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3.1 Por que razão as pessoas boas sofrem?
  “Job era um homem próspero. Possuía terras e gado e tinha uma família
que incluía dez filhos, aos quais ele era dedicado. Ele era um bom
homem, generoso para os seus vizinhos e líder da vida religiosa da sua
comunidade. Esta combinação de riqueza e virtude faziam dele o homem
mais admirado da região. Depois tudo correu. As suas terras foram
invadidas por estrangeiros, que mataram os seus criados e levaram a maior
parte do seu gado. Um incêndio destruiu o resto, deixando-o na pobreza.
Pouco depois, uma tempestade fez a sua casa desabar, matando todos os
seus filhos. De seguida, o próprio Job contraiu uma doença que o deixou
coberto de chagas, tão desfigurado que as pessoas não conseguiam
reconhece-lo.
  Quando os amigos de Job vieram reconforta-lo, a sua piedade depressa se
transformou em acusação. Eles eram pessoas devotas não podiam
acreditar que Job nada fizera para merecer os seus infortúnios.
Seguramente, pensaram, Deus não permitiria que Job sofresse caso ele não
merecesse. “Será que Deus perverte a justiça?”,perguntou um deles. “Deus
não iria rejeitar um homem inocente, nem tomar partido pelos mal
feitores.” Outro disse-lhe: “Fica a saber que Deus cobra de ti menos do que
a tua culpa exigiria”. Mas Job sabia estar inocente. Ainda assim, não
Esta história é narrada no Livro de Job, um antigo texto judaico que
faz parte da bíblia cristã. É o documento mais antigo em que o
problema do mal é colocado com clareza. A existência do mal não será
“problema” se assumirmos uma perspectiva religiosa do mundo. A
partir de um ponto de vista antigo, não é difícil explicar porque ocorrem
coisas más. O mundo não foi concebido para nosso benefício. Os raios
causam incêndios, as forças geológicas causam terramotos, os
micróbios causam doenças. Se acontece estarmos no seu caminho isso
não passa de azar. Isto parte do sofrimento de Job e a depravação
humana explica o resto.
  Não há aqui qualquer mistério, pois não estamos à espera do que o
mundo seja justo.
  Os desastres atingem os virtuosos e os perversos da mesma forma.
Podemos não gostar que as coisas correm desta forma mas a vida é
assim mesmo.
O problema surge quando pensamos que o mundo está sobre o
controlo de Deus. Assim existe uma tensão entre:

a)o mundo estar sobre o domínio de um ser perfeitamente
bom, omnisciente e omnipotente, como Deus , e
b) haver mal no mundo. Um ser perfeitamente bom não desejaria que
acontecessem coisas más. Não desejaria que as crianças desenvolvessem
leucemia, que as catástrofes fizessem os edifícios desabar sobre as
pessoas ou que os terroristas matassem inocentes. Em vez
disso, desejaria impedir a ocorrência, dessas coisas, se pudesse faze-lo.
  Mas elas ocorrem.
Como se explica isso?

  Os filósofos distinguem se por vezes o problema lógico do mal do
problema probatório do mal.
  O problema lógico consiste em Deus e o mal parecem incompatíveis: se
o mal existe, então um Deus omnipotente, omnisciente e perfeitamente
bom não pode existir. Mas é possível responder que não há aqui qualquer
contradição, já que Deus pode ter uma boa razão para permitir o mal. Isso
resolveria o problema lógico. Mostraria que a crença em Deus não é
logicamente do reconhecimento da existência do mal.
  No entanto, o problema probatório continuaria a colocar-se. O
problema probatório é ainda a existência do mal que constitui uma prova
que Deus não existe.
Vamos supor que encontramos as impressões digitais de uma certa
pessoa numa arma que foi usada para cometer um crime. Isso constitui
uma forte prova que foi ela que cometeu o crime, embora seja
consequentemente possível que ela tenha caído numa cilada. Não
havendo desenvolvimentos na investigação, as impressões digitais
tornam muito provável que seja ela assassina, pois as impressões
apontam na sua direcção.
  Da mesma forma, a existência do mal pode contrariar a crença em
Deus, mesmo que não prove conclusivamente a sua inexistência. O
facto de existir tanto mal no mundo torna a existência de Deus ainda
menos provável.
Este é o problema mais difícil que se coloca à crença religiosa teísta. Por
isso, os pensadores religiosos tentam responder há séculos à questão de
Job:
Por que razão permite que aconteça coisas terríveis?
3.2 Deus e o mal
   Há uma tradição longa e distinta de filósofos
que defenderam a crença religiosa ortodoxa.
Virtualmente todos os pensadores importantes
aceitavam uma visão do mundo teísta e
trabalhavam no seu interior. Na sequencia no
Iluminismo, os filósofos foram atraídos pela
visão do mundo da ciência moderna e
começaram a desenvolver formas mais seculares
de entender o mundo.
  Hoje a investigação filosófica costuma ser
conduzida independentemente da religião.
Embora “filosofia e religião” estejam ligados no
                                                   Deus
espírito popular como se fosse dois aspectos do
mesmo assunto, a maioria dos filósofos não
estabelece tal conexão.
  Os filósofos vêem a filosofia como um assunto
independente.
Alvin Plantinga um filosofo cristão foi um
dos primeiros a seguir esse movimento.
Plantinga distingue dois tipos de resposta
teísta ao problema do mal : uma defesa e
uma teodiceia.
