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Antemanhã
 Terceira Parte
“O Encoberto”
Morte das energias de Portugal
simbolizada no
“nevoeiro”, afirmação do
sebastianismo representado na
forma de “encoberto”, apelo e
ânsia messiânica da construção do
Quinto império.
Antemanhã
                                            O mostrengo que está no fim do mar
                                            Veio das trevas a procurar
Face a "O Mostrengo" de Mar Português       A madrugada do novo dia,
conclui-se que Pessoa quer de novo          Do novo dia sem acabar;
simbolizar o medo do desconhecido, agora    E disse, «Quem é que dorme a lembrar
não do mar ignoto, mas da via para o        Que desvendou o Segundo Mundo,
Quinto Império na qual Portugal ainda não   Nem o Terceiro quer desvendar?»
se lançara (está dormindo). No entanto o
mostrengo que um dia foi soberano é
agora servo de Portugal (o medo já não      E o som na treva de ele rodar
será nosso, mas de outros) que              Faz mau o sono, triste o sonhar.
procura, debalde, para o início do          Rodou e foi-se o mostrengo servo
caminho. O nome deste poema indica que      Que seu senhor veio aqui buscar,
está a chegar a hora, "a madrugada do       Que veio aqui seu senhor chamar –
novo dia".                                  Chamar Aquele que está dormindo
                                            E foi outrora Senhor do Mar
Antemanhã
   O mostrengo é uma figura criada por
   Pessoa, para fazer de imagem do
   Encoberto, ou seja tudo para o qual o
                                             O mostrengo que está no fim do mar
   Homem não está preparado para saber.      Veio das trevas a procurar
                                             A madrugada do novo dia,
                                             Do novo dia sem acabar;
                                             E disse, «Quem é que dorme a lembrar
                                             Que desvendou o Segundo Mundo,
Este versos anunciam um novo                 Nem o Terceiro quer desvendar?»
dia, uma nova era e um novo
começo



                                           Nestes versos Pessoa descreve-nos que
                                           quem já descobriu o segundo Mundo há
                                           muito, não anseia por desvendar o
                                           terceiro, pois o homem ainda não está
                                           preparado para tal.
O mostrengo anuncia que os portugueses       E o som na treva de ele rodar
devem abandonar a descoberta do              Faz mau o sono, triste o sonhar.
segundo Mundo, pela mesma razão que
                                             Rodou e foi-se o mostrengo servo
não devem avançar para a descoberta do
terceiro.
                                             Que seu senhor veio aqui buscar,
                                             Que veio aqui seu senhor chamar –
                                             Chamar Aquele que está dormindo
                                             E foi outrora Senhor do Mar


                    Assim quando o “Senhor do mar”
                    abandona os portugueses, nasce um novo
                    dia, no sentido em que os Portugueses
                    podem continuar o caminho à descoberta
                    do segundo e possivelmente terceiro
                    mundo.
Descassilábico                      O mostrengo que está no fim do mar a
                                    Veio das trevas a procurar            a
                                    A madrugada do novo dia,              b
                                    Do novo dia sem acabar;               a
Decassilábico                       E disse, «Quem é que dorme a lembrar a
                                    Que desvendou o Segundo Mundo,        c
                                    Nem o Terceiro quer desvendar?»     a


                                    E o som na treva de ele rodar           a
                                    Faz mau o sono, triste o sonhar.    a
Pergunta retórica                   Rodou e foi-se o mostrengo servo        b
                                    Que seu senhor veio aqui buscar,        a
                                    Que veio aqui seu senhor chamar –       a
                                    Chamar Aquele que está dormindo         b
  Anáfora                           E foi outrora Senhor do Mar             a




  Face a "O Mostrengo" de Mar Português conclui-se que Pessoa quer de
  novo simbolizar o medo do desconhecido

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Mensagem - Antemanhã

  • 1. Antemanhã Terceira Parte “O Encoberto” Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”, afirmação do sebastianismo representado na forma de “encoberto”, apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto império.
  • 2. Antemanhã O mostrengo que está no fim do mar Veio das trevas a procurar Face a "O Mostrengo" de Mar Português A madrugada do novo dia, conclui-se que Pessoa quer de novo Do novo dia sem acabar; simbolizar o medo do desconhecido, agora E disse, «Quem é que dorme a lembrar não do mar ignoto, mas da via para o Que desvendou o Segundo Mundo, Quinto Império na qual Portugal ainda não Nem o Terceiro quer desvendar?» se lançara (está dormindo). No entanto o mostrengo que um dia foi soberano é agora servo de Portugal (o medo já não E o som na treva de ele rodar será nosso, mas de outros) que Faz mau o sono, triste o sonhar. procura, debalde, para o início do Rodou e foi-se o mostrengo servo caminho. O nome deste poema indica que Que seu senhor veio aqui buscar, está a chegar a hora, "a madrugada do Que veio aqui seu senhor chamar – novo dia". Chamar Aquele que está dormindo E foi outrora Senhor do Mar
  • 3. Antemanhã O mostrengo é uma figura criada por Pessoa, para fazer de imagem do Encoberto, ou seja tudo para o qual o O mostrengo que está no fim do mar Homem não está preparado para saber. Veio das trevas a procurar A madrugada do novo dia, Do novo dia sem acabar; E disse, «Quem é que dorme a lembrar Que desvendou o Segundo Mundo, Este versos anunciam um novo Nem o Terceiro quer desvendar?» dia, uma nova era e um novo começo Nestes versos Pessoa descreve-nos que quem já descobriu o segundo Mundo há muito, não anseia por desvendar o terceiro, pois o homem ainda não está preparado para tal.
  • 4. O mostrengo anuncia que os portugueses E o som na treva de ele rodar devem abandonar a descoberta do Faz mau o sono, triste o sonhar. segundo Mundo, pela mesma razão que Rodou e foi-se o mostrengo servo não devem avançar para a descoberta do terceiro. Que seu senhor veio aqui buscar, Que veio aqui seu senhor chamar – Chamar Aquele que está dormindo E foi outrora Senhor do Mar Assim quando o “Senhor do mar” abandona os portugueses, nasce um novo dia, no sentido em que os Portugueses podem continuar o caminho à descoberta do segundo e possivelmente terceiro mundo.
  • 5. Descassilábico O mostrengo que está no fim do mar a Veio das trevas a procurar a A madrugada do novo dia, b Do novo dia sem acabar; a Decassilábico E disse, «Quem é que dorme a lembrar a Que desvendou o Segundo Mundo, c Nem o Terceiro quer desvendar?» a E o som na treva de ele rodar a Faz mau o sono, triste o sonhar. a Pergunta retórica Rodou e foi-se o mostrengo servo b Que seu senhor veio aqui buscar, a Que veio aqui seu senhor chamar – a Chamar Aquele que está dormindo b Anáfora E foi outrora Senhor do Mar a Face a "O Mostrengo" de Mar Português conclui-se que Pessoa quer de novo simbolizar o medo do desconhecido