SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 30
Baixar para ler offline
Universidade Federal de São Paulo
Escola Paulista de Medicina
Disciplina de nefrologia

Eduardo Henrique Costa Tibali – R3 nefrologia

12/11/2013


Identificação: ADRF, feminino, 42 anos, coordenadora
pedagógica, natural e procedente de SP e divorciada.



HPMA: paciente refere que há 3 semanas iniciou quadro de
inchaço nas pernas, que depois progrediu para braços,
antebraços e face; o inchaço era pior pela manhã. Além
disso, descreve astenia, ganho de 14 kg de massa corpórea e
aparecimento de espuma na urina no mesmo período.
Geral: nega febre.
Cabeça e pescoço: inchaço já referido. Nega cefaleia e
alterações visuais.
 Respiratório: nega tosse, dispneia e sibilância.
 Cardiovascular: nega DPN, ortopneia, palpitações e dor
torácica.
 TGI: sem alterações do hábito intestinal. Nega diarreia e
vômitos.
 Urogenital: sem alterações.
 Osteoarticular: sem alterações.
 Neurológico: episódio de pré-síncope há 1 semana.










Nega HAS, DM, dislipidemia e tireoidopatias.
Nega etilismo, tabagismo e uso de drogas ilícitas.
Nefrolitíase em 2013, mas sem investigação subsequente.
Episódio semelhante em 2006:
 Atendimento no Hospital Santa Catarina
 Biópsia renal com diagnóstico de @#$#@%
 Tratamento: metilprednisolona 60 mg por 3 meses com
desmame progressivo.
2007: recaída → metilprednisolona 20 mg com desmame
progressivo durante 2 anos.
2010: edema e espuma na urina, mas com remissão
espontânea.
Geral: BEG, COTE, corada, hidratada, eupneica,
acianótica, anictérica, afebril ao toque, boa perfusão
periférica e sem linfonodomegalias. Obesidade grau 1.
 Sinais vitais: PA=120x90 mmHg / FC=84 bpm / FR=18 irpm
/ SatO2=98% (ar ambiente)
 ACV: bulhas rítmicas, normofonéticas em 2 tempos e sem
sopros.
 AR: MV+ bilateralmente sem RA.
 Abdome globoso, RHA+, indolor, sem massas ou
visceromegalias.
 Extremidades: edema 3+/4+ nos membros inferiores;
panturrilhas livres. Ausência de edema nos membros
superiores e em face.






RD = 10 cm (EP = 1,8 cm)
RE = 10 cm (EP = 1,9 cm)
Ausência de fatores obstrutivos
Exames
Hb
Ht
Hemograma
Leucócitos
Plaquetas
Creatinina
Ureia
Na
K
Mg
P
Cai
Colesterol
Bioquímica
total
HDL
LDL
Triglicerídeos
Glicemia
HbA1c
Ácido úrico
Albumina
Leucocitúria
Hematúria
Urina I
Proteínas
Dismorfismo
Gasometria
venosa

25/10/2013
0,73
59
144
-

31/10/2013
15
45,9
10.900
398.000
0,65
30
141
3,9
3
1,17

314

-

60
214
198
100
6
2.000
1.100
3+
negativo

5
2,2
5.000
5.000
?
?

pH

7,287

7,368

Bicarbonato

31,8

30,8

p-ANCA Não reagente
c-ANCA Não reagente
C3
C4
FAN

174 (90-180)
64 (10-40)
Não reagente

Anti-DNA Não reagente
ENA

Não reagente

12,6 g
Proteinúria
(volume=1620
de 24 horas
mL)
HBsAg
Anti-HBc total
Anti-HBs
Anti-HCV
Anti-HIV 1/2
VDRL

Negativo
Negativo
Negativo
Negativo
Negativo
Negativo
 31/10: furosemida 20 mg-2x / diurese=1100 mL / peso=84,1 kg


01/11: indicada a biópsia renal / diurese=1200 mL / peso=84,1 kg



02/11: mantida sem corticoterapia / diurese=1300 mL / peso=83,8
kg



03/11: mantida sem corticoterapia; aguarda biópsia renal /
diurese=1300 mL / peso=83,6 kg



04/11: biópsia renal - aguardo o laudo oficial / mantém edema 2+
de mmii



05/11: alta hospitalar após o resultado da biópsia.
04/11/2013






Glomerulite mesangial proliferativa discreta
Ausência de sinais de cronicidade
Estrutura cortical parenquimatosa
preservada
IF: depósitos mesangiais de IgM

Obs: laudo compatível com a biópsia prévia.



