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HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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Avanço das ciências exatas e a emergência das ciências sociais
Cientismo e positivismo
A expansão da Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, criou um ambiente
de confiança ilimitada na ciência. Acreditava-se que no laboratório seria possível
descobrir todas as leis segundo o princípio de que todos os fenómenos se encontravam
encadeados numa relação de causa/efeito em que as mesmas causas provocavam sempre
as mesmas consequências. Por conseguinte, o progresso seria tão infindável quão
infindáveis eram as conquistas da investigação científica. Pela ciência, considerada
como única forma de se chegar ao conhecimento genuíno da realidade, se resolveriam
positivamente todos os problemas da Humanidade.
Estas conceções intelectuais encontraram eco em pensadores como Auguste Comte (1798-
1857), ao teorizar o Positivismo. Comte concebeu uma teoria filosófica segundo a qual o
estado positivo, último estado da evolução do conhecimento dos fenómenos naturais, na
sequência dos anteriores estados vividos pela Humanidade, o teológico e o metafísico, é o
único estado científico, pois os fenómenos, finalmente, eram explicados por leis naturais
e universais resultantes da observação e da experimentação laboratoriais.
Eram os tempos do cientismo positivista, em que se desenvolveram as ciências exatas, mas
cujas regras também foram aplicadas às ciências sociais emergentes.
O avanço das ciências exatas
É neste quadro intelectual que se assiste a um grande incremento da investigação científica,
com reflexos nas profundas novidades que surgiram no conhecimento. Os diversos saberes,
outrora reunidos num único saber enciclopédico e sincrético, individualizaram-se quanto
à sua origem, valor lógico e objetivos e especializaram-se no seu desenvolvimento.
A Física
No domínio da Física, as necessidades impostas pelo setor produtivo provocaram uma
revolução no campo energético, com a descoberta, condução e aproveitamento da energia
elétrica. Os desenvolvimentos dos estudos sobre as forças elétricas proporcionaram o
conhecimento do eletromagnetismo e das ondas eletromagnéticas que, já em finais da
década de 80, constituiriam os alicerces da radiodifusão moderna, com importantes
repercussões nas comunicações.
Mais tarde, seria descoberta uma radiação desconhecida que receberia o nome provisório
de raios X. Passava a ser possível, pela primeira vez, observar o interior do corpo mantendo-
o intacto. Do desenvolvimento destes estudos, chegar-se-ia ao conhecimento da
radioatividade a que, já nos inícios do século XX, o casal Curie, Pierre (1859-1906) e Marie
(1867-1934), daria novos desenvolvimentos.
A Química
Outro dos campos científicos ligados à indústria e que, por isso, atingiu grande
desenvolvimento foi a Química, concretamente no que concerne à produção de fertilizantes
(agroquímica), inseticidas, corantes sintéticos, fibras artificiais e materiais plásticos. Mas
também a Medicina, a perfumaria, a higiene, a produção cinematográfica e a fotografia
foram setores que fizeram da Química a ciência do século.
A alimentação beneficiou também das investigações químicas efetuadas, quando Louis
Pateur (1822-1895) conseguiu demonstrar que todo processo de fermentação e
decomposição orgânica ocorre devido à ação de organismos vivos. Era a descoberta da
pasteurização de alguns alimentos.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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A Biologia
A Biologia (ciência da vida) também beneficiou com as novas descobertas. Pela primeira
vez, o carácter divino da criação do Homem e do Mundo é posto em causa, em consequência
das investigações feitas por Charles Darwin (1808-1892), que, numa expedição pelos cinco
continentes, durante cinco anos, acumulou observações, confirmou hipóteses e formulou os
postulados teóricos básicos da ciência biológica moderna.
No seu livro A Origem das Espécies, publicado pela primeira vez a 24 de novembro de 1859,
Darwin defendia que os organismos vivos evoluíam gradualmente através da seleção
natural. Isto é, os seres vivos iam-se desenvolvendo mediante um processo contínuo de
adaptação ao meio ambiente, sobrevivendo e reproduzindo-se os que reunissem as
características que favorecessem essa adaptação e desaparecendo gradualmente os que não
as reunissem. É, por conseguinte, a Natureza que determina o processo evolutivo das
espécies, selecionando as que apresentam melhores condições para sobreviverem.
Noutra obra publicada em 1871, A Origem do Homem, Darwin aplicou as suas conceções
evolucionistas ao estudo da origem e evolução da espécie humana, tendo chegado à
conclusão de que o Homem e o macaco entroncaram num ancestral comum, que
divergiu para múltiplas formas em consequência de diferentes processos de adaptação às
exigências da Natureza.
Outros cientistas, entretanto, aplicaram as conceções darwinistas à botânica. Entre eles,
Gregor Mendel (1822-1884), que, em consequência de aturado estudo sobre espécies
vegetais, formulou as leis da hereditariedade que revolucionariam a Biologia e traçariam as
bases da Genética.
A Microbiologia e a Medicina
Estas importantes descobertas científicas viriam a repercutir-se nos progressos verificados
na Medicina. Os conhecimentos de Pasteur viriam a ser, mais tarde, aplicados na eliminação
de microrganismos vivos em feridas e incisões cirúrgicas, alargando-se depois, com
extraordinário sucesso, ao combate às doenças infeciosas, pela determinação, combate e
eliminação do micróbio responsável por cada enfermidade.
Era o nascimento da microbiologia, em cujo âmbito se desenvolveram os estudos sobre a
importância da vacinação e descobriram as vacinas, com particular relevância para a
antirrábica. Outro importante microbiologista foi Robert Koch (1843-1910), prémio Nobel
da Medicina em 1905, pelos seus estudos sobre as doenças transmissíveis, em especial por
ter descoberto, em 1882, o bacilo responsável pela tuberculose e suas consequências
epidémicas. Seguir-se-ia o conhecimento e o combate a outros germes responsáveis por
outras doenças graves, como a difteria, o tétano, a tosse convulsa e outras infeções
bacterianas, cujo combate passou a ser objetivo dos programas de saúde pública.
A emergência das ciências sociais e humanas
Nem as questões sociais e humanas escapariam ao rigor da metodologia científica de
carácter determinista. Dos estudos de Augusto Comte, nasceria a Sociologia, enquanto
ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em
associações, grupos e instituições.
As posições de Darwin sobre a origem do Homem levaram ao desenvolvimento da
Antropologia, enquanto ciência humana que se preocupa em conhecer a evolução do
Homem, considerando os seus aspetos fisiológicos e raciais. Enquanto ciência social, a
Antropologia passa a debruçar-se também sobre as técnicas, usos, costumes, crenças,
comportamentos e formas de organização do Homem social e geograficamente enquadrado.
A Psicologia, enquanto estudo científico do comportamento e dos processos mentais bem
como da relação que entre os dois se estabelecem, libertou-se definitivamente da Filosofia
e deu grandes avanços graças aos estudos de Pavlov (1846-1924), que, com a teoria do
reflexo condicionado, trouxe novos esclarecimentos sobre os mecanismos que regem as
reações primárias dos homens e dos animais comandadas pelo inconsciente, e de Binet
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(1857-1911), que desenvolveu importantes estudos sobre a quantificação das qualidades
intelectuais através da realização de testes de inteligência.
A Geografia, enquanto conhecimento rigoroso da Terra e respetiva representação
cartográfica, e a História, enquanto conhecimento do passado humano reconstruído a
partir da rigorosa análise das fontes, são outras ciências humanas que atingem grande
desenvolvimento neste período.
A progressiva generalização do ensino público
Os progressos que se verificaram na generalização do ensino público, na segunda metade
do século XIX, inserem-se num ambiente de:
· confiança no progresso científico. Os progressos verificados no bem-estar das
populações em resultado das novidades científicas e tecnológicas vêm reforçar a ideia
iluminista do século XVIII de que a instrução constitui um meio fundamental para se
atingirem novos progressos materiais e a felicidade que deles resulta;
· desenvolvimento do sistema capitalista. Os progressos técnicos não são rentáveis sem
um corpo de operários especializados que coordene a sua aplicação. Os empresários cedo
reconheceram que os níveis de produtividade aumentavam com operários e quadros
burocráticos intelectualmente bem preparados;
· modernização dos Estados. A complexificação das funções político-administrativas
exige, também, quadros burocráticos cada vez mais bem preparados;
· progressos na democracia liberal. Por um lado, os novos partidos de massas têm
consciência de que o analfabetismo era um dos instrumentos de que a burguesia
conservadora se servia para se perpetuar no poder e vêm para a rua exigir uma nova política
de educação como condição para o verdadeiro exercício da democracia; por outro lado, os
governos têm consciência de que dependem cada vez mais dos votos dos eleitores e que só
eleitores bem instruídos poderão compreender melhor as suas mensagens políticas e
transformá-las em votos;
· laicização dos Estados. As políticas de diminuição do peso da religião no exercício do
poder público levaram os governos a combater o monopólio da educação, tradicionalmente
detido por instituições religiosas, consideradas avessas aos progressos da democracia
liberal;
· desenvolvimento da imprensa. A massificação social alimenta o nascente negócio da
informação periódica e do lazer que a máquina capitalista estimula com uma crescente
oferta no mercado. Só cidadãos alfabetizados podem alimentar o comércio da informação
escrita.
Toda esta conjuntura impôs aos governos a necessidade de promover a instrução
escolar. Com efeito, assistimos, na segunda metade do século XIX, ao lançamento de
importantes programas de democratização do ensino público, de que, nos inícios do
século XX, Portugal constituiu um importante exemplo.
O maior incremento ocorreu no ensino primário, que passou a ser gratuito e obrigatório, e
o poder central assumiu o dever de promover a construção de escolas e de remunerar os
professores, cuja formação foi também incentivada.
O ensino secundário, mais procurado pelos filhos da burguesia, foi também desenvolvido
graças ao aparecimento dos primeiros liceus e escolas técnicas nas grandes cidades e à
modernização dos currículos, programas escolares e métodos pedagógicos, orientados para
a formação de quadros burocráticos e técnicos exigidos pelo mundo empresarial.
O ensino superior não foi descurado, com o objetivo de formar quadros superiores,
exigidos pela modernização da sociedade e pelo desenvolvimento da investigação científica.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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O interesse pela realidade social na literatura e nas artes
O desenvolvimento do conhecimento e os progressos materiais a ele associados estão na
origem da formação de um novo quadro cultural e mental, que, por sua vez, se refletiu em
novas sensibilidades estéticas e literárias que marcaram a viragem do século.
As novas correntes literárias e a estética na viragem do século
O Realismo
Contexto intelectual
O Realismo foi um movimento intelectual de reação ao subjetivismo e à fantasia do
Romantismo, num quadro de valorização da razão e de triunfo das ciências exatas e
experimentais.
A produção plástica e literária de inspiração realista foi também contemporânea de um
tempo em que se agravavam as divergências sociais entre a burguesia capitalista e o
operariado e ocorreram as primeiras lutas sociais.
Os criadores realistas inseriam-se, por conseguinte, num quadro de rutura intelectual com
a tradição e de busca de novas formas de dar expressão às condições de vida do mundo
industrial.
Conteúdos temáticos
Tanto na pintura como na literatura dominava a preocupação com a observação rigorosa
da realidade, quer física quer humana. Os pintores e os escritores procuravam reproduzi-
la sincera e desapaixonadamente, com um realismo tão rigoroso e tão desprovido de
sentimentos que se aproximava do Naturalismo.
Os pintores privilegiavam cenas do quotidiano. O cenário urbano ou campestre, tratado
de forma despersonalizada e neutra, ou o labor dos trabalhadores no mundo industrial ou
rural, tratado de forma simples e natural, constituíam as temáticas dominantes das telas
realistas.
Para os escritores, o texto literário deixou de ser apenas distração e deleite intelectual e
tornou-se um instrumento de análise e de crítica social. A visão subjetiva e parcial da
realidade foi substituída por uma visão que procurava ser objetiva, fiel, sem distorções.
Poderosamente interventivos, os intelectuais realistas cultivavam uma literatura de tese,
em que analisavam as causas dos problemas como forma de estimular a mudança das
instituições e dos comportamentos humanos. A hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura),
a vida urbana (tensões sociais, económicas, políticas), a religião e os problemas sociais
(sofrimento, vícios, fragilidades e impotências) eram retratados com uma linguagem clara
e direta. Por isso, o herói romântico deu lugar às pessoas comuns no seu quotidiano laboral
alienante ou nas suas vivências privadas.
Estrutura formal
Para conseguirem descrever a realidade absoluta, muitos artistas e escritores conheceram-
na experimentalmente, vivendo-a nos cenários que descreveram e convivendo com os
tipos sociais que tratavam nas suas obras.
