1. A MAÇONARIA E OS RELIGIOSOS
I - A INTERFACE DA RELIGIÃO JUDAICA/CRISTÃ COM A MAÇONARIA
NOS PRIMORDIOS
Embora seja muito controvertida a origem moderna da Maçonaria, a maioria dos
estudiosos datam a época do Rei Salomão (970 a.C) ou o arquiteto egípcio IMHOPTEP
(3800 A.C).
Os documentos mais antigos das Lojas Modernas datam de 8 de agosto de 1248
redigido em latim na cidade de Bolonha na Itália por um procurador do Bispo Local. O
outro é de 1390 chamado de (Poema Régio).
Após este período surgiu na Inglaterra em 1681 uma loja fundada pelo judeu
Elias Asmole. Tal loja era composta por judeus e cristãos (católicos e protestantes), os
quais eram líderes em suas comunidades religiosas. Essa loja conhecida como (Royal
Society) prosseguiu os trabalhos até criar em 24 de junho de 1717 a grande Loja da
Inglaterra. Mas esta Loja precisava de Leis e Rituais, é daí que entra em cena um
religioso.
O Reverendo James Anderson James Anderson (1679-1739) foi ministro da
Igreja da Escócia, foi mestre de uma Loja Maçônica e Grande Oficial da Loja de
Londres. Publicou em 1723 a Constituição Maçônica Moderna. Ele popularizou a
ordem e estabeleceu princípios que norteiam a Maçonaria Moderna até os dias de hoje.
Foi um clérigo presbiteriano da Escócia que criou e difundiu o Rito Escocês Antigo e
Aceito.
O elo do clero protestante mais forte se deu nos Estados Unidos, não somente
com presbiterianos e anglicanos, mas com batistas, metodistas e outras denominações.
A Independência Americana foi proclamada por líderes maçons e religiosos. O
líder religioso e maçom de mais destaque foi o Pastor e filósofo calvinista Reverendo
John Witherspoon.
John Witherspoon (1723-1794) tornou um defensor das liberdades individuais, e
foi o único membro do clero a assinar a Declaração de Independência dos Estados
Unidos.
Clérigos americanos presbiterianos, metodistas e batistas participaram
ativamente da Maçonaria. O importante pregador George W. Truett era grau 32 (1867-
1944), foi presidente da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos entre 1927-
1929 e também da Aliança Batista Mundial entre 1934-1939. Sobre a Maçonaria,
disse:
Dos primórdios das minhas memórias, assentado no colo de meu pai
que era maçom, ouvindo suas conversas com companheiros maçons,
ficou gravada em minha impressão, desde a infância, de que a
fraternidade maçônica era uma das organizações mais conciliadoras e
preservadora da sociedade humana. Eu nunca vacilei a respeito desta
minha opinião de infância, pelo contrário, ela permanece inabalável
dentro de mim através destes ocupados e agitados anos (HORREL:
1995, p.22).
Outro maçom de destaque e da Igreja Presbiteriana Americana foi John Theron
Mackenzie, rico advogado que viveu sua vida em prool de projetos sociais, dentre
estes a doação para fundação da Escola Americana no Brasil em 1870 que depois
passou a chamar Mackenzie em homenagem a este maçom ilustre. Também existe
2. uma Loja Maçônica em sua homenagem na Cidade de São Paulo com o seu nome
pertencente ao GOB – Grande Oriente do Brasil.
II - OS MAÇONS DAS IGREJAS NO BRASIL
CLÉRIGOS: CATÓLICOS E PROTESTANTES MAÇONS NO BRASIL
A história do Brasil relata de forma vasta a presença de párocos católicos e
protestantes na maçonaria maçons em eventos e revoluções de grande vulto nacional. O
clero tendo acesso às novas idéias que germinavam da Europa e dos Estados Unidos,
alguns encabeçaram grandes revoluções, como: a Inconfidência ou Conjuração Mineira
em 1789 na pessoa do padre Rolim e cônego Luís Vieira; na revolução pernambucana
em 1817 na de padre João Ribeiro; na Confederação do Equador em 1824 com o frei
Caneca: na guerra dos farrapos; e por fim na Regência de Padre Feijó. Haja vista, o
principal mentor intelectual destas revoluções foi o clero brasileiro. Ademais, a crise
interna do clero vem desde a inconfidência mineira onde padres mais liberais e
iluministas participavam do movimento ao mesmo tempo que eram membros da
maçonaria.