Principal apresentação: síndrome nefrótica.
Mínimas alterações na M.O.
 GN proliferativa mesangial idiopática
 Nefropatia por IgM

 Nefropatia por C1q



Variantes da doença por lesões mínimas ou
da GESF (condições separadas?)
Variantes das doenças por lesões mínimas


Resposta inespecífica ao dano glomerular
 Proliferação celular mesangial focal
▪ (< 50% do glomérulo na M.O.)
 Proliferação celular mesangial difusa
▪ (> 50% do glomérulo na M.O.)
 Padrão também observado em outras doenças
▪ Nefrite lúpica
▪ Nefropatia por IgA
▪ GN pós-infecciosa leve


Resposta inespecífica ao dano glomerular
 Forma idiopática:
▪ Sem depósitos imunes
▪ Depósitos de IgM focais ou difusos no mesângio



Principais manifestações
 Hematúria

 Proteinúria


Hematúria
 Micro ou macroscópica

 Geralmente autolimitada
 Pode ocorrer após IVAS (não estreptocócica),

assim como a nefropatia por IgA.
 Prognóstico renal excelente


Síndrome nefrótica
 M.E.: fusão difusa dos processos podocitários.
 Idiopática
▪ 3-5% com proliferação celular mesangial difusa e sem
evidências de GESF na M.O.
 > 50% dos casos têm boa resposta à prednisona

em tempo < 8 semanas.
▪ Não-respondedores: geralmente têm remissão
espontânea em 1 ano.

 Provavelmente mais grave que a forma habitual

da doença por lesões mínimas
Variantes das doenças por lesões mínimas


GN proliferativa mesangial
 Depósitos de IgM e complemento

 Depósitos eletrodensos








Menor resposta aos corticoides
Possível resposta à ciclofosfamida
Possível resposta à ciclosporina, talvez
melhor que a CFF (estudos com N baixo).
Presença de IgM: fator de pior prognóstico?


Evolução para DRC dialítica
 23% em 15 anos



É uma doença à parte?
 Depósitos de IgM aparecem com igual

distribuição em DLM, GESF e GN proliferativa
mesangial.


A deposição de IgM é um evento secundário?
Variantes das doenças por lesões mínimas



GN com proliferação mesangial
Depósitos mesangiais de C1q (IF)
 Obrigatório: sem evidência de LES como causa!





Depósitos eletrodensos mesangiais (M.E.)
Inicialmente: subgrupo da GESF primária.
Pode estar associada a:
 Doenças por lesões mínimas

 GESF
 GN proliferativa


Apresentações
 Hematúria assintomática

 Proteinúria leve a moderada
 Síndrome nefrótica

 Grande porcentagem dos casos com DRC

concomitante
 Um percentual menor de casos com urina I sem
alterações


Nefropatia por C1q + GESF = maior chance de
progressão para DRC terminal



Sem protocolos de tratamento estabelecidos
 Tratar a lesão concomitante (DLM ou GESF, por

exemplo).
Variantes das doenças por lesões mínimas

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Glomerulonefrites na infância
Glomerulonefrites na infânciaGlomerulonefrites na infância
Glomerulonefrites na infânciaLeonardo Savassi
 
Sindromes nefrotico nefritica 18
Sindromes nefrotico nefritica 18Sindromes nefrotico nefritica 18
Sindromes nefrotico nefritica 18pauloalambert
 
