O documento apresenta informações sobre o período barroco no Brasil colonial, abordando suas características artísticas e estilísticas, bem como aspectos sociais e políticos da época. Destaca importantes artistas como Aleijadinho e seus trabalhos em Ouro Preto, além de poetas como Gregório de Matos e seus versos satíricos que criticavam autoridades. Apresenta também trechos do famoso Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira.
2. Arte Barroca
Um conjunto de manifestações artísticas que representam a transformação do conceito
renascentista de arte.
Marcada pela exuberância, explendor, desequilíbrio, riqueza dos detalhes e ornatos.
Artista: Peter Paul Rubens, pintura à óleo (1630),
45×66 cm
3. Jan Vermeer, c. 1665-1667
Detalhe de o Cristo do
carregamento da Cruz, por
Aleijadinho
4. o Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, (Ouro Preto, ca. 29 de agosto de 1730 ou, mais
provavelmente, 1738 — Ouro Preto, 18 de novembro de 1814) foi um importante escultor, entalhador e
arquiteto do Brasil colonial.
Igreja de São Frascisco de Assis, Ouro
Preto – MG.
Interior da igreja
5. Sociedade barroca
o A sociedade é marcada pelas reações da Igreja e das monarquias absolutistas ao processo revolucionário
instaurado pelo Renascimento e pela Reforma;
o O homem barroco vivia um estado de tensão e desequilíbrio;
o A igreja se demonstra repressiva, apoiada pelas monarquias;
o Concílio de Trento (1545 – 1563):
Restabelece normas doutrinais e morais rígidas, reativando a Inquisição, com suas práticas de perseguição e
tortura aos considerados hereges;
o Instaura o Index Libri Improbi (1571), lista de obras de leitura proibida aos católicos;
o Martinho Lutero e João Calvin divulgavam pensamentos reformistas;
o Barroco se torna a arte da Contra-Reforma;
o Companhia de Jesus, fundada em 1540, assume o controle das principais escolas e universidades,
impondo a filosofia escolástica medieval e dogmática.
6. Portugal e Brasil sob domínio espanhol
o A expansão ultramarina levou Portugal a uma economia de especiarias e, nesse período, houve
duas grandes crises que abalou a autonomia portuguesa: o comércio das especiarias orientais
entra em declínio e o então rei D. Sebastião leva adiante um sonho megalomaníaco de expandir o
território português, anexando-lhe o norte da África. O jovem rei parte em batalha a Alcácer-
Quibir e desaparece.
oDois anos depois, D. Filipe II, rei da Espanha, é proclamado monarca de Portugal e estabelece a
Península-Ibérica, a Espanha passa a comandar Portugal até 1640, quando Portugal recupera a
autonomia.
o Com essa crise, origina-se em Portugal o mito do sebastianismo – crença de que D. Sebastião
voltaria e tornaria Portugal novamente uma potência mundial.
o No Brasil colônia, as relações entre Espanha e Holanda eram tensas e, na tentativa de proteger o
comércio açucareiro, os holandeses invadem a área produtora do Nordeste.
7. Dualismo existencial
oPor causa das circunstâncias, o homem barroco teve uma vida tensa, tornando-se dividido e
angustiado. Ele assume diante da vida atitudes duplas e contraditórias, conciliando o
antropocentrismo renascentista com o teocentrismo medieval/contra-reformista.
oTemos então:
oRazão x fé, matéria x espírito, efêmero x eterno, vida terrena x vida celestial, vida x morte,
pecado x perdão – desfruta dos prazeres da vida, mas assegura a felicidade eterna se
reaproximando da Igreja;
8. “Delírios da Natureza”
Em um ponto muito me alegro, e me entristeço,
Choro,e rio, ouso, e temo, vivo, e morro,
Caio, e grito, contemplo, e não discorro,
Parto, efico, não vou e me despeço.
Lembrando-me de mim, de mim me esqueço,
Ora fujo, ora torno, paro e corro,
Já atado, já solto, preso, e forro,
Lince, e cego, me ignoro, e me conheço.
Eu mesmo me acredito, e me desminto,
Eu mesmo agravo o mal, e peço a cura,
Eu mesmo me consolo e me ressinto.
Saiba, pois, toda a humana criatura,
Que, para escapar deste labirinto,
Há de fugir às mãos da formosura.
(Francisco de Pina e Melo, Rimas, 1a parte, 1725)
9. Dualidade Estilística
o O barroco é marcado pela intensa elaboração formal, uso de várias figuras de estilo: metáforas,
antíteses, hipérboles, hipérbatos, paradoxo;
oManifesta-se pelo cultismo (predominante na poesia) – o autor envolve o leitor por meio de
estímulos sensoriais;
oE pelo conceptismo (predominante na prosa) – o autor seduz o leitor por meio de um
envolvimento intelectual, as palavras são exploradas em sua esfera argumentativa.
