre Ano
Alimentação e bebidas -0,15 -0,15 0,78 0,46 0,77 1,08 2,79 8,03
Habitação 1,20 0,94 0,77 0,68 0,69 0,51 4,79 8,80
Artigos de residência 0,86 0,47 0,34 0,19 -0,04 0,00 1,82 5,49
Vestuário -0,24 -0,15 0,57 0,62 0,39 0,85 2,04 3,63
Transportes -0,98 0,33 0,63 0,39 0,43 1,38 2,18 3,75
Saúde e cuidados pessoais 0,50 0,41 0,33 0,39 0,42 0,47 2,52 6,97
Despesas pessoais 0,12 0,09 0,39 0,36 0,48 0,7 2,14 8,31
Educação 0,04 0,43 0,18 0,11 0,21 0,07 1,04 8,45
Comunicação -0,79 0,10 0,13 -0,05 0,08 0,00 -0,53 -1,25
Índice Geral 0,01 0,25 0,57 0,42 0,51 0,78 2,54 6,41
15. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 15 -
várias regiões, como Belém
(34,41%), Vitória (22,77%) e
Brasília (18,58%). O grupo de
Alimentação e Bebidas, que
representa a maior parcela (de
24,86%) do orçamento familiar,
apresentou queda nos preços até
agosto de 2014. Entretanto, a
partir de setembro, registou alta
e alcançou a variação de 1,08%
em dezembro. Ganham destaque
neste processo os aumentos nos
preços dos cereais, leguminosas
e oleaginosas, que inclui o arroz,
o feijão, a farinha, entre outros
itens da alimentação básica das
famílias brasileiras. Com relação
aos preços acompanhados
referentes ao item Saúde e
Cuidados Pessoais, merecem
destaques os aumentos nos
Serviços de Laboratório e
Hospitalares, atingindo 0,82%
em dezembro e nos Planos de
Saúde, chegando a 0,77%. Em
Transportes apesar da variação
negativa de julho (-0,98%), o
restante do semestre apresentou
variações positivas fechando o
semestre com 2,18%. Este item
apresenta o segundo maior peso
no orçamento das famílias
(18,43%) e o maior destaque
até dezembro foi para os preços
das “passagens aéreas” com as
maiores variações devido às
viagens de férias (10,16% em
agosto e 42,53% em dezembro).
O grupo de Transportes Públicos
também esteve acima da média
em dezembro de 2014, fechando
em 4,78%.
No acumulado do ano de 2014,
os itens que apresentaram os
maiores aumentos nos preços
foram Habitação (8,80%),
Educação (8,45%), Despesas
Pessoais (8,31%) e Alimentação
e Bebidas (8,03%). Em
Habitação evidencia-se
novamente a energia elétrica,
cujo aumento nos preços foi de
17,06% no ano frente à queda
de 15,66% em 2013. Este
aumento chegou a 28,18% em
Vitória. Educação apresentou
variações mensais semelhantes
as observadas em 2013, com
realce para os Cursos Regulares,
cujo aumento nos preços
acumulado em 2014 atingiu
8,87%. As Despesas Pessoais
aparecem com um acumulado
inferior, porém próximo aos
8,39% do ano anterior. Os
preços de hotéis foram os
principais responsáveis pela alta
do grupo até junho, coincidindo
com o fim da Copa do Mundo. A
partir de julho as variações
foram baixas e seguiram a
sazonalidade comum ao período.
O acréscimo nos preços do grupo
Alimentação e Bebidas foi
puxado principalmente pelas
Carnes (22,21% em 2014) e
Alimentação fora do Domicílio
(9,79%), além das bebidas,
como a cerveja fora de casa
(aumento de 9,99% em 2014).
Destaque para o menor aumento
em 2014 que ocorreu em Vitória,
de 6,07%. Cabe destacar ainda o
grupo Comunicação, único a
registrar queda nos preços, tanto
16. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 16 -
no acumulado do semestre (-
0,53%) quanto no anual (-
1,51%).
Outro indicador utilizado na
mensuração da inflação é o
Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC), que difere
do IPCA apenas no que diz
respeito à abrangência, uma vez
que considera as famílias com
rendas mensais de até cinco
salários mínimos. Os valores
acumulados nos anos de 2013 e
2014 podem ser observados na
Tabela 2.2.
Tabela 2.2 - Variação acumulada (% anual) IPCA e INPC- 2013/2014
Fonte: IBGE. Elaborado pelos autores.
O INPC acumulado em 2014 foi
de 6,23%, valor superior aos
5,56% do mesmo período de
2013. Esse acumulado anual
sugere que as famílias de
menores rendas mensais
sentiram um impacto um pouco
menor com a alta dos preços em
relação às consideradas no IPCA.
Podem-se notar as semelhanças
quanto aos motivos que levaram
a variações em ambos os
índices. Aparecem entre os
grupos que possuem os maiores
aumentos de preços em 2014:
Habitação (8,82%), Educação
(8,6%), Alimentação e Bebidas
(7,80%), e Despesas Pessoais
(7,45%), o que reforça a
importância dos mesmos para
este conjunto de famílias. Em
Habitação destaca-se o aluguel
residencial, com alta de 9,21%
no ano. Os maiores pesos na
rubrica Educação foram
relacionados com a volta às
aulas, incluindo Artigos de
papelaria (11,13% no ano),
Creche (10,96%), Educação
Infantil (11,80%), Ensino
Fundamental (10,98%).
Segundo o boletim Focus
divulgado pelo Banco Central1
, a
projeção para a inflação medida
pelo IPCA para 2015 ficou em
8,29%, valor bem acima do teto
da meta, enquanto a projeção
para 2016 ficou em 5,51%, o
que indica confiança nas
1
Boletim divulgado em 11 de maio de
2015.
Grupo IPCA INPC
2013 2014 2013 2014
Alimentação e bebidas 8,48 8,03 8,03 7,80
Habitação 3,40 8,80 3,38 8,82
Artigos de residência 7,12 5,49 6,67 5,53
Vestuário 5,38 3,63 5,6 3,53
Transportes 3,29 3,75 2,29 3,00
Saúde e cuidados pessoais 6,95 6,97 6,53 6,55
Despesas pessoais 8,39 8,31 8,10 7,45
Educação 7,94 8,45 8,01 8,60
Comunicação 1,50 -1,25 0,84 -1,95
Índice Geral 5,91 6,41 5,56 6,23
17. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 17 -
medidas de combate à inflação
adotadas em 2015.
IGP-DI e IGP-M
O Índice Geral de Preços (IGP) é
outro indicador importante para
acompanhar a dinâmica
inflacionária da economia
brasileira. Este é um indicador
de preços calculado pelo
Instituto Brasileiro de Economia,
da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) que, devido à sua
composição, permite a análise da
inflação em diferentes etapas do
processo produtivo, medindo as
variações para o mercado
atacadista, para o consumidor
final e para a construção civil. O
IGP é uma média aritmética
ponderada dos índices: Índice de
Preços ao Produtor Amplo (IPA),
Índice de Preços ao Consumidor
(IPC), e Índice Nacional de Custo
da Construção (INCC), aplicados
os pesos de 60%, 30% e 10%,
respectivamente. O IGP se
subdivide quanto à periodicidade
de coleta dos dados em IGP-DI e
IGP-M2
. O IGP-DI acumulado de
2014 (3,78%) ficou abaixo do
acumulado do ano anterior
(5,52%). Analisando
separadamente os componentes
do índice: o IPA variou 2,15%
(ante a um aumento de 5,07%
em 2013); o IPC variou 6,87%
(em face de um aumento de
2
Enquanto o IGP-DI (Disponibilidade
Interna) é medido do primeiro ao último
dia de cada mês, o IGP-M (Mercado) é
apurado do dia 20 de um mês até o dia
21 do próximo mês.
5,63% no ano anterior); e o
INCC variou 6,95% (abaixo dos
8,09% registrados em 2013).
A análise desses valores mostra
que a redução no acumulado do
IGP-DI foi causada pela variação
do IPA bem inferior à acumulada
no ano de 2013. Isso mostra que
durante o ano de 2014 reduções
nos aumentos dos preços para o
produtor tenderam a diminuir a
pressão inflacionária que
exerceram no índice no primeiro
semestre de 2014, reflexo da
política de controle de preços
realizada pelo governo que foi se
findando do ano, do
enfraquecimento da atividade
econômica do país (em relação a
2013), entre outros fatores já
explicitados na análise do IPCA
(como câmbio e alterações na
taxa de juros).
O Gráfico 2.2 permite a
visualização do IGP-DI mensal
de janeiro de 2014 a fevereiro de
2015, assim como as variações
dos componentes do índice.
Observa-se no segundo
semestre, uma maior suavidade
nas variações do IPA em
comparação com o primeiro
semestre. Pode-se notar ainda
uma reversão na tendência do
IPC que passa a ser crescente
após agosto. Nos dois primeiros
meses de 2015 há continuidade
desta trajetória, quando as
variações do IPC ultrapassam as
do IPA. Neste período, os preços
ao consumidor passaram a
exercer maiores pressões sobre
o aumento dos preços, visto que
18. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 18 -
as variações do IPA (0,23% em
janeiro e 0,41% em fevereiro)
são bem inferiores em relação às
do IPC (1,73% em janeiro e
0,97% em fevereiro).
Gráfico 2.2 - IGP-DI e componentes (% a.m)
Fonte: FGV. Elaborado pelos autores.
