1) O documento discute a comunicação alternativa e seus desafios no cotidiano escolar, com foco na formação de professores.
2) É relatado que pesquisas mostraram que professores melhoraram suas habilidades em usar recursos de comunicação alternativa com alunos, porém ainda há assimetria nas interações e ausência de funções comunicativas complexas.
3) O documento defende que a comunicação alternativa dá voz a quem não fala, representando esperança de inclusão social desses alunos.
Comunicação Alternativa e Cotidiano Escolar: Avanços e Desafios - Profª Dra Leila Regina d´Oliveira de Paula Nunes
1. Jornada de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva: Construindo Saberes,
Refletindo a Prática SME/RJ
Comunicação Alternativa e Cotidiano Escolar:
Avanços e Desafios
Leila Regina d´Oliveira de Paula Nunes
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
2. Se você quer saber como é viver sem poder
falar, há uma forma: Vá a uma festa e não
fale. Fique mudo. Use suas mãos se quiser
mas não use papel e lápis. Papel e lápis
nem sempre estão disponíveis para uma
pessoa muda. Veja o que você vai
encontrar: as pessoas falam, falam atrás, do
lado, em volta, acima, abaixo, através e até
para você. Mas nunca com você. Você é
ignorado até se sentir finalmente como
uma peça do mobiliário”
(Rick Creech, jovem com paralisia cerebral) (Musselwhite e St.
Louis, 1988, p. 104)
3. Inclusão
Atendimento
educacional de
qualidade
Alunos com
dificuldades
motoras e de
comunicação
oral em salas
de aula
Escola:
apropriação
dos elementos
e processos
culturais e não
apenas p/
socialização
4. Necessidades
a) emprego planejado e
consistente da tecnologia
assistiva e da comunicação
alternativa/ampliada
b) formação inicial e continuada
do professor
5. Comunicação e Comunicação alternativa/ampliada
Comunicação : Processo contínuo, no qual interlocutores
mutuamente corregulam seus comportamentos, isto é, alteram suas
ações em função das ações atuais e antecipadas do outro,
possibilitando a criação conjunta de sentido (Fogel, 1993)
Comunicação Alternativa/Ampliada (CAA): Gestos manuais,
posturas corporais, expressões faciais, uso de objetos, de
pictogramas, da escrita e da voz digitalizada nas interações
comunicativas face a face
CAA: Área de conhecimento multidisciplinar destinada a prover
condições para a acessibilidade comunicativa de pessoas com
dificuldades de se expressar através da fala articulada: paralisia
cerebral, deficiência intelectual, autismo.
6. O Grupo de Pesquisa Linguagem e Comunicação
Alternativa do ProPEd da UERJ
Desde 1995: 14 projetos de pesquisa - CNPq, FAPERJ, UERJ e CAPES
20 dissertações de mestrado, 6 teses de doutorado, 16 monografias , 3 teses de
pós-doutorado, mais de 300 produções acadêmicas
Atividades de pesquisa, ensino e extensão
Laboratório de Tecnologia Assistiva/Comunicação Alternativa (LATECA)
2009, criada a homepage do LATECA – www.lateca-uerj.net/
Programas de formação de recursos humanos para introduzir a comunicação
alternativa nas escolas do ensino fundamental e de EJA
7. Pesquisas sobre formação inicial e
continuada de professores
Dando a voz através de
imagens: comunicação
alternativa para
indivíduos com deficiência
(FAPERJ 26/110235/2007)
Promovendo a
inclusão
comunicativa de
alunos não
oralizados com
paralisia cerebral e
deficiência múltipla
(CNPq 473360/2007.1)
8. Objetivos
Introduzir e avaliar os
efeitos da inclusão dos
recursos de
Comunicação
Alternativa em duas
salas de aula de uma
escola especial e de
uma escola regular
Analisar o processo
comunicativo de
alunos com
deficiência severa de
comunicação oral com
seus interlocutores na
escola e em casa no
programa de
Educação de Jovens e
Adultos do município
do Rio de Janeiro
9. Método
• leitura de textos sobre comunicação alternativa
• oferta do Boardmaker para confecção de pictogramas
• oferta de caixas de comunicação para os alunos
• sugestões de pranchas de comunicação e softwares
• demonstração do uso das pranchas para estabelecer
conversação com os alunos.
