1) A educação para a cidadania em Portugal tem mais de 40 anos de história ligada à democracia e ao acesso à escola, mas foi quase ausente nas últimas décadas.
2) A participação de crianças e jovens é preditora de participação política futura, mas existem constrangimentos à sua participação atual.
3) O documento defende uma educação para a cidadania transversal e baseada na ação, discussão e participação política para promover a justiça, liberdade e inclusão.
Educação para o exercício da cidadania, o desenvolvimento humano e a realização pessoal e social
1. Educação para o exercício da cidadania, o
desenvolvimento humano e a realização
pessoal e social (Tema 6)
Maria Fernandes-Jesus, ISCTE-IUL
2. Uma história com mais de 40 anos…
• História da educação para a cidadania intrinsecamente ligada à história da democracia em
Portugal e da tentativa de democratização do acesso à escola.
• Período logo a seguir ao 25 Abril foi caracterizado por várias tentativas para a sua introdução
nas escolas.
• Estas “tentativas” foram abandonadas, em 1976, sob o argumento de estarem a promover a
doutrinação ideológica (Menezes, 2003).
• Ausência de medidas políticas educativas direccionadas para a formação pessoal, cívica e
política dos jovens caracterizou a década seguinte.
• Aprovação da lei de bases do sistema educativo em 1986 e a criação da área de Formação
Pessoal e social.
• Destaque na promoção de cidadãos livres, activos e críticos.
• Forte ênfase na construção de uma cidadania democrática e europeia.
• Tempo e um espaço curriculares próprios (no âmbito não disciplinar e disciplinar).
• Disciplina de desenvolvimento pessoal e social e criação da área escola.
(Ribeiro, Neves & Menezes, 2014)
3. E no presente, “quase” ausente
• A generalização da disciplina a todas as unidades curriculares
parece ser uma ficção.
• O carácter facultativo da educação para a cidadania torna-a um
instrumento das sociedades capitalistas, centradas nas
questões financeiras, do consumo e do empreendedorismo.
• A educação para cidadania (quando existente) tende a ser
considerada como algo teórico e as crianças e jovens como
sujeitos passivos.
4. Relevância da participação e da
cidadania
o Participação de crianças e jovens como preditor de uma
participação política no futuro.
o Vários constrangimentos à participação na vida pública e
política de jovens e adultos.
o Educação como preditor da participação política – pessoas
com maiores níveis de educação são mais participativas.
o Desafios societais prementes que exigem justiça, liberdade,
igualdade, direito à diferença, inclusão, solidariedade, ética e
respeito para com os outros e com o planeta.
5. Objectivos do tema 6
• Reconhecer a importância da educação para a cidadania e da cidadania para a educação.
• Promover a educação para a cidadania como algo transversal a todo o sistema educativo – e
para além deste!
• Identificar e reconhecer os múltiplos espaços de/para a educação para a cidadania.
• Debater sobre a importância dos saberes mais académicos/teóricos para a cidadania e para o
desenvolvimento pessoal e social.
• Reflectir sobre o conceito de cidadania e da participação ao longo da vida.
• Fortalecer as dimensões dos direitos humanos e do ambiente na educação para a cidadania.
• Discutir sobre o próprio conceito de cidadania (e de educação para a cidadania).
• Considerar a dimensão inevitavelmente política do exercício da cidadania.
• Reconhecer a participação cívica e política como fundamental para o desenvolvimento social,
pessoal e político.
6. O debate
Uma educação para a cidadania centrada na acção, para a transformação social,
baseada na prática, no conhecimento, na discussão, no questionamento crítico,
na reflexão e na participação política.
8 oradores/as, 1 moderadora, 1 relator
• Docentes, professores, investigadores, activistas, estudantes, escoteiros…
Temas
• A ligação da cidadania com os saberes da história, geografia, literatura, literacia,
informática, etc.
• A cidadania ao longo da vida.
• O desenvolvimento pessoal e social dos jovens.
• Experiências de cidadania, educação e participação para além dos muros da escola.
7. “É no processo político que inventamos o que são justiça,
democracia e liberdade.” (Lopes, 2013)
Só a educação para a política produz cidadania…
Notas do Editor
Após o 25 de Abril, emerge o interesse pela educação cívica e política . Transição de um modelo doutrinador para um modelo educativo democrático - democratizar o acesso escolar e contribuir para emancipação pessoal, cívica, e política dos/as jovens
Tentativas: disseminação transdisciplinar de conceitos relativos às instituições democráticas; criação de uma área de educação cívica e politécnica no ensino unificado (7º e 8º ano), introdução de uma disciplina de introdução à política no ensino complementar; definição de um não Serviço Cívico estudantil antes do ingresso na universidade (Menezes, 1998).
A aprovação da lei de bases acompanha a entrada de Portugal na CEE e como tal a dimensão europeia é considerada fundamenta. Lei de bases remete para uma ideia de educação que devia preparar os/as jovens para o exercício pleno da cidadania, não se fixando em dimensões estritamente cognitivas ou puramente académicas.
Este plano inclui ainda uma referência que todos os planos incluirão educação ecológica, educação do consumidor, educação familiar, educação para a saúde, prevenção de acidentes… educação para a participação nas instituições, serviços cívicos s e outros do mesmo âmbito. Formação pessoal e social era na década de 80 e início de 9 a designação comum para atender às preocupações sociais relacionadas com o papel da escola na prevenção de problemas juvenis (drogas; gravidez na adolescência, intolerância e apatia política) na prepação dos jovens para lidar com tarefas relevantes da sua vida, e na promoção de aprendizagens para alem dos conteúdos exclusivamente académicos.