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O tema dessa conferência poderia ser expressado também de
acordo com o título da última Bienal de Veneza, “Common
Ground”, ou seja, o terreno comum ou compartilhado. Também
poderia ser interpretado no sentido de ‘espaço público’ ou da
‘infraestrutura’. Afinal se trata do mesmo: um conceito de vital
importância, algo que me tem fascinado desde que era um
universitário e que segue sendo até hoje.

O espaço público pode adquirir muitas formas diferentes: pode
transformar-se grças a celebração ou pelas peregrinações
religiosas; pode ser um humilde mercado, um lugar de reunião;
pode ser o centro de uma pequena comunidade; pode ser até
um parque de atrações; pode ser uma encrusilhada em Shangai,
um esquina de rua onde pessoas se esbarram entre si e trocam
coisas; pode ser também algo mais formal, como uma passagem
londrina, BurlingtonArcade, por exemplo; pode ser um espaço
em grande escala concebido num sentido cívico, como a Praça de
São Marcos, em Veneza; pode ser um espaço verde; pode ser um
ponto de encontro em uma favela sulamericana; pode ser o lugar
para troca política da Primavera Árabe – quem não ouviu falar da
Praça Tahrir fazem só alguns meses? -; também pode ser um
parque novaiorquino que algumas vezes torna-se um espaço de
protesto político; pode ser cruzamento, uma extensão viva da
esfera pública, não só u m espaço estático. Se pensarmos no que
realmente abarca uma infraestrutura, nos daremos conta de
que tem muito que ver com o movimento, com os cruzamentos.

Os espaços entre os edifícios pertencem ao comum. É disto que
realmente estamos falando. Eu sugeriria que o desenho destes
espaços é mais importante que os edifícios considerados
isoladamente. Isto não quer dizer que, como arquiteto, eu não
seja um apaixonado dos desenhos dos edifícios. Suponho que
tenho de sê-lo; é o que impulsiona meu trabalho. Sem dúvida,
conforme os anos vão se passando – e, como já disse, meu
apaixonado interesse pelos espaços cívicos começou na minha
época de estudante – penso mais sobre a qualidade e identidade
dos lugares. Trata-se da esfera pública construída pelos espaços
desenhados. Pode ser que não tenham um desenhista famoso –
seu autor será, quase sempre – um burocrata, um ancião de uma
aldeia, um engenheiro ou um arquiteto – mas todos eles estão
desenhados, servem à sociedade e são inseparáveis dela.

Tais espaços públicos também tem uma relação muito estreita
com os problemas da sustentabilidade, especialmente no
contexto da rápida urbanização que ocorre nos países
emergentes, que provoca que 200.000 pessoas se mudem cada
dia do campo para a cidade em busca de maior liberdade e
prosperidade. Grosso modo, considerando a forma que adotam,
há dois modelos de assentamentos urbanos. Um deles é o
tradicional, por exemplo, Copenhague, que pode comparar-se,
por exemplo, com Detroid, um modelo relativamente recente
baseado no uso do automóvel e dependente das redes de
circulação e transporte. Note-se a relação entre a densidade e a
sustentabilidade em ambas as cidades: Detroid tem a metade da
densidade de Copenhague, mas consome dez vezes mais energia
contabilizada em litros de gasolina, pelo que, sendo Detroid um
modelo muito recente, está já desacreditado, e as
reinterpretações das cidades europeias mais densas e amigáveis
aos pedestres, continuam sendo modelos potenciais para o
futuro.

O interessante é notar como a China exacerba muitas destas
tendências. Como economia emergente, torna-se interessante
comparar que a China é estatisticamente o lugar onde se dá o
maior pico de engarrafamento hoje em dia, que se deu em
agosto de 2010. Produziu-se ao longo de cem quilometros, durou
onze dias e envolveu 10.000 veículos. Isto nos recorda também
que 70% da energia que consumimos em nossas sociedades
industrializadas são usados realmente nos edifícios e nas
atividades que produzem entre os edifícios. Uma cidade como
Detroid consome, portanto, muita energia, mas Hong Kong –
graças à sua mescla de usos, a alta qualidade de seu transporte
público, seu caráter pedestrino – gasta bem pouca e é, portanto,
altamente sustentável. A mesma península de Manhattan é
também um modelo de sustentabilidade, e é muito amigável aos
pedestres, tendo o Central Park como pulmão verde no coração
da cidade.
Gostaria de mostrar alguns exemplos de nosso trabalho –
remontando a nosso projeto em Hong Kong de há 33 anos – da
perspectiva de suas respostas ao contexto urbano, dando conta
da maneira que se tratou de devolver algo a cidade e melhorar
seus indicadores de vida, não enquanto peças ensimesmadas ou
edifícios isolados, como se fosse esculturas, mas por que
realmente estão conectados com o tecido social da cidade, com
o espírito do espaço público.

Hong Kong, nunca é demais dizer, é uma cidade muito densa e
cheia de gente. Um dos seus pequenos espaços verdes é a Statue
Square. Diante deste parque está a implantação do nosso Banco
de Hong Kong, cujo concurso remonta a 1979, e que se abriu a
ao público em 1985. Desde o princípio tivemos a ideia de erguer
o edifício sobre o solo com o objetivo de dar continuidade ao
espaço público sobre ele. Assim, conforme vamos nos
aproximando, ele vai se tornando acolhedor. O piso de
operações do banco não invade, assim o público, mas flutua
sobre a rua. O interessante é que todos os domingos, se alguém
observa através do piso de vidro do banco, pode ver um
ajuntamento extraordinário. O espaço é tomado pela
comunidade filipina, pelas empregadas domésticas de muitas
famílias de Hong Kong. Trata-se, na sua maioria, de graduadas
universitárias que emigraram à cidade porque o nível de vida é
melhor e podem enviar seus salários a suas famílias das Filipinas.
Cada domingo celebram, de certo modo, sua identidade
nacional. O mais curioso é o modo que se reúnem segundo uma
ordem espontânea, o tipo de ordem que alguém pode encontrar
numa favela. Depois, quando chega a segunda-feira de manhã e
durante os restantes dias da semana até o domingo seguinte, o
espaço sob o banco volta a liberar-se, sendo um espaço cívico.