Assim, na pintura, os cenários eram localizados com precisão, do mesmo modo que os
costumes e acontecimentos eram descritos nos seus mínimos detalhes. Visando
reproduzir a realidade em bruto, crua e despojada de artifícios, tal como ela se oferecia
instantaneamente à vista, não havia grande preocupação com a elaboração das
composições. A obra fluía naturalmente do pincel do artista, preocupado apenas com a
exatidão do desenho e perfeição no acabamento. A coloração dependia do ambiente
natural envolvente, mas tendia a sobressair em detrimento do desenho.
No campo da criação literária, o cuidado em descrever minuciosa e desapaixonadamente as
personagens e as situações levou os escritores realistas a privilegiarem a linguagem
coloquial, familiar e regional, em que nada do que é humano era estranho ao escritor. O
resultado era um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi
considerado até chocante de tão inovador.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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O Impressionismo
Contexto intelectual
A estética impressionista surgiu em Paris, por volta de 1870, e afirmou-se no último quartel
do século XIX, numa reação aos excessos da pintura figurativa realista/naturalista. O
Impressionismo constituiu, com efeito, a primeira manifestação de uma arte moderna em
rutura com o academismo tradicional.
Conteúdos temáticos
Não rompendo radicalmente com o gosto realista, os pintores impressionistas continuavam
a privilegiar as temáticas ligadas à Natureza e à figura humana. Todavia, já não era para
as retratar com a fidelidade naturalista, mas sim para valorizar os aspetos formais. Era,
por conseguinte, na abordagem estética dos temas que residia a grande novidade do
Impressionismo.
Nos quadros impressionistas eram comuns cenas passadas à beira do rio Sena, em jardins,
cafés, teatros e festas.
Estrutura formal
Os impressionistas procuravam pintar o instante em que a ação estava a acontecer, pela
captação imediata da luz e da cor naturais. Porisso, os artistas impressionistas preferiam
a pintura ao ar livre, sozinhos ou em grupo (pintura de plein air), com a consequente
rejeição da pintura em ateliê.
A técnica impressionista consistia em reproduzir as impressões fornecidas pela
Natureza, sob diferentes intensidades da luz. Para o conseguirem, contaram com as novas
descobertas no campo da ótica e da física da cor e recorreram à aplicação das diferentes
cores diretamente nas telas, em tonalidades puras, mediante pequenas pinceladas fortes
e justapostas. Os contornos eram diluídos, as formas esbatidas e as figuras difusas. O preto
e o cinzento foram banidos e as sombras ganharam luminosidade e colorido, tal como a
impressão visual que causavam.
A Arte Nova
Contexto intelectual
O movimento Arte Nova (Art Nouveau) surgiu em Paris, em finais do século XIX, e foi buscar
o seu nome a uma loja parisiense chamada justamente Art Nouveau e, que vendia mobiliário
seguindo um novo estilo.
A Arte Nova, nas suas variadas vertentes nacionais, tratava-se de uma sensibilidade estética
que rompia com o academismo dos estilos tradicionais e respetiva decoração escultórica
e que propunha um sentido de modernidade em consonância com a nova realidade
civilizacional resultante da explosão industrial da segunda metade do século XIX.
Na prática, eram os novos problemas urbanísticos a que era necessário dar solução e a busca
do conforto, num quadro de prosperidade económica, que levaram os arquitetos e
decoradores a romperem com a harmonia e o equilíbrio clássicos e a proporem soluções
estéticas marcadas por novas preocupações com a forma e a função dos edifícios.
Os novos materiais entretanto lançados no mercado vieram também facilitar a produção da
Arte Nova.
Estrutura formal
Os princípios estruturantes da Arte Nova são:
· a interpretação orgânica do espaço, de forma a conseguir-se um enquadramento
funcional das construções;
· a liberdade criativa dos arquitetos, visível no abandono das preocupações com a
simetria das construções e na adoção de diversas tipologias de edifícios;
· uma decoração naturalista exuberante, onde predominam linhas curvas estilizadas,
motivos florais e femininos, influenciada pelo gosto simbolista;
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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· a volumetria e o dinamismo das fachadas e o recurso a grandes cúpulas envidraçadas
a rematar a estrutura dos edifícios e que enchem o espaço interior de luz e de cor, onde
pendem complexos e deslumbrantes candeeiros;
· recurso e aproveitamento das potencialidades arquitetónicas e decorativas oferecidas
pelos novos materiais, com destaque para o ferro, o vidro, mármores e madeiras exóticas
ricamente trabalhadas, na decoração dos interiores.
Manifestações
Enquanto prática arquitetónica, a Arte Nova era visível nas grandes habitações burguesas
da Belle Époque e no requinte dos respetivos equipamentos, mas estava também
presente na decoração de grandes armazéns comerciais e edifícios públicos. Mas a Arte
Nova, na tradição do movimento Arts and Crafts (Artes e Ofícios), que preconizava a
unidade das artes, estava também presente nas artes decorativas, as chamadas artes
menores, nomeadamente na produção artesanal de mobiliário, louças e outras utilidades
domésticas, na joalharia e também nas artes gráficas, graças aos avanços da técnica da
litografia colorida.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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Ideias-síntese
• Desde cedo, os progressos técnicos do século XIX ocorreram numa estreita relação entre
a ciência e a técnica. As novidades tecnológicas eram resultado de surpreendentes avanços
científicos. Não admira, por conseguinte, que os cidadãos consumidores fossem
alimentando uma fé inabalável no conhecimento produzido nos laboratórios, pelos
benefícios materiais que deles iriam resultar.
• Vivem-se, por conseguinte, tempos caracterizados pelo determinismo, uma corrente de
pensamento segundo a qual todos os fenómenos do Universo se encontravam encadeados
numa relação de causa/efeito, em que as mesmas causas provocavam sempre as mesmas
consequências. A partir deste pressuposto era possível aos cientistas encontrar explicações
lógicas para todos os fenómenos.
• Neste contexto, considerava-se que as possibilidades do conhecimento eram ilimitadas,
tal como ilimitados eram os avanços técnicos proporcionados pela ciência. Logo, a ciência,
considerada como única forma de se chegar ao conhecimento genuíno da realidade, seria a
chave para a resolução de todos os problemas da Humanidade. Eram os tempos do
cientismo.
• O valor atribuído à ciência viria a ser reforçado pelo Positivismo. Trata-se de outra
corrente filosófica, teorizada por Auguste Comte, segundo a qual a observação e a
experimentação laboratorial constituíam a única forma de se chegar ao conhecimento
rigoroso e objetivo da realidade.
• Foi neste quadro intelectual que se assistiu a um grande incremento da investigação
científica, com reflexos nas profundas novidades que surgiram no conhecimento. Os
diversos saberes outrora reunidos num saber enciclopédico individualizaram-se quanto à
sua origem, valor lógico e objetivos e especializaram-se no seu desenvolvimento.
• Ocorreu, desta forma, uma profunda revolução no campo da Química, da Física e da
Biologia, com reflexos profundos na qualidade de vida das populações, destacando-se os
avanços na Medicina.
• As questões sociais e humanas também não escaparam ao rigor da metodologia
científica de carácter determinista. Assim, assistiu-se também a profundos avanços no
conhecimento do Homem e das sociedades com os novos estudos na área da Sociologia, da
Antropologia, da Psicologia, da Geografia e da História.
• Este novo ambiente intelectual veio reforçar a importância da instrução como fonte de
progresso e de felicidade. Se a este pressuposto juntarmos a importância da formação no
desenvolvimento do sistema produtivo, as exigências burocráticas dos Estados em vias de
modernização, o aperfeiçoamento das democracias e o desenvolvimento da imprensa,
reunimos um conjunto de fatores que estavam na origem da progressiva generalização do
ensino público, cada vez mais democratizado.
• As sensibilidades artísticas e literárias da segunda metade do século XIX também foram
marcadas pelo desenvolvimento do conhecimento e pelos progressos materiais a ele
associados.
• Influenciado pelo Positivismo, o Realismo surgiu, na pintura e na literatura, como
expressão do retrato objetivo, desapaixonado e neutro da realidade social e natural,
em prejuízo da subjetividade sentimentalista que tinha marcado os tempos do Romantismo.
• Já no último quartel do século XIX, os pintores impressionistas privilegiaram o bulício
das cidades, em constantes mudanças, em consequência das diferentes intensidades da luz.
A variação da luz reproduzida através de cores puras em pinceladas fortes sobrepostas, em
que o preto e o cinzento foram banidos, mesmo para reprodução das sombras, constituiu
a grande característica do Impressionismo.
• Na arquitetura e na escultura, a segunda metade do século foi marcada por uma
sensibilidade estética denominada Arte Nova. Tratava-se de uma produção artística que
rompia com o academismo dos estilos tradicionais e a respetiva decoração e propunha um
sentido de modernidade mediante recurso a novos materiais e a uma nova plástica
marcada por um forte pendor decorativo.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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• Em finais do século XIX, a cultura portuguesa foi fortemente marcada pelo dinamismo
intelectual de um grupo de jovens ansiosos por ver materializar-se em Portugal a
modernidade que sentiam afirmar-se na Europa.
• Revoltados contra a paz podre da Regeneração e animados por um forte espírito
revolucionário, estes jovens intelectuais, conhecidos como Geração de 70, ergueram-se
contra o imobilismo da burguesia capitalista e propuseram-se sacudir o país e acordá-lo do
seu torpor. Para o efeito, iniciaram-se numa reflexão séria com o propósito de analisar as
condições de transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa, a par
do que se passava na Europa.
• As Conferências Democráticas que organizaram no Casino Lisbonense, a partir de 1871,
pelos temas tratados, abalaram de tal forma a cultura portuguesa que acabaram por ser
proibidas pelo Governo.
• O grupo, apesar de continuar a intervir na denúncia do conservadorismo político, social e
cultural, acabou por ser vencido pela fraca adesão social às suas propostas, passando a auto
designar-se ironicamente por Vencidos da Vida, e, nos jantares em que continuaram a
reunir-se, deram continuidade à discussão humorada dos problemas nacionais.
• Na arte, o Realismo assumiu em Portugal uma feição vincadamente naturalista. Os temas
privilegiavam a Natureza e a vida quotidiana de gente simples nos seus momentos de
trabalho. O Estado apoiou os artistas, transformando esta produção plástica numa espécie
de “arte oficial”, que se prolongou num dos mais longos e eloquentes ciclos da pintura
portuguesa.
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As transformações das primeiras décadas do século XX
Um novo equilíbrio global
Com a assinatura do armistício pela Alemanha, a 11 de novembro de 1918, terminava o
primeiro grande conflito à escala mundial e ficava aberto o caminho para os países
vencedores iniciarem o processo de reordenamento do espaço europeu e do Médio
Oriente e de estabelecimento de uma nova ordem internacional capaz de garantir a
convivência pacífica entre os povos.
Com os presidentes Clémenceau, da França e Wilson, dos Estados Unidos, e o primeiro-
ministro da Grã-Bretanha, Lloyd George na direção dos trabalhos, a Conferência de Paz
teve início em janeiro de 1919, em Paris, e terminou com a assinatura de vários acordos.
Entre eles, destacou-se o Tratado de Versalhes, assinado pela Alemanha, pelas
consequências que dele advieram para a História da Europa nos anos subsequentes.
A geografia política após a Primeira Guerra Mundial
Da Europa dos impérios à Europa dos Estados
A Primeira Guerra Mundial terminou com a vitória das democracias do Ocidente
europeu sobre os velhos impérios da Europa Central e de Leste e o Império Otomano.
O Império Russo
Em consequência da Revolução Socialista de 1917, que adiante trataremos, a Rússia retirou-
se do conflito com cujos motivos deixou de se identificar e o velho império autocrático deu
lugar a uma nova unidade geopolítica republicana de partido único, a URSS, com
consideráveis prejuízos territoriais. Perdeu territórios para a nova Polónia e para a Ucrânia,
abandonou o seu interesse geostratégico sobre a Finlândia e assistiu à emancipação dos
estados bálticos da Estónia, Letónia e Lituânia.
O Império Alemão
Derrotada e considerada responsável pela guerra, a Alemanha foi obrigada a abandonar
territórios que passaram a integrar a Polónia e perdeu, definitivamente, as ricas regiões da
Alsácia e da Lorena, que regressaram à soberania francesa. Outros territórios alemães
contribuíram para o alargamento das fronteiras da Bélgica, Dina- marca e Checoslováquia
(atuais República Checa e Eslováquia).
Ficou ainda separada da Prússia Oriental pela ligação da Polónia ao mar (corredor de
Danzig).
Limitado no seu espaço, o velho império (2. Reich) deu lugar a uma nova Alemanha, que pôs
fim à monarquia e instaurou a república.
O Império Austro-Húngaro
O antigo Império Austro-Húngaro foi integralmente desmembrado. Sobre os seus
escombros nasceram os novos Estados independentes da Áustria, Hungria e
Checoslováquia. Outros territórios foram integrados nas fronteiras da Itália, da Roménia, da
Jugoslávia, que se constituía como novo país independente, e da Polónia, geograficamente
reconstituída.