  A defesa é uma demonstração de que a
existência de Deus é logicamente compatível
com a existência do mal. Uma defesa não
pretende revelar o verdadeiro plano de Deus
para a Criação, mas visa mostrar que os
teístas que reconhecem a existência do mal
não cometem uma contradição lógica.
  Uma teodiceia é mais ambiciosa, tenta
justificar as “relações de Deus com o          Filósofo Alvin Plantinga
homem”, explicando o lugar do mal no
verdadeiro plano em que Deus tem para o
mundo. Plantinga não acredita que
possamos oferecer uma teodicia, já que não
conhecemos a mente de Deus.
Porém, ele, diz que não é necessário temos uma teodiceia mas que
precisamos apenas de uma defesa para permitir que as pessoas religiosas
mantenham a sua fé.
O problema desta distinção é que uma defesa exige o suficiente e uma
teodiceia exige demasiado.
  É fácil oferecer uma defesa: podemos simplesmente observar que Deus
pode ter uma razão para permitir o mal, ainda que essa razão nos
ultrapasse. Ficaremos por aqui se estivermos interessados só em defender
a crença religiosa da acusação da inconsistência. Também estamos
interessados em saber no que é razoável acreditar .

 Será que a existência de tanto mal faz com que não seja razoável
acreditar em Deus?

 Será que a existência do mal constitui uma prova de crença falsa?
Na opinião de Plantinga, para defender este problema não basta só
apresentar a defesa mas também apresentar uma teodiceia completa
não é necessário. Precisamos algo que esteja entre a defesa e a teodiceia.
Precisamos de uma explicação plausível que nos diga porque razão um
Deus perfeitamente bom e omnipotente pode permitir mal, mesmo
que não tenhamos a certeza que Deus o permite.

  Na verdade já se propuseram ideias desse tipo, apresentaram se três
ideias para explicar por que razão Deus pode permitir a razão do mal.
A ideia de que a dor é necessária
enquanto parte do sistema de alerta do
corpo.
  A noção do “mal” parece ser misteriosa e
pode ser difícil dizer com certezas o que é o
mal. Mas é com facilidade que se apresenta
exemplos e que todos aceitaríamos. O
exemplo mais é obvio é a dor
física, especialmente a dor longa e intensa.
Conta se que os torturadores estão entre as
pessoas mais desprezíveis , pois infligem essa
dor.
  Mas será que Deus é um torturador?
  Considere-se que um bebé nasceu com uma        Bebés com epidermólise bolhosa

doença de pele genética que provoca bolhas
por todo o corpo, de tal forma que o bebé não
pode ser agarrado sem sentir dor. Se Deus
criou o mundo e tudo o que nele existe, então
crio a epidermólise bolhosa e permite que os
bebés estejam sujeitos a sofrer desta doença.
Que justificação poderá existir para isto?
  Podemos observa que a dor tem um propósito: faz parte do nosso
sistema de alerta do corpo, ou seja, alerta-nos para o perigo. Imagine-se
o que aconteceria se não conseguíssemos sentir dor. Quando pomos a
mão num forno a escaldar, por acidente, a dor leva-nos a afasta-la
impedindo nos de nos queimar. Por isso se não conseguíssemos sentir
dor estaríamos muito pior. A nossa mão seria destruída. O mesmo se
pode dizer de outras experiencias, como o medo. O medo leva-nos a
afastar-nos do perigo. Portanto, poder-se-á dizer, Deus deu-nos a
capacidade de sentir dor e medo para o nosso próprio bem.
  Este argumento até um certo ponto é persuasivo mas não resolve o
problema.
A dificuldade é que a dor e o medo são mecanismos imperfeitos para
evitar o perigo. Não parecem ter sido gerados para este fim. Por vezes
precisamos de um aviso mas não há sinais de dor, como por exemplo:
um envenenamento por monóxido de carbono pode afecta-nos sem
aviso. A dor que acompanha o cancro no esófago pode dizer-nos que se
passa algo de errado mas a questão não nos traz qualquer beneficio , não
é como um forno do qual nos podemos afastar. Assim a vitima sofre
desnecessariamente. Ainda noutras situações a dor pode ser tão intensa
que nos deixa debilitados, impedindo-nos de fugir do perigo.
  São estes factos que não se encaixam na hipótese que Deus criou a dor
para nos proteger.
  Por fim, mesmo que poder sentir dor seja bom, isso não explica por
que razão Deus criou fontes de dor como a epidermólise bolhosa.
Uma mãe que pergunte por que razão permite que o seu bebé sofra desta
doença dificilmente encontrará uma resposta se lhe disserem que a dor
faz parte do sistema de alerta do corpo do bebé.
A ideia de que o mal é necessário para que possamos apreciar
o bem.
  Santo Agostinho observou, que se nada de mau acontecesse, não
poderíamos conhecer e apreciar o bem. Esta observação é
parcialmente lógica e psicológica.
  Logicamente, na ausência do conceito de mal não poderia haver
uma concepção de bem. Não poderíamos sequer saber o que é o bem
se não tivéssemos o mal para servir de comparação. Além
disso, psicologicamente, se nunca sofrêssemos, tomaríamos as
coisas boas por garantidas e não desfrutaríamos tanto.
Como poderíamos reconhecer e desfrutar a saúde se não existisse
doença?
 No entanto apenas explica por que razão Deus poderia permitir a
existência de algum mal. De facto podemos precisar que de vez em
quando nos aconteça alguma coisa má mas apenas para não nos
podermos esquecer de que somos tão afortunados.