Se se olha através das janelas do banco, para o outro lado da
água, pode-se ver no oeste de Kowloon, um dos setores da
cidade que foi objeto de um concurso. O que resultou de
interessante de nossa proposta para este concurso – e tivemos
grande dificuldade em comunicar nossa Ideia tanto aos jurados
como ao público – era que, como plano diretor, tratava-se de
uma verdadeira ampliação da cidade. Não consistia em desenhar
edifícios individuais. Insisto nisso porque considero muito difícil –
até mesmo para arquitetos – ter consciência e sensibilidade da
importância de das ruas da cidade tradicional, de suas calçadas,
de suas avenidas e seus becos, sejam estreitos, próprios para
pedestres ou com tráfego.
Qual é o DNA de uma cidade? Como se pode aprender dele?
Como se criam espaços exteriores? Creio que o problema é que,
nós, arquitetos, temos sido educados para pensar nos edifícios
como entes isolados, sem olhar a cidade em seu conjunto. Creio
que este projeto em Hong Kong é brilhante na forma em que se
relaciona com a cidade. Não é apenas um objeto no espaço; em
grande medida é um edifício que cria um espaço cívico. Quando
participamos do concurso para Kowloon, retornamos a Hong
Kong e tratamos de encontrar o segredo destes espaços-chaves.
Se alguém vai à direita ou à esquerda da rua, topa com um
labirinto de estreitas vielas. A combinação destes espaços é,
precisamente, o que caracteriza Hong Kong. Podemos analisar?
Podemos destrinchar? Sentimo-nos tentados a fazê-lo. Através
da investigação descobrimos que a estratificação, do modo com
as lojas se situam na planta dos edifícios – e sobre elas os
edifícios e as lojas – é muito característico de Hong Kong. Depois
analisamos o campo visual. A sinalização é um aspecto muito
vibrante das ruas. Que proporção de espaço ocupa, por exemplo,
os letreiros luminosos numa rua? Poderíamos destrinchar a rua e
eliminar tudo que as pessoas detestam nela, por exemplo, a
poluição produzida pelo tráfego, os perigos de se atravessar a
rua? Poderiam ser mantidas todas as coisas boas e buscar
solucionar as mais problemáticas? A resposta final a tais
perguntas foi nossa proposta para o concurso de Kowloon.

Um de nossos projetos que foi muito importante no passado,
devido a sua relação com o contexto urbano, em sentido amplo,
foi o que surgiu de um pequeno concurso em Nimes, no sul da
França, remontando a 1985. O maravilhoso tempo romano que
fazia parte de um solar, era objeto do concurso, estava ocupado
naquele momento por ruínas de uma colunata de um prédio do
século XIX destinado a ópera, que sofreu um incêndio há alguns
anos. Antes que se escolhessem os nomes dos selecionadas para
participar, todos foram convidados a visitar a cidade, mas eu
preferi visitá-la incógnito. Ninguém sabia que eu estava ali, e
pude assim, com liberdade, desenhar e tomar notas sobre as
coisas que me pareceram emocionantes do lugar, todas elas
relacionadas com a infraestrutura, com as ruas da cidade.
Por exemplo: esse tipo de túnel escuro que é o bulevar que
conduz ao solar; a exposição de luz quando se chega à praça; o
problema dos carros estacionados diante do templo romano. Em
última análise, os desenhos revelavam que não se tratava de
fazer um edifício, mas sim de jogar num campo mais amplo...

O interessante é que ganhamos o concurso, e nos pusemos a
trabalhar com as autoridades, com o apoio de um prefeito muito
compreensivo. De novo, a transformação que propôs o projeto
foi muito além de um edifício individual. Neste sentido, é muito
difícil dizer o que este projeto. Trata-se de um prédio ou
concerne ao espaço urbano? Naturalmente, ambos os conceitos
são muito difíceis de separar. Se converteram em uma única
coisa, pois ambos foram concebidos com parte do mesmo
problema, do mesmo desafio. Outro aspecto é que o público
pode atravessar diretamente o edifício de um lado ao outro, uma
vez que este se tornou um atalho. Constitui a maneira mais
rápida de ir de um lado da praça a outro bairro: a pessoa entra,
portanto, ali não só pelas qualidades que encontra, mas também
porque é a maneira mais direta de atravessar essa parte da
cidade. Em sua resposta urbana, o edifício apresenta a mesma
altura que inúmeros outros ao redor, o que significa ter pouca
altura, daí a importância de levar luz natural até o fundo do
espaço interior. Quando alguém chega a parte coberta do
edifício, sob a sombra, tem consciência do compromisso do
projeto com a cidade, do compromisso com a história da praça,
com o monumento e do diálogo entre o antigo e o novo. Criou-se
um espaço para celebrações, um tipo de cenário para o
entretenimento cívico.

Outro edifício que é uma espécie de catalisador cultural da
requalificação urbana é o chamado The SAge, em Gateshead.
Trata-se de um projeto diferente de Nimes. Este destinou-se
fundamentalmente às artes visuais e tem que ver com o
conceito, muito próprio da França, da midiateca que registra
aquilo que é característico na comunidade, especialmente, neste
caso, o relacionado com a tourada. The Sage, por sua vez, diz
respeito à música: sua cobertura, concebida como um grande
guarda-chuvas, abriga uma escola de música e duas salas
destinadas a encenação; uma bastante grande e formal, para a
música clássica, e outra par o jazz, o folk e outros estilos mais
improvisados. Mas o importante no edifício é como assume um
modelo de rua. Cria, com efeito, uma nova rua em seu interior
que segue a margem do rio. É uma artéria importante.
Novamente, como no caso de Nimes, a pessoa pode tomar esta
rua interna não apenas porque deseja chegar a setores do
edifício, mas para usa-la como um atalho que pode levar
também à cafeteria e, inclusive, se for curioso, talvez usar os
equipamentos culturais que o edifício oferece.
O projeto da Margot and Bill Winspear Opera House é também
um catalisador de requalificação urbana. Sem dúvida, sua
localização não poderia ser mais diferente que a de Nimes, pois
está em Dallas, Texas. A sociedade do Texas depende
completamente do automóvel. Nosso projeto, que está
precisamente ao lado de uma rodovia, aposta, ao contrário, no
uso por pedestres. Acontece que nas comunidades norteamericanas mais dependentes do automóvel, se tem hoje uma
consciência crescente sobre a importância de se restabelecer o
equilíbrio entre carros e pedestres e de buscar o público. Este
projeto – também levado a cabo mercê de um concurso –
enfrenta fundamentalmente as questões relativas à
reumanização da cidade, recorrendo ao uso inteligente de
passarelas. Trata-se de um Zola a que se chega vindo do centro
de Dallas e que converte numa espécie de oásis pelo qual os
usuários podem caminhar durante cinco ou dez minutos par
desfrutar das opções que edifício oferece, ainda que sua
principal função seja de teatro de ópera.