Sessão clinica 16 julho
Sessão clinica   16 julhoSessão clinica   16 julho
Sessão clinica 16 julhojaninemagalhaes
 
Síndrome nefrótica iuri usêda - mr1 hgrs
Síndrome nefrótica   iuri usêda - mr1 hgrsSíndrome nefrótica   iuri usêda - mr1 hgrs
Síndrome nefrótica iuri usêda - mr1 hgrsjaninemagalhaes
 
Lesão litica sessão de raciocinio clínico
Lesão litica sessão de raciocinio clínicoLesão litica sessão de raciocinio clínico
Lesão litica sessão de raciocinio clínicojaninemagalhaes
 
Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)
Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)
Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)Leonardo Savassi
 
Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2
Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2
Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2janinemagalhaes
 
Glomerulopatias - para alunos medicina
Glomerulopatias - para alunos medicinaGlomerulopatias - para alunos medicina
Glomerulopatias - para alunos medicinaPUCPR
 
Sessão de raciocínio clínico
Sessão de raciocínio clínicoSessão de raciocínio clínico
Sessão de raciocínio clínicojaninemagalhaes
 
Apresentação raciocionio clínico
Apresentação raciocionio clínicoApresentação raciocionio clínico
Apresentação raciocionio clínicojaninemagalhaes
 
Caso Clínico Veterinário: Epilepsia Canina
Caso Clínico Veterinário: Epilepsia CaninaCaso Clínico Veterinário: Epilepsia Canina
Caso Clínico Veterinário: Epilepsia CaninaNatália Borges
 

Mais procurados (20)

Glomerulonefrites na infância
Glomerulonefrites na infânciaGlomerulonefrites na infância
Glomerulonefrites na infância
 
Síndrome Nefrótica
Síndrome NefróticaSíndrome Nefrótica
Síndrome Nefrótica
 
Sindromes nefrotico nefritica 18
Sindromes nefrotico nefritica 18Sindromes nefrotico nefritica 18
Sindromes nefrotico nefritica 18
 
Corea sydenham
Corea sydenhamCorea sydenham
Corea sydenham
 
Síndrome nefrotica
Síndrome nefroticaSíndrome nefrotica
Síndrome nefrotica
 
Sessão clinica 16 julho
Sessão clinica   16 julhoSessão clinica   16 julho
Sessão clinica 16 julho
 
Síndrome nefrótica iuri usêda - mr1 hgrs
Síndrome nefrótica   iuri usêda - mr1 hgrsSíndrome nefrótica   iuri usêda - mr1 hgrs
Síndrome nefrótica iuri usêda - mr1 hgrs
 
Lesão litica sessão de raciocinio clínico
Lesão litica sessão de raciocinio clínicoLesão litica sessão de raciocinio clínico
Lesão litica sessão de raciocinio clínico
 
Tosse 1
Tosse 1 Tosse 1
Tosse 1
 
Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)
Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)
Glomerulonefrites na infância (UFOP 2011)
 
S nefrotico
S nefroticoS nefrotico
S nefrotico
 
Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2
Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2
Sessão de raciocínio clínico 03.12.12.2
 
Glomerulopatias - para alunos medicina
Glomerulopatias - para alunos medicinaGlomerulopatias - para alunos medicina
Glomerulopatias - para alunos medicina
 
Sessão de raciocínio clínico
Sessão de raciocínio clínicoSessão de raciocínio clínico
Sessão de raciocínio clínico
 
Apresentação raciocionio clínico
Apresentação raciocionio clínicoApresentação raciocionio clínico
Apresentação raciocionio clínico
 
Caso clínico nefro 3
Caso clínico nefro 3Caso clínico nefro 3
Caso clínico nefro 3
 
Caso Clínico 2
Caso Clínico 2Caso Clínico 2
Caso Clínico 2
 
Caso clínico cg 5
Caso clínico cg 5Caso clínico cg 5
Caso clínico cg 5
 
Síndromes glomerulares
Síndromes glomerularesSíndromes glomerulares
Síndromes glomerulares
 
