Aula ministrada no curso de História Eclesiástica II no Seminário Teológico Shalom, em 2013. A presente aula visa apresentar a formação da religiosidade das treze colônias norte-americanas, demonstrando a origem da diversidade religiosa daquele país.
História da Igreja II: Aula 7: Cristianismo Americano
1. Cristianismo Americano
Formação da diversidade
História Eclesiástica II
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Características das colônias norte-americanas
Independentes até 1789.
Formada originalmente por
grupos de puritanos
independentes e separatistas,
perseguidos na Inglaterra.
Colônias de povoamento.
Marcada divisão entre norte
industrial-citadino e sul
agrário.
Apoio da igreja na formação
do governo estruturado.
Denominacionalismo.
Formada por companhias
independentes
3. Denominações que se instalaram nos EUA
Igreja Anglicana (1606)
Igreja Congregacional (1620)
Igreja Batista (1639 ou 1648)
Igreja Católica Romana (1565,
1634)
Quacres (1656)
Igreja Presbiteriana (1706)
Igreja Metodista (1760)
4. Igreja Anglicana
Companhia Virginia recebe licença para colonizar
terras na América do Norte em 1606.
Fundação de Jamestown em 1607, originalmente
comunal.
Robert Hunt, capelão, é o primeiro a celebrar a Ceia
no local, com participantes em troncos de árvores.
John Rolfe, famoso por se casar com a índia
Pocahontas, abre caminho para o enriquecimento da
colônia através do plantio de tabaco em 1612.
“Comunismo” acaba em 1619 e é dado o direito de
escolha de representantes do povo pela companhia.
Colônia recebe influxo de anglicanos puritanos.
5. Igreja Anglicana
Escravidão estabelecida em 1619 com compra de
escravos de mercadores holandeses para o trabalho
nas plantações de tabaco.
A Companhia é dissolvida em 1624 e a Virginia torna-se
uma colônia real com um governador à frente.
A Igreja Anglicana torna-se a igreja oficial da colônia.
Os pastores realizam um trabalho “medíocre” até a chegada de James Blair, pastor da
paróquia de Burton de 1710 a 1743, que veio à Virgínia para inspecionar as igrejas e
introduzir reformas. Fundou a Universidade de William e Mary em 1693.
A igreja também se torna oficial em Maryland (1702), partes de New York (1693),
Carolina do Norte (1715) e do Sul (1706) e Geórgia (1758), só mudando após a
Revolução Americana de 1776.
Sociedade para propagação do Evangelho em Terras Estrangeiras (1701), de Thomas
Bray, ajuda na moralização das igrejas, enviando mais de 300 missionários.
6. Igreja Congregacional
Comunidade de Leyden (Holanda) foge
para os EUA para evitar perseguição e
assimilação de sua juventude pelos
holandeses.
100 colonos peregrinos seguem em 1620
para os EUA no navio Mayflower,
desembarcando na Nova Inglaterra e
fundando a cidade de Plymouth.
Antes de desembarcarem, redigem um instrumento de disciplina, o
Mayflower Compact, constituição da colônia até ser incorporada às
colônias de Salém em Massachusetts.
Pelo menos 50 colonos morrem no primeiro inverno rigoroso, mas os
restantes conseguem pagar a dívida da viagem com o florescer das
lavouras. A igreja torna-se o centro da vida espiritual e social da
comunidade.
7. Igreja Congregacional
Muitos puritanos não-separatistas vão para
Salém e Boston em 1628, motivados por John
White, que organiza uma companhia para fixar
pessoas na primeira cidade 2 anos antes.
Seus colonos eram, na maior parte, anglicanos
congregacionais.
O sistema de governo da igreja de Salém é congregacional desde o
início e torna-se a igreja oficial de Massachusetts em 1631, quando a sua
Corte Geral restringe o direito de voto a membros da igreja.
As colônias recebem um influxo de mais de 20 mil puritanos entre 1628 e
1640, formando uma igreja calvinista mas congregacional.
A Bíblia era interpretada de forma prática, para aplicação civil e pessoal.
8. Igreja Congregacional
Com o desejo de ocupar terras férteis adjacentes e
a intolerância da teocracia da Nova Inglaterra,
acontece uma “revoada” de puritanos.
Um grupo, liderado por Thomas Hooker, consegue
permissão para emigrar para a região do rio
Connecticut, onde funda três cidades em 1636,
fundando uma nova colônia dois anos depois.
A constituição de Connecticut era mais liberal, pois apenas o
governador precisava ser membro da igreja, e o governo se
baseava no consenso popular através do voto dos magistrados.
