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E B O O K
Aula 1 - Como Deus pode ser conhecido
Aula 2 - A Origem Sobrenatural da Bíblia
Aula 3 - O Poder da Palavra de Deus
Aula 4 - Marcas das Escrituras
Aula 5 - Formação do Canon AT
Aula 6 - Formação do Canon NT
Anexo - Interpretação Bíblica
“ T o m e a s m i n h a s p e r n a s , m a s
n ã o a m i n h a B í b l i a . E u p o s s o
c h e g a r a o c é u s e m a n d a r , m a s
n ã o s e m a p a l a v r a d e D e u s . ”
03
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Como Deus pode ser conhecido
1
AULA
TEOLOGIA DA BÍBLIA 4
No seu uso teológico, o termo revelação (do grego ἀποκάλυψιϛ) tem
como sentido trazer à tona as coisas desconhecidas, mostrar o que es-
tava oculto ou desvendar os mistérios. Numa perspectiva mais ampla, a
revelação diz respeito à comunicação que Deus desejou realizar com o
homem.
A revelação tem como origem o próprio Deus e não o homem. O
ser humano seria incapaz de conhecer Deus sem que Ele se revelasse.
Ainda, Deus não é apenas a origem da revelação, como também o cami-
nho para ela. Portanto, o homem não pode conhecê-Lo de maneira natu-
ral, mas somente de forma sobrenatural por meio de Deus.
O homem, criado à imagem e conforme a semelhança de Deus, foi
capacitado para se comunicar com Ele. Em Gênesis, é possível observar
que Deus exercia um relacionamento de intimidade com Adão e Eva, pois
próximo ao fim da tarde, quando a brisa soprava, Deus conversava com a
Sua obra-prima, ao andar pelo jardim.
Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava
pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do
Senhor Deus entre as árvores do jardim. Gênesis 3.8
Deus revelou-se ao homem, mesmo após a sua queda, relatada
por Moisés em Gênesis 3, e deu testemunho de si, mesmo permitindo que
o homem andasse nos seus próprios caminhos.
No passado ele permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios
caminhos. Contudo, não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dan-
do-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento
com fartura e enchendo de alegria os seus corações.” Atos 14.16-17
Existe um desejo dentro do homem pela manifestação da presen-
ça de Deus, que foi colocado pelo próprio Criador e é ativado pelo Espírito
Como Deus pode ser conhecido?
Deus se Revelou
AULA 1
TEOLOGIA DA BÍBLIA 5
Santo, a fim de que o homem não apenas tivesse a possibilidade de co-
nhecê-Lo, como também O desejasse e ansiasse por Ele.
Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem
o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender
inteiramente o que Deus fez. Eclesiastes 3.11
Mesmo que esse conhecimento não seja inteiro e completo, so-
mente a revelação de Deus pode acalmar o espírito humano, a fim de que
ele possa perceber que o Seu Criador não está distante, mas perto e aces-
sível.
O propósito de Deus por meio de Sua revelação está conectado ao
Seu desejo, expressado no Jardim do Éden, ao compartilhar com o homem
atributos inerentes à Sua pessoa e essência para que ele se tornasse par-
ticipante de Sua natureza e revelasse a Sua glória a toda criação.
Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em
seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma
forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Filipenses 3.10
O que o homem sabe sobre Deus é apenas uma gota, e o que ele
desconhece é um oceano. Há muito mais sobre Deus do que as páginas de
um livro poderiam conter.
Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita,
penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os
livros que seriam escritos. João 21.25
Em outras palavras, todo o complexo de profecias juntamente
com toda a revelação dada por Deus ao homem não são suficientes para
revelar todo o conhecimento da pessoa e caráter de Deus, pois Ele está
acima do conhecimento, da existência e do tempo. Enfim, Ele não pode
ser conhecido de maneira completa nem por letras e tampouco por men-
te humana alguma.
O termo grego σκοτος utilizado para se referir às trevas, tem como
um de seus significados quando utilizado no sentido figurado de “igno-
rância das coisas divinas”. O nível de autoridade do homem é correspon-
dente à revelação que ele tem de Deus. Por isso, o apóstolo Paulo diz que
Jesus Cristo retirou aqueles que creram Nele do domínio da ignorância
e os conduz para o conhecimento de coisas que estavam ocultas sobre
Deus (Cl 1.13).
TEOLOGIA DA BÍBLIA 6
Um diálogo entre Moisés e Deus mostra que existe um nível de
revelação que o homem não poderá receber nesta terra, na condição em
que ele está.
“Então disse Moisés: "Peço-te que me mostres a tua glória”. E acrescentou:
"Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e conti-
nuar vivo”. Êxodo 33.18,20
Entretanto, há uma promessa divina de que Deus se revelará para
o homem da mesma forma que o homem é conhecido por Deus. Então,
existe uma condição em que o homem terá pleno conhecimento de Deus
e tudo será revelado. Os mistérios divinos não revelados pela criação, pela
lei, pela Bíblia de maneira geral, por Jesus Cristo em sua vida e ministério
terreno, serão revelados ao homem de maneira completa nas regiões ce-
lestiais.
“Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas,
então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei ple-
namente, da mesma forma como sou plenamente conhecido.” 1 Coríntios
13.12
CONCEITOS
DISTINTOS
1. REVELAÇÃO E RAZÃO
A razão, como considerada aqui, indica as faculdades intelectuais
e morais do homem exercidas na busca da verdade e à parte da ajuda so-
brenatural. Uma avaliação correta da razão com frequência está em falta.
Desde que Adão andou e falou com Deus - revelação essa que,
sem dúvida, comunicou à sua posteridade, nenhum homem sobre a terra
pode anular inteiramente a revelação divina.
A luz da natureza e a ajuda da razão foram muito fracas para ex-
pulsar as incertezas a respeito da vida e da morte. Ao falar de recompen-
sas e punições futuras, Platão disse: "A Verdade é determinar ou estabe-
lecer qualquer coisa certa a respeito desses assuntos, no meio de tantas
dúvidas e disputas, é a obra de Deus somente". Sócrates faz um de seus
personagens dizer a respeito da vida futura: "Eu sou da mesma opinião
TEOLOGIA DA BÍBLIA 7
que você, que, nesta vida, ou é absolutamente impossível, ou extrema-
mente difícil chegar ao conhecimento claro deste assunto".' Não é o anti-
go filósofo, mas antes o incrédulo atual que luta pela suficiência da razão
humana e ridiculariza as alegações da revelação.
Dentro dos limites restritos do que é humano, a razão é suprema;
todavia, quando comparada à revelação divina, ela é tanto falível quanto
finita.
2. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO
Revelação e inspiração são em si mesmas doutrinas essenciais da
Bíblia e frequentemente são confundidas. Essa confusão é talvez devida,
em grande parte, ao fato que a revelação e a inspiração devem concordar
ou convergir para um ponto, o de assegurar a infalibilidade da mensagem
divina que a Bíblia, sem hesitação, afirma ser. Por suas próprias alegações,
ela é não somente um conjunto da verdade revelada, mas é o único con-
junto de verdade revelada.
Esta alegação necessariamente implica duas operações divinas:
• A revelação, que é a influência divina direta que comunica a verdade de
Deus ao homem.
• A inspiração, que é a influência divina direta que assegura uma transfe-
rência exata da verdade numa linguagem que outros entendam.
Enquanto estas duas operações divinas concordam, é igualmen-
te verdadeiro que elas frequentemente funcionam separadamente. Por
exemplo:
• Pela revelação, José foi advertido por Deus em sonho, a fim de que fugis-
se para o Egito com Maria e o menino Jesus. Não é evidenciado, contudo,
que ele foi inspirado para registrar a revelação a benefício de outros. Na
verdade,multidões ouviram a voz de Deus quando ouviram as mensagens
reveladas que foram a substância da pregação de Cristo; mas nenhum
desses, exceto os discípulos escolhidos, foi chamado para empreender as
funções de escritores inspirados.
• Por outro lado, homens inspirados pelo Espírito Santo apresentaram
fatos com tanta precisão que somente a inspiração poderia assegurar,
acontecimentos esses que não foram estritamente falando, revelações.
Os autores humanos da Bíblia com frequência registraram coisas que eles
TEOLOGIA DA BÍBLIA 8
próprios viram ou disseram, nas quais não haveria necessidade de reve-
lação direta.
3. REVELAÇÃO, INSPIRAÇÃO E ILUMINAÇÃO
Iluminação tem a ver com a influência ou o ministério do Espírito
Santo que capacita o homem para compreender as verdades eternas das
Escrituras.
O próprio Cristo prometeu que quando o Espírito Santo viesse, Ele
"guiaria" a toda verdade. Igualmente, Paulo escreve: "Ora, não temos rece-
bido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a fim
de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por
Deus" (1 Co 2.12). E o apóstolo João afirmado Espírito Santo que Ele "ensi-
nará todas as coisas" (1 Jo 2.27).
Em 1 Coríntios 2.9-13, há referência à revelação (v. 10), à ilumina-
ção (v. 12) e à inspiração (v. 13).
“Todavia, como está escrito: "Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu,
mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam";
mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito. O Espírito sonda todas as
coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois, quem dentre os
homens conhece as coisas do homem, a não ser o espírito do homem que
nele está? Da mesma forma, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser
o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o
Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos
tem dado gratuitamente. Delas também falamos, não com palavras ensi-
nadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito,
interpretando verdades espirituais para os que são espirituais.”
“Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus,
pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discer-
nidas espiritualmente.” (1 Co 2.14)
TEOLOGIA DA BÍBLIA 9
A revelação geral aponta que, Deus se revelou por meio da Sua
criação e não há lugar onde o homem possa se esconder da presença
Dele. Todo universo declara a glória de Deus e anuncia os seus feitos. Em
Gênesis, as Escrituras Sagradas se ocupam com a organização, os eventos,
as palavras declaradas pelo Criador, mas não se preocupam em defender
a existência de Deus, porque não se faz necessário declarar o que é evi-
dente e manifesto por todo o universo.
As Escrituras mostram que Deus é revelado:
• No mundo físico
“Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das
suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite.
Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa
por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos céus ele
armou uma tenda para o sol, que é como um noivo que sai de seu aposento,
e se lança em sua carreira com a alegria de um herói. Sai de uma extre-
midade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao seu calor.”
(Salmos 19.1-6)
• Na lei moral presente no coração do homem
“De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o
que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei;
pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações.
Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora
acusando-os, ora defendendo-os.” (Romanos 2.14,15)
• Na história
“De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo
determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em
que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e
talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada
um de nós.” (Atos 17.26,27)
A complexidade do mundo, com suas leis, ordem e beleza, revela
os atributos invisíveis de Deus.
A Revelação Geral
TEOLOGIA DA BÍBLIA 10
O invisível é visto através do visível. A racionalidade suprema e
absoluta de Deus é revelada na ordem racional da criação. Assim, a eter-
nidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são revelados
(SI 29.4; 93.1,4; 104.24; Rm 1.20).
A regularidade das estações, as chuvas e o sol, permitindo assim
o cultivo e a colheita, são evidências do cuidado de Deus pelo homem.
Na história dos povos, o amor, a soberania e a justiça de Deus são assim
revelados (At 14.17; At 17.26; Rm 1.22). As necessidades das criaturas vi-
vas são satisfeitas pelos recursos que a criação tem. O relacionamento de
equilíbrio entre o meio-ambiente e a vida mostra a sabedoria do Criador e
seu amor pela criação.
A possibilidade de uma vida e uma sociedade sem caos e anarquia
depende da concordância entre as pessoas sobre o que é certo e errado,
sobre o que é o bem e o mal. A possibilidade de manter uma sociedade
estável só existe por causa da presença de um sentido ético, inato, no
coração do ser humano. O compromisso natural que as pessoas têm com
noções de justiça e amor vai além de simples egoísmo.
Por causa da revelação de Deus na criação, o conhecimento da
criação pelo homem é possível. A criação e a mente humana são racio-
nais, e a racionalidade de uma corresponde à outra.Assim,Adão foi capaz
de interpretar o mundo corretamente, quando classificou os animais (Gn
2.19).As categorias da mente do homem foram criadas por Deus de modo
adequado a conseguir conhecimento verídico da criação. Isso significa
que a revelação de Deus é uma revelação clara e adequada para cumprir
seu propósito.
O PROPÓSITO
DA REVELAÇÃO GERAL
O propósito da revelação de Deus na criação é que as pessoas bus-
quem a Deus e, talvez, o encontrem (At 17.27). Portanto, ela atinge todos
os povos, em todos os lugares (SI 19.3; Rm 1.18-32). Apesar do fato de o
pecado trazer maldição e imperfeições na criação (Gn 3.17-19; Rm 8.20),
as pessoas têm conhecimento verdadeiro de Deus. Mas, por que os povos
louvam deuses na forma de ídolos mudos, animais e elementos da cria-
ção? O sagrado é visto por meio da criação, mas não faz parte dela. Mesmo
assim, esses povos fazem questão de divinizá-la. Eles conhecem a Deus
na criação, mas não tiram a conclusão correta sobre o Senhor Deus.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 11
A exposição de Romanos 1 mostra que a razão por trás da inca-
pacidade do ser humano para interpretar a revelação geral corretamente
está na sua natureza pecaminosa. Os homens “detêm a verdade pela in-
justiça” (Rm 1.18). Ou, “em sua impiedade estão sufocando a verdade de
Deus”. Por causa de sua rebeldia contra Deus, o homem não quer encon-
trar o Deus verdadeiro. Portanto, quando o encontra, reprime o conheci-
mento; deturpa a revelação geral e fabrica um ídolo à imagem da criatura.
Podemos resumir a doutrina da revelação geral da seguinte forma:
Deus já falou a todas as pessoas. Mesmo aqueles que nunca ou-
viram o evangelho têm a revelação de Deus no mundo e na natureza hu-
mana. Essa revelação torna os homens indesculpáveis.A condenação não
está apenas para aqueles que rejeitam a verdade do evangelho e das Es-
crituras Sagradas declaradas pelos filhos de Deus, mas também por aque-
les que decidem deliberadamente ignorar a revelação de Deus.
Graficamente, essa doutrina pode ser representada assim:
A Bíblia não dá esperança de que alguém possa ser salvo somente
pela revelação geral. Conforme comenta o escritor Frederick Bruce:
A lei expõe o pecado do homem, mas não faz nada para curá-lo. Então, os judeus,
como também os gentios, têm de se confessar moralmente falidos. Se existe algu-
ma esperança para qualquer dos dois grupos, terá de ser achada na misericórdia
de Deus, e não em alguma reivindicação que os homens ou as nações possam
fazer-lhe. Em vista do fato do pecado universal, o caminho para a aceitação por
parte de Deus em razão de nossas obras de justiça está fechado - e o aviso é per-
feitamente claro: Nesta direção não há nenhuma estrada (BRUCE, 2003)
Por isto, a obra missionária é de vital importância porque, sem o
testemunho do evangelho, o pecador só tem a revelação geral, que não é
suficiente para sua salvação.
Revelação
Clara Distorcida Condenação
Interpretação
↑
↑
↑
TEOLOGIA DA BÍBLIA 12
“Nós aceitamos o testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem
maior valor, pois é o testemunho de Deus, que ele dá acerca de seu Filho.
Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não
crê em Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá
acerca de seu Filho. E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e
essa vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem
o Filho de Deus, não tem a vida.” 1 João 5.9-12
A revelação especial é necessária porque, como vimos anterior-
mente, a revelação geral não é suficiente para proporcionar todo o co-
nhecimento de Deus necessário para nos relacionarmos com ele. O ser
humano só poderá ser salvo se crer no evangelho. Mas, como o apóstolo
Paulo disse: “como crerão naquele de quem nada ouviram?” (Rm 10.14). A
revelação de Deus mostra que ele intervém na criação para se relacionar
pessoalmente com suas criaturas. Os milagres, as visões e as comunica-
ções verbais são eventos sobrenaturais.
A partir da análise bíblica, entendemos que a revelação de Deus
é o processo e o resultado da comunicação racional e proposicional entre
Deus e a raça humana. Essa comunicação inclui a revelação de informa-
ções com conteúdo intelectual e racional, e a revelação da pessoa de Deus
no encontro pessoal com o homem.
O propósito da revelação não é apenas a divulgação de infor-
mações, como se fosse uma enciclopédia que existe só para satisfazer a
curiosidade intelectual do homem. A finalidade da revelação especial é a
redenção. O conhecimento de Deus é racional e intelectual, mas acima de
tudo, é pessoal. O propósito da revelação é que a pessoa tenha um relacio-
namento pessoal com Deus.
Para cumprir esse propósito, Deus se revelou completamente na
pessoa de Jesus Cristo. A revelação de Deus em Cristo e a encarnação de
Deus na pessoa de Cristo são dois lados da mesma moeda. Para se revelar
na forma mais relevante às necessidades do ser humano, Cristo Jesus, o
eterno Filho de Deus, tomou-se homem.
Jesus revelou o caráter de Deus pelo seu caráter, a justiça de Deus
pela sua ética, a compaixão de Deus pelo seu cuidado para com os opri-
midos e doentes, e o amor de Deus pela sua morte na cruz para resgatar
pecadores como nós.
A Revelação Especial
TEOLOGIA DA BÍBLIA 13
A revelação de Deus em Cristo era tão perfeita que Jesus pôde di-
zer: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). Aliás, Jesus é a imagem exata
da essência de Deus (Cl 1.15; Hb 1.1-3).
Como a revelação de Deus, a palavra de Jesus vem com a autori-
dade da Palavra de Deus. No seu papel de profeta, Jesus falou a verdade
(Jo 8.45) que recebeu do seu Pai (Jo 8.28). Ele foi enviado pelo Pai com esse
propósito (Jo 8.29). Portanto, quem ouve a palavra de Jesus e a obedece
encontra a verdadeira liberdade e a vida eterna (Jo 8.31, 51).
Para preservar e garantir a transmissão da revelação especial atra-
vés dos séculos foi necessário o seu registro na forma escrita. Assim, a
Bíblia se toma uma fonte imprescindível da revelação de Deus. Ela con-
tém a revelação de Deus, mas também é a revelação de Deus (2Timóteo
3.16-17 e 2Pedro 1.20-21). Ela não apenas contém a palavra de Deus, mas
é a palavra de Deus escrita. Sendo a palavra de Deus, a Bíblia vem a nós
com a autoridade de Deus. Seus princípios devem ser aplicados na vida do
cristão e da igreja.
A Bíblia é um aspecto específico e essencial de toda a revelação
divina. Ela, contudo, apresenta certos aspectos importantes:
• A revelação divina é variada em seus temas.
Ela abrange tudo o que é doutrinário, devocional, histórico, profé-
tico e prático.
• A revelação divina é parcial. Está escrito:
“As coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso Deus, mas as reve-
ladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos
todas as palavras desta lei.” (Dt 29.29)
• A revelação divina é completa com relação aos fatos revelados.
Com respeito ao Filho, Ele é – πλήρωμα (plêrõma, 'plenitude') da
divindade corporalmente (Cl 2.9), e com respeito à salvação final de todos
que crêem, eles são πλήρωμα (peplêrõmenoi, 'completos') nele (Cl 2.10).
Embora completos nEle agora, eles ainda vão ser conformes à sua ima-
gem (Rm 8.29; 1Jo 3.2).
“E, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês rece-
beram a plenitude.” (Cl 2.10)
TEOLOGIA DA BÍBLIA 14
“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para se-
rem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos.” (Rm 8.29)
• A revelação divina é progressiva
Seu plano de procedimento é expresso pelas seguintes palavras: "... pri-
meiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga" (Mc
4.28). Cada livro da Bíblia serve-se da verdade acumulada que existia an-
tes, e o último livro é como uma vasta estação de trem na qual todos os
grandes trilhos da revelação e da predição convergem e terminam (CHA-
FER, 2003).
• A revelação divina é primariamente para a redenção
Seu progresso de revelação desenvolve-se com a doutrina da redenção.
Deus falou até o final que o homem pode ser "sábio para a salvação" (2
Tm 3.15). Deus fez com que houvesse um registro escrito a respeito do
seu Filho e os homens que crêem nesse fato são salvos, e aqueles que não
crêem nesse acontecimento estão perdidos (1 Jo 5.9-12).
• A Revelação divina é final
Ela incorpora a verdade "que uma vez por todas foi entregue aos santos"
(Jd 3). Dela não pode ser tirado coisa alguma, nem a ela pode ser acrescen-
tado alguma coisa.
“Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele
a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste
livro.” (Ap 22.19).
• A revelação divina é infinitamente exata.
“Toda Escritura é inspirada por Deus" e é a Palavra escrita de Deus”
(2Tm3.16).
TEOLOGIA DA BÍBLIA 15
Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.
João 17.3
Para que fomos feitos?
Para conhecer a Deus.
Que alvo devemos estabelecer para nós na vida?
Conhecer a Deus.
Qual é a melhor coisa na vida, que traz alegria,
prazer e contentamentos acima de todas as outras?
O conhecimento de Deus.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 16
BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2013.
BRUCE, F. F. Paulo; o apóstolo da graça. São Paulo, Shedd Publicações,
2003.
CHAFER, L.S.Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003
ERICKSON, M.J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida, 1997.
RODMAN, W.Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. São
Paulo: Vida, 2011.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 17
TEOLOGIA DA BÍBLIA 17
A Origem Sobrenatural da Bíblia
2
AULA
TEOLOGIA DA BÍBLIA 18
A Bíblia é fenômeno explicável apenas de um modo - ela é a Palavra de
Deus. Ela não é um livro que um homem escreveria se pudesse, ou que
poderia escrever se quisesse. Lewis Chafer
Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que
Deus preparou para aqueles que o amam. Mas Deus o revelou a nós por
meio do Espírito [...]” (1 Coríntios 2.9,10).
• Os Decretos de Deus
Deus mesmo criou o mundo através de suas palavras poderosas:
"E Deus disse: Produza a terra seres vivos de acordo com as suas espé-
cies: rebanhos domésticos, animais selvagens e os demais seres vivos
da terra, cada um de acordo com a sua espécie". E assim foi (Gn 1.24).
Assim, o salmista pode dizer: “Mediante a palavra do Senhor foram
feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca" (Sul 33.6).
Essas palavras poderosas e criadoras de Deus são frequentemente
chamadas decretos de Deus. Os decretos de Deus incluem não só os even-
tos da criação como também a existência contínua de todas as coisas,
pois o autor aos Hebreus 1.3 nos diz que Cristo está o tempo todo “susten-
tando todas as coisas por sua palavra poderosa.”
• As Palavras de Deus de aplicação pessoal
Deus às vezes se comunica com as pessoas falando diretamente
a elas. Esses casos são exemplos de Palavra de Deus de aplicação pessoal.