Acerca do IPA, o efeito cambial
se mostra importante nessa
análise. A breve valorização do
Real até abril se reflete nas
sucessivas quedas do índice nos
meses posteriores até se
apresentar um crescimento entre
os meses de julho e agosto. O
movimento de queda foi
impedido, dentre outros motivos,
pelo início da desvalorização
acentuada que o Real sofreu a
partir de junho e que hoje ainda
pode ser observada. A explicação
é que a valorização do real
diminuiu os custos de produção
de indústrias que importam
peças e componentes, e
insumos, enquanto que a
desvalorização, naturalmente,
aumentou esses mesmos custos.
Além disso, observa-se que as
políticas de redução dos custos
de produção, praticadas pelo
governo até o primeiro semestre
refletiram nos índices de inflação
do produtor. A partir do
movimento do IPC no segundo
semestre de 2014 e início de
2015, pode-se concluir que a
liberação de alguns preços
controlados (como energia, por
exemplo) e a situação hídrica do
país contribuíram para o
crescimento do índice.
Descontadas as variações
esperadas, a exemplo do
reajuste de preços da Educação,
os destaques para o período são
os componentes: Alimentação,
Habitação e Transportes; assim
como observado nos índices de
preço do IBGE. No INCC a mão
de obra foi a maior responsável
pelos valores do índice. As
variações do segundo semestre
são menos expressivas que as
do primeiro, mostrando uma
19. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 18 -
relativa estabilização dos preços
no setor no período.
O IGP-M apresentou
comportamento similar ao IGP-
DI, como pode ser visto abaixo
no Gráfico 2.3 O IGP-M
acumulado de 2014 (3,69%)
ficou abaixo do ano anterior
(5,15%), assim como do índice
de Disponibilidade Interna.
Gráfico 2.3 - IGP-M e componentes (% a.m)
Fonte: FGV. Elaborado pelos autores.
Analisando os componentes do
IGP-M separadamente nota-se
que estes apresentaram
variações semelhantes aos do
IGP-DI: o IPA variou 2,13%
(percentual bem abaixo dos
5,12% do ano anterior); o IPC
variou 6,76% (acima dos 5,51%
de variação em 2013); e o INCC
variou 6,74% (ante aos 8,05%
de 2013). Todas as variações
aqui descritas acompanham o
movimento dos componentes do
IGP-DI. Apesar dos preços ao
consumidor possuírem maior
variação que os preços ao
produtor, uma análise dos
subgrupos do IPA e IPC mostra
que as maiores contribuições
para a inflação vieram de setores
que possuíam preços controlados
pelo governo ou que sofreram
com a crise hídrica que o país
vive. Isto é, os setores de
Alimentação (dependente da
qualidade das safras), o setor de
Habitação (profundamente
afetado pelos preços da energia
elétrica) e o setor de Transportes
(ligado ao petróleo e à variação
dos preços de seus derivados,
gasolina e diesel
principalmente).
ICV E CESTA BÁSICA
A variação acumulada do ICV3
no
ano de 2014 representou um
3
O ICV (índice de Custo de Vida) é
medido pelo DIEESE (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos, que apura o ICV desde
1959), e sua análise é feita com base no
custo de vida do município de São Paulo.
Esse indicador atualizado é responsável
20. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 19 -
aumento de 6,73% em relação
ao estrato geral4
. Na
comparação dos dois semestres
do ano de 2014, o primeiro
obtém variação acumulada de
4,13%, enquanto que no
segundo semestre a variação
acumulada representou um
aumento de 2,49%. Em
comparação com a variação
acumulada no ano de 2013, que
ficou em 6,04%, nota-se que a
de 2014 apresentou uma
diferença positiva de 0,69 pontos
percentuais. Destacam-se no
segundo semestre os grupos de
Despesas Diversas (4,2%),
seguido por Habitação (3,84%) e
Alimentação (3,44%). O único
grupo que representou variação
acumulada negativa no segundo
semestre foi Equipamentos
Domésticos (-0,23%). A análise
do impacto da inflação nos três
estratos sociais no segundo
semestre de 2014, revela que os
aumentos nos preços da cesta de
por medir a evolução do custo de vida do
município de São Paulo, analisando as
seguintes variáveis: Alimentação,
Habitação, Equipamento Doméstico,
Transporte, Vestuário, Educação e
Leitura, Saúde, Recreação, Despesas
Pessoais e Despesas Diversas. O método
utilizado para medir esse índice é a
fórmula de Laspeyres.
4
A análise é dividida de acordo com os
estratos sociais. O estrato geral engloba
todas as famílias, sendo subdivido em
três estratos de acordo com a renda
familiar. São eles: primeiro tercil (renda
familiar média mensal de R$ 377,40),
segundo tercil (renda média de R$
934,17) e o terceiro tercil (renda média
de R$ 2.782,90).
bens de consumo do estrato 1
(2,65%) e do estrato 2 (2,61%)
foram maiores do que o estrato
3 (2,40%). Apesar de se manter
nas casas decimais, por este
índice a inflação foi maior nas
famílias de menores rendas, ao
contrário do resultado do
IPCA/INPC.
Em relação às variações
acumulados do ano de 2014, o
grupo com maior crescimento
inflacionário foi o Educação e
Leitura (9,64%), depois
Alimentação (9,39%) e Despesas
Pessoais (9,27%), seguindo a
tendência verificada no índices
anteriores. Já na comparação do
índice acumulado nos primeiros
meses de 2015, o resultado foi
de 4,99%, superior ao observado
no mesmo período de 2014, de
3,40%. Outro destaque é para
os grupos Habitação e
Transporte, em que o acumulado
no ano de 2015 foi de 7,69% e
8,88%, respectivamente.
No mesmo período de 2014, os
grupos Habitação e Transporte
registraram variações bem
inferiores, de 2,31% e 1,92%,
respectivamente. A diferença
relevante entre os anos pode ser
explicada pelo aumento das
tarifas de energia elétrica
anunciados pelo governo e das
tarifas de metrô e ônibus que
aconteceram nos meses de
fevereiro e março de 2015, bem
como a elevação no preço dos
combustíveis. Vale destacar a
sazonalidade nos primeiros
meses do ano, época em que
21. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 20 -
costumam ocorrer os reajustes
nos preços dos produtos e
serviços praticados nesses
grupos de referência, fato que
pode ser observado no Gráfico
2.4.
Gráfico 2.4 – ICV Estrato Geral - Variações percentuais ao mês (%)
Fonte: DIEESE. Elaborado pelos autores.
Já na análise do preço médio da
cesta básica5
, referente à
variação acumulada do ano de
2014, os preços da carne bovina
e do pão francês subiram em
todas as cidades, enquanto o
arroz e o café aumentaram em
17 cidades. Para a carne bovina
o menor crescimento acumulado
foi observado em Salvador
(9,52%) e o maior em Belém
(27,71%). Ocorrência que foi
explicada no início do ano pela
estiagem e a crescente
5
Refere-se a um índice que mede o
preço médio da cesta básica dos
alimentos em dezoito capitais brasileiras,
calculado também pelo DIEESE. Os
alimentos considerados pelo Dieese, que
compõe a cesta básica são: carne, leite,
feijão, arroz, farinha de trigo/mandioca,
batata, tomate, pão, café, banana,
açúcar, óleo, manteiga.
exportação, e no segundo
semestre devido à entressafra e
ao elevado custo de reposição
por parte do produtor. A partir
da análise divulgada pelo DIEESE
no mês de dezembro de 2014, o
aumento no preço do pão
francês foi explicado pela alta no
preço do trigo, principal insumo,
pois o grão era importado da
Argentina e agora é comprado
pelo Canadá e Estados Unidos,
onde é mais caro e as
desvalorizações cambiais
agravaram o aumento. O
aumento da energia elétrica
também impactou a produção de
pão francês, encarecendo o
custo. O valor do feijão tipo
preto, que diminuiu em todas as
cidades pesquisadas, apresentou
maior recuo em Vitória, de -
22. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 22 -
18,55%. Pode-se analisar pela
Tabela 2.3 a média dos preços
trimestrais da cesta básica e a
variação anual para as distintas
capitais.
Tabela 2.3 – Preço médio da cesta básica – trimestres de 2014 e
2015(R$)
Fonte: DIEESE. Elaborado pelos autores.
No ano de 2014, as capitais que
apresentaram maior crescimento
acumulado no preço da cesta
básica foram: Brasília (13,79%),
seguido por Aracaju (13,34%) e
Florianópolis (10,58%). A única
cidade que apresentou queda foi
Natal (-1,70%). Em comparação
com o ano de 2013, a maior
variação acumulada havia sido
na capital Salvador (16,74%) e a
menor ocorreu em Goiânia
(4,37%).
O primeiro trimestre do ano de
2015 seguiu esta tendência e
iniciou com aumento nos preços
em quase todas as capitais
pesquisadas, registrando maior
aumento em Salvador, Aracaju e
Curitiba, de 13,12%, 11,20% e
10,72% respectivamente. Para a
capital Vitória, a variação
acumulada total da cesta básica
no ano de 2014 apresentou valor
positivo de 3,66%. O acumulado
do primeiro semestre apresentou
valor acumulado de 7,65%,
enquanto o segundo semestre de
2014 apresentou variação
negativa de 3,71%. Em
comparação com as outras
capitais brasileiras pesquisadas,
Vitória foi a quarta capital com
maior variação acumulada no
primeiro trimestre de 2015.
