O texto descreve a vida e obra de Gil Vicente, considerado o fundador do teatro moderno em Portugal. Apresenta Gil Vicente como um homem com uma vida repleta de experiências que lhe deram uma visão privilegiada da sociedade portuguesa, refletida nas suas peças. Destaca-se também a enorme inovação e talento de Gil Vicente, cuja obra marcou a cultura portuguesa e europeia.
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Teste de Português
1. Teste de Português
9º ano versão 1
Grupo I
Parte A
Lê o texto seguinte.
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Deixou-nos uma herança valiosíssima: o nascimento do teatro moderno em Portugal, na Europa e no
mundo. Gil Vicente ainda hoje é um rebelde. Nunca o teatro produziu um fenómeno semelhante: apenas 30
anos de escrita e uma idolatria que perdura há quase cinco séculos. Ao ler a sua obra percebe-se porquê – e
permite-nos rever o seu lugar na história. Como Shakespeare, a vida de Gil Vicente foi superlativa.
Compositor, encenador, escritor, dramaturgo e ator, «Gil Vicente é o teatro em estado puro», diz o historiador
Vítor Pavão dos Santos.
Gil Vicente tinha uma enorme disponibilidade para o novo. Esta é, talvez, uma das suas características
mais impressionantes. Foi, até hoje, um exemplar guardião do teatro. Considerado o marco inicial do
Renascimento em Portugal e inventor do teatro, Gil Vicente tem uma história pouco conhecida. Não há
certezas sobre a data nem o local do seu nascimento (calcula-se ter sido em Guimarães ou algures nas
Beiras), mas sabe-se que teve uma vida repleta de aventuras e experiências. Ganhou, por isso, uma visão
privilegiada sobre a cultura e a sociedade portuguesas, tão bem retratadas nas suas peças. «As farsas e as
sátiras sociais de Gil Vicente são uma interpretação muito inteligente do tempo em que viveu», analisa o
historiador José Hermano Saraiva. As suas metáforas e caricaturas eram acrobacias de génio talentoso.
O dramaturgo viveu os tempos de mudança da Idade Média para o Renascimento, e a sua obra é um
reflexo disso mesmo. No trabalho de Gil Vicente lemos toda uma época onde as hierarquias e a ordem social
eram dirigidas por normas rigorosas, que começavam a ser postas em causa, a favor de uma nova sociedade
que queria subverter e questionar o poder. «O bobo da corte com grande dignidade», como lhe chama a
deputada Odete Santos, «escrevia para a corte, criticando o poder, os ricos e a própria Igreja». À semelhança
do teatro de revista dos anos 50, o teatro vicentino foi uma forma inteligente de manobrar as convenções.
(…)
Ao longo de mais de três décadas, Gil Vicente foi um dos principais animadores dos serões da corte.
Escreveu, encenou e representou mais de 40 autos. Todos motivo de estudo e ainda hoje muito
representados em Portugal e no estrangeiro. Foi ele quem inventou esta forma de arte. «Antes de Gil Vicente
não havia teatro», lembra Maria José Palla, professora universitária e fotógrafa. Um homem repleto de
sabedoria que sabia colocar as ideias em verso e em movimento.
A sua primeira peça, «Monólogo do Vaqueiro (Auto da Visitação)», data de 1502 e foi escrita e
representada pelo próprio Gil Vicente na câmara da rainha, para comemorar o nascimento do príncipe D.
João, futuro D. João III. A última, “Floresta de Enganos”, foi escrita em 1536, possível ano da sua morte. Entre
as duas, fez um percurso admirável que marcou, para sempre, as culturas portuguesa e europeia.
In “Os grandes portugueses”, www.rtp.pt (adaptado – acedido em janeiro de 2013).
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. As afirmações apresentadas de (A) a (G) correspondem a ideias-chave do texto que leste. Escreve a sequência de
letras que corresponde à ordem pela qual essas ideias aparecem no texto. Começa a sequência pela letra (F).
(A) Gil Vicente foi, ao longo de cerca de trinta anos, responsável pela produção de inúmeros autos que animaram os
serões da corte.
(B) O aspeto mais marcante de Gil Vicente é o seu interesse pela novidade.
(C) A vida de Gil Vicente foi muito rica e diversificada.
(D) Os textos de Gil Vicente espelham as mudanças resultantes da passagem da Idade Média para o Renascimento.