 Contudo, isso não explica por que razão há tanto mal no mundo. O
problema é que o mundo contem muito mais mal do que é necessário
para se apreciar bem. Por exemplo, se o numero de pessoas que morrem
de cancro por ano fosse reduzido para metade, isso seria ainda suficiente
para apreciamos a saúde. E como já temos que lidar com o cancro não
precisamos de outras doenças como a sida, da paralisia cerebral, etc.
A ideia de que o mal é um castigo pela conduta imoral.
  Os amigos do Job acreditavam que acreditavam que ele devia ter feito
algo para merecer o seu sofrimento, já que um Deus justo “não rejeitaria
um homem inocente”.
  Por isso, Job devia merecer o que lhe aconteceu.
  A ideia de que o mal é um castigo, veio da historia da Criação do
Génesis. Essa historia diz que os seres humanos habitavam num mundo
sem mal. Os primeiros seres humanos, Adão e Eva, revelaram-se contra
Deus e por isso foram expulsos do Paraíso. A ideia que esta historia
passa é que todos nós somos pecadores e que a nossa presença num
mundo com o mal se explica de algum modo por esse facto.
  Sofremos porque fizemos algo para o merecer.
O que havermos de fazer com esta ideia?
  Essa ideia fazia sentido se existisse alguma relação entre o nosso
carácter moral e a nossa sorte. Então se o mal é um castigo pelo
pecado, deveríamos esperar que os piores pecadores sofressem os piores
castigos. Mas não existe tal correlação. O Desastre atinge os virtuosos e
os perversos da mesma forma, sem qualquer consideração manifesta
pela sua virtude. Algumas das melhores pessoas desenvolvem
cancro, enquanto algumas das piores pessoas passam pela vida sem
problemas.
  E o que dizer dos bebés inocentes, que por vezes sofrem de
doenças terríveis e morrem de forma horríveis?
  A doutrina do pecado original foi introduzida no pensamento cristão
em parte para lidar com este problema. Segundo esta teoria, todos nós
nascemos em pecado, pelo que mesmo os bebés são pecadores.
Contudo, se com isto se pretende dizer que um bebé recém-nascido
merece sofrer de epidermolose bolhosa, podemos apensas admirar-nos
com a obtusidade moral que levaria a alguém a pensar tal coisa.
 O problema profundo de usar o conceito de pecado desta maneira é
que, assim ser pecaminoso não é algo que esteja ligado àquilo que uma
pessoa ou faz efectivamente. No sentido moral comum, aquilo que uma
pessoa merece depende do seu comportamento.
  Se o leitor merece um mal, deve ter feito algo para o merecer. Não há
duvidas de que todos nós nos comportamos mal uma vez ou outra, pelo
que talvez cada um de nós mereça um certo grau de retribuição. Mas não
merecemos contrair uma doença horrível caso não tenhamos feito algo
bastante horroroso, e um bebé nada fez de mal.
  Logo, embora esta concepção de “pecado” possa ter alguma importância
religiosa, pouco tem haver com o mérito moral.
Como Job sabia, é falso que as calamidades sejam merecidas.
3.3 Livre-arbítrio e carácter moral

   A ideia que o mal resulta do livre-arbítrio humano, diz-se que Deus
poderia ter feito o mundo sem pessoas.
   O mundo poderia ter sido um lugar belo, com montanhas
, rios, animais mas no entanto Deus incluir-nos também no mundo.
   Os seres humanos são especiais, são agentes morais , capazes de
escolher o tipo de pessoas que serão e são responsáveis pelas suas
escolhas.
   São capazes de desenvolver diversos sentimentos como o amor e a
amizade , bem como de delinear e realizar grandes coisas.
   Assim , o mundo sem seres humanos seria mais pobre.
   É por esta razão que a humanidade faz parte do plano de Deus.
Contudo existe um problema: para sermos agente morais , Deus teve
de nos conceder livre-arbítrio, isto é, os seres humanos são especiais
devido á liberdade.
  No entanto, ao termos a possibilidade de fazer escolhas livres, Deus
deixou a possibilidade de fazermos por vezes escolhas más.
Ele não poderia dar nos o livre-arbítrio e determinar as escolhas que
fazemos mesmo sendo elas más. O resultado é os seres humanos terem
o poder de escolher o mal e, infelizmente, procedem assim por vezes.
  Por isso, a par do amor, da amizade, da generosidade os seres humanos
trazem também ao mundo assassinos, violações e guerras. Mas
Deus, não se torna responsável por isso, isto é, Deus é responsável
concepção global do mundo e por nos ter criado. A sua criação é boa, a
nossa contribuição para ela é que nem sempre o é.
Este pensamento é conhecido pela Defesa do Livre-Arbítrio.
Essa defensa mostra que é possível que o melhor mundo que Deus
poderia ter criado inclui o mal, uma vez que o melhor mundo possível
inclui criaturas com livre-arbítrio.

 Comparando o seguinte :

  a) O mundo sem seres humanos que não incluiria qualquer das coisas
más que as pessoas fazem, mas que também não incluiria qualquer dos
resultados da consciência moral, da criatividade e da virtude humana.

 b) o mundo com seres humanos que incluiriam a depravação
humana, mas também as coisas boas que a humanidade traz consigo.
Se julgarmos que b) é melhor do que a), isto justifica a perfeita
bondade de Deus. Afinal, não poderíamos esperar mais da sua parte do
que a criação do melhor mundo possível.
Mesmo assim, isto não resolve completamente o problema. Precisamos
de distinguir dois tipos de mal : o mal moral e o mal natural.
  O mal moral é o mal que as pessoas causam com as suas próprias
( assassínios, violações, etc.) .