Capital 1º trim 2º trim 3º trim 4º trim
Variação
anual
2014(%)
1º trim
Variação
no ano
2015 (%)
Aracaju R$ 221,86 R$ 242,47 R$ 234,47 R$ 240,08 13,34 R$ 232,93 11,20
Belém R$ 301,22 R$ 314,82 R$ 302,86 R$ 302,85 3,81 R$ 306,30 4,03
Belo
Horizonte
R$ 307,12 R$ 335,82 R$ 305,13 R$ 311,04 1,22 R$ 316,02 8,59
Brasília R$ 307,45 R$ 328,93 R$ 299,56 R$ 318,00 13,79 R$ 311,98 6,76
Curitiba R$ 305,70 R$ 336,41 R$ 304,34 R$ 316,45 4,82 R$ 315,48 10,72
Florianópolis R$ 333,03 R$ 351,91 R$ 342,79 R$ 350,96 10,58 R$ 342,58 1,43
Fortaleza R$ 276,94 R$ 296,83 R$ 281,08 R$ 279,53 2,53 R$ 284,95 8,63
Goiânia R$ 286,40 R$ 295,05 R$ 289,18 R$ 294,82 9,66 R$ 290,21 7,39
João Pessoa R$ 264,91 R$ 274,73 R$ 269,34 R$ 267,83 5,10 R$ 269,66 6,03
Natal R$ 270,44 R$ 288,04 R$ 271,68 R$ 264,30 -1,70 R$ 276,72 7,63
Porto Alegre R$ 331,26 R$ 358,91 R$ 327,99 R$ 343,94 5,89 R$ 339,39 3,28
Recife R$ 279,82 R$ 299,64 R$ 290,77 R$ 280,57 4,26 R$ 290,08 4,26
Rio de
Janeiro
R$ 353,45 R$ 345,85 R$ 328,21 R$ 333,35 7,13 R$ 342,50 6,11
Salvador R$ 267,07 R$ 276,96 R$ 266,68 R$ 260,45 1,01 R$ 270,24 13,12
São Paulo R$ 333,43 R$ 359,67 R$ 338,78 R$ 347,73 8,24 R$ 343,96 7,10
Vitória R$ 333,09 R$ 350,00 R$ 329,39 R$ 331,23 3,66 R$ 337,49 9,15
23. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 23 -
3. NÍVEL DE ATIVIDADE
PIB NACIONAL
Se, para Stiglitz, o ano de 2014
entrará para a história como
aquele em que a China “voltou a
ocupar o lugar onde esteve ao
longo da maior parte da
história”, isto é, a dianteira da
economia mundial, haja vista o
PIB chinês ter ultrapassado o da
economia norte-americana pelo
critério da paridade de poder de
compra, para a economia
brasileira os resultados não são
tão animadores. Afinal, o
crescimento de 0,1% de nosso
principal agregado econômico
durante o mesmo período aponta
para a preocupante condição de
estagnação econômica,
principalmente se levados em
consideração os resultados do
primeiro trimestre de 2015, que
teve uma queda de 0,2%. Em
valores correntes, o PIB
brasileiro alcançou R$ 5,53
trilhões de reais, em 2014, o que
colocou o país, de acordo com os
dados divulgados pelo FMI em
janeiro deste ano, em 7º lugar
entre as economias mundiais,
ficando atrás do Reino Unido,
França, Alemanha, Japão, China
e EUA.
Entre os três grandes setores
produtivos da economia,
Agropecuária, Indústria e
Serviços, o último foi o que
registrou, pela ótica da
produção, a melhor taxa de
expansão, 0,7% no acumulado
do ano. Ainda assim, o resultado
é o mais baixo desde o início da
série histórica apresentada em
1996. Esse baixo crescimento do
setor, cujo peso relativo
representa 69% do PIB, foi
provocado pela queda da
produção industrial e pelo fraco
crescimento do consumo das
famílias (0,9%).
O setor Agropecuário, com peso
relativo de 7,3% na composição
do PIB brasileiro, registrou
expansão de 0,4% em 2014,
mantendo-se praticamente
estável. Trata-se de um
crescimento pífio que não
sinaliza para uma possível
recuperação dos níveis
alcançados nos anos anteriores,
já que em 2013 havia alcançado
crescimento de 7,0%. Segundo o
Levantamento Sistemático da
Produção Agrícola, apesar da
produção de alguns itens terem
apresentado crescimento como,
por exemplo, soja, trigo e
mandioca, 5,8%, 8,0% e 8,8%
respectivamente, houve queda
da produtividade dessas culturas
ao longo do ano, o que
representa um sinal de alerta
para o setor.
Já a Indústria, responsável por
23% do PIB nacional, apresentou
retração de 1,2% no acumulado
do ano, forçando para baixo o
resultado agregado do produto
anual do país.
24. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 24 -
Tabela 3.1 - Brasil: Produto Interno Bruto - Taxa trimestre contra Trimestre
Imediatamente Anterior – (%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
(1) Variação percentual do acumulado ano de 2014.
Pela ótica do gasto, a elevação
das taxas de juros e inflação,
aliadas à redução do acesso ao
crédito, são fatores que
concorrem para explicar a
trajetória de desaceleração do
Consumo das Famílias, que no
acumulado de 2014 cresceu
apenas 0,9%. Em valores
correntes, o resultado foi de R$
3,45 trilhões, o que representa
62,4% do PIB do país. O aspecto
positivo representado pelo
crescimento de 4,1% da massa
salarial dos trabalhadores ao
longo do ano passado, como
indicado pela Pesquisa Mensal de
Emprego, parece ter sido
contrarrestado pelo volume de
crédito com recursos livres para
pessoas físicas, o qual deixou de
crescer em termos reais durante
o ano de 2014, como verificado
na análise feita pelo módulo
Política Monetária desse boletim.
Vale ressaltar que o Consumo
das Famílias é um importante
termômetro da atividade
econômica, uma vez que,
juntamente com outras variáveis
como a expectativa inflacionária,
taxa de juros interna,
desonerações e incentivos
fiscais, bem como a conjuntura
política, ajuda a compor as
expectativas dos empresários no
que diz respeito à tomada de
decisão de investimentos e ao
aumento da capacidade
produtiva. Isto se reflete de
modo objetivo na Formação
Bruta de Capital Fixo, medida
Setor de Atividade
2014.
I
2014.I
I
2014.II
I
2014.I
V
2014¹
Agropecuária 4,5 -2,7 -2,0 1,8 0,4
Indústria 1,3 -4,1 1,2 -0,1 -1,2
Extrativa Mineral 2,4 3,1 4,2 0,0 8,7
Transformação -0,9 -4,1 1,2 -1,6 -3,8
Construção Civil 2,1 5,0 -0,2 0,9 -2,6
Prod. e distrib. de eletricidade, gás e água 2,6 -10,2 0,4 1,8 -2,6
Serviços 0,2 -0,8 0,7 0,3 0,7
Comércio 0,2 -4,4 0,8 0,6 -1,8
Transporte, amarzenagem e correio 0,7 -0,8 1,0 0,0 2,0
Serviços de informação 0,1 0,1 0,3 1,4 4,6
Interm. financ. seguros, prev. compl. e serv. rel. 1,3 -0,6 -0,8 1,3 0,4
Outros serviços -1,2 -0,1 1,3 1,0 0,1
Ativ. imobilárias e aluguel 1,7 -0,2 0,9 0,7 3,3
Adm. saúde e educação públicas -0,4 -0,1 0,5 -0,1 0,5
Valor adicionado a preços básicos 1,1 -2,1 0,6 0,3 0,2
PIB a preços de mercado 0,6 -1,4 0,2 0,3 0,1
Despesa de consumo das famílias 0,3 -0,5 0,4 1,1 0,9
Despesa de consumo da administração pública -1,4 0,9 0,9 -0,6 1,3
Formação bruta de capital fixo -0,5 -4,5 -0,5 -0,4 -4,4
Exportação de bens e serviços -1,7 1,4 1,4 -12,3 -1,1
Importação de bens e serviços (-) 2,7 -3,7 2,5 -5,5 -1,0
25. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 25 -
que indica o investimento em
máquinas, equipamentos e
construções. Nesse sentido,
pode-se afirmar que houve certo
desestimulo para os
investimentos, haja vista a
queda de 4,4% observada no
setor de FBKF ao longo de 2014,
tendência que já se manifestava
desde o primeiro trimestre do
ano, conforme indicado na
Tabela 3.1, um resultado
preocupante pelos possíveis
reflexos sobre o desempenho da
economia em 2015.
Já o Consumo do Governo
apresentou uma taxa de
crescimento superior a
observada pelo Consumo das
Famílias, ou seja, 1,3% ao longo
de 2014, o que permite afirma
que o gasto da administração
pública acabou evitando a
estagnação, ou mesmo, retração
do PIB anual. Em valores
correntes, o resultado alcançado
pelo setor foi de R$ 1,11 trilhão,
ou 19,9% do PIB. Dadas as
medidas de contenção dos
gastos públicos anunciadas no
início deste ano, é de se esperar
valores mais baixos desse setor
em 2015.
Gráfico 3.1 – Resultado PIB – Taxa acumulada nos últimos quatro trimestres
de 2014 em relação ao mesmo período do ano anterior (%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
No Setor Externo, tanto s
Exportações quanto as
Importações de Bens e Serviços
sofreram forte queda no último
trimestre de 2014,
respectivamente, de 12,3% e
5,5% em relação ao trimestre
anterior imediatamente anterior.