O Império Otomano
Herdeiro do antigo Império Romano do Oriente, viu o seu espaço reduzido à atual Turquia,
depois de perder os seus vastos domínios espalhados por todo o Médio Oriente, onde
nasceram novos Estados: a antiga Mesopotâmia deu lugar ao atual Iraque, que se manteve
sob influência britânica; a Síria e o Líbano constituíram-se como protetorados da França; a
Transjordânia, a Palestina e o Egito ficaram sob tutela britânica; a Península Arábica viu
surgir o reino independente da Arábia Saudita.
Entretanto, outros Estados que se declararam unilateralmente independentes viram a sua
luta reconhecida pela comunidade internacional e passaram a afirmar-se como Estados de
pleno direito.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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Na sua grande maioria, os novos Estados constituíram-se como repúblicas parlamentares,
assentes no sufrágio universal e na democracia representativa, consolidando o triunfo da
democracia liberal no Leste e Sul da Europa.
A Sociedade das Nações e a nova ordem internacional
A Sociedade das Nações (SDN)
No último dos 14 pontos que serviram de base às negociações de paz, propostos pelo
presidente Wilson, era feito um apelo à formação de uma “organização geral das nações”
que tivesse por objetivo “assegurar as garantias mútuas de independência política e
integridade territorial tanto aos pequenos como aos grandes Estados”.
A organização proposta pelo presidente dos EUA concretizou-se, ainda em 1919, com a
formação da Sociedade das Nações – a SDN.
Segundo o Pacto da Sociedade das Nações, aprovado a 14 de fevereiro de 1919, a
organização tinha como objetivo fundamental desenvolver a cooperação entre as nações
e garantir a paz e a segurança. Para isso, os 45 países signatários comprometiam-se a
manter relações francas e abertas fundadas na justiça e na honra e a salvaguardar a paz
pela subordinação rigorosa das suas relações às prescrições do Direito Internacional. Em
conformidade, eventuais conflitos que surgissem entre as partes contratantes eram
resolvidos pela arbitragem de um órgão judicial – o Tribunal Permanente de Justiça
Internacional.
Para salvaguarda daqueles princípios, eram previstas medidas tendentes ao
desarmamento, era claramente expressa a obrigação de os estados-membros
respeitarem a integridade territorial e a independência recíproca. Para o Estado que
infringisse qualquer dos princípios acordados eram definidas sanções a aplicar.
Finalmente, era também acordado que a agressão a um dos países membros obrigava os
outros a intervir na defesa do país agredido.
A nova ordem internacional e o fracasso da Sociedade das Nações
A ordem internacional saída da Conferência de Paz e traduzida nos vários tratados
assinados não favoreceu o sucesso político da SDN. Com efeito:
· a paz entre vencedores e vencidos não foi “tratada” como pressupõe a designação dos
pretensos acor- dos estabelecidos entre os países beligerantes. Como mais tarde hão de
clamar os nacionalistas alemães, em particular, os tratados foram “ditados” (impostos)
pelos países vencedores aos países vencidos, que nem sequer participaram na elaboração
dos textos. Desta forma, o fim da Primeira Guerra mais não trouxe à Europa do que a
afirmação prepotente e humilhante dos países vencedores sobre os países vencidos;
· entre os vencedores, cedo sobressaíram as tradicionais rivalidades e ambições
hegemónicas interrompidas durante o conflito;
· a distribuição das reparações de guerra gerou descontentamento entre alguns dos
países participantes no conflito, que se consideraram secundarizados nos seus interesses,
como Portugal;
· outros sentiram-se frustrados nos interesses geostratégicos que tinham motivado a sua
intervenção ao lado dos Aliados. Por exemplo, a Itália, que abandonou a neutralidade inicial
e entrou na guerra ao lado da Tríplice Entente, considerava a sua vitória incompleta por não
lhe ser reconhecido o direito sobre os territórios que lhe tinham sido prometidos pelas
democracias triunfantes;
· na redefinição de fronteiras, a questão das minorias nacionais não foi devidamente
considerada. Por interesses particulares de quem decidia, uma multiplicidade de povos
ficou dispersa por vários dos novos países, sem respeito pela sua identidade étnica e
cultural. Milhões de pessoas decidiram abandonar as suas áreas de residência e
deslocaram-se para os seus novos Estados, dando origem a uma das mais violentas
movimentações de povos da História;
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
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· para complicar mais o sucesso político da SDN, no senado americano triunfou o tradicional
isolacionismo face à política mundial, apenas contrariado pelo presidente Wilson. Assim, o
senado recusou ratificar o Tratado de Versalhes e, consequentemente, a adesão dos EUA a
esta organização. Os senadores americanos opunham-se às pretensões hegemónicas das
potências europeias e mostravam desagrado com o facto de os vencedores reconstruírem
as suas economias à custa da asfixia dos vencidos.
Assim, a ordem internacional definida pela SDN saía claramente ameaçada pela própria
associação dos países que a instituíram.
A difícil recuperação económica da Europa
Para além das alterações geopolíticas que acabámos de estudar, a Primeira Guerra Mundial
provocou profundas transformações na situação económica e financeira da Europa, o
principal palco das destruições.
· Alterações demográficas. As elevadíssimas perdas humanas, provocadas por milhões
de mortos e estropiados, provocaram consideráveis alterações na demografia europeia.
Além da diminuição de mão de obra, assistiu-se ao envelhecimento da população e ao
excedente da população feminina, numa altura em que toda a força de trabalho era pouca
para arrancar com o processo de recuperação.
· Perdas materiais. Sobretudo na Europa Central, todo o setor produtivo foi atingido: solos
agrícolas devastados, casas, fábricas e minas destruídas, vias de comunicação
desorganizadas constituíam a imagem de uma Europa em ruínas.
· Inflação galopante. Como a procura excedia a oferta, tornou-se prática o racionamento
dos bens essenciais. Em consequência, os preços galoparam e tornaram-se
incomportáveis para as classes médias de rendi mentos fixos, cujos aumentos nos salários
não acompanhavam o aumento dos preços. Para obviar às dificuldades, os governos
limitavam-se a aumentar a massa monetária em circulação, sem ser acompanhada pelo
desenvolvimento do processo produtivo. Assim, a moeda circulante não tinha
correspondência na riqueza dos Estados e rapidamente perdia o seu valor, agravando
ainda mais a inflação.
· Agravamento do défice. A situação económica e financeira da Europa tornava-se ainda
mais complicada pela crescente dependência dos empréstimos e fornecimentos
materiais estrangeiros imprescindíveis para o lançamento dos grandes
empreendimentos. Como as exportações eram quase inexistentes, tornava-se muito difícil
equilibrar a balança de pagamentos. A contração de novos empréstimos era o recurso
inevitável dos governos. O agravamento do défice dos Estados era a consequência
imediata.
A partir de meados da década, graças às políticas de estabilização monetária e de controlo
dos défices orçamentais e da inflação, a Europa parece iniciar um período de promissora
prosperidade conhecido pelos “felizes anos 20”, que, todavia, foram de curta duração.
A dependência em relação aos Estados Unidos
Se, na primeira década do século XX, a Europa ainda podia ostentar, orgulhosamente, a sua
hegemonia industrial, comercial e financeira, a partir de 1914 passou para uma
irreversível situação de dependência em relação aos EUA.
Os EUA, que durante a guerra forneceram à Europa matérias-primas, alimentos e armas,
passam a contar, no fim do conflito, com um excelente mercado para continuarem a colocar,
não só bens de primeira necessidade, como investimentos e financiamentos com que a
Europa inicia a sua reconstrução.
Altamente rentabilizados na Europa, os capitais investidos acabavam por regressar
aos Estados Unidos na forma de pagamentos dos débitos contraídos. Em consequência, nos
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
12
inícios dos anos 1920, cerca de metade dos stocks mundiais de ouro concentrava-se
nos Estados Unidos e Nova Iorque substituía Londres como principal centro financeiro do
Mundo.
Assim, enquanto a Europa se erguia com grande dificuldade dos escombros da guerra, a
economia americana arrancava, sobretudo a partir de 1922, para um período de
intensificação do seu desenvolvimento industrial e comercial.
Foram os tempos da prosperidade americana, marcada por novos e incessantes progressos
técnicos sob o signo da organização racional das empresas.
A implantação do marxismo-leninismo na Rússia
Em 1917, numa altura em que o aperfeiçoamento da democracia liberal atingia
consideráveis desenvolvimentos no Ocidente europeu, na Rússia persistia ainda um modelo
político conservador, autocrático, que ruiu em consequência de um complexo processo
revolucionário do qual resultou, num primeiro momento, o triunfo da burguesia liberal,
adepta de algumas reformas socializantes. Todavia, em 1917, já era muito tarde para
triunfar na Rússia uma revolução inspirada no liberalismo do século XVIII. As forças
socialistas revolucionárias, solidamente organizadas, moviam-se, com efeito, dentro da
crise política iniciada em fevereiro e preparavam-se para o golpe definitivo nas pretensões
da burguesia russa. A revolução socialista inspirada nas propostas marxistas acabou por
triunfar, num segundo momento do processo revolucionário. Era o início da construção do
modelo soviético.
A construção do modelo soviético
Fevereiro de 1917 – A revolução burguesa
Em 1917, a conjuntura económica e política da Rússia era extremamente favorável à
difusão de movimentos de contestação e de revolta. A vontade de mudança crescia à
medida que se agravavam as tensões sociais e políticas em consequência da participação na
Primeira Guerra.
Numa situação verdadeiramente explosiva, afirmavam-se movimentos políticos
inspirados, uns no liberalismo burguês triunfante no Ocidente, outros na ideologia
socialista, com particular destaque para o Partido Operário Social-Democrata Russo, onde
preponderava uma fação de adeptos da revolução proletária.
Com efeito, não era apenas o operariado que aderia em força às ideias socialistas. Uma
grande parte da classe média, incluindo uma pequena burguesia nascente e até uma
aristocracia iluminada, via também algumas virtualidades na oposição socialista à
autocracia czarista.
Em fevereiro, Sampetersburgo é centro de grandes manifestações populares, greves e
motins em que se exige o fim do czarismo. O descontentamento generaliza-se a outras
cidades industriais e é aproveitado pela burguesia liberal para exigir o fim do regime
e pelos agitadores socialistas para prepararem o operariado para a revolução. Em
março, o czar abdica e entrega o poder a um governo provisório, onde preponderam liberais
e socialistas reformistas. O novo Governo adota o modelo democrático parlamentar de
tipo ocidental e prepara-se para iniciar o processo eleitoral e a elaboração de uma
Constituição.
Era a revolução burguesa que parecia triunfar no Leste da Europa, com mais de cem anos
de atraso em relação ao Ocidente.
Outubro de 1917 – A revolução socialista
Se as ideias socialistas já iam tendo grande aceitação em tempos de repressão czarista, a
revolução de fevereiro proporcionou ao movimento socialista russo a liberdade para
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
13
intensificar a sua ação de propaganda, agora dirigida também contra o poder burguês,
triunfante na sequência do derrube da monarquia czarista.
Nesta conjuntura, após os acontecimentos de fevereiro, os sovietes, conselhos de operários
e de soldados, que, desde 1905, se vinham a destacar na contestação ao czar,
reorganizaram-se nas respetivas fábricas e quartéis e espalharam-se por toda a Rússia.
Entre todos, sobressaía o soviete de Sampetersburgo, constituído ao lado da Duma –
parlamento ou assembleia legislativa – como um verdadeiro poder paralelo, dificultando o
normal funcionamento das instituições, através do fomento da agitação social e da
contestação ao Governo Provisório.
Entre os principais agitadores revolucionários encontravam-se os bolcheviques.
Bolcheviques e mencheviques eram as duas fações em que se tinha dividido o Partido
Operário Social-Democrata Russo, em consequência das cisões que ocorreram no seio do
movimento marxista. Os primeiros, maioritários, persistiram na defesa da revolução
como forma de levar o operariado ao poder, os segundos, minoritários, adotaram a via
reformista, aceitando colaborar no Governo Provisório, ao lado da burguesia.
São os bolcheviques que superintendem ideologicamente nos sovietes mais ativos.
Opunham-se à democracia liberal triunfante em fevereiro e defendiam a continuação da
revolução operária, aproveitando a fragilidade política da Rússia, tendo em vista a
instituição da ditadura do proletariado. Desenvolvem uma intensa propaganda contra a
presença da Rússia na Primeira Guerra, que acusam de ser uma guerra capitalista
provocada pelos interesses imperialistas das potências ocidentais, denunciam a impotência
do Governo Provisório para retirar o país do caos económico e social em que se encontrava
e organizam uma insurreição armada sob a direção ideológica de Lenine e militar de
Trotsky. Em outubro, tomam o poder, iniciando a revolução socialista.
A democracia dos sovietes
O poder passou a ser exercido por um Conselho de Comissários do Povo, constituído a partir
dos sovietes e liderado por Lenine.