Por exemplo, bem no início da criação Deus diz a Adão: "Coma livremente
de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimen-
to do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você
morrerá" (Gn 2.16,17).Após o pecado de Adão e Eva, Deus ainda vem e fala
direta e pessoalmente com eles (Gn 3.16-19).
Outro exemplo é na entrega dos Dez Mandamentos: E Deus falou
A Origem Sobrenatural da Bíblia
A Palavra de Deus
AULA 2
TEOLOGIA DA BÍBLIA 19
todas estas palavras... (Êx 20.1-17). No Novo Testamento, por ocasião do
batismo de Jesus, Deus, o Pai falou com uma voz do céu, dizendo: " Este é
o meu Filho amado, em quem me agrado" (Mt 3.17).
Nestes e em diversas outras ocasiões em que Deus falou palavras
de comunicação pessoal, estava claro para os ouvintes que aquelas eram
realmente palavras de Deus: eles estavam ouvindo a voz do próprio Deus
e, portanto, ouvindo palavras que tinham autoridade divina absoluta e
eram absolutamente fidedignas. Não crer em qualquer uma dessas pala-
vras ou desobedecer a elas significava não crer em Deus ou desobedecer a
Ele.
Embora as palavras de Deus de aplicação pessoal sejam sempre
vistas nas Escrituras como palavras reais de Deus, são também palavras
“humanas” no sentido de serem proferidas em linguagem humana co-
mum que pode ser compreendida imediatamente. O fato dessas palavras
serem expressas em linguagem humana não limita de modo algum seu
caráter divino nem sua autoridade: são inteiramente palavras de Deus,
proferidas pela voz do próprio Deus.
Alguns teólogos têm argumentado que uma vez que a linguagem huma-
na é sempre “imperfeita”, qualquer mensagem que Deus nos dirige por
meio dela deve ser também limitada em sua autoridade e veracidade.
Mas, essas passagens e muitas outras não apresentam nenhum indício
de limitação de autoridade ou veracidade das palavras de Deus proferidas
em linguagem humana. É exatamente o oposto que é verdade, pois as pa-
lavras sempre impõem aos ouvintes uma obrigação absoluta de crer nelas
e de obedecer plenamente a elas. Não dar crédito ou desobedecer a algu-
ma parte delas significa não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus.
• Palavras de Deus Comunicadas por Pessoas
Com frequência nas Escrituras Deus levanta profetas para falar
por meio deles. De novo, é evidente que embora sejam palavras humanas,
faladas em linguagem humana comum, sua autoridade e veracidade não
sofrem nenhuma redução; ainda são inteiramente palavras de Deus.
Em Deuteronômio 18, Deus diz a Moisés:
Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras
na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as
minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas.
Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe ordenei, ou
que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto (Dt 18.18-20).
TEOLOGIA DA BÍBLIA 20
Deus fez uma declaração semelhante a Jeremias: “Agora ponho
em sua boca as minhas palavras” (Jr 1.9). Deus diz a Jeremias: A todos a
quem eu o enviar você irá e dirá tudo o que eu lhe ordenar (Jr 1.7; ver tam-
bém Êx 4.12; Nm 22.38; 1Sm 15.3, 18,23; 1 Rs20.36; 2Cr 20.20; Isso 30.12-14;
et al).
Assim, as palavras de Deus comunicadas por lábios humanos
eram consideradas tão autorizadas e verdadeiras como as palavras de
Deus de aplicação pessoal. Não havia nenhuma redução de autoridade
dessas palavras quando expressas por lábios humanos. Não dar crédito
ou desobedecer a qualquer uma delas significa não dar crédito ou deso-
bedecer ao próprio Deus.
ESCRITURAS
SAGRADAS
A Bíblia é fenômeno explicável apenas de um modo - ela é a Palavra de
Deus. Ela não é um livro que um homem escreveria se pudesse, ou que
poderia escrever se quisesse. Lewis Chafer
O termo “Escrituras Sagradas” utilizado pela tradição judaica e
cristã carrega o significado de um conjunto de livros, dotados de auto-
ridade e edificação espiritual para os fiéis, escritos por homens santos
inspirados por Deus para registrar as Suas palavras. Portanto, a Bíblia é a
Palavra de Deus escrita (Rm 3.2), desde as palavras que são literalmente
o Ele disse, quando os escritores bíblicos utilizavam a expressão “Disse o
Senhor” (Ex 30,17, Lv 5.14, Nm 3.5), como também aquelas em que não é o
próprio Deus que declara (1 Co 14.21).
A Bíblia, por ser "Palavra de Deus", revela Seu caráter e Sua essên-
cia, a fim de que o homem O conheça e compreenda os Seus propósitos
soberanos. Como "palavra de Deus", Ele (Deus) se revela ao homem de
diversas formas: a) Jesus Cristo (Jo 1.1; Ap 19.13); b) decretos de Deus (Gn
1.3; Gn 1.24); c) comunicação pessoal de Deus com os homens (Gn 2.16-17;
Gn 3.16-19); d) discurso pronunciado por lábios humanos (Dt 18.18-20; Jr
1.9); e, e) em forma escrita, a Bíblia (Ex 31.18; Dt 31.9-13; 2 Tm 3.16).
É possível identificar, nos próprios textos sagrados, a reivindi-
cação de valores e atributos inerentes à Palavra de Deus. O próprio sal-
TEOLOGIA DA BÍBLIA 21
mo 119, o mais longo da Bíblia, é uma dedicação de louvor às Escrituras
Sagradas. Entre os mais variados atributos dos textos sagrados apontados
pela própria Bíblia é possível identificar: fidelidade e verdade, retidão e
justiça, eternidade e infinitude, santidade, profundidade, relevância, per-
feição e autoridade.
A fidelidade das Escrituras é apresentada em contraste com as
mentiras que envolvem a humanidade caída. Diante de uma realidade
onde o valor da confiança foi abalado pelo avanço das trevas, a Bíblia
oferece um lugar seguro, onde o homem pode repousar a sua alma e
descansar nas verdades do Eterno. A inconstância humana não pode ser
comparada com a fidelidade de Deus, pois é assegurado que tudo o que
Ele prometeu certamente irá se cumprir.
Todos os teus mandamentos merecem confiança; ajuda-me, pois sou perseguido
com mentiras. (Salmos 119.86)
Todavia, como Deus é fiel, nossa mensagem a vocês não é "sim" e “não", pois o
Filho de Deus, Jesus Cristo, pregado entre vocês por mim e também por Silvano e
Timóteo, não foi "sim" e "não", mas nele sempre houve “sim"; (2Coríntios 1.18-19)
A Bíblia oferece aos servos de Deus um caminho reto. A obediên-
cia aos textos sagrados é o que protege o homem de tomar decisões ba-
seadas em suas paixões e desejos inconstantes e destrutivos, fazendo-os
seguir por um caminho seguro. Tudo o que é declarado na Bíblia contém
o caráter da justiça divina, revelando, portanto, aspectos da moralidade
de Deus que devem ser encontrados no homem, para que a sua vida seja
bem-sucedida.
Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que
o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para
a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. (Josué 1.7
NVI)
Por isso estimo todos os teus preceitos acerca de tudo, como retos, e odeio toda fal-
sa vereda.A minha língua falará da tua palavra, pois todos os teus mandamentos
são justiça. (Salmos 119.128, 172 ACRF)
As palavras de Deus não estão sujeitas às limitações do homem. A Bíblia
revela uma sabedoria superior, uma consciência perfeita e um entendi-
TEOLOGIA DA BÍBLIA 22
mento ilimitado, pois ela é uma revelação do próprio Deus. Tais verdades
eternas não estão condicionadas ao tempo ou ao aperfeiçoamento, uma
vez que elas se encontram além das estações, anos e eras e o seu conteúdo
é perfeito e completo.
Tenho constatado que toda perfeição tem limite; mas não há limite para o teu
mandamento. A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus
juízos dura para sempre (Salmos 119.96, 160).
TEOLOGIA DA BÍBLIA 23
A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e
sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve inter-
pretar de modo errôneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspi-
ração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética,
mas de autoridade divina.A Bíblia é singular; ela foi literalmente "soprada
por Deus".
A palavra inspiração (do grego θεόπνευστος que significa “soprado
por Deus”) é utilizada apenas uma vez na Bíblia pelo apóstolo Paulo em 2
Timóteo 3.16, apesar dessa doutrina ser amplamente tratada pelas Escri-
turas.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreen-
são, para a correção e para a instrução na justiça (2 Tm 3.16).
Esse texto de Paulo revela que não há parte alguma das Escrituras
que não seja concedida pelo “sopro de Deus”, o que a torna completamen-
te útil para revelar os Seus propósitos soberanos. Então, não há nenhuma
parte nos textos sagrados em que não haja a influência inspiradora do
Espírito Santo. A fonte da autoridade das Escrituras está na inspiração,
por isso a própria Palavra declara assertivamente a respeito disso.
A doutrina da inspiração se refere ao processo em que Deus se co-
municou de maneira especial com alguns homens, por meio da influência
do Espírito Santo, a fim de que eles escrevessem os textos das Escrituras
Sagradas. Toda mensagem proferida por Deus foi declarada a esses ho-
mens e perfeitamente transmitida.
Já o apóstolo Pedro faz referência à palavra “movidos” (do grego
φερω, que significa “mover, transportar, conduzir ou estimular”) para se
referir à inspiração da Bíblia.
Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; en-
tretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo (2Pe 1.21 ARA).
Tal expressão utilizada por Pedro, faz referência a uma compre-
ensão complementar àquela utilizada por Paulo, pois a primeira aponta
para o fato de que a origem da Bíblia está em Deus e nasceu por meio de
Sua influência, já a segunda revela a participação de homens santos que
A Inspiração Bíblica
TEOLOGIA DA BÍBLIA 24
movidos pelo “sopro de Deus” escreveram os textos sagrados.
A doutrina da inspiração fundamenta a fé da Igreja de Cristo; a
certeza, a esperança e a segurança dos decretos divinos; e, de que mes-
mo sendo escrita dentro de um contexto histórico, as suas verdades são
atemporais e devem ser aplicadas em todo tempo e em qualquer situa-
ção.
A inspiração não aconteceu de maneira mecânica, como se o Espí-
rito tivesse ditado para os autores como eles deveriam escrever. Durante
todo processo em que Deus se relacionou com o homem, Ele não anulava
as suas vontades, mas as usava para que elas contribuíssem para o Seu
propósito soberano.
A influência do Espírito Santo sobre os homens que foram inspira-
dos, concedeu aos Escritos Sagrados o caráter de inerrância e completude,
pois não estavam sujeitos às falhas humanas. Ainda, não existem partes
da Bíblia que tenham maior teor de inspiração do que outras, sendo toda
ela inspirada pelo Espírito e de igual importância.
As palavras utilizadas pelos autores inspirados eram muito rele-
vantes para a comunicação da revelação, por isso Deus não inspirou ape-
nas ideias, mas conduziu cada palavra das Escrituras Sagradas, embora
não fosse um ditado.
Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria hu-
mana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades
espirituais para os que são espirituais. (1 Coríntios 2.13)
O apóstolo Paulo deixa claro que as palavras (do grego λόγος, que
significa palavra proferida a viva voz, que expressa uma concepção ou
ideia) proferidas vieram do Espírito e não da sabedoria do homem, o que
confirma a importância de estudar os termos bíblicos e aprofundar suas
verdades e significados.
A inspiração não aconteceu por meio de talentos naturais, onde
pessoas extraordinárias compuseram uma obra-prima tampouco através
de homens piedosos que tiveram uma experiência mística e por meio dos
dons que o Espírito confiou a cada cristão, escreveram os textos sagrados.
Existem dois critérios bíblicos, assegurados pelos ensinamentos
de Cristo, os apóstolos e igreja, que devem ser observados para a melhor
compreensão da doutrina da inspiração, a saber: a inspiração foi verbal
(sobre o conteúdo) e plenária (sobre a extensão).
TEOLOGIA DA BÍBLIA 25
A inspiração foi verbal, porque o Espírito Santo direcionou os au-
tores bíblicos a redigirem cada palavra que deveria ser colocada nas Es-
crituras Sagradas, sem retirar deles as qualidades inerentes às suas per-
sonalidades. Portanto, cada livro bíblico respeita o estilo literário do autor
e as suas características pessoais, sem que o conteúdo da revelação seja
afetado pela falibilidade humana ou que ele estivesse sujeito à meras opi-
niões e conselhos de homens.
A inspiração também foi plenária, pois toda a segurança advinda
da influência do Espírito Santo em cada palavra que foi escrita, não se es-
tende apenas a alguns textos ou livros, mas à toda Bíblia. Diante disso, a
inspiração plenária aponta para o fato de que a Bíblia é inteira, completa
e final.
A partir desses princípios que regem a doutrina da inspiração é
importante aprofundar sobre como aconteceu a autoria das obras sagra-
das, a interação entre Deus e os autores humanos na composição da reve-
lação especial, ao qual é denominada de autoria dual.
A forma como Deus decidiu se revelar, por meios dos textos sagra-
dos, envolveu mais de quarenta homens, com realidades,vidas, contextos
e histórias completamente diferentes, sendo algumas dessas obras de au-
toria desconhecida e outras de mais de uma autoria. Não havia entre es-
ses autores quaisquer similaridades a fim de propor um argumento para
a escolha divina, a não ser a soberania de Deus. Mesmo diante de uma re-
alidade de múltiplas personalidades, contextos e autores, o Espírito Santo
conduziu tais homens para produzir textos que estivessem em harmonia
e unidade, a fim de que as Escrituras Sagradas revelassem o caráter e os
propósitos de Deus.
A Bíblia é verdadeiramente a Palavra de Deus, tendo a verdade infalível como a
autoridade divina em tudo o que ela afirma ou ordena (…) A Bíblia é verdadeira-
mente a produção de homens. Ela é marcada por todas as evidências da autoria
humana tão clara e certamente como qualquer outro livro que já foi escrito por
homens (…) Essa autoria dupla estende-se a cada parte da Escritura, e à lingua-
gem assim como às ideias gerais expressas (…) A totalidade da Bíblia é verdadei-
ramente a palavra escrita por homens, mas que é de Deus (MANLY, 1888).
As palavras de Manly, pastor batista que viveu entre 1742 e 1824,
em sua obra “A Doutrina Bíblica da Inspiração”, resume como deve ser
compreendia a autoria dual da Bíblia: assinada por Deus e por homens
inspirados por Ele.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 26
FALSAS TEORIAS
DA INSPIRAÇÃO
Ao longo da história surgiram algumas teorias a respeito da ins-
piração da Bíblia que trazem muita confusão sobre a verdadeira natureza
da inspiração bíblica.Vejamos algumas:
• Teoria Mecânica ou do Ditado
Se Deus houvesse ditado as Escrituras aos homens, o estilo e es-
crita seriam uniformes. Seria a dicção e o vocabulário do autor divino, e
livro de quaisquer características dos autores humanos (2Pe 3.15,16).Toda
evidência de interesse da parte de autores humanos seria falha (Rm 9.1-
3). É verdade que os autores humanos nem sempre percebem o propósito
de seus escritos. Moisés dificilmente poderia ter sabido da importância
latente que Adão, Enoque, Abraão, Isaque e José poderiam exercer na his-
tória, ou sabido da tipologia de Cristo escondida na descrição que fez do
Tabernáculo feito de acordo com o padrão que lhe foi mostrado no monte.
Ele não poderia ter entendido por que nenhuma referência deveria ser
feita aos pais, ou ao começo ou fins dos dias de Melquisedeque (Hb 7.1-3).
Uma mensagem que é ditada é obviamente o produto de alguém
que dita; mas se uma pessoa tem liberdade de escrever em nome de ou-
tra e, então, é descoberto que, ao escrever de acordo com os seus próprios
sentimentos, estilo e vocabulário, ela registrou uma mensagem exata da-
quela outra pessoa de um modo tão perfeito como se ela a tivesse re-
cebido em forma de ditado; a convicção gerada é a de que um acompa-
nhamento sobrenatural aconteceu. Debaixo dessa forma de trabalho, o
autor humano recebe o pleno escopo de sua autoria; todavia, a mensagem
elevada fica plenamente assegurada. O resultado é tão completo como se
fosse um ditado; mas o método, embora não sem o mistério que sempre
acompanha o sobrenatural, está mais em harmonia com o modo de Deus
tratar com os homens, no qual ele usa as suas vontades, ao invés de anu-
lá-las.
Não há qualquer insinuação de que Deus tenha ditado qualquer
mensagem ao homem além daquilo que Moisés transcreveu quando da
presença de Jeová no monte. Esta teoria é facilmente classificada como
aquela na qual a divina autoria é enfatizada quase a ponto da exclusão da
autoria humana.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 27
• Inspiração Parcial
De acordo com este conceito, a inspiração atinge somente os en-
sinos doutrinários, promovendo um grau de importância a alguns textos
bíblicos em detrimento de outros. Assim, o objetivo em toda inspiração,
que é o de assegurar a inerrância dos escritos, é negada a certas partes da
Bíblia.
Não importa o que os autores humanos possam ter conhecido
previamente; a inspiração assegura exatidão a tudo que eles escreveram.
Esta teoria é uma suposição que não encontra apoio na Bíblia. É óbvio que
ela tende a separar as duas autorias.
• Inspiração das Ideias
Essa hipótese tenta imaginar os conceitos separados das palavras,
uma teoria em que Deus comunicou ideias, mas deixou os autores hu-
manos com liberdade para expressá-las em sua própria linguagem.Total-
mente dissociado do fato de que as ideias não são transferíveis por qual-
quer outro meio além das palavras, esse conceito ignora a importância
imensurável das palavras em qualquer mensagem. Mesmo um documen-
to legal que os homens usam em assuntos triviais depende totalmente
das palavras que estão nele. Quase todos os pactos e promessas contidos
na Bíblia, para que tenham força e valor, dependem das palavras usadas.
O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais é um estudo de
palavras.
A Bíblia, quando se refere à sua mensagem, nunca chama a aten-
ção para um mero conceito; ao contrário, ela fala de sua mensagem en-
tregue ao homem em palavras ensinadas pelo Espírito Santo (1Co 2.13).
Cristo disse: " As palavras que eu lhes disse são espírito e vida" (Jo 6.63), e
"Eu lhes transmiti as palavras que me deste, e eles as aceitaram" (Jo 17.8),
e "E Deus falou todas estas palavras" (Ex 20.1). Esse ensinamento claro
das Escrituras com respeito à importância de palavras específicas que são
usadas é revelado em centenas de textos bíblicos.
• Inspiração Natural
Assim como tem havido artistas excepcionais, músicos e poetas
que produziram obras-primas que não foram superadas, é afirmado pelos
que defendem essa teoria que houve homens excepcionais de compre-
ensão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de
escrever as Escrituras. Esta é a noção mais pobre de inspiração e enfatiza
a autoria humana, a fim de excluir a divina. Um escritor afirma: "A inspi-
TEOLOGIA DA BÍBLIA 28
ração é somente um potencial mais alto daquilo que todo homem possui
em algum grau". A isto outro respondeu: "A inspiração de todos é equi-
valente à inspiração de ninguém". O principal objetivo da inspiração total
da Bíblia - o de assegurar a exatidão divina para cada parte dela - está
totalmente ausente de acordo com essa opinião.
IMPLICAÇÕES
DA INSPIRAÇÃO
• A inspiração diz respeito igualmente ao Antigo e ao Novo Testamento.
Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém
de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade
humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito
Santo (2Pe1.20,21)
• A inspiração abrange uma variedade de fontes e de gêneros literários.
Há vários fatores que contribuíram para a formação das Escrituras Sagra-
das e dão forte apoio a essa afirmativa.
1. Existe uma diferença marcante de vocabulário e de estilo de
um escritor para outro. Comparem-se as poderosas expressões literárias
de Isaías com os tons de lamento de Jeremias. Compare-se a construção
literária de suma complexidade, encontrada em Hebreus, com o estilo
simples de João. Distinguimos facilmente a linguagem técnica de Lucas, o
médico amado, da linguagem de Tiago, formada de imagens pastorais.|
2.A Bíblia faz uso de documentos não-bíblicos, como o Livro de Ja-
sar (Js 10.13; 2Sm 1.18), o livro de Enoque (Jd 14) e até o poeta Epimênedes
(At 17.28). Somos informados de que muitos dos provérbios de Salomão
haviam sido editados pelos homens de Ezequias (Pv 25.1). Lucas reconhe-
ce o uso de muitas fontes escritas sobre a vida de Jesus, na composição de
seu próprio evangelho (Lc 1.1-4).
3. Os autores bíblicos empregavam vasta variedade de gêneros li-
terários; tal fato não caracteriza um ditado monótono em que as palavras
são pronunciadas uma após a outra, segundo o mesmo padrão. Grande
parte das Escrituras é formada de poesia (Jó, Salmos, Provérbios). Os evan-
gelhos contêm muitas parábolas. Paulo usava alegorias (Gl 4) e até hipér-
TEOLOGIA DA BÍBLIA 29
boles (Cl 1.23), ao passo que Tiago gostava de usar metáforas e símiles.
4. A Bíblia usa a linguagem simples do senso comum que salien-
ta a ocorrência de um acontecimento, não a linguagem de fundamento
científico. Isso não significa que os autores usassem linguagem anticien-
tífica ou negadora da ciência, e sim linguagem popular para descrever
fenômenos científicos. Não é mais anticientífico afirmar que o sol perma-
neceu parado (Js 10.12) do que dizer que o sol nasceu ou subiu (Js 1.15).
Dizer que a rainha de Sabá veio "dos confins da terra" ou que as pessoas
no Pentecostes vieram "de todas as nações debaixo do céu" não é dizer
coisas com exatidão científica. Os autores usaram formas comuns para
expressar seu pensamento sobre os assuntos.
Por isso, o que quer que fique implícito na doutrina dos escritos
inspirados, os dados das Escrituras mostram com clareza que elas in-
cluem o emprego de grande variedade de fontes literárias e de estilos de
expressão.
• Inspiração pressupõe inerrância
A Bíblia é também, por causa de sua inspiração, inerrante. Ela não
contém erro. Tudo quanto Deus declara é verdade isenta de erro. Com
efeito, as Escrituras afirmam ser a declaração (aliás, as próprias palavras)
de Deus. Nada do que a Bíblia ensina contém erro, visto que a inerrância
é consequência lógica da inspiração divina. Deus não pode mentir (Hb
6.18); sua Palavra é a verdade (Jo 17.17). Por isso, seja qual for o assunto
sobre o qual a Bíblia diga alguma coisa, ela só dirá a verdade. Não existem
erros históricos nem científicos nos ensinos das Escrituras. Tudo quanto
a Bíblia ensina vem de Deus e, por isso, não tem a mácula do erro.