No acumulado do ano as
Exportações caíram 1,1%. Os
maiores recuos foram
observados na indústria
automotiva, embarcações e
estruturas flutuantes. Alguns
fatores podem ser apontados
como determinantes para essa
queda das exportações, como a
queda no preço mundial das
commodities e a crise econômica
na Argentina, um dos principais
26. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 26 -
importadores de bens fabricados
no Brasil, além de certa redução
do crescimento econômico de
importantes economias
mundiais. Produtos siderúrgicos
e de madeira, além da celulose,
contrabalançaram parcialmente a
queda do setor.
As Importações também
apresentaram queda acumulada
durante 2014, da ordem de
1,0%, possivelmente puxada por
máquinas e equipamentos, peças
e acessórios automotivos. Cabe
ressaltar a influência que o
aumento da taxa de câmbio
exerceu sobre esse setor nos
últimos meses do ano, não
evitando, no entanto, o déficit da
balança comercial.
Diante dos dados apresentados,
fica evidente o desaquecimento
da economia brasileira no ano de
2014, comportamento visível nos
últimos trimestres, por várias
combinações perversas como
elevação das taxas de juros e
inflação, cenários econômico e
político preocupantes.
Tabela 3.2 - Brasil: Produto Interno Bruto – Valores Correntes – (R$ milhões)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais.
INDÚSTRIA
Acreditava-se que a trajetória da
produção industrial no Brasil em
2014 seria de queda e,
infelizmente, foi exatamente isto
o que aconteceu: a produção
industrial contraiu em 3,2% no
acumulado do ano. Poucos
setores apresentaram
crescimento, e os mais
expressivos foram as indústrias
extrativas, com aumento de
5,7%, e produtos derivados do
petróleo e biocombustíveis,
aumento de 2,4%.
Dentre as principais quedas que
valem destaque estão os
produtos de metal (9,8%),
máquinas e equipamentos
(5,9%), metalurgia (7,4%). O
principal impacto negativo foi
veículos automotores, reboques
e carrocerias (16,8%). Parte
desta queda é justificada pela
redução na demanda e
fabricação de caminhões. Este
mesmo setor teve maior peso na
queda da produção industrial.
Trazendo o foco para grandes
categorias econômicas, os bens
de capital apresentaram a maior
Setor de Atividade 2013 2014
Agropecuária 246 692 262 346
Indústria 1 067 585 1 104 721
Serviços 3 070 542 3 351 837
Impostos sobre produtos 770 480 802 532
PIB a preços de mercado 5 157 569 5 529 256
Despesa de consumo das famílias 3 200 737 3 449 807
Despesa de consumo do governo 1 010 354 1 114 901
Formação bruta de capital fixo 1 059 028 1 090 116
Exportação de bens e serviços 619 920 635 910
Importação de bens e serviços (-) 740 431 788 127
27. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 27 -
queda, com 9,6%, e um dos
maiores responsáveis por essa
diminuição foi equipamentos de
transporte, o qual apresentou
retração de 16,6%. Em seguida
aparece a categoria de bens de
consumo duráveis (9,2%), com o
maior peso verificado pela
redução de 14,6% na produção
de automóveis. Outros
resultados negativos foram
apresentados pelos bens
intermediários (2,7%) e bens de
consumo semi e não-duráveis
(0,3%).
Para os que acreditam no
processo de desindustrialização
no Brasil, um dado marcante é
observado no Coeficiente de
Penetração de Importados da
indústria geral, divulgado pela
CNI (Confederação Nacional de
Indústria). Tal coeficiente
apresenta uma tendência de
crescimento desde 2011,
passando de 15,9%, em 2010,
para 21,7%, em 2014. Isto
significa que há um aumento da
participação de produtos
importados no consumo
intermediário da indústria geral,
o que mostra que a indústria
brasileira, para crescer, está se
tornando cada vez mais
dependente dos bens
importados.
Comparado com o último
trimestre de 2014, o primeiro
trimestre de 2015 recuou 5,9%,
expressando o comportamento
geral de redução do setor
industrial como um todo, seja
em bens de capital ou consumos
duráveis. Apesar disso, essa
queda registrada no início do ano
é esperada visto que
historicamente todo mês de
janeiro apresenta redução na
produção industrial,
principalmente pelo
desaquecimento do consumo.
A maior queda verificada foi para
os bens de capital (-18,0%), que
por sua vez foi puxada pela
redução na fabricação de bens e
capital para equipamentos de
transporte (-24,7%). Em
segundo lugar estão os bens de
consumo duráveis (-15,8%),
resultado puxado pela queda na
produção de automóveis (-
16,1%). As outras categorias
não apresentaram taxas tão
altas de queda, sendo os bens de
consumo semi e não duráveis
com retração de 5,9% e de bens
intermediários com -2,8%.
28. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 28 -
Tabela 3.3 - Indicadores da Produção Industrial por Grandes Categorias
Econômicas (Variação %)
Fonte: Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria. Elaborado
pelos autores.
Dentre os setores da economia,
e ainda analisando o acumulado
dos primeiros trimestres 2014 e
2015, o que mais chamou
atenção foi o setor de veículos
automotores, reboques e
carroceria com queda de 20,7%.
Outros setores que contribuíram
negativamente sobre o total foi o
setor de coque, produtos
derivados do petróleo e
biocombustíveis com queda de
7,7%, de equipamentos de
informática, produtos eletrônicos
e ópticos com diminuição de
27,0% e produtos farmaquímicos
e farmacêuticos com redução de
17,2%.
Grandes categorias econômicas
Jan-Mar
2014
Jan-Mar
2015
Bens de Capital 0,6 -18
Bens Intermediários -0,7 -2,8
Bens de Consumo Duráveis 3,5 -15,8
Bens de Consumo Semi e Não duráveis 3 -5,9
Indústria Geral 0,6 -5,9
29. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 29 -
Tabela 3.4 - Produção Física Industrial por Atividades (Variação %)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria. Elaborado pelos
autores.
COMÉRCIO NACIONAL
De acordo com a Pesquisa
Mensal de Comércio PMC/IBGE,
no acumulado do ano de 2015
até o mês de fevereiro, o
Comércio Varejista do País teve
uma queda de 0,1%, para o
volume de vendas e crescimento
de 0,7% para a receita nominal,
ambas as variações com relação
ao mês anterior. No acumulado
de 12 meses, o índice registrou
crescimento de 0,9% no volume
de vendas.
Atividade
Mar2015 -
Mar2014
Acumulado
Jan-Mar 2015
Acumulado
12 meses
Indústria Geral -3,5 -5,9 -4,7
Indústrias Extrativas 1,0 1,1 0,8
Produtos Alimentícios 0,0 -0,2 -0,3
Bebidas -0,4 -0,2 0,0
Produtos do Fumo -0,1 -0,1 0,0
Produtos Têxteis 0,0 -0,1 -0,1
Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios -0,2 -0,3 -0,2
Couro, Artigos para Viagem e Calçados 0,0 0,0 -0,1
Produtos de Madeira 0,0 -0,1 -0,1
Celulose, Papel e Produtos de Papel 0,0 0,0 0,0
Impressão e Reprodução de Gravações 0,0 -0,1 0,0
Coque, Produtos Derivados do Petróleo e
Biocombustíveis
-1,1 -0,8 0,1
Perfumaria, Sabões, Detergentes e Produtos de
Limpeza e de Higiene Pessoal
0,0 -0,1 0,0
Outros Produtos Químicos 0,0 -0,2 -0,2
Produtos Farmoquímicos e Farmacêuticos -0,3 -0,4 -0,1
Produtos de Borracha e de Material Plástico -0,1 -0,2 -0,2
Minerais Não Metálicos -0,1 -0,2 -0,2
Metalurgia -0,6 -0,4 -0,5
Produtos de Metal - exclusive Máquinas e
Equipamentos
0,0 -0,3 -0,3
Equipamentos de Informática, Produtos
Eletrônicos e Outros
-0,7 -0,8 -0,4
Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos 0,0 -0,1 -0,2
Máquinas e Equipamentos -0,2 -0,4 -0,4
Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias -1,3 -2,2 -2,2
Outros Equipamentos de Transporte 0,0 -0,1 0,0
Móveis 0,0 -0,1 -0,1
Produtos Diversos 0,2 0,0 -0,1
Manutenção, Reparação e Instalação de
Máquinas e Equipamentos.
0,1 0,0 0,0
30. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 30 -
Em uma relação a 2014, no mês
de Dezembro o Comércio
varejista do País apresentou, na
relação mês/mês anterior com
ajuste sazonal, taxas de variação
de -2,6% para o volume de
vendas e de -2,4% para a
receita nominal. Nos dois casos,
tratam-se dos primeiros
resultados negativos após quatro
meses consecutivos de
crescimento. Em relação ao mês
anterior com ajuste sazonal, as
10 atividades pesquisadas
registraram resultados negativos
no volume de vendas.
Tabela 3.5 – Taxa de variação do volume de vendas e de receitas para as
principais atividades(%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.
(1) Variação percentual real em relação ao mesmo mês do ano anterior.