Caso Clínico Veterinário: Epilepsia Canina
Caso Clínico Veterinário: Epilepsia CaninaCaso Clínico Veterinário: Epilepsia Canina
Caso Clínico Veterinário: Epilepsia Canina
 

Destaque

Hipoglicemiantes orais em monoterapia mortalidade
Hipoglicemiantes orais em monoterapia   mortalidadeHipoglicemiantes orais em monoterapia   mortalidade
Hipoglicemiantes orais em monoterapia mortalidadeEduardo Tibali
 
Doença renal crônica e gestação
Doença renal crônica e gestaçãoDoença renal crônica e gestação
Doença renal crônica e gestaçãoEduardo Tibali
 
Hipertensão refratária
Hipertensão refratáriaHipertensão refratária
Hipertensão refratáriaEduardo Tibali
 
Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)
Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)
Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)Eduardo Tibali
 
Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)
Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)
Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)Eduardo Tibali
 
Nutrição enteral e parenteral no doente crítico
Nutrição enteral e parenteral no doente críticoNutrição enteral e parenteral no doente crítico
Nutrição enteral e parenteral no doente críticoEduardo Tibali
 
Infecção do trato urinário em uti
Infecção do trato urinário em utiInfecção do trato urinário em uti
Infecção do trato urinário em utiEduardo Tibali
 

Destaque (8)

Hipoglicemiantes orais em monoterapia mortalidade
Hipoglicemiantes orais em monoterapia   mortalidadeHipoglicemiantes orais em monoterapia   mortalidade
Hipoglicemiantes orais em monoterapia mortalidade
 
Doença renal crônica e gestação
Doença renal crônica e gestaçãoDoença renal crônica e gestação
Doença renal crônica e gestação
 
Hipertensão refratária
Hipertensão refratáriaHipertensão refratária
Hipertensão refratária
 
Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)
Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)
Ofidismo e insuficiência renal aguda (acidente ofídico)
 
Nefropatia por IgA
Nefropatia por IgANefropatia por IgA
Nefropatia por IgA
 
Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)
Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)
Inibidores do sglt 2 (hipoglicemiantes orais)
 
Nutrição enteral e parenteral no doente crítico
Nutrição enteral e parenteral no doente críticoNutrição enteral e parenteral no doente crítico
Nutrição enteral e parenteral no doente crítico
 
Infecção do trato urinário em uti
Infecção do trato urinário em utiInfecção do trato urinário em uti
Infecção do trato urinário em uti
 

Semelhante a Variantes das doenças por lesões mínimas

Semelhante a Variantes das doenças por lesões mínimas (20)

Terapia Nutricional no Lúpus
Terapia Nutricional no LúpusTerapia Nutricional no Lúpus
Terapia Nutricional no Lúpus
 
Febre reumática (davyson sampaio braga)
Febre reumática (davyson sampaio braga)Febre reumática (davyson sampaio braga)
Febre reumática (davyson sampaio braga)
 
Em Tempos De Dengue II
Em Tempos De Dengue IIEm Tempos De Dengue II
Em Tempos De Dengue II
 
Em Tempos De Dengue
Em Tempos De DengueEm Tempos De Dengue
Em Tempos De Dengue
 
Trabalho Professora B.A.E.pptx
Trabalho Professora B.A.E.pptxTrabalho Professora B.A.E.pptx
Trabalho Professora B.A.E.pptx
 
Etilismo Crônico
Etilismo CrônicoEtilismo Crônico
Etilismo Crônico
 
NEFROLOGIA.pptx
NEFROLOGIA.pptxNEFROLOGIA.pptx
NEFROLOGIA.pptx
 
Les 14 3ª parte
Les 14 3ª parteLes 14 3ª parte
Les 14 3ª parte
 
Les 14 3ª parte
Les 14 3ª parteLes 14 3ª parte
Les 14 3ª parte
 
Intoxicações exógenas aula
Intoxicações exógenas   aulaIntoxicações exógenas   aula
Intoxicações exógenas aula
 