(E) Até hoje, a obra vicentina continua a ser representada.
(F) Gil Vicente é o responsável pelo aparecimento do teatro moderno no mundo.
(G) Na obra de Gil Vicente, encontram-se traços de uma sociedade que quer alterar a forma como se estruturava até
à época.
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2. 2. Seleciona, para responderes a cada item (2.1. a 2.4.), a única opção que permite obter uma afirmação adequada
ao sentido do texto. Escreve o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
2.1. A utilização dos dois pontos na primeira frase do texto marca
(A) uma relação causal.
(B) uma explicação.
(C) uma relação de consequência.
(D) a divisão de duas orações.
2.2. Afirma-se que Gil Vicente tem uma história pouco conhecida porque há muitas dúvidas sobre
(A) o local e a data do seu nascimento e as aventuras que terá vivido.
(B) a sua existência.
(C) a sua ligação ao teatro e o local e a data de nascimento.
(D) o seu ano de nascimento e o local onde terá vindo ao mundo.
2.3. O conector “por isso” (l. 11) assinala
(A) que a vida diversificada de Gil Vicente é uma consequência da forma como retrata a sociedade e a cultura do seu
tempo.
(B) uma relação de consequência entre a riqueza da vida de Gil Vicente e a forma como este retrata a sociedade e a
cultura do seu tempo.
(C) uma relação de consequência entre a visão privilegiada de Gil Vicente sobre a vida e a sociedade portuguesa e a
interpretação das farsas e das sátiras.
(D) uma relação de consequência entre a visão privilegiada de Gil Vicente e a sociedade portuguesa.
2.4. O teatro de Gil Vicente tem semelhanças com o teatro de revista dos anos 50 porque
(A) foi muito inteligente para a época em que foi escrito.
(B) criticava o poder, os ricos e a própria Igreja.
(C) encontrou uma forma de criticar sem ficar limitado pelas convenções da época.
(D) foi escrito para a corte.
Parte B
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Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um
broquel e uma espada na outra, e um casco debaixo
do capelo, e, ele mesmo fazendo a baixa, começou
de dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rão, ta-ri-ri-rão,
Ta-rai-rai-rai-rão, tai-ri-ri-rão,
tão-tão; ta-ri-rim-rim-rão Huha!
DIABO Que é isso, padre? Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Sou cortesão.
DIABO Sabês também o tordião?
FRADE Porque não? Como ora sei!
DIABO Pois, entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama, é ela vossa?
FRADE Por minha la tenho eu,
e sempre a tive de meu.
DIABO Fezeste bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que coisa tão preciosa!
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo.
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FRADE Mais estás bem corregido!
DIABO Devoto padre marido,
havês de ser cá pingado...
Descobrio o Frade a cabeça, tirando o capelo, e
apareceo o casco, e diz o Frade:
FRADE Mantenha Deos esta coroa!
DIABO Ó padre Frei Capacete!
Cuidei que tínheis barrete!
FRADE Sabê que fui da pessoa!
Esta espada é roloa
e este broquel rolão.
DIABO Dê Vossa Reverença lição
d’esgrima, que é cousa boa!
Começou o Frade a dar lição d’esgrima com a
espada e broquel, que eram d’esgrimir, e diz
desta maneira:
FRADE Deo gratias! Demos caçada!
Pera sempre contra sus!
Um fendente! Ora sus!
Esta é a primeira levada.
Alto! Levantai a espada!
Talho largo, e um revés! (...)
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3. 30
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FRADE Juro a Deos que nom t’entendo!
E est’hábito no me val?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Berzebu vos encomendo!
FRADE Ah, Corpo de Deos consagrado!
Pela fé de Jesu Cristo,
que eu nom posso entender isto!
Eu hei-de ser condenado?
Um padre tão namorado
e tanto dado a virtude?
Assi Deos me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
DIABO Não curês de mais detença.
Embarcai e partiremos:
tomarês um par de remos.
FRADE Não ficou isso n’avença.
DIABO Pois dada está já a sentença!
FRADE Par Deos! Essa seri’ela!
Não vai em tal caravela
minha senhora Florença.
Como? Por ser namorado
e folgar com uma mulher
se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?
DIABO Ora estás bem aviado!
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- Oh! Quantos d’aqui feria!
Padre que tal aprendia
no Inferno há-de haver pingos?
(...)
Tornou a tomar a Moça pela mão, dizendo:
Vamos à barca da Glória!