A Linha Hipermercados,
Supermercados, Produtos
Alimentícios, Bebidas e Fumo
com crescimento de 1,3% em
2014 com relação ao ano
anterior, exerceu o terceiro
maior impacto na formação da
taxa geral do varejo. O declínio
da taxa de crescimento em
relação ao ano anterior, quando
o aumento foi de 1,9% em
relação a 2012, pode ser
explicado pela desaceleração do
crescimento da massa real de
rendimento, com taxa de
variação de 1,4% em 2014,
contra os 2,4% de 2013,
segundo a Pesquisa Mensal de
Emprego. Cabe ressaltar que o
desempenho desta atividade foi
influenciado ainda pelos preços
da alimentação no domicílio que,
nos últimos 12 meses, segundo
Atividades Out/14¹ Nov/14¹ Dez/14¹ Acum.
Ano
Acum.
12 Meses
Volume de Vendas
Comércio varejista 1,8 0,9 -2,6 -1,2 0,9
Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo 1,2 1,6 -0,9 -0,8 0,3
Móveis e eletrodomésticos -1,8 -6,6 -3,6 -6,5 -1,6
Comércio Varejista ampliado 1,7 1,2 -3,7 -7,5 -3,8
Veic. e motos, partes e Peças -11,2 -9,9 -8,6 -19,8 -12,8
Material de Construção -0,2 -2,4 1,1 -7,8 -2,8
Receita de Vendas
Comércio varejista 1,3 1,4 -2,4 5,0 7,2
Hiper.,Super., Alim., Beb. e Fumo 8,4 5,9 6,7 7,6 7,8
Móveis e eletrodomésticos 3,9 -0,7 0,2 -4,3 4,1
Comércio varejista ampliado 2,3 2,2 -3,7 -1,7 1,9
Veic. e motos, partes e Peças -8,2 -6,9 -5,8 -16,7 -9,8
Material de Construção 5,2 2,2 5,6 -3,5 2,6
31. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 31 -
o IPCA, variaram 7,1% contra
6,4% do índice geral.
A atividade Móveis e
eletrodomésticos exerceu o
quinto maior impacto na taxa
anual do varejo, com taxa de
0,6%, em 2014. Foi constatada
uma redução do ritmo de
crescimento da atividade diante
do resultado de 2013 (5,0%). O
aumento da taxa de juros,
somado à retirada gradual dos
incentivos do IPI direcionados à
linha branca influenciaram este
desempenho. No acumulado de
2015, o resultado também foi
negativo com queda de 6,5% no
volume de vendas e de 4,3% na
receita nominal. A menor oferta
de crédito influenciou este
resultado.
No Comércio varejista ampliado,
que inclui veículos e motos,
partes e peças e também os
itens da construção civil, a maior
redução foi na linha veículos e
motos, partes e peças com
queda de 9,4%. Nas vendas de
veículos, utilitários, caminhões e
ônibus, o ano de 2014 encerrou
com a pior taxa de vendas em
cinco anos, com retração de
0,9% em relação a 2013. A este
resultado se atribui a retirada de
partes dos descontos no Imposto
sobre Produto Industrializado
(IPI) em dezembro de 2014.
Seguindo esta tendência, no
acumulado do ano em 2015, o
varejo ampliado obteve queda de
7,5% no volume de vendas e de
1,7% na receita nominal. A
redução das vendas no
segmento foi decorrente,
também, da gradual retirada dos
incentivos via redução do IPI, do
menor ritmo na oferta de crédito
e da restrição orçamentária das
famílias, diante da desaceleração
do crescimento real da massa de
salários.
COMÉRCIO CAPIXABA
De acordo com dados da
Pesquisa Mensal do Comércio
PMC/IBGE, o comércio varejista
capixaba apresentou recuo de
2,9% em seu volume de vendas
entre os meses de novembro e
dezembro de 2014, na série livre
dos efeitos sazonais. Porém,
tanto o varejo quanto o varejo
ampliado apresentaram
variações positivas no volume de
vendas em relação ao ano
anterior.
Em termos acumulados, o
volume de vendas varejista no
Espírito Santo apresentou
variação positiva, acumulando,
em 2014, 0,3%. O varejo
ampliado, de modo contrário,
acumulou resultados negativos,
com queda de -3,9%. O
desempenho negativo do volume
de vendas do varejo ampliado
permanece refletindo as taxas
negativas verificadas nas
atividades Veículos,
motocicletas, partes e peças e
Material de construção.
Em 2015, o comércio varejista
apresentou uma queda de 2,4%
no volume de vendas, porém
obteve um crescimento de 5,0%
na receita nominal. No comércio
32. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 32 -
varejista ampliado o volume de
vendas registrou queda de 7,3%
e de 1,4% na receita nominal. A
Linha Material de Construção
obteve o pior resultado no varejo
ampliado, com quedas de 17,3%
no volume de vendas e de
12,4% na receita nominal.
Tabela 3.6 – Taxa de variação do volume de vendas e de receitas para as
principais atividades (%)
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas. Coordenação de Serviços e Comércio.
(1) Variação percentual real em relação ao mesmo mês do ano anterior.
4. EMPREGO E SALÁRIOS
Para a análise dos indicadores de
empregos e salários na economia
brasileira no período de julho de
2014 a fevereiro de 2015, serão
utilizados os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), do
Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos
Socioeconômicos (DIEESE) e do
Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE). Vale ressaltar
que as metodologias utilizadas
em cada pesquisa se diferem e,
portanto, não devem ser
comparadas.
O IBGE, no intuito de aperfeiçoar
seu sistema de levantamento de
dados, e embasado nas
recomendações da Organização
Internacional do Trabalho (OIT),
vem promovendo a substituição
da Pesquisa Mensal de Emprego
(PME) pela Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD
Contínua), com maior
abrangência territorial6
e com
periodicidade baseada em
6
A nova pesquisa abrange as regiões
metropolitanas de Manaus, Belém,
Macapá, São Luís, Fortaleza, Natal, João
Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju,
Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de
Janeiro, São Paulo, Curitiba,
Florianópolis, Porto Alegre, Vale do Rio
Cuiabá e Goiânia.
Atividades Fevereiro/2015 Acum
Ano
Acum
12 Meses
Volume de Vendas
Comércio varejista -3,4 -2,4 -0,7
Hiper.,Super., Alim., Beb. e
Fumo
1,5 0,9 -1,4
Móveis e eletrodomésticos -0,8 0,7 7,6
Comércio Varejista ampliado -13,7 -7,3 -4,2
Véic. e motos, partes e
Peças
-24,2 -11,0 -7,1
Material de Construção -20,5 -17,3 -9,9
Receita de Vendas
Comércio varejista 4,4 5,0 6,0
Hiper.,Super., Alim., Beb. e
Fumo
11,5 10,5 6,5
Móveis e eletrodomésticos 3,5 5,4 13,9
Comércio varejista ampliado -4,1 -0,5 0,0
Véic. e motos, partes e
Peças
-21,1 -8,0 -4,9
Material de Construção -15,7 -12,4 -3,6
33. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 33 -
trimestres móveis, mais
favorável à elaboração de análise
conjuntural. Tal pesquisa fornece
informações relativas ao
mercado de trabalho de acordo
com parâmetros geográficos e
educacionais da população, além
de propiciar um melhor
entendimento do conceito de
trabalho.
O DIEESE elabora a Pesquisa de
Emprego e Desemprego (PED),
que realiza um levantamento
domiciliar contínuo, em parceria
com a Fundação SEADE.
Atualmente a PED é realizada no
Distrito Federal e em outras
cinco Regiões Metropolitanas7
,
constituindo o Sistema PED. A
PED metropolitana deixou
recentemente de ser realizada
em Belo Horizonte, tendo suas
últimas divulgações feitas em
junho de 2014, devido à falta de
verbas. A pesquisa é apoiada
financeiramente pelo MTE,
porém o poder executivo de
Minas Gerais informa não ter
recebido o repasse do auxílio em
2014.
O MTE tem a responsabilidade de
publicar o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados
(CAGED) que contabiliza os
dados do segmento formal do
mercado de trabalho em forma
de fluxo, ou seja, disponibiliza o
saldo total de trabalhadores em
ocupação com benefícios e
carteira de trabalho assinada,
7
São Paulo, Porto Alegre, Salvador,
Recife e mais recentemente Fortaleza.
tendo como base admissões e
desligamentos (aposentadorias,
demissões e falecimentos). Os
dados são utilizados, por
exemplo, pelo Programa de
Seguro-Desemprego e por outros
programas sociais
governamentais.
IBGE - PNAD Contínua
Por se tratar de uma mudança
na pesquisa utilizada pelo
instituto, faz-se necessário
conceituar dois termos
importantes utilizados na análise
do indicador: ocupação e
desocupação. Tem-se como
ocupadas na semana de
referência as pessoas que, nesse
período, trabalharam pelo menos
uma hora completa em trabalho
remunerado em dinheiro,
produtos, mercadorias ou
benefícios (moradia,
alimentação, roupas,
treinamento, etc.) ou em
trabalho sem remuneração direta
em ajuda à atividade econômica
de membro do domicílio ou,
ainda, as pessoas que tinham
trabalho remunerado do qual
estavam temporariamente
afastadas nessa semana.
São classificadas como
desocupadas na semana de
referência as pessoas sem
trabalho nessa semana, que
tomaram alguma providência
efetiva para consegui-lo no
período de referência de 30 dias
e que estavam disponíveis para
assumi-lo na semana de
referência. Consideram-se,
34. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 34 -
também, como desocupadas as
pessoas sem trabalho na semana
de referência que não tomaram
providência efetiva para
conseguir trabalho no período de
30 dias, porque já haviam
conseguido trabalho que iriam
começar após a semana de
referência.