Aula 3: Dra. Neysimélia Villela (Coord. do Serv. de TMO)
 Aula 3: Dra. Neysimélia Villela (Coord. do Serv. de TMO)  Aula 3: Dra. Neysimélia Villela (Coord. do Serv. de TMO)
Aula 3: Dra. Neysimélia Villela (Coord. do Serv. de TMO)
 
Caso Clínico: Fibrose Pulmonar Idiopática
Caso Clínico: Fibrose Pulmonar IdiopáticaCaso Clínico: Fibrose Pulmonar Idiopática
Caso Clínico: Fibrose Pulmonar Idiopática
 
Ricketsiose1
Ricketsiose1Ricketsiose1
Ricketsiose1
 
Síndrome de Hurler
Síndrome de HurlerSíndrome de Hurler
Síndrome de Hurler
 
PANCREATITE AGUDA CORREÇÃO.pptx
PANCREATITE AGUDA CORREÇÃO.pptxPANCREATITE AGUDA CORREÇÃO.pptx
PANCREATITE AGUDA CORREÇÃO.pptx
 
Medicina Nuclear - Cérebro (Graduação)
Medicina Nuclear - Cérebro (Graduação)Medicina Nuclear - Cérebro (Graduação)
Medicina Nuclear - Cérebro (Graduação)
 
Interpretacao leucograma
Interpretacao leucogramaInterpretacao leucograma
Interpretacao leucograma
 