A Bíblia não é um manual de Ciências, mas, quando trata de as-
suntos científicos em seu ensino, o faz sem cometer erro. A Bíblia não é
um manual de História, mas, sempre que a história secular se cruza com
a história sagrada em suas páginas, a Bíblia faz referência a ela sem come-
ter erro. Se a Bíblia não fosse inerrante e não estivesse certa nas questões
factuais, empíricas, comprováveis, de que maneira seria possível confiar
nela em questões espirituais, não sujeitas a testes? Como disse Jesus a
Nicodemos: “Eu lhes falei de coisas terrenas e vocês não creram; como
crerão se lhes falar de coisas celestiais?” (Jo 3.12).
TEOLOGIA DA BÍBLIA 30
EVIDÊNCIA
INTERNA
Evidências da Inspiração
A inspiração da Bíblia não precisa ser defendida; antes, os ensinos
da Bíblia precisam apenas ser explanados.A Bíblia pode defender sua pró-
pria autoridade, desde que sua voz se faça ouvir.
• A Evidência do Testemunho do Espírito Santo
Intimamente relacionado com a evidência da autoridade das Es-
crituras, que se demonstra por si mesma, temos o testemunho do Espí-
rito Santo. A Palavra de Deus confirma-se perante os filhos de Deus pelo
Espírito de Deus. O testemunho íntimo de Deus no coração do crente, à
medida que este vai lendo a Bíblia, é evidência da origem divina da Bíblia.
O Espírito Santo não só dá testemunho ao crente de que este é filho de
Deus (Rm 8.16), mas também afirma que a Bíblia é a Palavra de Deus (2Pe
1.20,21). O mesmo Espírito que comunica a verdade de Deus também con-
firma perante o crente que a Bíblia é a Palavra de Deus. Desde o século I o
consenso da comunidade cristã, na qual opera o Espírito Santo, tem sido
que os livros da Bíblia são a Palavra de Deus. Assim, a Palavra de Deus
recebe confirmação da parte do Espírito de Deus.
• A Evidência da Capacidade Transformadora da Bíblia
Outra evidência denominada "interna" é a capacidade que tem a
Bíblia de transformar pessoas e de edificá-las na fé cristã. Assim diz He-
breus: " Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer
espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, jun-
tas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração (Hb 4.12).
Milhares de pessoas têm experimentado esse poder; dependentes quími-
cos têm sido libertos pela Palavra; criminosos têm sido transformados; o
ódio tem cedido lugar ao amor; tudo isso pela leitura da Palavra de Deus
(1Pe 2.2). Os entristecidos recebem conforto os pecadores são repreendi-
dos, os negligentes são exortados pelas Escrituras, A palavra de Deus tem
o poder, o dinamismo transformador de Deus. A evidência de que Deus
atribuiu sua autoridade à Bíblia está em seu poder transformador e edifi-
cador.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 31
• A Evidência da Unidade da Bíblia
Uma evidência mais formal da inspiração da Bíblia está em sua
unidade. Sendo constituída de 66 livros escritos ao longo de 1500 anos,
por cerca de quarenta autores, em diversas línguas, com centenas de tó-
picos, é muito mais que mero acidente que a Bíblia apresente espantosa
unidade temática — Jesus Cristo. Um problema — o pecado— e uma so-
lução — o Salvador Jesus— unificam as páginas da Bíblia, do Gênesis ao
Apocalipse.
Se a compararmos a um manual médico redigido sob tão gran-
de variedade, a Bíblia apresenta marcas notáveis de unidade divina. Essa
é uma questão de inigualável validade, uma vez que nenhuma pessoa
ou grupo de pessoas engendraram a composição da Bíblia. Os livros iam
sendo colecionados e acrescentados, à medida que iam sendo escritos
pelos autores, os profetas. Eram guardados simplesmente por serem tidos
como inspirados. Só mediante reflexão posterior, tanto da parte de profe-
tas (1Pe 1.10,11) quanto de autores de gerações futuras, é que se descobriu
que na verdade a Bíblia é um livro só, cujos "capítulos" foram escritos por
homens sem conhecimento visível de sua estrutura global.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 32
EVIDÊNCIA
EXTERNA
• Evidência Baseada na Historicidade da Bíblia.
Grande parte do conteúdo bíblico é história e, por isso mesmo,
passível de constatação. Existem duas espécies principais de apoio da his-
tória bíblica: os artefatos arqueológicos e os documentos escritos. No que
diz respeito aos artefatos, nenhuma descoberta arqueológica invalidou
um ensino ou relato bíblico. Ao contrário, como escreveu Donald J. Wise-
man:
A geografia das terras mencionadas na Bíblia e os remanescentes visíveis da anti-
guidade foram gradativamente registrados, até que hoje, em sentido mais amplo,
foram localizados mais de 25 000 locais, nesta região, que datam dos tempos do
Antigo Testamento (GLEISER, 2006).
Aliás, grande parte da antiga crítica à Bíblia foi firmemente refu-
tada pelas descobertas arqueológicas que demonstraram a existência da
escrita nos dias de Moisés, a história e a cronologia dos reis de Israel e
até mesmo a existência dos hititas, povo até há pouco só mencionado na
Bíblia.
A descoberta amplamente divulgada dos rolos do mar Morto
ilustra algo não muito bem conhecido, a saber, que existem milhares de
manuscritos tanto do Antigo como do Novo Testamento, o que contrasta
com o punhado de originais disponíveis de muitos clássicos seculares de
grande importância. Isso significa que a Bíblia é o livro do mundo antigo
mais bem documentado que existe. É verdade que nenhuma descoberta
histórica representa evidência direta de alguma afirmação espiritual feita
pela Bíblia, como, por exemplo, a reivindicação de ser inspirada por Deus;
no entanto, a historicidade da Bíblia fornece com certeza uma compro-
vação indireta de sua inspiração. Isto está no fato de que a confirmação
da exatidão da Bíblia em questões factuais confere credibilidade às suas
declarações e ensinos em outros assuntos.
• A Evidência do Testemunho de Cristo
O testemunho de Cristo é evidência relacionada à da historicidade
dos documentos bíblicos. Visto que o Novo Testamento é documentado
como livro histórico e esses mesmos documentos históricos nos forne-
cem o ensino de Cristo a respeito da inspiração da Bíblia, resta-nos ape-
nas presumir a veracidade de Cristo, para convencer-nos firmemente da
TEOLOGIA DA BÍBLIA 33
inspiração da Bíblia. Se Jesus Cristo possui alguma autoridade ou inte-
gridade como mestre religioso, podemos concluir que a Bíblia é inspira-
da por Deus. O Senhor Jesus ensinou que a Bíblia é a Palavra de Deus.
Sealguémquiserprovarseressaassertivafalsa,deveráprimeirorejei-
taraautoridadequetinhaJesusdesepronunciarsobreaquestãodainspiração.
As evidências revelam irrefutavelmente que Jesus confir-
mou a autoridade divina da Bíblia. O texto do evangelho como um
todo, com amplo apoio histórico revela que Jesus era homem de in-
tegridade e de verdade. O argumento, portanto, é este: se o que Je-
sus ensinou é a verdade, e Jesus ensinou que a Bíblia é inspira-
da, segue-se que é verdade que a Bíblia é inspirada por Deus.
• A Evidência da Profecia
Outro testemunho externo dotado de grande força em apoio da
inspiração das Escrituras é o fato da profecia cumprida. De acordo com
Deuteronômio 18, o profeta era tido como falso quando fazia predições
que não se cumprissem. Até o presente momento, nenhuma profecia
incondicional da Bíblia a respeito de acontecimentos ficou sem cumpri-
mento. Centenas de predições, algumas delas feitas centenas de anos
antes de se cumprirem, se concretizaram literalmente. A época do nas-
cimento de Jesus (Dn 9), a cidade em que ele haveria de nascer (Mq 5.2)
e a natureza de sua concepção e nascimento (Is 7.14) foram preditos no
Antigo Testamento, bem como dezenas de outras minúcias de sua vida,
morte e ressurreição. Outras profecias, como a da explosão da instru-
ção e da comunicação (Dn 12.4), a da repatriação de Israel (Is 61.4), es-
tão sendo cumpridas em nossos dias. Outros livros religiosos buscam
reivindicar a inspiração divina de suas obras, como o Alcorão e partes
dos Vedas, todavia, nenhum desses livros contém predições do futuro.
• A Evidência da Influência da Bíblia
Nenhum outro livro tem sido tão largamente disseminado, nem
exercido tão forte influência sobre o curso dos acontecimentos mundiais
do que a Bíblia. As Escrituras Sagradas têm sido traduzidas em mais lín-
guas, têm sido impressas em maior número de exemplares, têm influen-
ciado mais o pensamento, inspirado mais as artes e motivado mais as
descobertas do que qualquer outro livro.A Bíblia foi traduzida em mais de
mil línguas, abrangendo mais de 90% da população do mundo. Suas tira-
gens somam alguns bilhões de exemplares. Os best sellers que têm vindo
em segundo lugar, ao longo dos séculos, nunca chegam perto do detentor
perpétuo do primeiro lugar, a Bíblia.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 34
A influência da Bíblia e de seu ensino sobre o mundo ocidental
está bem à mostra para todos quantos estudam a história. O papel de
forte influência desempenhado pelo Ocidente sobre o desenrolar dos
acontecimentos mundiais fica igualmente evidente. As Escrituras judai-
cas-cristãs têm influenciado mais a civilização que qualquer outro livro
ou combinação de livros do mundo. Na verdade, nenhuma outra obra reli-
giosa ou de fundo moral no mundo excede a profundidade moral contida
no princípio do amor cristão, e nenhuma apresenta conceito espiritual
mais majestoso sobre Deus do que o conceito que a Bíblia oferece.A Bíblia
apresenta ao homem os mais elevados ideais que já pautaram a civiliza-
ção.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 35
BIBLIOGRAFIA
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Library 186-94. Cambridge, Mass.: Harvard University Press/London:
William Heinemann, 1926.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 36
TEOLOGIA DA BÍBLIA 36
O Poder da Palavra de Deus
3
AULA
TEOLOGIA DA BÍBLIA 37
ConformeMoisésregistrouemGênesis,ohomemcriadoporDeusnoJardim
do Éden foi feito à Sua imagem (que significa “abrigar a luz”). Deus abrigou
a sua luz nos homens e isso promovia uma plenitude de comunhão. Deus
tinhaumacomunicaçãodiretacomahumanidade.Nãoeranecessárioque
Deus se revelasse por meio das Escrituras, antes do pecado, pois não havia
nadaqueservissedeimpedimentoparaohomemconhecerocaráter,vonta-
deepropósitodivinos.EntenderoseupapelcomopartenafamíliadeDeus.
Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não
há treva alguma. Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas
trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz, como
ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho,
nos purifica de todo pecado. (1Jo 1.5-7)
Quando Adão e Eva foram seduzidos pelo Diabo, no momento
da queda (Gn 3), desfiguraram a imagem de Deus na humanidade. As
trevas entraram no coração do homem e ofuscaram o brilho da imago
dei. O homem já não podia mais se comunicar com o Eterno na mes-
ma dimensão de antes, pois em Deus não há trevas e Ele não faz comu-
nhão com quem anda nessa realidade. Com o objetivo de restaurar a co-
munhão com o homem, Deus enviou a Palavra Escrita e a Palavra Viva.
A Palavra Escrita anunciou a Palavra Viva, pois a verdadeira luz
não está na revelação, mas no próprio Deus. O homem é iluminado pela
Bíblia, a fim de que a luz de Deus brilhe em seus corações, por meio da
reconciliação garantida por causa da graça, por meio da fé e com base na
obra completa de Jesus Cristo.
“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu
caminho” (Sl 119.105).
“Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela
prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia
clareie e a estrela da alva nasça em seus corações” (2Pe 1.19).
O Poder da Palavra de Deus
O Poder Iluminador do Espírito
AULA 3
TEOLOGIA DA BÍBLIA 38
Deus não é apenas a fonte da revelação, mas o canal para a com-
preensão dela. Somente o Espírito revela as verdades eternas
da palavra. O simples estudo da Palavra e a dedicação nos há-
bitos espirituais não são suficientes para promover o discerni-
mento e o conhecimento dos propósitos de Deus nas Escrituras.
A obra iluminadora do Espírito Santo é tratada profundamente no texto
paulino de 1 Coríntios 2.14-16.
Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe
são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritual-
mente. Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém
é discernido; pois “quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? "
Nós, porém, temos a mente de Cristo.
A mente do homem não pode analisar os propósitos de Deus sem que
haja a intervenção dele nesse processo. O apóstolo Paulo se refere à limi-
tação humana para compreender as Escrituras e as coisas reveladas por
Deus, havendo apenas um caminho para o conhecimento das coisas divi-
nas que é a busca por um relacionamento com o Espírito Santo. Somente
o Espírito é capaz de sondar os mistérios de Deus e trazê-los ao homem.
A iluminação refere-se, então, à influência do Espírito Santo sobre a hu-
manidade, a fim de combater os três tipos de trevas que assolam o ho-
mem: as trevas do mundo (no original significa “sistema, valores e ação
organizada contra as coisas de Deus”), as trevas satânicas (arqui-inimigo
de Deus, conhecido como o príncipe das trevas) e as trevas da carne (no
original significa “natureza instintiva do homem que o incita a cometer
pecados”).
• O Espírito da Verdade
No dia de sua ressurreição, Cristo andou com dois de seus discí-
pulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-35) e está registrado que Ele "ex-
pôs" e "abriu" as Escrituras diante desses discípulos. Semelhantemente,
na noite em que Ele apareceu a todo o grupo de discípulos, Ele abriu o
entendimento deles para compreenderem as Escrituras (Lc 24.45). Até a
sua crucificação, esses homens não haviam crido ainda que Cristo mor-
reria (Mt 16.21-23), e foi somente no final que eles puderam saber algo do
significado de sua morte e ressurreição, quando os entendimentos de-
les foram abertos: “Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem
compreender as Escrituras” (Lc 24.45).
Assim, um campo ilimitado de verdade veio sobre eles, até mes-
TEOLOGIA DA BÍBLIA 39
mo o Evangelho que estavam para proclamar (Lc 24.47, 48), mas não sem
o poder garantido pelo Espírito Santo que viria sobre eles (Lc 24.49). No
dia do Pentecostes, Pedro, que havia recentemente rejeitado o anún-
cio a respeito da morte de Cristo (Mt 16.21-23), pregou o valor daquela
morte com tal poder convincente que três mil pessoas foram salvas.
Está evidente que o entendimento de Pedro havia sido aberto a
respeito da morte de Cristo; esta, contudo, não foi a primeira experiência
que Pedro havia tido do poder penetrante de uma revelação divina. Em
resposta à pergunta de Cristo: "Quem dizem os homens que eu sou?", Pe-
dro replicou: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Respondeu Jesus: "Feliz
é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne
ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus (Mt 16.15-17). Embora nos
textos acima citados o Pai e o Filho sejam declarados como tendo revela-
do aspectos definidos da verdade a vários homens, o Espírito de Deus é o
Mestre divino, visto que o seu advento no Pentecostes e vários textos da
Escritura testemunham deste ministério específico do Espírito Santo.
“Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensina-
rá todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse” (Jo 14.26).
Após ter anunciado o poder iluminador do Espírito, o Senhor con-
tinuou a dizer:
“Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora. Mas
quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de
si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me
glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês. Tudo o
que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu
e o tornará conhecido a vocês” (Jo 16.12-15).
A afirmação importante desta passagem essencial é que Cristo,
que ensinou a seus discípulos por três anos e meio, ensina-lhes agora,
mas por um novo modo de abordagem aos seus corações. A frase: "Mas
quando o Espírito da verdade vier..." profetiza, sem dúvida, a vinda do Es-
pírito no Pentecostes e os novos empreendimentos que seriam tornados
possíveis pela sua presença habitando nos corações deles - um dos quais
é o seu trabalho como Mestre.
• A necessidade do novo nascimento
A Bíblia nos fala que somente os que são espirituais entendem as
coisas do Espírito (1Co 2.15,16).A obra interna do Espírito Santo é limitada
TEOLOGIA DA BÍBLIA 40
pela tendência pecaminosa da raça humana. Em Mateus 13.13-15 e em
Marcos 8.18, Jesus fala dos que ouvem, mas nunca entendem e veem, mas
nunca enxergam. A condição dessas pessoas é apresentada em imagens
claras em todo o Novo Testamento:
• O coração ficou endurecido (Mt 13.14).
• Os ouvidos são tardios em ouvir (13.14).
• Eles fecharam os olhos (13.15).
• Conhecem a Deus, mas não o glorificaram como Deus, e assim
tornaram-se fúteis em seus raciocínios e a mente insensata deles ficou
obscurecida (Rm 1.21).
Mas essa condição é vencida quando o Espírito Santo começa a
trabalhar dentro de nós. Paulo fala em ter os olhos do coração ilumina-
dos —a forma verbal usada indica que algo foi feito e que o efeito con-
tinua (Ef 1.18). Em 2Coríntios 3, ele fala da remoção do véu colocado na
mente (v. 16), para que se possa contemplar a glória do Senhor (v. 18). O
Novo Testamento se refere a essa iluminação de várias outras maneiras:
• Circuncisão do coração (Rm 2.29).
• Ser repleto de sabedoria e entendimento espiritual (Cl 1.9).
• O dom do entendimento para conhecer Jesus Cristo (1Jo5.20)
• Ouvir a voz do Filho de Deus (Jo 10.3).
• Poder de Deus (1Co1.18).
• Sabedoria secreta e oculta de Deus (1Co 1.24; 2.7).
• Mente de Cristo (1 Co 2.16).
O que viemos descrevendo aqui é um trabalho único do Espírito —
a regeneração ou o Novo Nascimento. Ela introduz uma diferença categó-
rica entre o salvo e o descrente. Mas também existe um trabalho contínuo
do Espírito Santo na vida do que crê, uma obra especialmente descrita e
esmiuçada por Jesus em sua mensagem a seus seguidores em João 14—16:
• O Espírito Santo ensinará todas as coisas aos que creem e os fará
lembrar de tudo o que Jesus ensinou a eles (14.26).
• O Espírito Santo dará testemunho de Jesus. Os discípulos tam-
bém darão testemunho de Jesus porque estiveram com ele desde o prin-
cípio (15.26,27).
• O Espírito Santo convencerá (elencho) o mundo do pecado, da
justiça e do juízo (16.8). Essa palavra, em especial, implica repreender de
tal forma que produza arrependimento, em contraste com epitimao, que
pode sugerir simplesmente uma repreensão imerecida (Mt 16.22) ou ine-
ficaz (Lc 23.40).
• O Espírito Santo conduzirá os que creem a toda verdade. Ele não
TEOLOGIA DA BÍBLIA 41
falará por sua própria autoridade, mas dirá tudo o que ouviu (Jo 16.13).
Nesse processo, ele também glorificará a Jesus (16.14).
Vamos sintetizar o papel do Espírito conforme descrito em João
14—16. Ele conduz à verdade, trazendo à lembrança as palavras de Jesus,
não falando por si próprio, mas falando o que ouviu, trazendo arrepen-
dimento, testemunhando de Cristo. Não parece que essa obra seja um
novo ministério ou o acréscimo de novas verdades que já não tenham
sido apresentadas, mas uma ação do Espírito Santo em relação à verdade
já revelada.Assim, o ministério do Espírito Santo em relação à iluminação
consiste em explicar a verdade, criar fé, persuasão e arrependimento, mas
não traz uma nova revelação.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 42
A Vida pela Palavra de Deus
Vitalidade ou vida é o elemento incomparável que só a Bíblia
possuí. Há vários atributos da Palavra escrita de Deus. No Antigo Tes-
tamento, estes são apresentados em dois Salmos. Alguns aparecem no
Salmo 19: "A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do
Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Os preceitos
do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são
límpidos, e trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sem-
pre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas" (vv. 7-9).
Semelhantemente, sete atributos da Bíblia são mencionados no
Salmo 119:
• Confiável (v. 86)
• Ilimitada (v. 96)
• Reta (v. 128)
• Maravilhosa (v. 129)
• Comprovada (v. 140)
• Eternas (v. 160)
• Justa (v. 172).
O Novo Testamento acrescenta que a Palavra de Deus é:
• verdade (Jo 17.17)
• proveitosa (2Tm 3.16)
• penetrante e poderosa (Hb 4.12).
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada
de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e me-
dulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).
A palavra zõn, usada cerca de 140 vezes no Novo Testamento, sig-
nifica vida, seja como uma realidade ou como uma maneira de conduta.
Esta raiz da palavra aparece em cada uma das treze repetições da frase:
"Deus vivo". Duas vezes a raiz aparece como um elemento integral nas
Escrituras Sagradas.
A Escritura é viva no sentido em que Deus é o Deus vivo (Hb 10.31).
As qualidades aqui usadas não são somente reveladoras, mas arranjadas
de modo que formam um ápice. A Palavra de Deus é viva, é eficaz, é cor-
tante, ela penetra, ela discerne.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 43
“Pois vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas impere-
cível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente” (1Pedro 1.23).
Aqui, novamente a palavra zaõ aparece, com o pensamento acres-
cido da duração eterna. Não deve ser esquecida a essa altura a afirmação
de Cristo: " As palavras que eu lhes disse são espírito e vida" (zõê, Jo 6.63).
A segunda palavra é energês (Hb 4.12), que concede às Escrituras
o atributo da energia. Ela é a energia que proporciona a vida. A verdade é
sempre poderosa, e as Escrituras são a verdade divina (Jo 8.32; 17.17).
A Palavra escrita de Deus é inspirada por Deus. Há vida ineren-
te nela. Esta verdade não implica personalidade ou que a Bíblia possui
a constituição de uma criatura viva. Ela declara que a vida divina reside
nas Escrituras. Por causa deste fato, certas realizações extraordinárias são
operadas pela Palavra de Deus.
• O Poder da Palavra de Deus Sobre
Seus Filhos
Em sua oração sacerdotal, Cristo fez um pedido por aqueles que
o Pai lhe havia dado, a fim de que pudessem ser santificados pela verda-
de, ao acrescentar: "A tua Palavra é a verdade... Em favor deles eu me santifi-
co, para que também eles sejam santificados pela verdade" (Jo 17.17-19).
• A Palavra de Deus é um alimento que traz força: “Como crianças re-
cém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por
meio dele cresçam para a salvação” (1Pe 2.2).
• As Escrituras possuem um valor especial para o cristão: “Também agra-
decemos a Deus sem cessar, pois, ao receberem de nossa parte a palavra
de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo
verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em
vocês, os que creem” (1Ts 2.13).
• A Palavra é uma agência purificadora. Ao escrever a respeito do cuida-
do de Cristo por sua Igreja, o apóstolo disse: "... para santificá-la, tendo-a
purificado pelo lavar da água mediante a palavra" (Ef 5.26; cf. SI 37.31;
119.11).