O primeiro ato político do novo Governo foi negociar a retirada da Rússia da guerra,
considerada condição indispensável para o prosseguimento da revolução.
Em finais de 1917, são organizadas eleições para uma Assembleia Constituinte. Perante o
fracasso dos bolcheviques, Lenine dissolveu a Assembleia e transferiu o poder para o
Congresso dos Sovietes, uma assembleia de representantes dos vários sovietes, que, nos
termos da Constituição de 1918, se converteu no órgão máximo de soberania. A Rússia
tornou-se, assim, uma República Soviética.
Todos os partidos foram proibidos e o parlamento passou a ser dominado pelo partido
bolchevique, que se constituiu como Partido Comunista. Em tese, o poder passava para as
mãos dos trabalhadores organizados em sovietes, na prática, era exercido pelo Partido
Comunista, autoafirmado como vanguarda dos trabalhadores.
A construção da sociedade socialista
A construção da sociedade socialista inicia-se com a publicação dos primeiros decretos
revolucionários, entre os quais:
· o decreto sobre a paz, em que o novo poder apelava ao fim da guerra, abandonando o
conflito na condição de derrotado – uma paz desastrosa, mas necessária, no dizer de Lenine;
· o decreto sobre a terra, que determinava a abolição progressiva e sem qualquer
indemnização da grande propriedade fundiária e a sua entrega aos sovietes de camponeses;
· o decreto sobre o controlo operário, que atribuía a sovietes de operários a
superintendência das grandes empresas e da respetiva produção;
· o decreto das nacionalidades, que punha fim às desigualdades entre os vários povos que
integravam o antigo império czarista e lhes reconhecia o direito à autodeterminação ainda
que sob a bandeira socialista.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
14
A guerra civil e o comunismo de guerra
Em consequência, eclode uma violenta guerra civil em que as forças revolucionárias, o
Exército Vermelho, se confrontam com as forças conservadoras, o Exército Branco.
Constituíam estas forças os grandes proprietários e antigos dirigentes políticos, que
reagiram aos decretos revolucionários, apoiados pelo capitalismo internacional,
receoso da internacionalização do processo revolucionário soviético.
Nesta conjuntura de guerra civil, o poder revolucionário instituído implanta uma política de
feroz ditadura, o comunismo de guerra. Foram os tempos do terror vermelho, em que se
consolidou um regime de partido único, com a supressão das outras organizações
partidárias, e em que todos os recursos económicos foram incondicionalmente canalizados
para o esforço de guerra contra os inimigos da revolução, mediante a severa vigilância de
um sistema policial persecutório e repressivo sobre quem manifestasse o mais pequeno
sinal contrarrevolucionário.
Na prática, a necessidade de salvar a revolução punha fim à democracia dos sovietes. Com
efeito, a terra e as fábricas eram retiradas ao controlo dos sovietes de camponeses e de
operários e passavam para o controlo direto do Estado. Iniciava-se o processo de
nacionalização de toda a economia e ao Estado passava a incumbir a gestão da produção e
a distribuição dos bens pela população.
Com o fim da democracia dos sovietes instituía-se um conceito particular de democracia,
que ficou conhecido como centralismo democrático.
Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático
Para Lenine, democracia, mais do que um processo de formação e de exercício do poder, era
o próprio poder na sua significação etimológica – o poder do povo. Ora, segundo as
conceções socialistas, povo é o conjunto dos operários, soldados, marinheiros e camponeses
(estes com menor expressão política). Por conseguinte, para os marxistas-leninistas, o
poder só é democrático se for exercido pelos proletários das fábricas, das forças
armadas e do campo, nem que ele seja exercido por uma única organização partidária com
exclusão de todas as outras, por não serem verdadeiramente representativas do povo. É
o que se vai passar na Rússia bolchevique quando o Partido Comunista se afirma como
partido único, centralizando o poder do povo – o poder democrático.
Trata-se de uma forma de poder em que a soberania parte das bases populares organizadas
em sovietes. Num segundo momento, os sovietes de base elegem representantes seus para
os sovietes locais e regionais. Num nível superior da organização política, estes sovietes
locais e regionais elegem um soviete supremo, de âmbito nacional. É deste soviete supremo
que saem os ministros do Governo. Em última instância, os ministros elegem um Presidium,
que é órgão supremo da República, onde se inclui o Presidente da República.
Esta complexa organização do poder era dominada por uma única corrente ideológica, por
conseguinte, por um único partido, o Partido Comunista, cuja orgânica se confundia com a
orgânica do Estado soviético. Toda a estrutura cimeira do poder era constituída pelas elites
dirigentes do partido – a nomenklatura. O presidente do partido era, inerentemente, o
Presidente da República. As altas figuras do partido eram as altas figuras do Estado.
Esta constituição do poder é considerada democrática, porque se baseava no sufrágio
universal exercido de baixo para cima. Efetivamente, o órgão máximo da soberania era
o vértice de uma hierarquização do poder em pirâmide, cujos níveis intermédios elegiam o
nível seguinte, começando pela base, que era a população da União, organizada em sovietes
de operários, soldados, marinheiros e camponeses. É considerada centralista, porque o
poder era centralizado numa instituição suprema e exercido de forma autoritária.
Disciplina, ordem e autoridade eram a única forma de fazer triunfar a revolução dos pobres
sobre os capitalistas exploradores. Para o efeito, os diferentes níveis do poder deviam
respeitar a rígida hierarquia, estabelecida de cima para baixo, em que cada nível devia
obedecer aos níveis superiores do Partido Comunista.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
15
É sob este modelo político que, no Congresso dos Sovietes de dezembro de 1922, nasce a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
A NEP e o triunfo da revolução soviética
Os bolcheviques venceram militarmente a contrarrevolução branca. Todavia, em 1920, a
Rússia era um país economicamente arruinado. O sistema produtivo apresentava níveis
inferiores aos de 1913, numa conjuntura política que mantinha o país isolado do Ocidente
capitalista. A miséria e a fome punham em perigo a Revolução. Com um grande
pragmatismo, Lenine pôs em prática um programa económico através do qual visava repor
níveis de produtividade que garantissem à população os bens essenciais à sua subsistência
e a independência económica do Estado. Tratou-se da Nova Política Económica (NEP).
Com a NEP, o Governo socialista recuava no processo das nacionalizações e aceitava a
iniciativa privada em setores secundários, mas essenciais da produção, mantendo no
Estado os setores fundamentais da economia. Assim, era permitido aos setores privados
agrícola, industrial e comercial intervir no mercado com alguma liberdade, para travar o
agravamento da carência de bens de primeira necessidade. Lenine empreendia um recuo
que ele próprio considerava estratégico. Durante algum tempo, a cedência ao
capitalismo, sob controlo do Estado, poderia ajudar à consolidação da revolução.
Em 1927, a pequena e média burguesia dos negócios, os nepmen, e pequenos proprietários
rurais, os kulaks, resultantes da adoção de algumas medidas de tipo capitalista, tinham
reposto e até ultrapassado os níveis de produtividade anteriores à Grande Guerra.
Falecido em 1924, Lenine já não pôde assistir aos resultados da sua Nova Política
Económica.
Ideias-síntese
• O fim da Primeira Guerra Mundial provocou grandes alterações no mapa político da
Europa. Derrotados, os impérios autocráticos foram desmembrados e deram lugar a novos
Estados que, na sua maioria, se constituíram como repúblicas parlamentares, segundo o
princípio das nacionalidades. O velho império russo deu lugar a uma república socialista,
em consequência do triunfo da primeira revolução inspirada no socialismo marxista.
• Com o objetivo de instituir uma nova ordem internacional marcada pela preocupação em
salvaguardar a paz e promover a cooperação internacional, foi instituída a Sociedade das
Nações, que, todavia, não conseguiu os seus objetivos, dada a sua incapacidade de suster os
novos focos de instabilidade que, entretanto, foram surgindo.
• Em termos económicos, as consequências da guerra foram devastadoras para a Europa,
principal palco dos conflitos bélicos. As enormes perdas humanas e materiais tornaram-na
dependente dos Estados Unidos, que, passando a contar com um amplo mercado
consumidor externo que juntam ao seu já forte mercado interno, vivem, nos anos 1920,
tempos de grande prosperidade económica.
• Em 1917, na sequência de uma primeira revolução de cariz liberal/burguês ocorrida em
fevereiro, a fação bolchevique do Partido Operário Social Democrata Russo, liderada por
Lenine e Trotsky, leva a cabo uma segunda revolução, em outubro, dando início a um
processo revolucionário que visava a instituição, na Rússia, da primeira ditadura do
proletariado preconizada por Marx e Engels, em meados do século XIX.
• Perante a resistência conservadora apoiada pelo capitalismo ocidental, a revolução tomou
um carácter ditatorial. A Rússia transformou-se numa república de partido único e iniciou
o processo de construção da sociedade socialista, através da abolição da propriedade
privada. Foi o tempo do “comunismo de guerra”.
• Foi também o tempo de afirmação do centralismo democrático, forma política que consiste
em impor a centralização do poder pela via democrática. O poder supremo é o resultado
final de um processo de cedência de poderes por estádios políticos inferiores a estádios
políticos imediatamente superiores, numa pirâmide de instituições, a partir das bases
organizadas em sovietes.
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
16
• A partir de 1921, perante a crise económica que punha em perigo a revolução, Lenine teve
de empreender um recuo estratégico que passou pela instituição de uma Nova Política
Económica – a NEP, através da qual alguns setores económicos não estratégicos eram
abertos à iniciativa privada.
• Na Europa Ocidental, os tempos começam a ser difíceis para a consolidação das
democracias. As dificuldades económicas, num ambiente de liberdade democrática,
favorecem a intensificação da agitação socialista, levada a cabo por partidos de inspiração
marxista e pelos sindicatos que, sob ação do Komintern, agitam a bandeira da revolução
soviética e intensificam a sua ação de propaganda e de militância contra o capitalismo
liberal e contra o Estado burguês.
• Entretanto, verifica-se a resposta dos setores conservadores constituídos pelos
proprietários burgueses e classes médias urbanas, que denunciam a incapacidade da
democracia na resposta à crise económica, criando condições para o avanço socialista;
apelam ao orgulho nacional e à grandeza do passado contra a humilhação imposta pelos
tratados de paz de 1918; propõem a união nacional contra o internacionalismo marxista;
exigem ordem e estabilidade impostas pela força; organizam, armam e financiam milícias
contra as organizações socialistas; propõem formas totalitárias de exercício do poder.
• A cultura e a mentalidade das primeiras décadas do século XX foram condicionadas pela
Primeira Guerra Mundial e por todas as vicissitudes políticas, económicas e sociais que dela
decorreram. Em prejuízo das certezas e do otimismo dos anos precedentes, a mentalidade
ocidental passou a ser fortemente marcada por sentimentos de incerteza, inquietação, medo
e desespero. Em consequência, assistiu-se ao ruir dos valores humanistas, da moral cristã,
do puritanismo burguês, dos valores.
• A crise dos valores tradicionais refletiu-se nos modos de vida e na alteração da estrutura
social. Os anos que se seguiram ao fim da guerra foram vividos intensa e freneticamente
como forma de esquecer o sofrimento, a morte e a destruição provocados pelo conflito
mundial. Sobretudo os jovens repudiaram todas as limitações que impediam a liberdade de
viver e procuraram novos lazeres, novos divertimentos, novas modas, em total rutura com
o conservadorismo puritano das gerações anteriores. Por seu lado, as mulheres tomam
consciência da sua importância na nova sociedade e passam a reivindicar a igualdade de
direitos sociais e políticos.
• Para esta alteração dos modos de vida muito contribuiu o crescimento dos meios urbanos,
onde passou a viver e a trabalhar uma multidão massificada de indivíduos cada vez mais
uniformizados, desenraizados e dispersos em mundos totalmente novos e onde as
tradicionais solidariedades se desagregam e dificilmente se constituem sólidos
relacionamentos. O individualismo, o anonimato e as dificuldades em encontrar situações
de estabilidade económica favorecem a anomia social, patente na emergência de
sentimentos de frustração e de revolta que, por seu lado, estão na origem de
comportamentos desviantes e de desrespeito pelas mais elementares regras de educação e
de urbanidade de uma sociedade civilizada.
• A afirmação da relatividade do conhecimento e as teses psicanalíticas de Freud
provocaram uma autêntica revolução no campo da criação literária, por ação dos
movimentos de vanguarda que, na sua produção intelectual, romperam com os velhos
cânones e aderiram a tendências modernistas.
• As primeiras experiências de vanguarda verificaram-se na pintura e foram desenvolvidas
por correntes expressionistas e fauvistas divulgadas na Alemanha e na França, em 1905. As
novas práticas evoluíram para a radicalização com os pintores cubistas, futuristas e
abstracionistas, em cujas produções plásticas se verifica o total desmantelamento da
perspetiva tradicional e a opção por uma visão intelectualista do espaço. Mas onde se
verificou mais a presença do inconsciente freudiano e onde a liberdade criativa foi
plenamente manifestada foi nas correntes dadaísta e surrealista.