10. “A Uma Crueldade Formosa”
(Madrigal)
A minha bela ingrata
Cabelo de ouro tem, fronte de prata,
De bronze o coração, de aço o peito;
São os olhos reluzentes
(Por quem choro e suspiro,
Desfeito em cinza, em lágrimas desfeito),
Celestial safira;
Os beiços são rubins, perlas os dentes;
A lustrosa garganta
De mármore polido;
A mão de jaspe, de alabastro a planta.
Que muito, pois, Cupido,
Que tenha tal rigor tanta lindeza,
As feições milagrosas,
Para igualar desdéns a formosuras,
De preciosos metais, pedras preciosas,
E de duros metais, de pedras duras?
Autor: Frei Jerónimo Baía (1620/30-1688)
11. Gregório de Matos (Salvador, 1625 –
Recife, 1695)
o Filho de pai português e mãe baiana, foi educado inicialmente pelos jesuítas de Salvador.
Exerceu advocacia, entremeada com empregos oportunistas. Tinha a fama de mulherengo,
boêmio e tocador de viola.
o Recebeu o apelido de O boca do inferno, pela forma como “homenageou” as autoridades e as
instituições baianas em sua poesia satírica.
o Suas poesias surpreendem até hoje pela vitalidade criativa e a variedade temática. A face mais
conhecida da poesia de Gregório de Matos é aquela revelada por suas sátiras. Ridicularizando
autoridades e instituições, demolindo preconceitos e tabus histórico-sociais. Mas, ele não foi só
poeta satírico, escreveu também poemas amorosos e religiosos, utilizando o jogo de contrastes.
12. Abaixo veremos uma poesia de Gregório de Matos, em que ele não poupa o governador-geral Antônio de Sousa de
Menezes, que era a mais importante autoridade no Brasil da época. (Menezes era conhecido como o “Braço de
Prata”, pois usava uma peça desse metal para substituir o braço perdido numa batalha naval contra os invasores
holandeses.)
Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.
A fortunilha autora de entremezes
Transpõe em burro o Herói, que indigno cresce
Desanda a roda, e logo o homem desce,
Que é discreta a fortuna em seus reveses.
Homem (sei eu) que foi Vossenhoria,
Quando o pisava da fortuna a Roda,
Burro foi ao subir tão alto clima.
Pois vá descendo do alto, onde jazia,
Verá, quanto melhor se lhe acomoda
Ser homem em baixo, do que burro em cima.
13. Padre Antônio Vieira ( Lisboa, 1608 –
Salvador, 1697)
o Nascido em Portugal, dois terços da vida de Antônio Vieira, no entanto, se passaram no Brasil, para
onde sua família se mudou, quando ele tinha sete anos. Estudou no Colégio de Jesuítas de Salvador e,
em 1623, tornou-se noviço dessa ordem religiosa.
o Vieira estreo como pregador em 1633, ocupando o púlpito da igreja da Conceição, em Salvador, para
se dirigir aos senhores de engenho, censurando-os por explorarem os escravos.
oO tema da escravidão será muito frequente nos sermões do Padre. A qualidade de seu texto serve
como ponto de referência para todos os que tratam a palavra com instrumento de arte. Ele sempre
procurou usá-la com inteligência e elegância, além de buscar a persuasão inerente à retórica, arte do
bem falar.
o A estrutura dos Sermões segue o plano tradicional:
oTema (evocação da passagem bíblica), introito (exposição do plano geral do sermão), invocação
(pedido de inspiração, geralmente feito à Nossa Senhora), argumentação (desenvolvimento do texto) e
peroração (conclusão, reafirmação das verdades morais expostas no sermão).
14. Sermão da Sexágésima (1655):
O sermão, dividido em dez partes, é conhecido por tratar da arte de pregar. Nele, Padre Antônio Vieira condena
aqueles que apenas pregam a palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a palavra de Deus era como uma
semente, que deveria ser semeada pelo pregador. Por fim, o padre chega à conclusão de que, se a palavra de Deus
não dá frutos no plano terreno a culpa é única e exclusivamente dos pregadores que não cumprem direito a sua
função.
“Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que "saiu o pregador evangélico a semear" a palavra divina. Bem
parece este texto dos livros de Deus ão só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no
dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. (...) Entre os semeadores do
Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão
pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos
terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão
buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah
pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare. (...) Ora, suposto
que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do
ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de
Deus? (...)”