Deus usa sua Palavra. Ela é eficaz na mão do Espírito Santo para
a realização de resultados sobrenaturais.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 44
• Seu Poder Eterno.
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mt
24.35).
Os homens têm feito o que podem para destruir a influência da
Bíblia. Eles têm tanto testificado contra ela como profetizado a sua queda;
mas em tempo algum na história do mundo ela tem sido tanto um poder
para o bem, quanto claramente uma influência crescente. A preservação
das Escrituras, assim como o cuidado divino no registro delas e na forma-
ção delas no cânon, não é acidental. Ela é o cumprimento da promessa
divina. O que Deus em fidelidade operou, terá a sua continuação até que
o seu propósito seja cumprido.
Há pouca coisa, de fato, que os homens possam fazer para frustrar
a eficácia da Palavra de Deus, visto que é dito dela: "... para sempre está
firmada nos céus; " Há muito aprendi dos teus testemunhos que os estabe-
leceste para sempre" (SI 119.89,152). Com o mesmo propósito Cristo disse:
" O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mt 24.35);
e o apóstolo Pedro confirma que a "Palavra de Deus" é "viva e permanente"
(1 Pe 1.23).
A duração eterna é atributo da Bíblia; ela é indestrutível, por ser
a Palavra do Deus eterno. A Bíblia é eterna por seus próprios méritos. Ela
permanece porque nenhuma palavra que Deus falou pode ser removida
ou abalada. Na verdade, é por meio de seus oráculos escritos que Deus
anuncia suas declarações a respeito de "todas as coisas" que não podem
ser abaladas. As Escrituras são o instrumento legal pelo qual Deus execu-
ta cada detalhe de seus pactos eternos e cumpre cada predição que seus
profetas fizeram. O instrumento legal que assegura essa vasta realização
deve continuar, e continuará, até a última promessa. Nenhuma letra do
testemunho divino pode passar até que tudo seja cumprido.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 45
Sem a Bíblia, a evangelização do mundo seria não apenas impos-
sível, mas também inconcebível. A Bíblia nos determina a responsabili-
dade de evangelizar o mundo, nos dá um evangelho a proclamar, nos diz
como fazê-lo e se declara o poder de Deus para a salvação de todo aquele
que crer.
Além disso, a história passada e contemporânea, nos revela que
o grau de compromisso da Igreja com a evangelização do mundo é pro-
porcional ao grau de sua convicção da autoridade da Bíblia. Sempre que
o cristão perde a confiança na Bíblia, seu empenho pela evangelização
acaba desaparecendo. Inversamente, se ele estiver convencido acerca da
Bíblia, estará também determinado a evangelizar.
Vejamos quatro razões por que a Bíblia é indispensável à evange-
lização do mundo.
A RESPONSABILIDADE
A Bíblia nos dá a ordem da evangelização do mundo. Sem dúvida,
precisamos de um compromisso. Dois fenômenos estão ocorrendo em
toda parte: o fanatismo religioso e o pluralismo religioso. O fanatismo se
caracteriza por uma devoção irracional que, se pudesse, usaria a força
para obrigar a crença e erradicar a incredulidade. O pluralismo religioso
incentiva a tendência oposta.
Sempre que o espírito do fanatismo religioso ou de seu oposto
prevalece, a evangelização do mundo é profundamente prejudicada. Os
fanáticos se recusam a tolerar o rival representado pelo evangelismo, e os
pluralistas rejeitam suas reivindicações exclusivas. O discípulo de Cristo
é considerado um intruso, alguém que sem motivo se intromete na vida
das pessoas.
Nossa reponsabilidade para com a evangelização do mundo está
revelada em toda a Bíblia. Deve ser encontrada:
• Na criação de Deus, porque todos os seres humanos são responsáveis
diante dele.
• No caráter de Deus, transcendente, amoroso, compassivo, não desejan-
A Bíblia no Avanço do Evangelho
TEOLOGIA DA BÍBLIA 46
do que ninguém pereça, mas que todos venham ao arrependimento.
• Nas promessas de Deus, que todas as nações sejam benditas por meio
da semente de Abraão e venham a ser a herança do Messias.
• Em Jesus Cristo, exaltado com autoridade sobre todas as coisas.
• No Espírito de Deus, que convence do pecado, dá testemunho de Cristo
e impele a Igreja a evangelizar.
• Na Igreja de Deus, que é uma comunidade missionária multinacional,
com ordens de evangelizar até que Cristo volte.
A MENSAGEM
Nossa mensagem vem da Bíblia, mas quando a buscamos nas Es-
crituras, imediatamente deparamos com um dilema. De um lado, a men-
sagem nos é entregue. Não temos permissão de inventá-la. Ela nos foi
confiada como um “depósito” precioso, que nós, como servos fiéis, de-
vemos guardar e distribuir na Casa de Deus (1Tm 6.20; 2Tm 1.12-14; 2Co
4.1,2). Por outro lado, não nos foi dada como uma fórmula matemática
simples e exata, e sim numa rica diversidade de formulações nas quais
foram usadas imagens ou metáforas diferentes.
Portanto, existe apenas um evangelho, no qual todos os apóstolos
concordam (1Co 15.1). No entanto, os apóstolos expressaram esse evange-
lho único de diversos modos:
• Sacrifical (o derramamento e a aspersão do sangue de Cristo).
• Messiânico (o surgimento do governo prometido por Deus).
• Legal (o juiz pronunciando a justificação do injusto).
• Pessoal (o Pai reconciliando seus filhos desviados).
• Salvador (o Libertador celestial que veio para resgatar os desamparados).
• Cósmico (o Senhor universal reivindicando domínio universal).
O evangelho é assim visto como único e, ao mesmo tempo, como diversi-
ficado. Ele é “dado” e, ao mesmo tempo, é culturalmente adaptado à sua
audiência. Uma vez que ele vem de Deus, devemos preservá-lo; uma vez
que se destina as pessoas, temos de interpretá-lo.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 47
O MODELO
Quando Deus nos falou nas Escrituras ele usou linguagem huma-
na e quando nos falou em Cristo assumiu carne humana. A fim de se re-
velar, ele se esvaziou e se humilhou. Esse é o modelo de evangelismo que
a Bíblia apresenta. Existe autoesvaziamento e auto-humilhação em todo
evangelismo autêntico. Sem eles, contradizemos o evangelho e deturpa-
mos o Cristo que proclamamos.
O PODER
A Bíblia nos concede o poder para a evangelização do mundo. É
quase desnecessário enfatizar nossa necessidade de poder, pois sabemos
quanto nossos recursos humanos são fracos em comparação com a mag-
nitude da tarefa. Também sabemos quão blindadas são as defesas do co-
ração humano. Pior ainda, conhecemos a realidade, a maldade e o poder
do Diabo e dos demônios sob seu comando.
Para nós, é fato inegável “que o mundo todo está sob o poder do
Maligno” (1Jo 5.19).Até que sejam libertados por Jesus Cristo e transporta-
dos para seu Reino, todos os seres humanos são escravos de Satanás e da
carne. Além disso, percebemos o poder maligno no mundo contemporâ-
neo — nas trevas da idolatria; na superstição e no fatalismo; na devoção
aos deuses que não são deuses; no materialismo egoísta; na propagação
do comunismo ateu; na proliferação de sistemas religiosos irracionais; na
violência e na agressão; na deterioração generalizada dos padrões absolu-
tos de bondade e verdade. Tudo isso é resultado da obra daquele que nas
Escrituras é chamado “mentiroso”, “enganador”, “caluniador” e “homici-
da”.
Portanto, a conversão e a regeneração cristãs continuam sendo milagres
da graça de Deus. Representam o auge de uma luta poderosa entre luz e
trevas. Como então participaremos da vitória de Cristo e derrotaremos o
poder do Diabo? Lutero responde a essa pergunta: “Vencido cairá por uma só
palavra.” Há poder na Palavra de Deus e na pregação do evangelho.Talvez
a expressão mais forte dessa realidade no Novo Testamento esteja em
2Coríntios 4. Paulo faz menção do “o deus desta era”, que “cegou o entendi-
mento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo,
que é a imagem de Deus” (v. 4).
Se a mente humana está cega, como poderá enxergar? Somente por meio
da Palavra criadora de Deus. Pois foi Deus quem disse que “de trevas res-
plandecerá luz” que brilhou em nosso coração “para iluminação do conheci-
TEOLOGIA DA BÍBLIA 48
mento da glória de Deus, na face de Cristo” (v. 6). Pregar o evangelho, longe de
ser desnecessário, é indispensável. E o meio estabelecido por Deus para
que o príncipe das trevas seja derrotado e a luz brote no coração do ser
humano. Há poder no evangelho de Deus — poder de Deus para a salva-
ção (Rm 1.16).
Sem a Bíblia, a evangelização do mundo é impossível, pois sem ela
não temos nenhum evangelho para levar às nações, nenhuma garantia
para oferecer, nenhuma ideia de como fazer a tarefa e nenhuma espe-
rança de sucesso. É a Bíblia que nos dá a responsabilidade, a mensagem,
o modelo e o poder de que precisamos para a evangelização do mundo.
Portanto, vamos nos apoderar dela, vamos dar atenção aos seus manda-
mentos, captar sua mensagem, seguir sua orientação e confiar em seu
poder.Vamos levantar nossa voz e tornar a Palavra conhecida.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 49
BIBLIOGRAFIA
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CHAFER, L.S.Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003
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RODMAN, W.Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. São
Paulo: Vida, 2011.
TEOLOGIA DA BÍBLIA 50
TEOLOGIA DA BÍBLIA 50
Marcas das Escrituras
4
AULA
TEOLOGIA DA BÍBLIA 51
AUTORIDADE
Todas as palavras nas Escrituras são palavras de Deus. É a inspira-
ção da Bíblia que traz a autoridade dela sobre as nossas vidas. Há muitas
afirmações na Bíblia que declaram isso, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento.
No Antigo Testamento, isso se vê com frequência na frase intro-
dutória “Assim diz o Senhor”, que ocorre centenas de vezes. Essa frase é
reconhecida como idêntica em forma à expressão “assim diz o rei”, muito
utilizada no mundo do Antigo Testamento para introduzir um edito de
um rei a seus súditos. Da mesma forma, os profetas estão reivindicando a
condição de mensageiros do soberano Rei de Israel, e declarando que suas
palavras são autoridade absoluta.
Além disso, muitas vezes se diz que Deus fala “por intermédio” do
profeta (1 Reis 14.18; 16.12, 34; 2 Reis 9.36; 14.25; Jeremias 37.2; Zacarias
7.7, 12). Assim, o profeta que diz em nome de Deus, é Deus quem fala (1
Reis 13.26 com v.21; 1 Reis 21.19 com 2 Reis 9.25-26; Ageu 1.12). Nesses, e
em outros casos no Antigo Testamento, as palavras que os profetas fala-
ram podem ser mencionadas igualmente como palavras que o próprio
Deus falou. Assim, não dar crédito ou desobedecer a qualquer coisa que
um profeta diz é não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus (Deute-
ronômio 18.19, 1 Samuel 10.8; 13.13-14; 15.3, 19, 23; 1 Reis 20.35,36).
No Novo Testamento, várias passagens indicam que todos os es-
critos do Antigo Testamento são vistos como palavras de Deus. O texto
de 2 Timóteo 3.16 diz “... toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça”.
Nesse ponto, Escritura (grafe) deve referir-se às Escrituras do Antigo Tes-
tamento em forma escrita, pois é a isso que a palavra grafe se refere em
cada uma das 50 vezes em que é usada no Novo Testamento. Além disso,
Paulo faz referência às “sagradas letras” do Antigo Testamento imediata-
Marcas das Escrituras
Autoridade e Suficiência
AULA 4
TEOLOGIA DA BÍBLIA 52
mente antes no versículo 15.
Aqui Paulo afirma que todos os escritos do AntigoTestamento são
theopnesutos, “inspirados por Deus”. Como se diz que os escritos é que são
inspirados, essa inspiração deve ser entendida como uma metáfora de
palavras faladas das Escrituras. Esse versículo, portanto, afirma de manei-
ra breve o que era evidente em muitas passagens no Antigo Testamento:
os escritos do Antigo Testamento são considerados palavras de Deus em
forma escrita, embora tenha usado agentes humanos para escrever essas
palavras.
Mas, se Paulo referia-se apenas aos Escritos do AntigoTestamento
quando falou das “Escrituras”, como esse versículo pode também ser apli-
cado aos escritos do Novo Testamento? A resposta é sim, pois a palavra
grega grafe (“escritura”) era um termo técnico para os escritores do Novo
Testamento e possuía um significado muito específico. Assim, tudo o que
pertence à categoria grafe (“escritura”) tinha a qualidade de “inspirado por
Deus”, e suas palavras eram as palavras do próprio Deus. Em dois trechos
do NovoTestamento vemos os escritos do NovoTestamento também cha-
mados “escrituras” juntamente com os escritos do AntigoTestamento. Es-
sas passagens são 2 Pedro 3.16 e 1 Timóteo 5.18.
Essas duas passagens juntas indicam que durante o período em
que os documentos do Novo Testamento estavam sendo escritos havia
uma consciência de que estavam sendo feitos acréscimos a essa categoria
especial chamada grafe.
Além disso, temos afirmações como a de 1 Coríntios 14.37, na qual
Paulo diz: “Se alguém pensa que é profeta ou espiritual, reconheça que o que
lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor”. Neste trecho Paulo atribui os
seus escritos o status de “mandamento do Senhor”.
Nos trechos apresentados em João 14.26 e 16.13, Jesus promete
que o Espírito Santo traria à lembrança dos discípulos tudo o que ele dis-
sera e os guiaria a toda verdade. Isso aponta para uma obra especial de
supervisão do Espírito Santo, mediante a qual os discípulos lembrariam e
registrariam sem erro tudo o que Jesus havia dito. Indicações semelhan-
tes se encontram também em 2 Pedro 3.2, 1 Coríntios 2.13, 1Tessalonicen-
ses 4.15 e Apocalipse 22.18-19.
Além do que já foi apresentado é importante lembrar que nos-
sa convicção definitiva de que as palavras da Bíblia são palavras divinas
vem quando o Espírito Santo fala ao nosso coração nas palavras da Bíblia
e por intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas são
TEOLOGIA DA BÍBLIA 53
as palavras do Criador falando conosco. Logo depois de explicar que sua
mensagem apostólica consistia em palavras ensinadas pelo Espírito San-
to (1 Coríntios 2.13), Paulo diz “quem não tem o Espírito não aceita as coisas
que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las,
porque elas são discernidas espiritualmente.” (1 Coríntios 2.14). À parte do tra-
balho do Espírito de Deus, uma pessoa não receberá verdades espirituais
e, em particular, não receberá nem aceitará a verdade de que as palavras
das Escrituras são de fato palavras de Deus.
Mas, àqueles em quem o Espírito de Deus está operando reconhe-
cem que as palavras da Bíblia são palavras de Deus. Esse processo é bem
análogo àquele pelo qual os que creram em Jesus souberam que suas pa-
lavras eram verdadeiras. Ele disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz;
eu as conheço, e elas me seguem” (João 10.27). Aqueles que são ovelhas de
Cristo ouvem as palavras de seu grande Pastor enquanto leem as palavras
das Escrituras e são convencidos de que essas palavras são de fato do seu
Senhor. À medida que as pessoas leem as Escrituras, elas ouvem a voz do
Criador falando-lhes por intermédio das palavras das Escrituras, e então
percebem que o livro que estão lendo é diferente de qualquer outro, ou
seja, que a Bíblia é de fato um livro com as palavras do próprio Deus falan-
do-lhes ao coração.
AS ESCRITURAS SÃO SUFICIENTES
A definição de suficiência das Escrituras diz que a Bíblia contém
todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio
da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que
precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos
confiar e a ele obedecer.
Essa definição enfatiza que só nas Escrituras devemos procurar as
palavras de Deus para nós. Também nos lembra de que Deus considera
que o que ele nos disse na Bíblia é suficiente para nós e que devemos nos
alegrar na grande revelação que nos deu.
Encontramos explicação e apoio bíblico significativo para essa
doutrina nas palavras de Paulo a Timóteo: “Porque desde criança você conhe-
ce as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante
a fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15). Isso é uma indicação de que as pala-
vras de Deus que temos nas Escrituras são todas as palavras divinas que
precisamos para a salvação: essas palavras podem nos tornar sábios “para
a salvação”. Isso se confirma por outras passagens que falam sobre as
palavras das Escrituras como meio que Deus emprega para nos conduzir
TEOLOGIA DA BÍBLIA 54
à salvação (Tiago 1.18, 1 Pedro 1.23).
Em um sentido bem prático, significa que podemos chegar a con-
clusões claras sobre muitos ensinamentos das Escrituras. Isso nos dá a
confiança de que seremos capazes de encontrar aquilo que Deus exige
que pensemos ou façamos nessas situações.
Simplificando, a doutrina da suficiência das Escrituras nos diz que
é possível estudar teologia sistemática e ética e assim encontrar respos-
tas para as nossas vidas. Embora a história de igreja talvez nos ajude a
compreender o que Deus diz na Bíblia, jamais na história da igreja, Deus
fez acréscimos aos ensinamentos ou aos mandamentos das Escrituras.
Jamais durante toda a história da igreja e fora das Escrituras, Deus acres-
centou algo que ele exige que creiamos ou façamos. As Escrituras são
suficientes para nos habilitar para toda boa obra, e andar nos caminhos
bíblicos é ser irrepreensível aos olhos do Senhor.
Neste aspecto, a doutrina da suficiência das Escrituras implica
que o homem não pode por conta própria, acrescentar nenhuma palavra
àquelas que Deus já falou. Além disso, implica que na verdade Deus não
falou à humanidade outras palavras que ele exige que creiamos ou obser-
vemos além daquelas que temos hoje na Bíblia.
Esse ponto é importante, pois nos ajuda a compreender por que
Deus pôde dizer ao seu povo que suas palavras lhe eram suficientes em
muitos momentos diferentes da história da redenção e porque assim
mesmo pôde fazer acréscimos a essas palavras mais tarde. Por exemplo,
em Deuteronômio 29.29, Moisés afirma: “As coisas encobertas pertencem ao
Senhor, ao nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para
sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei.”
Esse versículo nos lembra que Deus sempre tomou a iniciativa de
nos revelar as coisas. Ele é quem decidiu o que revelar e o que não revelar.
Em cada estágio da história da redenção, as coisas que Deus revelava era
o suficiente para o povo daquela época. Com o avanço da história da re-
denção, mais palavras de Deus foram sendo acrescentadas, registrando e
interpretando essa história.
Por exemplo, no tempo da morte de Moisés, os primeiros cinco
livros do AntigoTestamento eram suficientes para o povo de Deus da épo-
ca. Mas, Deus ordenou que autores posteriores acrescentassem novos en-
sinos, para que as Escrituras fossem também suficientes para os crentes
de épocas posteriores. Para os cristãos de hoje, as palavras que temos no
Antigo e Novo Testamento são suficientes durante a era da igreja. Após a
TEOLOGIA DA BÍBLIA 55
morte, ressureição e ascensão de Cristo e da fundação da igreja primiti-
va segundo os registros do Novo Testamento, não ocorreram na história
ações divinas redentoras que tenham relevância direta para todo o povo
de Deus e para todo o tempo subsequente.
O princípio da suficiência da revelação de Deus para o seu povo em cada
época específica permaneceu o mesmo. Os seguintes textos bíblicos se
aplicavam para o povo da época e para nós hoje:
“Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem,
mas obedeçam aos mandamentos do Senhor, o Deus de vocês, que eu lhes
ordeno.” - Deuteronômio 4.2
“Apliquem-se a fazer tudo o que eu lhes ordeno; não lhe acrescentem nem
lhe tirem coisa alguma.” - Deuteronômio 12.32
“Cada palavra de Deus é comprovadamente pura; ele é um escudo para
quem nele se refugia. Nada acrescente às palavras dele, do contrário, ele o
repreenderá e mostrará que você é mentiroso.” - Provérbios 30.5-6
“Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se al-
guém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste
livro. Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará
dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas
neste livro.” - Apocalipse 22.18-19
TEOLOGIA DA BÍBLIA 56
CLAREZA
Qualquer pessoa que já tenha começado a ler a Bíblia seriamen-
te percebe que algumas partes podem ser bem facilmente entendidas,
enquanto outras parecem bem desafiadoras enigmáticas. Nem todas as
partes das Escrituras podem ser compreendidas com facilidade. Bem no
início da história da igreja Pedro já lembrava aos seus leitores que alguns
trechos das epístolas de Paulo eram de difícil entendimento.
“Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação,
como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria
que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas,
falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis
de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o
fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles.” - 2 Pedro
3.15-16
Mas seria um erro pensar que a maior parte das Escrituras ou que
as Escrituras em geral são difíceis de compreender. O Antigo e o Novo
Testamento afirmam frequentemente que as Escrituras estão escritas de
tal modo que seus ensinamentos podem ser compreendidos pelo crente
comum. Moisés diz ao povo de Israel: “Que todas estas palavras que hoje lhe
ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Con-
verse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo
caminho, quando se deitar e quando se levantar.” - Deuteronômio 6.6-7
Todo o povo de Israel deveria ser capaz de compreender as pala-
vras das Escrituras, e compreendê-las bem o bastante para diligentemen-
te ensiná-las aos filhos. Deus queria que todo o seu povo conhecesse e
fosse capaz de conversar sobre a sua Palavra, com a devida aplicação a
situações cotidianas da vida.
No Novo Testamento encontramos ênfase semelhante. O próprio
Jesus, nos seus ensinos jamais diz que as Escrituras são de difícil compre-
ensão. Jesus supõe que o povo de sua época é capaz de ler e compreender
os escritos deixados por Moisés 1500 anos antes.
De modo semelhante a maioria das epístolas do Novo Testamen-
to foi escrita a não líderes de igrejas, mas a congregações inteiras. Paulo
escreve: “à igreja de Deus que está em Corinto” (1 Coríntios 1.2), “às igrejas
Clareza e Necessidade
TEOLOGIA DA BÍBLIA 57
da Galácia” (Gálatas 1.2), “a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Fili-
pos” (Filipenses 1.1), e assim por diante. Paulo supõe que seus leitores irão
compreender o que ele escreve, e incentiva o envio de suas cartas a outras
igrejas: “Depois que esta carta for lida entre vocês, façam que também seja lida
na igreja dos laodicenses, e que vocês igualmente leiam a carta de Laodicéia.”