• À semelhança do que se passava na pintura, também as primeiras produções literárias do
século XX foram fortemente marcadas pela rutura com a tradição e respetivos valores
culturais. O naturalismo e o realismo que caracterizavam a literatura de finais do século XIX
HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO
17
dão lugar a uma corrente dominada pelas preocupações psicológicas das personagens. Em
termos formais, a modernidade caracteriza-se pela liberdade criativa da expressão literária,
tanto ao nível da linguagem como da construção sintática.

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Avanço das ciências exatas e emergência das ciências sociais no século XIX

  • 1. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 1 Avanço das ciências exatas e a emergência das ciências sociais Cientismo e positivismo A expansão da Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, criou um ambiente de confiança ilimitada na ciência. Acreditava-se que no laboratório seria possível descobrir todas as leis segundo o princípio de que todos os fenómenos se encontravam encadeados numa relação de causa/efeito em que as mesmas causas provocavam sempre as mesmas consequências. Por conseguinte, o progresso seria tão infindável quão infindáveis eram as conquistas da investigação científica. Pela ciência, considerada como única forma de se chegar ao conhecimento genuíno da realidade, se resolveriam positivamente todos os problemas da Humanidade. Estas conceções intelectuais encontraram eco em pensadores como Auguste Comte (1798- 1857), ao teorizar o Positivismo. Comte concebeu uma teoria filosófica segundo a qual o estado positivo, último estado da evolução do conhecimento dos fenómenos naturais, na sequência dos anteriores estados vividos pela Humanidade, o teológico e o metafísico, é o único estado científico, pois os fenómenos, finalmente, eram explicados por leis naturais e universais resultantes da observação e da experimentação laboratoriais. Eram os tempos do cientismo positivista, em que se desenvolveram as ciências exatas, mas cujas regras também foram aplicadas às ciências sociais emergentes. O avanço das ciências exatas É neste quadro intelectual que se assiste a um grande incremento da investigação científica, com reflexos nas profundas novidades que surgiram no conhecimento. Os diversos saberes, outrora reunidos num único saber enciclopédico e sincrético, individualizaram-se quanto à sua origem, valor lógico e objetivos e especializaram-se no seu desenvolvimento. A Física No domínio da Física, as necessidades impostas pelo setor produtivo provocaram uma revolução no campo energético, com a descoberta, condução e aproveitamento da energia elétrica. Os desenvolvimentos dos estudos sobre as forças elétricas proporcionaram o conhecimento do eletromagnetismo e das ondas eletromagnéticas que, já em finais da década de 80, constituiriam os alicerces da radiodifusão moderna, com importantes repercussões nas comunicações. Mais tarde, seria descoberta uma radiação desconhecida que receberia o nome provisório de raios X. Passava a ser possível, pela primeira vez, observar o interior do corpo mantendo- o intacto. Do desenvolvimento destes estudos, chegar-se-ia ao conhecimento da radioatividade a que, já nos inícios do século XX, o casal Curie, Pierre (1859-1906) e Marie (1867-1934), daria novos desenvolvimentos. A Química Outro dos campos científicos ligados à indústria e que, por isso, atingiu grande desenvolvimento foi a Química, concretamente no que concerne à produção de fertilizantes (agroquímica), inseticidas, corantes sintéticos, fibras artificiais e materiais plásticos. Mas também a Medicina, a perfumaria, a higiene, a produção cinematográfica e a fotografia foram setores que fizeram da Química a ciência do século. A alimentação beneficiou também das investigações químicas efetuadas, quando Louis Pateur (1822-1895) conseguiu demonstrar que todo processo de fermentação e decomposição orgânica ocorre devido à ação de organismos vivos. Era a descoberta da pasteurização de alguns alimentos.
  • 2. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 2 A Biologia A Biologia (ciência da vida) também beneficiou com as novas descobertas. Pela primeira vez, o carácter divino da criação do Homem e do Mundo é posto em causa, em consequência das investigações feitas por Charles Darwin (1808-1892), que, numa expedição pelos cinco continentes, durante cinco anos, acumulou observações, confirmou hipóteses e formulou os postulados teóricos básicos da ciência biológica moderna. No seu livro A Origem das Espécies, publicado pela primeira vez a 24 de novembro de 1859, Darwin defendia que os organismos vivos evoluíam gradualmente através da seleção natural. Isto é, os seres vivos iam-se desenvolvendo mediante um processo contínuo de adaptação ao meio ambiente, sobrevivendo e reproduzindo-se os que reunissem as características que favorecessem essa adaptação e desaparecendo gradualmente os que não as reunissem. É, por conseguinte, a Natureza que determina o processo evolutivo das espécies, selecionando as que apresentam melhores condições para sobreviverem. Noutra obra publicada em 1871, A Origem do Homem, Darwin aplicou as suas conceções evolucionistas ao estudo da origem e evolução da espécie humana, tendo chegado à conclusão de que o Homem e o macaco entroncaram num ancestral comum, que divergiu para múltiplas formas em consequência de diferentes processos de adaptação às exigências da Natureza. Outros cientistas, entretanto, aplicaram as conceções darwinistas à botânica. Entre eles, Gregor Mendel (1822-1884), que, em consequência de aturado estudo sobre espécies vegetais, formulou as leis da hereditariedade que revolucionariam a Biologia e traçariam as bases da Genética. A Microbiologia e a Medicina Estas importantes descobertas científicas viriam a repercutir-se nos progressos verificados na Medicina. Os conhecimentos de Pasteur viriam a ser, mais tarde, aplicados na eliminação de microrganismos vivos em feridas e incisões cirúrgicas, alargando-se depois, com extraordinário sucesso, ao combate às doenças infeciosas, pela determinação, combate e eliminação do micróbio responsável por cada enfermidade. Era o nascimento da microbiologia, em cujo âmbito se desenvolveram os estudos sobre a importância da vacinação e descobriram as vacinas, com particular relevância para a antirrábica. Outro importante microbiologista foi Robert Koch (1843-1910), prémio Nobel da Medicina em 1905, pelos seus estudos sobre as doenças transmissíveis, em especial por ter descoberto, em 1882, o bacilo responsável pela tuberculose e suas consequências epidémicas. Seguir-se-ia o conhecimento e o combate a outros germes responsáveis por outras doenças graves, como a difteria, o tétano, a tosse convulsa e outras infeções bacterianas, cujo combate passou a ser objetivo dos programas de saúde pública. A emergência das ciências sociais e humanas Nem as questões sociais e humanas escapariam ao rigor da metodologia científica de carácter determinista. Dos estudos de Augusto Comte, nasceria a Sociologia, enquanto ciência que estuda as sociedades humanas e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. As posições de Darwin sobre a origem do Homem levaram ao desenvolvimento da Antropologia, enquanto ciência humana que se preocupa em conhecer a evolução do Homem, considerando os seus aspetos fisiológicos e raciais. Enquanto ciência social, a Antropologia passa a debruçar-se também sobre as técnicas, usos, costumes, crenças, comportamentos e formas de organização do Homem social e geograficamente enquadrado. A Psicologia, enquanto estudo científico do comportamento e dos processos mentais bem como da relação que entre os dois se estabelecem, libertou-se definitivamente da Filosofia e deu grandes avanços graças aos estudos de Pavlov (1846-1924), que, com a teoria do reflexo condicionado, trouxe novos esclarecimentos sobre os mecanismos que regem as reações primárias dos homens e dos animais comandadas pelo inconsciente, e de Binet
  • 3. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 3 (1857-1911), que desenvolveu importantes estudos sobre a quantificação das qualidades intelectuais através da realização de testes de inteligência. A Geografia, enquanto conhecimento rigoroso da Terra e respetiva representação cartográfica, e a História, enquanto conhecimento do passado humano reconstruído a partir da rigorosa análise das fontes, são outras ciências humanas que atingem grande desenvolvimento neste período. A progressiva generalização do ensino público Os progressos que se verificaram na generalização do ensino público, na segunda metade do século XIX, inserem-se num ambiente de: · confiança no progresso científico. Os progressos verificados no bem-estar das populações em resultado das novidades científicas e tecnológicas vêm reforçar a ideia iluminista do século XVIII de que a instrução constitui um meio fundamental para se atingirem novos progressos materiais e a felicidade que deles resulta; · desenvolvimento do sistema capitalista. Os progressos técnicos não são rentáveis sem um corpo de operários especializados que coordene a sua aplicação. Os empresários cedo reconheceram que os níveis de produtividade aumentavam com operários e quadros burocráticos intelectualmente bem preparados; · modernização dos Estados. A complexificação das funções político-administrativas exige, também, quadros burocráticos cada vez mais bem preparados; · progressos na democracia liberal. Por um lado, os novos partidos de massas têm consciência de que o analfabetismo era um dos instrumentos de que a burguesia conservadora se servia para se perpetuar no poder e vêm para a rua exigir uma nova política de educação como condição para o verdadeiro exercício da democracia; por outro lado, os governos têm consciência de que dependem cada vez mais dos votos dos eleitores e que só eleitores bem instruídos poderão compreender melhor as suas mensagens políticas e transformá-las em votos; · laicização dos Estados. As políticas de diminuição do peso da religião no exercício do poder público levaram os governos a combater o monopólio da educação, tradicionalmente detido por instituições religiosas, consideradas avessas aos progressos da democracia liberal; · desenvolvimento da imprensa. A massificação social alimenta o nascente negócio da informação periódica e do lazer que a máquina capitalista estimula com uma crescente oferta no mercado. Só cidadãos alfabetizados podem alimentar o comércio da informação escrita. Toda esta conjuntura impôs aos governos a necessidade de promover a instrução escolar. Com efeito, assistimos, na segunda metade do século XIX, ao lançamento de importantes programas de democratização do ensino público, de que, nos inícios do século XX, Portugal constituiu um importante exemplo. O maior incremento ocorreu no ensino primário, que passou a ser gratuito e obrigatório, e o poder central assumiu o dever de promover a construção de escolas e de remunerar os professores, cuja formação foi também incentivada. O ensino secundário, mais procurado pelos filhos da burguesia, foi também desenvolvido graças ao aparecimento dos primeiros liceus e escolas técnicas nas grandes cidades e à modernização dos currículos, programas escolares e métodos pedagógicos, orientados para a formação de quadros burocráticos e técnicos exigidos pelo mundo empresarial. O ensino superior não foi descurado, com o objetivo de formar quadros superiores, exigidos pela modernização da sociedade e pelo desenvolvimento da investigação científica.
  • 4. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 4 O interesse pela realidade social na literatura e nas artes O desenvolvimento do conhecimento e os progressos materiais a ele associados estão na origem da formação de um novo quadro cultural e mental, que, por sua vez, se refletiu em novas sensibilidades estéticas e literárias que marcaram a viragem do século. As novas correntes literárias e a estética na viragem do século O Realismo Contexto intelectual O Realismo foi um movimento intelectual de reação ao subjetivismo e à fantasia do Romantismo, num quadro de valorização da razão e de triunfo das ciências exatas e experimentais. A produção plástica e literária de inspiração realista foi também contemporânea de um tempo em que se agravavam as divergências sociais entre a burguesia capitalista e o operariado e ocorreram as primeiras lutas sociais. Os criadores realistas inseriam-se, por conseguinte, num quadro de rutura intelectual com a tradição e de busca de novas formas de dar expressão às condições de vida do mundo industrial. Conteúdos temáticos Tanto na pintura como na literatura dominava a preocupação com a observação rigorosa da realidade, quer física quer humana. Os pintores e os escritores procuravam reproduzi- la sincera e desapaixonadamente, com um realismo tão rigoroso e tão desprovido de sentimentos que se aproximava do Naturalismo. Os pintores privilegiavam cenas do quotidiano. O cenário urbano ou campestre, tratado de forma despersonalizada e neutra, ou o labor dos trabalhadores no mundo industrial ou rural, tratado de forma simples e natural, constituíam as temáticas dominantes das telas realistas. Para os escritores, o texto literário deixou de ser apenas distração e deleite intelectual e tornou-se um instrumento de análise e de crítica social. A visão subjetiva e parcial da realidade foi substituída por uma visão que procurava ser objetiva, fiel, sem distorções. Poderosamente interventivos, os intelectuais realistas cultivavam uma literatura de tese, em que analisavam as causas dos problemas como forma de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. A hipocrisia burguesa (avareza, inveja, usura), a vida urbana (tensões sociais, económicas, políticas), a religião e os problemas sociais (sofrimento, vícios, fragilidades e impotências) eram retratados com uma linguagem clara e direta. Por isso, o herói romântico deu lugar às pessoas comuns no seu quotidiano laboral alienante ou nas suas vivências privadas. Estrutura formal Para conseguirem descrever a realidade absoluta, muitos artistas e escritores conheceram- na experimentalmente, vivendo-a nos cenários que descreveram e convivendo com os tipos sociais que tratavam nas suas obras. Assim, na pintura, os cenários eram localizados com precisão, do mesmo modo que os costumes e acontecimentos eram descritos nos seus mínimos detalhes. Visando reproduzir a realidade em bruto, crua e despojada de artifícios, tal como ela se oferecia instantaneamente à vista, não havia grande preocupação com a elaboração das composições. A obra fluía naturalmente do pincel do artista, preocupado apenas com a exatidão do desenho e perfeição no acabamento. A coloração dependia do ambiente natural envolvente, mas tendia a sobressair em detrimento do desenho. No campo da criação literária, o cuidado em descrever minuciosa e desapaixonadamente as personagens e as situações levou os escritores realistas a privilegiarem a linguagem coloquial, familiar e regional, em que nada do que é humano era estranho ao escritor. O resultado era um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi considerado até chocante de tão inovador.