Outra colônia (New Haven) é formada por John Davenport e um
dos membros de sua congregação em 1639, onde apenas os
cristãos podiam votar. Foi anexada a Connecticut em 1664.
9. Igreja Batista
A revoada de puritanos também levou ao
surgimento da igreja batista. Roger Williams,
ministro anglicano formado em Cambridge, adotou
ideias separatistas e emigrou para Boston em 1631.
Dali foi pra Plymouth, por achar que a igreja de
Boston não estava purificada o suficiente, e de lá
para Salém, em 1635.
Após defender o direito de propriedade de terra do índio, é expulso de
Salém, deixando esposa e filho numa casa hipotecada. Mergulha na
floresta em rigoroso inverno, sendo ajudado por índios.
Um ano depois, Williams compra terras dos índios e funda Providence,
primeira cidade da colônia de Rhode Island, colônia oficializada em 1663.
As Carolinas são alcançadas pela igreja batista por Shubal Stearns no
séc. XVIII e fundam a Rhode Island College (Brown University) em 1764.
10. Igreja Batista
Paralelamente, uma jovem chamada Anne
Hutchinson foi excomungada por fazer reuniões
em sua casa proclamando um “pacto da graça”,
se opondo a um “pacto das obras” dos demais
ministros (exceto John Cotton, líder da Corte
Geral de Salém. Também falava de uma luz
interior e da plena certeza da salvação, o que
lhe gerou enormes problemas.
Expulsa da colônia, foge para Rhode Island no rigor do inverno com seus
seguidores, indo parar em Newport e Portsmouth em 1638. John Clarke,
médio e pregador, torna-se ancião-mestre de uma igreja em Newport,
mas não se sabe se ela era de fato batista.
Em 1639, em Providence, uma igreja é fundada e todos os membros são
rebatizados, incluindo Williams. Daí surge a dúvida sobre qual é a igreja
batista mais antiga dos EUA.
11. Os Quacres (Quakers)
Os Quacres, grupo separatista inglês surgido
após a Guerra dos 30 anos, chega a Boston em
1656, mas notam que suas ideias de separação
igreja-estado não seriam bem recebidas pelos
puritanos da Nova Inglaterra.
New Jersey é dividida em duas em 1674, com
uma parte se tornando colônia quacre, até 1702.
Os quacres conseguem se estabelecer, porém, na região conhecida
como Pennsylvania, cujo controle é dado pelo rei Carlos II a William
Penn em 1681 para salvar uma dívida que tinha com seu pai.
A colônia torna-se um asilo para onde perseguidos por razões religiosas
podem se refugiar. Isso justifica as várias seitas que surgem na região.
Em 1683, grande grupo de menonitas se estabelece na região. Depois,
em 1740, um grupo de morávios parte para o local, e em 1748, um grupo
luterano.
12. Os Presbiterianos
Devido a discriminação comercial praticada contra a
Irlanda, muitos escoceses-irlandeses presbiterianos
emigraram em 1710, indo para a região de New York e
New Jersey. Até 1750, mais de 200 mil já tinham feito
a viagem.
O principal centro do grupo se tornaria a cidade de
Pittsburgh, enquanto outros foram mais pro sul.
Francis Makemie, um irlandês que chegou às colônias em 1683, é
considerado o pai do presbiterianismo no país. Defendeu a liberdade de
expressão religiosa em um julgamento em que foi acusado de pregar sem
permissão.
Em 1706, Makemie organiza um presbitério em Filadélfia, em 1716 organiza
o primeiro sínodo e, em 1729, este adota a Confissão de Westminster.
O grupo se torna uma das maiores igrejas das colônias, junto com batistas,
anglicanos e congregacionais.
13. Os Metodistas
O metodismo foi introduzido nas colônias
por Robert Strawbridge em Maryland, e
por Philip Embury e Capitão Webb em
New York após 1760.
John Wesley enviou dois missionários
oficiais, Richard Boardman e Joseph
Pilmoor, para as colônias em 1768.
Francis Asbury, grande cavaleiro e
pregador, vai para as colônias em 1771,
tornando-se o primeiro bispo da Igreja
Metodista estabelecida em 1784.
14. Educação nas Colônias
A educação nas colônias foi priorizada desde
cedo, pelos mesmos motivos levantados por
Calvino e Lutero: Leitura da Bíblia e formação de
ministros.
A educação elementar era obrigatoriamente
pública no norte, enquanto no sul era feita por
professores particulares pagos pelas famílias.