(Colossenses 4.16)
A Bíblia é escrita de forma tal que todas as coisas necessárias para
a salvação do homem e para a vida e crescimento do cristão encontram-
-se bem claramente expostas nas Escrituras. Dizer que as Escrituras são
claras é dizer que a Bíblia está escrita de modo tal que seus ensinamentos
podem ser compreendidos por todos que a lerem buscando o auxílio de
Deus.
Uma vez afirmado isso, devemos também reconhecer que muitas
pessoas, mesmo o povo de Deus, de fato, compreendem erradamente as
Escrituras.
Em pontos em que há desacordo doutrinário ou ético só há duas
causas possíveis para essa discordância:
(1) Pode ser que estejamos buscando fazer afirmações sobre pon-
tos em que as próprias Escrituras se calam. Nestes casos, devemos estar
prontos a admitir que Deus não deu resposta à nossa dúvida, aceitando
as diferenças de pontos de vista dentro da igreja.
(2) Por outro lado, é possível que tenhamos cometido erro na nos-
sa interpretação das Escrituras. Isso pode ter ocorrido porque as infor-
mações que utilizamos para decidir uma questão de interpretação eram
imprecisas ou incompletas.
Seja como for não temos como dizer que o ensinamento da Bíblia
sobre qualquer assunto é confuso ou impossível de compreender correta-
mente. De modo nenhum devemos pensar que as persistentes discordân-
cias sobre algum assunto ao longo da história da igreja signifiquem que
seremos, por nós mesmos, incapazes de chegar a uma conclusão correta
sobre o tema.
Além disso, ainda que admitamos que há discordâncias doutriná-
rias no meio cristão, não devemos esquecer de que sempre houve tam-
bém muita concordância quanto às verdades mais centrais das Escrituras
ao longo da história da Igreja.
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MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA

  • 1. E B O O K
  • 2. Aula 1 - Como Deus pode ser conhecido Aula 2 - A Origem Sobrenatural da Bíblia Aula 3 - O Poder da Palavra de Deus Aula 4 - Marcas das Escrituras Aula 5 - Formação do Canon AT Aula 6 - Formação do Canon NT Anexo - Interpretação Bíblica “ T o m e a s m i n h a s p e r n a s , m a s n ã o a m i n h a B í b l i a . E u p o s s o c h e g a r a o c é u s e m a n d a r , m a s n ã o s e m a p a l a v r a d e D e u s . ” 03 17 36 50 65 72 78
  • 3. Como Deus pode ser conhecido 1 AULA
  • 4. TEOLOGIA DA BÍBLIA 4 No seu uso teológico, o termo revelação (do grego ἀποκάλυψιϛ) tem como sentido trazer à tona as coisas desconhecidas, mostrar o que es- tava oculto ou desvendar os mistérios. Numa perspectiva mais ampla, a revelação diz respeito à comunicação que Deus desejou realizar com o homem. A revelação tem como origem o próprio Deus e não o homem. O ser humano seria incapaz de conhecer Deus sem que Ele se revelasse. Ainda, Deus não é apenas a origem da revelação, como também o cami- nho para ela. Portanto, o homem não pode conhecê-Lo de maneira natu- ral, mas somente de forma sobrenatural por meio de Deus. O homem, criado à imagem e conforme a semelhança de Deus, foi capacitado para se comunicar com Ele. Em Gênesis, é possível observar que Deus exercia um relacionamento de intimidade com Adão e Eva, pois próximo ao fim da tarde, quando a brisa soprava, Deus conversava com a Sua obra-prima, ao andar pelo jardim. Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Gênesis 3.8 Deus revelou-se ao homem, mesmo após a sua queda, relatada por Moisés em Gênesis 3, e deu testemunho de si, mesmo permitindo que o homem andasse nos seus próprios caminhos. No passado ele permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos. Contudo, não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dan- do-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e enchendo de alegria os seus corações.” Atos 14.16-17 Existe um desejo dentro do homem pela manifestação da presen- ça de Deus, que foi colocado pelo próprio Criador e é ativado pelo Espírito Como Deus pode ser conhecido? Deus se Revelou AULA 1
  • 5. TEOLOGIA DA BÍBLIA 5 Santo, a fim de que o homem não apenas tivesse a possibilidade de co- nhecê-Lo, como também O desejasse e ansiasse por Ele. Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez. Eclesiastes 3.11 Mesmo que esse conhecimento não seja inteiro e completo, so- mente a revelação de Deus pode acalmar o espírito humano, a fim de que ele possa perceber que o Seu Criador não está distante, mas perto e aces- sível. O propósito de Deus por meio de Sua revelação está conectado ao Seu desejo, expressado no Jardim do Éden, ao compartilhar com o homem atributos inerentes à Sua pessoa e essência para que ele se tornasse par- ticipante de Sua natureza e revelasse a Sua glória a toda criação. Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Filipenses 3.10 O que o homem sabe sobre Deus é apenas uma gota, e o que ele desconhece é um oceano. Há muito mais sobre Deus do que as páginas de um livro poderiam conter. Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos. João 21.25 Em outras palavras, todo o complexo de profecias juntamente com toda a revelação dada por Deus ao homem não são suficientes para revelar todo o conhecimento da pessoa e caráter de Deus, pois Ele está acima do conhecimento, da existência e do tempo. Enfim, Ele não pode ser conhecido de maneira completa nem por letras e tampouco por men- te humana alguma. O termo grego σκοτος utilizado para se referir às trevas, tem como um de seus significados quando utilizado no sentido figurado de “igno- rância das coisas divinas”. O nível de autoridade do homem é correspon- dente à revelação que ele tem de Deus. Por isso, o apóstolo Paulo diz que Jesus Cristo retirou aqueles que creram Nele do domínio da ignorância e os conduz para o conhecimento de coisas que estavam ocultas sobre Deus (Cl 1.13).
  • 6. TEOLOGIA DA BÍBLIA 6 Um diálogo entre Moisés e Deus mostra que existe um nível de revelação que o homem não poderá receber nesta terra, na condição em que ele está. “Então disse Moisés: "Peço-te que me mostres a tua glória”. E acrescentou: "Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e conti- nuar vivo”. Êxodo 33.18,20 Entretanto, há uma promessa divina de que Deus se revelará para o homem da mesma forma que o homem é conhecido por Deus. Então, existe uma condição em que o homem terá pleno conhecimento de Deus e tudo será revelado. Os mistérios divinos não revelados pela criação, pela lei, pela Bíblia de maneira geral, por Jesus Cristo em sua vida e ministério terreno, serão revelados ao homem de maneira completa nas regiões ce- lestiais. “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei ple- namente, da mesma forma como sou plenamente conhecido.” 1 Coríntios 13.12 CONCEITOS DISTINTOS 1. REVELAÇÃO E RAZÃO A razão, como considerada aqui, indica as faculdades intelectuais e morais do homem exercidas na busca da verdade e à parte da ajuda so- brenatural. Uma avaliação correta da razão com frequência está em falta. Desde que Adão andou e falou com Deus - revelação essa que, sem dúvida, comunicou à sua posteridade, nenhum homem sobre a terra pode anular inteiramente a revelação divina. A luz da natureza e a ajuda da razão foram muito fracas para ex- pulsar as incertezas a respeito da vida e da morte. Ao falar de recompen- sas e punições futuras, Platão disse: "A Verdade é determinar ou estabe- lecer qualquer coisa certa a respeito desses assuntos, no meio de tantas dúvidas e disputas, é a obra de Deus somente". Sócrates faz um de seus personagens dizer a respeito da vida futura: "Eu sou da mesma opinião
  • 7. TEOLOGIA DA BÍBLIA 7 que você, que, nesta vida, ou é absolutamente impossível, ou extrema- mente difícil chegar ao conhecimento claro deste assunto".' Não é o anti- go filósofo, mas antes o incrédulo atual que luta pela suficiência da razão humana e ridiculariza as alegações da revelação. Dentro dos limites restritos do que é humano, a razão é suprema; todavia, quando comparada à revelação divina, ela é tanto falível quanto finita. 2. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO Revelação e inspiração são em si mesmas doutrinas essenciais da Bíblia e frequentemente são confundidas. Essa confusão é talvez devida, em grande parte, ao fato que a revelação e a inspiração devem concordar ou convergir para um ponto, o de assegurar a infalibilidade da mensagem divina que a Bíblia, sem hesitação, afirma ser. Por suas próprias alegações, ela é não somente um conjunto da verdade revelada, mas é o único con- junto de verdade revelada. Esta alegação necessariamente implica duas operações divinas: • A revelação, que é a influência divina direta que comunica a verdade de Deus ao homem. • A inspiração, que é a influência divina direta que assegura uma transfe- rência exata da verdade numa linguagem que outros entendam. Enquanto estas duas operações divinas concordam, é igualmen- te verdadeiro que elas frequentemente funcionam separadamente. Por exemplo: • Pela revelação, José foi advertido por Deus em sonho, a fim de que fugis- se para o Egito com Maria e o menino Jesus. Não é evidenciado, contudo, que ele foi inspirado para registrar a revelação a benefício de outros. Na verdade,multidões ouviram a voz de Deus quando ouviram as mensagens reveladas que foram a substância da pregação de Cristo; mas nenhum desses, exceto os discípulos escolhidos, foi chamado para empreender as funções de escritores inspirados. • Por outro lado, homens inspirados pelo Espírito Santo apresentaram fatos com tanta precisão que somente a inspiração poderia assegurar, acontecimentos esses que não foram estritamente falando, revelações. Os autores humanos da Bíblia com frequência registraram coisas que eles
  • 8. TEOLOGIA DA BÍBLIA 8 próprios viram ou disseram, nas quais não haveria necessidade de reve- lação direta. 3. REVELAÇÃO, INSPIRAÇÃO E ILUMINAÇÃO Iluminação tem a ver com a influência ou o ministério do Espírito Santo que capacita o homem para compreender as verdades eternas das Escrituras. O próprio Cristo prometeu que quando o Espírito Santo viesse, Ele "guiaria" a toda verdade. Igualmente, Paulo escreve: "Ora, não temos rece- bido o espírito do mundo, mas sim o Espírito que provém de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus" (1 Co 2.12). E o apóstolo João afirmado Espírito Santo que Ele "ensi- nará todas as coisas" (1 Jo 2.27). Em 1 Coríntios 2.9-13, há referência à revelação (v. 10), à ilumina- ção (v. 12) e à inspiração (v. 13). “Todavia, como está escrito: "Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam"; mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito. O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois, quem dentre os homens conhece as coisas do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente. Delas também falamos, não com palavras ensi- nadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais.” “Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discer- nidas espiritualmente.” (1 Co 2.14)
  • 9. TEOLOGIA DA BÍBLIA 9 A revelação geral aponta que, Deus se revelou por meio da Sua criação e não há lugar onde o homem possa se esconder da presença Dele. Todo universo declara a glória de Deus e anuncia os seus feitos. Em Gênesis, as Escrituras Sagradas se ocupam com a organização, os eventos, as palavras declaradas pelo Criador, mas não se preocupam em defender a existência de Deus, porque não se faz necessário declarar o que é evi- dente e manifesto por todo o universo. As Escrituras mostram que Deus é revelado: • No mundo físico “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos céus ele armou uma tenda para o sol, que é como um noivo que sai de seu aposento, e se lança em sua carreira com a alegria de um herói. Sai de uma extre- midade dos céus e faz o seu trajeto até a outra; nada escapa ao seu calor.” (Salmos 19.1-6) • Na lei moral presente no coração do homem “De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os.” (Romanos 2.14,15) • Na história “De um só fez ele todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós.” (Atos 17.26,27) A complexidade do mundo, com suas leis, ordem e beleza, revela os atributos invisíveis de Deus. A Revelação Geral
  • 10. TEOLOGIA DA BÍBLIA 10 O invisível é visto através do visível. A racionalidade suprema e absoluta de Deus é revelada na ordem racional da criação. Assim, a eter- nidade, a divindade, o poder, a sabedoria e a glória de Deus são revelados (SI 29.4; 93.1,4; 104.24; Rm 1.20). A regularidade das estações, as chuvas e o sol, permitindo assim o cultivo e a colheita, são evidências do cuidado de Deus pelo homem. Na história dos povos, o amor, a soberania e a justiça de Deus são assim revelados (At 14.17; At 17.26; Rm 1.22). As necessidades das criaturas vi- vas são satisfeitas pelos recursos que a criação tem. O relacionamento de equilíbrio entre o meio-ambiente e a vida mostra a sabedoria do Criador e seu amor pela criação. A possibilidade de uma vida e uma sociedade sem caos e anarquia depende da concordância entre as pessoas sobre o que é certo e errado, sobre o que é o bem e o mal. A possibilidade de manter uma sociedade estável só existe por causa da presença de um sentido ético, inato, no coração do ser humano. O compromisso natural que as pessoas têm com noções de justiça e amor vai além de simples egoísmo. Por causa da revelação de Deus na criação, o conhecimento da criação pelo homem é possível. A criação e a mente humana são racio- nais, e a racionalidade de uma corresponde à outra.Assim,Adão foi capaz de interpretar o mundo corretamente, quando classificou os animais (Gn 2.19).As categorias da mente do homem foram criadas por Deus de modo adequado a conseguir conhecimento verídico da criação. Isso significa que a revelação de Deus é uma revelação clara e adequada para cumprir seu propósito. O PROPÓSITO DA REVELAÇÃO GERAL O propósito da revelação de Deus na criação é que as pessoas bus- quem a Deus e, talvez, o encontrem (At 17.27). Portanto, ela atinge todos os povos, em todos os lugares (SI 19.3; Rm 1.18-32). Apesar do fato de o pecado trazer maldição e imperfeições na criação (Gn 3.17-19; Rm 8.20), as pessoas têm conhecimento verdadeiro de Deus. Mas, por que os povos louvam deuses na forma de ídolos mudos, animais e elementos da cria- ção? O sagrado é visto por meio da criação, mas não faz parte dela. Mesmo assim, esses povos fazem questão de divinizá-la. Eles conhecem a Deus na criação, mas não tiram a conclusão correta sobre o Senhor Deus.
  • 11. TEOLOGIA DA BÍBLIA 11 A exposição de Romanos 1 mostra que a razão por trás da inca- pacidade do ser humano para interpretar a revelação geral corretamente está na sua natureza pecaminosa. Os homens “detêm a verdade pela in- justiça” (Rm 1.18). Ou, “em sua impiedade estão sufocando a verdade de Deus”. Por causa de sua rebeldia contra Deus, o homem não quer encon- trar o Deus verdadeiro. Portanto, quando o encontra, reprime o conheci- mento; deturpa a revelação geral e fabrica um ídolo à imagem da criatura. Podemos resumir a doutrina da revelação geral da seguinte forma: Deus já falou a todas as pessoas. Mesmo aqueles que nunca ou- viram o evangelho têm a revelação de Deus no mundo e na natureza hu- mana. Essa revelação torna os homens indesculpáveis.A condenação não está apenas para aqueles que rejeitam a verdade do evangelho e das Es- crituras Sagradas declaradas pelos filhos de Deus, mas também por aque- les que decidem deliberadamente ignorar a revelação de Deus. Graficamente, essa doutrina pode ser representada assim: A Bíblia não dá esperança de que alguém possa ser salvo somente pela revelação geral. Conforme comenta o escritor Frederick Bruce: A lei expõe o pecado do homem, mas não faz nada para curá-lo. Então, os judeus, como também os gentios, têm de se confessar moralmente falidos. Se existe algu- ma esperança para qualquer dos dois grupos, terá de ser achada na misericórdia de Deus, e não em alguma reivindicação que os homens ou as nações possam fazer-lhe. Em vista do fato do pecado universal, o caminho para a aceitação por parte de Deus em razão de nossas obras de justiça está fechado - e o aviso é per- feitamente claro: Nesta direção não há nenhuma estrada (BRUCE, 2003) Por isto, a obra missionária é de vital importância porque, sem o testemunho do evangelho, o pecador só tem a revelação geral, que não é suficiente para sua salvação. Revelação Clara Distorcida Condenação Interpretação ↑ ↑ ↑
  • 12. TEOLOGIA DA BÍBLIA 12 “Nós aceitamos o testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem maior valor, pois é o testemunho de Deus, que ele dá acerca de seu Filho. Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não crê em Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca de seu Filho. E este é o testemunho: Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida.” 1 João 5.9-12 A revelação especial é necessária porque, como vimos anterior- mente, a revelação geral não é suficiente para proporcionar todo o co- nhecimento de Deus necessário para nos relacionarmos com ele. O ser humano só poderá ser salvo se crer no evangelho. Mas, como o apóstolo Paulo disse: “como crerão naquele de quem nada ouviram?” (Rm 10.14). A revelação de Deus mostra que ele intervém na criação para se relacionar pessoalmente com suas criaturas. Os milagres, as visões e as comunica- ções verbais são eventos sobrenaturais. A partir da análise bíblica, entendemos que a revelação de Deus é o processo e o resultado da comunicação racional e proposicional entre Deus e a raça humana. Essa comunicação inclui a revelação de informa- ções com conteúdo intelectual e racional, e a revelação da pessoa de Deus no encontro pessoal com o homem. O propósito da revelação não é apenas a divulgação de infor- mações, como se fosse uma enciclopédia que existe só para satisfazer a curiosidade intelectual do homem. A finalidade da revelação especial é a redenção. O conhecimento de Deus é racional e intelectual, mas acima de tudo, é pessoal. O propósito da revelação é que a pessoa tenha um relacio- namento pessoal com Deus. Para cumprir esse propósito, Deus se revelou completamente na pessoa de Jesus Cristo. A revelação de Deus em Cristo e a encarnação de Deus na pessoa de Cristo são dois lados da mesma moeda. Para se revelar na forma mais relevante às necessidades do ser humano, Cristo Jesus, o eterno Filho de Deus, tomou-se homem. Jesus revelou o caráter de Deus pelo seu caráter, a justiça de Deus pela sua ética, a compaixão de Deus pelo seu cuidado para com os opri- midos e doentes, e o amor de Deus pela sua morte na cruz para resgatar pecadores como nós. A Revelação Especial
  • 13. TEOLOGIA DA BÍBLIA 13 A revelação de Deus em Cristo era tão perfeita que Jesus pôde di- zer: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). Aliás, Jesus é a imagem exata da essência de Deus (Cl 1.15; Hb 1.1-3). Como a revelação de Deus, a palavra de Jesus vem com a autori- dade da Palavra de Deus. No seu papel de profeta, Jesus falou a verdade (Jo 8.45) que recebeu do seu Pai (Jo 8.28). Ele foi enviado pelo Pai com esse propósito (Jo 8.29). Portanto, quem ouve a palavra de Jesus e a obedece encontra a verdadeira liberdade e a vida eterna (Jo 8.31, 51). Para preservar e garantir a transmissão da revelação especial atra- vés dos séculos foi necessário o seu registro na forma escrita. Assim, a Bíblia se toma uma fonte imprescindível da revelação de Deus. Ela con- tém a revelação de Deus, mas também é a revelação de Deus (2Timóteo 3.16-17 e 2Pedro 1.20-21). Ela não apenas contém a palavra de Deus, mas é a palavra de Deus escrita. Sendo a palavra de Deus, a Bíblia vem a nós com a autoridade de Deus. Seus princípios devem ser aplicados na vida do cristão e da igreja. A Bíblia é um aspecto específico e essencial de toda a revelação divina. Ela, contudo, apresenta certos aspectos importantes: • A revelação divina é variada em seus temas. Ela abrange tudo o que é doutrinário, devocional, histórico, profé- tico e prático. • A revelação divina é parcial. Está escrito: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso Deus, mas as reve- ladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei.” (Dt 29.29) • A revelação divina é completa com relação aos fatos revelados. Com respeito ao Filho, Ele é – πλήρωμα (plêrõma, 'plenitude') da divindade corporalmente (Cl 2.9), e com respeito à salvação final de todos que crêem, eles são πλήρωμα (peplêrõmenoi, 'completos') nele (Cl 2.10). Embora completos nEle agora, eles ainda vão ser conformes à sua ima- gem (Rm 8.29; 1Jo 3.2). “E, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês rece- beram a plenitude.” (Cl 2.10)
  • 14. TEOLOGIA DA BÍBLIA 14 “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para se- rem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Rm 8.29) • A revelação divina é progressiva Seu plano de procedimento é expresso pelas seguintes palavras: "... pri- meiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga" (Mc 4.28). Cada livro da Bíblia serve-se da verdade acumulada que existia an- tes, e o último livro é como uma vasta estação de trem na qual todos os grandes trilhos da revelação e da predição convergem e terminam (CHA- FER, 2003). • A revelação divina é primariamente para a redenção Seu progresso de revelação desenvolve-se com a doutrina da redenção. Deus falou até o final que o homem pode ser "sábio para a salvação" (2 Tm 3.15). Deus fez com que houvesse um registro escrito a respeito do seu Filho e os homens que crêem nesse fato são salvos, e aqueles que não crêem nesse acontecimento estão perdidos (1 Jo 5.9-12). • A Revelação divina é final Ela incorpora a verdade "que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3). Dela não pode ser tirado coisa alguma, nem a ela pode ser acrescen- tado alguma coisa. “Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro.” (Ap 22.19). • A revelação divina é infinitamente exata. “Toda Escritura é inspirada por Deus" e é a Palavra escrita de Deus” (2Tm3.16).
  • 15. TEOLOGIA DA BÍBLIA 15 Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João 17.3 Para que fomos feitos? Para conhecer a Deus. Que alvo devemos estabelecer para nós na vida? Conhecer a Deus. Qual é a melhor coisa na vida, que traz alegria, prazer e contentamentos acima de todas as outras? O conhecimento de Deus.
  • 16. TEOLOGIA DA BÍBLIA 16 BIBLIOGRAFIA BÍBLIA. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2013. BRUCE, F. F. Paulo; o apóstolo da graça. São Paulo, Shedd Publicações, 2003. CHAFER, L.S.Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003 ERICKSON, M.J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida, 1997. RODMAN, W.Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011.