  • 5. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 5 O Impressionismo Contexto intelectual A estética impressionista surgiu em Paris, por volta de 1870, e afirmou-se no último quartel do século XIX, numa reação aos excessos da pintura figurativa realista/naturalista. O Impressionismo constituiu, com efeito, a primeira manifestação de uma arte moderna em rutura com o academismo tradicional. Conteúdos temáticos Não rompendo radicalmente com o gosto realista, os pintores impressionistas continuavam a privilegiar as temáticas ligadas à Natureza e à figura humana. Todavia, já não era para as retratar com a fidelidade naturalista, mas sim para valorizar os aspetos formais. Era, por conseguinte, na abordagem estética dos temas que residia a grande novidade do Impressionismo. Nos quadros impressionistas eram comuns cenas passadas à beira do rio Sena, em jardins, cafés, teatros e festas. Estrutura formal Os impressionistas procuravam pintar o instante em que a ação estava a acontecer, pela captação imediata da luz e da cor naturais. Porisso, os artistas impressionistas preferiam a pintura ao ar livre, sozinhos ou em grupo (pintura de plein air), com a consequente rejeição da pintura em ateliê. A técnica impressionista consistia em reproduzir as impressões fornecidas pela Natureza, sob diferentes intensidades da luz. Para o conseguirem, contaram com as novas descobertas no campo da ótica e da física da cor e recorreram à aplicação das diferentes cores diretamente nas telas, em tonalidades puras, mediante pequenas pinceladas fortes e justapostas. Os contornos eram diluídos, as formas esbatidas e as figuras difusas. O preto e o cinzento foram banidos e as sombras ganharam luminosidade e colorido, tal como a impressão visual que causavam. A Arte Nova Contexto intelectual O movimento Arte Nova (Art Nouveau) surgiu em Paris, em finais do século XIX, e foi buscar o seu nome a uma loja parisiense chamada justamente Art Nouveau e, que vendia mobiliário seguindo um novo estilo. A Arte Nova, nas suas variadas vertentes nacionais, tratava-se de uma sensibilidade estética que rompia com o academismo dos estilos tradicionais e respetiva decoração escultórica e que propunha um sentido de modernidade em consonância com a nova realidade civilizacional resultante da explosão industrial da segunda metade do século XIX. Na prática, eram os novos problemas urbanísticos a que era necessário dar solução e a busca do conforto, num quadro de prosperidade económica, que levaram os arquitetos e decoradores a romperem com a harmonia e o equilíbrio clássicos e a proporem soluções estéticas marcadas por novas preocupações com a forma e a função dos edifícios. Os novos materiais entretanto lançados no mercado vieram também facilitar a produção da Arte Nova. Estrutura formal Os princípios estruturantes da Arte Nova são: · a interpretação orgânica do espaço, de forma a conseguir-se um enquadramento funcional das construções; · a liberdade criativa dos arquitetos, visível no abandono das preocupações com a simetria das construções e na adoção de diversas tipologias de edifícios; · uma decoração naturalista exuberante, onde predominam linhas curvas estilizadas, motivos florais e femininos, influenciada pelo gosto simbolista;
  • 6. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 6 · a volumetria e o dinamismo das fachadas e o recurso a grandes cúpulas envidraçadas a rematar a estrutura dos edifícios e que enchem o espaço interior de luz e de cor, onde pendem complexos e deslumbrantes candeeiros; · recurso e aproveitamento das potencialidades arquitetónicas e decorativas oferecidas pelos novos materiais, com destaque para o ferro, o vidro, mármores e madeiras exóticas ricamente trabalhadas, na decoração dos interiores. Manifestações Enquanto prática arquitetónica, a Arte Nova era visível nas grandes habitações burguesas da Belle Époque e no requinte dos respetivos equipamentos, mas estava também presente na decoração de grandes armazéns comerciais e edifícios públicos. Mas a Arte Nova, na tradição do movimento Arts and Crafts (Artes e Ofícios), que preconizava a unidade das artes, estava também presente nas artes decorativas, as chamadas artes menores, nomeadamente na produção artesanal de mobiliário, louças e outras utilidades domésticas, na joalharia e também nas artes gráficas, graças aos avanços da técnica da litografia colorida.
  • 7. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 7 Ideias-síntese • Desde cedo, os progressos técnicos do século XIX ocorreram numa estreita relação entre a ciência e a técnica. As novidades tecnológicas eram resultado de surpreendentes avanços científicos. Não admira, por conseguinte, que os cidadãos consumidores fossem alimentando uma fé inabalável no conhecimento produzido nos laboratórios, pelos benefícios materiais que deles iriam resultar. • Vivem-se, por conseguinte, tempos caracterizados pelo determinismo, uma corrente de pensamento segundo a qual todos os fenómenos do Universo se encontravam encadeados numa relação de causa/efeito, em que as mesmas causas provocavam sempre as mesmas consequências. A partir deste pressuposto era possível aos cientistas encontrar explicações lógicas para todos os fenómenos. • Neste contexto, considerava-se que as possibilidades do conhecimento eram ilimitadas, tal como ilimitados eram os avanços técnicos proporcionados pela ciência. Logo, a ciência, considerada como única forma de se chegar ao conhecimento genuíno da realidade, seria a chave para a resolução de todos os problemas da Humanidade. Eram os tempos do cientismo. • O valor atribuído à ciência viria a ser reforçado pelo Positivismo. Trata-se de outra corrente filosófica, teorizada por Auguste Comte, segundo a qual a observação e a experimentação laboratorial constituíam a única forma de se chegar ao conhecimento rigoroso e objetivo da realidade. • Foi neste quadro intelectual que se assistiu a um grande incremento da investigação científica, com reflexos nas profundas novidades que surgiram no conhecimento. Os diversos saberes outrora reunidos num saber enciclopédico individualizaram-se quanto à sua origem, valor lógico e objetivos e especializaram-se no seu desenvolvimento. • Ocorreu, desta forma, uma profunda revolução no campo da Química, da Física e da Biologia, com reflexos profundos na qualidade de vida das populações, destacando-se os avanços na Medicina. • As questões sociais e humanas também não escaparam ao rigor da metodologia científica de carácter determinista. Assim, assistiu-se também a profundos avanços no conhecimento do Homem e das sociedades com os novos estudos na área da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia, da Geografia e da História. • Este novo ambiente intelectual veio reforçar a importância da instrução como fonte de progresso e de felicidade. Se a este pressuposto juntarmos a importância da formação no desenvolvimento do sistema produtivo, as exigências burocráticas dos Estados em vias de modernização, o aperfeiçoamento das democracias e o desenvolvimento da imprensa, reunimos um conjunto de fatores que estavam na origem da progressiva generalização do ensino público, cada vez mais democratizado. • As sensibilidades artísticas e literárias da segunda metade do século XIX também foram marcadas pelo desenvolvimento do conhecimento e pelos progressos materiais a ele associados. • Influenciado pelo Positivismo, o Realismo surgiu, na pintura e na literatura, como expressão do retrato objetivo, desapaixonado e neutro da realidade social e natural, em prejuízo da subjetividade sentimentalista que tinha marcado os tempos do Romantismo. • Já no último quartel do século XIX, os pintores impressionistas privilegiaram o bulício das cidades, em constantes mudanças, em consequência das diferentes intensidades da luz. A variação da luz reproduzida através de cores puras em pinceladas fortes sobrepostas, em que o preto e o cinzento foram banidos, mesmo para reprodução das sombras, constituiu a grande característica do Impressionismo. • Na arquitetura e na escultura, a segunda metade do século foi marcada por uma sensibilidade estética denominada Arte Nova. Tratava-se de uma produção artística que rompia com o academismo dos estilos tradicionais e a respetiva decoração e propunha um sentido de modernidade mediante recurso a novos materiais e a uma nova plástica marcada por um forte pendor decorativo.
  • 8. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 8 • Em finais do século XIX, a cultura portuguesa foi fortemente marcada pelo dinamismo intelectual de um grupo de jovens ansiosos por ver materializar-se em Portugal a modernidade que sentiam afirmar-se na Europa. • Revoltados contra a paz podre da Regeneração e animados por um forte espírito revolucionário, estes jovens intelectuais, conhecidos como Geração de 70, ergueram-se contra o imobilismo da burguesia capitalista e propuseram-se sacudir o país e acordá-lo do seu torpor. Para o efeito, iniciaram-se numa reflexão séria com o propósito de analisar as condições de transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa, a par do que se passava na Europa. • As Conferências Democráticas que organizaram no Casino Lisbonense, a partir de 1871, pelos temas tratados, abalaram de tal forma a cultura portuguesa que acabaram por ser proibidas pelo Governo. • O grupo, apesar de continuar a intervir na denúncia do conservadorismo político, social e cultural, acabou por ser vencido pela fraca adesão social às suas propostas, passando a auto designar-se ironicamente por Vencidos da Vida, e, nos jantares em que continuaram a reunir-se, deram continuidade à discussão humorada dos problemas nacionais. • Na arte, o Realismo assumiu em Portugal uma feição vincadamente naturalista. Os temas privilegiavam a Natureza e a vida quotidiana de gente simples nos seus momentos de trabalho. O Estado apoiou os artistas, transformando esta produção plástica numa espécie de “arte oficial”, que se prolongou num dos mais longos e eloquentes ciclos da pintura portuguesa.
  • 9. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 9 As transformações das primeiras décadas do século XX Um novo equilíbrio global Com a assinatura do armistício pela Alemanha, a 11 de novembro de 1918, terminava o primeiro grande conflito à escala mundial e ficava aberto o caminho para os países vencedores iniciarem o processo de reordenamento do espaço europeu e do Médio Oriente e de estabelecimento de uma nova ordem internacional capaz de garantir a convivência pacífica entre os povos. Com os presidentes Clémenceau, da França e Wilson, dos Estados Unidos, e o primeiro- ministro da Grã-Bretanha, Lloyd George na direção dos trabalhos, a Conferência de Paz teve início em janeiro de 1919, em Paris, e terminou com a assinatura de vários acordos. Entre eles, destacou-se o Tratado de Versalhes, assinado pela Alemanha, pelas consequências que dele advieram para a História da Europa nos anos subsequentes. A geografia política após a Primeira Guerra Mundial Da Europa dos impérios à Europa dos Estados A Primeira Guerra Mundial terminou com a vitória das democracias do Ocidente europeu sobre os velhos impérios da Europa Central e de Leste e o Império Otomano. O Império Russo Em consequência da Revolução Socialista de 1917, que adiante trataremos, a Rússia retirou- se do conflito com cujos motivos deixou de se identificar e o velho império autocrático deu lugar a uma nova unidade geopolítica republicana de partido único, a URSS, com consideráveis prejuízos territoriais. Perdeu territórios para a nova Polónia e para a Ucrânia, abandonou o seu interesse geostratégico sobre a Finlândia e assistiu à emancipação dos estados bálticos da Estónia, Letónia e Lituânia. O Império Alemão Derrotada e considerada responsável pela guerra, a Alemanha foi obrigada a abandonar territórios que passaram a integrar a Polónia e perdeu, definitivamente, as ricas regiões da Alsácia e da Lorena, que regressaram à soberania francesa. Outros territórios alemães contribuíram para o alargamento das fronteiras da Bélgica, Dina- marca e Checoslováquia (atuais República Checa e Eslováquia). Ficou ainda separada da Prússia Oriental pela ligação da Polónia ao mar (corredor de Danzig). Limitado no seu espaço, o velho império (2. Reich) deu lugar a uma nova Alemanha, que pôs fim à monarquia e instaurou a república. O Império Austro-Húngaro O antigo Império Austro-Húngaro foi integralmente desmembrado. Sobre os seus escombros nasceram os novos Estados independentes da Áustria, Hungria e Checoslováquia. Outros territórios foram integrados nas fronteiras da Itália, da Roménia, da Jugoslávia, que se constituía como novo país independente, e da Polónia, geograficamente reconstituída. O Império Otomano Herdeiro do antigo Império Romano do Oriente, viu o seu espaço reduzido à atual Turquia, depois de perder os seus vastos domínios espalhados por todo o Médio Oriente, onde nasceram novos Estados: a antiga Mesopotâmia deu lugar ao atual Iraque, que se manteve sob influência britânica; a Síria e o Líbano constituíram-se como protetorados da França; a Transjordânia, a Palestina e o Egito ficaram sob tutela britânica; a Península Arábica viu surgir o reino independente da Arábia Saudita. Entretanto, outros Estados que se declararam unilateralmente independentes viram a sua luta reconhecida pela comunidade internacional e passaram a afirmar-se como Estados de pleno direito.
