2. INTRODUÇÃO
Uma das obras mais valiosas do barroco brasileiro –
Prosopopéia de Bento Teixeira– traz uma rica leitura
mitológica, junto com o nativismo de Pernambuco.
Com este trabalho, temos a pretenção de conhecer mais
profundamente a obra de Bento e analisar todos os aspectos à
ela ligados, tanto no nível de compreensão textual quanto no
nível estrutural da obra.
3. APRESENTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA DO AUTOR
BENTO TEIXEIRA (1561-1600)
• Nasceu em Portugal, cristão-novo, veio para o
Brasil e instalou-se no Espírito Santo. Foi
perseguido pela inquisição e refugiou-se em Olinda.
• Foi preso após admitir sua crença judaíca.
• Escreveu “Prosopopéia” na prisão, em Lisboa.
Mas só foi publicado após sua morte.
• Só escreveu a obra durante toda sua vida.
4. EXPLICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E CONCEITUAÇÃO
DO GÊNERO EM FOCO
• “Epopéia” vem do grego épos = verso ’+ poieô = faço’
• Narrativa de fatos grandiosos e maravilhosos que interessa a um povo.
• É uma poesia objetiva, impessoal, contém a presença de um narrador
falando do passado (os verbos aparecem no pretérito).
• Episódio grandioso e heróico da história de um povo.
• Enquadra-se no gênero narrativo - é sempre um relato de
acontecimentos.
• O assunto deverá ter um carácter excepcional e um ser excepcional
• As epopéias evoluíram da Grécia e Tróia com Ilíadas e Odisséia, e
chegaram ao Brasil com Caramuru e O Uruguai.
5. EXIBIÇÃO SUPERFICIAL DO MEIO DA OBRA
• Conta-se os feitos de Jorge de Albuquerque (terceiro donatário da
capitania de Pernambuco) e de seu irmão, Duarte Coelho de
Albuquerque;
• Usa da mitologia para tratar uma guerra contra os índios na Nova
Lusitâna (Pernambuco), lutam com Vulcano.
• O poeta introduz mitologia para retratar a batalha de Alcácer-Quibir,
no Marrocos, travam uma luta com Nepturno e Tritão.
6. ESTRUTURA EXTERNA DO POEMA
• Prosopopéia foi escrito em versos decassílabos, dispostos em oitava
rima, heróicos, com 94 estrofes. Sem divisão de cantos, nem
numeração de estrofes, cheio de reminiscências, imitações, arremedos
e paródias dos Lusíadas.
7. ESTRUTURA INTERNA DO POEMA
• Proposição (estrofe 1): O poeta começa chamando o seu compatriota,
Jorge de Albuquerque, ressaltando sua personalidade firme. Declara seus
feitos contra os inimigos.
• Invocação (estrofe 2-6): Bento dispensa as musas da tradição como fonte
de inspiração católica e invoca Jorge, para exercer sua obra.
“(...) Aquele chamo só, de quem espero
A vida que se espera em fim de tudo”
(II)
“(...) Que eu canto um Albuquerque soberano,
Da Fé, da cara Pátria firme muro
(I)
“(...) E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta
A Estirpe d'Albuquerques excelente.”
(III)
8. • Narração (estrofe 7-16): Aqui ele concretiza tudo que apresentou na
“Proposição”
• Dedicatória (Localizada no Prológo): É a parte em que ele oferece,
humildemente, o poema a Jorge de Albuquerque.
“...receba minhas Rimas, por serem as primícias com que tento servi-lo. “
• Epílogo (estrofe 94): Conclui-se o poema.
“(...) Eu que a tal espetáculo presente
Estive, quis em Verso numeroso
Escrevê-lo por ver que assim convinha...”
(XCIV)
9. • Plano mitológico: Bento utiliza da mitologia pagã clássica, esse
recurso é mais uma forma de o poeta engrandecer os feitos de Jorge.
“(...)Quando ao longo da praia, cuja area
É de Marinhas aves estampada, (...)
Do mar cortando a prateada vea,
Vinha Tritão em cola duplicada,
Não lhe vi na cabeça casca posta
(Como Camões descreve) de Lagosta “
(X)
“Toca a Trobeta com crescido alento,
Engrossa as veas, move os elementos,
E, rebramando os ares com o acento,
Penetra o vão dos infinitos assentos.