  • 17. TEOLOGIA DA BÍBLIA 17 TEOLOGIA DA BÍBLIA 17 A Origem Sobrenatural da Bíblia 2 AULA
  • 18. TEOLOGIA DA BÍBLIA 18 A Bíblia é fenômeno explicável apenas de um modo - ela é a Palavra de Deus. Ela não é um livro que um homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse. Lewis Chafer Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam. Mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito [...]” (1 Coríntios 2.9,10). • Os Decretos de Deus Deus mesmo criou o mundo através de suas palavras poderosas: "E Deus disse: Produza a terra seres vivos de acordo com as suas espé- cies: rebanhos domésticos, animais selvagens e os demais seres vivos da terra, cada um de acordo com a sua espécie". E assim foi (Gn 1.24). Assim, o salmista pode dizer: “Mediante a palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca" (Sul 33.6). Essas palavras poderosas e criadoras de Deus são frequentemente chamadas decretos de Deus. Os decretos de Deus incluem não só os even- tos da criação como também a existência contínua de todas as coisas, pois o autor aos Hebreus 1.3 nos diz que Cristo está o tempo todo “susten- tando todas as coisas por sua palavra poderosa.” • As Palavras de Deus de aplicação pessoal Deus às vezes se comunica com as pessoas falando diretamente a elas. Esses casos são exemplos de Palavra de Deus de aplicação pessoal. Por exemplo, bem no início da criação Deus diz a Adão: "Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimen- to do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá" (Gn 2.16,17).Após o pecado de Adão e Eva, Deus ainda vem e fala direta e pessoalmente com eles (Gn 3.16-19). Outro exemplo é na entrega dos Dez Mandamentos: E Deus falou A Origem Sobrenatural da Bíblia A Palavra de Deus AULA 2
  • 19. TEOLOGIA DA BÍBLIA 19 todas estas palavras... (Êx 20.1-17). No Novo Testamento, por ocasião do batismo de Jesus, Deus, o Pai falou com uma voz do céu, dizendo: " Este é o meu Filho amado, em quem me agrado" (Mt 3.17). Nestes e em diversas outras ocasiões em que Deus falou palavras de comunicação pessoal, estava claro para os ouvintes que aquelas eram realmente palavras de Deus: eles estavam ouvindo a voz do próprio Deus e, portanto, ouvindo palavras que tinham autoridade divina absoluta e eram absolutamente fidedignas. Não crer em qualquer uma dessas pala- vras ou desobedecer a elas significava não crer em Deus ou desobedecer a Ele. Embora as palavras de Deus de aplicação pessoal sejam sempre vistas nas Escrituras como palavras reais de Deus, são também palavras “humanas” no sentido de serem proferidas em linguagem humana co- mum que pode ser compreendida imediatamente. O fato dessas palavras serem expressas em linguagem humana não limita de modo algum seu caráter divino nem sua autoridade: são inteiramente palavras de Deus, proferidas pela voz do próprio Deus. Alguns teólogos têm argumentado que uma vez que a linguagem huma- na é sempre “imperfeita”, qualquer mensagem que Deus nos dirige por meio dela deve ser também limitada em sua autoridade e veracidade. Mas, essas passagens e muitas outras não apresentam nenhum indício de limitação de autoridade ou veracidade das palavras de Deus proferidas em linguagem humana. É exatamente o oposto que é verdade, pois as pa- lavras sempre impõem aos ouvintes uma obrigação absoluta de crer nelas e de obedecer plenamente a elas. Não dar crédito ou desobedecer a algu- ma parte delas significa não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus. • Palavras de Deus Comunicadas por Pessoas Com frequência nas Escrituras Deus levanta profetas para falar por meio deles. De novo, é evidente que embora sejam palavras humanas, faladas em linguagem humana comum, sua autoridade e veracidade não sofrem nenhuma redução; ainda são inteiramente palavras de Deus. Em Deuteronômio 18, Deus diz a Moisés: Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas. Mas o profeta que ousar falar em meu nome alguma coisa que não lhe ordenei, ou que falar em nome de outros deuses, terá que ser morto (Dt 18.18-20).
  • 20. TEOLOGIA DA BÍBLIA 20 Deus fez uma declaração semelhante a Jeremias: “Agora ponho em sua boca as minhas palavras” (Jr 1.9). Deus diz a Jeremias: A todos a quem eu o enviar você irá e dirá tudo o que eu lhe ordenar (Jr 1.7; ver tam- bém Êx 4.12; Nm 22.38; 1Sm 15.3, 18,23; 1 Rs20.36; 2Cr 20.20; Isso 30.12-14; et al). Assim, as palavras de Deus comunicadas por lábios humanos eram consideradas tão autorizadas e verdadeiras como as palavras de Deus de aplicação pessoal. Não havia nenhuma redução de autoridade dessas palavras quando expressas por lábios humanos. Não dar crédito ou desobedecer a qualquer uma delas significa não dar crédito ou deso- bedecer ao próprio Deus. ESCRITURAS SAGRADAS A Bíblia é fenômeno explicável apenas de um modo - ela é a Palavra de Deus. Ela não é um livro que um homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse. Lewis Chafer O termo “Escrituras Sagradas” utilizado pela tradição judaica e cristã carrega o significado de um conjunto de livros, dotados de auto- ridade e edificação espiritual para os fiéis, escritos por homens santos inspirados por Deus para registrar as Suas palavras. Portanto, a Bíblia é a Palavra de Deus escrita (Rm 3.2), desde as palavras que são literalmente o Ele disse, quando os escritores bíblicos utilizavam a expressão “Disse o Senhor” (Ex 30,17, Lv 5.14, Nm 3.5), como também aquelas em que não é o próprio Deus que declara (1 Co 14.21). A Bíblia, por ser "Palavra de Deus", revela Seu caráter e Sua essên- cia, a fim de que o homem O conheça e compreenda os Seus propósitos soberanos. Como "palavra de Deus", Ele (Deus) se revela ao homem de diversas formas: a) Jesus Cristo (Jo 1.1; Ap 19.13); b) decretos de Deus (Gn 1.3; Gn 1.24); c) comunicação pessoal de Deus com os homens (Gn 2.16-17; Gn 3.16-19); d) discurso pronunciado por lábios humanos (Dt 18.18-20; Jr 1.9); e, e) em forma escrita, a Bíblia (Ex 31.18; Dt 31.9-13; 2 Tm 3.16). É possível identificar, nos próprios textos sagrados, a reivindi- cação de valores e atributos inerentes à Palavra de Deus. O próprio sal-
  • 21. TEOLOGIA DA BÍBLIA 21 mo 119, o mais longo da Bíblia, é uma dedicação de louvor às Escrituras Sagradas. Entre os mais variados atributos dos textos sagrados apontados pela própria Bíblia é possível identificar: fidelidade e verdade, retidão e justiça, eternidade e infinitude, santidade, profundidade, relevância, per- feição e autoridade. A fidelidade das Escrituras é apresentada em contraste com as mentiras que envolvem a humanidade caída. Diante de uma realidade onde o valor da confiança foi abalado pelo avanço das trevas, a Bíblia oferece um lugar seguro, onde o homem pode repousar a sua alma e descansar nas verdades do Eterno. A inconstância humana não pode ser comparada com a fidelidade de Deus, pois é assegurado que tudo o que Ele prometeu certamente irá se cumprir. Todos os teus mandamentos merecem confiança; ajuda-me, pois sou perseguido com mentiras. (Salmos 119.86) Todavia, como Deus é fiel, nossa mensagem a vocês não é "sim" e “não", pois o Filho de Deus, Jesus Cristo, pregado entre vocês por mim e também por Silvano e Timóteo, não foi "sim" e "não", mas nele sempre houve “sim"; (2Coríntios 1.18-19) A Bíblia oferece aos servos de Deus um caminho reto. A obediên- cia aos textos sagrados é o que protege o homem de tomar decisões ba- seadas em suas paixões e desejos inconstantes e destrutivos, fazendo-os seguir por um caminho seguro. Tudo o que é declarado na Bíblia contém o caráter da justiça divina, revelando, portanto, aspectos da moralidade de Deus que devem ser encontrados no homem, para que a sua vida seja bem-sucedida. Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem sucedido por onde quer que andar. (Josué 1.7 NVI) Por isso estimo todos os teus preceitos acerca de tudo, como retos, e odeio toda fal- sa vereda.A minha língua falará da tua palavra, pois todos os teus mandamentos são justiça. (Salmos 119.128, 172 ACRF) As palavras de Deus não estão sujeitas às limitações do homem. A Bíblia revela uma sabedoria superior, uma consciência perfeita e um entendi-
  • 22. TEOLOGIA DA BÍBLIA 22 mento ilimitado, pois ela é uma revelação do próprio Deus. Tais verdades eternas não estão condicionadas ao tempo ou ao aperfeiçoamento, uma vez que elas se encontram além das estações, anos e eras e o seu conteúdo é perfeito e completo. Tenho constatado que toda perfeição tem limite; mas não há limite para o teu mandamento. A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus juízos dura para sempre (Salmos 119.96, 160).
  • 23. TEOLOGIA DA BÍBLIA 23 A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve inter- pretar de modo errôneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspi- ração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas de autoridade divina.A Bíblia é singular; ela foi literalmente "soprada por Deus". A palavra inspiração (do grego θεόπνευστος que significa “soprado por Deus”) é utilizada apenas uma vez na Bíblia pelo apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3.16, apesar dessa doutrina ser amplamente tratada pelas Escri- turas. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreen- são, para a correção e para a instrução na justiça (2 Tm 3.16). Esse texto de Paulo revela que não há parte alguma das Escrituras que não seja concedida pelo “sopro de Deus”, o que a torna completamen- te útil para revelar os Seus propósitos soberanos. Então, não há nenhuma parte nos textos sagrados em que não haja a influência inspiradora do Espírito Santo. A fonte da autoridade das Escrituras está na inspiração, por isso a própria Palavra declara assertivamente a respeito disso. A doutrina da inspiração se refere ao processo em que Deus se co- municou de maneira especial com alguns homens, por meio da influência do Espírito Santo, a fim de que eles escrevessem os textos das Escrituras Sagradas. Toda mensagem proferida por Deus foi declarada a esses ho- mens e perfeitamente transmitida. Já o apóstolo Pedro faz referência à palavra “movidos” (do grego φερω, que significa “mover, transportar, conduzir ou estimular”) para se referir à inspiração da Bíblia. Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; en- tretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2Pe 1.21 ARA). Tal expressão utilizada por Pedro, faz referência a uma compre- ensão complementar àquela utilizada por Paulo, pois a primeira aponta para o fato de que a origem da Bíblia está em Deus e nasceu por meio de Sua influência, já a segunda revela a participação de homens santos que A Inspiração Bíblica
  • 24. TEOLOGIA DA BÍBLIA 24 movidos pelo “sopro de Deus” escreveram os textos sagrados. A doutrina da inspiração fundamenta a fé da Igreja de Cristo; a certeza, a esperança e a segurança dos decretos divinos; e, de que mes- mo sendo escrita dentro de um contexto histórico, as suas verdades são atemporais e devem ser aplicadas em todo tempo e em qualquer situa- ção. A inspiração não aconteceu de maneira mecânica, como se o Espí- rito tivesse ditado para os autores como eles deveriam escrever. Durante todo processo em que Deus se relacionou com o homem, Ele não anulava as suas vontades, mas as usava para que elas contribuíssem para o Seu propósito soberano. A influência do Espírito Santo sobre os homens que foram inspira- dos, concedeu aos Escritos Sagrados o caráter de inerrância e completude, pois não estavam sujeitos às falhas humanas. Ainda, não existem partes da Bíblia que tenham maior teor de inspiração do que outras, sendo toda ela inspirada pelo Espírito e de igual importância. As palavras utilizadas pelos autores inspirados eram muito rele- vantes para a comunicação da revelação, por isso Deus não inspirou ape- nas ideias, mas conduziu cada palavra das Escrituras Sagradas, embora não fosse um ditado. Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria hu- mana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais. (1 Coríntios 2.13) O apóstolo Paulo deixa claro que as palavras (do grego λόγος, que significa palavra proferida a viva voz, que expressa uma concepção ou ideia) proferidas vieram do Espírito e não da sabedoria do homem, o que confirma a importância de estudar os termos bíblicos e aprofundar suas verdades e significados. A inspiração não aconteceu por meio de talentos naturais, onde pessoas extraordinárias compuseram uma obra-prima tampouco através de homens piedosos que tiveram uma experiência mística e por meio dos dons que o Espírito confiou a cada cristão, escreveram os textos sagrados. Existem dois critérios bíblicos, assegurados pelos ensinamentos de Cristo, os apóstolos e igreja, que devem ser observados para a melhor compreensão da doutrina da inspiração, a saber: a inspiração foi verbal (sobre o conteúdo) e plenária (sobre a extensão).
  • 25. TEOLOGIA DA BÍBLIA 25 A inspiração foi verbal, porque o Espírito Santo direcionou os au- tores bíblicos a redigirem cada palavra que deveria ser colocada nas Es- crituras Sagradas, sem retirar deles as qualidades inerentes às suas per- sonalidades. Portanto, cada livro bíblico respeita o estilo literário do autor e as suas características pessoais, sem que o conteúdo da revelação seja afetado pela falibilidade humana ou que ele estivesse sujeito à meras opi- niões e conselhos de homens. A inspiração também foi plenária, pois toda a segurança advinda da influência do Espírito Santo em cada palavra que foi escrita, não se es- tende apenas a alguns textos ou livros, mas à toda Bíblia. Diante disso, a inspiração plenária aponta para o fato de que a Bíblia é inteira, completa e final. A partir desses princípios que regem a doutrina da inspiração é importante aprofundar sobre como aconteceu a autoria das obras sagra- das, a interação entre Deus e os autores humanos na composição da reve- lação especial, ao qual é denominada de autoria dual. A forma como Deus decidiu se revelar, por meios dos textos sagra- dos, envolveu mais de quarenta homens, com realidades,vidas, contextos e histórias completamente diferentes, sendo algumas dessas obras de au- toria desconhecida e outras de mais de uma autoria. Não havia entre es- ses autores quaisquer similaridades a fim de propor um argumento para a escolha divina, a não ser a soberania de Deus. Mesmo diante de uma re- alidade de múltiplas personalidades, contextos e autores, o Espírito Santo conduziu tais homens para produzir textos que estivessem em harmonia e unidade, a fim de que as Escrituras Sagradas revelassem o caráter e os propósitos de Deus. A Bíblia é verdadeiramente a Palavra de Deus, tendo a verdade infalível como a autoridade divina em tudo o que ela afirma ou ordena (…) A Bíblia é verdadeira- mente a produção de homens. Ela é marcada por todas as evidências da autoria humana tão clara e certamente como qualquer outro livro que já foi escrito por homens (…) Essa autoria dupla estende-se a cada parte da Escritura, e à lingua- gem assim como às ideias gerais expressas (…) A totalidade da Bíblia é verdadei- ramente a palavra escrita por homens, mas que é de Deus (MANLY, 1888). As palavras de Manly, pastor batista que viveu entre 1742 e 1824, em sua obra “A Doutrina Bíblica da Inspiração”, resume como deve ser compreendia a autoria dual da Bíblia: assinada por Deus e por homens inspirados por Ele.
  • 26. TEOLOGIA DA BÍBLIA 26 FALSAS TEORIAS DA INSPIRAÇÃO Ao longo da história surgiram algumas teorias a respeito da ins- piração da Bíblia que trazem muita confusão sobre a verdadeira natureza da inspiração bíblica.Vejamos algumas: • Teoria Mecânica ou do Ditado Se Deus houvesse ditado as Escrituras aos homens, o estilo e es- crita seriam uniformes. Seria a dicção e o vocabulário do autor divino, e livro de quaisquer características dos autores humanos (2Pe 3.15,16).Toda evidência de interesse da parte de autores humanos seria falha (Rm 9.1- 3). É verdade que os autores humanos nem sempre percebem o propósito de seus escritos. Moisés dificilmente poderia ter sabido da importância latente que Adão, Enoque, Abraão, Isaque e José poderiam exercer na his- tória, ou sabido da tipologia de Cristo escondida na descrição que fez do Tabernáculo feito de acordo com o padrão que lhe foi mostrado no monte. Ele não poderia ter entendido por que nenhuma referência deveria ser feita aos pais, ou ao começo ou fins dos dias de Melquisedeque (Hb 7.1-3). Uma mensagem que é ditada é obviamente o produto de alguém que dita; mas se uma pessoa tem liberdade de escrever em nome de ou- tra e, então, é descoberto que, ao escrever de acordo com os seus próprios sentimentos, estilo e vocabulário, ela registrou uma mensagem exata da- quela outra pessoa de um modo tão perfeito como se ela a tivesse re- cebido em forma de ditado; a convicção gerada é a de que um acompa- nhamento sobrenatural aconteceu. Debaixo dessa forma de trabalho, o autor humano recebe o pleno escopo de sua autoria; todavia, a mensagem elevada fica plenamente assegurada. O resultado é tão completo como se fosse um ditado; mas o método, embora não sem o mistério que sempre acompanha o sobrenatural, está mais em harmonia com o modo de Deus tratar com os homens, no qual ele usa as suas vontades, ao invés de anu- lá-las. Não há qualquer insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem ao homem além daquilo que Moisés transcreveu quando da presença de Jeová no monte. Esta teoria é facilmente classificada como aquela na qual a divina autoria é enfatizada quase a ponto da exclusão da autoria humana.
  • 27. TEOLOGIA DA BÍBLIA 27 • Inspiração Parcial De acordo com este conceito, a inspiração atinge somente os en- sinos doutrinários, promovendo um grau de importância a alguns textos bíblicos em detrimento de outros. Assim, o objetivo em toda inspiração, que é o de assegurar a inerrância dos escritos, é negada a certas partes da Bíblia. Não importa o que os autores humanos possam ter conhecido previamente; a inspiração assegura exatidão a tudo que eles escreveram. Esta teoria é uma suposição que não encontra apoio na Bíblia. É óbvio que ela tende a separar as duas autorias. • Inspiração das Ideias Essa hipótese tenta imaginar os conceitos separados das palavras, uma teoria em que Deus comunicou ideias, mas deixou os autores hu- manos com liberdade para expressá-las em sua própria linguagem.Total- mente dissociado do fato de que as ideias não são transferíveis por qual- quer outro meio além das palavras, esse conceito ignora a importância imensurável das palavras em qualquer mensagem. Mesmo um documen- to legal que os homens usam em assuntos triviais depende totalmente das palavras que estão nele. Quase todos os pactos e promessas contidos na Bíblia, para que tenham força e valor, dependem das palavras usadas. O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais é um estudo de palavras. A Bíblia, quando se refere à sua mensagem, nunca chama a aten- ção para um mero conceito; ao contrário, ela fala de sua mensagem en- tregue ao homem em palavras ensinadas pelo Espírito Santo (1Co 2.13). Cristo disse: " As palavras que eu lhes disse são espírito e vida" (Jo 6.63), e "Eu lhes transmiti as palavras que me deste, e eles as aceitaram" (Jo 17.8), e "E Deus falou todas estas palavras" (Ex 20.1). Esse ensinamento claro das Escrituras com respeito à importância de palavras específicas que são usadas é revelado em centenas de textos bíblicos. • Inspiração Natural Assim como tem havido artistas excepcionais, músicos e poetas que produziram obras-primas que não foram superadas, é afirmado pelos que defendem essa teoria que houve homens excepcionais de compre- ensão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais pobre de inspiração e enfatiza a autoria humana, a fim de excluir a divina. Um escritor afirma: "A inspi-
  • 28. TEOLOGIA DA BÍBLIA 28 ração é somente um potencial mais alto daquilo que todo homem possui em algum grau". A isto outro respondeu: "A inspiração de todos é equi- valente à inspiração de ninguém". O principal objetivo da inspiração total da Bíblia - o de assegurar a exatidão divina para cada parte dela - está totalmente ausente de acordo com essa opinião. IMPLICAÇÕES DA INSPIRAÇÃO • A inspiração diz respeito igualmente ao Antigo e ao Novo Testamento. Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo (2Pe1.20,21) • A inspiração abrange uma variedade de fontes e de gêneros literários. Há vários fatores que contribuíram para a formação das Escrituras Sagra- das e dão forte apoio a essa afirmativa. 1. Existe uma diferença marcante de vocabulário e de estilo de um escritor para outro. Comparem-se as poderosas expressões literárias de Isaías com os tons de lamento de Jeremias. Compare-se a construção literária de suma complexidade, encontrada em Hebreus, com o estilo simples de João. Distinguimos facilmente a linguagem técnica de Lucas, o médico amado, da linguagem de Tiago, formada de imagens pastorais.| 2.A Bíblia faz uso de documentos não-bíblicos, como o Livro de Ja- sar (Js 10.13; 2Sm 1.18), o livro de Enoque (Jd 14) e até o poeta Epimênedes (At 17.28). Somos informados de que muitos dos provérbios de Salomão haviam sido editados pelos homens de Ezequias (Pv 25.1). Lucas reconhe- ce o uso de muitas fontes escritas sobre a vida de Jesus, na composição de seu próprio evangelho (Lc 1.1-4). 3. Os autores bíblicos empregavam vasta variedade de gêneros li- terários; tal fato não caracteriza um ditado monótono em que as palavras são pronunciadas uma após a outra, segundo o mesmo padrão. Grande parte das Escrituras é formada de poesia (Jó, Salmos, Provérbios). Os evan- gelhos contêm muitas parábolas. Paulo usava alegorias (Gl 4) e até hipér-
  • 29. TEOLOGIA DA BÍBLIA 29 boles (Cl 1.23), ao passo que Tiago gostava de usar metáforas e símiles. 4. A Bíblia usa a linguagem simples do senso comum que salien- ta a ocorrência de um acontecimento, não a linguagem de fundamento científico. Isso não significa que os autores usassem linguagem anticien- tífica ou negadora da ciência, e sim linguagem popular para descrever fenômenos científicos. Não é mais anticientífico afirmar que o sol perma- neceu parado (Js 10.12) do que dizer que o sol nasceu ou subiu (Js 1.15). Dizer que a rainha de Sabá veio "dos confins da terra" ou que as pessoas no Pentecostes vieram "de todas as nações debaixo do céu" não é dizer coisas com exatidão científica. Os autores usaram formas comuns para expressar seu pensamento sobre os assuntos. Por isso, o que quer que fique implícito na doutrina dos escritos inspirados, os dados das Escrituras mostram com clareza que elas in- cluem o emprego de grande variedade de fontes literárias e de estilos de expressão. • Inspiração pressupõe inerrância A Bíblia é também, por causa de sua inspiração, inerrante. Ela não contém erro. Tudo quanto Deus declara é verdade isenta de erro. Com efeito, as Escrituras afirmam ser a declaração (aliás, as próprias palavras) de Deus. Nada do que a Bíblia ensina contém erro, visto que a inerrância é consequência lógica da inspiração divina. Deus não pode mentir (Hb 6.18); sua Palavra é a verdade (Jo 17.17). Por isso, seja qual for o assunto sobre o qual a Bíblia diga alguma coisa, ela só dirá a verdade. Não existem erros históricos nem científicos nos ensinos das Escrituras. Tudo quanto a Bíblia ensina vem de Deus e, por isso, não tem a mácula do erro. A Bíblia não é um manual de Ciências, mas, quando trata de as- suntos científicos em seu ensino, o faz sem cometer erro. A Bíblia não é um manual de História, mas, sempre que a história secular se cruza com a história sagrada em suas páginas, a Bíblia faz referência a ela sem come- ter erro. Se a Bíblia não fosse inerrante e não estivesse certa nas questões factuais, empíricas, comprováveis, de que maneira seria possível confiar nela em questões espirituais, não sujeitas a testes? Como disse Jesus a Nicodemos: “Eu lhes falei de coisas terrenas e vocês não creram; como crerão se lhes falar de coisas celestiais?” (Jo 3.12).