O Museu de Belas Artes de Boston é outro de nossos projetos
culturais que busca trabalhar com a comunidade da qual faz
parte e aposta na requalificação, criando ainda um terreno
compartilhado ou um espaço comum capaz de atrair público ao
museu, inclusive aos que nãot tenham intenção de visitar
exposições, feiras ou galerias. Antes de nossa intervenção se
havia feito uma relativamente recente – ‘relativamente recente’
significa nas duas décadas anteriores – uma ampliação do museu
ao oeste. O mais importante é o incrível parque rodeando o
parque, que foi uma iniciativa de Olmested – o paisagista que
desenhou o Central Park – e que então estava completamente
tomado por delinquentes. Era um setor se devia evitar, um lugar
perigoso. Mas o gesto de criar um tipo de foco social no coração
do edifício tornou possível estabelecer um vínculo com a cidade
e, portanto, transformar a zona mediante a interação do museu
com seu entorno.

Outro projeto que gostaria de tratar em relação ao espaço
público é o Reichstag. No projeto se tratava de fazer mais com
menos, eliminando o consumo de combustíveis fósseis,
recorrendo à biomassa e ao biodiesel, usando o nível do lençol
freático como dissipador térmico no verão e como aquecedor no
inverno, contando com energias renováveis, como a fotovoltaica.
Também se trabalhou com a ventilação cruzada e criou-se vitrôs
que refletem a luz natural para introduzi-la no interior do
edifício. Entretanto o Reichstag também se converteu em um
símbolo do processo democrático posto em ação. E tem sido em
grande medida, um símbolo da Alemanha reunificada, tal e como
pediam as exigências do concurso. O edifício é, portanto,
essencialmente um elemento ecológico, mas também tem muito
a ver com a ideia de um espaço que interage com o corpo
político.

Todas essas intenções que aderem aos requisitos do projeto, por
exemplo, o espaço público coberto do Reichstag ou como
acabamos de ver, o fato de comprometer-se com a cidade de
Boston ou de criar um espaço público em Hong Kong – não
formam nunca parte das instruções que se dão ao arquiteto.
Nunca são pedidas. Depende de nós, como arquitetos,
trabalhando com aqueles que nos confiam os edifícios, fazer pela
cidade, ajuntar essa condição ao nosso trabalho. Isto é algo
muito importante. A nós ninguém diz: “Já sabes, quero que faças
um espaço público na cobertura do Reichstag”. Muito ao
contrário. Lembro-me de uma reunião com 65 representantes
dos partidos políticos, que me perguntaram: “Sr. Foster, por que
alguém desejaria ir à cobertura do Reichstag? Por que
desejariam tomar um café ali?” Naturalmente, o processo final
conduziu à aceitação de nossas ideias. O único problema que se
surgiu mais tarde é que o restaurante tornou-se tão popular que
fomos criticados por tê-lo feito pequeno demais. Mas este é um
problema bom de se ter. Então 35 milhões de pessoas já o
visitaram desde então, e o restaurante em questão é o mais
requisitado da Alemanha. Por outro lado, a grande espiral
descendente sobre a plataforma de observação da cúpula deixa
entrever pelo chão de vidro, o corpo político, a câmara de
debates parlamentares e, portanto, põem simbolicamente o
público – ou seja, a sociedade civil – por cima destes. Ademais, o
espelho central que se eleva sobre o espaço gera um efeito de
túnel de vento que permite sugar o ar do interior do edifício,
reduzindo a carga energética.

No caso de nosso projeto para o Museu Britânico em Londres,
responde também a uma instituição cultural que vai além das
exigências de sua coleção e oferece algo à cidade da qual faz
parte. Antes de nossa intervenção, se alguém queria visitar o
museu tinha que atravessar uma após outra, uma série de
galerias concatenadas. Entretanto a solução ideal era ir a um
espaço central distribuidor desde o qual se pudesse ir a cada
uma as galerias individuais, de uma maneira mais civilizada. Para
nós as pistas para se construir o futuro devem ser buscadas no
passado. Alguém disse que se queres ir avançar no futuro, deves
olhar o que se fazia antes. Olhar atrás, no contexto deste
projeto, significava ter em conta o espaço central. Assim, a
grande cúpula da biblioteca - a célebre biblioteca trasladada a
outro lugar – foi um dos desencadeantes de nossa proposta para
o concurso. Curiosamente, quando se olha para traz, nos damos
conta de que, quando o edifício foi construído, originalmente
não havia nenhuma biblioteca. Havia um pátio com jardim.
Quando o arquiteto do edifício morreu, pouco depois de o haver
construído, seu irmão concebeu a biblioteca junto com uma
grande quantidade de estruturas secundárias em torno da peça
circular. Esta nunca teve, assim, uma fachada. O espaço sempre
esteve ocluso, completamente preenchido. Assim nossa missão,
nosso objetivo realmente foi recuperar o jardim histórico dentro
do qual se encontrava a biblioteca e tivemos a ideia de que, em
vez de forçar o caminho do visitante através das sucessivas
galerias, se poderiam entrar no grande espaço central em torno
da biblioteca e, dali, seguir a cada uma das galerias.

Todavia, - e se trata de um ‘todavia’ muito grande – a ideia do
projeto para este espaço era abri-lo a cidade fora do horário do
museu, adaptando-o a celebrações de eventos especiais à noite.
Como nos casos já mencionados, também se poderia caminhar
pelo novo vestíbulo sem ter a intenção de ir a nenhuma
exposição, atravessando-o até sair pelo extremo oposto, num
caminho mais curto e agradável. Logo tivemos a ideia de cobrir
todo o espaço com um trecho de vidro para que pudesse
funcionar durante todo o ano. Os modos lógicos de fazer isso
eram bastante importantes devido aos aproximadamente seis
milhões de visitantes anuais e ao fato de o museu não poder
fechar durante as obras. A cobertura de vidro que tornou
possível resolver o problema tinha muito que ver com as
inspiradas por uma das pessoas com quem tenho de aprender
muito: Buckminster Fuller. Trata-se de uma típica estrutura de
Fuller que segue a máxima muito pertinente no contexto
contemporâneo de austeridade: as necessidades futuras num
mundo que dispõem de recursos finitos, como fazer mais com
menos... Enfim, Buck, sempre otimista, demonstrando o poder
benéfico da tecnologia para melhorar o nível de vida,
empregando cada vez menos materiais.