O historiador brasileiro Júlio Ferreira, (1992, p.84) assim escreveu:
Paradoxalmente, era do seio da Igreja, a maior inimiga da maçonaria,
que saiam os mais ardorosos maçons. [...] Durante quase meio século,
pelo menos de 1790 a 1889, a maçonaria fez proselitismo em todas as
classes, mas com especialidade na clerical. Por toda parte, onde quer
que se tratasse de sussurrar, pedir ou protestar contra o confisco e outras
medidas de arrochos, lá estava um padre ou um frade para reproduzir e
ampliar as vozes de queixa ou revolta. Era o clero a classe subversiva
por excelência, enquanto a Igreja, comprometida com a Corôa, defendia
os privilégios, colocando a fraternidade, a caridade e a justiça social
acima da disciplina eclesiástica. [...] Se a Igreja detestava a maçonaria,
faziam-se eles, os padres, pedreiros-livres, levando a Loja para dentro
da Igreja. Se ela era pelo status quo, eles eram pela mudança, pela
remoção de tudo aquilo que impedia o bem estar geral e a liberdade
individual. [...] A maçonaria incrementava o desejo de confraternização
internacional na proclamação da fé num Ser Supremo, reivindicava o
direito de cada indivíduo expressar sua opinião, particularmente com a
liberdade da imprensa; exigia também a separação entre a Igreja e o
Estado, a generalização da instrução popular, a extinção da pobreza e o
fim do despotismo monárquico. Encontrou, em conseqüência dessas
posições, a simpatia em todos os setores que aspiravam às reformas
políticas.
O clero brasileiro, especialmente depois da entrada de idéias liberais, iluministas
e jansenistas, ficou um tanto dividido. "É sabido que a revolução de 1817, em
Pernambuco, era uma revolução de padres, na qual 60 tomaram parte. Sob o império,
penetraram na Câmara de Deputados e eram ministros ou membros da oposição"
(BASTIDE, 1989, p.5). Dentre os 60 pelo menos uma dezena de maçons.
No movimento autonomista brasileiro, o clero maçom teve uma participação
fundamental. Este clero, juntamente com militares e deputados liberais foi quem
3. elaboraram a representação enviada a Dom Pedro I, no evento que ficou conhecido
como "Dia do Fico". A carta fora elaborada dentro de uma Loja Maçônica e foi redigida
por Jose Bonifacio.
A referida representação foi em primeiro lugar assinada pelo venerável bispo D.
Mateus, um liberal-constitucional, incondicional adepto da regência de D. Pedro e
propugnador do "dia do fico"; havia também a assinatura do arcebispo da Sé Manuel
Joaquim Gonçalves de Andrade, do Ouvidor da Comarca José da Costa Carvalho, do
secretário do Governo Azevedo Coutinho. (OBERACKER JR., 1977, p.201-202).
Todos eles ligados à maçonaria.
A revolta que mais marcou por ser liderada por um líder eclesiástico foi a de
Pernambuco, a qual ficou conhecida como Confederação do Equador em 1824. Ela
abrangeu a Paraíba, Ceará e Rio grande do Norte. A revolta criou até uma República ou
simplesmente chamada de Confederação do Equador. Essa revolução foi liderada pelo
padre Joaquim do Amor Divino Caneca, conhecido simplesmente como frei Caneca.
Esse frade tinha uma visão política e religiosa totalmente liberal e lutava contra a
Constituição outorgada em 1824. Seus principais argumentos foram: a Constituição era
excessivamente centralizadora; o texto Constitucional não era liberal; o texto era
ilegítimo, pois havia sido criado não por um órgão representativo da nação, e sim pela
vontade do imperador. Ademais, o substrato do pensamento de Caneca era o princípio
do Direito Natural, a liberdade, a contradição aos governos absolutistas. O movimento
de Caneca foi derrotado em novembro de 1824.
A despeito das revoluções que tinha na sua estrutura clérigos, de paróquia ou
não, pode se dizer que a modernidade liberal maçônica influenciara este clero de
maneira a formar convicções profundas de idéias libertárias e iluministas.