  O mal natural, pelo contrário, é o mal que os seres humanos não
causam ( doenças, desastres naturais). Apesar da Defesa do Livre-
Arbítrio possa explicar por que razão Deus permite o mal moral, nada
contribui para explicar porque ele criou o mal natural.
  Logo, pode ser apenas uma explicação incompleta.
A ideia de que o mal é necessário para desenvolvimento do
carácter moral.
  Imaginemos que o mundo era “perfeito” no sentido comum do
termo, isto é, teríamos uns agradáveis 22ºC de temperatura ao longo do
ano e nada de mau aconteceria (não ocorreriam
terramotos, cheias, incêndios, nem doenças). Além disso não havia
fome, todos viveriam até a uma idade avançada com uma saúde feita e
todos desfrutariam a vida.
  Isto parece maravilhoso. Poderíamos perguntar por que razão Deus não
criou um ambiente desse género para nós. A resposta é que, se
vivêssemos num ambiente desse género, não seriamos o tipo de criaturas
que somos. No mundo “perfeito” não existiriam problemas para superar
e, assim, não existiriam oportunidades para desenvolver o carácter
moral.
Não poderia haver algo como a coragem, pois, não
existiriam perigos para enfrentar . Não poderia haver algo
como prestabilidade ou generosidade uma vez que ninguém
precisaria de ajuda. Todas as outras virtudes ficariam
esquecidas, pois só desenvolvemos estas qualidades quando
nos esforçamos por lidar com a adversidade.
 Temos assim uma explicação plausível para um mal
natural: de modo a criar seres humanos que fossem
criaturas com carácter moral, deus teve a necessidade de nos
colocar num ambiente que essas qualidades pudessem
desenvolver-se (um ambiente com problemas para resolver,
com males para enfrentar e superar).
Existe uma explicação completa ?
  A resposta mais provável ao problema do mal combina a Defesa do
Livre-Arbítrio com a ideia de que o mal é necessário num ambiente em
que os seres humanos possam desenvolver-se.
  A primeira o mal moral; a segunda explica o mal natural.
  Juntamente, parecem oferecer uma explicação mais ou menos completa
dos males que enfrentamos pois explicam por que razão um Deus
perfeitamente bom e omnipotente pôde ter criado um mundo como
aquele em que vivemos.
  Podemos melhorar a imagem acrescentando outra ideia comum da
tradição teístas, nomeadamente a ideia de que a vida humana, tal como a
conhecemos , não passa de uma introdução à vida eterna desfrutaremos
depois da morte. Se o mal que nos afecta for, na verdade, apenas algo
temporário na historia humana, então o problema deixa de parecer tão
compressor.
Deveremos satisfazer-nos com isto e concluir que o problema do mal
foi superado? Isto não é o mesmo que perguntar se haveremos de
acreditar em Deus.
  Lembre-se que não estamos a discutir se Deus realmente existe.
  Estamos a discutir se a presença do mal é uma prova de que a crença em
Deus é falsa, ou seja, se na verdade é possível acomodar satisfatoriamente
o mal num enquadramento teísta razoável . Tal o problema do mal ficará
resolvido, independentemente de acreditarmos na imagem teísta.
  Todavia, há dois problemas que interferem nesta conclusão.
O primeiro deles está relacionado com a quantidade que há
efectivamente. Há uma necessidade de desenvolver o carácter moral
onde pode explicar a razão por que tem de haver algum mal no mundo;
mas há muito mais mal do que o necessário para esse efeito; há um mal
atordoante que esmaga a vida das pessoas. Como por exemplo : “Um
homem que conduzia um camião cisterna de cimento. Certo dia foi a casa
almoçar. A sua filha de três anos estava a brincar no quintal . Depois de
almoço, quando ele saltou para o seu volante e fez marcha-atrás, não
reparou que a filha estava a brincar atrás do camião. A filha morreu
esmagada pelas rodas duplas”.
  Se falassem da historia do Livre - Arbítrio e o do desenvolvimento do
carácter a este homem, ele consideraria tudo muito pouco
convincente, não só por se sentir culpado, mas também porque é uma
historia inadequada de explicar por que razão uma coisa deste tipo
ocorre.
O segundo problema esta relacionado com os animais não humanos. A
vida e as historias humanas são apenas uma pequena parte da natureza da
sua historia. Imensos animais sofreram terrivelmente durante os milhões
de anos que antecederam a emergência do Homosapiens, e nenhuma das
ideias que examinamos atende ao seu sofrimento. Os animais não são
pecadores, não tem livre-arbítrio e não desenvolvem o carácter moral.
  Charles Darwin avançou com esta ideia:
“Ninguém contesta que há sofrimento no mundo. No que respeita ao
homem, alguns tentaram explicar isto imaginando o sofrimento serve para
o seu desenvolvimento moral. Mas o numero de homens que há no mundo
nada é comparado com o numero de todos os outros seres sencientes, e
estes muitas vezes sofrem intensamente sem que haja qualquer
desenvolvimento moral.
Um ser tão poderoso e com tanto conhecimento como
Deus, pôde criar o universo, que é omnipotente e omnisciente
para as nossas mentes finitas e supor que a sua benevolência
não é ilimitada repugna ao nosso entendimento. Mas que
vantagem poderá haver no sofrimento de milhões de animais
inferiores ao longo de um período de tempo quase infindável?