Continuemos agora com um projeto na Índia. Dharavi é um
bairro pobre de Bombaim. Tem 175 hectares de extensão e uma
população de um milhão de habitantes, com uma densidade
muito alta. Foi-nos pedido fazer um estudo de desenho para
recomendar mudanças no bairro: Como poderia se transformar,
modernizar-se, melhora-se? Neste processo de investigação nos
demos conta de um detalhe significativo: certo edifício moderno
do bairro permanecia vazio, sem uso, sem relevância para as
necessidades da comunidade, uma comunidade que por outro
lado, é extremamente vibrante e dinâmica. A comunidade presta
um serviço a Bombaim. Conta com uma economia enorme em
termos relativos, estimadas em E$ 250 milhões. Recicla 80% dos
resíduos de Bombaim. Analisando tudo isso, nossa equipe
chegou a conclusão de que os lugares de trabalho – as oficinas requerem espaços essencialmente horizontais. O trabalho deve
processar-se da frente para o fundo do edifício. As famílias vivem
em cima destes locais de trabalho. A frente da rua se concebe
como um mostruário e é servida por poucas ruas. Se alguém
caminha atravessando-as até o outro lado, pode encontrar-se a
escola, por exemplo. Uma vez que você se dá conta de que isto
só pode funcionar em um bairro de pedestres, de gabarito baixo
mas com muita densidade, entendes porque o edifício moderno
que mencionamos acima não funciona. Logo, nossa proposta
para transformar Dharavi respeita muitas das coisas que já
funcionam no bairro. Trata-se, novamente, de infraestruturas, de
serviços, de ligar redes de saneamento básico, de modernizar
mas também de respeitar o modo urbano. Constrói-se sobre a
tradição, aprendendo de seus mecanismos. Os únicos espaços
públicos do bairro eram a escola, o cemitério e as vias férreas,
completamente ocupadas pelas pessoas quando não passam os
trens e, momentaneamente evacuadas quando passam. Aqui se
tem a ideia de um lugar híbrido. Resulta fascinante, uma vez que
o trem passa, comprovar como a comunidade volta a crescer e se
realinhar completamente no espaço das via férrea.

Gostaria de terminar falando de um projeto que é uma
experiência. É um de uma série de experimentos chamados
Masdar. Por si mesmo seria muito difícil criar uma comunidade
que não gerasse resíduos num clima como o espanhol ou em um
mais frio como o de Londres ou Paris. Mas, fazê-lo num clima
extremamente hostil como o deserto é bastante desanimador.
Nosso ponto de partida foi tratar de aprender do mundo anterior
a época em que a energia se converteu em algo barato, de
‘aprendera a reaprender’ as lições que temos esquecido com o
passar do tempo. Como se viravam as pessoas antes de poder
controlar o clima apertando simplesmente um botão, antes de
ter gasolina ou carvão acessíveis, antes da revolução industrial
com a qual se generalizou o conceito de energia barata, antes de
poder gastar energia sem pensar em seu custo? Em outras
palavras, com fazer mais com menos?

É neste sentido que estamos interessados em aprender com o
passado. Estudamos as casas tradicionais da região. O mais
interessante é que nos povoados pequenos, nas aldeias, as casas
se agrupam, se aproximam muito. Com esta estratégia e gerando
zonas de sombras, a temperatura exterior cai de 66. C para 46. C.
Atentando a estas lições tradicionais, constata-se, ademais, que
são gerados espaços muito belos que podem servir de
inspiração. Por detrás das fachadas das casas tradicionais
encontramos pátios com colunas. A temperatura volta a baixar.
Se plantamos vegetação nos pátios e colocamos fontes neles,
graças a isso se produz um resfriamento evaporativo e a
temperatura baixa ainda mais. Depois nos fixamos em outro
mecanismo tradicional de controle do clima: as torres de vento.
As torres de vento se usavam só nas casas nobres. Introduzem
nas casas as correntes de ventilação, fazendo passar o ar através
de trapos ou roupa úmida. Em nosso projeto tínhamos de ser
capazes de prever o rendimento e projetar uma torre capaz de
esfriar não um edifício, mas sim um espaço público. Todas estas
lições foram aplicadas em Masdar. A orientação é muito
importante em questão de sombreamento. Com respeito ao
trânsito a cidade está organizada em camadas: os carros, neste
caso carros especiais – circulam sob o nível da calçada principal.
O carro tradicional estaciona no perímetro de Masdar. Neste
sentido Masdar é como uma cidade murada do passado. Antes
foi dado ênfase ao caráter experimental de Masdar: há 12
experimentos que se estão realizando em separado, não todos
eles exitosos, dos quais pudemos aprender enormemente.
Projetamos a cidade, mas não sabíamos até que ponto ia ou não
ter êxito. E não só é a temperatura que se mede; é também a
completa interação entre a cor da superfície, a extensão destas
que se expõem o sombreamento, a umidade. Neste sentido
temos que lembrar que Masdar é o primeiro passo de um
projeto muito maior relacionado com a energia; é também um
centro universitário para investigação em energias renováveis
que requerem altas demandas e serviços de energia durante as
24 horas do dia. Aqui, naturalmente, as luzes estão sempre
acesas.

Temos mencionado acima a aceleração do crescimento e as
economias emergentes. Um processo que durou 200 na Europa
se tem dado hoje em apenas 20. Nos países mais ricos do Golfo,
tem ocorrido em apenas dez. Em relação a este processo
gostaria de terminar falando de um dos experimentos mais
interessantes de Masdar: um carro urbano que pode-se alugar
pelo celular. Você começa sua viagem em Dubai e acabas no
deserto. O carro para realiar este trajeto tem rodas maiores que
as normais. Pode ser conduzido por controle remoto numa parte
da viagem. Isso será inevitável no futuro e dará lugar a algo
parecido com o espaço aéreo regulado e controlado. O carro
chega, por exemplo, a um de nosso projetos no centro de Abu
DAbi, no Mercado Central, e depois volta a Masdar achando seu
caminho pelas redes de pistas. Finalmente chega a Masdar e,
diferente do que ocorre com os carros tradicionais, não é
necessário deixá-lo no estacionamento, já que é sustentável e
pode existir com outros carros robôs ecológicos. Pode
compartilhar o mesmo espaço que eles, sendo controlado desde
o sistema inteligente da cidade e quando se desliga, carrega-se
automaticamente. Pode-se ir com ele à biblioteca, aos
laboratórios e às oficinas de painéis fotovoltaicos e acidade
murada com suas fazendas solares que contrastam com as
fazendas tradicionais. De fato, tanto aqui com em todo nosso
trabalho, não é só atender às demandas de um mundo mais
austero, senão de como atender a elas com funções mais
festivas, para criar espaços e lugares que sejam cada vez
melhores.