  • 10. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 10 Na sua grande maioria, os novos Estados constituíram-se como repúblicas parlamentares, assentes no sufrágio universal e na democracia representativa, consolidando o triunfo da democracia liberal no Leste e Sul da Europa. A Sociedade das Nações e a nova ordem internacional A Sociedade das Nações (SDN) No último dos 14 pontos que serviram de base às negociações de paz, propostos pelo presidente Wilson, era feito um apelo à formação de uma “organização geral das nações” que tivesse por objetivo “assegurar as garantias mútuas de independência política e integridade territorial tanto aos pequenos como aos grandes Estados”. A organização proposta pelo presidente dos EUA concretizou-se, ainda em 1919, com a formação da Sociedade das Nações – a SDN. Segundo o Pacto da Sociedade das Nações, aprovado a 14 de fevereiro de 1919, a organização tinha como objetivo fundamental desenvolver a cooperação entre as nações e garantir a paz e a segurança. Para isso, os 45 países signatários comprometiam-se a manter relações francas e abertas fundadas na justiça e na honra e a salvaguardar a paz pela subordinação rigorosa das suas relações às prescrições do Direito Internacional. Em conformidade, eventuais conflitos que surgissem entre as partes contratantes eram resolvidos pela arbitragem de um órgão judicial – o Tribunal Permanente de Justiça Internacional. Para salvaguarda daqueles princípios, eram previstas medidas tendentes ao desarmamento, era claramente expressa a obrigação de os estados-membros respeitarem a integridade territorial e a independência recíproca. Para o Estado que infringisse qualquer dos princípios acordados eram definidas sanções a aplicar. Finalmente, era também acordado que a agressão a um dos países membros obrigava os outros a intervir na defesa do país agredido. A nova ordem internacional e o fracasso da Sociedade das Nações A ordem internacional saída da Conferência de Paz e traduzida nos vários tratados assinados não favoreceu o sucesso político da SDN. Com efeito: · a paz entre vencedores e vencidos não foi “tratada” como pressupõe a designação dos pretensos acor- dos estabelecidos entre os países beligerantes. Como mais tarde hão de clamar os nacionalistas alemães, em particular, os tratados foram “ditados” (impostos) pelos países vencedores aos países vencidos, que nem sequer participaram na elaboração dos textos. Desta forma, o fim da Primeira Guerra mais não trouxe à Europa do que a afirmação prepotente e humilhante dos países vencedores sobre os países vencidos; · entre os vencedores, cedo sobressaíram as tradicionais rivalidades e ambições hegemónicas interrompidas durante o conflito; · a distribuição das reparações de guerra gerou descontentamento entre alguns dos países participantes no conflito, que se consideraram secundarizados nos seus interesses, como Portugal; · outros sentiram-se frustrados nos interesses geostratégicos que tinham motivado a sua intervenção ao lado dos Aliados. Por exemplo, a Itália, que abandonou a neutralidade inicial e entrou na guerra ao lado da Tríplice Entente, considerava a sua vitória incompleta por não lhe ser reconhecido o direito sobre os territórios que lhe tinham sido prometidos pelas democracias triunfantes; · na redefinição de fronteiras, a questão das minorias nacionais não foi devidamente considerada. Por interesses particulares de quem decidia, uma multiplicidade de povos ficou dispersa por vários dos novos países, sem respeito pela sua identidade étnica e cultural. Milhões de pessoas decidiram abandonar as suas áreas de residência e deslocaram-se para os seus novos Estados, dando origem a uma das mais violentas movimentações de povos da História;
  • 11. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 11 · para complicar mais o sucesso político da SDN, no senado americano triunfou o tradicional isolacionismo face à política mundial, apenas contrariado pelo presidente Wilson. Assim, o senado recusou ratificar o Tratado de Versalhes e, consequentemente, a adesão dos EUA a esta organização. Os senadores americanos opunham-se às pretensões hegemónicas das potências europeias e mostravam desagrado com o facto de os vencedores reconstruírem as suas economias à custa da asfixia dos vencidos. Assim, a ordem internacional definida pela SDN saía claramente ameaçada pela própria associação dos países que a instituíram. A difícil recuperação económica da Europa Para além das alterações geopolíticas que acabámos de estudar, a Primeira Guerra Mundial provocou profundas transformações na situação económica e financeira da Europa, o principal palco das destruições. · Alterações demográficas. As elevadíssimas perdas humanas, provocadas por milhões de mortos e estropiados, provocaram consideráveis alterações na demografia europeia. Além da diminuição de mão de obra, assistiu-se ao envelhecimento da população e ao excedente da população feminina, numa altura em que toda a força de trabalho era pouca para arrancar com o processo de recuperação. · Perdas materiais. Sobretudo na Europa Central, todo o setor produtivo foi atingido: solos agrícolas devastados, casas, fábricas e minas destruídas, vias de comunicação desorganizadas constituíam a imagem de uma Europa em ruínas. · Inflação galopante. Como a procura excedia a oferta, tornou-se prática o racionamento dos bens essenciais. Em consequência, os preços galoparam e tornaram-se incomportáveis para as classes médias de rendi mentos fixos, cujos aumentos nos salários não acompanhavam o aumento dos preços. Para obviar às dificuldades, os governos limitavam-se a aumentar a massa monetária em circulação, sem ser acompanhada pelo desenvolvimento do processo produtivo. Assim, a moeda circulante não tinha correspondência na riqueza dos Estados e rapidamente perdia o seu valor, agravando ainda mais a inflação. · Agravamento do défice. A situação económica e financeira da Europa tornava-se ainda mais complicada pela crescente dependência dos empréstimos e fornecimentos materiais estrangeiros imprescindíveis para o lançamento dos grandes empreendimentos. Como as exportações eram quase inexistentes, tornava-se muito difícil equilibrar a balança de pagamentos. A contração de novos empréstimos era o recurso inevitável dos governos. O agravamento do défice dos Estados era a consequência imediata. A partir de meados da década, graças às políticas de estabilização monetária e de controlo dos défices orçamentais e da inflação, a Europa parece iniciar um período de promissora prosperidade conhecido pelos “felizes anos 20”, que, todavia, foram de curta duração. A dependência em relação aos Estados Unidos Se, na primeira década do século XX, a Europa ainda podia ostentar, orgulhosamente, a sua hegemonia industrial, comercial e financeira, a partir de 1914 passou para uma irreversível situação de dependência em relação aos EUA. Os EUA, que durante a guerra forneceram à Europa matérias-primas, alimentos e armas, passam a contar, no fim do conflito, com um excelente mercado para continuarem a colocar, não só bens de primeira necessidade, como investimentos e financiamentos com que a Europa inicia a sua reconstrução. Altamente rentabilizados na Europa, os capitais investidos acabavam por regressar aos Estados Unidos na forma de pagamentos dos débitos contraídos. Em consequência, nos
  • 12. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 12 inícios dos anos 1920, cerca de metade dos stocks mundiais de ouro concentrava-se nos Estados Unidos e Nova Iorque substituía Londres como principal centro financeiro do Mundo. Assim, enquanto a Europa se erguia com grande dificuldade dos escombros da guerra, a economia americana arrancava, sobretudo a partir de 1922, para um período de intensificação do seu desenvolvimento industrial e comercial. Foram os tempos da prosperidade americana, marcada por novos e incessantes progressos técnicos sob o signo da organização racional das empresas. A implantação do marxismo-leninismo na Rússia Em 1917, numa altura em que o aperfeiçoamento da democracia liberal atingia consideráveis desenvolvimentos no Ocidente europeu, na Rússia persistia ainda um modelo político conservador, autocrático, que ruiu em consequência de um complexo processo revolucionário do qual resultou, num primeiro momento, o triunfo da burguesia liberal, adepta de algumas reformas socializantes. Todavia, em 1917, já era muito tarde para triunfar na Rússia uma revolução inspirada no liberalismo do século XVIII. As forças socialistas revolucionárias, solidamente organizadas, moviam-se, com efeito, dentro da crise política iniciada em fevereiro e preparavam-se para o golpe definitivo nas pretensões da burguesia russa. A revolução socialista inspirada nas propostas marxistas acabou por triunfar, num segundo momento do processo revolucionário. Era o início da construção do modelo soviético. A construção do modelo soviético Fevereiro de 1917 – A revolução burguesa Em 1917, a conjuntura económica e política da Rússia era extremamente favorável à difusão de movimentos de contestação e de revolta. A vontade de mudança crescia à medida que se agravavam as tensões sociais e políticas em consequência da participação na Primeira Guerra. Numa situação verdadeiramente explosiva, afirmavam-se movimentos políticos inspirados, uns no liberalismo burguês triunfante no Ocidente, outros na ideologia socialista, com particular destaque para o Partido Operário Social-Democrata Russo, onde preponderava uma fação de adeptos da revolução proletária. Com efeito, não era apenas o operariado que aderia em força às ideias socialistas. Uma grande parte da classe média, incluindo uma pequena burguesia nascente e até uma aristocracia iluminada, via também algumas virtualidades na oposição socialista à autocracia czarista. Em fevereiro, Sampetersburgo é centro de grandes manifestações populares, greves e motins em que se exige o fim do czarismo. O descontentamento generaliza-se a outras cidades industriais e é aproveitado pela burguesia liberal para exigir o fim do regime e pelos agitadores socialistas para prepararem o operariado para a revolução. Em março, o czar abdica e entrega o poder a um governo provisório, onde preponderam liberais e socialistas reformistas. O novo Governo adota o modelo democrático parlamentar de tipo ocidental e prepara-se para iniciar o processo eleitoral e a elaboração de uma Constituição. Era a revolução burguesa que parecia triunfar no Leste da Europa, com mais de cem anos de atraso em relação ao Ocidente. Outubro de 1917 – A revolução socialista Se as ideias socialistas já iam tendo grande aceitação em tempos de repressão czarista, a revolução de fevereiro proporcionou ao movimento socialista russo a liberdade para
  • 13. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 13 intensificar a sua ação de propaganda, agora dirigida também contra o poder burguês, triunfante na sequência do derrube da monarquia czarista. Nesta conjuntura, após os acontecimentos de fevereiro, os sovietes, conselhos de operários e de soldados, que, desde 1905, se vinham a destacar na contestação ao czar, reorganizaram-se nas respetivas fábricas e quartéis e espalharam-se por toda a Rússia. Entre todos, sobressaía o soviete de Sampetersburgo, constituído ao lado da Duma – parlamento ou assembleia legislativa – como um verdadeiro poder paralelo, dificultando o normal funcionamento das instituições, através do fomento da agitação social e da contestação ao Governo Provisório. Entre os principais agitadores revolucionários encontravam-se os bolcheviques. Bolcheviques e mencheviques eram as duas fações em que se tinha dividido o Partido Operário Social-Democrata Russo, em consequência das cisões que ocorreram no seio do movimento marxista. Os primeiros, maioritários, persistiram na defesa da revolução como forma de levar o operariado ao poder, os segundos, minoritários, adotaram a via reformista, aceitando colaborar no Governo Provisório, ao lado da burguesia. São os bolcheviques que superintendem ideologicamente nos sovietes mais ativos. Opunham-se à democracia liberal triunfante em fevereiro e defendiam a continuação da revolução operária, aproveitando a fragilidade política da Rússia, tendo em vista a instituição da ditadura do proletariado. Desenvolvem uma intensa propaganda contra a presença da Rússia na Primeira Guerra, que acusam de ser uma guerra capitalista provocada pelos interesses imperialistas das potências ocidentais, denunciam a impotência do Governo Provisório para retirar o país do caos económico e social em que se encontrava e organizam uma insurreição armada sob a direção ideológica de Lenine e militar de Trotsky. Em outubro, tomam o poder, iniciando a revolução socialista. A democracia dos sovietes O poder passou a ser exercido por um Conselho de Comissários do Povo, constituído a partir dos sovietes e liderado por Lenine. O primeiro ato político do novo Governo foi negociar a retirada da Rússia da guerra, considerada condição indispensável para o prosseguimento da revolução. Em finais de 1917, são organizadas eleições para uma Assembleia Constituinte. Perante o fracasso dos bolcheviques, Lenine dissolveu a Assembleia e transferiu o poder para o Congresso dos Sovietes, uma assembleia de representantes dos vários sovietes, que, nos termos da Constituição de 1918, se converteu no órgão máximo de soberania. A Rússia tornou-se, assim, uma República Soviética. Todos os partidos foram proibidos e o parlamento passou a ser dominado pelo partido bolchevique, que se constituiu como Partido Comunista. Em tese, o poder passava para as mãos dos trabalhadores organizados em sovietes, na prática, era exercido pelo Partido Comunista, autoafirmado como vanguarda dos trabalhadores. A construção da sociedade socialista A construção da sociedade socialista inicia-se com a publicação dos primeiros decretos revolucionários, entre os quais: · o decreto sobre a paz, em que o novo poder apelava ao fim da guerra, abandonando o conflito na condição de derrotado – uma paz desastrosa, mas necessária, no dizer de Lenine; · o decreto sobre a terra, que determinava a abolição progressiva e sem qualquer indemnização da grande propriedade fundiária e a sua entrega aos sovietes de camponeses; · o decreto sobre o controlo operário, que atribuía a sovietes de operários a superintendência das grandes empresas e da respetiva produção; · o decreto das nacionalidades, que punha fim às desigualdades entre os vários povos que integravam o antigo império czarista e lhes reconhecia o direito à autodeterminação ainda que sob a bandeira socialista.