“

  Ficamos com a conclusão. O nosso exame de ideias para
reconciliar Deus com o mal declarou diferentes linhas de
pensamento que podem ser úteis mas nenhuma delas é
suficientes para afastar a suspeita que Deus e o mal não são
reconciliáveis. A quantidade de mal gratuito e vão que existe
no mundo, além de colocar um problema serio ao crente
, constitui também uma razão para que uma pessoa seria que
pondera aceitar essa crença se decida a não o fazer.

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O problema do mal texto de rachels em problemas da filosofia

  • 1.
  • 2. 3.1 Por que razão as pessoas boas sofrem? “Job era um homem próspero. Possuía terras e gado e tinha uma família que incluía dez filhos, aos quais ele era dedicado. Ele era um bom homem, generoso para os seus vizinhos e líder da vida religiosa da sua comunidade. Esta combinação de riqueza e virtude faziam dele o homem mais admirado da região. Depois tudo correu. As suas terras foram invadidas por estrangeiros, que mataram os seus criados e levaram a maior parte do seu gado. Um incêndio destruiu o resto, deixando-o na pobreza. Pouco depois, uma tempestade fez a sua casa desabar, matando todos os seus filhos. De seguida, o próprio Job contraiu uma doença que o deixou coberto de chagas, tão desfigurado que as pessoas não conseguiam reconhece-lo. Quando os amigos de Job vieram reconforta-lo, a sua piedade depressa se transformou em acusação. Eles eram pessoas devotas não podiam acreditar que Job nada fizera para merecer os seus infortúnios. Seguramente, pensaram, Deus não permitiria que Job sofresse caso ele não merecesse. “Será que Deus perverte a justiça?”,perguntou um deles. “Deus não iria rejeitar um homem inocente, nem tomar partido pelos mal feitores.” Outro disse-lhe: “Fica a saber que Deus cobra de ti menos do que a tua culpa exigiria”. Mas Job sabia estar inocente. Ainda assim, não
  • 3. Esta história é narrada no Livro de Job, um antigo texto judaico que faz parte da bíblia cristã. É o documento mais antigo em que o problema do mal é colocado com clareza. A existência do mal não será “problema” se assumirmos uma perspectiva religiosa do mundo. A partir de um ponto de vista antigo, não é difícil explicar porque ocorrem coisas más. O mundo não foi concebido para nosso benefício. Os raios causam incêndios, as forças geológicas causam terramotos, os micróbios causam doenças. Se acontece estarmos no seu caminho isso não passa de azar. Isto parte do sofrimento de Job e a depravação humana explica o resto. Não há aqui qualquer mistério, pois não estamos à espera do que o mundo seja justo. Os desastres atingem os virtuosos e os perversos da mesma forma. Podemos não gostar que as coisas correm desta forma mas a vida é assim mesmo.
  • 4. O problema surge quando pensamos que o mundo está sobre o controlo de Deus. Assim existe uma tensão entre: a)o mundo estar sobre o domínio de um ser perfeitamente bom, omnisciente e omnipotente, como Deus , e b) haver mal no mundo. Um ser perfeitamente bom não desejaria que acontecessem coisas más. Não desejaria que as crianças desenvolvessem leucemia, que as catástrofes fizessem os edifícios desabar sobre as pessoas ou que os terroristas matassem inocentes. Em vez disso, desejaria impedir a ocorrência, dessas coisas, se pudesse faze-lo. Mas elas ocorrem.
  • 5. Como se explica isso? Os filósofos distinguem se por vezes o problema lógico do mal do problema probatório do mal. O problema lógico consiste em Deus e o mal parecem incompatíveis: se o mal existe, então um Deus omnipotente, omnisciente e perfeitamente bom não pode existir. Mas é possível responder que não há aqui qualquer contradição, já que Deus pode ter uma boa razão para permitir o mal. Isso resolveria o problema lógico. Mostraria que a crença em Deus não é logicamente do reconhecimento da existência do mal. No entanto, o problema probatório continuaria a colocar-se. O problema probatório é ainda a existência do mal que constitui uma prova que Deus não existe.
  • 6. Vamos supor que encontramos as impressões digitais de uma certa pessoa numa arma que foi usada para cometer um crime. Isso constitui uma forte prova que foi ela que cometeu o crime, embora seja consequentemente possível que ela tenha caído numa cilada. Não havendo desenvolvimentos na investigação, as impressões digitais tornam muito provável que seja ela assassina, pois as impressões apontam na sua direcção. Da mesma forma, a existência do mal pode contrariar a crença em Deus, mesmo que não prove conclusivamente a sua inexistência. O facto de existir tanto mal no mundo torna a existência de Deus ainda menos provável. Este é o problema mais difícil que se coloca à crença religiosa teísta. Por isso, os pensadores religiosos tentam responder há séculos à questão de Job: Por que razão permite que aconteça coisas terríveis?
  • 7. 3.2 Deus e o mal Há uma tradição longa e distinta de filósofos que defenderam a crença religiosa ortodoxa. Virtualmente todos os pensadores importantes aceitavam uma visão do mundo teísta e trabalhavam no seu interior. Na sequencia no Iluminismo, os filósofos foram atraídos pela visão do mundo da ciência moderna e começaram a desenvolver formas mais seculares de entender o mundo. Hoje a investigação filosófica costuma ser conduzida independentemente da religião. Embora “filosofia e religião” estejam ligados no Deus espírito popular como se fosse dois aspectos do mesmo assunto, a maioria dos filósofos não estabelece tal conexão. Os filósofos vêem a filosofia como um assunto independente.