Tradução livre e safada de Carlos Elson Cunha

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O espaço público e a infraestrutura na cidade sustentável

  • 1. O COMUM NO GLOBAL Norman Foster O tema dessa conferência poderia ser expressado também de acordo com o título da última Bienal de Veneza, “Common Ground”, ou seja, o terreno comum ou compartilhado. Também poderia ser interpretado no sentido de ‘espaço público’ ou da ‘infraestrutura’. Afinal se trata do mesmo: um conceito de vital
  • 2. importância, algo que me tem fascinado desde que era um universitário e que segue sendo até hoje. O espaço público pode adquirir muitas formas diferentes: pode transformar-se grças a celebração ou pelas peregrinações religiosas; pode ser um humilde mercado, um lugar de reunião; pode ser o centro de uma pequena comunidade; pode ser até um parque de atrações; pode ser uma encrusilhada em Shangai, um esquina de rua onde pessoas se esbarram entre si e trocam coisas; pode ser também algo mais formal, como uma passagem londrina, BurlingtonArcade, por exemplo; pode ser um espaço em grande escala concebido num sentido cívico, como a Praça de São Marcos, em Veneza; pode ser um espaço verde; pode ser um ponto de encontro em uma favela sulamericana; pode ser o lugar para troca política da Primavera Árabe – quem não ouviu falar da Praça Tahrir fazem só alguns meses? -; também pode ser um parque novaiorquino que algumas vezes torna-se um espaço de protesto político; pode ser cruzamento, uma extensão viva da esfera pública, não só u m espaço estático. Se pensarmos no que realmente abarca uma infraestrutura, nos daremos conta de que tem muito que ver com o movimento, com os cruzamentos. Os espaços entre os edifícios pertencem ao comum. É disto que realmente estamos falando. Eu sugeriria que o desenho destes espaços é mais importante que os edifícios considerados isoladamente. Isto não quer dizer que, como arquiteto, eu não seja um apaixonado dos desenhos dos edifícios. Suponho que tenho de sê-lo; é o que impulsiona meu trabalho. Sem dúvida, conforme os anos vão se passando – e, como já disse, meu
  • 3. apaixonado interesse pelos espaços cívicos começou na minha época de estudante – penso mais sobre a qualidade e identidade dos lugares. Trata-se da esfera pública construída pelos espaços desenhados. Pode ser que não tenham um desenhista famoso – seu autor será, quase sempre – um burocrata, um ancião de uma aldeia, um engenheiro ou um arquiteto – mas todos eles estão desenhados, servem à sociedade e são inseparáveis dela. Tais espaços públicos também tem uma relação muito estreita com os problemas da sustentabilidade, especialmente no contexto da rápida urbanização que ocorre nos países emergentes, que provoca que 200.000 pessoas se mudem cada dia do campo para a cidade em busca de maior liberdade e prosperidade. Grosso modo, considerando a forma que adotam, há dois modelos de assentamentos urbanos. Um deles é o tradicional, por exemplo, Copenhague, que pode comparar-se, por exemplo, com Detroid, um modelo relativamente recente baseado no uso do automóvel e dependente das redes de circulação e transporte. Note-se a relação entre a densidade e a sustentabilidade em ambas as cidades: Detroid tem a metade da densidade de Copenhague, mas consome dez vezes mais energia contabilizada em litros de gasolina, pelo que, sendo Detroid um modelo muito recente, está já desacreditado, e as reinterpretações das cidades europeias mais densas e amigáveis aos pedestres, continuam sendo modelos potenciais para o futuro. O interessante é notar como a China exacerba muitas destas tendências. Como economia emergente, torna-se interessante
  • 4. comparar que a China é estatisticamente o lugar onde se dá o maior pico de engarrafamento hoje em dia, que se deu em agosto de 2010. Produziu-se ao longo de cem quilometros, durou onze dias e envolveu 10.000 veículos. Isto nos recorda também que 70% da energia que consumimos em nossas sociedades industrializadas são usados realmente nos edifícios e nas atividades que produzem entre os edifícios. Uma cidade como Detroid consome, portanto, muita energia, mas Hong Kong – graças à sua mescla de usos, a alta qualidade de seu transporte público, seu caráter pedestrino – gasta bem pouca e é, portanto, altamente sustentável. A mesma península de Manhattan é também um modelo de sustentabilidade, e é muito amigável aos pedestres, tendo o Central Park como pulmão verde no coração da cidade. Gostaria de mostrar alguns exemplos de nosso trabalho – remontando a nosso projeto em Hong Kong de há 33 anos – da perspectiva de suas respostas ao contexto urbano, dando conta da maneira que se tratou de devolver algo a cidade e melhorar seus indicadores de vida, não enquanto peças ensimesmadas ou edifícios isolados, como se fosse esculturas, mas por que realmente estão conectados com o tecido social da cidade, com o espírito do espaço público. Hong Kong, nunca é demais dizer, é uma cidade muito densa e cheia de gente. Um dos seus pequenos espaços verdes é a Statue Square. Diante deste parque está a implantação do nosso Banco de Hong Kong, cujo concurso remonta a 1979, e que se abriu a ao público em 1985. Desde o princípio tivemos a ideia de erguer o edifício sobre o solo com o objetivo de dar continuidade ao
  • 5. espaço público sobre ele. Assim, conforme vamos nos aproximando, ele vai se tornando acolhedor. O piso de operações do banco não invade, assim o público, mas flutua sobre a rua. O interessante é que todos os domingos, se alguém observa através do piso de vidro do banco, pode ver um ajuntamento extraordinário. O espaço é tomado pela comunidade filipina, pelas empregadas domésticas de muitas famílias de Hong Kong. Trata-se, na sua maioria, de graduadas universitárias que emigraram à cidade porque o nível de vida é melhor e podem enviar seus salários a suas famílias das Filipinas. Cada domingo celebram, de certo modo, sua identidade nacional. O mais curioso é o modo que se reúnem segundo uma ordem espontânea, o tipo de ordem que alguém pode encontrar numa favela. Depois, quando chega a segunda-feira de manhã e durante os restantes dias da semana até o domingo seguinte, o espaço sob o banco volta a liberar-se, sendo um espaço cívico. Se se olha através das janelas do banco, para o outro lado da água, pode-se ver no oeste de Kowloon, um dos setores da cidade que foi objeto de um concurso. O que resultou de interessante de nossa proposta para este concurso – e tivemos grande dificuldade em comunicar nossa Ideia tanto aos jurados como ao público – era que, como plano diretor, tratava-se de uma verdadeira ampliação da cidade. Não consistia em desenhar edifícios individuais. Insisto nisso porque considero muito difícil – até mesmo para arquitetos – ter consciência e sensibilidade da importância de das ruas da cidade tradicional, de suas calçadas, de suas avenidas e seus becos, sejam estreitos, próprios para pedestres ou com tráfego.
