2. A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
*
Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.
3. ANÁLISE
• É caracterizado pela irregularidade métrica e por um ritmo rápido relacionado com a
estrutura narrativa do poema, que é realçada pelo recurso a sucessivos transportes.
• O poema possui cinco sextilhas e o esquema rimático é: AA/BB/CC
• O poema “Noite” dá luz à terceira parte da obra, “O Encoberto”. Expressa o desejo do
renascimento e da reconquista de uma alma e de uma identidade perdidas, e apela à
mudança e à acção dos portugueses na construção de um Império futuro, o Quinto
Império.
• Existe a expectativa de algo acontecer em que a “Noite” é o tempo de gestação de alguma
coisa e, também simbolizar o tempo da morte e do mistério. A “ânsia” pela reabilitação da
pátria leva o sujeito poético a relembrar os heróis que permanecem na memória.
4. ESTRUTURA INTERNA
• 1ª parte do poema corresponde às duas primeiras estrofes e diz respeito ao passado
enquanto tempo da descoberta e da superação refirindo-se, então, aos heróis dos
Descobrimentos, aqueles que nunca atingem a satisfação e a felicidade e que se
distinguem do animal ( “Ser descontente é ser homem” ). O mar é o local onde os
portugueses superaram os limites representando a conquista humana em relação ao
conhecimento.
5. ESTRUTURA INTERNA
• 2ª parte do poema corresponde à terceira e quarta estrofes e representam, após a
morte dos heróis, o presente, isto é, a decadência do Império e a vontade de
reabilitação da morte dos dois irmãos, da pátria, concretizada pelo terceiro irmão
(“olhos rasos de ânsia/ Fitando a proibida azul distância”). O “Poder” e o “Renome”
são a alusão simbólica a dois referentes históricos, os irmãos Corte-Real, que estão
aqui desmaterializados para vencer o tempo.
6. ESTRUTURA INTERNA
• 3ª parte do poema. A estrofe final é um apelo a Deus, enquanto entidade abstracta,
pelo ressurgimento do Império (“A Deus as mãos alçamos”).