3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os seres humanos, premidos pelo medo do desconhecido,
sempre pensaram em devolver à natureza o que da natureza é.
O mais comum é devolver à terra . Contudo, há também a
cremação.
Os aspectos religiosos têm um peso muito grande na forma
como nos desfazemos desses restos mortais. O cristianismo,
por exemplo, opõe-se a qualquer tipo de destino que não seja a
terra.
Epidemias, necessidade de espaço e outras considerações
acabaram resultando na escolha também da cremação.
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5. CREMAÇÃO
Cremação vem de cremare, significando incinerar ou
queimar.
É a combustão do corpo de forma rápida, feita em forno
especial, que produz calor de 1.100º c a 1.370º c. Os ossos
se reduzem a cinzas, que podem ser guardadas em urnas.
É um método muito antigo e
asséptico, pois ocupa pouco
espaço e do corpo sobram
apenas cinzas, que são
desfeitas com facilidade.
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6. INUMAÇÃO E EXUMAÇÃO
O verbo inumar quer dizer
sepultar ou enterrar. É
isso que, com maior
frequência, acontece no
Ocidente.
Exumar, que é um verbo
composto por ex + humus
(terra), e significa
desenterrar ou retirar de
dentro da terra.
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8. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
A cremação é um dos processos mais antigos praticados
pelo homem.
Em algumas sociedades este costume era considerado
corriqueiro e fazia parte do quotidiano da população, por se
tratar de uma medida prática e higiénica.
Alguns povos utilizavam a cremação para rituais fúnebres:
os gregos, por exemplo, cremavam seus cadáveres por
volta de 1.000 A.C.
os romanos, seguindo a mesma lista de tradição,
adotaram a prática por volta do ano 750 A.C.
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9. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
Nessas civilizações, como a cremação era considerada um
destino nobre aos mortos, o sepultamento por inumação ou
entumulamento era reservado aos criminosos, assassinos,
suicidas e aos fulminados por raios (considerada até então
uma "maldição" de Júpiter). As crianças falecidas mesmo
antes de nascerem os dentes também eram enterradas.
No Japão, a cremação foi adotada com o advento do
Budismo, em 552 D.C, importado da China. Como em outras
localidades, ela foi aceite primeiramente pela aristocracia e
a seguir pelo povo.
Incentivados pela falta de lugares para sepultamento, pois o
Japão possui pouquíssimo espaço territorial, os japoneses
incrementaram significativamente a prática.
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10. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
Em 1867, foi promulgada uma lei que tornava obrigatório
incinerar as pessoas mortas por doenças contagiosas para
um controlo sanitário eficaz e eficiente, bem como para
racionalizar e obter melhor uso da terra.
Os cidadãos passaram a considerar normal cremar todos os
mortos e todas as religiões passaram a recomendá-la.
Porém, há religiões que não recomendam a cremação. A
Igreja Católica, por exemplo, permite a cremação se não for
feita com a intenção materialista , de negação da
ressurreição dos corpos, mas até recomenda «vivamente» a
prática de enterrar os corpos.
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11. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
Mas a prática
permaneceu usual no
mundo oriental: indianos
e japoneses sempre
foram adeptos da
cremação.
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Em Bali, os corpos flutuam em chamas pelas ruas até um terreno, onde eles são
transferidos para um recipiente.
12. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
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Cerimónia de cremação nas margens do Ganges, na Índia.
13. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
Desde o princípio, mesmo invocando-
se pretexto de salubridade pública, a
cremação foi tida como contrária à fé
cristã, por atentar basicamente
contra o dogma da imortalidade da
alma e da ressurreição dos corpos,
tomando-se tal prática como
destruição total e definitiva dos
homens, após a morte.
Por esses motivos, houve muita hostilidade contra o
catolicismo, num Congresso sobre Cremação, em 1882. E o
Código Canónico de 1917 proibiu expressamente a prática
das cremações.
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14. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
Na Segunda metade do século XX, por volta dos anos 70, já se
registavam cerca de 300 mil cremações anuais, na Inglaterra,
representando quase que a metade do total das mortes ocorridas,
e havendo mais de 190 crematórios em operação.
Esse avanço foi feito, em vários aspectos da matéria, após a
Segunda Grande Guerra, inclusive melhorando-se a arquitetura e
desenvolvendo-se os “jardins da recordação”, ligados a cada
crematório, onde as cinzas do morto podiam ser enterradas,
guardadas ou espalhadas.