  • 8. Alvin Plantinga um filosofo cristão foi um dos primeiros a seguir esse movimento. Plantinga distingue dois tipos de resposta teísta ao problema do mal : uma defesa e uma teodiceia. A defesa é uma demonstração de que a existência de Deus é logicamente compatível com a existência do mal. Uma defesa não pretende revelar o verdadeiro plano de Deus para a Criação, mas visa mostrar que os teístas que reconhecem a existência do mal não cometem uma contradição lógica. Uma teodiceia é mais ambiciosa, tenta justificar as “relações de Deus com o Filósofo Alvin Plantinga homem”, explicando o lugar do mal no verdadeiro plano em que Deus tem para o mundo. Plantinga não acredita que possamos oferecer uma teodicia, já que não conhecemos a mente de Deus.
  • 9. Porém, ele, diz que não é necessário temos uma teodiceia mas que precisamos apenas de uma defesa para permitir que as pessoas religiosas mantenham a sua fé. O problema desta distinção é que uma defesa exige o suficiente e uma teodiceia exige demasiado. É fácil oferecer uma defesa: podemos simplesmente observar que Deus pode ter uma razão para permitir o mal, ainda que essa razão nos ultrapasse. Ficaremos por aqui se estivermos interessados só em defender a crença religiosa da acusação da inconsistência. Também estamos interessados em saber no que é razoável acreditar . Será que a existência de tanto mal faz com que não seja razoável acreditar em Deus? Será que a existência do mal constitui uma prova de crença falsa?
  • 10. Na opinião de Plantinga, para defender este problema não basta só apresentar a defesa mas também apresentar uma teodiceia completa não é necessário. Precisamos algo que esteja entre a defesa e a teodiceia. Precisamos de uma explicação plausível que nos diga porque razão um Deus perfeitamente bom e omnipotente pode permitir mal, mesmo que não tenhamos a certeza que Deus o permite. Na verdade já se propuseram ideias desse tipo, apresentaram se três ideias para explicar por que razão Deus pode permitir a razão do mal.
  • 11. A ideia de que a dor é necessária enquanto parte do sistema de alerta do corpo. A noção do “mal” parece ser misteriosa e pode ser difícil dizer com certezas o que é o mal. Mas é com facilidade que se apresenta exemplos e que todos aceitaríamos. O exemplo mais é obvio é a dor física, especialmente a dor longa e intensa. Conta se que os torturadores estão entre as pessoas mais desprezíveis , pois infligem essa dor. Mas será que Deus é um torturador? Considere-se que um bebé nasceu com uma Bebés com epidermólise bolhosa doença de pele genética que provoca bolhas por todo o corpo, de tal forma que o bebé não pode ser agarrado sem sentir dor. Se Deus criou o mundo e tudo o que nele existe, então crio a epidermólise bolhosa e permite que os bebés estejam sujeitos a sofrer desta doença.
  • 12. Que justificação poderá existir para isto? Podemos observa que a dor tem um propósito: faz parte do nosso sistema de alerta do corpo, ou seja, alerta-nos para o perigo. Imagine-se o que aconteceria se não conseguíssemos sentir dor. Quando pomos a mão num forno a escaldar, por acidente, a dor leva-nos a afasta-la impedindo nos de nos queimar. Por isso se não conseguíssemos sentir dor estaríamos muito pior. A nossa mão seria destruída. O mesmo se pode dizer de outras experiencias, como o medo. O medo leva-nos a afastar-nos do perigo. Portanto, poder-se-á dizer, Deus deu-nos a capacidade de sentir dor e medo para o nosso próprio bem. Este argumento até um certo ponto é persuasivo mas não resolve o problema.
  • 13. A dificuldade é que a dor e o medo são mecanismos imperfeitos para evitar o perigo. Não parecem ter sido gerados para este fim. Por vezes precisamos de um aviso mas não há sinais de dor, como por exemplo: um envenenamento por monóxido de carbono pode afecta-nos sem aviso. A dor que acompanha o cancro no esófago pode dizer-nos que se passa algo de errado mas a questão não nos traz qualquer beneficio , não é como um forno do qual nos podemos afastar. Assim a vitima sofre desnecessariamente. Ainda noutras situações a dor pode ser tão intensa que nos deixa debilitados, impedindo-nos de fugir do perigo. São estes factos que não se encaixam na hipótese que Deus criou a dor para nos proteger. Por fim, mesmo que poder sentir dor seja bom, isso não explica por que razão Deus criou fontes de dor como a epidermólise bolhosa. Uma mãe que pergunte por que razão permite que o seu bebé sofra desta doença dificilmente encontrará uma resposta se lhe disserem que a dor faz parte do sistema de alerta do corpo do bebé.
  • 14. A ideia de que o mal é necessário para que possamos apreciar o bem. Santo Agostinho observou, que se nada de mau acontecesse, não poderíamos conhecer e apreciar o bem. Esta observação é parcialmente lógica e psicológica. Logicamente, na ausência do conceito de mal não poderia haver uma concepção de bem. Não poderíamos sequer saber o que é o bem se não tivéssemos o mal para servir de comparação. Além disso, psicologicamente, se nunca sofrêssemos, tomaríamos as coisas boas por garantidas e não desfrutaríamos tanto.
  • 15. Como poderíamos reconhecer e desfrutar a saúde se não existisse doença? No entanto apenas explica por que razão Deus poderia permitir a existência de algum mal. De facto podemos precisar que de vez em quando nos aconteça alguma coisa má mas apenas para não nos podermos esquecer de que somos tão afortunados. Contudo, isso não explica por que razão há tanto mal no mundo. O problema é que o mundo contem muito mais mal do que é necessário para se apreciar bem. Por exemplo, se o numero de pessoas que morrem de cancro por ano fosse reduzido para metade, isso seria ainda suficiente para apreciamos a saúde. E como já temos que lidar com o cancro não precisamos de outras doenças como a sida, da paralisia cerebral, etc.