  • 6. Qual é o DNA de uma cidade? Como se pode aprender dele? Como se criam espaços exteriores? Creio que o problema é que, nós, arquitetos, temos sido educados para pensar nos edifícios como entes isolados, sem olhar a cidade em seu conjunto. Creio que este projeto em Hong Kong é brilhante na forma em que se relaciona com a cidade. Não é apenas um objeto no espaço; em grande medida é um edifício que cria um espaço cívico. Quando participamos do concurso para Kowloon, retornamos a Hong Kong e tratamos de encontrar o segredo destes espaços-chaves. Se alguém vai à direita ou à esquerda da rua, topa com um labirinto de estreitas vielas. A combinação destes espaços é, precisamente, o que caracteriza Hong Kong. Podemos analisar? Podemos destrinchar? Sentimo-nos tentados a fazê-lo. Através da investigação descobrimos que a estratificação, do modo com as lojas se situam na planta dos edifícios – e sobre elas os edifícios e as lojas – é muito característico de Hong Kong. Depois analisamos o campo visual. A sinalização é um aspecto muito vibrante das ruas. Que proporção de espaço ocupa, por exemplo, os letreiros luminosos numa rua? Poderíamos destrinchar a rua e eliminar tudo que as pessoas detestam nela, por exemplo, a poluição produzida pelo tráfego, os perigos de se atravessar a rua? Poderiam ser mantidas todas as coisas boas e buscar solucionar as mais problemáticas? A resposta final a tais perguntas foi nossa proposta para o concurso de Kowloon. Um de nossos projetos que foi muito importante no passado, devido a sua relação com o contexto urbano, em sentido amplo, foi o que surgiu de um pequeno concurso em Nimes, no sul da
  • 7. França, remontando a 1985. O maravilhoso tempo romano que fazia parte de um solar, era objeto do concurso, estava ocupado naquele momento por ruínas de uma colunata de um prédio do século XIX destinado a ópera, que sofreu um incêndio há alguns anos. Antes que se escolhessem os nomes dos selecionadas para participar, todos foram convidados a visitar a cidade, mas eu preferi visitá-la incógnito. Ninguém sabia que eu estava ali, e pude assim, com liberdade, desenhar e tomar notas sobre as coisas que me pareceram emocionantes do lugar, todas elas relacionadas com a infraestrutura, com as ruas da cidade. Por exemplo: esse tipo de túnel escuro que é o bulevar que conduz ao solar; a exposição de luz quando se chega à praça; o problema dos carros estacionados diante do templo romano. Em última análise, os desenhos revelavam que não se tratava de fazer um edifício, mas sim de jogar num campo mais amplo... O interessante é que ganhamos o concurso, e nos pusemos a trabalhar com as autoridades, com o apoio de um prefeito muito compreensivo. De novo, a transformação que propôs o projeto foi muito além de um edifício individual. Neste sentido, é muito difícil dizer o que este projeto. Trata-se de um prédio ou concerne ao espaço urbano? Naturalmente, ambos os conceitos são muito difíceis de separar. Se converteram em uma única coisa, pois ambos foram concebidos com parte do mesmo problema, do mesmo desafio. Outro aspecto é que o público pode atravessar diretamente o edifício de um lado ao outro, uma vez que este se tornou um atalho. Constitui a maneira mais rápida de ir de um lado da praça a outro bairro: a pessoa entra, portanto, ali não só pelas qualidades que encontra, mas também
  • 8. porque é a maneira mais direta de atravessar essa parte da cidade. Em sua resposta urbana, o edifício apresenta a mesma altura que inúmeros outros ao redor, o que significa ter pouca altura, daí a importância de levar luz natural até o fundo do espaço interior. Quando alguém chega a parte coberta do edifício, sob a sombra, tem consciência do compromisso do projeto com a cidade, do compromisso com a história da praça, com o monumento e do diálogo entre o antigo e o novo. Criou-se um espaço para celebrações, um tipo de cenário para o entretenimento cívico. Outro edifício que é uma espécie de catalisador cultural da requalificação urbana é o chamado The SAge, em Gateshead. Trata-se de um projeto diferente de Nimes. Este destinou-se fundamentalmente às artes visuais e tem que ver com o conceito, muito próprio da França, da midiateca que registra aquilo que é característico na comunidade, especialmente, neste caso, o relacionado com a tourada. The Sage, por sua vez, diz respeito à música: sua cobertura, concebida como um grande guarda-chuvas, abriga uma escola de música e duas salas destinadas a encenação; uma bastante grande e formal, para a música clássica, e outra par o jazz, o folk e outros estilos mais improvisados. Mas o importante no edifício é como assume um modelo de rua. Cria, com efeito, uma nova rua em seu interior que segue a margem do rio. É uma artéria importante. Novamente, como no caso de Nimes, a pessoa pode tomar esta rua interna não apenas porque deseja chegar a setores do edifício, mas para usa-la como um atalho que pode levar também à cafeteria e, inclusive, se for curioso, talvez usar os equipamentos culturais que o edifício oferece.
  • 9. O projeto da Margot and Bill Winspear Opera House é também um catalisador de requalificação urbana. Sem dúvida, sua localização não poderia ser mais diferente que a de Nimes, pois está em Dallas, Texas. A sociedade do Texas depende completamente do automóvel. Nosso projeto, que está precisamente ao lado de uma rodovia, aposta, ao contrário, no uso por pedestres. Acontece que nas comunidades norteamericanas mais dependentes do automóvel, se tem hoje uma consciência crescente sobre a importância de se restabelecer o equilíbrio entre carros e pedestres e de buscar o público. Este projeto – também levado a cabo mercê de um concurso – enfrenta fundamentalmente as questões relativas à reumanização da cidade, recorrendo ao uso inteligente de passarelas. Trata-se de um Zola a que se chega vindo do centro de Dallas e que converte numa espécie de oásis pelo qual os usuários podem caminhar durante cinco ou dez minutos par desfrutar das opções que edifício oferece, ainda que sua principal função seja de teatro de ópera. O Museu de Belas Artes de Boston é outro de nossos projetos culturais que busca trabalhar com a comunidade da qual faz parte e aposta na requalificação, criando ainda um terreno compartilhado ou um espaço comum capaz de atrair público ao museu, inclusive aos que nãot tenham intenção de visitar exposições, feiras ou galerias. Antes de nossa intervenção se havia feito uma relativamente recente – ‘relativamente recente’ significa nas duas décadas anteriores – uma ampliação do museu ao oeste. O mais importante é o incrível parque rodeando o