Ao mesmo tempo, inovações técnicas não foram negligenciadas,
de tal forma que o processo pelo qual o morto era reduzido a
cinzas passou a ser executado numa velocidade cada vez maior.
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15. DADOS HISTÓRICOS DA CREMAÇÃO
O incremento de aceitação da idéia de
cremação é observado em várias
partes do mundo.
Nos países escandinavos (Suécia,
Noruega, Dinamarca, Islândia e
Finlândia) e em todos os países da
Europa onde há sociedades de
cremação, os crematórios são
instalados nas áreas mais densamente
povoadas e tem aumentado o número
de cremações.
O progresso foi ainda maior na Austrália
e na Nova Zelândia onde, em cada
caso, as cremações vão além de 30%
do total das mortes.
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17. VISÃO ESPÍRITA DA CREMAÇÃO
O Espiritismo não proíbe a cremação de cadáveres, mesmo
porque nada é proibitivo no Espiritismo, pois é uma Doutrina
de liberdade mas, antes de tudo, uma Doutrina da
conscientização.
Recomenda, todavia, muita cautela para aqueles que
venham adotar o procedimento da cremação de cadáveres,
em substituição a inumação.
PORQUÊ?
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18. VISÃO ESPÍRITA DA CREMAÇÃO
Nosso corpo material, que é energia densificada,
liga-se ao Espírito, Ser Inteligente de essência
sublimada, através do perispírito, elemento
mediador entre os dois corpos de naturezas
extremamente diferentes.
O perispírito é um envoltório
semimaterial do Espírito,
constituído de substância etérea
e sutil, mais fluídica do que
material, sendo que esta parte
material é muito menos densa
do que a matéria do corpo de
carne.
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19. VISÃO ESPÍRITA DA CREMAÇÃO
Para dar vida ao corpo carnal, o perispírito se liga a
ele, célula a célula, elemento a elemento, como se
existissem feixes de fios fluídicos, estabelecendo a
conexão celular material com o Espírito.
Assim, tudo o que se passa no corpo material, o
Espírito toma conhecimento através da ligação
existente e, no sentido inverso,
todas as decisões, ordens, desejos,
vontades e até mesmo todos os
sentimentos do Espírito chegam à
estrutura celular ou nela se
refletem, através do mesmo canal
fluídico.
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20. VISÃO ESPÍRITA DA CREMAÇÃO
Sendo assim, o fenómeno da morte nada mais é do
que o desligamento de todos os fios fluídicos do
perispírito, liberando o Espírito do cárcere material.
Uma vez ocorrido tal desligamento no processo da
morte, o Espírito não pode voltar a animar aquele
que foi o seu veículo de carne.
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22. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Na morte encefálica ocorre uma alta
pressão e, por isso, o sangue deixa
de circular no cérebro e os neurónios
ficam inchados e se rompem, e, não
havendo qualquer transmissão de
impulso entre os neurónios, as
células param de funcionar.
A parada é irreversível e, em mais ou menos 48 horas, todos
os demais órgãos deixam de funcionar, a não ser que sejam
mantidos com aparelhos.
Portanto, deve-se deixar claro que, mesmo que uma pessoa
tenha os batimentos cardíacos, ou seus pulmões ou rins
funcionando, no estágio atual da medicina, não poderá se
recuperar, se já tiver ocorrido a morte encefálica. 22
23. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Ao Espiritismo cabe analisar um fenómeno ligado à morte,
mas que não ocorre necessariamente no mesmo momento,
que é a desencarnação, já que esta se processa na
dimensão espiritual.
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24. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Questão 154: - “A separação da alma e do corpo é
dolorosa?”
“Não; o corpo, frequentemente, sofre mais durante a
vida que no momento da morte; neste, a alma nem
sente. Os sofrimentos que às vezes se provam no
momento de morte são um prazer para o Espírito, que vê
chegar o fim do seu exílio”.
Questão 155: - “Como se opera a separação da alma e do
corpo?”
“Desligando-se os liames que a retinham, ela se
desprende”.
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25. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Questão 155-a: - “A separação se verifica instantaneamente,
numa transição brusca? Há uma linha divisória bem
marcada entre a vida e a morte?”