Os Pólos que sustem o firmamento,
Abalados dos próprios fundamentos,
azem tremer a terra e Ceo jucundo,
E Neptuno gemer no Mar profundo.”
(XIV)
ESTRUTURA DA NARRAÇÃO
10. • Plano nativista: O poema conta com uma seção denominada
“Descrição do Recife de Pernambuco”, na qual o poeta exalta o
nativismo de Pernambuco, mais especificamente de Olinda, por qual o
poeta andou um tempo.
“(...)Mas, enquanto te dão a sepultura,
Contemplo a tua Olinda celebrada,
Cuberta de fúnebre vestidura,
Inculta, sem feição, descabelada. “
(XCI)
“(...) E a opulenta Olinda florescente
Chegar ao cume do supremo estado.
Ser de fera e belicosa gente
O seu largo destricto povoado;
Por nome ter Nova Lusitânia,
Das Leis isenta da fatal insânia. “
(XXVI)
11. • Plano indianista: Quanto aos índios, o autor adota a ótica do
colonizador, na qual propõe que os índios devem ser domados. No
poema eles são bárbaros descendentes de Vulcano, tratados com
desprezo na obra.
“Porque Lémnio cruel, de quem descende
A Bárbara progênie e insolência,
Vendo que o Albuquerque tanto ofende
Gente que dele tem a descendência,
Com mil meos ilícitos pretende
Fazer irreparável resistência
Ao claro Jorge, varonil e forte,
Em quem não dominava a vária sorte.”
(XLV)
“O Princípio de sua Primavera
Gastarão seu destrito dilatando,
Os bárbaros cruéis e gente Austera,
Com meio singular, domesticando(...)”
(XXX).
12. • Plano do poeta: Bento expressa suas considerações pessoais no início e no
final do poema, sempre ressaltando sua dedicação da obra à Jorge de
Albuquerque.
“Aqui deu [fim] a tudo, e brevemente
Entra no Carro [de] Cristal lustroso;
Após dele a demais Cerúlea gente
Cortando a vea vai do Reino acoso.
Eu que a tal espetáculo presente
Estive, quis em Verso numeroso
Escrevê-lo por ver que assim convinha
Pera mais Perfeição da Musa minha.”
(XCIV)
“Imagem da vida e feitos memoráveis de vossa
mercê, quis primeiro fazer este riscunho, pera
depois, sendo-me concedido por vossa mercê, ir
mui particularmente pintando os membros
desta Imagem, se não me faltar a tinta do favor
de vossa mercê, a quem peço, humildemente,
receba minhas Rimas, por serem as primícias
com que tento servi-lo.”
(Epílogo)
13. • Plano da exaltação: A prosopopéia de onde Bento Teixeira tirou o
nome, foi de uma fala de Proteu, profetizando o Post Facto, que
significa os feitos e as fortunas dos Albuquerques, exageradamente
idealizados pelo poeta.
“(...)Cousas que Deos eterno e ele cura,
E tornando ao Preságio novo e raro,
Que na parte mental se me figura,
De Jorge d’Albuquerque, forte e claro,
A despeito direi da enveja pura,
Pera o qual monta pouco a culta Musa,
Que Meónio em louvar Aquiles usa.”
(XXXIX)
“(...)Vereis seu Estandarte derribado
Aos Católicos pés victoriosos,
Vereis em fim o garbo e alto brio
Do famoso Albuquerque vosso Tio.”
(IV)
14. ESTÉTICA DA OBRA
• Personagens: Jorge D’Albuquerque, Duarte Coelho Albuquerque,
Jerônimo, Vulcano, Tritão, Proteo, Nepturno, dentre outros seres
mitológicos, D. Sebastião, mouros e índios.
• Cenário: Nova Lusitâna, Olinda, Lisboa, Marrocos.
• Tempo: Tudo acontece em 24 horas.
• Estrutura do poema:
1. Prólogo
2. Narração
3. Descrição do Recife de Pernambuco
4. Epílogo
5. Soneto per ecos, ao mesmo Senhor Jorge d’Albuquerque Coelho
15. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Prosopopéia, Bento Teixeira, 1600.
A Prosopopéia de Bento Texeira, 1997.
MOISÉS, Massaud – História da Literatura Brasileira, 3 vols., S.
Paulo, Cultrix, 2001