• elemento–chave : observação e análise de trechos de
sessões filmadas das professoras desenvolvendo
atividades pedagógicas e interagindo com os alunos,
conduzidas em sessões semanais de discussão com a
professora e toda a equipe de pesquisa (autoscopia)
10.
11.
12. • Profas aprenderam a elaborar e a empregar recursos
de baixa e alta tecnologia em uma diversidade de
situações
• Mudança razoável nas habilidades comunicativas e
sociais dos alunos
• Maior sensibilidade das profs às questões de
comunicação
• Disposição dos alunos em semicírculo
• Disponibilização de pranchas e cadernos de
comunicação
• Incentivo para a conversa dos alunos com os colegas
• Maior agilidade na troca de turnos da professora com
cada aluno
• Maior participação nas interações e na expressão de
pensamentos e sentimentos.
13. Contudo ...
• Assimetria de papéis nas interações
• Ausência das funções comunicativas
mais nobres como a narrativa, o
planejamento e o julgamento.
14. Pesquisas sobre formação inicial e
continuada de professores
Acessibilidade comunicativa para
alunos com deficiência: formação
inicial de professores
(FAPERJ 26/111794/2008)
(Schirmer, 2008)
15. Objetivos
• Iniciar a preparação dos graduandos para
interagir com alunos sem fala
• Desenvolver habilidades de coletar dados,
estruturar um estudo de caso e elaborar um
plano de intervenção especializada.
• Estimular parcerias entre o aluno da
graduação, o aluno com deficiência, a
família, os profissionais da escola e da
Saúde na construção do planejamento e na
resolução dos problemas
16. Método
• Metodologia Problematizadora
• Estudo realizado em várias turmas de
uma escola especial e no LATECA (UERJ)
17.
18.
19. • Inicialmente graduandos apresentavam dificuldade
em identificar as respostas dos alunos especiais.
• Graduandos solicitavam que os alunos se
expressassem, fazendo perguntas fechadas ou
abertas, sem esperar a resposta.
• Com o andamento do trabalho, graduandos
ofereceram aos alunos mais oportunidades de
manifestar opinião e fazer escolhas, apresentando
modelos e pistas, fazendo varredura das opções de
respostas gráficas e aguardando a expressão dos
alunos especiais.
• Alunos passaram a interagir com mais frequência
com os graduandos, fazendo solicitações,
respondendo perguntas e mediando relações com
outro colega, professor ou familiar.
• Crescimento no vocabulário contido nas pranchas
de comunicação.
20. Pesquisas sobre formação inicial e
continuada de professores
Tecnologia Assistiva para a inclusão comunicativa de
alunos com deficiência: formação continuada de
professores
FAPERJ 26/110047/2010
(Araujo, 2012; Correa Netto, 2012)
21. Objetivos dos 6 estudos
Ensinar professoras, estagiárias e
profissionais de Saúde a
planejar, implementar e avaliar
os efeitos da introdução da CAA
na interação e na comunicação
de alunos com paralisia
cerebral, autismo, síndrome de
Asperger e de Angelman com
dificuldades na expressão oral
22. Pesquisas: CAA na sala de aula
1 ESCOLA
ESPECIAL
3 ESCOLAS
REGULARES
1 CENTRO
ESPECIALIZADO
6 ESTUDOS
23. Método: sujeitos
4 profas.
especiais
6 profas.
regulares
7 estagiárias
1 psicóloga
1 auxiliar
profa.
5 alunos
autismo
2 alunos
14 alunos PC Asperger
e DI
24. Método: procedimentos
palestras com farto material áudio-visual
confecção de recursos de CAA
leituras e discussão de textos
demonstração de emprego da CAA junto aos alunos
apresentação e discussão sobre filmes das professoras/estagiárias em
interação com alunos
25.
26.
27.
28.