O gráfico 4.1, a seguir, mostra o
comportamento da Taxa de
Desocupação desde sua primeira
publicação, no primeiro trimestre
de 2012.
Gráfico 4.1: Evolução da Taxa de Desocupação – PNAD
Fonte: IBGE/PNAD. Elaborado pelos autores. A terminologia “Taxa de Desocupação” é
utilizada pelo IBGE para indicar o desemprego no país. Ela representa o percentual de
pessoas desocupadas em relação às pessoas na força de trabalho.
O comportamento da taxa de
desocupação apresentou uma
clara trajetória anual
descendente. Chama a atenção o
fato de que em todos os
primeiros trimestres
convencionais (de janeiro a
março) ocorreu um desvio dessa
tendência, ou seja, um aumento
no desemprego, explicado,
segundo o IBGE, pelo fim dos
contratos temporários firmados
para suprir o aumento da
demanda de fim de ano – época
em que o índice alcança seu
menor valor anual. O ano de
2014 não fugiu à tendência de
queda, muito embora ela tenha
ocorrido com menor intensidade.
A taxa de 6,5% do último
trimestre foi menor que os 6,8%
do trimestre anterior (julho a
setembro), porém, superior ao
índice do último trimestre de
2013, quando alcançou a menor
taxa de desocupação divulgada
pela PNAD Contínua, de 6,2%. O
ano de 2014 finalizou com a taxa
média de desocupação em 6,8%.
Para o último trimestre móvel
analisado, compreendido entre
dezembro de 2014 e fevereiro de
35. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 35 -
2015, a taxa voltou a subir em
consequência da diminuição do
número de pessoas ocupadas e
do acréscimo de indivíduos
buscando trabalho, resultando
em aumento da taxa de
desocupação para 7,4%. Os
aproximadamente 7,4 milhões
de indivíduos desocupados são
um reflexo da piora no cenário
econômico: a política fiscal
contracionista aliada aos baixos
índices de crescimento e à
escalada da inflação indicam que
a economia brasileira está
entrando em um processo
recessivo.
Do terceiro para o quarto
trimestre de 2014, no quesito
sexo, as mulheres superaram os
homens em relação ao ingresso
no mercado de trabalho: a taxa
de desocupação para esse grupo
caiu de 8,2% para 7,7% no
Brasil. Já em relação à idade,
houve uma leve queda no
número de pessoas
desempregadas com idade entre
18 e 39 anos, em conjunto ao
acréscimo da quantidade de
indivíduos com 40 anos ou mais.
No país como um todo, a taxa de
desocupação variou no estrato
de 18 a 24 anos, saindo de
15,3% para 14,1%. Esta queda
no desemprego para a referida
faixa etária, embora carregue
consigo a já mencionada redução
do quantitativo de pessoas nessa
idade, também é resultado da
redução no número de jovens
desocupados, que foi de 2,3
milhões para 2,1 milhões entre
os trimestres encerrados em
setembro e dezembro de 2014.
Os dados relativos à escolaridade
de cada grande região do país
mostram uma queda na taxa de
desocupação para a maioria dos
níveis de instrução, embora
algumas elevações do
desemprego também tenham
sido observadas, como por
exemplo, na região Norte, onde
aumentou o número de
desempregados com nível médio
completo ou incompleto ou que
estão cursando o ensino
superior. Nas regiões Sudeste e
Sul, o aumento do índice de
desocupação foi maior para os
níveis mais baixos de instrução.
Do ponto de vista da posição na
ocupação no trabalho principal, o
número de empregadores
cresceu em mais de 180 mil
(totalizando 3,94 milhões), o que
representa 4,2% do total da mão
de obra ocupada. A região
Sudeste ocupa o primeiro lugar
no ranking, seguida pelo
Nordeste, Sul e Norte. Na
contramão dessa tendência
aparece a região Centro-Oeste
com uma diminuição de
aproximadamente 1% no
número de pessoas nessa
condição. Outro dado importante
é o decréscimo generalizado no
número de pessoas ocupadas
que trabalham sem remuneração
(em apoio a atividades
econômicas da família, como
comércio, cultivo, etc). Estes
indivíduos figuram como
trabalhadores familiares
36. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 36 -
auxiliares e totalizaram, no
último trimestre de 2014, 2,59
milhões de pessoas,
representando 2,8% da força de
trabalho brasileira. A queda do
número de pessoas nessa
condição representa uma
melhoria no mercado de
trabalho, uma vez que a
diminuição desse índice pode
estar diretamente associada à
criação de novos postos de
trabalho.
O rendimento nominal mensal
domiciliar per capita da
população residente ficou em R$
1.052 ao longo de todo o ano de
2014. No ranking das unidades
federativas com melhores
rendimentos figuram o Distrito
Federal (R$ 2.055), São Paulo
(R$ 1.432), Rio Grande do Sul
(R$ 1.318), Santa Catarina (R$
1.245) e Rio de Janeiro (R$
1.193). Dentre as piores,
Maranhão (R$ 461), Alagoas (R$
604), Ceará (R$ 616), Pará (R$
639) e Piauí (R$ 659). Chama a
atenção o fato de que todos os
16 estados das regiões Norte e
Nordeste situam-se na faixa de
rendimentos inferiores à média
nacional - e também inferiores
ao próprio salário mínimo
nacional de R$ 724,00 para o
ano de 2014 (atualmente em R$
788,00). O Espírito Santo, com
rendimento de R$ 1.052, ficou
exatamente na média,
superando, na região Sudeste, o
Estado de Minas Gerais e, fora
dela, Mato Grosso e Goiás. No
segundo trimestre móvel de
2015 (encerrado em janeiro), o
rendimento médio mensal real
subiu para R$ 1.817,00.
DIEESE - PED
Os resultados disponibilizados
pela Pesquisa de Emprego e
Desemprego podem ser
observados através do Gráfico
4.2 abaixo, que apresenta uma
média das regiões
metropolitanas analisadas,
exceto Distrito Federal, devido à
ausência de dados no período de
julho de 2014 a fevereiro de
2015. Vale ressaltar que a taxa
de desemprego na pesquisa é
dividida em desemprego Aberto
e Oculto, sendo este último
dividido em outros dois
subgrupos: desemprego oculto
pelo trabalho precário e o
desemprego oculto pelo
desalento. Segundo a
metodologia da PED, o
desemprego oculto pelo trabalho
precário é aquele que considera
o trabalho remunerado ocasional
de auto-ocupação ou o trabalho
não remunerado em ajuda a
negócios de parentes e que
procuraram mudar de trabalho
nos 30 dias anteriores ao da
entrevista ou que, não tendo
procurado neste período, o
fizeram sem êxito até 12 meses
atrás. Já o trabalho oculto pelo
desalento é aquele que considera
pessoas que não possuem
trabalho e nem procuraram nos
últimos 30 dias anteriores ao da
entrevista, por desestímulos do
mercado de trabalho ou por
37. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 37 -
circunstâncias fortuitas, mas
apresentaram procura efetiva de
trabalho nos últimos 12 meses.
Vale ressaltar que a PNAD não
considera os desalentados em
sua taxa de desocupação.
Gráfico 4.2: Evolução da taxa de desemprego total – PED (%)
Fonte: DIEESE/PED. Elaborado pelos autores.
Os dados mostram um declínio
da taxa de desemprego desde
agosto 2014 até dezembro do
mesmo ano. Isso é normal em
fim de ano, sobretudo no último
trimestre do ano, pois a
demanda do comércio nesse
período exige novas
contratações. Além disso, o
declínio observado desde agosto
pode ser explicado devido ao
maior crescimento do número de
pessoas no mercado de trabalho
(ocupadas) e ao aumento da
participação dos trabalhadores
assalariados com carteira
assinada e dos estatutários do
setor público, posições essas que
no mercado de trabalho possuem
maior proteção e acesso aos
direitos trabalhistas. A pesquisa
mostrou uma taxa de
desemprego em 10,3% em
fevereiro de 2015, a mesma se
comparada ao mesmo mês de
2014. Em números absolutos,
fevereiro de 2015 registrou
melhores resultados, pois em
2014 havia 65.000 desocupados
a mais em relação ao mesmo
mês deste ano.
A região que mais destoa da
média continua sendo Salvador,
que fechou fevereiro de 2015
com uma taxa de desemprego
de 16,4%, sendo 5%
pertencentes ao desemprego
oculto. O setor de construção
civil contribuiu para manter a
alta a taxa de desemprego em
Salvador, pois é um dos setores
que mais vem demitindo
38. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 38 -
trabalhadores. São Paulo
apresentou a maior variação na
taxa neste ano.
Analisando o segundo semestre
de 2014, é possível destacar a
relativa estabilidade da taxa de
desemprego em comparação aos
dois anos anteriores. No entanto,
este movimento que vem
perdendo força em função dos
ajustes recessivos recentes. Os
dados referentes à renda mensal
média também mostraram
relativa estabilidade no segundo
semestre de 2014. Fortaleza
apresentou os menores
números, fechando fevereiro
com uma renda mensal média de
R$ 1.190,00 para os ocupados e
R$ 998,00 para os autônomos.
Em 1º de janeiro de 2015, o
valor do salário mínimo foi
reajustado em 8,84%, passando
de R$ 724,00 para R$ 788,00.