Todo o racionalismo científico, político e religioso circulava
entre clérigos e leigos, principalmente nas Minas Gerais, onde a
riqueza constantemente canalizada para a metrópole caracterizava
revoltante espoliação da colônia e gerava idéias libertárias. [...]
Nas estantes das [bibliotecas] estavam Locke, Voltaire,
Rousseau, Montesquieu, a obra galicana de Fleury, Discours sur
l' histoire eclesistique, assim como boa quantidade de livros de
física, astronomia, história natural etc. (MENDONÇA, 2002, p.
65-66).
O historiador basbaum relata que a igreja tinha o poder mas não usufruia de
prestígio dentro da maçonaria por ser oficialmente contra esta. Entretanto era fácil
encontrar no clero, especialmente as mentes mais brilhantes, aqueles que faziam parte
da confraria.
Mas a história da Igreja entre nós, não é a história do clero. Este teve
muito mais influência que a Igreja. Se esta tinha idéias definidas sobre
a conduta dos seus ministros em nosso país, é difícil sabê-lo. A o
menos os seus ministros as ignoravam. Apesar dessa relativa
influência dos sacerdotes, por vezes mais pessoal que por força do
poder que representavam a irreligiosidade católica do povo,
principalmente nas cidades, era notória. Atuavam como causas
principais: a vida livre dos padres seculares que ostensivamente
tinham família e filhos; muitos eram maçons e poucos crentes; a
influência do positivismo e das idéias libertárias francesas; o espírito
escravista de muitos padres e congregações religiosas. Aliás, o
catolicismo dos brasileiros teve sempre um caráter particular, não
4. diremos nacionalistas, mas fortemente influenciado pelas religiões e
superstições africanas. [...] Pelo menos durante o império, em que a
autoridade moral da Igreja e a própria crença católica muito haviam
diminuído (BASBAUM, 1957, p.175-176).
No mesmo período, o clero brasileiro estava também influenciado pelo
jansenismo europeu, uma espécie de catolicismo mais liberal e contrário à subordinação
das igrejas nacionais a Roma.
Os jansenistas do século XVII e XVIII mantiveram o projeto de uma
maior fidelidade às origens da fé católica, reagindo ao centralismo
romano resultante do Concílio de Trento, bem como às pretensões da
Cúria Pontifícia relativas ao controle absoluto da esfera religiosa nos
diversos países. Nessa mesma linha de salvaguarda das características
nacionais da fé, o episcopado francês liderado por Bossuet oficializava
a declaração das liberdades galicanas. A partir de meados do século
XVIII, parte expressiva do clero francês aderiu à ideologia liberal,
veiculada pelos enciclopedistas; posteriormente, durante o período
napoleônico, numerosos membros do clero juraram fidelidade ao
Estado, afastando-se das diretrizes pontifícias. Esses clérigos
passaram a ser conhecidos como galicanos. (AZZI, 1994, p.6-7).
O movimento foi contestador e reivindicava uma reforma nas estruturas do
catolicismo, tanto doutrinárias como na estrutura política eclesiástica, quase todos
jansenistas eram maçons.
O jansenismo foi um antagônico ao galicanismo, e de certa medida lutava por
uma Igreja Nacional. Idéia principal do Padre Feijó.
2.1 PADRE FEIJÓ: O CLÉRIGO MAÇOM MAIS IMPORTANTE
Padre Diogo Antônio Feijó, Deputado de São Paulo (1826), Ministro da Justiça
(1831), Senador do Rio (1833), e depois Regente do Brasil (1835-1837), não apenas se
manifestou liberal em medidas governamentais, mas chegou a combater o celibato
clerical, com uma proposta de lei. Foi sob sua influência e atitude que o governo no
Brasil fez grandes reformas nas ordens religiosas. Em sua Regência extinguiram-se
diversas congregações religiosas. Em 7 de setembro de 1830 eram suprimidas a
Congregação Carmelita e a Franciscana; em 9 de dezembro do mesmo ano, a ordem ou
a congregação do Oratório e, em 8 de março de 1835, extinguia a ordem Carmelita de
Sergipe.