  • 14. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 14 A guerra civil e o comunismo de guerra Em consequência, eclode uma violenta guerra civil em que as forças revolucionárias, o Exército Vermelho, se confrontam com as forças conservadoras, o Exército Branco. Constituíam estas forças os grandes proprietários e antigos dirigentes políticos, que reagiram aos decretos revolucionários, apoiados pelo capitalismo internacional, receoso da internacionalização do processo revolucionário soviético. Nesta conjuntura de guerra civil, o poder revolucionário instituído implanta uma política de feroz ditadura, o comunismo de guerra. Foram os tempos do terror vermelho, em que se consolidou um regime de partido único, com a supressão das outras organizações partidárias, e em que todos os recursos económicos foram incondicionalmente canalizados para o esforço de guerra contra os inimigos da revolução, mediante a severa vigilância de um sistema policial persecutório e repressivo sobre quem manifestasse o mais pequeno sinal contrarrevolucionário. Na prática, a necessidade de salvar a revolução punha fim à democracia dos sovietes. Com efeito, a terra e as fábricas eram retiradas ao controlo dos sovietes de camponeses e de operários e passavam para o controlo direto do Estado. Iniciava-se o processo de nacionalização de toda a economia e ao Estado passava a incumbir a gestão da produção e a distribuição dos bens pela população. Com o fim da democracia dos sovietes instituía-se um conceito particular de democracia, que ficou conhecido como centralismo democrático. Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático Para Lenine, democracia, mais do que um processo de formação e de exercício do poder, era o próprio poder na sua significação etimológica – o poder do povo. Ora, segundo as conceções socialistas, povo é o conjunto dos operários, soldados, marinheiros e camponeses (estes com menor expressão política). Por conseguinte, para os marxistas-leninistas, o poder só é democrático se for exercido pelos proletários das fábricas, das forças armadas e do campo, nem que ele seja exercido por uma única organização partidária com exclusão de todas as outras, por não serem verdadeiramente representativas do povo. É o que se vai passar na Rússia bolchevique quando o Partido Comunista se afirma como partido único, centralizando o poder do povo – o poder democrático. Trata-se de uma forma de poder em que a soberania parte das bases populares organizadas em sovietes. Num segundo momento, os sovietes de base elegem representantes seus para os sovietes locais e regionais. Num nível superior da organização política, estes sovietes locais e regionais elegem um soviete supremo, de âmbito nacional. É deste soviete supremo que saem os ministros do Governo. Em última instância, os ministros elegem um Presidium, que é órgão supremo da República, onde se inclui o Presidente da República. Esta complexa organização do poder era dominada por uma única corrente ideológica, por conseguinte, por um único partido, o Partido Comunista, cuja orgânica se confundia com a orgânica do Estado soviético. Toda a estrutura cimeira do poder era constituída pelas elites dirigentes do partido – a nomenklatura. O presidente do partido era, inerentemente, o Presidente da República. As altas figuras do partido eram as altas figuras do Estado. Esta constituição do poder é considerada democrática, porque se baseava no sufrágio universal exercido de baixo para cima. Efetivamente, o órgão máximo da soberania era o vértice de uma hierarquização do poder em pirâmide, cujos níveis intermédios elegiam o nível seguinte, começando pela base, que era a população da União, organizada em sovietes de operários, soldados, marinheiros e camponeses. É considerada centralista, porque o poder era centralizado numa instituição suprema e exercido de forma autoritária. Disciplina, ordem e autoridade eram a única forma de fazer triunfar a revolução dos pobres sobre os capitalistas exploradores. Para o efeito, os diferentes níveis do poder deviam respeitar a rígida hierarquia, estabelecida de cima para baixo, em que cada nível devia obedecer aos níveis superiores do Partido Comunista.
  • 15. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 15 É sob este modelo político que, no Congresso dos Sovietes de dezembro de 1922, nasce a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A NEP e o triunfo da revolução soviética Os bolcheviques venceram militarmente a contrarrevolução branca. Todavia, em 1920, a Rússia era um país economicamente arruinado. O sistema produtivo apresentava níveis inferiores aos de 1913, numa conjuntura política que mantinha o país isolado do Ocidente capitalista. A miséria e a fome punham em perigo a Revolução. Com um grande pragmatismo, Lenine pôs em prática um programa económico através do qual visava repor níveis de produtividade que garantissem à população os bens essenciais à sua subsistência e a independência económica do Estado. Tratou-se da Nova Política Económica (NEP). Com a NEP, o Governo socialista recuava no processo das nacionalizações e aceitava a iniciativa privada em setores secundários, mas essenciais da produção, mantendo no Estado os setores fundamentais da economia. Assim, era permitido aos setores privados agrícola, industrial e comercial intervir no mercado com alguma liberdade, para travar o agravamento da carência de bens de primeira necessidade. Lenine empreendia um recuo que ele próprio considerava estratégico. Durante algum tempo, a cedência ao capitalismo, sob controlo do Estado, poderia ajudar à consolidação da revolução. Em 1927, a pequena e média burguesia dos negócios, os nepmen, e pequenos proprietários rurais, os kulaks, resultantes da adoção de algumas medidas de tipo capitalista, tinham reposto e até ultrapassado os níveis de produtividade anteriores à Grande Guerra. Falecido em 1924, Lenine já não pôde assistir aos resultados da sua Nova Política Económica. Ideias-síntese • O fim da Primeira Guerra Mundial provocou grandes alterações no mapa político da Europa. Derrotados, os impérios autocráticos foram desmembrados e deram lugar a novos Estados que, na sua maioria, se constituíram como repúblicas parlamentares, segundo o princípio das nacionalidades. O velho império russo deu lugar a uma república socialista, em consequência do triunfo da primeira revolução inspirada no socialismo marxista. • Com o objetivo de instituir uma nova ordem internacional marcada pela preocupação em salvaguardar a paz e promover a cooperação internacional, foi instituída a Sociedade das Nações, que, todavia, não conseguiu os seus objetivos, dada a sua incapacidade de suster os novos focos de instabilidade que, entretanto, foram surgindo. • Em termos económicos, as consequências da guerra foram devastadoras para a Europa, principal palco dos conflitos bélicos. As enormes perdas humanas e materiais tornaram-na dependente dos Estados Unidos, que, passando a contar com um amplo mercado consumidor externo que juntam ao seu já forte mercado interno, vivem, nos anos 1920, tempos de grande prosperidade económica. • Em 1917, na sequência de uma primeira revolução de cariz liberal/burguês ocorrida em fevereiro, a fação bolchevique do Partido Operário Social Democrata Russo, liderada por Lenine e Trotsky, leva a cabo uma segunda revolução, em outubro, dando início a um processo revolucionário que visava a instituição, na Rússia, da primeira ditadura do proletariado preconizada por Marx e Engels, em meados do século XIX. • Perante a resistência conservadora apoiada pelo capitalismo ocidental, a revolução tomou um carácter ditatorial. A Rússia transformou-se numa república de partido único e iniciou o processo de construção da sociedade socialista, através da abolição da propriedade privada. Foi o tempo do “comunismo de guerra”. • Foi também o tempo de afirmação do centralismo democrático, forma política que consiste em impor a centralização do poder pela via democrática. O poder supremo é o resultado final de um processo de cedência de poderes por estádios políticos inferiores a estádios políticos imediatamente superiores, numa pirâmide de instituições, a partir das bases organizadas em sovietes.
  • 16. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 16 • A partir de 1921, perante a crise económica que punha em perigo a revolução, Lenine teve de empreender um recuo estratégico que passou pela instituição de uma Nova Política Económica – a NEP, através da qual alguns setores económicos não estratégicos eram abertos à iniciativa privada. • Na Europa Ocidental, os tempos começam a ser difíceis para a consolidação das democracias. As dificuldades económicas, num ambiente de liberdade democrática, favorecem a intensificação da agitação socialista, levada a cabo por partidos de inspiração marxista e pelos sindicatos que, sob ação do Komintern, agitam a bandeira da revolução soviética e intensificam a sua ação de propaganda e de militância contra o capitalismo liberal e contra o Estado burguês. • Entretanto, verifica-se a resposta dos setores conservadores constituídos pelos proprietários burgueses e classes médias urbanas, que denunciam a incapacidade da democracia na resposta à crise económica, criando condições para o avanço socialista; apelam ao orgulho nacional e à grandeza do passado contra a humilhação imposta pelos tratados de paz de 1918; propõem a união nacional contra o internacionalismo marxista; exigem ordem e estabilidade impostas pela força; organizam, armam e financiam milícias contra as organizações socialistas; propõem formas totalitárias de exercício do poder. • A cultura e a mentalidade das primeiras décadas do século XX foram condicionadas pela Primeira Guerra Mundial e por todas as vicissitudes políticas, económicas e sociais que dela decorreram. Em prejuízo das certezas e do otimismo dos anos precedentes, a mentalidade ocidental passou a ser fortemente marcada por sentimentos de incerteza, inquietação, medo e desespero. Em consequência, assistiu-se ao ruir dos valores humanistas, da moral cristã, do puritanismo burguês, dos valores. • A crise dos valores tradicionais refletiu-se nos modos de vida e na alteração da estrutura social. Os anos que se seguiram ao fim da guerra foram vividos intensa e freneticamente como forma de esquecer o sofrimento, a morte e a destruição provocados pelo conflito mundial. Sobretudo os jovens repudiaram todas as limitações que impediam a liberdade de viver e procuraram novos lazeres, novos divertimentos, novas modas, em total rutura com o conservadorismo puritano das gerações anteriores. Por seu lado, as mulheres tomam consciência da sua importância na nova sociedade e passam a reivindicar a igualdade de direitos sociais e políticos. • Para esta alteração dos modos de vida muito contribuiu o crescimento dos meios urbanos, onde passou a viver e a trabalhar uma multidão massificada de indivíduos cada vez mais uniformizados, desenraizados e dispersos em mundos totalmente novos e onde as tradicionais solidariedades se desagregam e dificilmente se constituem sólidos relacionamentos. O individualismo, o anonimato e as dificuldades em encontrar situações de estabilidade económica favorecem a anomia social, patente na emergência de sentimentos de frustração e de revolta que, por seu lado, estão na origem de comportamentos desviantes e de desrespeito pelas mais elementares regras de educação e de urbanidade de uma sociedade civilizada. • A afirmação da relatividade do conhecimento e as teses psicanalíticas de Freud provocaram uma autêntica revolução no campo da criação literária, por ação dos movimentos de vanguarda que, na sua produção intelectual, romperam com os velhos cânones e aderiram a tendências modernistas. • As primeiras experiências de vanguarda verificaram-se na pintura e foram desenvolvidas por correntes expressionistas e fauvistas divulgadas na Alemanha e na França, em 1905. As novas práticas evoluíram para a radicalização com os pintores cubistas, futuristas e abstracionistas, em cujas produções plásticas se verifica o total desmantelamento da perspetiva tradicional e a opção por uma visão intelectualista do espaço. Mas onde se verificou mais a presença do inconsciente freudiano e onde a liberdade criativa foi plenamente manifestada foi nas correntes dadaísta e surrealista. • À semelhança do que se passava na pintura, também as primeiras produções literárias do século XX foram fortemente marcadas pela rutura com a tradição e respetivos valores culturais. O naturalismo e o realismo que caracterizavam a literatura de finais do século XIX
  • 17. HISTÓRIA – 11.º ANO/12.º ANO 17 dão lugar a uma corrente dominada pelas preocupações psicológicas das personagens. Em termos formais, a modernidade caracteriza-se pela liberdade criativa da expressão literária, tanto ao nível da linguagem como da construção sintática.