Começou o Frade a fazer o tordião e foram
dançando até o batel do Anjo desta maneira:
Ta-ra-ra-rai-rão; ta-ri-ri-ri-ri-rão;
(...)
Deo gratias! Há lugar cá
pera minha reverença?
E a senhora Florença
polo meu entrará lá!
JOANE Andar, muitieramá!
Furtaste o trinchão, frade?
FRADE Senhora, dá-me a vontade
que este feito mal está.
Vamos onde havemos d’ir,
não praza a Deos com a ribeira!
Eu não vejo aqui maneira
senão enfim…concrudir.
DIABO Haveis, padre, de vir.
FRADE Agasalhai-me lá Florença,
e compra-se esta sentença
e ordenemos de partir.
Após leitura atenta da cena do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, responde de forma clara e correta às
questões que te são formuladas.
3. O Frade apresenta-se ao Diabo dizendo: “Deo gratias! Som cortesão!“.
3.1 Apresenta a contradição que a expressão nos sugere.
3.2 Que comportamentos exibe esta personagem que comprovam a situação anterior?
4. Explica como os argumentos de acusação proferidos pelo Diabo se traduzem em expressões irónicas.
5. Que argumentos apresenta o Frade em sua defesa?
6. O Frade mostra-se arrependido da vida que levou? Justifica com exemplos do texto.
7. Atenta agora no vocabulário utilizado pela personagem principal desta “cena“.
7.1 Mostra como a linguagem que usa também está adequada à sua condição social.
8. Que condenados apresentaram argumentos semelhantes aos do Frade? Justifica a tua resposta.
9. Explica a função do Parvo nesta “cena“.
10. Na didascália inicial, na apresentação do Frade, há algo de semelhante e de diferente relativamente a uma outra
personagem, o Fidalgo.
10.1 Em que consiste essa semelhança e essa diferença?
11. Identifica os tipos de cómico presentes na “cena“ do Frade. Transcreve um exemplo de cada.
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4. Grupo II
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
1. Identifica os processos fonológicos presentes na evolução das palavras, selecionando a opção correta.
a. sabês > sabeis b. spiritu > espírito c. Parvulu(m) > Parvoo > Parvo d. i > aí e. campanairo > campanário
paragoge crase epêntese apócope metátese síncope prótese
2. Refere as classes e subclasses gramaticais das palavras destacadas presentes nas falas do Frade e do Diabo:
“Pera aquele fogo ardente/ que nom temestes vivendo.”/ “Juro a Deos que (nom) t’entendo!”
3. Indica a função sintática das expressões destacadas.
COLUNA A COLUNA B
(A) O Diabo viu o Frade chegar com uma Moça.
(B) «Furtaste o trinchão, frade?»
(C) A personagem de Gil Vicente, o Frade, representa uma classe social.
(D) O Diabo disse ao Frade que ele estava condenado.
(E) «Descobrio o Frade a cabeça»,
(1) complemento agente da passiva
(2) complemento direto
(3) complemento indireto
(4) complemento oblíquo
(5) sujeito
(6) modificador do nome apositivo
(7) predicativo do sujeito
(8) vocativo
4. Nas passagens abaixo, classifica as orações destacadas.
a. «Juro a Deos que nom t’entendo!»
b. «Assi Deos me dê saúde,/que eu estou maravilhado!.»
c. «Começou o Frade a dar lição d’esgrima com a espada e broquel, que eram d’esgrimir, [...]»
d. Este frade cometeu tantos erros que vai para o inferno.
5. Rescreve as frases abaixo, substituindo as palavras destacadas pelo pronome pessoal correspondente.
a. «e faremos um serão.»
b. «Senhora, dá-me a vontade»
Grupo III
Na Idade Média, havia quem acreditasse que a salvação da alma poderia ser comprada. Assim, quem tinha
dinheiro poderia comprar um lugar no céu, como se de uma parcela de terreno se tratasse. Do mesmo modo, esta
possibilidade assegurava a absolvição de todos os pecados, pelo que as pessoas poderiam continuar a errar.
Imagina que fazias uma viagem atrás no tempo, até à época de Gil Vicente e encontravas alguém que
acreditasse nesta realidade.
Escreve um texto, com um mínimo de 180 e um máximo de 240 palavras, onde apresentes, pelo menos, dois
argumentos que provem que esta visão da realidade é ingénua.
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