Sacerdote e intelectual, [...] tentou legitimar, pela autoridade, o
casamento dos padres. Foi particularmente apoiado nesse projeto
pelos seus compratiotas paulistas: assim em 30 de junho de 1833,
conseguiu que a Assembléia Provincial solicitasse do bispo da
diocese, que, aliás, participava da idéia, a autorização do casamento
dos padres. Dois anos mais tarde, regente, pediu ao Marquês de
Barbacena, então em Londres, que providenciasse a vinda para o
Brasil de duas corporações de Irmãos Morávios, que se dedicassem a
educar nossos indígenas. Os Morávios eram os membros da ínfima
comunidade protestante que se havia encarregado, desde então, da
primeira e já importante atividade missionária organizada do
5. protestantismo. [...] Sabemos que Feijó não parou aqui, e que no
processo de nomeação do seu amigo Pe. Moura a bispo do Rio levou-o
a encarar a possibilidade da reunião de um concílio nacional que
separaria o Brasil de Roma (LÉONARD, 2002, p.45,46).
Ademais, Feijó não somente procurava uma reforma na Estrutura da Igreja
brasileira, como também sua separação de Roma. Postulava uma Igreja mais liberal, e
de certa medida a separação das instâncias religiosas e civis.
Feijó, além de entender que é ao poder civil, e não ao eclesiástico que
cabe estabelecer impedimentos matrimoniais, ainda considera o clero
grego e o protestante melhores que o católico, porque seus ministros
podem se casar. Filiando-se à corrente do catolicismo de então, que
fazia distinção no casamento entre contrato civil (de jurisdição civil) e
sacramento (de jurisdição eclesiástica), admitia que se retirasse aos
sacerdotes o imenso poder contido no monopólio do casamento
civilmente válido. Padres de São Paulo apoiaram outra iniciativa da
Câmara dos Deputados. (RIBEIRO, 1973, p.128).
2.2 O FREI CANECA1
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca era um homem de origem humilde, mas
foi educado para se tornar um intelectual típico das Luzes Ibéricas. Embora não tenha se
formado na Universidade de Coimbra, onde se formou a maior parte da elite luso-brasileira
que assumiu o poder no Brasil após a Independência, Caneca estudou no
Seminário de Olinda entrando em contato com a fina estampa do pensamento da época e
com a idéia de império luso-brasileiro de D. Rodrigo de Souza Coutinho. Saiu de lá
formado em filosofia, retórica e geometria e passou a dar aulas no Convento do Carmo.
Caneca tinha grande familiaridade com filósofos iluministas das épocas
Moderna e Contemporânea. Uma das características mais marcantes de seus textos, está
no grande número de citações de filósofos como Montesquieu e Locke além de autores
clássicos como Cícero e Tito Lívio, estando alinhado a um estilo textual próprio dos
discursos retóricos do liberalismo ilustrado de sua época. Era um homem erudito e um
artista na arte do discurso de convencer as pessoas.
Contudo, suas convicções políticas o levariam além da mera arte do
convencimento e da retórica.Condenado na devassa do movimento pernambucano de
1817, Caneca ficou preso na Bahia até a anistia de 1821. De volta a Pernambuco, já no
começo de 1822, Caneca escreve uma Dissertaçãoi, num discurso rico acerca de suas
considerações sobre pátria e cidadão. As linhas que se seguem pretendem algumas
reflexões sobre esta obra.
1 Joaquim do Amor Divino nasceu provavelmente em 1774 em Recife no bairro de Fora das Portas. Digo
provavelmente porque não constam registros de seu nascimento, mas apenas o registro no convento de
Nossa Senhora do Carmo, onde tomou hábito de frade em e de dezembro de 1796. Seu pai trabalhava
numa oficina de Tanoeiro, condição que lhe valeu a adoção de Caneca em seu sobrenome. Seus dados
bibliográficos constam em “Notícia bibliográfica sobre frei Joaquim do Amor Divino Caneca”nas páginas
introdutórias de Obras políticas e literárias de frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Coligidas pelo
Comendador Antônio Joaquim de Mello. Recife, Tipografia Mercantil do Recife, 1875, (edição fac-
Símile de 1972). A “Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres deste para
com a mesma pátria” encontra-se nas pp.181-221 do v.2 das Obras políticas e literárias de frei Joaquim do
Amor Divino Caneca.
6. Uma característica dos escritos de Caneca está nas visíveis apropriações das
idéias que inspiraram a Revolução Francesa e principalmente a Revolução Americana.