Nas escolas secundárias, dava-se a base em línguas clássicas para o aluno
entrar no meio universitário. Eram escolas de gramática ou latim.
Universidades fundadas no período: Harvard (1636), William e Mary (1693), Yale
(1701), Princeton (1746, originalmente Universidade de New Jersey), King’s
College (1754), Brown University (1764, originalmente Universidade de Rhode
Island), Dartmouth (1764, originalmente para formar índios), Rutgers (1825),
Haverford (1833).
15. O Grande Avivamento
Um dos movimentos de reavivamento dos
sécs. XVIII e XIX, o Grande Avivamento se
origina com a pregação de Theodore
Frelinghuysen em 1726 nas congregações
holandesas reformadas de New York. Seu
cunho era calvinista, estimulando a seriedade
na vida moral e espiritual entre o povo.
O movimento americano se iniciou com um cunho mais calvinista,
agindo entre presbiterianos e reformados, porém alcançou os
congregacionais da Nova Inglaterra através da mensagem de
Jonathan Edwards. Formado em Yale aos 17 anos, tornou-se
pastor em Northampton 7 anos depois. Seu sermão pregado em
1741, “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, causava
tremendo impacto entre os ouvintes, gerando demonstrações de
pavor e arrependimento dos ouvintes.
16. O Grande Avivamento
Após perder o púlpito em 1750, resolveu
trabalhar durante oito anos como missionário
entre os índios.
Em 1758, torna-se reitor de Princeton.
No mesmo ano, acaba falecendo, contagiado
pela varíola.
Sua teologia era essencialmente calvinista, crendo que, embora o
homem tenha a capacidade racional de se voltar a Deus, não tem
como fazê-lo devido à sua natureza totalmente depravada, que
afeta a sua capacidade moral de fazê-lo. Segundo ele, porém,
esta capacidade poderia ser restaurada pela graça divina.
17. O Grande Avivamento
Charles Whitefield, outro avivalista, iniciou seu
ministério durante a década de 1740. Sua mensagem
de arrependimento causou enorme efeito em Boston e
na Nova Inglaterra.
Reunindo os esforços de vários pregadores avivalistas
de outras denominações, fez sete visitas entre 1738 e
1769 às colônias. Alguns fenômenos inusitados
aconteceram, mas acabou sendo mais sóbrio do que o
movimento avivalista do final do século.
Apesar de o movimento ter tido enorme efeito (entre 30 e 40 mil novos
convertidos e 150 novas igrejas só na Nova Inglaterra), ele gerou divisão
entre os ministros congregacionais ( “luzes velhas” e “luzes novas”) e
presbiterianos ( “antiga face” e “nova face”).
18. A Revolução Americana
A Revolução Americana, ou Guerra da Independência, travada entre EUA e
Inglaterra de 1775 a 1783, causou devastação no país e gerou um impacto nas
igrejas.
A Igreja Anglicana apoiou os revoltosos nas colônias do sul, se dividiu nas
colônias centrais e apoiou os ingleses na Nova Inglaterra.
Quacres, menonitas, morávios (sem lutar), congregacionais, presbiterianos e
batistas (lutando com ardor) apoiaram a causa revolucionária. Nos púlpitos, os
pregadores ampliaram a ideia da democracia eclesiástica para a política
nacional, entendendo que o governo que violasse essa visão ou agisse
contrariamente às leis de Deus não podia esperar que o povo não se revoltasse.
Os metodistas foram acusados de traidores porque John Wesley apoiava o rei.
19. A Revolução Americana
Com o fim da guerra, a igreja contribuiu para a Primeira Emenda, que impediu a
oficialização de qualquer igreja e garantiu livre exercício da religião.
Por influência batista, foi garantida a separação entre Igreja e Estado em estados
com uma igreja oficial.
As igrejas, seguindo o exemplo do país, que fez uma constituição e se organizou
em nação em 1789, seguiram a mesma linha. Os metodistas, liderados por
Thomas Coke e Francis Asbury, se uniram em 1784. Os presbiterianos criaram
uma igreja nacional em 1788, com a primeira Assembleia no ano seguinte. Os
holandeses reformados se organizaram em 1792 e os alemães, em 1793. A Nova
Inglaterra não foi tão afetada pela tendência de centralização.
Com o fim da guerra, entre 30 e 40 mil apoiadores do rei migraram para o
Canadá, fortalecendo as igrejas batistas, congregacionais e anglicanas daquele
país., gerando um dualismo religioso no país (católico - Quebec, protestante -
Ontário)
20. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983