Em nota de seu boletim de
conjuntura, o DIEESE projeta
que 60,3 milhões de pessoas
têm rendimento referenciado no
salário mínimo e que, com esse
reajuste, devem entrar na
economia cerca de R$ 38,4
bilhões.
MTE - CAGED
Através dos dados
disponibilizados pelo CAGED é
possível observar que foram
criados no país 396.993 postos
de trabalho no ano de 2014,
número 64,4% inferior ao
resultado de 2013. No período
selecionado de julho de 2014 a e
fevereiro de 2015, vê-se um
saldo negativo acumulado de
424.593 vagas. A Tabela 4.1
abaixo destaca, além do saldo
total, alguns setores-chave da
economia no quais estes postos
foram criados. O item “Outros”
na tabela refere-se aos setores
Extrativo mineral, Serviço
Industrial de Utilidade Pública e
Administração Pública. O Saldo
Total da tabela não se limita a
soma dos setores destacados,
mas inclui todos os setores que
compõem o Cadastro Geral.
Tabela 4.1: Brasil - Evolução do emprego por setor de atividade econômica –
2014/2015
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
Em um panorama geral para a
Indústria de Transformação,
observa-se no ano de 2014 um
saldo final negativo, resultando
no encerramento de 163.817
postos de trabalho. De acordo
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Total
Ind. Transfor. -15.392 -4.111 24.837 -11.849 -43.700 -171.763 27.417 2.001 -192.560
Construção Civil 3.013 2.239 8.437 -33.556 -48.894 -132.015 -9.729 -25.823 -236.328
Comércio 955 40.619 36.409 32.771 105.043 -14.594 -97.800 -30.354 73.049
Serviços 11.894 71.292 62.378 2.433 29.526 -148.737 -7.141 52.261 73.906
Agropecuária 9.953 -9.623 -8.876 -19.624 -32.127 -64.087 9.428 -9.471 -124.427
Outros 1.373 1.009 600 -458 -1.467 -24.312 -3.949 8.971 -18233
Saldo Total 11.796 101.425 123.785 -30.283 8.381 -555.508 -81.774 -2.415 -424.593
39. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 39 -
com a Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (FIESP),
isto não ocorria a 13 anos8
,
resultando. Poucos foram os
subsetores que o compõem que
registraram saldo positivo,
como, por exemplo, a Indústria
de produtos alimentícios,
bebidas e álcool etílico, que em
meses como agosto e setembro
chegou a apresentar aumento de
0,72% e 1,43%,
respectivamente. Em
contrapartida, subsetores como
os de Indústrias metalúrgica e
mecânica, de material de
transporte, e de borracha, fumo,
couros e outros, contribuíram
constantemente para o saldo
negativo.
Vale ressaltar que os poucos
subsetores que mantiveram
saldos positivos durante grande
parte de 2014, no período entre
novembro e dezembro não
sustentaram o aumento das
vagas, apresentando saldos
negativos, resultando em dois
meses de completa queda no
saldo do setor. Fatores como a
produção das indústrias,
considerada estagnada9
desde
2010, a desvalorização cambial,
os níveis de investimento em
infraestrutura e a carga
tributária são pontos importantes
8
“A importância da indústria de
transformação na ótica do emprego”,
Departamento de Competitividade e
Tecnologia (DECOMTEC).
9
Dados da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP).
para compor uma análise do
panorama atual.
No que se refere à Construção
Civil, o nível de emprego no ano
passado caiu 0,51% em
comparação com 2013. O setor
vinha de duas altas no nível de
emprego, em 2012 e 2013,
quando expandiu em 3,02% e
1,54%10
respectivamente, suas
oportunidades de emprego. O
crescimento positivo da
Construção Civil em 2014 (que
vinha em ascendência no ano)
foi mantido até o mês de
outubro, quando foi puxado para
baixo pelos saldos negativos que
se intensificaram durante o final
do ano.
Foram apontados pelo
SINDUSCON-SP, como fatores
para esse recuo, a desaceleração
no volume de edificações
imobiliárias, a interrupções de
obras e demissões por atrasos
de pagamentos dos governos da
União e dos Estados, o
adiamento de ordens de serviços
e até cancelamento de contratos
em decorrência dos
desdobramentos da “Operação
Lava Jato”. Um fator considerado
sazonal é a entrega de obras de
fim de ano pelo setor, que
costuma iniciar em outubro e
permanecer até o fim do ano, e
que somado às ocasiões atuais,
ampliam o saldo negativo
apresentado.
10
Dados do Sindicato da Indústria da
Construção Civil do Estado de São Paulo
(SINDUSCON-SP).
40. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 40 -
Os setores de Comércio e
Serviços foram os que
apresentaram melhores
resultados no ano de 2014. O
primeiro encerrou o ano com
180.814 novas oportunidades de
trabalho, seguido por 476.108
admissões em Serviços.
O saldo registrado pelo
Comércio, ainda que positivo em
2014, representou um recuo de
40% em relação às vagas
abertas em 2013 (301.095
empregos). O subsetor varejista
se manteve majoritário no saldo
positivo anual (77,64% na
participação total), e contribuiu
para o ápice do setor em
novembro. Nesse mês, o setor
de Comércio sustentou o
resultado junto ao de Serviços, o
primeiro apresentando 105.043
novas vagas de trabalho. Esse
resultado pode ser justificado
pelo comércio de fim de ano. No
setor de serviços, os subsetores
de “Serviços de alojamento,
alimentação, reparação e outros”
e Comércio e administração de
imóveis foram destaques,
somando 250.305 vagas de
emprego, equivalente a 52,57%
das vagas totais do setor.
A Agropecuária, setor que
apresenta crescimento
econômico de destaque, tendo
em vista a conjuntura econômica
de cada ano (7% em 2013 e
0,4% em 2014), demonstra
certa estabilidade no mercado de
trabalho. Em 2013, registrou
1.216.174 admissões, uma
expansão de 0,12% nas
oportunidades de trabalho do
setor. Em 2014, o setor foi alvo
de uma retração de 0,02% no
seu mercado de trabalho,
encerrando 370 postos no ano.
As atividades relacionadas à
cana-de-açúcar e à cafeicultura
são exemplos no quais as
demissões foram mais intensas,
atingidos diretamente pela seca
ocorrida no país a partir do
segundo semestre. Os resultados
relacionados às atividades
pecuárias, por outro lado, foram
mais otimistas e ajudaram a
manter o saldo. Para 2015,
considerando que a região
Sudeste enfrenta uma grande
crise hídrica neste inicio de ano e
as expectativas de crescimento
econômico são instáveis, até
mesmo para a agropecuária, o
saldo de empregos se encontra
sensível e próximo de zero.
É possível também analisar os
setores em questão e seus
impactos na economia do
Espírito Santo, como pode ser
visto na Tabela 4.2 abaixo:
41. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 41 -
Tabela 4.2: ES - Evolução do emprego por setor de atividade
econômica - 2014/2015
Fonte: MTE/CAGED. Elaborado pelos autores.
Em um panorama geral do saldo
estadual no ano de 2014, 10.113
postos de trabalho foram
criados. Esse resultado segue a
tendência de queda nacional em
relação a 2013, pois é ressaltado
como o menor desde 2003.
Entretanto, o estado não deixou
de apresentar seus destaques
próprios: a expansão do
mercado de trabalho em 1,29%
é um deles.
A Indústria de Transformação no
estado, diferentemente do
resultado apresentado no plano
nacional, colaborou
positivamente ao lado do setor
de Serviços e Comércio, com
saldo de 3.033 admissões. A
produção estadual contribuiu
para a possibilidade de novas
vagas de trabalho, já que o setor
fez parte dos 3% resultantes no
Produto Interno Bruto (PIB) do
estado em 201411
. Destaque
11
Resultado divulgado pela Federação
das Indústrias do Espírito Santo
(FINDES)
para a Indústria Mecânica12
pelo
seu crescimento estável até o
fim do ano e sua expansão do
mercado do trabalho em 2014 de
2,40%, e para a indústria de
Material de Transporte, que além
de encerrar o ano de 2014 com
53,19% mais postos de trabalho
(743), nos dois primeiros meses
de 2015 participou em 24,21%
das novas vagas no setor.
O setor de Construção Civil
encerrou 2014 com 4.886 vagas
de trabalho, número que reflete
a redução no saldo a partir de
outubro, também na escala
nacional. O reflexo nacional se
impõe sobre a geração de
trabalho local no início de 2015,
puxando-o para baixo. Em 2014,
muitos estados foram
prejudicados pelo aumento real
do preço dos imóveis e pela
valorização maior que a
esperada no preço do metro
quadrado, como é o caso do
Espírito Santo. Como exemplo,
12
Destaque ressaltado pela Pesquisa
Industrial de Empregos e Salários
(PIMES), em conjunto com a análise
conjuntural do Instituto Jones dos Santos
Neves (IJSN)
Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Total
Ind. Transfor. 413 515 1.042 358 402 -2.926 1.424 -256 972
Construção Civil -442 48 319 -1.100 -973 -2.941 87 -1.591 -6.593
Comércio 256 617 1.485 1.437 1.599 788 -2.348 -1.771 2.063
Serviços 756 1.542 1.587 307 544 -2.340 -202 409 2.603
Agropecuária -1.435 -1.191 -327 -556 -295 -682 -165 95 -4.556
Outros -29 48 -33 -122 -7 -702 83 53 -709
Saldo Total -481 1.579 4.073 324 1.270 -8.803 -1.121 -3.061 -6.220
42. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 42 -
tem-se Vitória com valorização
de 11,79%, segunda maior do
país como mostra o Índice
FipeZap. Desse modo, as quedas
nas vendas do mercado
imobiliário somada ao
encarecimento dos imóveis
puxaram para baixo as
oportunidades de emprego no
estado.