O contratualismo de Locke e o constitucionalismo de Montesquieu, parecem estar ainda
mais presentes em boa parte de sua obra. Contudo, podemos identificar também outras
influências consideráveis como as de Raynal e De Pradt, fonte de discussão de temas
como soberania nacional, pensamento ilustrado e emancipacionista.
Frei caneca situa-se como ator político que dialoga com uma sociedade que dava
seus primeiros passos no campo das discussões públicas e políticas. Nos trâmites desta
abordagem, entendemos este autor em dois momentos: o primeiro num instante um
pouco anterior à independência política de 1822, onde Caneca propõe-se a escrever uma
dissertação para unir portugueses aqui estabelecidos e os brasileiros de nascimento em
torno de um mesmo compromisso patriótico. Entendemos este posicionamento muito
condizente com a ausência de elementos que pudessem corporificar um sentimento
nacional consubstancioso para o Brasil. Em muitos textos contemporâneos a este texto
de Caneca, o uso da palavra nação apresenta conotação ainda muito ligada à nação
portuguesa.
2.3 OUTROS BISPOS, PADRES E AUTORIDADES DA IGREJA CATÓLICA
2.3.1 Cônego Januário da cunha Barbosa2
O Cônego Cunha Barboza teve importante papel no cenário político e intelectual
na primeira metade do século XIX. Atuou como bibliotecário da Biblioteca Publica da
Corte (Biblioteca Nacional), foi professor de filosofia racional de moral, editou e
participou de vários periódicos destacando-se o Reverbero Constitucional Fluminense,
além de fundar juntamente com o Marechal Raimundo José da Cunha Matos o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1838.
Em uma carta narrada em terceira pessoa, Januário faz um extenso relato sobre
suas contribuições para a independência do Brasil e conta a sua versão deste processo.
O Cônego tenta realçar o seu papel na constituição e manutenção do Império do Brasil,
seguindo o modelo retórico celebrizado por Júlio César em seu De Bello Gallico. Chega
a afirmar que foi sua a sugestão para que D. Pedro I recebesse o título de Imperador do
Brasil no lugar de apenas rei. Famoso pregador e prócer da Independência do Brasil.
O Cônego foi iniciado em 1821 na Loja Comercio e Artes, a mesma de
Gonçalves Ledo, um dos pais da Independência do Brasil. Nesta Loja, foi Orador,
Primeiro Vigilante e Venerável. Na maçonaria brasileira ocupou vários cargos no
Grande Oriente da época. Morreu em 1846 com o maior título administrativo da Igreja,
o de Monsenhor. Cônego Januário da Cunha Barbosa, falando sobre a maçonaria
diz:“Filha da ciência e mãe da caridade, fossem as sociedades como tu, ó santa
Maçonaria, e os povos viveriam eternamente numa idade de ouro. Satanás não teria
mais o que fazer na Terra e Deus teria em cada homem um eleito!”
2 Uma pesquisa mais abrangente, ver: Relação dos documentos que pertenceram a Januário da Cunha
Barboza (IHGB), doc. 53, lata 107. Lúcia Maria Pascoal GUIMARÂES. Januário da Cunha Barbosa. In:
Ronaldo VAINFAS (dir.). Dicionário doBrasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p.
394. Sobre as categorias elite brasileira e elite coimbrã , ver José Murilo de CARVALHO. A Construção
da Ordem. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ; Relume Dumará. 1997, passim. Este documento encontra-se
no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), lata 49, pasta 13. Existe uma pequena discordância
entre o trecho citado do Reverbero e o que foi publicado no periódico, a parte alterada assim figura no
periódico: Sim, Principe, Rasguemos o véo dos Mysterios, rompa-se a nuvem, que encobre o Sol, que
deve raiar na Esphéra do Brasil. Eleva, eleva o Templo da Liberdade Brasileira; formese nelle o Livro da
Lei [...] .Reverbero Constitucional Fluminense. Edição Fac-similar. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional,
2005, tomo I, p. 303.
7. 2.3.2 Padre Manoel Inácio de Carvalho
Nasceu no Recife em 1795 e morreu no Rio de Janeiro em 1851. Idealista pela
liberdade, foi anti-escravagista e anti-imperialista. Fez parte do Governo Provisório de
Pernambuco em 1821, num momento mais crítico daquela província.