29. Resultados
• Crescente uso das pranchas de CAA, isoladamente ou
acompanhada por gestos, pelos alunos com PC e até
mesmo pelos alunos oralizados em sala de aula
• Ampliação das habilidades e funções comunicativas
dos alunos sem fala
• Maior interação com diferentes interlocutores
• Ampliação das interações entre alunos
• Melhor desempenho acadêmico dos alunos
• Favorecimento da comunicação e aprendizagem dos
alunos com autismo, Asperger e Angelman
30. Resultados
• Maior agilidade na troca de turnos da
professora com cada aluno sem fala
• Melhoria na elaboração de atividades
adaptadas e no planejamento acadêmico
pelas mediadoras
• Atitude mais favorável à inclusão do
aluno c/ autismo na escola regular
• Maior crença na intencionalidade
comunicativa de crianças c/ Angelman
31. Pesquisas sobre formação inicial e
continuada de professores
A Formação Continuada de Professores
das Salas de Recursos Multifuncionais do
Rio de Janeiro em Tecnologia Assistiva
(FAPERJ 102319/2013)
(CNPq 501388/2013-3)
32. Objetivos
Implementação e a avaliação de um programa de formação
continuada de professores da rede pública do ensino municipal
para atuação nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) de
Referência, as quais funcionarão como agentes multiplicadores
das ações formativas da Oficinal Vivencial
Mais especificamente, esses professores serão ensinados a
planejar, implementar e avaliar recursos e serviços da Tecnologia
Assistiva nas áreas ligadas à escola como: comunicação alternativa
e ampliada, acesso ao computador e atividades e materiais
pedagógicos adaptados para atender alunos do ensino
fundamental que apresentem severos comprometimentos em sua
comunicação oral, como os alunos com paralisia cerebral, autismo
e deficiência múltipla
33. 1o sem/2013 Etapa I • Caracterização e verificação do conhecimento
dos professores.
• Análise da caracterização e organização do
curso a ser oferecido.
2o sem/2013 Etapa II • Curso de formação com metodologia
problematizadora.
• Análise e avaliação da formação oferecida.
1o sem/2014 Etapa II • Curso de formação com metodologia
problematizadora.
• Análise e avaliação da formação oferecida.
2o sem/2014 Etapa
III
• Professores das SRM de Referência irão ofertar
aos colegas um curso de formação sobre TA.
• Análise e avaliação da formação oferecida por
esses professores.
1o e 2o
sem/2015
Etapa
IV
• Follow-up – sessões de observação em SRM de
professores que receberam a primeira formação.
• Análise e avaliação da formação oferecida.
37. Pesquisa na sala de aula
Dissenso entre as teorias implícitas do professor
e as teorias mais ou menos explicitas do
pesquisador.
Teorias têm a função precípua de tensionar
continuamente a prática, e é nela que as
construções teóricas são checadas.
Conduzir pesquisa numa sala de aula demanda a
construção de uma cumplicidade entre
pesquisadores e professores.
38. Significado dos pictogramas
Questão: conhecer primeiro o significado dos
pictogramas para depois utilizá-los como meio de
comunicação?
Os significados não estão inscritos nas palavras, gestos,
e demais elementos simbólicos, mas são construídos
exatamente nas negociações que ocorrem nas interações
sociais dos indivíduos com seus interlocutores
Ensino incidental (Nunes, 2000)
39. Construção compartilhada das mensagens
Expectativa da professora de que o aluno construa
independentemente suas mensagens pictográficas
Mensagens do usuário de CAA ... são, de fato, co-construídas
por ele e por seu interlocutor por meio de um processo de
negociação e construção gradual de significados através de
sucessivos turnos. Nesse sentido, competência comunicativa
não é um traço intrapessoal, mas um constructo interpessoal
40. Acessibilidade/Inclusão comunicativa
Acessibilidade comunicativa: não se restringe
à disponibilização de recursos de CAA .
Essencial é a presença de interlocutores
interessados e preparados para interagir e
acolher as mensagens da pessoa sem fala
articulada (Soto, von Tetzchner, 2003)
Inclusão comunicativa: aceitação e incen-tivo
ao emprego de formas alternativas de
comunicação, pelo aluno sem fala e por seus
interlocutores (Soto, von Tetzchner, 2003).
41. Interação de professoras e mediadoras com o
aluno sem fala
Profas. delegam às
estagiárias a
responsabilidade pela
aprendizagem,
interação e
comunicação de seus
alunos sem fala
Atuação da estagiária
pode interferir
negativamente no
envolvimento do
professora com o
aluno (Giangreco e
Broer, 2005)
42. CAA e a Linguagem
Uso da CAA impede a
linguagem e a fala?