  • 10. parque, que foi uma iniciativa de Olmested – o paisagista que desenhou o Central Park – e que então estava completamente tomado por delinquentes. Era um setor se devia evitar, um lugar perigoso. Mas o gesto de criar um tipo de foco social no coração do edifício tornou possível estabelecer um vínculo com a cidade e, portanto, transformar a zona mediante a interação do museu com seu entorno. Outro projeto que gostaria de tratar em relação ao espaço público é o Reichstag. No projeto se tratava de fazer mais com menos, eliminando o consumo de combustíveis fósseis, recorrendo à biomassa e ao biodiesel, usando o nível do lençol freático como dissipador térmico no verão e como aquecedor no inverno, contando com energias renováveis, como a fotovoltaica. Também se trabalhou com a ventilação cruzada e criou-se vitrôs que refletem a luz natural para introduzi-la no interior do edifício. Entretanto o Reichstag também se converteu em um símbolo do processo democrático posto em ação. E tem sido em grande medida, um símbolo da Alemanha reunificada, tal e como pediam as exigências do concurso. O edifício é, portanto, essencialmente um elemento ecológico, mas também tem muito a ver com a ideia de um espaço que interage com o corpo político. Todas essas intenções que aderem aos requisitos do projeto, por exemplo, o espaço público coberto do Reichstag ou como acabamos de ver, o fato de comprometer-se com a cidade de Boston ou de criar um espaço público em Hong Kong – não formam nunca parte das instruções que se dão ao arquiteto.
  • 11. Nunca são pedidas. Depende de nós, como arquitetos, trabalhando com aqueles que nos confiam os edifícios, fazer pela cidade, ajuntar essa condição ao nosso trabalho. Isto é algo muito importante. A nós ninguém diz: “Já sabes, quero que faças um espaço público na cobertura do Reichstag”. Muito ao contrário. Lembro-me de uma reunião com 65 representantes dos partidos políticos, que me perguntaram: “Sr. Foster, por que alguém desejaria ir à cobertura do Reichstag? Por que desejariam tomar um café ali?” Naturalmente, o processo final conduziu à aceitação de nossas ideias. O único problema que se surgiu mais tarde é que o restaurante tornou-se tão popular que fomos criticados por tê-lo feito pequeno demais. Mas este é um problema bom de se ter. Então 35 milhões de pessoas já o visitaram desde então, e o restaurante em questão é o mais requisitado da Alemanha. Por outro lado, a grande espiral descendente sobre a plataforma de observação da cúpula deixa entrever pelo chão de vidro, o corpo político, a câmara de debates parlamentares e, portanto, põem simbolicamente o público – ou seja, a sociedade civil – por cima destes. Ademais, o espelho central que se eleva sobre o espaço gera um efeito de túnel de vento que permite sugar o ar do interior do edifício, reduzindo a carga energética. No caso de nosso projeto para o Museu Britânico em Londres, responde também a uma instituição cultural que vai além das exigências de sua coleção e oferece algo à cidade da qual faz parte. Antes de nossa intervenção, se alguém queria visitar o museu tinha que atravessar uma após outra, uma série de galerias concatenadas. Entretanto a solução ideal era ir a um espaço central distribuidor desde o qual se pudesse ir a cada
  • 12. uma as galerias individuais, de uma maneira mais civilizada. Para nós as pistas para se construir o futuro devem ser buscadas no passado. Alguém disse que se queres ir avançar no futuro, deves olhar o que se fazia antes. Olhar atrás, no contexto deste projeto, significava ter em conta o espaço central. Assim, a grande cúpula da biblioteca - a célebre biblioteca trasladada a outro lugar – foi um dos desencadeantes de nossa proposta para o concurso. Curiosamente, quando se olha para traz, nos damos conta de que, quando o edifício foi construído, originalmente não havia nenhuma biblioteca. Havia um pátio com jardim. Quando o arquiteto do edifício morreu, pouco depois de o haver construído, seu irmão concebeu a biblioteca junto com uma grande quantidade de estruturas secundárias em torno da peça circular. Esta nunca teve, assim, uma fachada. O espaço sempre esteve ocluso, completamente preenchido. Assim nossa missão, nosso objetivo realmente foi recuperar o jardim histórico dentro do qual se encontrava a biblioteca e tivemos a ideia de que, em vez de forçar o caminho do visitante através das sucessivas galerias, se poderiam entrar no grande espaço central em torno da biblioteca e, dali, seguir a cada uma das galerias. Todavia, - e se trata de um ‘todavia’ muito grande – a ideia do projeto para este espaço era abri-lo a cidade fora do horário do museu, adaptando-o a celebrações de eventos especiais à noite. Como nos casos já mencionados, também se poderia caminhar pelo novo vestíbulo sem ter a intenção de ir a nenhuma exposição, atravessando-o até sair pelo extremo oposto, num caminho mais curto e agradável. Logo tivemos a ideia de cobrir todo o espaço com um trecho de vidro para que pudesse funcionar durante todo o ano. Os modos lógicos de fazer isso
  • 13. eram bastante importantes devido aos aproximadamente seis milhões de visitantes anuais e ao fato de o museu não poder fechar durante as obras. A cobertura de vidro que tornou possível resolver o problema tinha muito que ver com as inspiradas por uma das pessoas com quem tenho de aprender muito: Buckminster Fuller. Trata-se de uma típica estrutura de Fuller que segue a máxima muito pertinente no contexto contemporâneo de austeridade: as necessidades futuras num mundo que dispõem de recursos finitos, como fazer mais com menos... Enfim, Buck, sempre otimista, demonstrando o poder benéfico da tecnologia para melhorar o nível de vida, empregando cada vez menos materiais. Continuemos agora com um projeto na Índia. Dharavi é um bairro pobre de Bombaim. Tem 175 hectares de extensão e uma população de um milhão de habitantes, com uma densidade muito alta. Foi-nos pedido fazer um estudo de desenho para recomendar mudanças no bairro: Como poderia se transformar, modernizar-se, melhora-se? Neste processo de investigação nos demos conta de um detalhe significativo: certo edifício moderno do bairro permanecia vazio, sem uso, sem relevância para as necessidades da comunidade, uma comunidade que por outro lado, é extremamente vibrante e dinâmica. A comunidade presta um serviço a Bombaim. Conta com uma economia enorme em termos relativos, estimadas em E$ 250 milhões. Recicla 80% dos resíduos de Bombaim. Analisando tudo isso, nossa equipe chegou a conclusão de que os lugares de trabalho – as oficinas requerem espaços essencialmente horizontais. O trabalho deve processar-se da frente para o fundo do edifício. As famílias vivem em cima destes locais de trabalho. A frente da rua se concebe