O Padre Manoel Inácio de Carvalho, após considerar que a Maçonaria era a
virtude personificada, acrescentou que: “... ela não tem símbolo que não seja a
aplicação de uma verdade transcendente. Não possui um só mistério que não cubra a
prática de alguma verdade.”
2.3.3 Bispo Dom Sebastião Pinto do Rego
Nasceu em Niteroi no Rio de Janeiro em 1802, e desde cedo começou a se
interessar por assuntos de filosofia e teologia. Quando jovem iniciara seus estudos e
logo concluiu o seminário. Foi o oitavo bispo de São Paulo em 1863 a 1868 ano de sua
morte. Sabe –se que pertenceu a Loja do Rio, sendo ardoroso defensor das causas das
liberdades individuais e progressistas.
É notável o entusiasmo dos membros do clero católico para com a instituição tão
virulentamente atacada pelas autoridades eclesiásticas, mas o Bispo Dom Sebastião
Pinho do Rego mostrou ainda maior entusiasmo em sua apreciação da Maçonaria:
“Jesus Cristo instituiu a Caridade. A Maçonaria apoderou-se dela e constituiu-a sua
mestra. È sob os seus auspícios que não morre a sua Esperança e se robustece a sua
Fé. Bendita seja esta irmã da Igreja na Virtude!”
Aqui citamos apenas os clérigos católicos maçons mais importantes da historia
do Brasil, mas a lista inclui inúmeros outros como: Frei Jose de Santa Rita Durão, Padre
Jose Pereira Tinoco, Cônego Juliano Faria Lotário, Cônego e a maioria do clero das
Revoluções.
2.4 ALGUNS CLÉRIGOS PROTESTANTES
A Maçonaria especialmente a do Rito Escocês Antigo e Aceito, sempre teve a
participação ativa de clérigos protestantes, anglicanos e presbiterianos em sua maioria.
Ademais, a Igreja Anglicana sempre predominou na sociedade inglesa e Pais de Gales, a
Presbiteriana na Escócia. Esta última com 95% da população, onde a Maçonaria se
popularizou mesmo no clero mais conservador da Igreja da Escócia, ou simplesmente
Presbiteriano da Escócia.
Na Escócia, país que consolidou os primeiros regulamentos e Rito da
Maçonaria Moderna, foi iniciado naquele país um protestante calvinista sendo este o
primeiro obreiro da Loja da Inglaterra. Depois dele o Reverendo James Anderson3
popularizou a ordem e estabeleceu princípios que norteiam a Maçonaria Moderna até os
dias de hoje. Foi um clérigo presbiteriano da Escócia que criou e dinfundiu o Rito
Escocês Antigo e Aceito.
O elo do clero protestante mais forte se deu nos Estados Unidos, não somente
com presbiterianos e anglicanos, mas com batistas, metodistas e outras denominações.
A Independência Americana foi proclamada por líderes maçons e religiosos. O
líder religioso e maçom de mais destaque foi o Pastor e filósofo calvinista Reverendo
John Witherspoon.
3 James Anderson (1679-1739) foi ministro da Igreja da Escócia, foi mestre de uma Loja Maçônica e
Grande Oficial da Loja de Londres. Publicou em 1723 a Constituição Maçônica Moderna.
8. John Witherspoon (1723-1794) tornou um defensor das liberdades individuais, e
foi o único membro do clero a assinar a Declaração de Independência dos Estados
Unidos.
Clérigos americanos presbiterianos, metodistas e batistas participaram
ativamente da Maçonaria. O importante pregador George W. Truett era grau 32 (1867-
1944), foi presidente da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos entre 1927-
1929 e também da Aliança Batista Mundial entre 1934-1939. Sobre a Maçonaria,
disse:
Dos primórdios das minhas memórias, assentado no colo de meu pai
que era maçom, ouvindo suas conversas com companheiros maçons,
ficou gravada em minha impressão, desde a infância, de que a
fraternidade maçônica era uma das organizações mais conciliadoras e
preservadora da sociedade humana. Eu nunca vacilei a respeito desta
minha opinião de infância, pelo contrário, ela permanece inabalável
dentro de mim através destes ocupados e agitados anos (HORREL:
1995, p.22).