CAA usada para desenvolver
linguagem
Desenvolvimento do pensamento,
estruturação linguística e a própria fala
43. O que realmente importa ...
... não são o sistema utilizado e os recursos
envolvidos para intermediar um diálogo
... e sim a disponibilidade e força que
depositamos na relação com o outro.
44. O grande mérito da CAA ...
... é o de dar a voz a pessoas com deficiência
/autismo para fazer escolhas e expressar seus
sentimentos e pensamentos de forma mais
transparente.
Sua utilização representa uma esperança de que
seus interlocutores possam se conscientizar do
complexo mundo interno dessas pessoas e assim
favorecer sua inserção social e o pleno gozo de seus
direitos como cidadãos.
45. O objetivo último é oferecer ...
... condições de vida mais qualificada para
pessoas que têm na Comunicação
Alternativa a janela para libertar seus
sonhos!
46. Referências
• Araújo, C. A. G. (2012). O Ensino colaborativo favorecendo a inclusão de alunos com deficiência física em Escolas do
Município do Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade do Rio de Janeiro.
• Corrêa Netto, M. M. (2012). A Comunicação Alternativa e a aprendizagem de crianças com autismo, Asperger e
Angelman: formação continuada de profissionais de Educação e Saúde. Dissertação de mestrado defendida no
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Rio de Janeiro.
• Deliberato, D. (2009). Comunicação Alternativa na escola: habilidades comunicativas e o ensino da leitura e escrita.
In: D. Deliberato, M. J. Gonçalves, E. Macedo (Orgs). Comunicação Alternativa: Teoria, prática, tecnologias e
pesquisa (pp. 264-275). São Paulo: Editora Memnon.
• Fogel, A. (1993). Developing through relationships: Origins of communication, self , and culture. Chicago: University of
Chicago Press.
• Giangreco,M. F. & Broer, S. (2005). Questionable utilization of paraprofessionals in inclusive schools: Are we
addressing symptoms or causes? Focus on Autism and other Developmental Disabilities, 20 (1), 10- 26.
• Nunes, L. R. (2000) Métodos naturalísticos para o ensino da linguagem funcional em indivíduos com necessidades
especiais. In:, E. Alencar(Org). Novas contribuições da Psicologia aos processos de ensino e aprendizagem (pp. 71-96).
São Paulo: Cortez.
47. Referências
• Nunes, L. R. (2009) Promovendo a inclusão comunicativa de alunos não oralizados com paralisia cerebral e deficiência
multipla . Relatorio de pesquisa aprovado pelo CNPq (proc. 473360/2007-1), 2009.
• Nunes, L. R. & Danelon, M. C. (2009). A pesquisa na sala de aula: um caminho acidentado. Em C. Baptista e D. Jesus (Orgs)
(2009). Pesquisa em Educação Especial: Conhecimento & Margens (pp.123-139). Porto Alegre: Mediação
• Nunes, L. R., Tubagi , S., Camelo, R. C R. , Magalhães, A . P. , Almeida, F. & Paula, K. (2003). Narrativas sobre fotos e
vídeos e narrativas livres através de sistema gráfico de comunicação alternativa. In L.R. Nunes (Org), Favorecendo o
desenvolvimento da comunicação em crianças e jovens com necessidade educacionais especiais (pp. 143-169). Rio de Janeiro:
Dunya.
• Soto, G. & von Tetzchner, S. (2003). Supporting the development of alternative communication through culturally significant
activies in shared educational settings. In: S. von Tetzchner e N. Grove (Orgs), Augmentative an alternative communication
develo26pmental issues (pp 287-299). London: Whurr
• Schlosser, R.W. (2003). Effects of AAC on natural speech development . In R. Schlosser (Org). The efficacy of Augmentative
and Alternative Communication: Toward evidenced-based practice (pp. 404- 425). Boston: Academic Press.
• Tomasello, M. (2003). Origens culturais da aquisição do conhecimento humano (C. Berliner, Trad.) S. Paulo: Martins Fontes
(Trabalho original publicado em 1999).
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