“Não; a alma se desprende gradualmente e não escapa
como um pássaro cativo que fosse libertado. Os dois
estados se tocam e se confundem, de maneira que o
Espírito se desprende pouco a pouco dos seus liames;
estes se soltam e não se rompem”.
“A observação prova que no instante da morte, o
desprendimento do espírito não se completa
subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão
variável, segundo os indivíduos.
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26. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Para uns, é bastante
rápido e pode dizer-se
que o momento da
morte é também o da
libertação, que se
verifica logo após.
Noutros, porém,
sobretudo naqueles
cuja vida foi toda
material e sensual, o
desprendimento é
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muito mais demorado, o que não implica a existência no
corpo de nenhuma vitalidade, mas a simples persistência
de uma afinidade entre o corpo e o Espírito (...)
27. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
É lógico admitir que, quanto mais o Espírito estiver
identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se
dela.
Por outro lado, a atividade intelectual e moral e a
elevação dos pensamentos operam um começo de
desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e
quando a morte chega é quase instantânea.
Analisando a perturbação espírita no momento da morte,
Kardec, na questão 164 de “O Livro dos Espíritos”, faz a
seguinte indagação: - “Todos os Espíritos experimentam,
num mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que
se segue à separação da alma e do corpo?”
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28. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
“Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já
está depurado se reconhece quase imediatamente,
porque se desprendeu da matéria durante a vida
corpórea, enquanto que o homem carnal, cuja
consciência não é pura, conserva por muito mais tempo
a impressão da matéria”.
“A duração da perturbação de após morte é muito
variável: pode ser de algumas horas, como de muitos
meses e mesmo de muitos anos.
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29. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Nas mortes violentas, por suicídio, acidente, ferimentos,
etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita
que esteja morto e sustenta teimosamente que não
morreu. Vê o seu corpo, sabe que é dele, mas não
compreende que esteja
separado. Surpreendido pela
morte imprevista, o espírito fica
aturdido com a brusca mudança
que nele se opera. Para ele, a
morte é ainda sinónimo de
destruição, de aniquilamento;
ora, ..., como ainda vê e escuta,
não se considera morto [...]
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30. MORTE ENCEFÁLICA E DESENCARNAÇÃO
Morrer não é libertar-se facilmente. Para quem varou a
existência na Terra entre abstinências e sacrifícios, a
arte de dizer adeus é alguma coisa da felicidade
ansiosamente saboreada pelo Espírito, mas para o
comum dos mortais, afeitos aos “comes e bebes” de
cada dia, para os senhores da posse física, para os
campeões do conforto material e para os exemplares
felizes do prazer humano, na mocidade ou na madureza,
a cadaverização não é serviço de algumas horas.
Demanda tempo, esforço, auxílio e boa vontade.
(Irmão X. Escultores de Almas. Francisco Cândido Xavier)
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32. SITUAÇÃO DO ESPÍRITO NO MOMENTO DA CREMAÇÃO
Se com a morte, como vimos, o Espírito está totalmente
desconectando do corpo material, poderíamos concluir, de
imediato, que tudo o que fosse feito com o cadáver, não
deveria atingir o Espírito, por falta de ligações reais. Assim,
poderíamos cremar o cadáver. Mas as coisas podem não ser
bem assim, porque o Espírito, mesmo liberto da matéria,
continua a pensar e a ter desejos e sentimentos.
Para as criaturas ainda não totalmente espiritualizadas, que
viveram na Terra muito apegadas aos bens materiais, a
morte não impede que o pensamento do Espírito esteja
concentrado no seu cadáver, por uma espécie de saudade, e
por se reconhecer, daquele momento em diante, impedido
de usufruir um instrumento carnal para fazer as coisas que
estavam acostumadas a fazer.
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33. SITUAÇÃO DO ESPÍRITO NO MOMENTO DA CREMAÇÃO
Emmanuel, no livro “O Consolador”, psicografado por Chico
Xavier, quando lhe perguntam se o Espírito desencarnado
pode sofrer com a cremação dos elementos cadavéricos, a
resposta é a seguinte:
“Na cremação, faz-se fundamental exercer a caridade
com os cadáveres, procrastinando por mais horas o ato
de destruição das vísceras materiais, pois, de certo
modo, existem sempre muitos ecos de sensibilidade
entre o espírito desencarnado e o corpo
onde se extinguiu o ‘tonus vital’, nas
primeiras horas sequentes ao desenlace,
em vista dos fluidos orgânicos que ainda
solicitam a alma para as sensações da
existência material”.