No Brasil clérigos presbiterianos e batistas sempre estiveram nas fileiras
da maçonaria, principalmente antes da República.
Quando o missionário americano Ashbel Green Simonton (1833-1867) chegou
ao Brasil, em 12 de agosto de 1859, encontrou, na então província de São Paulo,
cerca de 700 alemães dentre estes, maçons e protestantes. Sem ter onde reuni-los,
Simonton – que mais tarde lançaria as bases da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) –
aceitou a oferta de maçons locais que insistiram para que ele usasse sua
loja, gratuitamente, para os trabalhos religiosos.
O presbiteriano maçom Athos Vieira de Andrade (2006, p.8-9)4, relaciona os
mais importantes religiosos maçons da historia de sua denominação. Descreve:
Rev. Álvaro Reis (ibid), Rev. Zacarias de Miranda, conhecido como
“pena de ouro” da Igreja, respeitável líder presbiteriano que marcou a
trajetória do seu ministério na tradicional Igreja de Sorocaba, SP.
Fundador das Igrejas de Tiête, Laranjal Paulista e outras. Muitas vezes
embarcou no trem em Sorocaba, levando também o seu cavalo, e,
iniciava um longo itinerário pregando com destemor a Palavra de Deus,
enfrentando dificuldades e perseguições. Rev. Pascoal Pita missionário
em Portugal. Rev. Eudaldo Silva Lima; Rev. Jader Coelho; Presbítero e
professor Júlio César Ribeiro; os presbíteros Francisco Martins, Horace
Lane, Jairo Boy de Vasconcelos, este autor do livro “A Fantástica
História da Maçonaria”, e os pastores Aristeu Pires, Armando Ferreira,
Galdino Moreira e Jorge Buarque Lira, este último, renomado escritor,
membro da Academia de Letras de São Paulo, autor de várias obras,
dentre as quais se destaca: “A Maçonaria e o Cristianismo”. [...]
Relacionamos apenas alguns nomes, daqueles que já se foram para vida
eterna, [...] pois o rol de presbiterianos maçons que dedicaram suas vidas
à causa do Evangelho é muito extenso.
Outro presbiteriano de grande destaque na vida ministerial e maçônica é
Miguel Rizzo Junior. Ele foi maçom atuante e também foi moderador da Assembléia
4 Refere-se ao “Manifesto Presbiteriano” escrito por Atos Vieira por ocasião do Supremo Concilio da
IPB em 2006.
9. geral da Igreja Presbiteriana em 1932. Depois de Rizzo, a Igreja Presbiteriana teve um
importante nome na Maçonaria que foi o presbítero Paulo Breda Filho (1924-1991)5.
Este por muitos anos freqüentou Loja em São Paulo e na França sendo mestre atuante
nas oficinas de Lojas.
Outro maçom de destaque e da Igreja Presbiteriana Americana foi John Theron
Mackenzie, rico advogado que viveu sua vida em prool de projetos sociais, dentre
estes a doação para fundação da Escola Americana no Brasil em 1870 que depois
passou a chamar Mackenzie em homenagem a este maçom ilustre. Também existe
uma Loja Maçônica em sua homenagem na Cidade de São Paulo com o seu nome
pertencente ao GOB – Grande Oriente do Brasil.
Há registros nos EUA de que o pai e um irmão de Simonton fundador da Igreja
Presbiteriana do Brasil foram maçons do real arco, uma maçonaria de tradição Inglesa.
Com referência a Jose Manoel da Conceição, há opiniões de muitos
historiadores que o ex padre e depois ministro presbiteriano embora não pertencia à
ordem, teve uma relação próxima, devido seus parentes, tios e tios avós serem da fileira
progressista de Feijó e alguns deles na Maçonaria junto com o próprio Padre.
Segundo Atos Vieira em uma entrevista concedida por ocasião do Suprem
concilio de sua Igreja em 2002, afirmou que existiram muitos nomes que já morreram
que por não se revelarem publicamente sua condição de maçom e nem autorizar seus
descendentes ou a família, não poderam ser citados nos seus escritos. Dentre estes
relatou mais 6 presidentes do Supremo Concilio e inúmeros pastores, presbíteros e
diáconos da denominação alem de Álvaro Reis e Paulo Breda que foi Grão Mestre do
GOB/SÃO PAULO.