  • 16. A ideia de que o mal é um castigo pela conduta imoral. Os amigos do Job acreditavam que acreditavam que ele devia ter feito algo para merecer o seu sofrimento, já que um Deus justo “não rejeitaria um homem inocente”. Por isso, Job devia merecer o que lhe aconteceu. A ideia de que o mal é um castigo, veio da historia da Criação do Génesis. Essa historia diz que os seres humanos habitavam num mundo sem mal. Os primeiros seres humanos, Adão e Eva, revelaram-se contra Deus e por isso foram expulsos do Paraíso. A ideia que esta historia passa é que todos nós somos pecadores e que a nossa presença num mundo com o mal se explica de algum modo por esse facto. Sofremos porque fizemos algo para o merecer.
  • 17. O que havermos de fazer com esta ideia? Essa ideia fazia sentido se existisse alguma relação entre o nosso carácter moral e a nossa sorte. Então se o mal é um castigo pelo pecado, deveríamos esperar que os piores pecadores sofressem os piores castigos. Mas não existe tal correlação. O Desastre atinge os virtuosos e os perversos da mesma forma, sem qualquer consideração manifesta pela sua virtude. Algumas das melhores pessoas desenvolvem cancro, enquanto algumas das piores pessoas passam pela vida sem problemas. E o que dizer dos bebés inocentes, que por vezes sofrem de doenças terríveis e morrem de forma horríveis? A doutrina do pecado original foi introduzida no pensamento cristão em parte para lidar com este problema. Segundo esta teoria, todos nós nascemos em pecado, pelo que mesmo os bebés são pecadores.
  • 18. Contudo, se com isto se pretende dizer que um bebé recém-nascido merece sofrer de epidermolose bolhosa, podemos apensas admirar-nos com a obtusidade moral que levaria a alguém a pensar tal coisa. O problema profundo de usar o conceito de pecado desta maneira é que, assim ser pecaminoso não é algo que esteja ligado àquilo que uma pessoa ou faz efectivamente. No sentido moral comum, aquilo que uma pessoa merece depende do seu comportamento. Se o leitor merece um mal, deve ter feito algo para o merecer. Não há duvidas de que todos nós nos comportamos mal uma vez ou outra, pelo que talvez cada um de nós mereça um certo grau de retribuição. Mas não merecemos contrair uma doença horrível caso não tenhamos feito algo bastante horroroso, e um bebé nada fez de mal. Logo, embora esta concepção de “pecado” possa ter alguma importância religiosa, pouco tem haver com o mérito moral. Como Job sabia, é falso que as calamidades sejam merecidas.
  • 19. 3.3 Livre-arbítrio e carácter moral A ideia que o mal resulta do livre-arbítrio humano, diz-se que Deus poderia ter feito o mundo sem pessoas. O mundo poderia ter sido um lugar belo, com montanhas , rios, animais mas no entanto Deus incluir-nos também no mundo. Os seres humanos são especiais, são agentes morais , capazes de escolher o tipo de pessoas que serão e são responsáveis pelas suas escolhas. São capazes de desenvolver diversos sentimentos como o amor e a amizade , bem como de delinear e realizar grandes coisas. Assim , o mundo sem seres humanos seria mais pobre. É por esta razão que a humanidade faz parte do plano de Deus.
  • 20. Contudo existe um problema: para sermos agente morais , Deus teve de nos conceder livre-arbítrio, isto é, os seres humanos são especiais devido á liberdade. No entanto, ao termos a possibilidade de fazer escolhas livres, Deus deixou a possibilidade de fazermos por vezes escolhas más. Ele não poderia dar nos o livre-arbítrio e determinar as escolhas que fazemos mesmo sendo elas más. O resultado é os seres humanos terem o poder de escolher o mal e, infelizmente, procedem assim por vezes. Por isso, a par do amor, da amizade, da generosidade os seres humanos trazem também ao mundo assassinos, violações e guerras. Mas Deus, não se torna responsável por isso, isto é, Deus é responsável concepção global do mundo e por nos ter criado. A sua criação é boa, a nossa contribuição para ela é que nem sempre o é.
  • 21. Este pensamento é conhecido pela Defesa do Livre-Arbítrio. Essa defensa mostra que é possível que o melhor mundo que Deus poderia ter criado inclui o mal, uma vez que o melhor mundo possível inclui criaturas com livre-arbítrio. Comparando o seguinte : a) O mundo sem seres humanos que não incluiria qualquer das coisas más que as pessoas fazem, mas que também não incluiria qualquer dos resultados da consciência moral, da criatividade e da virtude humana. b) o mundo com seres humanos que incluiriam a depravação humana, mas também as coisas boas que a humanidade traz consigo.
  • 22. Se julgarmos que b) é melhor do que a), isto justifica a perfeita bondade de Deus. Afinal, não poderíamos esperar mais da sua parte do que a criação do melhor mundo possível. Mesmo assim, isto não resolve completamente o problema. Precisamos de distinguir dois tipos de mal : o mal moral e o mal natural. O mal moral é o mal que as pessoas causam com as suas próprias ( assassínios, violações, etc.) . O mal natural, pelo contrário, é o mal que os seres humanos não causam ( doenças, desastres naturais). Apesar da Defesa do Livre- Arbítrio possa explicar por que razão Deus permite o mal moral, nada contribui para explicar porque ele criou o mal natural. Logo, pode ser apenas uma explicação incompleta.