  • 30. TEOLOGIA DA BÍBLIA 30 EVIDÊNCIA INTERNA Evidências da Inspiração A inspiração da Bíblia não precisa ser defendida; antes, os ensinos da Bíblia precisam apenas ser explanados.A Bíblia pode defender sua pró- pria autoridade, desde que sua voz se faça ouvir. • A Evidência do Testemunho do Espírito Santo Intimamente relacionado com a evidência da autoridade das Es- crituras, que se demonstra por si mesma, temos o testemunho do Espí- rito Santo. A Palavra de Deus confirma-se perante os filhos de Deus pelo Espírito de Deus. O testemunho íntimo de Deus no coração do crente, à medida que este vai lendo a Bíblia, é evidência da origem divina da Bíblia. O Espírito Santo não só dá testemunho ao crente de que este é filho de Deus (Rm 8.16), mas também afirma que a Bíblia é a Palavra de Deus (2Pe 1.20,21). O mesmo Espírito que comunica a verdade de Deus também con- firma perante o crente que a Bíblia é a Palavra de Deus. Desde o século I o consenso da comunidade cristã, na qual opera o Espírito Santo, tem sido que os livros da Bíblia são a Palavra de Deus. Assim, a Palavra de Deus recebe confirmação da parte do Espírito de Deus. • A Evidência da Capacidade Transformadora da Bíblia Outra evidência denominada "interna" é a capacidade que tem a Bíblia de transformar pessoas e de edificá-las na fé cristã. Assim diz He- breus: " Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, jun- tas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração (Hb 4.12). Milhares de pessoas têm experimentado esse poder; dependentes quími- cos têm sido libertos pela Palavra; criminosos têm sido transformados; o ódio tem cedido lugar ao amor; tudo isso pela leitura da Palavra de Deus (1Pe 2.2). Os entristecidos recebem conforto os pecadores são repreendi- dos, os negligentes são exortados pelas Escrituras, A palavra de Deus tem o poder, o dinamismo transformador de Deus. A evidência de que Deus atribuiu sua autoridade à Bíblia está em seu poder transformador e edifi- cador.
  • 31. TEOLOGIA DA BÍBLIA 31 • A Evidência da Unidade da Bíblia Uma evidência mais formal da inspiração da Bíblia está em sua unidade. Sendo constituída de 66 livros escritos ao longo de 1500 anos, por cerca de quarenta autores, em diversas línguas, com centenas de tó- picos, é muito mais que mero acidente que a Bíblia apresente espantosa unidade temática — Jesus Cristo. Um problema — o pecado— e uma so- lução — o Salvador Jesus— unificam as páginas da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse. Se a compararmos a um manual médico redigido sob tão gran- de variedade, a Bíblia apresenta marcas notáveis de unidade divina. Essa é uma questão de inigualável validade, uma vez que nenhuma pessoa ou grupo de pessoas engendraram a composição da Bíblia. Os livros iam sendo colecionados e acrescentados, à medida que iam sendo escritos pelos autores, os profetas. Eram guardados simplesmente por serem tidos como inspirados. Só mediante reflexão posterior, tanto da parte de profe- tas (1Pe 1.10,11) quanto de autores de gerações futuras, é que se descobriu que na verdade a Bíblia é um livro só, cujos "capítulos" foram escritos por homens sem conhecimento visível de sua estrutura global.
  • 32. TEOLOGIA DA BÍBLIA 32 EVIDÊNCIA EXTERNA • Evidência Baseada na Historicidade da Bíblia. Grande parte do conteúdo bíblico é história e, por isso mesmo, passível de constatação. Existem duas espécies principais de apoio da his- tória bíblica: os artefatos arqueológicos e os documentos escritos. No que diz respeito aos artefatos, nenhuma descoberta arqueológica invalidou um ensino ou relato bíblico. Ao contrário, como escreveu Donald J. Wise- man: A geografia das terras mencionadas na Bíblia e os remanescentes visíveis da anti- guidade foram gradativamente registrados, até que hoje, em sentido mais amplo, foram localizados mais de 25 000 locais, nesta região, que datam dos tempos do Antigo Testamento (GLEISER, 2006). Aliás, grande parte da antiga crítica à Bíblia foi firmemente refu- tada pelas descobertas arqueológicas que demonstraram a existência da escrita nos dias de Moisés, a história e a cronologia dos reis de Israel e até mesmo a existência dos hititas, povo até há pouco só mencionado na Bíblia. A descoberta amplamente divulgada dos rolos do mar Morto ilustra algo não muito bem conhecido, a saber, que existem milhares de manuscritos tanto do Antigo como do Novo Testamento, o que contrasta com o punhado de originais disponíveis de muitos clássicos seculares de grande importância. Isso significa que a Bíblia é o livro do mundo antigo mais bem documentado que existe. É verdade que nenhuma descoberta histórica representa evidência direta de alguma afirmação espiritual feita pela Bíblia, como, por exemplo, a reivindicação de ser inspirada por Deus; no entanto, a historicidade da Bíblia fornece com certeza uma compro- vação indireta de sua inspiração. Isto está no fato de que a confirmação da exatidão da Bíblia em questões factuais confere credibilidade às suas declarações e ensinos em outros assuntos. • A Evidência do Testemunho de Cristo O testemunho de Cristo é evidência relacionada à da historicidade dos documentos bíblicos. Visto que o Novo Testamento é documentado como livro histórico e esses mesmos documentos históricos nos forne- cem o ensino de Cristo a respeito da inspiração da Bíblia, resta-nos ape- nas presumir a veracidade de Cristo, para convencer-nos firmemente da
  • 33. TEOLOGIA DA BÍBLIA 33 inspiração da Bíblia. Se Jesus Cristo possui alguma autoridade ou inte- gridade como mestre religioso, podemos concluir que a Bíblia é inspira- da por Deus. O Senhor Jesus ensinou que a Bíblia é a Palavra de Deus. Sealguémquiserprovarseressaassertivafalsa,deveráprimeirorejei- taraautoridadequetinhaJesusdesepronunciarsobreaquestãodainspiração. As evidências revelam irrefutavelmente que Jesus confir- mou a autoridade divina da Bíblia. O texto do evangelho como um todo, com amplo apoio histórico revela que Jesus era homem de in- tegridade e de verdade. O argumento, portanto, é este: se o que Je- sus ensinou é a verdade, e Jesus ensinou que a Bíblia é inspira- da, segue-se que é verdade que a Bíblia é inspirada por Deus. • A Evidência da Profecia Outro testemunho externo dotado de grande força em apoio da inspiração das Escrituras é o fato da profecia cumprida. De acordo com Deuteronômio 18, o profeta era tido como falso quando fazia predições que não se cumprissem. Até o presente momento, nenhuma profecia incondicional da Bíblia a respeito de acontecimentos ficou sem cumpri- mento. Centenas de predições, algumas delas feitas centenas de anos antes de se cumprirem, se concretizaram literalmente. A época do nas- cimento de Jesus (Dn 9), a cidade em que ele haveria de nascer (Mq 5.2) e a natureza de sua concepção e nascimento (Is 7.14) foram preditos no Antigo Testamento, bem como dezenas de outras minúcias de sua vida, morte e ressurreição. Outras profecias, como a da explosão da instru- ção e da comunicação (Dn 12.4), a da repatriação de Israel (Is 61.4), es- tão sendo cumpridas em nossos dias. Outros livros religiosos buscam reivindicar a inspiração divina de suas obras, como o Alcorão e partes dos Vedas, todavia, nenhum desses livros contém predições do futuro. • A Evidência da Influência da Bíblia Nenhum outro livro tem sido tão largamente disseminado, nem exercido tão forte influência sobre o curso dos acontecimentos mundiais do que a Bíblia. As Escrituras Sagradas têm sido traduzidas em mais lín- guas, têm sido impressas em maior número de exemplares, têm influen- ciado mais o pensamento, inspirado mais as artes e motivado mais as descobertas do que qualquer outro livro.A Bíblia foi traduzida em mais de mil línguas, abrangendo mais de 90% da população do mundo. Suas tira- gens somam alguns bilhões de exemplares. Os best sellers que têm vindo em segundo lugar, ao longo dos séculos, nunca chegam perto do detentor perpétuo do primeiro lugar, a Bíblia.
  • 34. TEOLOGIA DA BÍBLIA 34 A influência da Bíblia e de seu ensino sobre o mundo ocidental está bem à mostra para todos quantos estudam a história. O papel de forte influência desempenhado pelo Ocidente sobre o desenrolar dos acontecimentos mundiais fica igualmente evidente. As Escrituras judai- cas-cristãs têm influenciado mais a civilização que qualquer outro livro ou combinação de livros do mundo. Na verdade, nenhuma outra obra reli- giosa ou de fundo moral no mundo excede a profundidade moral contida no princípio do amor cristão, e nenhuma apresenta conceito espiritual mais majestoso sobre Deus do que o conceito que a Bíblia oferece.A Bíblia apresenta ao homem os mais elevados ideais que já pautaram a civiliza- ção.
  • 35. TEOLOGIA DA BÍBLIA 35 BIBLIOGRAFIA Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007. CHAFER, L.S.Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003 DANBY, H.The Mishnah. Oxford: Oxford University Press, 1933. ERICKSON, M.J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida, 1997. GLEISER, N. NIX, W. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2006. RODMAN, W.Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011. SKARSAUNE, O. À sombra do Templo: as influências do judaísmo no cris- tianismo primitivo. São Paulo: Vida acadêmica, 2004. THACKERAY, H. St. John et al. Josephus in nine volumes. Loeb Classical Library 186-94. Cambridge, Mass.: Harvard University Press/London: William Heinemann, 1926.
  • 36. TEOLOGIA DA BÍBLIA 36 TEOLOGIA DA BÍBLIA 36 O Poder da Palavra de Deus 3 AULA
  • 37. TEOLOGIA DA BÍBLIA 37 ConformeMoisésregistrouemGênesis,ohomemcriadoporDeusnoJardim do Éden foi feito à Sua imagem (que significa “abrigar a luz”). Deus abrigou a sua luz nos homens e isso promovia uma plenitude de comunhão. Deus tinhaumacomunicaçãodiretacomahumanidade.Nãoeranecessárioque Deus se revelasse por meio das Escrituras, antes do pecado, pois não havia nadaqueservissedeimpedimentoparaohomemconhecerocaráter,vonta- deepropósitodivinos.EntenderoseupapelcomopartenafamíliadeDeus. Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma. Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (1Jo 1.5-7) Quando Adão e Eva foram seduzidos pelo Diabo, no momento da queda (Gn 3), desfiguraram a imagem de Deus na humanidade. As trevas entraram no coração do homem e ofuscaram o brilho da imago dei. O homem já não podia mais se comunicar com o Eterno na mes- ma dimensão de antes, pois em Deus não há trevas e Ele não faz comu- nhão com quem anda nessa realidade. Com o objetivo de restaurar a co- munhão com o homem, Deus enviou a Palavra Escrita e a Palavra Viva. A Palavra Escrita anunciou a Palavra Viva, pois a verdadeira luz não está na revelação, mas no próprio Deus. O homem é iluminado pela Bíblia, a fim de que a luz de Deus brilhe em seus corações, por meio da reconciliação garantida por causa da graça, por meio da fé e com base na obra completa de Jesus Cristo. “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho” (Sl 119.105). “Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em seus corações” (2Pe 1.19). O Poder da Palavra de Deus O Poder Iluminador do Espírito AULA 3
  • 38. TEOLOGIA DA BÍBLIA 38 Deus não é apenas a fonte da revelação, mas o canal para a com- preensão dela. Somente o Espírito revela as verdades eternas da palavra. O simples estudo da Palavra e a dedicação nos há- bitos espirituais não são suficientes para promover o discerni- mento e o conhecimento dos propósitos de Deus nas Escrituras. A obra iluminadora do Espírito Santo é tratada profundamente no texto paulino de 1 Coríntios 2.14-16. Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritual- mente. Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois “quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? " Nós, porém, temos a mente de Cristo. A mente do homem não pode analisar os propósitos de Deus sem que haja a intervenção dele nesse processo. O apóstolo Paulo se refere à limi- tação humana para compreender as Escrituras e as coisas reveladas por Deus, havendo apenas um caminho para o conhecimento das coisas divi- nas que é a busca por um relacionamento com o Espírito Santo. Somente o Espírito é capaz de sondar os mistérios de Deus e trazê-los ao homem. A iluminação refere-se, então, à influência do Espírito Santo sobre a hu- manidade, a fim de combater os três tipos de trevas que assolam o ho- mem: as trevas do mundo (no original significa “sistema, valores e ação organizada contra as coisas de Deus”), as trevas satânicas (arqui-inimigo de Deus, conhecido como o príncipe das trevas) e as trevas da carne (no original significa “natureza instintiva do homem que o incita a cometer pecados”). • O Espírito da Verdade No dia de sua ressurreição, Cristo andou com dois de seus discí- pulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-35) e está registrado que Ele "ex- pôs" e "abriu" as Escrituras diante desses discípulos. Semelhantemente, na noite em que Ele apareceu a todo o grupo de discípulos, Ele abriu o entendimento deles para compreenderem as Escrituras (Lc 24.45). Até a sua crucificação, esses homens não haviam crido ainda que Cristo mor- reria (Mt 16.21-23), e foi somente no final que eles puderam saber algo do significado de sua morte e ressurreição, quando os entendimentos de- les foram abertos: “Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras” (Lc 24.45). Assim, um campo ilimitado de verdade veio sobre eles, até mes-
  • 39. TEOLOGIA DA BÍBLIA 39 mo o Evangelho que estavam para proclamar (Lc 24.47, 48), mas não sem o poder garantido pelo Espírito Santo que viria sobre eles (Lc 24.49). No dia do Pentecostes, Pedro, que havia recentemente rejeitado o anún- cio a respeito da morte de Cristo (Mt 16.21-23), pregou o valor daquela morte com tal poder convincente que três mil pessoas foram salvas. Está evidente que o entendimento de Pedro havia sido aberto a respeito da morte de Cristo; esta, contudo, não foi a primeira experiência que Pedro havia tido do poder penetrante de uma revelação divina. Em resposta à pergunta de Cristo: "Quem dizem os homens que eu sou?", Pe- dro replicou: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Respondeu Jesus: "Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus (Mt 16.15-17). Embora nos textos acima citados o Pai e o Filho sejam declarados como tendo revela- do aspectos definidos da verdade a vários homens, o Espírito de Deus é o Mestre divino, visto que o seu advento no Pentecostes e vários textos da Escritura testemunham deste ministério específico do Espírito Santo. “Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensina- rá todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse” (Jo 14.26). Após ter anunciado o poder iluminador do Espírito, o Senhor con- tinuou a dizer: “Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora. Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês. Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (Jo 16.12-15). A afirmação importante desta passagem essencial é que Cristo, que ensinou a seus discípulos por três anos e meio, ensina-lhes agora, mas por um novo modo de abordagem aos seus corações. A frase: "Mas quando o Espírito da verdade vier..." profetiza, sem dúvida, a vinda do Es- pírito no Pentecostes e os novos empreendimentos que seriam tornados possíveis pela sua presença habitando nos corações deles - um dos quais é o seu trabalho como Mestre. • A necessidade do novo nascimento A Bíblia nos fala que somente os que são espirituais entendem as coisas do Espírito (1Co 2.15,16).A obra interna do Espírito Santo é limitada
  • 40. TEOLOGIA DA BÍBLIA 40 pela tendência pecaminosa da raça humana. Em Mateus 13.13-15 e em Marcos 8.18, Jesus fala dos que ouvem, mas nunca entendem e veem, mas nunca enxergam. A condição dessas pessoas é apresentada em imagens claras em todo o Novo Testamento: • O coração ficou endurecido (Mt 13.14). • Os ouvidos são tardios em ouvir (13.14). • Eles fecharam os olhos (13.15). • Conhecem a Deus, mas não o glorificaram como Deus, e assim tornaram-se fúteis em seus raciocínios e a mente insensata deles ficou obscurecida (Rm 1.21). Mas essa condição é vencida quando o Espírito Santo começa a trabalhar dentro de nós. Paulo fala em ter os olhos do coração ilumina- dos —a forma verbal usada indica que algo foi feito e que o efeito con- tinua (Ef 1.18). Em 2Coríntios 3, ele fala da remoção do véu colocado na mente (v. 16), para que se possa contemplar a glória do Senhor (v. 18). O Novo Testamento se refere a essa iluminação de várias outras maneiras: • Circuncisão do coração (Rm 2.29). • Ser repleto de sabedoria e entendimento espiritual (Cl 1.9). • O dom do entendimento para conhecer Jesus Cristo (1Jo5.20) • Ouvir a voz do Filho de Deus (Jo 10.3). • Poder de Deus (1Co1.18). • Sabedoria secreta e oculta de Deus (1Co 1.24; 2.7). • Mente de Cristo (1 Co 2.16). O que viemos descrevendo aqui é um trabalho único do Espírito — a regeneração ou o Novo Nascimento. Ela introduz uma diferença categó- rica entre o salvo e o descrente. Mas também existe um trabalho contínuo do Espírito Santo na vida do que crê, uma obra especialmente descrita e esmiuçada por Jesus em sua mensagem a seus seguidores em João 14—16: • O Espírito Santo ensinará todas as coisas aos que creem e os fará lembrar de tudo o que Jesus ensinou a eles (14.26). • O Espírito Santo dará testemunho de Jesus. Os discípulos tam- bém darão testemunho de Jesus porque estiveram com ele desde o prin- cípio (15.26,27). • O Espírito Santo convencerá (elencho) o mundo do pecado, da justiça e do juízo (16.8). Essa palavra, em especial, implica repreender de tal forma que produza arrependimento, em contraste com epitimao, que pode sugerir simplesmente uma repreensão imerecida (Mt 16.22) ou ine- ficaz (Lc 23.40). • O Espírito Santo conduzirá os que creem a toda verdade. Ele não
  • 41. TEOLOGIA DA BÍBLIA 41 falará por sua própria autoridade, mas dirá tudo o que ouviu (Jo 16.13). Nesse processo, ele também glorificará a Jesus (16.14). Vamos sintetizar o papel do Espírito conforme descrito em João 14—16. Ele conduz à verdade, trazendo à lembrança as palavras de Jesus, não falando por si próprio, mas falando o que ouviu, trazendo arrepen- dimento, testemunhando de Cristo. Não parece que essa obra seja um novo ministério ou o acréscimo de novas verdades que já não tenham sido apresentadas, mas uma ação do Espírito Santo em relação à verdade já revelada.Assim, o ministério do Espírito Santo em relação à iluminação consiste em explicar a verdade, criar fé, persuasão e arrependimento, mas não traz uma nova revelação.
  • 42. TEOLOGIA DA BÍBLIA 42 A Vida pela Palavra de Deus Vitalidade ou vida é o elemento incomparável que só a Bíblia possuí. Há vários atributos da Palavra escrita de Deus. No Antigo Tes- tamento, estes são apresentados em dois Salmos. Alguns aparecem no Salmo 19: "A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sem- pre. As ordenanças do Senhor são verdadeiras, são todas elas justas" (vv. 7-9). Semelhantemente, sete atributos da Bíblia são mencionados no Salmo 119: • Confiável (v. 86) • Ilimitada (v. 96) • Reta (v. 128) • Maravilhosa (v. 129) • Comprovada (v. 140) • Eternas (v. 160) • Justa (v. 172). O Novo Testamento acrescenta que a Palavra de Deus é: • verdade (Jo 17.17) • proveitosa (2Tm 3.16) • penetrante e poderosa (Hb 4.12). “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e me- dulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12). A palavra zõn, usada cerca de 140 vezes no Novo Testamento, sig- nifica vida, seja como uma realidade ou como uma maneira de conduta. Esta raiz da palavra aparece em cada uma das treze repetições da frase: "Deus vivo". Duas vezes a raiz aparece como um elemento integral nas Escrituras Sagradas. A Escritura é viva no sentido em que Deus é o Deus vivo (Hb 10.31). As qualidades aqui usadas não são somente reveladoras, mas arranjadas de modo que formam um ápice. A Palavra de Deus é viva, é eficaz, é cor- tante, ela penetra, ela discerne.
  • 43. TEOLOGIA DA BÍBLIA 43 “Pois vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas impere- cível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente” (1Pedro 1.23). Aqui, novamente a palavra zaõ aparece, com o pensamento acres- cido da duração eterna. Não deve ser esquecida a essa altura a afirmação de Cristo: " As palavras que eu lhes disse são espírito e vida" (zõê, Jo 6.63). A segunda palavra é energês (Hb 4.12), que concede às Escrituras o atributo da energia. Ela é a energia que proporciona a vida. A verdade é sempre poderosa, e as Escrituras são a verdade divina (Jo 8.32; 17.17). A Palavra escrita de Deus é inspirada por Deus. Há vida ineren- te nela. Esta verdade não implica personalidade ou que a Bíblia possui a constituição de uma criatura viva. Ela declara que a vida divina reside nas Escrituras. Por causa deste fato, certas realizações extraordinárias são operadas pela Palavra de Deus. • O Poder da Palavra de Deus Sobre Seus Filhos Em sua oração sacerdotal, Cristo fez um pedido por aqueles que o Pai lhe havia dado, a fim de que pudessem ser santificados pela verda- de, ao acrescentar: "A tua Palavra é a verdade... Em favor deles eu me santifi- co, para que também eles sejam santificados pela verdade" (Jo 17.17-19). • A Palavra de Deus é um alimento que traz força: “Como crianças re- cém-nascidas, desejem de coração o leite espiritual puro, para que por meio dele cresçam para a salvação” (1Pe 2.2). • As Escrituras possuem um valor especial para o cristão: “Também agra- decemos a Deus sem cessar, pois, ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em vocês, os que creem” (1Ts 2.13). • A Palavra é uma agência purificadora. Ao escrever a respeito do cuida- do de Cristo por sua Igreja, o apóstolo disse: "... para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra" (Ef 5.26; cf. SI 37.31; 119.11). Deus usa sua Palavra. Ela é eficaz na mão do Espírito Santo para a realização de resultados sobrenaturais.