Os batistas do Brasil não foram diferentes de seus antecessores americanos.
As relações entre algumas denominações históricas e a maçonaria no Brasil
são antigas. Os primeiros missionários americanos que chegaram ao país se
estabeleceram em Santa Bárbara (SP), em 1871. Três anos depois, parte desses
pioneiros, entre eles o pastor Robert Porter Thomas, fundou também a Loja
Maçônica George Washington naquela cidade. O espaço abrigou, em 1880, a
reunião de avaliação para aprovação ao ministério de Antônio Teixeira de
Albuquerque, o primeiro pastor batista brasileiro. Tanto ele quanto o pastor
que o consagrou eram maçons.
5 Presb. Dr. Paulo Breda Filho era Advogado, filósofo e também empresário. Foi o primeiro Chanceler
e Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil por
oito anos.
10. i
ESTE TEXTO FOI PRODUZIDO POR MIM. É UM PROJETO FUTURO DE UM LIVRO A SER
PUBLICADO: “MAÇONARIA E RELIGIÃO”.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Athos Vieira de. O Evangelho e a Maçonaria: Uma parceria que deu certo no
Brasil. Contagem: Lithera Maciel, 2004
_________________________. Manifesto Presbiteriano, Belo Horizonte, 2006.
CALMON, Pedro. História Social do Brasil, vol.1, 2 e 3. Coleção- Temas Brasileiros. São Paulo:
Martins Fontes, 1995.
FERREIRA, Julio Andrade. Religião no Brasil. Campinas: Editora Luz Para o Caminho, 1992
GOMES, Antônio Máspoli de Araújo. Religião, Educação e Progresso. São Paulo: Editora
Mackenzie, 2000.
JAMES ANDERSON e sua Constituição: Fonte: Anderson's Constitutions, Constitutions
d'Anderson 1723, texte anglais de l'édition de 1723, introduction, traduction et notes par Daniel
Ligou, Paris, Lauzeray International, 1978
MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir: A inserção do Protestantismo no Brasil. São
Paulo: ASTE, 1995.
MORETTI, Fernando. Maçonaria nas Américas. São Paulo: Editora Escala, 2010
OBERACKER JR., Carlos H.. O Movimento Autonomista no Brasil. Lisboa: Edições Cosmos,
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OLIVEIRA, Jaime Balbino de. A Origem da Maçonaria. Prancha em pdf, Curitiba, 1998
11. PUSCH, Jaime. ABC do Aprendiz, 1994
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VILLAÇA, Antonio Carlos. História da Questão Religiosa no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco
Alves Editora, 1974.
AUTOR
Mauro Ferreira de Souza: Bacharel em filosofia, em teologia (Universidade
Mackenzie), Especialista em Filosofia Contemporânea e Historia pela
(Universidade Metodista) e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade
12. Mackenzie São Paulo.
Currículo CNPQ: http://lattes.cnpq.br/6652104071439857
FOTOS:
13. Foto tirada no dia 02 de março de 2005 no Templo da Igreja Aglicana, em Caxias do Sul- RS.
Símbolo da Igreja Ortodoxa e da Maçonaria
14. Bíblia com Símbolo da Maçonaria
O Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil em 20 de dezembro de 2007 entrega homenagem
ao Padre Erverson Faria de Melo, pároco de Trindade GO. A homenagem aconteceu na Loja
Maçônica.
15. O Livro da lei – Bíblia Sagrada no centro de uma Loja
Publicação do Livro Maçonaria e Igreja Católica
FOTOS DE MAÇONS RELIGIOSOS
16. Católicos:
Frei Caneca Padre Feijó Cônego Cunha Barbosa
Maçons Presbiterianos:
Rev. Álvaro Reis Rev. Zacarias de Miranda
Rev. Miguel Rizzo Jr Dr. John Theron Mackenzie
17. Dr. Horace Lane Presb. Julio Ribeiro Presb. Paulo Breda
Maçons Batistas Pioneiros:
Pr. Antonio T. Alburquerque Pr. Salomão Ginsburg Pr. William Buck Bagby
18. Primeiro Templo Maçônico do mundo moderno-1789 Londres
Foto tirada dentro da capela existente na Quinta da Regaleira em Portugal
Simbolismo católico tomado da Maçonaria