  • 23. A ideia de que o mal é necessário para desenvolvimento do carácter moral. Imaginemos que o mundo era “perfeito” no sentido comum do termo, isto é, teríamos uns agradáveis 22ºC de temperatura ao longo do ano e nada de mau aconteceria (não ocorreriam terramotos, cheias, incêndios, nem doenças). Além disso não havia fome, todos viveriam até a uma idade avançada com uma saúde feita e todos desfrutariam a vida. Isto parece maravilhoso. Poderíamos perguntar por que razão Deus não criou um ambiente desse género para nós. A resposta é que, se vivêssemos num ambiente desse género, não seriamos o tipo de criaturas que somos. No mundo “perfeito” não existiriam problemas para superar e, assim, não existiriam oportunidades para desenvolver o carácter moral.
  • 24. Não poderia haver algo como a coragem, pois, não existiriam perigos para enfrentar . Não poderia haver algo como prestabilidade ou generosidade uma vez que ninguém precisaria de ajuda. Todas as outras virtudes ficariam esquecidas, pois só desenvolvemos estas qualidades quando nos esforçamos por lidar com a adversidade. Temos assim uma explicação plausível para um mal natural: de modo a criar seres humanos que fossem criaturas com carácter moral, deus teve a necessidade de nos colocar num ambiente que essas qualidades pudessem desenvolver-se (um ambiente com problemas para resolver, com males para enfrentar e superar).
  • 25. Existe uma explicação completa ? A resposta mais provável ao problema do mal combina a Defesa do Livre-Arbítrio com a ideia de que o mal é necessário num ambiente em que os seres humanos possam desenvolver-se. A primeira o mal moral; a segunda explica o mal natural. Juntamente, parecem oferecer uma explicação mais ou menos completa dos males que enfrentamos pois explicam por que razão um Deus perfeitamente bom e omnipotente pôde ter criado um mundo como aquele em que vivemos. Podemos melhorar a imagem acrescentando outra ideia comum da tradição teístas, nomeadamente a ideia de que a vida humana, tal como a conhecemos , não passa de uma introdução à vida eterna desfrutaremos depois da morte. Se o mal que nos afecta for, na verdade, apenas algo temporário na historia humana, então o problema deixa de parecer tão compressor.
  • 26. Deveremos satisfazer-nos com isto e concluir que o problema do mal foi superado? Isto não é o mesmo que perguntar se haveremos de acreditar em Deus. Lembre-se que não estamos a discutir se Deus realmente existe. Estamos a discutir se a presença do mal é uma prova de que a crença em Deus é falsa, ou seja, se na verdade é possível acomodar satisfatoriamente o mal num enquadramento teísta razoável . Tal o problema do mal ficará resolvido, independentemente de acreditarmos na imagem teísta. Todavia, há dois problemas que interferem nesta conclusão.
  • 27. O primeiro deles está relacionado com a quantidade que há efectivamente. Há uma necessidade de desenvolver o carácter moral onde pode explicar a razão por que tem de haver algum mal no mundo; mas há muito mais mal do que o necessário para esse efeito; há um mal atordoante que esmaga a vida das pessoas. Como por exemplo : “Um homem que conduzia um camião cisterna de cimento. Certo dia foi a casa almoçar. A sua filha de três anos estava a brincar no quintal . Depois de almoço, quando ele saltou para o seu volante e fez marcha-atrás, não reparou que a filha estava a brincar atrás do camião. A filha morreu esmagada pelas rodas duplas”. Se falassem da historia do Livre - Arbítrio e o do desenvolvimento do carácter a este homem, ele consideraria tudo muito pouco convincente, não só por se sentir culpado, mas também porque é uma historia inadequada de explicar por que razão uma coisa deste tipo ocorre.
  • 28. O segundo problema esta relacionado com os animais não humanos. A vida e as historias humanas são apenas uma pequena parte da natureza da sua historia. Imensos animais sofreram terrivelmente durante os milhões de anos que antecederam a emergência do Homosapiens, e nenhuma das ideias que examinamos atende ao seu sofrimento. Os animais não são pecadores, não tem livre-arbítrio e não desenvolvem o carácter moral. Charles Darwin avançou com esta ideia: “Ninguém contesta que há sofrimento no mundo. No que respeita ao homem, alguns tentaram explicar isto imaginando o sofrimento serve para o seu desenvolvimento moral. Mas o numero de homens que há no mundo nada é comparado com o numero de todos os outros seres sencientes, e estes muitas vezes sofrem intensamente sem que haja qualquer desenvolvimento moral.
  • 29. Um ser tão poderoso e com tanto conhecimento como Deus, pôde criar o universo, que é omnipotente e omnisciente para as nossas mentes finitas e supor que a sua benevolência não é ilimitada repugna ao nosso entendimento. Mas que vantagem poderá haver no sofrimento de milhões de animais inferiores ao longo de um período de tempo quase infindável? “ Ficamos com a conclusão. O nosso exame de ideias para reconciliar Deus com o mal declarou diferentes linhas de pensamento que podem ser úteis mas nenhuma delas é suficientes para afastar a suspeita que Deus e o mal não são reconciliáveis. A quantidade de mal gratuito e vão que existe no mundo, além de colocar um problema serio ao crente , constitui também uma razão para que uma pessoa seria que pondera aceitar essa crença se decida a não o fazer.