O Comércio Varejista
apresentou-se majoritário na
composição setorial, tal como no
saldo nacional, abrangendo
65,44% das vagas criadas em
2014, seguindo crescimento do
volume de vendas do varejo no
estado a partir do segundo
semestre13
, o que impulsionou as
contratações. O aumento da
confiança no setor14
conforme
apresentado pela Fecomércio-ES,
é outro ponto positivo para o
estado, associado à sazonalidade
de final de ano. O setor de
Serviços foi fundamental para o
mercado de trabalho. Suas 7.345
admissões líquidas (maior saldo
estadual de 2014) desdobraram-
se principalmente entre Serviços
de alojamento, alimentação,
reparação [...] e Serviços
médicos, odontológicos e
veterinários.
O mercado de trabalho do setor
Agropecuário no estado recuou
em 0,12%, encerrando o ano
com saldo final negativo (35.944
demissões sobre 35.904
13
“Pesquisa Mensal do Comércio”,
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
14
Índice de Confiança do Empresário do
Comércio (ICEC), FECOMERCIO-ES.
admissões), diferentemente de
2013, ano que havia obtido um
resultado positivo (1,66%). O
café e a cana-de-açúcar são
produtos majoritários do setor15
no estado e influenciaram
negativamente o saldo. Foram
tomadas medidas financeiras
como, por exemplo, a
negociação das estruturas de
crédito agropecuário durante o
ano passado para evitar a queda
brusca da produção. O início de
2015 foi igualmente prejudicado
do ponto de vista produtivo,
devido à crise hídrica que
também atingiu os estados
vizinhos da região sudeste, e que
puxou para baixo os níveis de
criação de emprego.
15
De acordo com o Levantamento
Sistemático da Produção Agrícola (LSPA)
do IBGE.
43. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 43 -
5. POLÍTICA MONETÁRIA
CRÉDITO E JUROS
Segundo os dados divulgados
pelo Banco Central do Brasil, no
mês de abril de 2015, as
operações de crédito do Sistema
Financeiro fecharam o ano de
2014 com o saldo de R$ 3,02
trilhões, um crescimento de
11,29% em relação a dezembro
de 2013. O total de créditos
cresceu continuamente durante o
ano de 2014, acelerando nos
últimos dois meses. No início de
2015, a tendência ao
crescimento se manteve, com
uma taxa média mensal de
0,47% até março, atingindo um
saldo de R$ 3,06 trilhões. Um
aumento próximo ao do início do
ano passado, se se compara o
crescimento em março de 2014
com o final de 2013. Em 2014, o
total dos créditos concedidos
representaram 54,65% do
Produto Interno Bruto (PIB),
valor superior ao concedido no
ano de 2013, que foi de 52,56%.
Essa diferença deveu-se ao
crescimento do crédito e à queda
relativa do PIB entre esses anos.
O saldo do crédito concedido
pelo sistema bancário atingiu R$
3,02 trilhões em 2014,
crescimento de 11,29%
comparado a 2013. Em
dezembro de 2014, as novas
concessões fecharam em R$
365,50 bilhões, apresentando
quedas regulares no começo do
ano e mantendo-se sempre
abaixo do valor concedido em
dezembro de 2013, com exceção
do mês de dezembro. Em março
de 2015, as novas concessões
fecharam em R$ 335,46 bilhões,
ainda abaixo do observado em
dezembro de 2013.
Do saldo total de créditos,
46,8% dos empréstimos, ou R$
1,41 trilhão, foram direcionados
para Pessoas Físicas (PF) e
53,2%, ou R$ 1,61 trilhão, foram
para Pessoas Jurídicas (PJ).
Estes créditos apresentaram um
crescimento anual de 9,55% em
2014. Nos dois primeiros meses
de 2015, houve uma queda
média de 0,44% nos
empréstimos para as empresas,
crescendo novamente em março.
A taxa média anual de juros
cobrada das empresas foi de
16,5% em 2014, crescimento de
0,8 p.p. Os créditos para PF
cresceram 13,32% em 2014
ante 2013, e apresentaram um
crescimento de 1,13% no início
de 2015, fechando março com
saldo de R$ 1,44 trilhão. A taxa
média anual de juros para PF foi
de 30,70%, em 2014, um
aumento de 1,6 p.p. em doze
meses.
44. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 44 -
Gráfico 5.1 - Saldo do Crédito do Sistema Financeiro (em R$ bilhões)
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.
O total dos créditos com
Recursos Livres16
atingiu R$ 1,58
trilhão em dezembro de 2014,
com crescimento de 4,64% em
relação a 2013, entretanto,
apresentou queda de 0,61% no
começo de 2015, fechando
fevereiro em R$ 1,57 trilhão,
motivado pela redução do crédito
para PJ. Durante o ano de 2014,
a tendência foi de crescimento
com queda isolada em julho. A
taxa média anual de juros foi de
24,2% para as empresas e de
49,6% para as famílias. Por
outro lado, os empréstimos
subsidiados, também chamados
de Recursos Direcionados,
atingiram um total de R$ 1,44
16
Os créditos de recursos livres são
empréstimos realizados a taxa de juros,
prazos e demais condições pactuadas
entre os bancos e seus clientes.
Exemplos: cartão de crédito - pessoas
físicas, cheque especial, crédito pessoal
consignado e não consignado, aquisição
de veículo.
trilhão, com taxa média de juros
de apenas 7,8% ao ano, 7,6%
para PJ e 7,9% para PF. Estes
empréstimos são dirigidos para o
financiamento de investimentos,
crédito imobiliário e crédito rural.
Os empréstimos para o
financiamento empresarial de
longo prazo, oferecidos pelo
BNDES com recursos do Fundo
de Amparo ao Trabalhador - FAT
(cerca de R$ 240 bilhões) e do
Tesouro Nacional (cerca de R$
500 bilhões) atingiram um
montante de R$ 563,13 bilhões
em dezembro de 2014, um
crescimento de 16,69% em
2014, a maior parte com juros
de 5% ao ano e chegou a R$
582,15 bilhões no primeiro
trimestre de 2015, um
crescimento de 17,4% em doze
meses. Somando os
empréstimos para o
financiamento agroindustrial,
chega-se a R$ 636,08 bilhões. O
crédito imobiliário, financiado
45. Vitória/ES – Boletim Nº 52 - 45 -
com recursos de cadernetas de
poupança e do FGTS, atingiu R$
519,70 bilhões, sendo 81,79%
com taxas de juros reguladas,
média de 11,2% e 8,9% para PJ
e PF, respectivamente, em
março de 2015. Finalmente, o
crédito rural chegou a R$ 218,40
bilhões, 79,27% com taxas de
juros subsidiadas que chegaram
a 6,1% a.a. para pessoas
jurídicas e 5,1% a.a. para
pessoas físicas. Os grandes
fazendeiros receberam 64,19%
do total dos empréstimos.
Nesse sentido é necessário
destacar que são os empresários
e os fazendeiros os principais
beneficiários da política de
crédito subsidiado do governo
federal. Enquanto o governo arca
com o ônus da diferença entre as
taxas de juros de captação dos
recursos, que foi efetivamente
de 24,9% sobre a dívida total e
13,9% sobre a dívida líquida, e a
concessão do crédito subsidiado,
os trabalhadores recebem uma
remuneração ínfima nos recursos
do FAT e do FGTS, remunerados
principalmente pela Taxa de
Juros de Longo Prazo (TJLP) e
pela Taxa de Referência (TR).
É preciso lembrar ainda que o
BNDES é a única instituição que
oferece crédito de longo prazo
para investimentos às grandes
empresas, suas taxas de juros
são subsidiadas e tem no FAT
uma de suas principais fontes de
recursos. O FAT destina
obrigatoriamente 40% de sua
arrecadação ao financiamento de
programas de desenvolvimento
econômico operado através do
BNDES. Em 2014 veio a
conhecimento público o déficit
recorde do FAT de R$ 13,6
bilhões (projeção para 2014) e a
necessidade de cobertura do
rombo, a qual se esperava ser
feita pelo Tesouro Nacional. O
que não se considera é que a
Desvinculação dos Recursos da
União (DRU) retira 20% das
receitas do FAT e que a
remuneração do FAT pela TJLP é
muito inferior à taxa média de
mercado dos empréstimos para
capital de giro das empresas que
foi de 23,4% em março de 2015,
por exemplo. Além disso, as
principais despesas do FAT são o
abono salarial e o salário-
desemprego, uma utilização de
recursos dos trabalhadores para
benefício dos trabalhadores. O
Governo Federal, ao invés de
efetuar um programa de cortes
nos benefícios aos trabalhadores
deveria devolver os recursos que
retira do FAT com a DRU e
remunerar os trabalhadores da
mesma forma que remunera os
capitalistas, principalmente os
rentistas detentores dos R$ 2,30
trilhões da dívida mobiliária no
mercado.
Os destaques do saldo do crédito
por atividade econômica em
2014 ficaram, considerando o
setor de Serviços, com a
Administração Pública e Outros
Serviços, com crescimento de
37,25% e 20,24%, fechando
com saldos em dezembro de R$