  • 44. TEOLOGIA DA BÍBLIA 44 • Seu Poder Eterno. “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mt 24.35). Os homens têm feito o que podem para destruir a influência da Bíblia. Eles têm tanto testificado contra ela como profetizado a sua queda; mas em tempo algum na história do mundo ela tem sido tanto um poder para o bem, quanto claramente uma influência crescente. A preservação das Escrituras, assim como o cuidado divino no registro delas e na forma- ção delas no cânon, não é acidental. Ela é o cumprimento da promessa divina. O que Deus em fidelidade operou, terá a sua continuação até que o seu propósito seja cumprido. Há pouca coisa, de fato, que os homens possam fazer para frustrar a eficácia da Palavra de Deus, visto que é dito dela: "... para sempre está firmada nos céus; " Há muito aprendi dos teus testemunhos que os estabe- leceste para sempre" (SI 119.89,152). Com o mesmo propósito Cristo disse: " O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão" (Mt 24.35); e o apóstolo Pedro confirma que a "Palavra de Deus" é "viva e permanente" (1 Pe 1.23). A duração eterna é atributo da Bíblia; ela é indestrutível, por ser a Palavra do Deus eterno. A Bíblia é eterna por seus próprios méritos. Ela permanece porque nenhuma palavra que Deus falou pode ser removida ou abalada. Na verdade, é por meio de seus oráculos escritos que Deus anuncia suas declarações a respeito de "todas as coisas" que não podem ser abaladas. As Escrituras são o instrumento legal pelo qual Deus execu- ta cada detalhe de seus pactos eternos e cumpre cada predição que seus profetas fizeram. O instrumento legal que assegura essa vasta realização deve continuar, e continuará, até a última promessa. Nenhuma letra do testemunho divino pode passar até que tudo seja cumprido.
  • 45. TEOLOGIA DA BÍBLIA 45 Sem a Bíblia, a evangelização do mundo seria não apenas impos- sível, mas também inconcebível. A Bíblia nos determina a responsabili- dade de evangelizar o mundo, nos dá um evangelho a proclamar, nos diz como fazê-lo e se declara o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crer. Além disso, a história passada e contemporânea, nos revela que o grau de compromisso da Igreja com a evangelização do mundo é pro- porcional ao grau de sua convicção da autoridade da Bíblia. Sempre que o cristão perde a confiança na Bíblia, seu empenho pela evangelização acaba desaparecendo. Inversamente, se ele estiver convencido acerca da Bíblia, estará também determinado a evangelizar. Vejamos quatro razões por que a Bíblia é indispensável à evange- lização do mundo. A RESPONSABILIDADE A Bíblia nos dá a ordem da evangelização do mundo. Sem dúvida, precisamos de um compromisso. Dois fenômenos estão ocorrendo em toda parte: o fanatismo religioso e o pluralismo religioso. O fanatismo se caracteriza por uma devoção irracional que, se pudesse, usaria a força para obrigar a crença e erradicar a incredulidade. O pluralismo religioso incentiva a tendência oposta. Sempre que o espírito do fanatismo religioso ou de seu oposto prevalece, a evangelização do mundo é profundamente prejudicada. Os fanáticos se recusam a tolerar o rival representado pelo evangelismo, e os pluralistas rejeitam suas reivindicações exclusivas. O discípulo de Cristo é considerado um intruso, alguém que sem motivo se intromete na vida das pessoas. Nossa reponsabilidade para com a evangelização do mundo está revelada em toda a Bíblia. Deve ser encontrada: • Na criação de Deus, porque todos os seres humanos são responsáveis diante dele. • No caráter de Deus, transcendente, amoroso, compassivo, não desejan- A Bíblia no Avanço do Evangelho
  • 46. TEOLOGIA DA BÍBLIA 46 do que ninguém pereça, mas que todos venham ao arrependimento. • Nas promessas de Deus, que todas as nações sejam benditas por meio da semente de Abraão e venham a ser a herança do Messias. • Em Jesus Cristo, exaltado com autoridade sobre todas as coisas. • No Espírito de Deus, que convence do pecado, dá testemunho de Cristo e impele a Igreja a evangelizar. • Na Igreja de Deus, que é uma comunidade missionária multinacional, com ordens de evangelizar até que Cristo volte. A MENSAGEM Nossa mensagem vem da Bíblia, mas quando a buscamos nas Es- crituras, imediatamente deparamos com um dilema. De um lado, a men- sagem nos é entregue. Não temos permissão de inventá-la. Ela nos foi confiada como um “depósito” precioso, que nós, como servos fiéis, de- vemos guardar e distribuir na Casa de Deus (1Tm 6.20; 2Tm 1.12-14; 2Co 4.1,2). Por outro lado, não nos foi dada como uma fórmula matemática simples e exata, e sim numa rica diversidade de formulações nas quais foram usadas imagens ou metáforas diferentes. Portanto, existe apenas um evangelho, no qual todos os apóstolos concordam (1Co 15.1). No entanto, os apóstolos expressaram esse evange- lho único de diversos modos: • Sacrifical (o derramamento e a aspersão do sangue de Cristo). • Messiânico (o surgimento do governo prometido por Deus). • Legal (o juiz pronunciando a justificação do injusto). • Pessoal (o Pai reconciliando seus filhos desviados). • Salvador (o Libertador celestial que veio para resgatar os desamparados). • Cósmico (o Senhor universal reivindicando domínio universal). O evangelho é assim visto como único e, ao mesmo tempo, como diversi- ficado. Ele é “dado” e, ao mesmo tempo, é culturalmente adaptado à sua audiência. Uma vez que ele vem de Deus, devemos preservá-lo; uma vez que se destina as pessoas, temos de interpretá-lo.
  • 47. TEOLOGIA DA BÍBLIA 47 O MODELO Quando Deus nos falou nas Escrituras ele usou linguagem huma- na e quando nos falou em Cristo assumiu carne humana. A fim de se re- velar, ele se esvaziou e se humilhou. Esse é o modelo de evangelismo que a Bíblia apresenta. Existe autoesvaziamento e auto-humilhação em todo evangelismo autêntico. Sem eles, contradizemos o evangelho e deturpa- mos o Cristo que proclamamos. O PODER A Bíblia nos concede o poder para a evangelização do mundo. É quase desnecessário enfatizar nossa necessidade de poder, pois sabemos quanto nossos recursos humanos são fracos em comparação com a mag- nitude da tarefa. Também sabemos quão blindadas são as defesas do co- ração humano. Pior ainda, conhecemos a realidade, a maldade e o poder do Diabo e dos demônios sob seu comando. Para nós, é fato inegável “que o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1Jo 5.19).Até que sejam libertados por Jesus Cristo e transporta- dos para seu Reino, todos os seres humanos são escravos de Satanás e da carne. Além disso, percebemos o poder maligno no mundo contemporâ- neo — nas trevas da idolatria; na superstição e no fatalismo; na devoção aos deuses que não são deuses; no materialismo egoísta; na propagação do comunismo ateu; na proliferação de sistemas religiosos irracionais; na violência e na agressão; na deterioração generalizada dos padrões absolu- tos de bondade e verdade. Tudo isso é resultado da obra daquele que nas Escrituras é chamado “mentiroso”, “enganador”, “caluniador” e “homici- da”. Portanto, a conversão e a regeneração cristãs continuam sendo milagres da graça de Deus. Representam o auge de uma luta poderosa entre luz e trevas. Como então participaremos da vitória de Cristo e derrotaremos o poder do Diabo? Lutero responde a essa pergunta: “Vencido cairá por uma só palavra.” Há poder na Palavra de Deus e na pregação do evangelho.Talvez a expressão mais forte dessa realidade no Novo Testamento esteja em 2Coríntios 4. Paulo faz menção do “o deus desta era”, que “cegou o entendi- mento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (v. 4). Se a mente humana está cega, como poderá enxergar? Somente por meio da Palavra criadora de Deus. Pois foi Deus quem disse que “de trevas res- plandecerá luz” que brilhou em nosso coração “para iluminação do conheci-
  • 48. TEOLOGIA DA BÍBLIA 48 mento da glória de Deus, na face de Cristo” (v. 6). Pregar o evangelho, longe de ser desnecessário, é indispensável. E o meio estabelecido por Deus para que o príncipe das trevas seja derrotado e a luz brote no coração do ser humano. Há poder no evangelho de Deus — poder de Deus para a salva- ção (Rm 1.16). Sem a Bíblia, a evangelização do mundo é impossível, pois sem ela não temos nenhum evangelho para levar às nações, nenhuma garantia para oferecer, nenhuma ideia de como fazer a tarefa e nenhuma espe- rança de sucesso. É a Bíblia que nos dá a responsabilidade, a mensagem, o modelo e o poder de que precisamos para a evangelização do mundo. Portanto, vamos nos apoderar dela, vamos dar atenção aos seus manda- mentos, captar sua mensagem, seguir sua orientação e confiar em seu poder.Vamos levantar nossa voz e tornar a Palavra conhecida.
  • 49. TEOLOGIA DA BÍBLIA 49 BIBLIOGRAFIA Bíblia. Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2013. CHAFER, L.S.Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2003 ERICKSON, M.J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida, 1997. FERREIRA, F. e MYATT, A.Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007. GRUDEM, W.Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2011. RODMAN, W.Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011.
  • 50. TEOLOGIA DA BÍBLIA 50 TEOLOGIA DA BÍBLIA 50 Marcas das Escrituras 4 AULA
  • 51. TEOLOGIA DA BÍBLIA 51 AUTORIDADE Todas as palavras nas Escrituras são palavras de Deus. É a inspira- ção da Bíblia que traz a autoridade dela sobre as nossas vidas. Há muitas afirmações na Bíblia que declaram isso, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Antigo Testamento, isso se vê com frequência na frase intro- dutória “Assim diz o Senhor”, que ocorre centenas de vezes. Essa frase é reconhecida como idêntica em forma à expressão “assim diz o rei”, muito utilizada no mundo do Antigo Testamento para introduzir um edito de um rei a seus súditos. Da mesma forma, os profetas estão reivindicando a condição de mensageiros do soberano Rei de Israel, e declarando que suas palavras são autoridade absoluta. Além disso, muitas vezes se diz que Deus fala “por intermédio” do profeta (1 Reis 14.18; 16.12, 34; 2 Reis 9.36; 14.25; Jeremias 37.2; Zacarias 7.7, 12). Assim, o profeta que diz em nome de Deus, é Deus quem fala (1 Reis 13.26 com v.21; 1 Reis 21.19 com 2 Reis 9.25-26; Ageu 1.12). Nesses, e em outros casos no Antigo Testamento, as palavras que os profetas fala- ram podem ser mencionadas igualmente como palavras que o próprio Deus falou. Assim, não dar crédito ou desobedecer a qualquer coisa que um profeta diz é não dar crédito ou desobedecer ao próprio Deus (Deute- ronômio 18.19, 1 Samuel 10.8; 13.13-14; 15.3, 19, 23; 1 Reis 20.35,36). No Novo Testamento, várias passagens indicam que todos os es- critos do Antigo Testamento são vistos como palavras de Deus. O texto de 2 Timóteo 3.16 diz “... toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça”. Nesse ponto, Escritura (grafe) deve referir-se às Escrituras do Antigo Tes- tamento em forma escrita, pois é a isso que a palavra grafe se refere em cada uma das 50 vezes em que é usada no Novo Testamento. Além disso, Paulo faz referência às “sagradas letras” do Antigo Testamento imediata- Marcas das Escrituras Autoridade e Suficiência AULA 4
  • 52. TEOLOGIA DA BÍBLIA 52 mente antes no versículo 15. Aqui Paulo afirma que todos os escritos do AntigoTestamento são theopnesutos, “inspirados por Deus”. Como se diz que os escritos é que são inspirados, essa inspiração deve ser entendida como uma metáfora de palavras faladas das Escrituras. Esse versículo, portanto, afirma de manei- ra breve o que era evidente em muitas passagens no Antigo Testamento: os escritos do Antigo Testamento são considerados palavras de Deus em forma escrita, embora tenha usado agentes humanos para escrever essas palavras. Mas, se Paulo referia-se apenas aos Escritos do AntigoTestamento quando falou das “Escrituras”, como esse versículo pode também ser apli- cado aos escritos do Novo Testamento? A resposta é sim, pois a palavra grega grafe (“escritura”) era um termo técnico para os escritores do Novo Testamento e possuía um significado muito específico. Assim, tudo o que pertence à categoria grafe (“escritura”) tinha a qualidade de “inspirado por Deus”, e suas palavras eram as palavras do próprio Deus. Em dois trechos do NovoTestamento vemos os escritos do NovoTestamento também cha- mados “escrituras” juntamente com os escritos do AntigoTestamento. Es- sas passagens são 2 Pedro 3.16 e 1 Timóteo 5.18. Essas duas passagens juntas indicam que durante o período em que os documentos do Novo Testamento estavam sendo escritos havia uma consciência de que estavam sendo feitos acréscimos a essa categoria especial chamada grafe. Além disso, temos afirmações como a de 1 Coríntios 14.37, na qual Paulo diz: “Se alguém pensa que é profeta ou espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor”. Neste trecho Paulo atribui os seus escritos o status de “mandamento do Senhor”. Nos trechos apresentados em João 14.26 e 16.13, Jesus promete que o Espírito Santo traria à lembrança dos discípulos tudo o que ele dis- sera e os guiaria a toda verdade. Isso aponta para uma obra especial de supervisão do Espírito Santo, mediante a qual os discípulos lembrariam e registrariam sem erro tudo o que Jesus havia dito. Indicações semelhan- tes se encontram também em 2 Pedro 3.2, 1 Coríntios 2.13, 1Tessalonicen- ses 4.15 e Apocalipse 22.18-19. Além do que já foi apresentado é importante lembrar que nos- sa convicção definitiva de que as palavras da Bíblia são palavras divinas vem quando o Espírito Santo fala ao nosso coração nas palavras da Bíblia e por intermédio delas, dando-nos a segurança íntima de que essas são
  • 53. TEOLOGIA DA BÍBLIA 53 as palavras do Criador falando conosco. Logo depois de explicar que sua mensagem apostólica consistia em palavras ensinadas pelo Espírito San- to (1 Coríntios 2.13), Paulo diz “quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente.” (1 Coríntios 2.14). À parte do tra- balho do Espírito de Deus, uma pessoa não receberá verdades espirituais e, em particular, não receberá nem aceitará a verdade de que as palavras das Escrituras são de fato palavras de Deus. Mas, àqueles em quem o Espírito de Deus está operando reconhe- cem que as palavras da Bíblia são palavras de Deus. Esse processo é bem análogo àquele pelo qual os que creram em Jesus souberam que suas pa- lavras eram verdadeiras. Ele disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (João 10.27). Aqueles que são ovelhas de Cristo ouvem as palavras de seu grande Pastor enquanto leem as palavras das Escrituras e são convencidos de que essas palavras são de fato do seu Senhor. À medida que as pessoas leem as Escrituras, elas ouvem a voz do Criador falando-lhes por intermédio das palavras das Escrituras, e então percebem que o livro que estão lendo é diferente de qualquer outro, ou seja, que a Bíblia é de fato um livro com as palavras do próprio Deus falan- do-lhes ao coração. AS ESCRITURAS SÃO SUFICIENTES A definição de suficiência das Escrituras diz que a Bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer. Essa definição enfatiza que só nas Escrituras devemos procurar as palavras de Deus para nós. Também nos lembra de que Deus considera que o que ele nos disse na Bíblia é suficiente para nós e que devemos nos alegrar na grande revelação que nos deu. Encontramos explicação e apoio bíblico significativo para essa doutrina nas palavras de Paulo a Timóteo: “Porque desde criança você conhe- ce as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3.15). Isso é uma indicação de que as pala- vras de Deus que temos nas Escrituras são todas as palavras divinas que precisamos para a salvação: essas palavras podem nos tornar sábios “para a salvação”. Isso se confirma por outras passagens que falam sobre as palavras das Escrituras como meio que Deus emprega para nos conduzir
  • 54. TEOLOGIA DA BÍBLIA 54 à salvação (Tiago 1.18, 1 Pedro 1.23). Em um sentido bem prático, significa que podemos chegar a con- clusões claras sobre muitos ensinamentos das Escrituras. Isso nos dá a confiança de que seremos capazes de encontrar aquilo que Deus exige que pensemos ou façamos nessas situações. Simplificando, a doutrina da suficiência das Escrituras nos diz que é possível estudar teologia sistemática e ética e assim encontrar respos- tas para as nossas vidas. Embora a história de igreja talvez nos ajude a compreender o que Deus diz na Bíblia, jamais na história da igreja, Deus fez acréscimos aos ensinamentos ou aos mandamentos das Escrituras. Jamais durante toda a história da igreja e fora das Escrituras, Deus acres- centou algo que ele exige que creiamos ou façamos. As Escrituras são suficientes para nos habilitar para toda boa obra, e andar nos caminhos bíblicos é ser irrepreensível aos olhos do Senhor. Neste aspecto, a doutrina da suficiência das Escrituras implica que o homem não pode por conta própria, acrescentar nenhuma palavra àquelas que Deus já falou. Além disso, implica que na verdade Deus não falou à humanidade outras palavras que ele exige que creiamos ou obser- vemos além daquelas que temos hoje na Bíblia. Esse ponto é importante, pois nos ajuda a compreender por que Deus pôde dizer ao seu povo que suas palavras lhe eram suficientes em muitos momentos diferentes da história da redenção e porque assim mesmo pôde fazer acréscimos a essas palavras mais tarde. Por exemplo, em Deuteronômio 29.29, Moisés afirma: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei.” Esse versículo nos lembra que Deus sempre tomou a iniciativa de nos revelar as coisas. Ele é quem decidiu o que revelar e o que não revelar. Em cada estágio da história da redenção, as coisas que Deus revelava era o suficiente para o povo daquela época. Com o avanço da história da re- denção, mais palavras de Deus foram sendo acrescentadas, registrando e interpretando essa história. Por exemplo, no tempo da morte de Moisés, os primeiros cinco livros do AntigoTestamento eram suficientes para o povo de Deus da épo- ca. Mas, Deus ordenou que autores posteriores acrescentassem novos en- sinos, para que as Escrituras fossem também suficientes para os crentes de épocas posteriores. Para os cristãos de hoje, as palavras que temos no Antigo e Novo Testamento são suficientes durante a era da igreja. Após a
  • 55. TEOLOGIA DA BÍBLIA 55 morte, ressureição e ascensão de Cristo e da fundação da igreja primiti- va segundo os registros do Novo Testamento, não ocorreram na história ações divinas redentoras que tenham relevância direta para todo o povo de Deus e para todo o tempo subsequente. O princípio da suficiência da revelação de Deus para o seu povo em cada época específica permaneceu o mesmo. Os seguintes textos bíblicos se aplicavam para o povo da época e para nós hoje: “Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do Senhor, o Deus de vocês, que eu lhes ordeno.” - Deuteronômio 4.2 “Apliquem-se a fazer tudo o que eu lhes ordeno; não lhe acrescentem nem lhe tirem coisa alguma.” - Deuteronômio 12.32 “Cada palavra de Deus é comprovadamente pura; ele é um escudo para quem nele se refugia. Nada acrescente às palavras dele, do contrário, ele o repreenderá e mostrará que você é mentiroso.” - Provérbios 30.5-6 “Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se al- guém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro. Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro.” - Apocalipse 22.18-19
  • 56. TEOLOGIA DA BÍBLIA 56 CLAREZA Qualquer pessoa que já tenha começado a ler a Bíblia seriamen- te percebe que algumas partes podem ser bem facilmente entendidas, enquanto outras parecem bem desafiadoras enigmáticas. Nem todas as partes das Escrituras podem ser compreendidas com facilidade. Bem no início da história da igreja Pedro já lembrava aos seus leitores que alguns trechos das epístolas de Paulo eram de difícil entendimento. “Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles.” - 2 Pedro 3.15-16 Mas seria um erro pensar que a maior parte das Escrituras ou que as Escrituras em geral são difíceis de compreender. O Antigo e o Novo Testamento afirmam frequentemente que as Escrituras estão escritas de tal modo que seus ensinamentos podem ser compreendidos pelo crente comum. Moisés diz ao povo de Israel: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Con- verse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar.” - Deuteronômio 6.6-7 Todo o povo de Israel deveria ser capaz de compreender as pala- vras das Escrituras, e compreendê-las bem o bastante para diligentemen- te ensiná-las aos filhos. Deus queria que todo o seu povo conhecesse e fosse capaz de conversar sobre a sua Palavra, com a devida aplicação a situações cotidianas da vida. No Novo Testamento encontramos ênfase semelhante. O próprio Jesus, nos seus ensinos jamais diz que as Escrituras são de difícil compre- ensão. Jesus supõe que o povo de sua época é capaz de ler e compreender os escritos deixados por Moisés 1500 anos antes. De modo semelhante a maioria das epístolas do Novo Testamen- to foi escrita a não líderes de igrejas, mas a congregações inteiras. Paulo escreve: “à igreja de Deus que está em Corinto” (1 Coríntios 1.2), “às igrejas Clareza e Necessidade
  • 57. TEOLOGIA DA BÍBLIA 57 da Galácia” (Gálatas 1.2), “a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Fili- pos” (Filipenses 1.1), e assim por diante. Paulo supõe que seus leitores irão compreender o que ele escreve, e incentiva o envio de suas cartas a outras igrejas: “Depois que esta carta for lida entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses, e que vocês igualmente leiam a carta de Laodicéia.” (Colossenses 4.16) A Bíblia é escrita de forma tal que todas as coisas necessárias para a salvação do homem e para a vida e crescimento do cristão encontram- -se bem claramente expostas nas Escrituras. Dizer que as Escrituras são claras é dizer que a Bíblia está escrita de modo tal que seus ensinamentos podem ser compreendidos por todos que a lerem buscando o auxílio de Deus. Uma vez afirmado isso, devemos também reconhecer que muitas pessoas, mesmo o povo de Deus, de fato, compreendem erradamente as Escrituras. Em pontos em que há desacordo doutrinário ou ético só há duas causas possíveis para essa discordância: (1) Pode ser que estejamos buscando fazer afirmações sobre pon- tos em que as próprias Escrituras se calam. Nestes casos, devemos estar prontos a admitir que Deus não deu resposta à nossa dúvida, aceitando as diferenças de pontos de vista dentro da igreja. (2) Por outro lado, é possível que tenhamos cometido erro na nos- sa interpretação das Escrituras. Isso pode ter ocorrido porque as infor- mações que utilizamos para decidir uma questão de interpretação eram imprecisas ou incompletas. Seja como for não temos como dizer que o ensinamento da Bíblia sobre qualquer assunto é confuso ou impossível de compreender correta- mente. De modo nenhum devemos pensar que as persistentes discordân- cias sobre algum assunto ao longo da história da igreja signifiquem que seremos, por nós mesmos, incapazes de chegar a uma conclusão correta sobre o tema. Além disso, ainda que admitamos que há discordâncias doutriná- rias no meio cristão, não devemos esquecer de que sempre houve tam- bém muita concordância quanto às verdades mais centrais das Escrituras ao longo da história da Igreja.