  • 14. como um mostruário e é servida por poucas ruas. Se alguém caminha atravessando-as até o outro lado, pode encontrar-se a escola, por exemplo. Uma vez que você se dá conta de que isto só pode funcionar em um bairro de pedestres, de gabarito baixo mas com muita densidade, entendes porque o edifício moderno que mencionamos acima não funciona. Logo, nossa proposta para transformar Dharavi respeita muitas das coisas que já funcionam no bairro. Trata-se, novamente, de infraestruturas, de serviços, de ligar redes de saneamento básico, de modernizar mas também de respeitar o modo urbano. Constrói-se sobre a tradição, aprendendo de seus mecanismos. Os únicos espaços públicos do bairro eram a escola, o cemitério e as vias férreas, completamente ocupadas pelas pessoas quando não passam os trens e, momentaneamente evacuadas quando passam. Aqui se tem a ideia de um lugar híbrido. Resulta fascinante, uma vez que o trem passa, comprovar como a comunidade volta a crescer e se realinhar completamente no espaço das via férrea. Gostaria de terminar falando de um projeto que é uma experiência. É um de uma série de experimentos chamados Masdar. Por si mesmo seria muito difícil criar uma comunidade que não gerasse resíduos num clima como o espanhol ou em um mais frio como o de Londres ou Paris. Mas, fazê-lo num clima extremamente hostil como o deserto é bastante desanimador. Nosso ponto de partida foi tratar de aprender do mundo anterior a época em que a energia se converteu em algo barato, de ‘aprendera a reaprender’ as lições que temos esquecido com o passar do tempo. Como se viravam as pessoas antes de poder controlar o clima apertando simplesmente um botão, antes de ter gasolina ou carvão acessíveis, antes da revolução industrial
  • 15. com a qual se generalizou o conceito de energia barata, antes de poder gastar energia sem pensar em seu custo? Em outras palavras, com fazer mais com menos? É neste sentido que estamos interessados em aprender com o passado. Estudamos as casas tradicionais da região. O mais interessante é que nos povoados pequenos, nas aldeias, as casas se agrupam, se aproximam muito. Com esta estratégia e gerando zonas de sombras, a temperatura exterior cai de 66. C para 46. C. Atentando a estas lições tradicionais, constata-se, ademais, que são gerados espaços muito belos que podem servir de inspiração. Por detrás das fachadas das casas tradicionais encontramos pátios com colunas. A temperatura volta a baixar. Se plantamos vegetação nos pátios e colocamos fontes neles, graças a isso se produz um resfriamento evaporativo e a temperatura baixa ainda mais. Depois nos fixamos em outro mecanismo tradicional de controle do clima: as torres de vento. As torres de vento se usavam só nas casas nobres. Introduzem nas casas as correntes de ventilação, fazendo passar o ar através de trapos ou roupa úmida. Em nosso projeto tínhamos de ser capazes de prever o rendimento e projetar uma torre capaz de esfriar não um edifício, mas sim um espaço público. Todas estas lições foram aplicadas em Masdar. A orientação é muito importante em questão de sombreamento. Com respeito ao trânsito a cidade está organizada em camadas: os carros, neste caso carros especiais – circulam sob o nível da calçada principal. O carro tradicional estaciona no perímetro de Masdar. Neste sentido Masdar é como uma cidade murada do passado. Antes foi dado ênfase ao caráter experimental de Masdar: há 12 experimentos que se estão realizando em separado, não todos
  • 16. eles exitosos, dos quais pudemos aprender enormemente. Projetamos a cidade, mas não sabíamos até que ponto ia ou não ter êxito. E não só é a temperatura que se mede; é também a completa interação entre a cor da superfície, a extensão destas que se expõem o sombreamento, a umidade. Neste sentido temos que lembrar que Masdar é o primeiro passo de um projeto muito maior relacionado com a energia; é também um centro universitário para investigação em energias renováveis que requerem altas demandas e serviços de energia durante as 24 horas do dia. Aqui, naturalmente, as luzes estão sempre acesas. Temos mencionado acima a aceleração do crescimento e as economias emergentes. Um processo que durou 200 na Europa se tem dado hoje em apenas 20. Nos países mais ricos do Golfo, tem ocorrido em apenas dez. Em relação a este processo gostaria de terminar falando de um dos experimentos mais interessantes de Masdar: um carro urbano que pode-se alugar pelo celular. Você começa sua viagem em Dubai e acabas no deserto. O carro para realiar este trajeto tem rodas maiores que as normais. Pode ser conduzido por controle remoto numa parte da viagem. Isso será inevitável no futuro e dará lugar a algo parecido com o espaço aéreo regulado e controlado. O carro chega, por exemplo, a um de nosso projetos no centro de Abu DAbi, no Mercado Central, e depois volta a Masdar achando seu caminho pelas redes de pistas. Finalmente chega a Masdar e, diferente do que ocorre com os carros tradicionais, não é necessário deixá-lo no estacionamento, já que é sustentável e pode existir com outros carros robôs ecológicos. Pode compartilhar o mesmo espaço que eles, sendo controlado desde
  • 17. o sistema inteligente da cidade e quando se desliga, carrega-se automaticamente. Pode-se ir com ele à biblioteca, aos laboratórios e às oficinas de painéis fotovoltaicos e acidade murada com suas fazendas solares que contrastam com as fazendas tradicionais. De fato, tanto aqui com em todo nosso trabalho, não é só atender às demandas de um mundo mais austero, senão de como atender a elas com funções mais festivas, para criar espaços e lugares que sejam cada vez melhores. Tradução livre e safada de Carlos Elson Cunha