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
 
Scr bild
Scr bildScr bild
Scr bild
 
Sle 2014
Sle 2014Sle 2014
Sle 2014
 

Variantes das doenças por lesões mínimas

  • 1. Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina Disciplina de nefrologia Eduardo Henrique Costa Tibali – R3 nefrologia 12/11/2013
  • 2.  Identificação: ADRF, feminino, 42 anos, coordenadora pedagógica, natural e procedente de SP e divorciada.  HPMA: paciente refere que há 3 semanas iniciou quadro de inchaço nas pernas, que depois progrediu para braços, antebraços e face; o inchaço era pior pela manhã. Além disso, descreve astenia, ganho de 14 kg de massa corpórea e aparecimento de espuma na urina no mesmo período.
  • 3. Geral: nega febre. Cabeça e pescoço: inchaço já referido. Nega cefaleia e alterações visuais.  Respiratório: nega tosse, dispneia e sibilância.  Cardiovascular: nega DPN, ortopneia, palpitações e dor torácica.  TGI: sem alterações do hábito intestinal. Nega diarreia e vômitos.  Urogenital: sem alterações.  Osteoarticular: sem alterações.  Neurológico: episódio de pré-síncope há 1 semana.  
  • 4.       Nega HAS, DM, dislipidemia e tireoidopatias. Nega etilismo, tabagismo e uso de drogas ilícitas. Nefrolitíase em 2013, mas sem investigação subsequente. Episódio semelhante em 2006:  Atendimento no Hospital Santa Catarina  Biópsia renal com diagnóstico de @#$#@%  Tratamento: metilprednisolona 60 mg por 3 meses com desmame progressivo. 2007: recaída → metilprednisolona 20 mg com desmame progressivo durante 2 anos. 2010: edema e espuma na urina, mas com remissão espontânea.
  • 5. Geral: BEG, COTE, corada, hidratada, eupneica, acianótica, anictérica, afebril ao toque, boa perfusão periférica e sem linfonodomegalias. Obesidade grau 1.  Sinais vitais: PA=120x90 mmHg / FC=84 bpm / FR=18 irpm / SatO2=98% (ar ambiente)  ACV: bulhas rítmicas, normofonéticas em 2 tempos e sem sopros.  AR: MV+ bilateralmente sem RA.  Abdome globoso, RHA+, indolor, sem massas ou visceromegalias.  Extremidades: edema 3+/4+ nos membros inferiores; panturrilhas livres. Ausência de edema nos membros superiores e em face. 
  • 6.    RD = 10 cm (EP = 1,8 cm) RE = 10 cm (EP = 1,9 cm) Ausência de fatores obstrutivos
  • 8.  31/10: furosemida 20 mg-2x / diurese=1100 mL / peso=84,1 kg  01/11: indicada a biópsia renal / diurese=1200 mL / peso=84,1 kg  02/11: mantida sem corticoterapia / diurese=1300 mL / peso=83,8 kg  03/11: mantida sem corticoterapia; aguarda biópsia renal / diurese=1300 mL / peso=83,6 kg  04/11: biópsia renal - aguardo o laudo oficial / mantém edema 2+ de mmii  05/11: alta hospitalar após o resultado da biópsia.
  • 10.
  • 11.
  • 12.
  • 13.
  • 14.
  • 15.     Glomerulite mesangial proliferativa discreta Ausência de sinais de cronicidade Estrutura cortical parenquimatosa preservada IF: depósitos mesangiais de IgM Obs: laudo compatível com a biópsia prévia.
  • 16.
  • 17.   Principal apresentação: síndrome nefrótica. Mínimas alterações na M.O.  GN proliferativa mesangial idiopática  Nefropatia por IgM  Nefropatia por C1q  Variantes da doença por lesões mínimas ou da GESF (condições separadas?)
  • 18. Variantes das doenças por lesões mínimas
  • 19.  Resposta inespecífica ao dano glomerular  Proliferação celular mesangial focal ▪ (< 50% do glomérulo na M.O.)  Proliferação celular mesangial difusa ▪ (> 50% do glomérulo na M.O.)  Padrão também observado em outras doenças ▪ Nefrite lúpica ▪ Nefropatia por IgA ▪ GN pós-infecciosa leve
  • 20.  Resposta inespecífica ao dano glomerular  Forma idiopática: ▪ Sem depósitos imunes ▪ Depósitos de IgM focais ou difusos no mesângio  Principais manifestações  Hematúria  Proteinúria
  • 21.  Hematúria  Micro ou macroscópica  Geralmente autolimitada  Pode ocorrer após IVAS (não estreptocócica), assim como a nefropatia por IgA.  Prognóstico renal excelente
  • 22.  Síndrome nefrótica  M.E.: fusão difusa dos processos podocitários.  Idiopática ▪ 3-5% com proliferação celular mesangial difusa e sem evidências de GESF na M.O.  > 50% dos casos têm boa resposta à prednisona em tempo < 8 semanas. ▪ Não-respondedores: geralmente têm remissão espontânea em 1 ano.  Provavelmente mais grave que a forma habitual da doença por lesões mínimas
  • 23. Variantes das doenças por lesões mínimas
  • 24.  GN proliferativa mesangial  Depósitos de IgM e complemento  Depósitos eletrodensos     Menor resposta aos corticoides Possível resposta à ciclofosfamida Possível resposta à ciclosporina, talvez melhor que a CFF (estudos com N baixo). Presença de IgM: fator de pior prognóstico?
  • 25.  Evolução para DRC dialítica  23% em 15 anos  É uma doença à parte?  Depósitos de IgM aparecem com igual distribuição em DLM, GESF e GN proliferativa mesangial.  A deposição de IgM é um evento secundário?
  • 26. Variantes das doenças por lesões mínimas
  • 27.   GN com proliferação mesangial Depósitos mesangiais de C1q (IF)  Obrigatório: sem evidência de LES como causa!    Depósitos eletrodensos mesangiais (M.E.) Inicialmente: subgrupo da GESF primária. Pode estar associada a:  Doenças por lesões mínimas  GESF  GN proliferativa
  • 28.  Apresentações  Hematúria assintomática  Proteinúria leve a moderada  Síndrome nefrótica  Grande porcentagem dos casos com DRC concomitante  Um percentual menor de casos com urina I sem alterações
  • 29.  Nefropatia por C1q + GESF = maior chance de progressão para DRC terminal  Sem protocolos de tratamento estabelecidos  Tratar a lesão concomitante (DLM ou GESF, por exemplo).