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34. Léon Denis (“O Problema do Ser”), diz: “Em tese geral, a
cremação provoca desprendimento mais rápido, mais
brusco e mais violento, doloroso mesmo para a alma
apegada à Terra por seus hábitos gostos e paixões. É
necessário certo desapego antecipado dos laços materiais,
para sofrer sem dilaceração a operação crematória. Nos
países Ocidentais, em que o homem psíquico está pouco
desenvolvido, pouco preparado para a morte,
a inumação deve ser preferida porque permite
aos indivíduos apegados à matéria que o Espírito
lhes saia lenta e gradualmente do corpo;
mas, precisa ser rodeada de grandes
precauções”.
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SITUAÇÃO DO ESPÍRITO NO MOMENTO DA CREMAÇÃO
35. Chico Xavier: “Já ouvimos Emmanuel a esse
respeito, e ele diz que a cremação é legítima para
todos aqueles que a desejem, desde que haja um
período de, pelo menos, 72 horas de expectação
para a ocorrência em qualquer forno crematório, o
que poderá se verificar com o depósito de despojos
humanos em ambiente frio”.
O pesquisador Richard Simonetti, em seu trabalho “Quem
tem Medo da Morte”, regista que “nos fornos
crematórios de SP, espera-se o prazo legal de 24h,
inobstante o regulamento permitir que o cadáver
permaneça na câmara frigorífica pelo tempo que a
família desejar”, observando que os “Espíritas
costumam pedir três dias”, mas “há quem peça sete”.
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SITUAÇÃO DO ESPÍRITO NO MOMENTO DA CREMAÇÃO
36. Se pudéssemos, pediríamos tempo para os mortos. Se a lei
divina fornece um prazo de noves meses para que a alma
possa renascer no mundo com a dignidade necessária, por
que razão o morto deve ser reduzido à cinza com a carne ainda
quente? Que mal poderá trazer aos vivos o defunto inofensivo,
sem qualquer personalidade nos cartórios? Não seria justo
conferir pelo menos três dias de preparação e refazimento ao
peregrino das sombras para a
desistência voluntária dos
enigmas que o afligem na
retaguarda?
(Irmão X. Escultores de Almas.
Francisco Cândido Xavier)
36
SITUAÇÃO DO ESPÍRITO NO MOMENTO DA CREMAÇÃO
38. CONCLUSÃO
Muito mais importante que semelhantes cuidados seria
cultivarmos uma existência equilibrada, marcada pelo
esforço da auto-renovação e da prática do Bem, a fim de
que, em qualquer circunstância de nossa morte, libertemo-
nos prontamente, sem traumas, sem preocupação com o
destino de nosso corpo.
Se o espírito estiver muito ligado ao corpo físico vai doer e a
sensação de dor, como já vimos, é um registo arquivado no
espírito.
Não podemos desconsiderar, porém, a grandiosidade da
misericórdia Divina, o trabalho abnegado de trabalhadores
espirituais e do próprio guia do desencarnante, para que o
processo seja o mais ameno possível.
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39. CONCLUSÃO
Chico Xavier informa-nos que 72 horas seria o tempo ideal,
mas, 48 horas, com oração, equilíbrio emocional e fé na
vida futura, com certeza, promoverão a mobilização das
grandes equipes socorristas responsáveis pelo processo de
desencarnação para que tudo corra bem.
O medo da morte ou o temor de que o corpo
sofra com o fogo não devem existir. Pelo
conhecimento e o desapego às coisas materiais,
descobre-se que o corpo físico é passageiro, é
máquina de que se serve o Espírito para cumprir
suas tarefas.
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40. CONCLUSÃO
Há, todavia, Espíritos que se apegam ao corpo, mormente,
quando não têm esclarecimentos e desencarnam em
processos violentos. Mas, mesmo nos países em que, com
frequência, procede-se à cremação do corpo, isso não é
imposto pela lei; cada pessoa o escolhe de acordo com a
sua consciência.
Há mais questões que podem ser respondidas
pela pesquisa sobre o assunto. Mas o
Espiritismo não recomenda nem proíbe a
cremação. Depende da consciência de cada um.
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