O ateliê de projetos é a abordagem pedagógica mais disseminada para aprender design fazendo design. O professor atua como um mestre que domina a prática e coloca os estudantes em situações em que eles precisam pensar como designers. O ateliê se tornou um espaço de exercício de poder disciplinar, em que os professores exigem mais do que os estudantes podem fazer. Como descolonizar essa pedagogia?
1. Descolonizando o
Ateliê de Projetos
Frederick van Amstel @usabilidoido
Design de Serviços e Design de Experiências
www.usabilidoido.com.br
DADIN - UTFPR
2. Educação pela experiência
• Experiência é uma fonte
de problemas para o
pensamento
• Experiências pobres e
desconexas não educam
• Experiências ricas
despertam o interesse
por novas experiências,
gerando conhecimento
cumulativo
John Dewey
4. Educação pela prática reflexiva
• Cada situação profissional
é diferente, portanto, não
é possível ensinar o que
fazer na prática
• O máximo que dá pra
fazer é colocar o
estudante numa situação
em que ele tenha que
praticar e refletir, tal
como um profissional
Donald Schön
5. Por centenas de anos, artistas e arquitetos aprenderam pela
interação entre mestres e aprendizes em ateliês e oficinas.
6. A partir do século XIX e XX, o ateliê de projetos foi sistematizado
por escolas como a Bauhaus.
7. O ateliê foi fundamental para consolidar a disciplina de design ao
redor do mundo. Na ESDI, se dizia que “Design se faz fazendo”.
8. Educação pela disciplina
• O ateliê se tornou um
espaço de exercício de
poder disciplinar
• Os professores não
explicam o que querem e
ainda assim se sentem à
vontade para criticar
impiedosamente os
trabalhos dos estudantes
nas sabatinas e bancas
Jeremy Till
9. Para evitar esse problema, alguns ateliês de projetos expandiram
para além da disciplina de design com o pensamento projetual.
10. Educação pelo campo
• Esse pensamento projetual
é um privilégio de quem se
habitua a trabalhar em um
campo social regido por
práticas e gostos de uma
classe social específica
• Design não é uma criação
individual, mas um
processo de produção
social que carece de crítica
Alberto Cipiniuk
11. Seria possível incluir a crítica
social no ateliê de projetos sem
transformá-lo em um ateliê de
textos acadêmicos?
12. Educação pela conscientização
• A educação bancária
deposita conteúdos na
cabeça dos estudantes
como se o conhecimento
não dependesse da
consciência do mesmo
• A pedagogia crítica
estimula o estudante a se
conscientizar do seu
conhecimento
Paulo Freire
13. Conscientização pela cultura
• A educação é o meio
primário pelo qual a
cultura se transmite e se
transforma de geração em
geração
• A consciência não é só um
produto da cultura, mas
também uma ferramenta
de produção cultural
Álvaro Vieira Pinto
14. Cultura pela antropofagia
• A cultura brasileira não
deve ser uma cópia de
culturas européias
• Para fazermos nossa
própria cultura, podemos
nos inspirar nos
Tupinambá que comeram
os colonizadores
Portugueses para
incorporá-los à sua tribo
Oswald de Andrade
15. O ateliê antropofágico no Instituto Faber-Ludens (2007-2011).
Van Amstel, Frederick M.C.; Vassão, Caio A.; Ferraz, Gonçalo B. 2012. Design Livre: Cannibalistic Interaction Design. In: Innovation
in Design Education: Proceedings of the Third International Forum of Design as a Process, Turin, Italy. - Apr 9, 2012
16. O ateliê antropofágico na PUCPR (2015-2018).
Van Amstel, Frederick M.C and Gonzatto, Rodrigo Freese. (2020) The Anthropophagic Studio: Towards a Critical Pedagogy for
Interaction Design. Digital Creativity, 31(4), p. 259-283.
17. O ateliê antropofágico na UTFPR (2019-).
Angelon, Rafaela and Van Amstel, Frederick M.C. (2021) Monster aesthetics as an expression of decolonizing the design body. Art,
Design & Communication in Higher Education, 20(1), pp. 83-102(20). - Jun 9, 2021
18.
19. Leitura e discussão do Manifesto Design Dissenso logo antes das
medidas de contenção à pandemia COVID-19.
22. A rede Design & Opressão foi fundada em 2020 por educadores em
diversas universidades brasileiras.
Van Amstel, Frederick; Batista e Silva, Sâmia; Serpa, Bibiana Oliveira; Mazzarotto, Marco; Carvalho, Ricardo Artur; Gonzatto;
Rodrigo Freese. (in press). Insurgent design coalitions: the history of the Design & Oppression network. Proceedings of the II
PIVOT 2021 Virtual Conference. Design Research Society.
23. A primeira ação da rede foi abrir um grupo de leitura semanal em um
servidor Discord, que em 2021 já tem mais de 500 membros.
24. A rede organizou uma série de transmissões ao vivo que discutiram a
relevância de autores que teorizaram a opressão para Design.
25. O grupo de estudos realizou diversos experimentos com Teatro do
Oprimido remoto, por exemplo, Teatro-Imagem com Magic Poser.
27. Após 1 mês de educação remota emergencial, a UTFPR consultou
seus estudantes e constatou que 32% tinham problemas.
28. Modelo APNP em 2021
• Entre 30-100% de encontros síncronos sem registro de
presença com necessária disponibilização de material
assíncrono equivalente
• Professores puderam escolher a plataforma de ensino
• Suspensão de desligamento por reprovações
30. Laboratório de avaliação funcionando como uma sabatina de projetos
assíncrona no Moodle.
1ª Semana
Envio de um esboço
com 10 alternativas para
um produto
2ª Semana
Avaliação por pares
com critérios definidos
pelo professor relativos
à exploração do
espaço de
possibilidades
3ª Semana
Avaliação do professor
com eventual correção
de notas por pares
33. O objeto livro se demonstrou muito interessante para motivar o fazer
durante a pandemia.
34. Ao invés de pedir que os estudantes instalassem software pirata em
seus computadores, recomendei utilizar software livre.
Gimp
LibreOffice
Inkscape
Scribus
35. Usar Canva era permitido, mas com cuidado para não reproduzir a
estética colonial sugerida por seus templates.
36. Quem tinha condições podia explorar as possibilidades de produção
caseira dos objetos.