2. “PRECE”
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância —
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
3. Se/nhor/, a/ noi/te/ vei/o/ e a al/ma é/ vil. 10 sílabas
Tan/ta/ foi/ a/ tor/men/ta e a /von/ta/de! 9 sílabas
Res/tam/-nos/ ho/je/, no/ si/lên/ci/o/ hos/til, 11 sílabas
O/ mar/ u/ni/ver/sal/ e a/ sau/da/de. 9 sílabas
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância —
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Rima cruzada
Realização (2º parte)
Regularidade estrófica (3 quadras)
Regularidade rimática
Irregularidade métrica
ESTRUTURA EXTERNA
4. ESTRUTURA INTERNA
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Apóstrofe “A vida é desprezável”
Dificuldades que
ultrapassaram
Sonho
Desânimo após
a conquista
Tristeza
5. Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
ESTRUTURA INTERNA
Depois da morte
esta a esperança
Morte
•Metáfora e Personificação:
Deus e Esperança
6. Dá o sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância —
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
ESTRUTURA INTERNA
“O pedido”
Indefinida e
misteriosa
Apego às
coisas materiais
7. “PRECE”
• A prece é um ato religioso pelo qual nos dirigimos a Deus para suplicar algum benefício. Neste poema,
Deus é invocado para reacender a alma de Portugal (“O Infante”- “Falta cumprir-se Portugal!”), para que
pudessem conquistar de novo.
• Primeira estrofe
Nesta estrofe a expressão “a noite veio” representa tempo de tristeza e abatimento, visto que o
“dia” representou grandeza. Nada do Império material sobreviveu.
No segundo verso “a tormenta” simboliza as dificuldades que os portugueses tiveram que
ultrapassar e “a vontade” que tinham para o fazer, aliás, esta exclamação mostra a grande emotividade
presente no discurso. Após isto, o desânimo é o sentimento que o sujeito poético assume. Apenas resta o
“silêncio hostil” e a “saudade”.
Aqui está visível um país marcado pelo apego às coisas materiais, onde a “alma é vil” e não há
capacidade de sonhar, ao contrário de um passado de “vontade”.
8. “PRECE”
• Segunda estrofe
A segunda estrofe retrata a esperança na morte. A metáfora e personificação “A mão do vento”,
representa Deus e a esperança num país que se pode reerguer. A esperança é o resultado da aceitação
da morte e esta é essencial para a ressurreição.
O que se perdeu na morte foi a “chama” (ocultada pela morte- “O frio morto em cinzas a ocultou”) ,
mas o fundamental não se perdeu (“Se ainda há vida ainda não é finda), ou seja o sonho pode ganhar
força tal como o fogo pode ser reavivado com um sopro.
A repetição da palavra “ainda” reforça também a ideia de que tudo se pode alterar assim como as
“cinzas” podem simbolizar o mistério e o renascer.
9. “PRECE”
• Terceira estrofe
Nesta estrofe é onde aparece o pedido/súplica ou como indica o título, a prece. O sujeito poético
pede ajuda divina, um “sopro” que ateie “a chama do esforço”, mesmo que para isso tenham que pagar
com a “desgraça” ou com a “ânsia”. Esse sopro serviria para levantar as cinzas e desvendar o mistério,
para que a chama reacendesse e a vontade de descobrir regressasse, ou seja, serviria para o recomeço.
A “Distância” é o caminho para o descobrimento, não o do mar, uma vez que império material já
tinha sido descoberto, mas sim o caminho para uma nova viagem (indefinida), a espiritual (império
imaterial- Espiritual).
O último verso, a exclamação, reforça a determinação e a necessidade de procurar a identidade
nacional perdida, mas também a ambição dos portugueses.